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Módulo 7
1.1.1 A geografia política após a Primeira Guerra Mundial. A Sociedade das Nações
Os diversos tratados assinados provocaram uma profunda transformação do mapa político da
Europa e do Médio Oriente.
O Império Russo desapareceu e foi substituído para URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas). O Império Alemão, que tinha perdido a guerra perdeu várias regiões e territórios
(Alsácia e Lorena, territórios para a Polónia, Checoslováquia, Bélgica, Dinamarca. O Império
Austro-Húngaro morreu e em seu lugar nasceu a Áustria, Hungria e Checoslováquia. O Império
Otomano foi amputado de alguns territórios e aí nasceram novos estados, como a Síria e o Líbano
(protetorado francês). Surge o Iraque, dominado pela Inglaterra, bem como o Egito e a Palestina;
A Arábia Saudita torna-se um reino independente.
Muitos do novos países que surgiram no Leste e Sul da Europa tinham regimes políticos baseados
na representação parlamentar. Multiplicam-se os estados-nação que surgiram do desmembramento
dos impérios (Finlândia, Estónia, Letónia, Lituánia, Polónia, Hungria) e outros são formados por
várias nacionalidades (Checoslováquia, Jugoslávia). Um estado é uma entidade política e
geopolítica. Uma nação é uma unidade étnica e cultural; Estado-nação implica em uma situação
onde os dois são coincidentes.
Os estados vencidos (Áustria e Turquia) sofreram perdas territoriais muito fortes. A Alemanha
perdeu 1/7 do seu território, a Prússia Oriental ficou separada (corredor de Dantzig). Ficou sem 1/10
da sua população. Perdeu as suas colónias e marinha de guerra, as minas de carvão do Sarre foram
entregues, por um período de 15 anos, à França. Foi condenada a pagar pesadas indeminizações aos
vencedores. Parte do seu território foi desmilitarizado. O exército foi reduzido a 100 mil homens.
A nova ordem internacional saída da Primeira Guerra Mundial não favoreceu o êxito da SDN: Os
EUA não ratificaram o Tratado de Versalhes e não participaram na SDN, os republicanos
dominando o Congresso defendiam uma política isolacionista, apoiando-se nas ideias económicas
de Keynes, estavam contra a reconstrução dos países vencedores à custa dos vencidos.
Os vencidos sentiam-se humilhados pelas condições impostas pelos vencedores e obrigados a pagar
pesadas indeminizações aos vencedores; Entre os vencedores surgiram novamente as rivalidades e
lutas pela hegemonia do Mundo.
Muitos países vencedores sentiam que não tinham recebido a justa recompensa monetárias, o caso
de Portugal, outros que não tinham sido recompensados com territórios suficientes, o caso da Itália.
Na redefinição de fronteiras muitas pretensões de minorias nacionais não foram atendidas. Surgiram
novos países que não respeitaram as identidades éticas e culturais de alguns povos. Na
Checoslováquia, na região dos Sudetas, ficaram cerca de 6 milhões de alemães. A Jugoslávia
agrupava vários povos submetidos à Sérvia. Territórios ucranianos e bielorussos passaram para a
Polónia. A Áustria ficou proibida de se juntar à Alemanha.
Perdas europeias: Demográficas: perdas humanas durante a guerra, diminuição da mão de obra,
envelhecimento da população, excedente da população feminina.
Materiais: a Europa, sobretudo a Central em ruínas (cidades, fábricas, quintas e vias de
comunicação destruídas).
Perdas europeias
Económicas:
Racionamento dos bens essenciais;
Inflação galopante (os estados emitiram moeda, provocando a sua desvalorização);
Perda de poder de compra da classe média;
Os países europeus recorreram a empréstimos estrangeiros, como não os podiam pagar recorriam a
mais empréstimos, desequilibrando a balança de pagamento dos estados, agrava-se o défice dos
países. A partir de meados da década de 20 existe alguma recuperação económica, dando origem
aos “Loucos Anos Vinte”, que no entanto seriam de curta duração.
O padrão-ouro foi o sistema monetário cuja primeira fase vigorou desde o século XIX até a
Primeira Guerra Mundial. Os bancos eram obrigados a converter as notas bancárias por eles
emitidos em ouro (ou prata), sempre que solicitado pelo cliente. Cada país comprometia-se em fixar
o valor da sua moeda em relação a uma quantidade específica de ouro.
Após a revolução de 1905 a frágil tentativa do czar de liberalizar o regime falhou completamente.
É instituído um governo provisório, primeiro dirigido por Lvov, e depois por Kerensky, que procura
desenvolver uma democracia parlamentar na Rússia e a continuação da participação de Rússia na
Primeira Guerra Mundial. Lvov e Kerensky eram mencheviques.
Os sovietes tornaram-se na pedra angular do novo regime, e por isso esta fase da revolução russa é
denominada democracia dos sovietes. Em finais de 1917 são organizadas eleições para uma
Assembleia Constituinte, perante o fracasso eleitoral dos bolcheviques (25%), Lenine dissolveu a
Assembleia e o poder foi transferido para o Congresso dos Sovietes (assembleia representante dos
diversos sovietes).
A Constituição de 1918 considerou o Congresso dos Sovietes o órgão máximo de soberania, surgia
a República Soviética. Todos os partidos políticos foram proibidos, com a exceção do Partido
Comunista.
Em Brest-Litovsk, depois de demoradas negociações, é assinado, em março de 1918, a paz com a
Alemanha. Neste tratado a Rússia perdeu a Polónia, Ucrânia, Finlândia, Estónia, Lituánia e Letónia;
Lenine afirmou que tinha sido “uma paz desastrosa mas necessária”, pois a Rússia perdeu ¼ da sua
população e das suas terras cultiváveis, ¾ das minas de ferro.
Desencadeou-se uma guerra civil em março de 1918 e que se prolongou até 1920 que causou a
morte a 10 milhões de pessoas. O Exército Branco (opositores aos bolchevistas) são apoiados pelos
Estados Unidos, Inglaterra, França e Japão).
O Exército Vermelho, organizado por Trotsky, demonstrou ser um eficiente corpo de combate. Os
“brancos” demonstraram grandes dificuldades de união e as populações foram, em grande parte
hostis, pois receavam o regresso dos grandes proprietários. A guerra, foi extraordinariamente
violenta e terminou com a vitória do Exército Vermelho.
Estas dificuldades levaram à implantação de uma nova fase da revolução que ficou conhecida como
“comunismo de guerra”.
O objetivo central dos bolcheviques era a construção de uma sociedade comunista (uma sociedade
sem classes, democrática e onde o estado seria abolido, e o Homem alcançaria a liberdade e a
felicidade). Mas para chegar a esse estádio final, teorizado por Karl Marx, no século XIX, era
necessário passar pela etapa da ditadura do proletariado.
Ditadura do proletariado – fase de transição na construção de uma sociedade comunista que se
caracteriza pelo proletariado retirar à burguesia todos os meios de produção e centralizá-los no
Estado que é considerado o legítimo representante do proletariado;
A fase do comunismo de guerra coloca um fim na democracia dos sovietes. As leis que tinham
concedido a terra aos camponeses e a direção das fábricas aos operários foram abolidos. Toda a
economia foi nacionalizada (controlada e dirigida pelo Estado). Os camponeses são obrigados a
entregar as colheitas ao estado, todas as fábricas com mais de 5 operários passaram a ser dirigidas
pelo Estado. O Estado repartia os bens do seguinte modo: primeiro o Exército Vermelho, depois os
operários e camponeses e, no final, a burguesia.
Era necessário aumentar a produção para salvar a revolução; O trabalho passou a ser obrigatório
entre os 16 e os 50 anos Foi estimulado o culto do herói da produção. O horário de trabalho foi
aumentado, a indisciplina era violentamente reprimida. O salário era atribuído conforme o
rendimento do trabalhador.
O centralismo democrático
Para os marxistas-leninistas, o poder só é democrático quando emana do proletariado, mesmo que
seja apenas exercido por um único partido. As outras forças partidárias, na Rússia, foram excluídas
por não representarem o povo. Em 1922, a Rússia, transforma-se na União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS), um Estado multinacional e federal, onda as diversas repúblicas
dispunham de uma Constituição e alguma autonomia; Na URSS, Lenine cria um novo conceito de
democracia, o centralismo democrático.
Todo o poder emanava dos sovietes de base, escolhidos por sufrágio universal. Havia sovietes locais
e regionais, representavam as diversas nacionalidades no Congresso dos Sovietes que reunia
anualmente. O Congresso dos Sovietes designava o Comité Executivo Central, um tipo de
parlamento, dividido em duas câmaras: o Conselho da União e o Conselho das Nacionalidades.
Estes escolhiam o Presidium, órgão com poderes executivos e legislativos e o Conselho de
Comissários do Povo (conselho de ministros).
Esta estrutura, teoricamente democrática, era controlada, pelos órgãos do Estado, cujas ordens eram
executadas sem questionar, e pelo Partido Comunista, que se tornou numa hierarquia paralela ao
Estado, e que, na maior parte da vezes, dirigia o Estado; Muitas vezes os órgãos do Partido e do
estado confundiam-se, e as pessoas eram as mesmas.
Na URSS, Estado e Partido Comunista identificavam-se e confundiam-se. Os sovietes
transformaram-se em simples elementos de transmissão das diretivas do Partido Comunista para a
população.
Para Lenine esta estrutura era democrática, pois apesar de só existir um partido este representava os
interesses do proletariado. Era a democracia dos pobres que implicava existirem restrições da
liberdade dos inimigos contrarrevolucionários. Na URSS, não existia uma democracia tipo
ocidental, pluripartidária que era apelidada de “democracia burguesa”.
Em fevereiro de 1921, Lenine, muda a sua estratégia económica; O comunismo de guerra vai dar
lugar à Nova Política Económica (NEP).
O objetivo da NEP era recuperar economicamente o país e aumentar os níveis de produção. Há um
recuo das nacionalizações, a iniciativa privada é aceite para as empresas com menos de 20
operários, só ficam no Estado os setores industriais considerados fundamentais. O investimento
estrangeiro é fomentado, são criadas empresas de capitais mistos (privado e do estado). Incentivou-
se a vinda de técnicos estrangeiros, máquinas a matérias-primas.
A NEP deu resultados e a produção industrial, comercial e agrícola aumentou. Surge uma nova
pequena e média burguesia ligada aos negócios e à indústria (nepman) e pequenos proprietários
rurais (kulaks). Em 1927 já tinham ultrapassado os níveis de produção anteriores à Primeira Guerra
Mundial; Em 1924, faleceu Lenine.
A crise económica levou a que a burguesia industrial e financeira visse os seus patrimónios
desvalorizados, nalguns casos até abriram falência. Muitos camponeses ficaram arruinados. As
classes médias urbanas, dependentes de um salário, viram os seus rendimentos diminuírem, alguns
caíram na proletarização que tanto temiam. O operariado fabril e agrícola mergulhou na miséria e
no desemprego.
Para a Rússia, que sofria o boicote dos países capitalistas, a internacionalização da revolução
comunista era muito importante. Lenine e Trotsky estabeleceram as regras para a revolução se
desencadear na Europa, que deveria ser liderada pelos partidos comunistas. Nos anos vinte a Europa
foi sacudida por uma vaga de movimentos revolucionários. Na Alemanha e na Hungria houve
tentativa de tomada do poder. A violência alastrou a muitos países europeus, com greves e
manifestações.
