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Maisey toda a vida suportou o ódio de seu povo por causa de seu pai. Quando
os vikings atacaram sua aldeia, viu a oportunidade que precisava para chegar
até ele, mas seu sequestrador decidiu reivindicá-la como sua e fazer dela sua
escrava. Talvez devesse mostrar-lhe que não iria ser fácil ...
Capítulo 1
Maisey gemeu sentindo a carícia e franziu o cenho ao notar que era uma
carícia úmida. Abriu um olho e sorriu— Raio, deixe-me. — Apartou o focinho
de seu cão do rosto e gemeu ao ver que não tinha amanhecido— É muito
cedo. — O enorme cão levantou as orelhas e Maisey se esticou— Entendo.
Afastou as peles agarrando a adaga que tinha sob o travesseiro — Saia.—
Sussurrou elevando o ouvido.
Não escutou nada estranho no exterior de sua casa, até que ouviu um
rangido diante da porta. Pegou suas botas e fez um gesto pra Raio que a
seguiu ao alçapão situado na parede da parte de trás da casa. Olhou para a
porta colocando a faca entre os dentes e calçou as botas. Questionou se
pegaria a capa de pele, mas se tivesse que brigar incomodaria, assim decidiu
que não. Afastou a longa trança, que lhe chegava abaixo do traseiro e abriu o
alçapão fazendo um gesto a Raio para que saísse. Seu cão a esperou no
exterior e agachada cruzou, fechando a porta brandamente. Escutou o que
acontecia tentando descobrir quem se atrevia a incomodá-la.
— Não faça ruído. — Ouviu um sussurro. Maisey estreitou os olhos dando
um passo para a esquina da casa— Você mata o cão, eu me encarrego dela.
Virou o olhar pra Raio na escuridão. Seu enorme cão estava preparado para
lutar mostrando suas presas. Escutou como tentavam abrir a porta que
estava trancada. Aproximou-se sigilosamente pela lateral da casa e encostou
as costas na parede. Viu que não tinham ido a cavalo, assim eram da aldeia.
Malditos aldeãos! Sempre a estavam incomodando!
— Abre de uma vez. — Disse outra voz nervosamente— Se nos pegar
despreparados, vai abrir um buraco.
— Essa cadela vai fazer pouco a partir de agora.
Ela olhou pela esquina e agradeceu a luz da lua quando viu que eram os
mesmos que a tinham incomodado essa tarde, quando tinha se aproximado
da aldeia pra vender suas ervas. Maisey teve que retorcer o braço do que no
momento tentava abrir a porta e como resistiu, atirou-o ao chão enquanto
vários riam a gargalhadas, dizendo com desprezo que a viking tinha muita
força. Quando conseguiu levantar, coberto de barro, gritou que Maisey
pagaria e pelo visto foram cobrar. Fez um gesto a Raio para que rodeasse a
casa pelo outro lado. Quando viu seus olhos cinzas frente a ela do outro lado
da casa, saiu lentamente. Continuava tentando abrir a porta, estava a ponto
de bater contra ela com um machado. Maisey se aproximou do que estava
atrás dele observando e lhe tampou a boca, colocando a faca no pescoço. Nem
se moveu enquanto ela o puxava para trás dando a volta à esquina.
— Você vai me pagar por isso. –Sussurrou ela em seu ouvido antes de agarrá-
lo pelo cabelo e golpear sua cabeça contra a parede. Caiu mole no chão. Ela
fez uma careta porque era impossível que o outro não tivesse ouvido.
— Miles! Onde está?
— Aqui. — Sussurrou ela divertida.
O grande idiota deu a volta com o machado na mão. Quando a viu , gritou
levantando sua arma, mas Raio fora de si mordeu-o no traseiro com força,
protegendo a sua dona. O homem ficou a uivar de dor, deixando cair o
machado, com tão pouca sorte que este caiu em sua cabeça deixando-o sem
sentidos.
— Solte! — Ordenou a Raio que soltou sua presa imediatamente. Aproximou-
se do homem e viu sangue que saía de suas calças— Não vai poder sentar por
um tempo. — Disse divertida. Aproximou-se de seu cão e acariciou seu pêlo
cinza do lombo. Agachou-se e recolheu o machado.— Como pesa! — Disse
carregando-o com os dois braços. — Não sei como podem lutar com isto.—
Jogou-o em casa pelo alçapão e abriu a porta principal para sair outra vez.
