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1-3
INTRODUÇÃO
Na noite em que Cristo instituiu a Ceia do Senhor, Ele disse aos seus discípulos:
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos
outros” (Jo 13.35). Para nossa vergonha e tristeza, nem sempre somos
conhecidos por nosso amor pelos irmãos. Um dos fatos dolorosos da vida cristã
é que o povo de Deus nem sempre se dá bem uns com os outros. Àqueles que
caminham na esperança e santidade devem andar em harmonia, mas isso nem
sempre é verdade.
“Do ponto de vista divino, há apenas um só corpo (Ef 4.4-6.), mas o que vemos
comumente é uma igreja dividida e, às vezes, em guerra”. Precisamos
urgentemente de uma unidade espiritual e o amor que é o vínculo da paz (Cl
3.14).
Vivemos em uma cultura que tem tomado algumas palavras bíblicas e utilizado
de forma que redefine e deprecia o seu significado verdadeiro. Por exemplo, a
palavra “amor” se tornou desvalorizada em nossos dias. Com muita frequência
declaramos: “Eu amo pizza”, “Eu amo chocolate”, “Eu amo meu cão”, “Eu amo
minha família” ou “Eu amo Jesus”. Sem perceber, muitas vezes, declaramos o
nosso amor ao próximo sem refletir nas implicações. É como a menina que foi
convidada para jantar na casa de sua melhor amiga. A mãe de sua amiga
perguntou se ela gostava de brócolis. Ela respondeu educadamente: “Ah, sim,
eu amo!” Mas quando o vegetal foi oferecido, ela recusou. A anfitriã disse: “Você
não disse que amava brócolis?”. A menina respondeu docemente: “Ah, sim,
minha senhora, eu amo, mas não o suficiente para comer!” É fácil dizer que se
ama, difícil é praticar o amor bíblico, o amor verdadeiro. Como vimos, o contexto
sobre o tema da santidade, Pedro declarou nossa responsabilidade (1.15-16),
mas, em seguida, ele apresenta uma longa justificativa por que os cristãos
devem ser santos, ou seja, porque o seu Pai celeste é também seu juiz e fomos
redimidos pelo sangue precioso de Cristo (1.17-21). Pedro faz algo semelhante
com o tema do amor. A resposta de uma vida santa e a obediência à verdade
produz um amor sincero para com os irmãos (22-25).
A Escritura repetidamente deixa claro que a pessoa não convertida está longe
de ter a capacidade de demonstrar amor verdadeiro (Jo 5.42, 1Jo 2.9, 11, 3.10,
4.20; cf. Jó 14.4; Sl 58.3, Jo 15.18, 25; Rm 8.7-8; 1Co 2.14, 2Co 3.5). O Senhor
Jesus disse aos fariseus: “Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da
hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de
Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Lc 11.42). Eles
estavam mais preocupados com os detalhes minuciosos da religião que não
conseguiam manifestar o amor de Deus (1Jo 3.16-17). Em contraste, Jesus
declarou que o amor é a marca inconfundível na vida dos crentes: “Nisto
conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”
(Jo 13.35; cf. Jo 14.21; 2Co 5.14; 1Pe 1.8; 1Jo 2.5, 4.12, 19, 5.1).
“Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade...” (v. 22) –
Vida santa exige purificação (2Co 7.1). Pedro declara que os salvos não foram
apenas redimidos da escravidão do pecado, mas também purificados pela
obediência à verdade. Foi na salvação que os crentes receberam a capacidade
de demonstrar amor sobrenatural. O apóstolo Paulo diz que esse amor foi
derramado em nossa vida pela ação do Espírito santo que nos foi concedido
(Rm 5.5). Um resultado positivo da obediência à verdade é uma vida
purificada. “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?
Observando-o segundo a tua palavra” (Sl 119.9). Como as provações refinam a
fé, de forma semelhante à obediência à Palavra de Deus refina o caráter.
