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Literatura Comparada

Universidade Federal de Minas Gerais

O Realismo Grotesco e a carnavalização


no gênero Fabliaux – Séc. XIII e XIV
Valesca Rennó

Professor Doutor Constantino Luz de Medeiros


Muito em voga entre os séculos XIII e XIV, o gênero Fabliaux era formado por
contos ou narrativas curtas que serviam tanto para rir quanto para transmitir um
ensinamento. Assim como as fábulas provincianas do norte da França, os Fabliaux foram
utilizados por antigos eruditos como testemunhos históricos do cotidiano das camadas
populares urbanas. A realidade histórica dos séculos desse grupo é reconstruída a partir
dos elementos extraídos das aventuras descritas nos contos, caracterizando um quadro
particularmente que não faltam alusões a trapaças nas ruas e nas feiras - situações em que
os camponeses são ridicularizados, atitudes reprováveis das mulheres, brigas e
desavenças domésticas.
A realidade não se distancia dos dias de hoje, exceto por uma série de intercepções
religiosas, morais que, muitas vezes abstratas, tentavam esconder o que de fato acontecia
por trás do alto e baixo Clero. A retratação escandalosa feita pela literatura da época marca
um conjunto de obras e valores transpostos pela primazia do gozo, do cotidiano das
redondezas, das falsas donzelas e dos comerciantes. O caráter dos personagens era
descrito de forma caricata, associada a uma série de mitos disseminados pelas redondezas.
Dentre os principais aspectos do Fabliaux, há um ponto interessante a ser
abordado – geralmente vemos como principais temáticas os prazeres carnais, o adultério
(principalmente o feminino), as aventuras sexuais dos clérigos, as trapaças e crueldade
retratada em versos. Diferente dos romances de cavalaria, que expunham cortes e
florestas, nos Fabliaux nos deparamos com praças, ruas, feiras, tabernas, casa e a vida
intima da burguesia até as camadas populares. Os personagens sempre (ou quase sempre)
remetem a uma vida urbana, bastando-se a ocupar pequenas classes, como construtores,
artífices e prostitutas.
Durante a Idade Média e o Renascimento, grande parte das obras ornamentais,
sobretudo literárias e de vertente cômica eram marcadas pela característica grotesca. O
Realismo Grotesco, nessas épocas, tem uma concepção positiva em que o povo é símbolo
de um crescimento e renovação constante. Essas formas assumem uma certa
ambiguidade, pois, essa ambivalência da alta e baixa sociedade é a própria característica
da criação cômica, carnavalizada e suja, pois o contraste e o conflito entre a Corte, o Clero
e o povo cede abertura para falar abertamente o que a moralidade insiste em trapacear e
a religião esconder.

“O grotesco da Idade Média e do Renascimento, impregnado pela visão


carnavalesca de mundo, libera este último de tudo que nele pode haver de terrível
e atemorizador, torna-o totalmente inofensivo, alegre e luminoso. Tudo que era
terrível e espantoso no mundo habitual, transforma-se no mundo carnavalesco
em alegres “espantalhos cômicos”. O medo é a expressão extrema de uma
seriedade unilateral e estúpida que no carnaval é vencida pelo riso”. (BAKHTIN,
2013, p.41).

O caráter de rebaixamento, como pode ser descrito por Bakhtin, é, em grande


parte, transferido para o plano material e corporal, tudo o que é superior, ou seja,
espiritual, ideal e abstrato – essa transfiguração que geralmente se torna caricato é
responsável pela idealização do cômico. Pois, é por meio de uma paródia da vida real é
que os ritos elevados e sublimes são postos mais próximos da população, ao apresentar
uma linguagem de fácil acesso e compreensão. O corpo nesta forma assume uma
característica exagerada e uma linguagem de cunho obsceno.
O interessante destes aspectos pitorescos do Grotesco é que o Renascimento
apresenta uma visão negativa, pois remete ao abstrato sinistro, enquanto que no
Modernismo, os aspectos positivos são retomados, pois contribuem para o
enriquecimento visual das cores e formas distorcidas – assim como na Idade Média em
que o Grotesco, aqui retratado, informaliza as características cômicas da representação
real.