Agarrou o ferido pelas pernas e tentou carregá-lo , mas era impossível movê-
lo. — Teremos que esperar que despertem. — Disse afastando sua trança —
Mas devemos amarrá-los, Raio. Assim que despertarem vão estar de muito
mau humor.
Amarrou-lhes as mãos e os pés. Estava decidindo o que fazer com eles
quando começou a amanhecer. Ela olhou sua camisola e decidiu ir vestir-se.
Vestiu o velho vestido marrom por cima da camisola e ajustou as tiras no
pescoço. Olhou a ponta do cabelo castanho e fez uma careta porque
começava a clarear. Teria que voltar a pintar para escurecê-lo. Sua mãe havia
dito que o fizesse quando fez oito anos. Seu cabelo chamava muita atenção e
como estavam sozinhas no bosque, não queria que ninguém se fixasse muito
nelas. Sobretudo os viajantes, porque os da aldeia as ignoravam.
Ou o fizeram até que Maisey começou a crescer. Com doze anos teve que
matar um homem que tentou violá-la perto de sua casa enquanto sua mãe
estava pescando. Felizmente ninguém soube porque se não as teriam matado.
Quando começou a se dar conta da realidade, entendeu que as odiavam.
Sobre tudo a ela por ser filha do homem que levou a destruição para seu
povo. Mas alguns homens queriam seu corpo, tinha-o visto em seus olhos.
Estranho era o dia que se aproximava do povo, e que não tinha um conflito
porque recordavam quem era. Por isso, evitava ir o máximo possível. Antes
não ia nunca, mas sua mãe havia falecido um ano antes e agora não tinha
outro jeito se queria vender suas ervas. Isso toleravam porque necessitavam
dessas ervas para curarem suas doenças, pois a curandeira tinha morrido
fazia anos. Ela as trocava por comida e estava bem sortida para um par de
semanas.
Olhou os homens jogados no chão.— Que confusão! Não posso matá-los aqui.
— Disse a Raio — Saberão. E não posso deixá-los livres porque voltariam. —
Entrecerrou os olhos olhando-os. — Posso atirá-los pelo penhasco. — Seu cão
a olhou e latiu. Suspirou passando a mão pelo rosto— Sim, vai ser o melhor.
Mas como os levo até lá? Olhou a seu redor e seu cão se aproximou dela
empurrando-a — Você acha? Está longe, Raio.
Seu cão voltou a latir e Maisey sorriu— Certo, pois comece.— Raio se
aproximou do que tinha o traseiro sangrando e o mordeu no tornozelo. O
homem despertou gritando e ela fez uma careta— Me parece que não
podemos levá-lo assim. Seus berros serão ouvidos na aldeia.— Aproximou-se
do homem deu-lhe um chute na cabeça deixando-o sem sentido outra vez.
Raio o soltou e se sentou olhando-a. Já tinha amanhecido e tinha que
apressar-se antes que começassem a procurá-los. Segurou o cinto do que
tinha a dentada no traseiro e puxou arrastando-o um pouco. Raio lhe
agarrou também pelo cinto e puxou ajudando-a, mas apenas o moveram um
metro. Maisey sabia que não poderia levá-lo até a borda do penhasco, mas
tinha que afastá-los de sua casa rapidamente.
Então escutou o som de um cavalo e ficou alerta, também Raio que
endireitou as orelhas. Mas quando começou a mover o rabo de um lado a
outro, soube que era a anciã Dayna. Voltou-se para vê-la chegar pelo atalho e
a saudou com a mão. A mulher que devia ter uns cinquenta anos, ia vê-la
uma vez ao mês desde que havia falecido sua mãe, para assegurar-se de que
estava bem.
Quando chegou a seu lado montada em seu velho cavalo olhou para os
homens deitados no no chão. — Tem um problema aqui, pequena.
— Sei. Estava pensando em atirá-los do penhasco.— Disse preocupada.
— Use meu cavalo.— Disse a velha desmontando lentamente — E seja rápida
porque ouvi movimento na aldeia.
— Tão cedo?— Perguntou assustando-se — Acaba de amanhecer.
