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Apóstrofes Comparações
"Estes e outros louvores, estas e outras excelências de "Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o
vossa geração e grandeza vos pudera dizer, ó peixes..." ataram com uma corda, parecia um retrato marítimo de
Santo António."
"Ah moradores do Maranhão..."
"O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador (...)" entre os homens."
"Peixes, contente-se cada um com o seu elemento." "(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um
monge;
"Oh alma de António, que só vós tivestes asas e voastes com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
sem perigo (...)" com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma
brandura (...)"
"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade (...)"
"As cores, que no camaleão são gala, no polvo são
malícia (...)"
"(...) qual será, ou qual pode ser, a causa desta "Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós,
corrupção?" prego aos peixes."
"Não é tudo isto verdade?" "E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta
hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor
"(...) que se há-de fazer a este sal, e que se há-de fazer do mar."
a esta terra?"
Metáforas Paradoxos
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que "(...) a terra e o mar tudo era mar."
também foi rémora vossa, enquanto o ouvistes; e
porque agora está muda (...) se vêem e choram na "E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta
terra tantos naufrágios." hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor
do mar."
"(...) pois às águias, que são os linces do ar (...) e aos
linces que são as águias da terra (...)" "hipocrisia tão santa"
Quiasmos Trocadilhos
"(...) os homens tinham a razão sem o uso, e os peixes "Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao
o uso sem a razão." mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o
levar vivo à terra."
"(...) pescam os bastões e até os ceptros pescam (...)"
"E porque nem aqui o deixavam os que o tinham
"(...) pois às águias, que são os linces do ar (...) e aos deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e
linces que são as águias da terra (...)" finalmente Portugal."
"Quem pode nadar e quer voar, tempo virá em que não "(...) o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e
voe nem nade." Santo António abria a sua contra os que se não queriam
lavar."
PEIXE DE TOBIAS
RÉMORA
TORPEDO
QUATRO-OLHOS
RONCADORES
PEGADORES
- sendo pequenos, pregam-se nos maiores, não os largando mais (simbolizam o parasitismo);
VOADORES
- sendo peixes, também se metem a ser aves (simbolizam a presunção (vaidade) e a ambição);
POLVO
Cultismo
Texto
Argumentativo
Artigo de
Opinião
HUMOR
Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo,
contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo
com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece
uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma
mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham
constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior
traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas
cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo
são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos
limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se está em
alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui
que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o
salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente,
e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a
Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os
braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor,
mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo,
escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que
não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua
comparação já é menos traidor!
Oh que excesso tão afrontoso e tão indigno de um elemento tão puro, tão claro e tão
cristalino como o da água, espelho natural não só da terra, senão do mesmo céu! Lá disse o
Profeta por encarecimento, que «nas nuvens do ar até a água é escura»: Tenebrosa aqua in
nubibus aeris. E disse nomeadamente nas nuvens do ar, para atribuir a escuridade ao outro
elemento, e não à água; a qual em seu próprio elemento é sempre clara, diáfana e transparente,
em que nada se pode ocultar, encobrir nem dissimular. E que neste mesmo elemento se crie, se
conserve e se exercite com tanto dano do bem público um monstro tão dissimulado, tão fingido,
tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente traidor!
Vejo, peixes, que pelo conhecimento que tendes das terras em que batem os vossas mares,
me estais respondendo e convindo, que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos,
embustes, ciladas e muito maiores e mais perniciosas traições. E sobre o mesmo sujeito que
defendeis, também podereis aplicar aos semelhantes outra propriedade muito própria; mas pois
vós a calais, eu também a calo. Com grande confusão, porém, vos confesso tudo, e muito mais
do que dizeis, pois não o posso negar. Mas ponde os olhos em António, vosso pregador, e vereis
nele o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca houve dolo,
fingimento ou engano. E sabei também que para haver tudo isto em cada um de nós, bastava
antigamente ser português, não era necessário ser santo.
1.1. Faça o levantamento dos elementos caracterizadores, referindo as figuras que eles
sugerem.
2.2. Mostre de que forma e através de que processos estilísticos, a referência a outro
animal com características semelhantes ao Polvo (o Camaleão) reforça o seu
carácter negativo.
3. A última parte do parágrafo é preenchida com a comparação entre o Polvo e Judas.
5. Retire do excerto pelo menos dois recursos estilísticos e refira-se à sua expressividade.
II
7. V F _ O plano do sermão é composto por: exórdio ou introdução,
desenvolvimento e peroração ou conclusão.
8. V F _ O Sermão de Stº aos Peixes apresenta uma estrutura
narrativa épica.
