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ENTREVISTA

Manuel Castells, 'profeta das redes', diz que a democracia caiu


em descrédito. 'Os cidadãos acham que politicos e partidos
não os representam'. Por Helena Celestino, para o Valor, do Rio

agonia de um
modelo social
anuel Castells é comumente cha- mil para comprovar a sua tese bombástica: tribunal federal dos Estados Unidos em 1996:
mado de profeta das redes, mas "Ninguém mais acredita na democracia. Os ci- "É certo que a internet é um caos, mas, nos

NA ele mesmo não tem Facebook e dadãos, no mundo todo, acham que os políti- EUA, há o direito constitucional ao caos".
no Twitter usa um perfil com no- cos e os partidos não os representam legitima-
me falso para escapar de ataques pessoais. "A mente. É o fim de um modelo político de dois Valor Em "Redes de Indignação e Esperança"
internet que criamos é anjo e diabo ao mesmo séculos", diz, sorrindo de novo. (2012), sobre protestos de jovens, o senhor mostra-
tempo, exatamente como o que somos", diz, Como sair disso? Os cidadãos de cada país va como acabara a confiança nos políticos, na mi-
meio rindo e meio sério. Baixo, cabelos bran- é que terão de descobrir, avisa. Pensador ori- dia e nos magos das finanças. De lá para cá, a crise
cos, rápido nas respostas, o sociólogo espa- ginal e influente por seus estudos sobre da representatividade democrática se aprofundou?
nhol de 75 anos escreve três livros por ano, transformações sociais na era da internet, Manuel Castells: Vivemos agora uma crise
uma coluna semanal no "La Vanguardia" e fica Castells acompanhou os protestos pelo da democracia em todo o mundo. Ninguém
confuso quando tem de dizer onde mora. mundo e lançou "Redes de Indignação e Es- mais acredita em democracia. Independente-
"Empiricamente, metade do ano na Califórnia perança" (Zahar), em que constatava um mente de corrupção, problemas políticos, há
e a outra metade, na Catalunha", diz. mesmo padrão de comportamento em todos algo em comum: nas mentes dos cidadãos de
Ele dá aulas nos dois continentes — na Uni- esses movimentos: a indignação fez os jovens todo mundo, entre 60% e 75% dos cidadãos
versidade do Sul da Califórnia e na Universi- do mundo superarem o medo, o sentimento não creem que os políticos e seus partidos os
dade Livre de Barcelona —, faz conferências básico de todos nós, e irem para as ruas com representem legitimamente. Isso é importan-
pelo mundo e esteve semana passada no Rio, palavras de ordem libertárias e pela igualda- te porque os governos legítimos deixam de ter
a convite da FGV e do amigo Tarso Genro", pa- de. "Agora, essa ânsia de mudanças se des- instrumento para debelar outras crises. A ma-
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ra dar palestras sobre a crise da democracia li- viou dos movimentos positivos, corno os Oc- triz de todas as crises é a da representatividade
beral, o mesmo tema de "Rupturas", seu pri- cupy, e passou para os movimentos destruti- política, e isso existe nos Estados Unidos, na
meiro livro escrito em espanhol, depois de vos, populistas de direita", diz ele. Europa, na América Latina e, obviamente, no
uns 30 em inglês. É um livro híbrido, só com E não adianta culpar as redes sociais. Sor- Brasil. Quando urna crise dessa importância é
120 páginas, mas conectado na web a outras rindo de novo, cita frase de uma sentença de geral, não depende de um contexto politico, é
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comum ao Brasil e aos Estados Unidos, pode- Rússia, sistemas autocráticos e não democráti- 0 medo dos cidadãos está levando a eleições Castells: "Criamos
mos pensar que é uma crise de um modelo. cos. Podemos, portanto, falar de uma crise da como a de Trump e ao crescimento da extre- uni anjo e uni diabo,
Valor Quais as perspectivas de sair dessa democracia liberal clássica, aquela que serviu ma direita na Europa? ao mesmo tempo,
crise? Alguma boa noticia? de modelo político por dois séculos. Castells: Exatamente . Os valores não são os exatamente como o
CasteIls: Nenhuma, cabe aos cidadãos de ca- Valor: A crise afeta países ricos e pobres? Não mesmos, mas a reação obedece a mecanismos que somos. Internet e