[...] Com esse pensamento, e com esse desejo o monge adormece e


prontamente começa a sonhar[...] parecia que tinha chegado a uma feira[...]./ o
mercador jura imediatamente, por todas as santas conas de Roma, que lhe
venderá uma cona sem pêlo. E mostra-lhe uma. Nunca vistes um monstro tão
feio, tão descarnado, tão pavoroso. Tinha os dois lábios magros e mais negros
que ferro. Parecia ser o buraco do Inferno. Então o monge encheu-se de
cólera[...]./ O mercador tira do odre outra cona que tem o couro encarquilhado,
os osso pontudos e pele seca. Estava toda torta de velhice, e com isso o monge
ficou furioso[...].(SCOTT, 1995, p. 91-94).

Este fragmento contém itens do “baixo” material e corporal que dialogam com o
Realismo Grotesco, ao mencionar constantemente órgãos sexuais e que comparada ao
inferno – “feia” e “seca”, no sentido topográfico, se faz presente o Grotesco ao associar
o horripilante órgão genital feminino com o mal, com aquilo que não é benéfico ao
homem, no caso, o monge.

[...] Em seu sono, digo-vos sem mentir, a mulher sonhou um sonho;


sonhou que estava em uma feira anual[...] ./ Havia somente colhões e paus. Isso,
porém havia em quantidade. As lojas estavam repletas deles, mais os cômodos e
o celeiro, e diariamente, carregadores de paus vinham de todos os lados em
carroças e em carros[...]./ A mulher olhou por toda parte. Afanou-se e penou até
que chegou a um balcão onde viu um grosso e comprido. Então se aproximou.
Era grosso por trás e grosso por inteiro. O focinho era enorme e desmedido[...]./
A dama negociou o pau. Perguntou o preço [...]./ o pau não era pobre nem
irrisório. Ao contrário, é o melhor da região de Lorraine, e tem os colhões de
Lorraine, que este ano tiveram boa penetração no mercado. Levai-o enquanto
vos é oferecido. Fareis bem - diz o mercador. (SCOTT, 1995, p. 96-97).