9. V F _ O Barroco é a expressão da angústia do fugaz e a tentativa
para fixar a realidade em permanente fluir.
10. V F _ Este sermão apresenta a estrutura de um sermão Romântico e
do texto argumentativo no qual se insere.
III
Dos três temas abaixo apresentados escolha um e desenvolva-o numa composição cuidada.
Tema A
Tema B
Texto C
Construa um texto argumentativo sobre um dos problemas que afligem os nossos dias: a
droga, o desemprego, a destruição da Natureza, a guerra, etc.
1º Capítulo
1. Atenta no 1º parágrafo:
1.5. Faz o levantamento dos conectores utilizados e avalia a sua importância na estrutura do
raciocínio.
2. Lê o 2º parágrafo:
2.3.1. Por que motivo os oradores citam autores de reconhecida autoridade na matéria em textos
argumentativos?
3. Lê o 3º parágrafo:
4. Nos dois últimos parágrafos, o emissor usa, com expressividade, a antítese, a enumeração, o
polissíndeto, a ironia, a alusão.
Actividade individual
2º Capítulo
Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório."
2.1. Por analogia, apontam-se as duas propriedades da pregação de Santo António. Indica-as.
2.2. A partir daqui anunciam-se as duas grandes partes do sermão. Refere-te a elas.
4. Louvando os peixes criticam-se os homens. Que críticas são feitas implícitas e explicitamente.
3º capitulo
2. "Descendo ao particular" São quatro os peixes cujas particulares virtudes são louvadas: o
peixe de Tobias, a rémora, o torpedo e o quatro-olhos.
4º cap
Antes porém que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as
vossas repreensões".
6º cap
" Com esta advertência vos despido". Assim começa o último capítulo do sermão que constitui a
peroração ou seja, a conclusão final.
1. Mostra como se passa da exclusão dos peixes no sacrifício ritual para a crítica aos homens, e
para a autocrítica, neste capítulo.
2. Explica a antítese peixes/orador.
3. De que forma o orados desperta a emoção do auditório, ao mesmo tempo que apela ao louvor a
Deus. Tem em consideração as repetições, as exclamações, as interrogações e as expressões
apelativas.
Actividade Individual 2
"A comparação ou a antítese entre a conduta dos homens são os processos a que Vieira recorre
sistematicamente para evidenciar o objectivo deste sermão: criticar o modo de vida dos colonos
brasileiros".
in Lexicultural, vol. 9 - Literatura Portuguesa, dir. Mª de Lurdes Paixão
Num texto bem estruturado argumenta sobre a actualidade da mensagem veiculada neste sermão.
O Sermão de Santo António aos Peixes
Capítulo I
Conceito Predicável: texto bíblico que serve de tema e que irá ser desenvolvido de acordo
com a intenção e o objectivo do autor "Vos estis sal terrae".
Para atingir a inteligência dos ouvintes, o orador usa argumentos lógicos, sucessivas
interrogações retóricas e a autoridade dos exemplos de Cristo, Santo António e da Bíblia.
Para atingir o coração dos ouvintes, usa interjeições e exclamações.
Ao relatar o que fez Santo António quando foi perseguido em Arimino usa frases curtas
(Deixa as praças, vai-se às praias…), ritmo binário, anáforas, enumeração.
É evidente que os tipos de frase têm relação directa com a entoação. A frase interrogativa
termina num tom mais alto, a declarativa num tom mais baixo, etc.
O titulo do Sermão foi retirado do milagre ou lenda que se conta a respeito de Santo
António. Este terá sido mal recebido numa pregação em Arimino, mesmo perseguido, e ter-
se-á dirigido à praia e pregado o sermão aos peixes que o terão escutado atentamente,
contrastando com os homens.
O pregador invocou Nossa Senhora porque era habitual fazê-lo e ainda porque o nome
Maria quer dizer Senhora do mar; os ouvintes do sermão eram pescadores que A invocavam
na faina da pesca.
Capítulo II
O sermão é uma alegoria porque os peixes são metáfora dos homens, as suas virtudes são
por contraste metáfora dos defeitos dos homens e os seus vícios são directamente metáfora
dos vícios dos homens. 0 pregador fala aos peixes, mas quem escuta são os homens.
O pregador argumenta de forma muito lógica. Partindo de duas propriedades do sal, divide
o sermão em duas partes: o sal conserva o são, o pregador louva as virtudes dos peixes; o
sal preserva da corrupção, o pregador repreende os vícios dos peixes. Para que fique claro
que todo o sermão é uma alegoria, o pregador refere frequentemente os homens. Utiliza
articuladores do discurso (assim, pois…), interrogações retóricas, anáforas, gradações
crescentes, antíteses, etc. Demonstra as afirmações que faz tirando partido do contraste
entre o bem e o mal, referindo palavras de S. Basílio, de Cristo, de Moisés, de Aristóteles e
de St. Ambrósio, todas referidas aos louvores dos peixes. Confirma-as com vários
exemplos: o dilúvio, o de Santo António, o de Jonas e o dos animais que se domesticam.
