XXP
PRR
5HV

 ! "  #$% 



   

   

% "
 #$ 
$
&'
( )  *&+ 
,-.

Teresa Kleba Lisboa é professora do
 ) !
 +'
 /001% 23/ '% Departamento de Serviço Social da UFSC e
do Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social, coordena o Núcleo de Estudos e
Pesquisa em Serviço Social e Relações de
Gênero, desenvolve projetos de pesquisa
e extensão com mulheres líderes de
 ! "
 #$% 


 
 comunidades da periferia de Florianópolis,
serventes de limpeza que trabalham como
 

  % &'
4 terceirizadas, com mulheres pobres, chefes
de família e com mulheres que sofrem
+'
% )  *&+ 4 !
 /001% 23/ ''% violência. Doutora em Sociologia pela
UFRGS/PortoAlegre, Mestre em Sociologia
Política pela UFSC, publicou também pela
Editora da UFSC: A Luta dos Sem Terra no
Oeste Catarinense.
"  
%
 %
2
livro analisa o processo
de “empoderamento”
de mulheres líderes de
duas comunidades da periferia de
Florianópolis, a partir das dimensões
de gênero, classe e etnia. As trajetó-
rias de vida de quinze lideranças en-
trevistadas proporcionaram a recons-
trução da história estrutural e socio-
lógica de um grupo de pessoas pro-
cedentes da miscegenação de índio
com branco, que viviam no “entorno
caboclo” como posseiros, e foram
expropriados de suas terras, tendo que
migrar para a cidade. Chegando na
cidade, estas famílias encontram no
espaço solidário das redes sociais de
vizinhança, familiares e nas redes de
ONGs – Organizações Não-Gover-
namentais, o acolhimento necessário
para sua aculturação, que não ocorre
sem conflitos de identidade.
Estudos feministas têm apontado
para o significativo aumento dos fe-
nômenos da “feminização da pobre-
za” e da “feminização da migração”.
Segundo dados da ONU, 70% dos
pobres de todo o mundo são mulhe-
res, que, por sua vez, têm despontado
nos cenários da migração interna (na-
cional) e externa (internacional) como
sujeitos autônomos, em busca de me-
lhores condições de vida para si e para
seus filhos. O processo de migração
para as mulheres significa, muitas
vezes, a fuga de uma estrutura social
patriarcal com rígidas noções do que
constitui “propriedade” em relação à
mulher. Em geral, a mulher pobre, ín-
dia, negra ou mestiça não tem direito
à herança e à propriedade de terras
no campo nem quando casa e muito
menos quando se separa, configuran-
do-se uma articulação entre as cate-
gorias gênero, classe e etnia. As mu-
lheres migrantes, sujeitos desta pes-
quisa, descendem da miscigenação de
índio com branco, e suas trilhas de
vida no tempo e no espaço estão re-
lacionadas com as histórias de suas
famílias, posseiras ou assalariadas
rurais, que, expulsas de suas terras no
campo – onde seu sistema de vida
seguia a lógica do “entorno caboclo”,

 
 
migraram para a cidade de Floria- jetividade, de um lado lutando contra
nópolis. Ali, impulsionadas pela ação a discriminação de gênero, classe e
de agentes externos e organizações etnia e, de outro, lutando por uma cau-
sociais, participaram de vários proces- sa comum que foi a conquista de suas
sos de lutas e conquistas de moradia moradias, contribuiu para afirmar sua
e de outras necessidades básicas. identidade e o seu “empoderamento”.
Conquistaram nesta luta um poder
afirmativo que as transformou em
sujeitos políticos, com fala própria, com
Teresa Kleba Lisboa
capacidade para intervir, decidir, deli-
tkleba@cse.ufsc.br
berar e participar da construção de
sua cidadania e de lutar por outros Departamento de Serviço Social –
objetivos importantes para suas vidas CSE/UFSC
e das comunidades em que vivem. Campus Universitário Trindade
O conceito de “empoderamento” Florianópolis – SC
é apresentado no livro como uma ou-
CEP: 88.010-970
tra concepção de poder: um poder que
afirma, reconhece e valoriza, ao in-
vés de um poder que oprime, domina
e anula. É entendido como “um pro-
cesso que oferece condições e possi-
bilidades às pessoas de auto-determi-
nar suas próprias vidas”; implica na
inversão dos mecanismos de poder
patriarcais fundados na opressão e na
mudança de normas, crenças, men-
talidades, usos e costumes, práticas
sociais e conquista de direitos pela
mulher. No livro são descritas traje-
tórias de empoderamento de quatro
mulheres consideradas paradigmá-
ticas. Estas trajetórias mostram que
o processo de empoderamento inicia-
se primeiramente, na aquisição do
espaço doméstico, no qual ocorrem as
relações de produção e reprodução do
cotidiano (empoderamento social) e
no qual elas desenvolvem sentimen-
tos de auto-estima e autoconfiança
(empoderamento psicológico). A con-
quista da casa levou as mulheres a
iniciarem seu engajamento político,
pois esta luta travou-se no espaço
público (empoderamento político).
Através de suas trajetórias migra-
cionais, as mulheres caboclas
reelaboraram os significados das ca-
tegorias sociais: gênero, classe e etnia
transformando-se em sujeitos políti-
cos. Esta “alquimia” decorrente da
multiplicidade de sujeitos – migrantes,
caboclas, mulheres, trabalhadoras,
mães, líderes, no processo conflitivo
e dialético de construção de sua sub-









!
"#$"