Estas ações revolucionárias provocaram o pânico nos setores mais conservadores da Europa.
Surgem os movimentos fascistas como uma reação ao eclodir do movimento operário. A burguesia
(alta, média e baixa) treme perante o avanço do bolchevismo. Muitos atribuem este caos à
incapacidade da democracia liberal, os partidos discutem no parlamento e não conseguem chegar a
cordo. Defendem soluções autoritárias para o governo de forma a garantir a paz, a segurança e o
desenvolvimento económico.
Surgem movimento autoritários de direita que se armam e organizam milícias que espalham o terror
entre os adeptos do socialismo. Estes movimento são fortemente nacionalistas e prometem
autoridade, a paz e o progresso social. Procuram o apoio dos oficiais do exército. Grande parte da
burguesia é atraída por estes movimentos, pois veem nestes a única forma de derrotar o comunismo.
Um dos primeiros movimentos a triunfar foi o de Mussolini, em Itália, em 1922; Este vai ser um
regime fascista de referência para outros que se vão instalar em diversos países europeus
No final dos anos vinte, na Alemanha, o partido nazi, liderado por Hitler, ganhava cada vez mais
adeptos. Assiste-se, nos anos vinte, à regressão do demoliberalismo e ao desenvolvimento de
regimes autoritários.
Nas grandes metrópoles os indivíduos tornam-se anónimos no meio da multidão. A cultura tende
para a estandardização e massificação. Nos tempos livres a população dirige-se para os cafés, os
cinemas, os estádios, salões de baile, etc. A proliferação da classe média levou ao desenvolvimento
de uma nova cultura do ócio, a cidade fomenta esta cultura fornecendo alternativas diversificadas.
A sociedade urbana vive uma na ânsia do consumo e do divertimento; A convivência entre os sexos
torna-se mais livre e ousada;
Nos Anos Vinte surge a cultura do lazer. As populações urbanas procuram viver de forma frenética e
ruidosa.
A guerra levou muitos a pensarem que nunca mais voltaria a ser o que era.
Surge uma profunda crise espiritual que coloca em causa os valores tradicionais e que deixam de
seguir um padrão rígido:
- Da família e da indissolubilidade do casamento;
- A moral sexual, o papel da mulher, os conceitos e práticas religiosas;
- As condutas sociais.
O movimento sufragista inglês organizou várias formas de protesto. Em Portugal, em 1909, surgiu a
Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e em 1911, a Associação de Propaganda Feminina.
Carolina Beatriz Ângelo, em 1911, e aproveitando uma omissão da lei foi a primeira mulher a votar
em Portugal. A legislação foi imediatamente corrigida.
Apesar das reivindicações feministas, e apenas com algumas exceções, até à primeira Guerra
Mundial a mulheres continuaram arredadas do sufrágio. A guerra alterou esta situação, com os
homens na frente de batalha, muitas mulheres acederam a empregos.
As mulheres demonstraram que podiam substituir os homens nas mais variadas profissões. Por
outro lado passaram a auferir um salário, o que lhe dá a independência económica.
Nos anos a seguir à guerra, as mulheres vão ganhando o direito de participação na vida política pelo
menos em grande parte dos países ocidentais. Frequentam festas, vivem e viajam sozinhas, usam o
cabelo curto “à garçonne”; A luta pela completa igualdade foi longa e difícil e ainda hoje não está
completa.
No início do século XX descobre-se que o átomo não é a mais pequena partícula da matéria. A
teoria quântica, desenvolvida por físicos como Max Planck e Niels Bohr, teve um enorme impacto
ao afirmar que nunca é possível determinar com exatidão o que está a ocorrer e o que acontecerá.
Transforma o conhecimento, não numa certeza, mas numa probabilidade.
Sigmund Freud vai contestar que a mente do Homem é estritamente racional. Freud chegou à
conclusão que os comportamentos humanos também são dirigidos por impulsos inconscientes,
escondidos na profundeza da mente. Os impulsos sexuais seriam os dominantes. Segundo os seus
estudos muitos dos comportamentos anormais resultavam de complexos provocados pelo
recalcamento, no inconsciente, de recordações ou desejos que as pessoas não teriam podido
satisfazer, no passado, devido às limitações e proibições de ordem moral. Freud, criou a psicologia
analítica ou psicanálise.
Segundo a psicanálise, o psiquismo humano estrutura-se em 3 níveis:
- o consciente, o subconsciente e o inconsciente;
O indivíduo, por causa da moral, tem tendência para bloquear os desejos indecorosos ou
culpabilizantes no inconsciente. Estes desejos aparecem no inconsciente sobre a forma de neuroses.
A terapêutica freudiana passa pela análise dos pensamentos e dos sonhos tornando-os conscientes,
e, por isso, libertando o paciente das suas neuroses. A psicanálise teve uma grande influência, não
só na psicologia e psiquiatria, mas até na arte.
As convenções académicas são derrubadas e surge uma estética nova na sequência das experiências
estéticas iniciadas nos finais do século XIX.
Nos inícios do século XX surgiram em vários países europeus movimentos de vanguarda que
quiseram fazer da arte um incentivo à transformação radical da cultura e do costume social. Criando
o lado estético da “civilização das máquinas”. Mas também surgem correntes para as quais não é
possível qualquer relação entre a “criação artística” e a “produção industrial”, chegando a negar-se a
si própria. Este movimento cultural foi conhecido como modernismo. Paris é o centro de toda a
atividade artística, era o cerne da vanguarda cultural europeia.
Nesta época vive-se num grande dinamismo artístico e desenvolve-se o comércio da arte,
exposições, leilões, revistas e publicações sobre arte difundem-se. Estes movimentos artísticos são
uma reação as novas condições de vida (industrialização, urbanização, desenvolvimento
tecnológico, desenvolvimento das comunicações e da publicidade. Estes movimentos artísticos
procuram fugir da tradição académica. Procuram a pureza dos meios de expressão. Desligar a arte
da realidade concreta. Valorizar os impulsos, sentimentos e criatividade dos artistas.
Ideias originais: construir com superfícies de cor, procurar mais intensos efeitos de cor. O assunto é
indiferente.
Uma arte que seja um lenitivo para todo aquele que trabalha com o espírito, um tranquilizante
espiritual, que signifique um descanso das canseiras de um dia de trabalho.
O fauvismo
São reconhecidos, pejorativamente, pelo crítico de arte, Louis Vauxcelles, como fauves (feras).
As cores eram intensas e aplicadas de forma arbitrária, isto é, não correspondiam às cores da
realidade, tornava-as estranhas, selvagens, de feras.
Primeira revolução artística do século XX, afirma a autonomia da cor. Entendem a pintura como
instinto, como veículo de expressão das suas emoções. Recusam qualquer convencionalismo.
Distorcem os volumes. Exaltam as cores fortes.
A expressão é dada pelas linhas e pelas cores, onde se ressaltam os efeitos contrastantes destas, pela
pincelada direta e emotiva, pelo empastamento das tintas, pela ausência de modelado.
A temática não é relevante para os fauvistas e não tem qualquer conotação social, política ou outra -
é apenas pretexto para a realização plástica. Mesmo as "deformações" introduzidas foram
concebidas, apenas, para transmitir sensações de alegria ou tristeza.
Matisse, Retrato da Risca Verde,1905 Os fauves libertam a cor da sua sujeição ao mundo real; As
sombras desaparecem; A risca verde neste retrato marca a transição entre as zonas de luz e sombra;
Os pormenores e acabamentos são omitidos; A perspetiva e o modelado são negligenciados.
O expressionismo
O termo Expressionismo designa uma corrente artística que nasceu na Alemanha, no início do
século XX. Põe a tónica na expressão, na vontade de comunicar, de exprimir sentimentos, sensações
e emoções.
Nos finais do século XIX e princípios do século XX, pintores como Van Gogh, Edvard Munch e
James Ensor podem ser considerados pré-expressionistas.
O expressionismo não procura representar a realidade visível mas a realidade invisível (espiritual), é
uma arte executada de dentro para fora.
As suas obras tinham um forte pendor social, criticando o mundo moderno e as suas “perversidades
e injustiças”.
Usam grandes manchas de cor, intensas e contrastantes:
- Uma temática pesada;
- Formas primitivas, simples.
Os seus quadros expressam uma forte tensão emocional, obtidas por formas distorcidas e cores
intensas e contrastantes.
O Expressionismo não se confinou apenas à pintura e à Alemanha. Alargou-se a outros povos da
Europa e da América e teve na literatura, na escultura e, em particular, na música altos expoentes
artísticos.
O Cavaleiro Azul (Der Blaue Reiter), surge em 1910, em Munique. Fundado pelo pintor russo
Wassily Kandinsky e Auguste Macke, Franz Marc e Paul Klee.
Representa um estilo menos brutal e mais harmonioso do que o Die Brücke. O objetivo era unir sob
um mesmo ideal artístico, o da vanguarda da arte europeia, criadores de várias nacionalidades e de
diferentes expressões, ultrapassando barreiras culturais e ideológicas.
A arte era o produto da unidade existencial entre o Homem e a Natureza. Pretendem construir obras
de arte a partir das experiências pessoais, dos sentimentos subjetivos, e das sensações de cada um,
atribuindo-lhes ao mesmo tempo um sentido global e válido para todos os homens.
Procuravam a criação de uma arte livre, não dirigida a um público especial, que nascesse da
meditação, da necessidade interior (Kandinsky). Na procura pessoal de harmonia espiritual. O tema
não é importante.
Estes ideais foram publicados em revistas e no almanaque do grupo, o Cavaleiro Azul, que saiu em
1912. Organizaram duas exposições em que participaram artistas como o:
- Delaunay, Picasso, Braque, Nolde, etc.
Preferência por temáticas naturalistas, paisagens naturais ou urbanas. Execução refletida e pensada
(menos intuitiva e imediata que o Die Brücke). Simplificação dos meios utilizados. Simplificação e
geometrização das formas, com tendência para uma crescente abstratização dos motivos.
Principais autores:
- Wassily Kandisky (1866-1944), líder e teórico do grupo, as suas pesquisas levá-lo-ão à descoberta
da arte abstrata. Escreveu: “O artístico reduzido ao mínimo deve ser identificado como o abstrato
levado ao máximo. Quando, no quadro, uma linha se liberta do objetivo de exprimir uma coisa
objetiva, real, atua por si só como coisa.
- Franz Marc (1880-1916), Paul Klee (1879-1940), August Macke (1879-1914); O grupo dispersou-
se com a 1ª Guerra Mundial, Marc e Macke, morreram na guerra. A sua arte irá continuar,
nomeadamente na Escola de Artes da Bauhaus, onde Kandinsky e Klee foram professores.
O cobismo
O cubismo foi um dos movimentos mais importantes da arte do século XX. Os seus criadores
foram: Pablo Picasso (1881-1973), em Horta del Hebro; Georges Braque, em L’Éstaque (1882-
1963).
O motivo (objeto, pessoa, paisagem) não é representado de um único ponto de vista, mas sob vários
pontos de vista na mesma representação (perspetivas múltiplas), introduzindo a dimensão tempo às
outras três.
Vão criar uma autonomia maior da obra de arte em relação à Natureza. Estabelecem simultaneidade
dos pontos de vista. Inspiração na Teoria da Relatividade de Einstein. Os cubistas separaram o
mundo da representação, do aspeto natural do objeto representado, pela anulação do ilusionismo
herdado da pintura naturalista do Renascimento.