— Pois aconteceu algo ou já os estão procurando. — Disse a mulher
afastando seu cabelo grisalho para acariciar Raio.
Não perderam tempo, amarraram os tornozelos dos homens com cordas ao
cavalo, que puxou-os até o penhasco enquanto Dayna se encarregava de
limpar o sangue e apagar o rastro. Maisey ao chegar, dispôs-se a cortar as
cordas dos homens, se por acaso os descobrissem nas rochas que não os
encontrassem amarrados, quando viu algo que a deixou sem fôlego. Um navio
estava perto da praia. Um navio com a proa curvada e uma vela central com
vivas cores. O coração deu um pulo ao ver dois homens na praia e por suas
vestimentas soube imediatamente de onde procediam. Estavam armados com
machados e grandes espadas, o que indicava que foram saquear. Vikings.
Um sorriso iluminou seu rosto e sem incomodar-se em tirar as cordas,
empurrou com o pé os idiotas pelo penhasco e montou no velho cavalo.
Lançou um último olhar ao navio de onde seguiam descendo homens e fincou
os calcanhares no cavalo para avisar Dayna.
O pobre cavalo chegou esgotado— Dayna!— Gritou saltando do cavalo. A
anciã que estava cobrindo o sangue com terra se voltou para olhá-la
surpreendida— Vieram!
— Quem veio, moça?
— Os vikings! – Gritou excitada.— Vieram!
A anciã a olhou assustada — Pegue tudo o que tenha de valor, que vamos às
cavernas.
— Mas o que diz, velha? Tenho esperado este momento toda a vida. — Disse
indo para casa para pegar o bracelete de sua mãe, que era o único bem que
queria levar.
Dayna a segurou pelo braço girando-a — Sua mãe te encheu a cabeça de
pássaros com as histórias de vikings! E não são assim!
— O que está dizendo?
— Assim que te virem, te estuprarão ou matarão, Maisey. Ou pode ser que
façam as duas coisas! E terá sorte se te matarem, porque podem te levar pra
seu povo como escrava para fazer contigo o que quiserem!
— Como pode falar assim, se também são seu povo?
— Porque vi!
Maisey duvidou pois a velha parecia muito segura — Mas mamãe….
— Sua mãe teve sorte!— Gritou-lhe — Um deles a protegeu do horror e ela se
apaixonou por ele! Todo o resto são histórias, Maisey!
— Minha mãe me disse que procurasse meu pai. — Disse soltando seu braço.
— Que ele cuidaria de mim.
— Tem dezessete anos! Acredita que seu pai se interessa por você? Que se
incomodou em saber se tinha descendência de uma mulher das Highlands?
Voltou para sua vida e se esqueceu de tudo o que deixou pra trás. — A
mulher entrou na casa — Recolhe o que pode carregar porque acabarão com
tudo.
Atônita olhou à anciã, pois estava aterrorizada— Por que tem medo? São seu
povo.
— Porque não vão perguntar antes de te atravessar com a espada!
Observou a sua amiga pegar um tecido e começar a meter nela tudo o que
podia de comida. Dayna era viking. Tinha sido abandonada em outra aldeia
porque estava doente e assim que os vikings se foram deixando-a atrás,
conseguiu escapar para que os escoceses não a matassem. Foi viver perto da
aldeia de Maisey e se mantinha de suas três ovelhas. Todo mundo dizia que
tinha oferecido seus favores para as conseguir, mas Maisey não se importava.
Tinha demonstrado ser uma boa amiga quando a necessitava. Tinha
ensinado-lhe a linguagem de seu pai e também a tinha ensinado a tingir o
cabelo quando sua mãe acreditou que era o melhor.
Escutaram os gritos e saíram ao exterior da casa— Já começou— Sussurrou
Dayna assustada — Vamos, menina.
Uma coluna de fumaça saía da aldeia, o que indicava que estavam
queimando casas. Dayna se aproximou do cavalo, mas Maisey negou com a
cabeça — Não seja tola, nas cavernas estaremos seguras até que se vão!
— Eu fico. — Raio se aproximou dela e apertou seu corpo em sua perna — Se
meu destino for que me matem, que assim seja.