Aquele que se purifica por viver de acordo com a Palavra de Deus descobre a
alegria da obediência. Além disso, é importante destacar que a palavra
“purificado” (hāgnikotes, em grego) é um “particípio perfeito” que descreve uma
ação passada com resultados contínuos. A ênfase não está no que aconteceu,
mas o “estado de coisas” no presente resultantes da ação passada. Em outras
palavras, Deus não apenas nos purificou (cf. Hb 4.1-3; 9.22-23), Ele também
nos concede recursos para o presente e futuro (2Co 5.17; cf. Rm 6.3-14, Co
3.8-10; 2Pe 1.4-9).
2.1. O novo nascimento é realizado por Deus através da Sua Palavra, não
pelo homem.
“... tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos
outros ardentemente” (v. 22b) – O amor está no centro da vida cristã. Na
verdade, o amor é o próprio caráter, a própria essência de Deus (1Jo 4.8).166
Como vimos, Jesus declarou que seria por este amor que todos iriam
reconhecer seus discípulos (Jo 13.35). Pedro usou duas palavras diferentes
para o amor: philadelphia que representa o amor de irmãos ou irmãs, amor
fraterno. Pedro também utilizou a palavra agape que expressa o tipo ideal de
amor, aquele que é exercido pela vontade ao invés da emoção, não
determinado pela beleza ou conveniência, mas a nobre intenção de quem ama.
Mas o que isso significa? Creio que o comentarista Warren Wiersbe estava
certo quando pedra e vos darei coração de carne” (Ez 36.25-27; cf. Jr 31.31-34;
Mt 26.28; Jo 3.5; Ef 5.26; Tt 3.5).
1pedro 2.1-3
O pecado nos priva do melhor de Deus, e ainda assim, muitas vezes brincamos
com o algo extremamente perigoso. Tentamos chegar o mais perto possível,
sem se queimar. Mas o pecado nunca opera sem consequências.
O que semeamos, colheremos. “Porque o que semeia para a sua própria carne
da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito
colherá vida eterna” (Gl 6.8).
Jesus comparou-os aos sepulcros caiados que por fora eram impecáveis, mas
por dentro eram sujos (Mt 23.25-28). Paulo acusou Pedro de hipocrisia por se
recusar a comer com os cristãos gentios em Antioquia (Gl 2.12-13). Paulo
advertiu a Timóteo sobre os falsos mestres hipócritas (1Tm 4.2). Seis vezes no
Novo Testamento, os escritores mostram que a sinceridade (sem hipocrisia,
anupokritos) deve caracterizar o cristão.
O amor cristão (Rm 12.9; 2Co 6.6; 1Pe 1.22), a fé (1Tm 1.5; 2Tm 1.5) e a
sabedoria (Tg 3.17) devem ser sinceros.
O caluniador diz coisas boas diante da pessoa, mas o deprecia por trás. Ele
sempre fala mal quando a vítima não está por perto. Você conhece alguém
assim? O desejo do apóstolo Pedro é que os seus leitores jamais se
esquecessem de que o pecado é uma fraude. Ele promete alegria, mas paga
com tristeza. Promete prazer, mas paga com lágrimas. Quando Adão e Eva
foram tentados no Jardim do Éden, Satanás compartilhou mentiras, enganos, e
meias-verdades.
Jesus declarou que o Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Entretanto, Deus é a
fonte de toda a verdade. Ou seja, quanto mais conhecemos a respeito do Deus
verdadeiro revelado em Sua Palavra, mais parecidos com Cristo nos tornamos.
Como resultado, até os nossos sentimentos serão transformados (Fo 4.8-9).
Você não precisa de anos de terapia para abandonar estas coisas. Basta
obedecer!
Todo cristão precisa e deve ansiar pelo alimento espiritual que produz
crescimento, a Palavra de Deus. É interessante notar que ao utilizar a palavra
“desejar” na epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo declara: “Porque muito
desejo ver-vos...” (Rm 1.11) e quando escreve ao jovem Timóteo, ele disse:
“Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde
de alegria” (2Tm 1.4).