Picasso e Braque iniciaram uma das maiores revoluções da Arte: Derrubando os conceitos
tradicionais da forma e do espaço; Abrindo caminho à arte abstrata e outros movimentos artísticos.
Para muitos “Les Demoiselles d’Avigon” (Meninas de Avinhão) foi o primeiro quadro a caminho do
cubismo. O quadro é marcado pela geometrização da forma, figuras angulosas, corpos distorcidos
pela perspetiva. As duas figuras da direita, posteriormente foram acrescentadas máscaras de
influência africana; Figuras e fundo confundem-se.
O Cubismo conheceu três fase principais:
- a cézanniana ou cezannista de 1907, a 1909; a analítica ou hermética, de 1910 a 1912 a sintética,
de 1913 a 1914.
Fase analítica ou hermética (1910-1912). Foi a mais característica do cubismo. Visão simultânea e
multifacetada dos vários aspetos do motivo observado, fazendo com que o objeto aparecesse na tela
como que quebrado ou explodido. Um grande número de planos geométricos e achatados,
confundindo-se com os fundos (bidimensionalidade), destruição da perspetiva renascentista. Quase
monocromia.
Temática: retratos e naturezas-mortas.
A ideia é representar a realidade visual total do objecto. O artista não representa apenas o que vê
mas também o que dele conhece.
Picasso: “perguntei a mim mesmo se não se deviam pintar as coisas como as conhecemos e não
como as vemos”.
O processo de representação faz com o que está representado se afaste da imagem real que lhe deu
origem. Torna-se irreconhecível (hermético) para o público. Aproxima-se do abstracionismo.
Cerca de 1912, Picasso e Braque começam a introduzir na tela alguns elementos estranhos à pintura
(letras, pedaços de jornal, bilhetes, etc.) Procuravam tornar a pintura mais inteligível, menos
abstrata, para o espectador. Retorno à policromia. Esta fase das colagens deu-se na passagem do
Cubismo Analítico para o Cubismo Sintético.
Fase sintética, (1912-1914). Retorno à realidade. Redução dos pontos de vista e do número de
planos. Formas simplificadas (sintéticas). Cor vibrante; Sobreposições e transparências de planos.
Nesta fase do Cubismo sintético participou outro pintor espanhol, Juan Gris (1887-1927).
Picasso também realizou obras escultóricas onde procurou desenvolver os princípios do cubismo.
Os princípios cubistas influenciaram todas as artes (pintura, escultura, arquitetura e design). Deram
origem a novas correntes como o Orfismo e o Purismo e a Secção de Ouro. Influenciaram correntes
como o Abstracionismo e o Futurismo.
Arte abstrata: toda a arte que não contém nenhuma relação com a realidade, quer essa realidade
tenha sido ou não o ponto de partida do artista.
A arte abstrata anula o tema e o objeto na criação plástica. Foi encarada como a expressão mais pura
da arte.nLiberta-se de programas culturais ou ideológicos. Torna-se o símbolo da arte moderna, sem
referências ao passado.
É um ponto de chegada natural das tendências que arte europeia vinha a explorar desde o pós-
impressionismo, que tinham evoluído no sentido de:
- Progressiva libertação da arte em relação à Natureza, autonomia total da arte em relação à
realidade.
- Tinham provocado uma verdadeira revolução técnica e estética, concretizada na crescente
simplificação e sintetização dos objetos representados.
O Abstracionismo Lírico vive das formas orgânicas, das manchas cromáticas. Da dinâmica das
linhas, formas e cores. Que substituem a representação de objetos. A pintura aproxima-se da música.
A cor é o meio de exercer uma influência directa na alma. A cor é a tecla. O olhar o martelo. A alma
é o piano de muitas cordas. O som musical tem acesso directo à alma, e aí encontra de imediato
uma ressonância, porque o Homem tem música em si mesmo, que pode negar que isso também
pode ser válido para a pintura.
“A cor assim como afecta os animais, também afecta, com igual força e vigor, as reacções
humanas”.
Kandinsky acreditava na maior pureza da arte abstracta, atribui- lhe um significado espiritual.
Pensava que uma grande mudança espiritual se estava a desenvolver no novo século com o
abandono das doutrinas materialistas do século XIX.
O artista foi percorrendo várias fases até, desligando-se progressivamente da realidade concreta até
atingir a abstração pura. Constrói os seus quadros com linhas e cores.
Refletiu sobre a arte publicou 3 livros:
- Do espiritual na arte, 1912, expõe a sua teoria sobre o valor psicológico das cores e das formas;
- Um olhar sobre o passado, 1913;
- Ponto, linha sobre o Plano, publicado na fase da Bauhaus;
- Para ele, a pintura devia constituir o alimento da alma e não somente o dos olhos;
- Pintar significava organizar as formas e as cores, de modo a provocar sensações.
Nunca mais a arte deveria ser a representação de qualquer realidade. Libertado da obrigação de
representar a realidade, o quadro materializa-se numa sensação, numa emoção. Abstrair será pintar
formas independentes da realidade, que não se assemelhem a nada, só a elas próprias, propondo
uma sensação inédita cada vez que aparecem.
Abstracionismo Geométrico
No abstraccionismo geométrico está patente a racionalização nascida da análise científica e
intelectual. Foi influenciado pelo Cubismo e pelo Futurismo. O Suprematismo foi um movimento
pictórico completamente novo, nascido na Rússia por volta de 1915-1916, na sequência do
Raionismo. O seu criador foi Casimir Malevitch (1878-1935).
Características:
- Formas geométricas puras, construídas pela cor, sem modelado;
- Paleta cromática restrita, constituída pelas cores primárias e secundárias, o branco e o preto;
- O branco simboliza o princípio e o negro o fim.
A pureza plástica levada ao extremo levou a dois quadros pintados entre 1918 e 1920:
- Quadrado Negro sobre fundo Branco e Quadrado Branco sobre Fundo Negro.
Para o Suprematismo, a verdade e pureza, seriam procuradas num novo mundo através do
aniquilamento e negação do mundo presente. Esta procura levou Malevitch até à negação da própria
pintura. Outros autores que aderiram ao Suprematismo foram os raionistas e Lazar El Lissitzky
(1890-1941).
O Neoplasticismo foi um movimento holandês que se desenvolveu nas artes plásticas, arquitetura,
design, literatura. Nasceu em 1917, ligado à revista De Stijl (O Estilo).
Principais artistas:
- Piet Mondrian (1872-1944) e Teo van Doesburg (1883-1931).
Preconizavam uma arte pura, clara, objetiva, não ilusória, não representativa, anti naturalista.
Utilizaram as formas geométricas (quadrados e retângulos) estáticas, pintadas a branco, preto e
cores primárias, limitadas por linhas verticais e horizontais negras. Que formavam planos
geométricos puros e ortogonais.
A vertical e a horizontal são a expressão de duas forças opostas. A cor deve ser plana e primária. A
arte não deve ter qualquer relação com o aspeto natural das coisas.
Utilizavam uma simbologia universal, um código, com um número limitado de formas e cores, que
no entanto podem transmitir um número infinito de mensagens.
Procuravam uma visão impessoal e objetiva da arte, através de uma estética nova (neo) e universal.
Procuravam a perfeição e a verdade suprema. Procuravam ultrapassar o mundo físico e emotivo
para atingir o mundo mental. Procuravam eliminar o “trágico da vida”. Contestaram as artes do
passado e o Expressionismo.
Piet Mondrian foi o grande teórico do grupo. Evoluiu no sentido de uma progressiva depuração
plástica, a sintetização das formas e das cores. Atribuiu, a uma e outras, significados místicos e
esotéricos.
A pouco e pouco descobri que o Cubismo não tinha deduzido a consequência lógica das suas
próprias descobertas, pois não desenvolveu a abstração até ao objetivo extremo – a expressão da
realidade pura.
Enquanto a realização se servir de uma “forma”, seja ela qual for, é impossível realizar relações
puras. Por isso a nova Realização se libertou de toda a forma. - Mondrian
A linha vertical e horizontal são a expressão de duas forças opostas, elas formam cruzes. Este
equilíbrio de contrastes existe por toda a parte dominando tudo. Na pintura a abstração da cor
natural é conseguida pela cor primária no estado mais puro possível. Para que a cor esteja certa,
deve ser: Plana e puramente primária (são as três cores fundamentais). - Mondrian
“A arte abstrata é concreta e, pelos seus meios de expressão especiais, é até mais concreta do que a
arte naturalista.” - Mondrian
Na última fase, em Nova Iorque (cidade de traçado ortogonal), compôs os quadros, Broadway
Boogie-Woogie e Victory Boogie- Woogie (inacabado). Segmentos cromáticos ritmados, assinalam
o domínio do Homem sobre a Natureza, objetivo máximo do Neoplasticismo.
O construtivismo pretende colocar a criação artística ao serviço da sociedade, de acordo com uma
tendência oposta à dos Suprematistas. Para os construtivistas, a arte deve apoiar-se na tecnologia;
Os artistas devem empenhar-se em grandes projetos que visem introduzir a arte na vida; Foi no
período entre as duas guerras que a escultura realizou a passagem do figurativo para o abstrato,
coube ao Construtivismo e a Vladimir Tatlin (1885-1953) o papel de pioneiro.
Tatlin, justapôs materiais anti-tradicionais, como o cimento, cobre vidro, chapa e criou relevos que
não reproduziam o quer que fosse, não imitavam nada, tinham um valor autónomo.
A escultura deixou de ser uma massa ou volume fechado para se tornar numa intersecção de planos
onde o nosso olhar penetra e onde o ar circula, atribuindo ao vazio um valor construtivo.
Naum Gabo (1890-1977) e o seu irmão Anton Pevsner (1886- 1962) foram os autores do Manifesto
Realista, 1920, onde se defendia a arte pura. Os dois irmãos apoiaram-se em conhecimentos
técnicos e matemáticos para conceber as suas obras. Valorizaram as formas abertas e a linha
geradora de superfícies, o espaço, tempo e a luz. Entre 1920-22, Gabo, executou as primeiras
construções com movimento – construção cinética. Estas peças foram construídas em materiais
leves e translúcidos (vidro, plástico), conseguindo obras muito leves, rigorosamente construídas e
que utilizavam jogos de luz elaborados.
O Futurismo
O Futurismo nasceu em Itália, mas oficialmente apareceu em 1909, com a publicação do Manifesto
Futurista, de Filippo Tommaso Marinetti (poeta), no jornal Le Fígaro, de Paris. Primeiro surge na
literatura e estende-se às artes plásticas, arquitetura, música e cinema.
Define-se o futurismo no Manifesto Futurista como uma nova poética. Combate à arte tradicional;
Exaltação da vida moderna, da civilização industrial, da máquina, da velocidade, das cidades
modernas, dos novos meios de transporte, etc.
No Manifesto afirma-se: “Um automóvel de corrida com o seu adorno de grossos tubos semelhantes
a serpentes de hálito explosivo (…) é mais belo que a Vitória de Samotrácia”.
O Manifesto Raionista, Rússia, 1913, define a tela raionista como devendo “dar a impressão de
escapar ao tempo e ao espaço” e “sugerir a sensação da quarta dimensão”. Para que este objetivo se
cumprisse, recomendavam aos pintores a utilização de raios de cor paralelos ou cruzados,
simbolizando raios de luz.