É notável aqui que o sonho do monge, mencionado no trecho trata de um erotismo


a partir do desejo de praticar o coito, mas que neste caso em particular, não foi
imediatamente consumado. No decorrer do texto, logo após ter dado um soco no seu
marido enquanto ela sonhava e ele dormia, após tomar conhecimento por meio de um
diálogo pacífico com a mulher, ele a toma e ambos satisfazem o seu desejo sexual. Após
o contato carnal, no dia seguinte o homem espalha o que aconteceu em seu leito conjugal.
Podemos perceber que, neste Flabiaux, a concepção do Grotesco é caracterizada
pelo exagero no tamanho do falo que a mulher toma para si, em seu sonho, ao fazer alusão
a um focinho – que como uma ideia vigente desde a idade Média, bem como retratado
por Bahktin, o tamanho do nariz é referente ao tamanho do órgão genital masculino. Na
medida em que a mulher dialoga com o vendedor de paus, ela se excita ao ponto de
quando acordada desejar novamente dormir para poder sentir o prazer que, até então, não
havia sentido com o seu marido.
Desta forma, as marcas do Realismo Grotesco se fazem presentes, a partir do
“baixo” material e corporal, visando estimular o prazer na mulher através da relação
sexual e também no marido, não só através desse desejo, mas também pelo ato de beber
e comer – essencial na vida humana e também resultantes de prazer. O exagero, a
comilança e as festividades delineiam traços da sociedade caracterizada pela
carnavalização do gozo.
Essa festividade, tal qual os excessos é síntese recorrente do carnaval, cujo período
é marcado pela heterogeneidade dos povos que se reúnem em prol da alegria e da quebra
moral. Por este princípio, segundo Bakhtin, o princípio cômico das formas carnavalescas
possuía uma ponte ao cômico religioso e com modos da vida cotidiana do homem
medieval. Pode-se considerar que o carnaval ao trazer consigo o riso, é uma forma de
transformar a vida do povo em escape, proporcionando uma visão de mundo das relações
humanas distintas daquelas impostas pela moral da Igreja e pelo Estado, em que o riso
teria sido capaz de ter sobrevivido na esfera extraoficial, mesmo sendo condenado ou
tolerado pelos representantes do poder. Temos que o carnaval é uma marca própria do ser
humano, em que por ser uma festa de caráter universal, só se deve viver de acordo com
as leis da liberdade, na qual se faz possível o renascimento e a renovação dos indivíduos
nela inseridos. Um fato importante acerca do riso cômico medieval, é que durante o
carnaval ele era capaz de pôr todas as pessoas no mesmo nível hierárquico, permitindo o
direito de “ir e vir” do homem deste período histórico, independentemente da esfera social
a que pertencia.
O riso medieval de caráter carnavalesco era capaz de destruir o medo da
moralidade, pois era capaz de transfigurar a moral. É este riso proveniente da cultura
popular a qual se insere boa parte da literatura, cujas características festivas e alegres
atingiam todas as esferas humanas durante o carnaval e principalmente cheios de
alvoroços e exageros, além de sarcástico. Os aspectos cômicos são também contestadores,
representados muitas vezes como as cantigas de escárnio e de maldizer.

[...] o riso na Idade Média estava relegado para fora de todas as esferas
oficiais da ideologia e de todas as formas oficiais, rigorosas da vida e do
comercio. O riso tinha sido expurgado do culto religiosa, do cerimonial feudal e
estatal, da etiqueta social e de todos os gêneros da ideologia elevada. O tom sério
exclusivo caracteriza a cultura oficial [...] afirmando-se como a única forma que
permitia expressar a verdade, o bem, e de maneira geral tudo que era importante,
considerável. O medo, a veneração, a docilidade, constituíam por sua vez os tons
e matizes dessa seriedade. (BAKHTIN, 2013, p.63).

O Realismo Grotesco, como podemos perceber, está pautado na maneira de se


opor a uma separação das atitudes humanas e principalmente trazendo um caráter
renovador, universal e utópico em que vivemos. Ainda sobre o cômico medieval vê-se a
presente linguagem familiar de baixo calão que transcorriam as praças públicas, na qual
o uso de injurias chegavam até as camadas mais altas. Por outra visão, o uso desse tipo
de vocabulário é reflexo da comunicação do cotidiano familiar em que existia
ambivalência até nas blasfêmias. Palavras chulas eram expressamente proibidas, exceto
no carnaval.
Em torno a essas observações, vemos que o Grotesco está sempre presentes e
dialogando de forma topográfica, contribuindo para a Literatura cômica da Idade Média,
que era capaz de pelo riso vencer o medo e a moralidade. Por meio disso, podemos ver
que o comer, o defecar e o “foder” são atos renovadores e retratados culturalmente, tendo
grande feito na literatura medieval.
Bibliografia:

DUBY, Georges. Eva e os padres. Damas do século XII. Tradução de Maria Lúcia Machado. São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.

GUILLEBAUD, Jean-Claude. A tirania do prazer. Tradução de Marie Helena Kühner. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média c no Renascimento. Trad. Yara F. Vieira.
São Paulo, Hucitec. Ed. UnB, 1987.

ANÔNIMO. Pequenas Fábulas Medievais: fabliaux dos séculos XIII e XIV. São Paulo: Martins
Fontes, 1995.

MACEDO, J. R. Riso, Cultura e Sociedade na Idade Média. São Paulo: UNESP, 2000.

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