da país achar saídas. Existe é uma rejeição mui- vale mais a velhafrase"é a economia, estúpido"? semelhantes: indignação, desesperança. Essa redes sociais são urna
to forte na maior parte do mundo contra o sis- Castells: Agora "é a politica, estúpido". indignação tem distintas expressões políticas expressão muito
tema estabelecido. Essa rejeição tem nomes: Trump não seria eleito em nenhum outro mo- segundo países e momentos: traz valores de potente da
[Donald] Trump e Brexit. Isso também se traduz mento. É machista, xenófobo, ignorante, pro- extrema direita ou progressistas. Nos EUA, an- sociedade"
no fim dos partidos tradicionais, na ameaça de vocador, isolacionista, contra a solidariedade tes houvera o Occupy, movimento progressis-
acabar a estabilidade política na Alemanha, o mundial — retira-se do acordo climático, do ta e jovem: a expressão política dele foi o sena-
sistema mais estável do mundo. No Brasil, acordo sobre imigração. Isso não aconteceria dor Bernie Sanders, mas o aparato do partido
transformou-se numa crise total. No Chile, é há cinco anos. É todo o establishment político Democrata escolheu Hillary Clinton, a candi-
evidenciado pelos 20% dos votos dado a um que foi colocado em questão. Ele foi eleito pre- data totalmente establishment. Ganhou
movimento completamente antissistema nas cisamente porque era antiestablishment, foi Trump, também um candidato antiestablish-
últimas eleições [a Frente Ampla, de centro-es- um voto de protesto contra a política dos EUA. ment, que incorporou até alguns elementos
querda, com linha semelhante ao espanhol Po- Se falamos de outros países, acontece o mesmo, do Occupy — como o rechaço aos partidos, à
demos]. E isso acontece em todo o mundo, po- são as dasses populares que votam contra o sis- Wall Street, às guerras, todas essas foram ban-
demos pegar país por país. No imaginário cole- tema. Nos EUA, os brancos se mobilizaram por deiras comuns a Trump e ao Occupy.
tivo, a Escandinávia tinha governos decentes e um sentimento racista contra as minorias. E an- Valor: Na Europa, há também a destruição
social-democratas, mas, neste momento, há tes tinham votado em [Barack] Obama, mas já dos partidos tradicionais...
partidos xenófobos aliados aos governos de to- não acreditam em nada. Castells: Na grande democracia francesa,
da a Escandinávia, com exceção da Suécia. Valor 0 senhor diz que a poliiica é feita de todos os partidos tradicionais foram elimi-
Quais são os sistemas que resistem? China e emoções eo medo se supera pela indignação. nados. 0 atual presidente, cuja popularida-
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de despencou em seis meses, não é parte do elegeram as prefeitas de Barcelona e Madri. os instrumentos conhecidos, há que mudar os
sistema francês; é um Trump à francesa, Mas a independência da Catalunha agora instrumentos. Se a reconciliação não passa pelo
muito mais elegante, inteligente, neoliberal. embaralhou tudo... Congresso, tem de ser urna reconciliação da so-
Tem um partido chamado En Marche, cuja Castells: É uma mudança política importan- ciedade. A sociedade não confia nos políticos,
sigla é EM, ou seja, Emmanuel Macron: o te, elegeram prefeitos em muitas cidades im- nem separados nem juntos. A Revolução Fran-
partido é ele. Na Itália, a primeira força nas portantes. Mas o Podemos está declinando: é cesa, criadora das liberdades, começou com o
próximas eleições é o Cinco Estrelas, que atacado por todos os meios de comunicação e a chamado Terceiro Estado, reuniões e assem-
propõe a extinção do Parlamento, a saída da crise da Catalunha complicou. 0 Podemos — bleias da sociedade com forças sociais, intelec-
União Europeia e do euro, uma critica ma is uma coalizão de 20 partidos diferentes — tem tuais e políticos não corruptos que se reuniram
ambiguamente de esquerda contra todo o uma atitude de princípio: os catalãos têm o di- para proclamar uma Nova República. Em situa-
sistema político. Na Espanha, os dois parti- reito de fazer um plebiscito e escolher seus des- ções extremas, como a do Brasil, precisaria de
dos tradicionais tinham 75% dos votos; na tinos, mas o Podemos é contra a independên- algo desse tipo que venha da sociedade e não
última eleição de 2015, tiveram menos de cia. É muito difícil de entender num momento do sistema político, totalmente deslegitimado.