Entre as duas grandes guerras de 1918-1944) o Futurismo alarga-se a outras modalidades plásticas
(design industrial, moda, cinema). O movimento é aproveitado por Mussolini para fazer propaganda
ao regime fascista italiano o que afastou muitos artistas, sobretudo fora de Itália.
O dadaísmo
Movimento Dada
O dadaísmo foi um movimento cultural, artístico e filosófico. Abrangeu a literatura, o cinema, o
teatro, a fotografia, a música, a pintura, a escultura. Surgiu durante a 1ª Guerra Mundial em Zurique
e Nova Iorque por artistas (poetas, pintores e músicos) refugiados da guerra.
Dada deriva da palavra que significa os sons balbuciados pelos bebés, foi encontrada por Tristan
Tzara, abrindo o dicionário ao acaso.
O dadaísmo é uma reação (também provocação) às sociedades burguesas e capitalistas e aos valores
éticos e culturais por elas criados. Reação provocada pela violência da guerra. Proclamavam o vazio
espiritual e o sentimento do absurdo que a guerra instalara. Proclamavam obsoleta a cultura
tradicional.
Para construir uma nova sociedade era preciso destruir a antiga. Afirmavam “destruir também é
criar”. Estas ideias apoiavam-se na filosofia pessimista de Schopenhauer, no nas ideias de Nietszche
e no Anarquismo.
Preconizavam:
- Recriar a arte com recurso ao absurdo e incongruente;
- Retorno do artista ao seu estatuto de artesão;
- Ausência de compromisso entre a arte e o mercado;
- Valorizar o subversivo, o irracional.
Os Dadaístas procuravam obter daqueles que os liam e dos que os ouviam reacções negativas,
através do insulto e da dessacralização da ordem estabelecida. Estavam unidos pela recusa dos
valores e do modelo da cultura tradicional.
O final da guerra levou à dispersão dos elementos do grupo e a formação de novos núcleos:
- Barcelona (Picabia e Duchamp);
- Colónia (Max Ernest);
- Hanover (Kurt Schwitters);
- Paris (André Breton, Louis Aragon, Paul Éluard, etc.).
A partir de 1922 o grupo dispersou-se. Alguns dadaístas passaram para o Surrealismo, corrente que
o Dadaísmo se considera percursora.
Principais características do Dadaísmo:
- Temáticas provocatórias, explorando assuntos insólitos e incongruentes, aparentemente sem
sentido (nonsense), exploração do absurdo;
- Inspirou-se nas técnicas cubistas e inventou outras: Na pintura, criaram as assemblage, mistura de
colagens com objetos encontrados (objects trouvés), fotomontagens, as merzbilders, as frottages, os
ready-made e os rayographs na fotografia;
- Assemblage: termo criado por Jean Dubuffet, em 1953, que designa obras de arte feitas de
fragmentos de materiais, naturais ou não.
- Ready-made: criado por Marcel Duchamp, e que consistia na descontextualização de um objeto
banal e conferir-lhe o estatuto de obra de arte.
- Object trouvé (objeto encontrado), que é um elemento tridimensional, colado sobre a tela e
combinado, por vezes, com colagem.
- Rayographs (fotografia offcamera) de Man Ray, que são fotografias executadas sem utilização da
máquina fotográfica, ou seja, pela sensibilização do papel fotográfico com a luz, através do contacto
directo entre o papel sensível e os objectos e fotografias elaboradas; Módulo 7, História A 221
Frotagge – técnica de criar um desenho colocando um pedaço de papel sobre uma superfície áspera
e esfregando com um lápis até que o papel adquira a qualidade da superfície que está por baixo.
O surrealismo
Em parte decorrente do Dadaísmo, o Surrealismo constituiu sobretudo um movimento de ideias que
se estendeu a vários campos de atividade. Literatura, André Breton foi o principal teórico do
movimento. Artes plásticas, pela mão do seu iniciador, Max Ernst; Cinema, com Dalí e Buñuel.
Fotografia, onde se destacou Man Ray. Música com Erik Satie.
Iniciou-se em França, 1919, expandiu-se por toda a Europa e pela América, fuga de artistas durante
a Segunda Guerra Mundial. Surgiu, à semelhança do movimento Dada, como reacção à cultura e à
civilização ocidentais e a tudo o que elas invocassem ou representassem, em particular o
racionalismo e o convencionalismo.
Defenderam os valores da liberdade, da irracionalidade, através das obras que utilizaram o sonho, a
metáfora, o inverosímil e o insólito, contribuindo, no seu entender, para a elevação do espírito,
separando-o da matéria.
“O Surrealismo é a auto emoção psíquica pura, através da qual se procura exprimir oralmente, por
escrito ou de qualquer outra maneira, o verdadeiro funcionamento da imaginação. É o correr do
pensamento desligado de todo e qualquer controlo elaborado pela razão e independentemente de
quaisquer juízos estéticos ou morais”.
As obras deste movimento seriam executadas à margem da razão, sem quaisquer moralismos sem
preocupações estéticas racionalizadas. A associação de ideias era feita sem a procura de sentido e
desencadeada livremente, segundo três técnicas básicas que punham em prática o “automatismo
psíquico”.
Escrever ou desenhar em estado semi hipnótico, sob a influência do álcool, da fome ou da droga,
que provocam alucinações. As obras eram realizadas ou ditadas durante o sono, ou eram relatos de
sonhos.
A junção de escritas simultâneas de várias pessoas - perguntas e respostas ou partes de uma mesma
proposição, ignorando, umas, o que as outras faziam, de modo a obterem efeitos surpreendentes ou
desconcertantes. As suas obras são de uma extrema diversidade.
Os caminhos da literatura
Tal como nas artes plásticas a literatura sofreu uma verdadeira revolução e também aqui as
tradições e valores foram postos em causa; Surgiram novos tipos de escrita; Foi abandonado a
descrição realista e ordenada da realidade; Muitas obras literárias procuraram retratar a vida
psicológica e interior das personagens; As obras literárias são dominadas pelo pessimismo, o
desencanto e a angústia;
Em 1915, o general Pimenta de Castro, dissolveu o Parlamento e instaurou uma ditadura militar. A
participação de Portugal na guerra agravou a instabilidade política. O major Sidónio Pais, em
dezembro de 1917, destituiu o Presidente da República, dissolveu o Congresso e fez-se eleger
presidente em abril de 1918, através de eleições diretas. Autoproclamava-se o fundador de uma
“República Nova”. Apesar de ser visto por muitos como o “salvador da pátria”, foi assassinado em
dezembro de 1918.
Entre janeiro e fevereiro de 1919 houve guerra civil em Lisboa e no Norte. Os monárquicos
proclamaram na cidade do Porto a “Monarquia do Norte”. Em março de 1919 é restabelecido o
normal funcionamento das instituições democráticas. No entanto os diversos partidos republicanos
continuam a desentender-se. Entre 1919 e 1926 houve 26 governos. Os atos de violência escalavam.
Estes movimentos ficaram conhecidos pelo nome de Modernismo. Surgem revistas, são organizadas
exposições, debates e conferências. Continuou, no entanto, a faltar a adesão do público interessado
nas novidades culturais.
I Salão dos Humoristas (1912). I Exposição dos Humoristas e Modernistas (1915), onde foi
utilizada pela 1ª vez a palavra Modernismo.
Nesta revista participaram nomes como Aquilino Ribeiro, Miguel Torga e Ferreira de Castro entre
outros. A Presença defendeu a criação de uma literatura mais viva, livre, oposta ao academismo e
jornalismo rotineiro, primando pela crítica, pela predominância do individual sobre o coletivo, do
psicológico sobre o social, da intuição sobre a razão.
A partir de 1933 o governo criou o Secretariado de Propaganda Nacional, mais tarde Secretariado
Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI) e o Estado passou a controlar toda a
produção intelectual (censura).
Surge a arte oficial do Estado sob o slogan “Deus, Pátria e Família”. Todas as outras correntes
artísticas são censuradas.
O modernismo na Pintura
Em Portugal o Naturalismo persiste, as primeiras expressões modernistas manifestaram-se com
António Carneiro (1872-1930) e depois com a Primeira Geração Modernista.
Eduardo Viana, inicialmente foi um pintor naturalista de cenas de costumes, mas enveredou pelo
protocubismo cezanniano em termos de forma. Conheceu os Delaunay e inspirou-se no orfismo. Em
quadros como “O Homem das louças” e o nu parece juntar os volumes cubistas com as cores fauve
e a influência do orfismo.
Guilherme de Santa-Rita (Santa- Rita Pintor) já em 1912 se dizia pintor futurista considerado um
tipo fantástico e insuportavelmente vaidoso, reflexo da sua complexa personalidade. É difícil
analisar a sua obra pois, antes de morrer, mandou-a destruir, havendo poucas exceções, como a
Cabeça.
Procurou a originalidade e uma linguagem pictórica que exprimisse a simultaneidade dos estados de
alma.
Almada Negreiros, mais novo que os anteriores, exerceu importante papel na cena pública do nosso
primeiro modernismo, possuiu uma personalidade excêntrica, original. Foi pintor, poeta, cenógrafo,
bailarino, caricaturista, dinamizador das revistas Orpheu e Portugal Futurista. A sua pintura balança
entre a Arte Nova e a Abstração a Modernidade Futurista e as raízes portuguesas.
Nos anos 30 esteve em Madrid. A partir de 1935, em Portugal, é cada vez mais conservador e
nacionalista. Participa em várias obras como os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, os
frescos das gares marítimas de Alcântara, etc. Participa na Exposição do Mundo Português.
Muitos artistas emigraram, caso de Vieira da Silva, outros foram lutando contra a ditadura. Os
movimentos de vanguarda desenvolvem-se com grandes dificuldades e desconhecidos para a
maioria da população. Surgiram grupos ligados ao Expressionismo, Neorrealismo, Surrealismo,
Abstracionismo, etc. Foram oposição à ditadura, e procuraram desenvolver a vida cultural
portuguesa. Vanguardistas nem sempre foram compreendidos pelo público.
Mário Eloy (1900-1951), viveu no estrangeiro, Paris e Berlim, expôs ao lado de Picasso, Braque,
Chagal, etc. A sua pintura realça a luz, a expressividade das cores, utiliza os tons frios (azul, verde).
Foi a figura mais importante do expressionismo, nos últimos anos aproximou-se do Surrealismo.
O Neorrealismo
O Neorrealismo, surgiu nos finais dos anos 30, o seu precursor foi Abel Salazar. Defendia a
denúncia social. “A arte deve exprimir a realidade viva e humana de uma época”, Álvaro Cunhal
(1913-2005). Representavam o mundo do trabalho num sentido completamente oposto à arte oficial
portuguesa. Era uma arte politizada, didática.
Principais autores neorrealistas:
- Júlio Pomar (1926);
- Marcelino Vespeira (1925-2002);
- Moniz Pereira (1920-1988);
- Fernando Azevedo (1923-2002);
- Júlio Resende (1917), experimentou o neorrealismo mas sempre se considerou expressionista.
O modernismo na escultura
Francisco Franco (1885-1955), expressionista, foi o escultor do regime salazarista. Canto da Maya
(1890-1981), marca expressiva, também foi um escultor oficial do regime. Leopoldo de Almeida
(1898-1975), a sua obra mais marcante, histórica e nacionalista foi o “Padrão dos Descobrimentos”.