A mulher apertou os lábios— Faça o que quiser. Já te protegi muito. É hora
de que escolha seu caminho. — Olhou-a com os olhos semicerrados— Mas,
vou dar um conselho. Não diga quem é seu pai.
— Por que?
— Porque pode ser que sejam inimigos— Disse agarrando as rédeas.—
Assegure-se antes que são amigos ou lhe utilizarão. Isso se não a matarem
antes. E não diga que sabe sua língua. Assim averiguará suas intenções
antes de que as mostrem. Essa é sua vantagem.
— Sim, Dayna. — Disse obediente.
— Que os Deuses lhe protejam, menina. — Disse fincando os calcanhares.
— Adeus. — Sussurrou vendo-a afastar-se.
Quando desapareceu olhou para Raio— Vamos, Raio. Não temos tempo antes
de que cheguem.
Correu a preparar-se. Abriu a caixa de madeira de sua mãe e pegou o
bracelete colocando-o no braço à altura do peito para que não o visse. Vestiu
umas calças de couro sob o vestido e agarrou seu arco pendurando-lhe nas
costas. Colocou as flechas no cinturão de couro e fechou a casa saindo pelo
alçapão. Preparou o campo ao redor da casa e ao final da pradaria acendeu o
fogo. Era apenas uma pequena chama e se estavam o suficientemente
distraídos, não a veriam .
Assegurou-se de que as armadilhas estavam preparadas e subiu em uma
árvore. Subiu ali milhões de vezes. Não estava à vista e tinha uma visão
perfeita de todo o contorno. Raio estava sob a árvore e lhe fez um gesto. O cão
desapareceu até que ela o chamasse. Coisa que não faria. Era sua única
família e se ela tinha que morrer esse dia, não queria ver que sofria por ela.
Escutavam-se os gritos na aldeia. Eram fracos de onde se encontrava , mas
se distinguiam bem. O aroma de queimado chegava até ali e se perguntou se
teria que aproximar-se um pouco da aldeia. O som de vários passos sobre o
caminho, indicou-lhe que tinha chegado a hora de saber a quem enfrentava.
— Não sei por que temos que perder tempo desta maneira. — resmungou um
— Estamos atrasando a viagem e teremos dificuldades para chegar em casa
se piorar o tempo.
— Fecha a boca, Tage. Está me aborrecendo. — disse uma voz grave
aproximando-se a toda pressa — Você faz o que te digo.
— Roald, dê-lhe um murro ou nos deixará loucos com suas queixas!
Maisey não se moveu retendo o fôlego quando viu suas cabeças pelo caminho
— Sorem, não se meta. Estou falando com meu primo.
— Silêncio!— gritou o da voz grave — Vamos a essa maldita casa e veremos
se está lá como disse essa velha na aldeia. E se não for assim, sairemos deste
maldito lugar.
Maisey semicerrou os olhos. A quem procuravam?
— Isto é ridículo. A velha está louca!
— Fecha a boca!
Entraram no espaço diante da casa e pôde vê-los claramente. Maisey reteve o
fôlego ao ver o moreno que ia a frente. Era enorme. Suas coxas eram tão
musculosas que se podiam vê-los marcados através da calça de couro que
usava. Não vestia camisa e seu torso tinha um fino pêlo que ia desde seus
amplos peitorais até chegar a seu umbigo. Maisey nunca tinha visto um
homem assim e se moveu ligeiramente para vê-lo melhor fazendo ranger o
ramo. Mordeu o lábio inferior quando viu que ele levantava o braço olhando a
seu redor.
— O quê?
— Ouvi algo. — Disse em voz baixa tirando a espada de seu cinturão e
girando sobre si mesmo.
— Que tolice!— Quem protestava tanto era loiro e não era tão forte, nem alto
como o outro. E o último também estava alerta. Tinha o cabelo avermelhado e
umas tranças que lhe chegavam na metade das costas. Era o único que tinha
barba e se deu conta pelo modo como se movia que era perigoso — Sorem
você também?— queixou-se o loiro.
— Entre na casa e olhe se há alguém.
O loiro levantou as mãos exasperado e foi até a casa. Tentou abrir a porta
mas como estava trancada, deu um chute rompendo-a em dois. Maisey abriu
os olhos como pratos, pois os aldeãos não eram tão fortes. Escutou um golpe
no interior e o tal Roald gritou— Tage, está bem?