50%, acossados pelo Podemos, de esquerda, ultrarradicalizado e, com isso, o Podemos cai Não é daí que pode haver um processo de legiti-
e pelo Ciudadanos, nacionalista de direita. nas pesquisas e sobe o Ciudadanos, o que é pés- mação. Vejo necessidade de uma mobilização
Valor: Quando o senhor tratou dos protes- sima notícia. Partidos de extrema direita, ultra- social antes da construção política.
tos, havia um otimismo de que algo de bom nacionalistas, voltam a ser importantes na Es- Valor Mas esse não foi o caminho seguido
poderia ser construído. E agora? panha, houve manifestações nostálgicas do pós-manifestações de 2013 e 2015...
Castells: Havia otimismo dos jovens, das franquismo. Com isso, se parece com o Brasil. Castells: 0 problema é que essas manifesta-
partes da sociedade que buscavam mudanças, Valor Mesmo assinalando que era cedo para ções com frequência são manipuladas. 0 pro-
igualdade de gênero e de raça, liberdade. Em dizer, o senhor achava que os protestos no Brasil testo de 2013 foi espontâneo, claramente um
todos os países, as elites dirigentes, de esquer- poderiam levar a uma reconciliação nacional. 0 movimento de jovens, e se dirigiu contra todo o
da ou de direita, estiveram contra esses movi- caminho foi inverso: impeachment, mais intole- sistema político: direita e esquerda — como na
mentos, não tiveram visão. Essa ânsia de mu- rância, agora censura e boicote à discussão sobre época, o governo era de esquerda, foi contra o
danças se desviou dos movimentos positivos gênero. Como vê isso? governo também. A manifestação de 2015, im-
— como os Occupy — e passou para os movi- Castells: Preocupa-me a situação brasileira. portante para demitir a presidente Dilma, foi
mentos destrutivos, populistas de direita. Li uma entrevista do [ex-] presidente Fernando realmente manipulada. Há dados: a atuação do
Valor: 0 senhor diz que os protestos sem- Henrique, em que dizia que nunca viu uma si- Movimento Brasil Livre foi chave e ele era finan-
pre morrem, o importante é o legado. Na Es- tuação tão ruim. Não conheço o Brasil o sufi- ciado e apoiado pelas empresas Koch, os mes-
panha, criaram o Podemos e as coalizões que ciente, mas se uma situação não tem saída com mos que financiaram sempre o Tea Party nos Es-
BLOOMBERG
tados Unidos. Tudo o que se desenrolou depois
foi apoiado pela "alt-right" americana — uma
confederação de grupos de extrema direita na-
zistas, fascistas, cujo ideólogo é Steve Bannon, o
ex- conselheiro de Trump —, que tem uma
grande potência midiática e financeira. Esses
grupos estão intervindo muito fortemente no
Brasil, apoiando as tendências de extrema di-
reita. 0 Brasil é um pais decisivo na América La-
tina, e creio que há um processo de desestabili-
zação da democracia do Brasil, ligado a uma
ofensiva em todo mundo da extrema direita e
das forças econômicas mais conservadoras.