Arquitetura
A arquitetura portuguesa, entre 1905-60, viveu várias tendências. Uma delas foi a da formulação da
casa portuguesa, recuperando valores tradicionais e rurais. Esta ideia foi defendida por Raul Lino
(1879-1974). Lino não criou propriamente uma estética mas uma filosofia da casa portuguesa.
Outra das tendências foi a que seguiu os esquemas académicos da arquitetura e da decoração do
século XIX. São exemplo a construção de prédios de arrendamento para a classe média no Porto e
Lisboa. Muitas vezes construías por engenheiros sem grandes preocupações estéticas. Esta
arquitetura também edificou bairros sociais e operários. São de referir as “ilhas” do Porto e os
“pátios” de Lisboa.
Foi nas escolas, bancos, hospitais, teatros, hotéis e fábricas que a arquitetura melhor aplicou os seus
ideais, sempre com mais preocupações técnicas do que estéticas.
Principais arquitetos:
- Adães Bermudes (1864-1948);
- Marques da Silva (1869-1947);
- Ventura Terra (1866-1919).
Depois de ultrapassadas as dificuldades provocadas pela guerra, nos meados dos anos vinte viveu-se
uma época de prosperidade, sobretudo nos EUA.
No entanto essa prosperidade iria revelar-se muito frágil; A população americana vivia do crédito e
estava profundamente endividada, inclusive recorriam a empréstimos bancários para comprarem
ações na Bolsa; Existiam indústrias, sobretudo as mais tradicionais, como a do carvão, construção
ferroviária, têxteis e construção naval que não tinham recuperado totalmente da crise de 1920/21;
Havia um desemprego crónico elevado (dois milhões nos EUA) derivado da mecanização da
indústria (desemprego tecnológico).
A agricultura, em 1929, começava a dar sinais de superprodução e a baixa de preços dos produtos
agrícolas começava a causar dificuldades a muitos agricultores; A deflação dos preços dos produtos
agrícolas começava, em 1929, a refletir-se na baixa de consumo de produtos industriais; A
especulação bolsista atingia níveis perigosos.
Uma grande parte das poupanças e do crédito americano era aplicado na Bolsa em negócio
especulativos; Devido à intensa procura de ações muito títulos eram transacionados por valores
extremamente elevados, muito superiores ao seu valor real; Os Bancos fomentavam essa
especulação emprestando dinheiro a particulares quer investindo uma parte muito significativa dos
seus lucros no negócio bolsista; Em 1929, o índice geral das ações cotadas em Nova Iorque
ultrapassavam largamente a produção industrial.
Nos meses seguintes centenas de milhares de acionistas ficaram arruinados pois a ações que
possuíam não valiam nada ou valiam apenas uma ínfima fração do valor porque tinham sido
compradas.
Como muitos acionistas tinham recorrido ao crédito para comprarem ações e agora não podiam
pagar os empréstimos pedidos muitos bancos abriram falência; Entre 1929 e 1933, faliram 10 mil
bancos; A falência dos bancos levou à paralisação da economia (estava baseada no crédito); Muitas
empresas abriram falência; O desemprego disparou, nos EUA, atinge os 12 milhões em 1932.
A procura diminuiu o que causou a baixa dos preços, levando à diminuição da produção industrial.
Os preços dos produtos agrícolas baixaram, muitos agricultores foram à falência, muitas quintas são
postas á venda e não encontram compradores.
Famílias inteiras são lançadas na miséria; Muitos vagueiam pelos EUA à procura de empregos que
não existem; Mesmo entre os que ainda estão empregados a baixa dos salários é generalizada; Os
desempregados ofereciam-se para trabalhar por salários irrisórios;
Não há segurança social, e milhões sobrevivem devido às refeições oferecidas por instituições de
caridade; Surgem “bairros de lata” em todas as grandes cidades americanas; Nesta situação a
criminalidade aumenta.
Regimes totalitários – são os regimes em que o Estado é um valor absoluto e sobrepõe-se aos
direitos individuais dos indivíduos. Ao Estado compete dirigir todas as atividades económicas,
sociais, políticas e culturais; São regimes de partido único; Toda a Nação é subordinada à ideologia
do partido.
O chefe é o representante da Nação, deve ser seguido sem hesitação, é o herói; Surge o culto do
chefe baseado numa hábil propaganda política; Ao chefe compete guiar os destinos da nação.
A seguir ao chefe vinham os filiados no partido, os soldados, a raça ariana; As mulheres eram
consideradas uma espécie inferior e estava-lhes reservada os três K (Kinder, Küche, Kirche)
(crianças, cozinha, igreja); Todos deviam ser submissos aos interesses da nação que eram
interpretados pelo chefe; A obediência cega das massas era um elemento fundamental da ideologia
fascista, para isso as crianças eram educadas nos ideais desde muito cedo, elas pertenciam ao
Estado mais do que às famílias.
Na Itália aos 4 anos as crianças faziam parte dos “Filhos da Loba”, dos 8 aos 14 anos pertenciam
aos “Balillas” e aos 18 entravam na Juventude Fascista.
Todas eram organizações paramilitares e os jovens eram vítimas de uma intensa doutrinação com a
intenção de conseguir o seu apoio incondicional ao regime; Para além do culto ao chefe, incutia-se
nos jovens o gosto pelo desporto, pela guerra, o desprezo pelos valores intelectuais; Na Alemanha
existia a Juventude Hitleriana.
Na escola completava-se esta educação através de programas e manuais escolares controlados pelo
regime.
Aos adultos exigia-se obediência absoluta e fidelidade aos ideais fascistas. Existiam várias
organizações para enquadrar e doutrinar as massas:
- O Partido (único). Nacional-Fascista (Itália), Nacional-Socialista (Alemanha). Para ocuparem
cargos na Estado e na função pública era necessário pertencer ao partido.
- Corporações (Itália), Frente do Trabalho Nacional-Socialista (Alemanha). Organizações que
enquadravam os patrões e os trabalhadores. Substituíram os sindicatos (proibidos) e organizações
patronais;
- Dopolavoro (Itália), Kraft durch Freude (Alemanha). Associações destinadas a ocupar os tempos
livres dos trabalhadores com atividades desportivas e doutrinárias;
Por outro lado são proibidos livros, mesmo livros científicos. São organizadas cerimónias de
queima de livros; Toda a leitura que não seja uma afirmação do Nacional Socialismo é proibida e
destruída;
A propaganda nazi visa os seguintes objetivos:
- O Tratado Versalhes é denunciado como um diktat dos vencedores e a causa de todo os males e
humilhação da Alemanha;
- Propõe um programa de resolução da crise e de pleno emprego;
- Restauração da grandeza da Alemanha e expansão para novos territórios;
- Prometem ordem, disciplina, estabilidade e o fim da agitação socialista;
- Divulgam os valores da pureza da raça;
Após atingir o poder em 1933, os nazis criam a Gestapo, uma polícia política; Cria-se na sociedade
alemã um clima de suspeição e de medo; Em 1933 surgem os primeiros campos de concentração.
A violência racista
Hitler fazia uma interpretação Darwinista da História, ou seja, esta era uma luta pela sobrevivência
dos mais fortes; Os mais fortes eram os arianos que eram superiores a todos os outros povos; Em
1923, Hitler, antigo cabo na Primeira Guerra Mundial, escreveu o livro “Mein Kampf” (A Minha
Luta) onde defendia as suas ideias;
Logo após chegarem ao poder, em 1933, os nazis começaram a perseguir os judeus alemães. Foram
proibidos de exercer funções públicas e profissões liberais; O antissemitismo continuou em 1935,
com a publicação das “Leis de Nuremberga”. Os judeus alemães foram privados da sua
nacionalidade e o casamento e as relações sexuais entre arianos e judeus foram proibidas; Em 1938
foram liquidadas as empresas judaicas e o seus bens foram confiscados. Na noite de 9 para 10 de
novembro aconteceu a “kristallnacht” (Noite de Cristal), muitos bens dos judeus foram destruídos e
muitos foram presos e desapareceram.
Os judeus deixam de poder exercer qualquer profissão e de frequentar lugares públicos, são
obrigados a usar uma estrela amarela que os identificava como judeus. Em 1942, durante a Segunda
Guerra Mundial, os líderes nazis organizaram a Conferência de Wannsee, onde foi decidido levar a
cabo o extermínio sistemático dos judeus, nascia a “solução final para o problema judaico”.
Os judeus foram encurralados em guetos e depois enviados para campos de concentração; Foram
campos de morte, onde os prisioneiros (judeus, eslavos, inimigos políticos, homossexuais, etc.)
foram sujeitos a trabalhos forçados e a condições sanitárias e de alimentação péssimas; Muitos
morreram de inanição, milhões foram mortos nas câmara de gás.
Na Itália:
Em 1932 existiam 1,3 milhões de desempregados, o Estado reforçou a sua intervenção na
economia; Foram lançadas várias “batalhas de produção”, apoiadas por espetaculares campanhas de
publicidade que apelavam à produtividade dos trabalhadores. O objetivo dessas campanhas era
aumentar a produção.
Em 1925 foi lançada a “batalha do trigo” para aumentar a produção de cereais; Em 1927 foi lançada
a “batalha da lira”, no sentido de estabilizar a moeda italiana; A “batalha da bonificação”, entre
1932 1934, consistiu na drenagem de pântanos a sul de Roma; O Estado fascista controlou as
importações e exportações; Procurou reduzir o volume das importações lançando programas de
industrialização do país.
O dirigismo estatal aumentou quando em 1934, a Itália enviou tropas para África para conquistarem
a Etiópia; Os resultados dos programas económicos italianos podem ser considerados positivos;
Mas foram conseguidos à custa de muitos sacrifícios da população (aumento do horário de trabalho,
subida de impostos, racionamento de muitos produtos); O “homem novo” obedecia sem se
questionar.
Na Alemanha:
Quando Hitler subiu ao poder, em 1933, existiam 6 milhões de desempregados na Alemanha;
Iniciou uma política de grandes obras públicas (construção de autoestradas, pontes, linhas férreas,
arroteamentos) e desenvolvimento dos setores automóvel, aeronáutico, siderúrgico e químico, que
lhe permitiu diminuir drasticamente o desemprego; Relançou a indústria militar e um vasto plano de
rearmamento do exército alemão que contrariava as disposições do Tratado de Versalhes.
2.2.2 O estalinismo
Em janeiro de 1924 morre Lenine. A sua morte levou a uma luta pelo poder no Partido Comunista
da qual saiu vencedor Josef Estaline (1879-1953); Os seus principais opositores tinham sido Trotsky
(ala esquerda) e Zinoviev, Kamenev e Boukharine (ala direita); Até à sua morte em 1953, Estaline
será o chefe incontestado do Partido e da URSS.
A sua tese defendia que a revolução devia ser consolidada na URSS, contrária à de Trotsky que
defendia a imediata internacionalização da revolução proletária; Após tomar o poder passou a
controlá-lo de forma absoluta; A sua política foi orientada para a transformação da URSS numa
potência mundial; Em 1928 interrompeu a NEP e nacionalizou todos os setores da economia
soviética; A coletivização e planificação da economia e a instauração de um Estado totalitário foram
as estratégias de Estaline.
A partir de 1929 a coletivização dos campos foi acelerada, pois era considerada fundamental para
libertar mão de obra para a indústria;
Os kulaks (proprietários rurais) foram violentamente afastados das suas terras. Cerca de 3 milhões
foram executados ou enviados para o “gulag” na Sibéria.