Ao não responder, os dois homens ficaram um de costas para o outro. Era
incrível vê-los mover-se de um lado a outro como se fossem um. Ela decidiu
que era momento de atuar e tirou uma flecha lentamente — Vá ver o que
passa.— disse Roald ao Sorem — Tome cuidado.
O ruivo sem deixar de olhar a seu redor, aproximou-se da casa e entrou —
Está inconsciente!
Ela esticou o arco sem fazer nenhum ruído e lançou a flecha acertando no
centro da cunha que sujeitava uma enorme tábua que caiu fechando a porta
com um forte estrondo.
— Que raios…?— gritou Sorem do interior de sua casa.
Sorem golpeou a enorme tábua que agora cobria a porta, enquanto que Roald
se voltou para ela, já a tinha localizado. Maisey se endireitou no ramo,
sujeitando o arco e tirando outra flecha. Durante um segundo se olharam aos
olhos e Maisey perdeu o fôlego ao dar-se conta que os seus eram de um verde
profundo. Sem fazer um gesto Roald deu dois passos laterais empunhando
sua espada, ela apontou com a flecha.
— O que querem?— perguntou em sua língua materna. Pensava seguir o
conselho da Dayna.
— Procuramos uma mulher. — Respondeu tenso dando outro passo lateral.
— Que mulher?
— Não sei como se chama. Só sei que tem o cabelo castanho. Tenho ordens
de levar todas as mulheres com essa cor de cabelo.
Ela entrecerrou os olhos— Quem te envia?
— Isso não é de sua conta, mulher!— Respondeu furioso dando outro passo
lateral.
O homem do interior da casa começava a destroçar a parede, mas ela não
podia deixar que saíssem, assim apontou com sua flecha à pedra que tinha
sobre o fogo e esta se moveu. O fogo começou a correr sobre a trilha e Roald
abriu os olhos como pratos ao dar-se conta que se dirigia rapidamente para a
casa. Pôs-se a correr para o fogo para detê-lo e Maisey não pôde deixar de
admirar como se movia. Desceu da árvore de um salto e se escondeu em
outro local.
O viking tentou apagar o fogo com o pé mas encheu de graxa e queimou a
pele da bota. Amaldiçoando tirou a bota furioso— Quando te agarrar, vou te
esfolar, bruxa!
Ela sorriu por ser mal perdedor, mas seu sorriso desapareceu ao ver a perna
de seu companheiro a chutar uma das tábuas da casa. Sairia dentro de uns
minutos e não podia perder tempo — Quem te envia?
O viking olhou para onde estava antes e rugiu furioso ao não encontrá-la
sobre a árvore. Grunhindo caminhou descalço de um pé para o centro do
descampado.
— Se mostre e te direi quem me envia!— Gritou procurando-a — Sorem! Quer
sair de uma vez?
— Necessita ajuda?— perguntou Tage divertido.
— Já dormiste a sesta?
— É uma bruxa. Disso não há dúvida. Me golpeou com um martelo na
cabeça!
Maisey decidiu que acabou a história. Apertou os olhos olhando seu objetivo
e decidiu montar uma armadilha, embora ele fosse inteligente. Maisey
escondida detrás de um arbusto pôs-se a correr e ele a viu. Ao vê-la, pôs-se a
correr atrás dela. Sorem saiu nesse momento da casa e os seguiu com um
grito que punha os cabelos em pé.
— Rodeia-a!— gritou Roald.
Sorem correu para o outro lado e ela não se deteve. Nem se deram conta
quando primeiro Sorem e depois Roald foram apanhados por duas cordas em
seus tornozelos, catapultando-os ao alto de uma árvore. Ela se deteve e
sorrindo olhou Roald que se balançava de barriga para baixo de um lado a
outro.— Ha, ha!
— Espere quando eu te agarrar. — Disse entre dentes.
— Isso você já disse, mas quem está pendurado em uma árvore é você. —
Disse divertida. Quando a agarraram pela cintura tomando-a de surpresa,
amaldiçoou-se por ser tão estúpida. Dois fortes braços a levantaram e ela
gritou de dor.