Os peixes não foram castigados por Deus no dilúvio, sendo, por isso, exemplo para os
homens que pouco ouvem e falam muito, pouco respeito têm pela palavra de Deus.
Evidencia-se que os animais que convivem com os homens foram castigados, estão
domados e domesticados, sem liberdade.
O discurso é pregado; por isso, envolve toda a pessoa do orador. Os gestos, a mímica, a
posição do corpo - a linguagem não verbal - têm um lugar importante porque completam a
mensagem transmitida.
Santo António foi muito humilde, aceitando sem revolta o abandono a que foi votado por
todos, ele que conhecia a sua sabedoria. O pregador pretende condenar os homens que
possuem vícios opostos às virtudes dos peixes.
Capítulo III
O peixe de Tobias A Rémora O Torpedo O Quatro-Olhos
Efeitos
• sarou a cegueira do • pega-se ao leme de
• faz tremer o braço do • defende-se dos
pai de Tobias uma nau
pescador peixes
• lançou fora os • prende a nau e
• não permite pescar • defende-se das aves
demónios amarra-a
Comparação
peixe de Tobias Rémora Quatro-Olhos
Torpedo
Santo António Santo António o pregador
Santo António
• alumiava e curava as • a língua de S. • o peixe ensinou o
• 22 pescadores
cegueiras dos ouvintes António domou a fúria pregador e olhar para
tremeram ouvindo as
das paixões humanas: o Céu (para cima) e
palavras de S. António
• lançava os demónios Soberba, Vingança, para o Inferno (para
e converteram-se
fora de casa Cobiça, Sensualidade baixo)
A língua de Santo António teve a força de dominar as paixões humanas, guiando a razão
pelos caminhos do bem; foi o freio do cavalo porque impediu tantas pessoas de caírem nas
mais variadas desgraças.
Imagens Nau
Nau Soberba Nau Vingança Nau Cobiça
Elementos Sensualidade
Vocabulário
• artilharia, bota-
essencial: • velas, vento • gáveas
fogos • cerração
• substantivos • inchadas • sobrecarregada,
• abocada, acesos • enganados
• adjectivos • desfazer, aberta
• corriam, • perder
• verbos rebentavam • incapaz de fugir
queimariam
Efeitos do poder mão no leme a sua língua a sua língua a sua língua
da língua de S. detém a fúria detêm a cobiça contêm-nos
António
Finalidade das
Convencer os ouvintes
interrogações
Comentário
Usadas sempre com a finalidade de chamar a atenção dos ouvintes para
sobre cada
as várias tentações que precisam ser evitadas.
imagem
A língua de Santo António foi a rémora dos ouvintes enquanto estes ouviram; quando o não
ouvem, são atingidos por muitos naufrágios (desgraças morais).
Recursos estilísticos:
Conclusão: os homens pescam muito e tremem pouco; 2ª. conclusão: "Se eu pregara aos
homens e tivera a língua de Santo António, eu os fizera tremer." (Deve salientar-se que o
verbo pescar é também metáfora de guerra; crítica aos holandeses.); 3ª. conclusão: "… se
tenho fé e uso da razão, só devo olhar direitamente para cima, e só direitamente para
baixo". Os peixes são o sustento dos membros de várias ordens religiosas. Há peixes para
os ricos e peixes para os pobres. Esta distinção tem por finalidade criticar a exploração dos
ricos sobre os pobres.
Capítulo IV
Para comprovar a tese de que os homens se comem uns aos outros, o orador usa uma lógica
implacável, apelando para os conhecimentos dos ouvintes e dando exemplos concretos. Os
seus ouvintes sabiam a verdade do que ele afirmava, pois conheciam que os peixes se
comem uns aos outros, os maiores comem os mais pequenos. Além disso, cita
frequentemente a Sagrada Escritura, em que se apoia. Lendo hoje este capitulo, assim como
todo o Sermão, não se pode ficar indiferente à lógica da argumentação.
As conclusões são implacáveis, pois são fruto claríssimo dos argumentos usados.