Gulag - um sistema de campos de trabalhos forçados para criminosos, presos políticos e qualquer
cidadão em geral que se opusesse ao regime da União Soviética. Muitos prisioneiros foram
utilizados nas grandes obras públicas.
Apesar da resistência à coletivização por uma parte significativa dos camponeses, os resultados
foram satisfatórios e houve um significativo aumento da produção agrícola; A produção de trigo,
açúcar, algodão e beterraba subiram; O comércio foi organizado em torno de cooperativas de
consumo local e grandes armazéns estatais.
Terceiro plano quinquenal (1938 – interrompido em 1941 com a entrada da URSS na II Guerra
Mundial):
- A prioridade foi dada às indústrias pesadas, setor energético e indústrias químicas.
Os planos quinquenais elevaram a URSS ao estatuto de terceira potência mundial, atrás dos EUA e
da Alemanha; Os planos quinquenais foram retomados depois de terminada a II Guerra Mundial.
O sucesso dos planos quinquenais demonstraram a autoridade do poder central, e só foi possível
por:
- Ter sido instaurada uma disciplina severa, com a imposição de trabalhos forçados;
- Deportação em massa de trabalhadores para onde eram necessários;
- Instituição de prémios para os melhores trabalhadores, por vezes erigidos à categoria de heróis
nacionais;
- Fortes campanhas de propaganda onde foi estabelecido o culto a Estaline;
Desde que assumiu o poder, em 1924, Estaline perseguiu todos os que podiam fazer-lhe frente,
inclusive dentro do próprio Partido Comunista, eliminou todos os potenciais concorrentes; Trotsky
fugiu e muitos outros dirigentes foram presos e condenados à morte em julgamentos encenados.
Para as eleições para os sovietes só se podiam apresentar candidatos sancionados pelo Partido; Toda
a economia era centralizada através da coletivização e da planificação; A produção cultural foi
submetida à censura, e tinha o papel de engrandecer o chefe, a Nação e o Partido.
Os partido foi sendo expurgado dos dirigentes do tempo de Lenine; O Partido Comunista foi-se
transformando num partido de quadros, jovens funcionários, que obedeciam cegamente a Estaline;
É criada a NKVD (a nova polícia política), em 1934, a polícia política que substituiu a Tcheca, em
1954 passará a ter o nome de KGB.
A crítica não é tolerada, mais de 2 milhões de cidadãos são enviados para o “gulag” e 700 mil são
executados; Nem os membros do Partido e do Exército Vermelho escapam a esta vaga repressiva,
grande parte dos comandantes dos exército foram mortos.
Em 1936 é publicada uma nova Constituição que confirma o Estado totalitário que pouco diverge
dos regimes totalitários de direita que nos anos 20 e 30 grassavam na Europa; Como outros regimes
totalitários procurou a autarcia; A URSS tornou-se um país de partido único.
Foi criada uma máquina de propaganda com vista a “endeusar” Estaline, criando um verdadeiro
culto da personalidade, e à direção do Partido Comunista; Todas as manifestações de crítica são
violentamente reprimidas; São negados os direitos humanos e há o culto da violência; Não há
liberdade, a própria liberdade de circulação na URSS é limitada pela existência de passaportes
internos.
A Constituição de 1936 reforçou o poder do Partido Comunista, Estaline, secretário-geral, passa a
deter uma autoridade absoluta; Estaline torna-se o “pai dos povos”, cultivando uma imagem
paternalista; No entanto o regime era fortemente repressivo, a NKVD era “um estado dentro do
estado”, perseguindo toda a oposição.
A crise dos Anos 30 colocou em causa a teoria da livre circulação, livre produção, livre iniciativa e
livre concorrência, onde as crises cíclicas eram entendidas como fenómenos de autorregulação do
mercado; O economista britânico, John Maynard Keynes (1883-1946) colocou em causa a
capacidade de autorregulação dos mercados e da economia capitalista; Keynes recomendava um
maior intervencionismo do Estado e uma inflação controlada; Intervencionismo do estado – papel
ativo do Estado na economia, publicando legislação económica, laboral e social.
Keynes defendia uma política de investimento do Estado (o Estado deveria ser um ativo
empregador) e de ajuda às empresas de forma a promover o desenvolvimento e a diminuir o
desemprego; O keynesianismo consiste em ver o Estado a desempenhar um papel ativo de
organizador da economia, de investimentos em vários setores (nomeadamente em grandes obras
públicas) e de regulador dos mercados.
O New Deal
Em 1932 foi eleito um novo presidente nos EUA, Franklin Delano Roosevelt (1882-1945);
Influenciado pelas teorias de Keynes, Roosevelt propôs-se acabar com a crise nos Estados Unidos;
Desenvolveu um plano, em duas fases, de intervencionismo do Estado que ficou conhecido por
“New Deal”.
Desenvolveu uma política de construção de grandes obras públicas para combater o desemprego e
promover o desenvolvimentos de setores estruturantes da economia(construção de estradas,
barragens, aeroportos, habitações, escolas, etc.).
Criou campos de trabalho para os mais jovens promovendo a rearborização de vastas áreas; A
publicação da “Agricultural Adjustment Act” promove a proteção da agricultura concedendo
empréstimos bonificados aos agricultores bem como outras indeminizações; Foram fixados preços
mínimos e máximos de venda e quotas de produção para evitar a concorrência desleal.
A Grã-Bretanha
A Inglaterra foi um dos países onde a crise de 1929 mais se sentiu; No entanto os radicalismo
totalitários de direita e de esquerda nunca tiveram grande aceitação entre a população britânica; A
crise levou ao crescimento do Partido Trabalhista que criou um Governo Nacional de coligação.
Inspirados pelo New Deal americano desenvolveram uma política intervencionista do Estado;
Desenvolveram uma política protecionista de promoção dos produtos nacionais e de reforçar as
relações com os países da Commonwealth; Criaram também o Estado Providência.
França:
A França, nos inícios dos anos 30, continuava a revelar grandes dificuldades para ultrapassar a crise
devido à insistência dos governos de praticarem políticas deflacionistas.
A oposição de esquerda reivindicava a aplicação de medidas keynesianas e a extrema-direita
clamava por um governo mais autoritário.
Uma manifestação de Ligas Nacionalistas (extrema-direita) em fevereiro de 1934 levou à demissão
do governo do Partido Radical.
Perante a ameaça da extrema-direita formou-se uma coligação que integrou os partidos comunista,
socialista e radical. Apresentaram-se às eleições de 1936 que venceram, com o lema “pelo pão, pela
paz e pela liberdade”. Os governos da Frente Popular, dirigidos pelo socialista, Léon Blum,
ocuparam o poder entre 1936 e 1938, os comunistas não participaram nesses governos.
Desenvolveram uma política de forte intervencionismo do Estado.
Desvalorizaram a moeda francesa (franco) e tabelaram os preços de alguns produtos essenciais;
Nacionalizaram o Banco de França e algumas dos setores industriais fundamentais, como os
transportes e o fabrico de armamento; Desenvolveram a legislação social: criação de contratos
coletivos de trabalho, legalização dos sindicatos, aumentos salariais, redução do horário de trabalho
para 40 horas semanais e o direito dos trabalhadores gozarem anualmente 15 dias de férias pagas.
Espanha:
Em fevereiro de 1936, triunfou nas eleições uma Frente Popular (socialistas, comunistas,
anarquistas e sindicatos operários); Promulgaram legislação de caráter social e reformista:
separação entre a Igreja e o estado, direito à greve, direito ao divórcio, laicização do ensino, direito
à ocupação de terras não cultivadas, aumento dos salários e reconhecimento da autonomia do País
Basco e da Catalunha.
Estas medidas provocaram a reação dos mais conservadores; É constituída uma Frente Nacional que
agrupava conservadores, monárquicos e falangistas (fascistas); Um levantamento militar chefiado
pelo general Francisco Franco vai mergulhar a Espanha numa violenta guerra civil entre 1936 e
1939; Os franquistas (apoiantes do general Franco) tiveram o apoio militar da Alemanha nazi e da
Itália fascista e vão vencer a guerra; Em 1939 inicia-se a ditadura franquista que irá perdurar até
1976.
Imagens da cidade basca de Guernica, destruída pela aviação alemã durante a guerra civil
espanhola; Quadro pintado por Pablo Picasso denominado “Guernica” onde se denuncia a
destruição da cidade.
Surge a vontade de imitar os atores na vida real; Cria-se o “star system”, fomentado pela indústria
cinematográfica visa uniformizar os gostos da população, é a estandardização de comportamentos.
A rádio
Afirmou-se a partir dos anos 20, e rapidamente se transformou no mais importante e poderoso meio
de informação; A rádio é acessível em quase todos os lugares e a quase todas as pessoas e, por isso,
tornou-se imensamente popular; A rádio transmite notícias, música, publicidade, eventos culturais e
desportivos, música, colóquios, debates, novelas, etc.
A rádio vai contribuir para o esbater de diferenças, (por exemplo de pronuncia entre as diversas
regiões de um país), é um importante veículo de homogeneização de cultura e comportamentos; Os
políticos rapidamente utilizam o rádio como uma forma de divulgarem as suas ideias; Na
Alemanha, os nazis, utilizaram o rádio como uma forma de fanatizar as multidões.
A imprensa
A imprensa de massas utiliza um vocabulário simples e atrativo, frases curtas; O livro torna-se um
bem de consumo. Surgem novos géneros como os romances cor-de-rosa, a banda desenhada, o
romance policial; Os jornais, fruto da cada vez maior alfabetização, aumentam as suas tiragens.
Cria-se uma linguagem jornalística; Muitas vezes recorrem a notícias sensacionalistas; Nos jornais
aparecem várias secções: desportiva, local, feminina, entretenimento, etc.; Também se divulgam as
revistas com temáticas diversas.
Desporto:
Alguns desportos tornaram-se gigantescos espetáculos e criaram poderosas indústrias como o
futebol (europeu e americano), basebol (EUA), ciclismo, boxe e automobilismo.
Música ligeira:
Surgiram novos estilos e ritmos musicais beneficiando da divulgação na rádio rapidamente
alcançam uma divulgação mundial.
Espetáculos noturnos:
As casas de espetáculos e diversão noturnas proliferam nas grandes cidades, é uma forma de evasão
do quotidiano; O ritmo de vida acelerou, há uma liberalização dos costumes e uma grande vontade
de fuga da realidade do trabalho quotidiano o que contribuiu para o crescimento deste tipo de
espetáculos, nomeadamente durante o fim de semana.
Entre as duas guerras surgiu uma literatura empenhada socialmente, criticando os aspetos negativos
da sociedade, tanto na prosa como na poesia; Bertolt Brecht (1899-1956) foi dramaturgo e poetas;
Aldous Huxley (1894-1963) publicou em 1932, “O Admirável Mundo Novo”, uma obra
profundamente crítica da desumanização da sociedade industrial; André Malraux (1901-1976)
publicou a “Condição Humana” em 1933.
Nos EUA surgiram nomes como Ernest Hemingway (1899-1961), que combateu na guerra civil
espanhola ao lado dos republicanos nas brigadas internacionais, John dos Passos (1896-1970) e
John Steinbeck (1902-1968).
Estes autores fazem parte da corrente neorrealista da literatura; Esta corrente literária empenhou-se
em denunciar os abusos da sociedade capitalista e os graves problemas sociais provocados pela
crise económica; O neorrealismo é um movimento empenhado politicamente.