Não é Wall Street, são as empresas depredado-
ras do capitalismo, empresas com interesse em
controlar as riquezas naturais no rnunclo— seja
fazendo fracking [extração de gás e óleo de xis-
to considerada poluidora] ou controlando a
Amazônia. Não é mais a embaixada americana
que organiza as conspirações [risos], são essas
empresas que apoiam os extremistas.
Valor A autocomunicação — como o se-
nhor chama o sistema de comunicação nas
redes sociais — resultou nas " fake news",
nos" haters", no uso de robôs para ni ti ltipli-
car posts, na difusão de mensagens baseada
em algoritmos com critérios não transparen-
tes. Criamos um monstro?
Castells: Não. Criamos um anjo e um diabo,
ao mesmo tempo, exatamente como o que so-
Manifestantes durante as jornadas de junho de 2013: "Movimento de jovens se dirigiu contra todo o sistema político" mos. Internet e redes sociais são uma expressão
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muito potente da sociedade, com muito poucos mundo utiliza toda classe de intervenções na
controles. No período anterior, o sistema de co- "Em situações internet. Que defesa existe? 0 jornalismo pro-
municação de massa estava controlado por em- fissional. Vocês, os jornalistas, não as empre-
presas e pelo Estado. Facebook não controla o extremas, como a do sas de comunicação que buscam o lucro. A
conteúdo, o que lhes interessa é tráfico e publici- credibilidade das empresas é importante para
dade. Toda a sociedade se expressa nas redes so- Brasil, precisaria de manter o lucro. Quando dizem que há "fake
ciais. Mentimos? Sim, todos mentimos. Inventa- news" sobre os conflitos internacionais, é
mos notícias falsas? Sim. Mas também difundi- algo que venha da bom lembrar que o "New York Times" publi-
mos abusos e escândalos que estão ocultos, di- cou que havia armas de destruição no Iraque
fundimos corrupção, falamos sobre coisas que sociedade, e não do quando a jornalista sabia que não havia.
antes não podíamos falar porque não havia ins- Valor: 0 senhor é a favor da regulamentação da
trumentos: a sociedade se liberou nas redes so- sistema político, internet? Há campanhas de ódio que destroem re-
ciais. A liberdade tem custos: podemos usá-la putações, assediam mulheres, difundem racismo.
para caluniar, ofender ou podemos participar deslegitimado" Castells: Não sou a favor da regulamentação,
de um debate civilizado — mas, para isso, preci- porque é impossível. Ninguém destrói minha
samos estar civilizados. Se somos não civiliza- reputação, porque não estou no Facebook, não
dos, a internet reflete o que somos, o problema é livre e horizontal de nos expressarmos. Os quero ficar nervoso por ataques pessoais. Nos
que, por vezes, não nos aceitamos como somos. russos intervêm, mas também os movimentos Estados Unidos, há uma famosa sentença de
Valor:A internet serve também para manipu- sociais, os hackers, os movimentos contra 1996 de um tribunal federal — ratificada pelo
lar eleições, campanhas políticas. Os russos, por abusos às mulheres, intervêm, todo mundo. Supremo —, que reconhece que há problemas
exemplo, são acusados de favorecer Trump na Antes, através do controle dos meios de co- com a internet e há possibilidades de interfe-
campanha. E aí? municação, controlava-se a informação e a so- rência, mas a liberdade de expressão está asse-
Castells: Todo mundo interfere na internet. ciedade. Agora ninguém controla nada. Hou- gurada. Uma frase da sentença é maravilhosa:
Vivemos nessa sociedade de redes e não há ve mudanças positivas: claro que há "fake "É certo que a internet é um caos, mas nos EUA
volta para trás. A discussão nostálgica é absur- news", de todas as partes, da extrema direita — há o direito constitucional ao caos".
da, ternos de discutir os efeitos das redes. Um como não tem grande apoio da sociedade, in-
deles é a capacidade, praticamente ilimitada, venta notícias para poder manipular. Todo Leia maisà pág. 8 le

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