Observe que há um sentimento de profunda saudade. Além disso, é notável
que Pedro não ordene aos crentes a ler a Palavra, estudar a Palavra, meditar
na Palavra, ensinar a Palavra, pregar a Palavra, buscar a Palavra ou
memorizar a Palavra. Todas essas coisas são essenciais, e outras passagens
ordenam os crentes a fazerem isso (cf. Js 1.8; Sl 119.11; At 17.11; 1Tm 4.11,
13; 2Tm 2.15, 4.2). No entanto, Pedro foca no elemento mais fundamental que
os crentes precisam ter antes de exercer qualquer dessas atividades, um
desejo profundo e contínuo pela Palavra da verdade (cf. 2Ts 2.10b). Você
sente falta da Palavra de Deus? É exatamente esse sentimento que os leitores
de Pedro deveriam nutrir em seus corações pela Palavra de Deus. Pedro
declara que Palavra de Deus é pura, racional e nutritiva.
O vinho era muitas vezes misturado com água, especialmente o vinho mais
velho. Muitas vezes, os comerciantes tentavam vender vinho aguado ou
diluído. Portanto, este termo era usado metaforicamente para aquilo que era
“sem mistura” ou “genuíno”. Mas a adulteração não acontece apenas com o
vinho.
Ninguém pode conhecer a Deus sem o uso de sua mente, pois Ele se revela na
Palavra escrita. Esse equilíbrio deveria corrigir muitos dos excessos de nossos
dias. Existem muitos cristãos subjetivos. Eles operam num nível de sentimento,
desprovido de conteúdo teológico sólido. Outros enfatizam conteúdo teológico,
mas têm medo das emoções. A Palavra de Deus deveria encher nossas
mentes com o conhecimento de Deus e mover os nossos corações com Sua
majestade e amor.
2.3. A Palavra é nutritiva.
“... para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (v. 2) – O
objetivo do desejo de leite puro espiritual de Deus é o crescimento. É sempre
triste ver um ser humano desnutrido, fraco e em desenvolvimento demorado.
Mas muito mais triste é ver crentes espiritualmente desnutridos e
subdesenvolvidos.196 Todos os crentes devem ser motivados pela
oportunidade de crescer e amadurecer em Cristo.
“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim,
deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento
de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as
considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça
própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que
procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição,
e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte;
para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o
tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar
aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim,
não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que
para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o
alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.7-14).
Deus criou o leite materno como alimento ideal para os recém nascidos. Ele
tem a capacidade de proteger o bebê de muitas doenças e nutri-los para o
crescimento. De forma semelhante, a Palavra de Deus protegerá os cristãos de
muitas doenças espirituais. O leite materno vai fazer o bebê crescer durante
meses sem qualquer outro alimento. Já a Palavra de Deus alimenta os cristãos
para que “cresçam para a salvação” (2.2). A salvação aqui significa o último
capítulo da vida cristã, que inclui tudo o que Deus tem proporcionado para seus
filhos. Nós nunca chegaremos a um lugar nesta vida onde podemos deixar de
crescer. Enquanto Pedro fala sobre o crescimento, ele também fala sobre
degustação. Antes de desejar profundamente o leite espiritual, Pedro mostra
que a degustação precede o desejo (v. 3).
Como o salmista todos devem afirmar, “Puríssima é a tua palavra; por isso, o
teu servo a estima. Pequeno sou e desprezado; contudo, não me esqueço dos
teus preceitos. A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade” (Sl
119.140-142).