Este movimento também se estendeu à pintura e surgem artistas e obras de arte politicamente
empenhadas; Na URSS desenvolve-se uma arte figurativa e concreta, o Realismo Socialista; Após
1925, e passada a euforia criativa dos primeiros anos da Revolução, o Estado Soviético, deixou de
apoiar as vanguardas.
Institucionalizou uma arte académica e realista, de grande rigor técnico; Na temática exaltou o
trabalhador anónimo, as grandes vitórias do regime, tinha um carácter propagandístico;
Principais autores:
- Vera Múkhina, na escultura.
- Serguei Gueressinov nas artes gráficas.
A linguagem realista foi a preferida pelos regimes ditatoriais que se implantaram em vários países
europeus (Alemanha, Itália, Portugal, etc.); Era a produção de uma arte para as massas e com um
forte pendor propagandístico; A arte era controlada e censurada. Existia uma arte e uma estética
oficial do regime.
Nos restantes países europeus e americanos, a tendência realista desenvolveu-se de uma forma mais
livre e pessoal, o Realismo Social ou Neorrealismo.
A temática estava direcionada para a intervenção político -social:
- Desmascarar a sociedade burguesa, as injustiças e os sofrimentos ocultos;
- Exaltar o povo trabalhador, valorizando as suas tarefas e a sua cultura;
- Combater os regimes burgueses e ditatoriais;
- Lutar em prol do pacifismo e do anticolonialismo.
O funcionalismo na arquitetura
Numa Europa destruída pela guerra era necessário construir de forma rápida, barata mas digna;
Surgiu o funcionalismo na arquitetura, uma corrente que pensa que a ideia central na conceção de
um edifício deve ser a sua função; Existiram duas correntes fundamentais: a europeia, mais
interessada na racionalidade das formas, e a americana, mais humanizada de cariz organicista.
Em 1919, na Alemanha, surgiu a Bauhaus (Casa das Artes), uma escola de artes; Propunha a
integração entre as artes aplicadas e as belas-artes; Desenvolveu o conceito de design industrial.
Com o encerramento da Bauhaus, em 1933, pelos nazis, van der Rohe, como muitos outros artistas,
intelectuais e cientistas alemães, emigrou para os EUA, onde vai contribuir para o desenvolvimento
do Estilo Internacional com estruturas como o edifício Seagram em Nova Iorque.
Principais obras:
- Aprés le Cubisme, 1918;
- Para uma nova Arquitectura, 1923;
- O Modulor, 1924;
- Revista L’Esprit Nouveau, 1920.
As ideias de Le Corbusier foram materializadas, pela primeira vez, na construção da Casa Dom-Ino
(1914).
Projetou espaços urbanísticos funcionalistas; As suas teorias urbanísticas estão no livro A Cidade
Radiosa (1930); As ruas cruzavam-se ortogonalmente e existiam 3 zonas diferenciadas: trabalho,
lazer e residência.
A partir dos anos 30, surge uma primeira reação ao funcionalismo racionalista da arquitetura
europeia.
Resposta a uma evolução demasiado tecnológica, a arquitetura procurava vias mais humanas e
sensitivas, que evidenciassem preocupações com o ambiente circundante e respeitassem as tradições
locais, a nível do uso de materiais e das técnicas construtivas.
Destaca-se o trabalho do arquiteto americano Frank Lloyd Wright (1869-1959), que iniciou a sua
atividade cerca de 1890, junto da Escola de Chicago; Wright desenvolveu uma arquitetura
organicista onde: As divisões da planta não resultavam da “divisão distributiva do volume”, mas
integravam-se umas nas outras, como num sistema vivo (orgânico) coerente.
O espaço arquitetónico é concebido como expressão da própria vida do homem que o habita,
obedece à escala humana; Os aspetos estruturais, espaciais e mesmo decorativos da sua arquitetura
têm uma função orgânica, de modo a adaptarem-se à vida como organismos vivos da natureza.
Ligada a esta conceção organicista e mais sensitiva da arquitetura está o arquiteto finlandês Alvar
Aalto (1898-1976); Procurou uma arquitetura integrada que respeitasse o ambiente e as
“necessidades psicológicas” do Homem; As ideias de Aalto dominaram toda a escola nórdica de
arquitetura, nos anos 50, exerceu importante influência noutros países da Europa.
Em 1936, os nazis organizaram os Jogos Olímpicos como uma forma de demonstrar a superioridade
da raça ariana; Estes jogos foram dominados por um atleta negro norte-americano, Jesse Owens,
que ganhou 4 medalhas de ouro; Uma humilhação para Hitler que se recusou a comparecer nas
cerimónias de entrega de medalhas a Owen.
Os militares revelavam uma grande impreparação para governarem o país; Em 1928, um professor
de Finanças e Economia Política da Universidade de Coimbra é convidado para ministro das
Finanças.
Salazar aceitou o convite mas impôs que seria ele superintender as despesas de todos os ministérios;
Levou a cabo uma política austeridade e de forte contenção das despesas públicas e aumentou
gradualmente os impostos; Conseguiu apresentar um saldo positivo no Orçamento, o que foi logo
apelidado de “milagre”; Em 1932, é nomeado para a chefia do governo e chama para os diversos
ministérios personalidades conservadoras da sua total confiança.
Em 1933 é aprovada, em plebiscito, uma nova Constituição. A sua aprovação marca o nascimento
do Estado Novo e põe fim à época da ditadura militar; A Constituição de 1933 consagrou a criação
de um Estado Corporativo.
O Estado era uma República Corporativa concebido de forma unitária regional, incorporando as
"províncias ultramarinas", ou seja, as colónias portuguesas, consagrando o ideal de Salazar de
preservar o império português "do Minho a Timor“; Na revisão de 1951, o Ato Colonial foi retirado
da Constituição.
O Estado Novo é um regime fortemente conservador e autoritário, que se aproximou das conceções
fascistas do Estado italiano; O Estado Novo rejeitou o sistema democrático e parlamentar; O poder
executivo era detido pelo Presidente da República mas o verdadeiro poder era exercido pelo
governo, na pessoa do seu chefe, o Presidente do Conselho de Ministros (cargo ocupado por
Salazar).
Este tinha o poder de nomear e exonerar ministros, podia legislar e ainda vetar as decisões do
Presidente da República; Tinha de submeter as propostas de lei a uma Assembleia Nacional que era
constituída unicamente por deputados da União Nacional; O regime era um presidencialismo
bicéfalo na qual o Presidente do Conselho de Ministros sobrepunha-se ao Presidente da República.
O chefe era o interprete do superior interesse da nação; Salazar era apresentado como o “Salvador
da Pátria”. Era a figura central do regime e existia um culto da personalidade; Cultivava uma
imagem de sobriedade e austeridade, muito diferente da imagem de Hitler ou Mussolini; No entanto
a suas ideias são decalcadas dos regimes fascistas, sobretudo do italiano.
O Estado Novo português distinguiu-se dos outros fascismos pelo seu carácter conservador e
tradicionalista; O seus valores fundamentais eram Deus, Pátria, Família, Autoridade, Paz Social,
Hierarquia, Moralidade e Austeridade.
A sociedade industrial e urbana era considerada a fonte de todos os vícios e por isso exaltava-se o
mundo rural como exemplo de virtude e de moralidade; A religião católica é definida como a
religião da Nação portuguesa; A mulher tinha um papel passivo na sociedade. A mulher ideal era
uma esposa carinhosa e submissa e uma mãe sacrificada e virtuosa.
A família ideal portuguesa era católica, de moralidade austera, repudiava os vícios da vida
urbana
A mulher não deveria trabalhar fora de casa, o seu papel era de dona de casa; O trabalho fora de
casa da mulher era entendido como uma ameaça à estabilidade do lar;
Outro aspeto sublinhado pelo regime era a “perfeita integração racial” dos povos no Império
português.
O Estado Novo pretendia ter uma imagem diferente dos outros regimes totalitários, as suas
manifestações racistas, o “espalhafato” dos chefes. Salazar via nestes factos como uma
manifestação de paganismo.
O Estado Novo pretendia ser o defensor da moral cristã e das tradições portuguesas; Há uma
exaltação dos valores culturais tradicionais e a recusa do modernismo estrangeiro; Os heróis
portugueses são exaltados; A Escola desempenhou um papel fundamental na transmissão dos
valores do Estado Novo.
O Estado Novo afirma-se antiliberal, antidemocrático e antiparlamentar; Para Salazar a Nação era
vista como um todo e não um grupo de indivíduos isolados; Dessa ideia derivava que a Nação se
sobrepunha ao direitos de liberdade individual e que os partidos representavam ideias de grupos de
indivíduos e por isso era contrário aos interesses da nação; O Estado Novo era contra a separação
dos poderes do Estado (executivo, judicial e legislativo) e via num poder executivo forte a garantia
da existência de um Estado forte e autoritário.
O Estado Novo propôs o corporativismo como modelo de organização económica, social e política
do país; No corporativismo o país era representado pelas famílias e pelas pessoas agrupadas pelas
funções que desempenhavam; Todos os indivíduos e organizações contribuíam para o bem comum.
O Estado Novo, com a publicação do Estatuto do Trabalho Nacional adotou o corporativismo; Foi
criada a Câmara Corporativa que tinha funções consultivas.
Uma das explicações para a longevidade do regime tem que ver com as instituições e processos
criados para enquadrar as massas na ideologia do regime; Em 1930 nasceu a União Nacional, o
partido que sustentava o regime, o único legal; Em 1933 é criado o Secretariado da Propaganda
Nacional (SPN), dirigido por António Ferro; O SPN teve um papel importante não só na
publicitação do regime mas também na criação de uma arte estereotipada que estivesse de acordo
com a ideologia do regime.
Todos os funcionários eram obrigados a fazer prova da sua fidelidade ao regime através de um
juramento, onde se jurava estar de acordo com o ideário da Constituição de 1933 e se repudiava o
comunismo e outras ideias subversivas; Em 1936 foi criada a Legião Portuguesa, era uma milícia do
regime, os seus membros tinham treino militar; No mesmo ano é criada a Mocidade Portuguesa,
todos os alunos do ensino primário e secundário tinham de se inscrever, o objetivo era catequizar a
juventude no ideário do regime; Estas organizações foram copiadas das suas congéneres italianas,
os seus membros tinham uniforma próprio.
O ensino foi controlado. Os professores que não eram adeptos do regime foram expulsos; Os
manuais escolares eram únicos e controlados pelo regime; Na revisão da Constituição de 1935 o
ensino passou a estar ligado aos “princípios da doutrina e da moral cristãs”; Em 1935, foi fundada a
Fundação Para a Alegria no Trabalho (FNAT), inspirada na Dopolavoro italiana e na Kraft durch
Freud alemã, pretendia controlar os tempos livres dos trabalhadores; A organização “Obras das
Mães para a Educação Nacional”, foi criada em 1936.
Foi criada uma Censura Prévia para os media, livros, cinema, rádio, televisão, ou seja para todas as
publicações portuguesas, o objetivo era controlar o que os portugueses poderiam conhecer e saber;
Em 1933 foi criada uma polícia política, Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (PVDE),
rebatizada em 1945 de Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) e 1969 passou a chamar-se
Direção Geral de Segurança (DGS).