O ritmo é variado: lento, rápido e muito rápido. Quando as frases são longas, o ritmo é
repousado; quando as frases são curtas, quando se usam sucessivas anáforas nessas frases, o
ritmo torna-se vivo, como acontece no exemplo do defunto e do réu. O discurso deste
sermão, como doutros, é semelhante ao ondular das águas do mar: revoltas e vivas,
espraiam-se depois pela areia como que espreguiçando-se. Uma das características
maravilhosas do discurso de Vieira é a mudança de ritmo, que prende facilmente os
ouvintes.
A repetição da forma verbal "vedes", que deverá ser acompanhada de um gesto expressivo,
serve para criar na mente dos ouvintes (e dos leitores) um forte visualismo do espectáculo
descrito.
O uso dos deícticos demonstrativos tem por objectivo localizar os actos referidos, levando
os ouvintes a revê-los nos espaços onde acontecem. A substantivação do infinitivo verbal
está também ao serviço do visualismo. O verbo deixa de indicar acção limitada para se
transformar numa situação alargada.
O orador expõe a repreensão e depois comprova-a como fez com a primeira repreensão: dá
o exemplo dos peixes que caem tão facilmente no engodo da isca, passa em seguida para o
exemplo dos homens que enganam facilmente os indígenas e para a facilidade com que
estes se deixam enganar. A crítica à exploração dos negros é cerrada e implacável. Conclui,
respondendo à interrogação que fez, afirmando que os peixes são muito cegos e ignorantes
e apresenta, em contraste, o exemplo de Santo António, que nunca se deixou enganar pela
vaidade do mundo, fazendo-se pobre e simples, e assim pescou muitos para salvação.
Capítulo V
Peixes Defeitos Argumentos Exemplos de homens
pequenos mas muita
língua; facilmente Pedro
pescados
soberba Golias
Os Roncadores os peixes grandes têm
orgulho pouca língua Caifás
morrem queimados
ataca sempre de
O Polvo traição emboscada porque se Judas
disfarça
Episódio do Polvo
Divisão em partes:
O mimetismo é o que o polvo usa para enganar: faz-se da cor do local ou dos objectos onde
se instala.
No camaleão, o mimetismo é um artifício de defesa contra os agressores, no polvo é um
artifício para atacar os peixes desacautelados.
O polvo nunca ataca frontalmente, mas sempre à traição: primeiro, cria um engano, que
consiste em fazer-se das cores onde se encontra; depois, ataca os inocentes.
O texto deste capítulo segue a variedade de ritmos dos outros capítulos e apresenta os
mesmos recursos para conseguir tal objectivo. Basta atentar no parágrafo que começa por
"Rodeia a nau o tubarão… " e no texto referente ao polvo.
Elemento comum entre Judas e o polvo: a traição. Ambos foram vítimas deste defeito.
Elementos diferentes entre Judas e o polvo: Judas apenas abraçou Cristo, outros o
prenderam; o polvo abraça e prende. Judas atraiçoou Cristo à luz das lanternas; o polvo
escurece-se, roubando a luz para que os outros peixes não vejam as suas cores. A traição de
Judas é de grau inferior à do polvo.
Capítulo VI
O orador quer que os homens imitem os peixes, isto é, guardem respeito e obediência a
Deus. Numa palavra, pretende que os homens se convertam (metanóia).
Orador Peixes
• têm mais vantagens do que o pregador
tem inveja dos peixes
• a sua bruteza é melhor do que a razão do
ofende a Deus com palavras
orador
tem memória
• não ofendem a Deus com a memória
ofende a Deus com o pensamento
• o seu instinto é melhor que o livre arbítrio
do orador; não falam; não ofendem a Deus
ofende a Deus com a vontade
com o pensamento; não ofendem a Deus com
a vontade; atingem sempre o fim para que
não atinge o fim para que Deus o criou
Deus os criou
ofende a Deus
• não ofendem a Deus
A repetição do som /ai/ (11 vezes) cria uma atmosfera sonora cada vez mais intensa e
optimista; a repetição das palavras "Louvai" e "Deus" apontam para a finalidade global do
sermão: o louvor de Deus, que todos devem prestar. O verbo no imperativo realiza a função
apelativa da linguagem: depois de ter inventariado os louvores e os defeitos dos
peixes/homens, não poderia deixar de apelar aos ouvintes para que louvem a Deus. A
escolha do hino Benedicite cumpre fielmente esse objectivo, encerrando o Sermão com um
tom festivo, adequado à comemoração de Santo António, cuja festa se celebrava. A palavra
Ámen significa "Assim seja", "que todos louvem a Deus". O quiasmo realizado na
colocação em ordem inversa das palavras glória e graça sugere a transposição dos peixes
para os homens: já que os peixes não são capazes de nenhuma dessas virtudes, sejam-no os
homens. Sugere também uma mudança: a conversão (metanóia), porque só em graça os
homens podem dar glória a Deus.