Conta-se a história sobre um pai que teve que fazer uma viagem até a cidade
para comprar provisões para sua família. Antes de sair em viagem, ele disse a
seu filho para limpar o canal que conduzia água ao poço da casa. O filho
começou a fazer a tarefa todos os dias, mas depois ficou cansativo para ele;
assim, ele parou de ir ao canal e limpar os detritos que se acumulavam lá. No
dia seguinte, a mãe percebeu que a água já não estava fluindo de maneira
correta em casa. Quando o pai chegou de viagem, uma das primeiras coisas que
a mãe lhe disse foi que a água já não estava fluindo corretamente. O pai chamou
o filho e perguntou se ele havia limpado o canal que conduzia água ao poço a
cada dia. O filho confessou que havia deixado de fazer a tarefa. Juntos, pai e
filho foram até o canal e limparam os escombros. Mais uma vez a água da
montanha fluiu perfeitamente até a cisterna da casa. Assim é a nossa vida. Às
vezes permitimos que os detritos se acumulem em nosso relacionamento com o
nosso Deus. Precisamos limpar os escombros para que as águas vivificantes de
Deus possam fornecer o alimento espiritual a sua necessidade!
Conclusão:
Todo cristão precisa evidenciar três sinais vitais: a fé em Jesus Cristo, o amor ao
próximo e obediência aos mandamentos de Deus. Se não há sinais de uma
nova vida em Cristo, então, você precisa dobrar os joelhos e implorar a Deus por
uma nova vida e “... uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos” (1Pe 1.3).
As pessoas usam a Bíblia de formas estranhas. Você provavelmente conhece a
história do sujeito que sentia que precisava de alguma orientação da Bíblia,
então, ele fechou os olhos e abriu a Bíblia ao acaso e colocou o dedo sobre um
versículo: “Judas retirou-se e foi enforcar-se” (Mt 27.5). Ele pensou: “Isso não
pode ser a vontade de Deus para mim”, então ele tentou novamente: “Vai e
procede tu de igual modo” (Lc 10.37). Ele sabia que havia algum engano, então
tentou mais uma vez: “O que pretendes fazer, faze-o depressa” (Jo 13.27). Pode
ser perigoso usar a Bíblia de forma errada! Podemos até rir desta história,
todavia, não podemos rir da nossa própria situação.
Vivemos uma época de muitos compromissos e sem tempo para nada. Com
frequência invertemos os valores e trocamos o urgente pelo que realmente
importa. Quando deixamos de alimentar nossa alma com o leite espiritual,
tornamo-nos fracos e debilitados para a obra.
Perdemos o desejo pelas coisas de Deus. A igreja se torna sem graça e a vida
secular parece mais agradável. Quando não temos tempo para a Palavra de
Deus estamos apenas reafirmando que Deus não é prioridade em nossa vida.
Por isso, para o bem da sua alma, leia a Bíblia Sagrada! Você já percebeu que
conseguimos arrumar tempo para tudo àquilo que é prioridade para nós? Uma
vez um jovem estudante de violino, aluno de um renomado mestre, experimentou
a alegria de participar do primeiro recital. No final de cada apresentação, a
multidão aplaudia, mas o jovem artista parecia insatisfeito. Mesmo após o último
ato, apesar dos aplausos, o músico parecia infeliz. Porém, ao levantar o arco
percebeu que um homem idoso estava na galeria do teatro assistindo a tudo. Por
fim, o idoso sorriu e acenou com a cabeça em aprovação.
Imediatamente, o jovem sorriu com alegria. Ele não estava olhando para a
aprovação da multidão. Ele estava esperando a aprovação do seu mestre. Os
cristãos devem viver para a aprovação de Deus. Seremos aprovados na maneira
como crescemos no conhecimento da Palavra de Deus e na santidade. Você
tem sido descuidado no uso da Palavra genuína de Deus? O mau uso da Bíblia
conduz à ruína, mas o bom uso leva à piedade. Você ama a Palavra de Deus?
MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo
Cristão, 1988, p. 123.
Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the
New Testament (1229). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete
Expository Dictionary of Old and New Testament Words (509–510). Nashville,
TN: T. Nelson.