A polícia política perseguiu, prendeu, torturou e assinou os opositores do regime com especial
ênfase nos militantes e simpatizantes do Partido Comunista Português; As pessoas detidas pela
polícia política não tinham direito a um julgamento justo, por vezes eram mantidas prisioneiras em
condições degradantes.
Este êxito foi aproveitado pelo regime para o apelidar de “milagre económico”; No entanto a sua
política de austeridade e contenção das despesas manteve uma parte importante do país sem acesso
às condições mínimas de vida (água canalizada, eletricidade, estradas, ensino, saúde, etc.).
A importância da ruralidade
Nos anos 30 e 40 Salazar levou a acabo uma política económica assente no mundo rural; Era um
elemento central da ideologia e uma parte importante dos apoiantes do regime eram grandes
proprietários rurais; Construíram-se barragens para promover a irrigação dos solos; Em 1936 foi
criada a Junta de Colonização Interna que tinha o objetivo de povoar os baldios e terrenos públicos;
Realizou-se uma política de arborização de alguns terrenos.
O Estado Novo fomentou a cultura da vinha e deram-se progressos nas culturas do arroz, azeite,
cortiça, frutas e batata.
A maior campanha foi a Campanha do Trigo, inspirada na “Batalha do trigo” italiana que se iniciou
em 1929 e decorreu nos anos 30; Procurou alargar-se a área cultivada, nomeadamente no Alentejo;
O governo comprava a produção aos agricultores (o mercado do trigo era estatal) e estabeleceu o
protecionismo alfandegário.
Esta campanha conseguiu que o país fosse autossuficiente em termos de produção cerealífera; Esta
campanha promoveu o fabrico de adubos, de maquinaria e deu emprego a milhares de portugueses;
Apesar de o início da II Guerra Mundial ter trazido o reinício das importações de cereais, esta
campanha foi uma das “bandeiras” do regime; De facto esta campanha foi um fracasso parcial pois
muitos dos novos solos utilizados no cultivo cerealífero revelaram-se inadequados e esgotaram-se
rapidamente.
O regime apresentou a Campanha do Trigo como a “sublime dignificação da lavoura nacional” e
considerava-a “a indústria mais nobre e a mais importante de todas as indústrias e o primeiro fator
de prosperidade económica da Nação”.
A política de obras públicas desenvolvida pelo Estado Novo, tal como o que aconteceu na Itália ou
na Alemanha, tinha como objetivo central dar uma imagem nacional e internacional de
modernização do país e resolver o problema do desemprego; Em 1930 é promulgada a Lei de
Reconstituição Económica que vai impulsionar a execução de obras públicas; Iniciaram um
programa de construção de estradas, de ponte.
O condicionamento industrial
O ministro das Obras Públicas, Eng. Duarte Pacheco, empreendeu um vasto programa de obras
públicas, sobretudo de infraestruturas; Perante o “ruralismo do regime” a indústria não constituiu
uma prioridade para o Estado Novo; Existiam vários constrangimento ao desenvolvimento
industrial como a deficiente rede de comunicações, tecnologia antiga, níveis de produtividade
baixos, salários baixos, falta de iniciativa dos investidores, nível de importações bastante alto; A
percentagem de trabalhadores industrial era muito baixo ainda em 1940 representavam apenas 22%
da população ativa.
O fraco crescimento industrial teve que ver com a política de condicionamento industrial levada a
cabo pelo Estado Novo, em especial, na década de 30; As iniciativas empresariais deviam
enquadrar-se num modelo económico definido pelo governo; As indústrias de muito setores
(adubos, cimentos, tabaco, fósforos, etc.) precisavam de autorização do Estado para abrirem, efetuar
ampliações, mudar de local, ser vendida a estrangeiros ou para comprar novas tecnologias; A
liberdade económica era submetida aos interesses de um Estado fortemente dirigista e
intervencionista.
Os objetivos principais do regime ao praticarem esta política dirigista era controlarem a indústria
nacional; Por outro lado procurava equilibrar os variados interesses dos capitalistas e evitar o
crescimento de proletariado urbano que era considerado perigoso pelo Estado Novo; Era ainda uma
consequência da ideologia salazarista que era ruralista, anti urbana, anti-industrial.
Em 1933, inspirado na Carta do trabalho Italiano, o Estado Novo publicou o Estatuto do Trabalho
Nacional; Esta lei determinava que nas várias profissões das diversas atividades económicas os
trabalhadores deveriam ser organizados em Sindicatos Nacionais e os patrões em Grémios, só era
excluída a Função Pública.
Para o Estado Novo as colónias eram um elemento fundamental para a política de nacionalismo
económico e ao mesmo tempo eram um meio de fomentar o orgulho nacionalista; Serviam para
escoar os produtos portugueses e forneciam matérias- primas a baixo custo; Eram um dos temas da
propaganda do regime, enaltecendo a coragem dos Descobrimentos portugueses e louvando a
missão civilizadora de Portugal no Ultramar; Em 1930 foi publicado o Ato Colonial onde eram
definidas as relações de dependência das colónias em relação ao governo central.
As populações nativas, tidas como inferiores, foram largamente segregadas; O Estado Novo
proclamou a sua vocação colonial e procurava incutir na povo português uma mística imperial;
Foram organizados vários congressos e exposições para propagandear essa ideia.
O Estado Novo concebeu um plano que fez de intelectuais e artistas um instrumento na divulgação
e propaganda do regime; Este projeto cultural chamou-se “Política do Espírito”, pois pretendia
elevar a mente dos portugueses e alimentar a sua alma; Este projeto levado a cabo pelo Secretariado
da Propaganda Nacional (SPN), dirigido por António Ferro (1895-1956).
Ferro foi jornalista e amigo de alguns modernistas portugueses, participou na revista Orpheu e, ao
mesmo tempo, admirador de Mussolini e Salazar, e por isso mesmo uma das figuras mais
controversas do regime; Ferro convenceu o ditador português da importância das manifestações
culturais para o regime se mostrar à população.
Ferro pretendeu conciliar duas posições opostas sobre o que deve ser um projeto cultural:
conservadorismo e vanguarda.
Ferro pretendia afirmar Portugal internacionalmente através de um programa de desenvolvimento
das artes, da literatura e das ciências submetidos a uma ideologia retrógrada.
O SPN desenvolveu um programa de regeneração do espírito português completamente vigiado e
monitorizado pela censura; As artes deviam ter o papel de inculcar no povo o amor pela Pátria, o
culto dos heróis, as virtudes da família e a importância da religião cristã.
Esta cultura nacionalista deveria evidenciar uma estética moderna; O SPN organizou várias
exposições, comemorações, salões de pintura, prémios literários, congressos científicos, todos
organizados com grande publicidade no sentido de engrandecer o regime; Também organizaram
manifestações de carácter popular: festas, marchas, concursos e, em termos cinematográficos, foram
realizadas várias comédias; Todos os autores e artistas que não se enquadravam dentro destes ideais
eram censurados e perseguidos.
No domínio literário a ação do SPN foi um fracasso, poucos escritores aderiram; Nas artes plásticas,
na arquitetura, no bailado, no teatro e no cinema o êxito foi maior; Francisco Franco (1885-1955),
expressionista, foi o escultor do regime salazarista.
A ideia de António Ferro era a conceção de um projeto cultural totalizante, com o envolvimento e a
instrumentalização de artistas e de escritores na promoção dos ideais do regime; Afirmação da
“política do espírito” que recusa a “política da matéria” e a produção artística individualista e
crítica, considerada decadente; Visa a padronização de uma cultura “construtiva” e “saudável”,
orientada para a promoção das virtudes da família, para a valorização da confiança em Salazar, para
promoção do amor à pátria e da grandeza do império; Procura a construção de um sistema de
propaganda cultural eficiente como ação doutrinária do regime com vista à adesão das massas.
A arquitetura portuguesa, entre 1905-60, viveu várias tendências; Uma delas foi a da formulação da
casa portuguesa, recuperando valores tradicionais e rurais; Esta ideia foi defendida por Raul Lino
(1879-1974); Lino não criou propriamente uma estética mas uma filosofia da casa portuguesa.
A arquitetura “nacional”, patrocinada pelo regime do Estado Novo e defendida por António Ferro
que organizou várias campanhas e concursos para a “Aldeia mais portuguesa”; Esta arquitetura
utilizou as técnicas e materiais modernos e submeteu-se à doutrina do regime salazarista.
Principais arquitetos:
- Cristino da Silva (1896-1976);
- Pardal Monteiro (1897-1957);
- Carlos Ramos (1897-1969);
- Jorge Segurado (1898-1990);
- Rogério de Azevedo (1898-1983);
- Cottinelli Telmo (1897-1948).
A derrota dos fascismo em 1945 deram um rude golpe no entusiasmo de António Ferro, por outro
lado revelava-se extraordinariamente difícil conciliar o modernismo (aberto à inovação e à
liberdade criativa) com a ideologia totalitária do regime; Em 1949, António Ferro demitiu-se do
SPN; Ficava esquecido o projeto de criar um português novo, o português “estado-novista”.
Em abril de 1939, a Itália anexou a Albânia; Em 1939, Hitler assinou um pacto de não agressão com
a URSS; No dia 1 de setembro, a Alemanha, invade a Polónia e no dia 3, a França e a Inglaterra
declaram guerra à Alemanha; Iniciou-se a II Guerra Mundial.
3.2.2 A mundialização do conflito
Principais acontecimento da II Guerra Mundial
As vitórias da Alemanha e seus aliados:
- 1 de setembro de 1939 – Invasão da Polónia;
- maio de 1939 – Invasão da Noruega, Dinamarca, Holanda, Bélgica e França;
- Verão de 1939 – Batalha de Inglaterra (aérea);
- 3 de fevereiro de 1941 – Desembarque do Africakorps em África;
- 22 de junho de 1941 – Invasão da União Soviética;
- 7 de dezembro de 1941 – Ataque do Japão a Pearl Harbor.
Os alemães iniciaram a guerra com uma tática que lhes conferiu grandes vitórias, a guerra
relâmpago (Blitzkrieg); A Polónia rendeu-se m 3 semanas; Em abril de 1940 a Dinamarca e a
Noruega rendem-se; Em maio invade a Bélgica e a Holanda e em meados de junho a França rende-
se. Hitler de seguida planeia a invasão da Inglaterra, e ordenou o seu bombardeamento; Entre
agosto e setembro de 1940, deu-se a Batalha de Inglaterra, batalha completamente aérea que
terminou com a vitória da Royal Air Force (RAF) sobre a (Luftwaffe).
Em junho de 1941, rompe o pacto com Estaline e invade a URSS (operação Barbarrosa); Em 3
meses o exército alemão chego às portas de Moscovo; Os russos conseguiram resistir; O rigoroso
inverno russo provocou imensas baixas no exército germânico.
A partir de 1943 inicia-se a derrocada das forças do Eixo: A Alemanha é derrotada no Norte de
África; No mesmo ano os Aliados invadem a Sicília, em junho de 1944 Roma é conquistada e
termina o regime fascista; Em 1943, os exércitos russos obrigam os alemães a recuarem.
No dia 6 de junho dá-se o dia D, o desembarque na Normandia; Hitler suicida-se no dia 30 de abril
1945. No dia 2 de maio de 1945, o exército soviético conquista Berlim. A Alemanha rende-se no dia
7. O Japão rende-se no dia 2 de setembro, depois dos EUA terem lançado duas bombas atómicas
sobre as cidades de Hiroxima e Nagasáqui.