Furiosa deu um chute no joelho de seu captor e com a cabeça deu um golpe
seco para trás com força, quebrando-lhe seu nariz. Soltou-a deixando-a cair
no chão, Maisey agachou no chão e esticou uma perna com força lhe dando
um forte chute na virilha. Quando se dobrou viu que era Tage, que protestava
tanto. Levantou-se de um salto e agarrou o cabelo loiro do viking lhe
dobrando o pescoço para trás colocando sua adaga em seu pescoço. Olhou
Roald que estava fora de si.
— Por que procuram as de cabelo castanho?
— Não sei!— gritou Roald — Se fizer mal a meu primo está morta!
— São vikings, morrerei da mesma forma.
— Você, é obvio. Não me importo se tenha o cabelo castanho. — Disse ele
com rancor.
— A quem procuram?— Apertou a adaga contra o pescoço do Tage e uma
gota de sangue caiu por seu pescoço.
— Harald nos ordenou isso!— Gritou ao ver que com certeza o mataria.
Surpreendida olhou Roald nos olhos — Que Harald?
Um golpe na cabeça que não viu vir, deixou-a sem sentido, caindo sobre a
erva e ficando totalmente em suas mãos.
Capítulo 2
Maisey dormiu, molhada como estava, esgotada pela má noite que tinha
passado. Quando despertou uma enorme pele a cobria e surpreendida a
olhou durante uns minutos. Ao olhar a seu redor viu um prato de comida.
Carne seca, um pouco de queijo e pão. Esticou a mão e começou a comer
devagar para o caso de sentir-se mal. Felizmente seu estômago deu uma
pausa. Comeu tudo e quando terminou, bebeu a água que tinha na jarra.
Depois de umas horas abriram a porta e ela não se moveu esperando que
fosse Olav levando mais água. Fez uma careta quando viu as botas de Roald.
Agachado se aproximou dela e quando a olhou nos olhos apertou os lábios—
Parece que não me livro de você.
— Mas quis, viking pulguento. — Disse ela com raiva.
Ele sorriu meio de lado e ajoelhou uma perna na frente dela. Então Maisey
viu os arranhões em seu peito. Ela os fez na água e sentiu satisfação ao vê-
los. Esperava que infeccionassem nesse asqueroso.
— Então ainda quer briga. — Sussurrou ele esticando uma mão e agarrando
uma mecha de seu cabelo. Agora que estava seco era ainda mais claro e ela
moveu a cabeça para que o soltasse. Roald lhe deu um puxão e Maisey ficou
quieta — Parece que vai ser sempre assim. Terei que te dar lições
contínuamente para que aprenda. — Acariciou a mecha entre seus dedos—
Como a seda do Oriente.
Maisey o olhou com ódio e Roald a agarrou pelo queixo— Como se chama?
— Não te interessa.
— Posso mudar seu nome. — Disse olhando-a aos olhos— Chamarei você de
Neza.
— Te apodreça.
— Não me provoque Neza ou terei que acariciar com força esse traseiro tão
suave que tem.
Maisey se ruborizou intensamente e ele a olhou divertido — Como te chama?
— Maisey.
Quase pareceu surpreso que respondesse. — Bem Maisey, se comportar-se
bem te deixarei passar o dia fora a partir de amanhã. — Ela não disse nada e
ele sorriu— Vai aprendendo.— Aproximou-se dela mais e roçou brandamente
seus lábios com os seus.
Maisey ficou sem fôlego quando seu estômago deu um salto e acreditou que a
comida voltaria a fazer mal— Afaste antes que eu vomite! — Disse ela com
fúria.
Roald semicerrou os olhos e apanhou o lábio inferior dela chupando com
força enquanto o acariciava com a língua. Ela arregalou os olhos
surpreendida pelo que sentiu e sem querer abriu a boca. Aprofundou o beijo
sujeitando com sua outra mão a nuca, Maisey sentiu falta de ar quando
acariciou sua língua. Assustada pelo que estava sentindo levou sua mão livre
a seu cabelo negro puxando com força, mas Roald não a soltou aprofundando
suas carícias e fazendo-a gemer. Separou-se dela e a olhou com seus olhos
verdes entrecerrados. Maisey suspirou abrindo os seus lentamente ainda
envolta em uma neblina confusa.
— Não parece que vai vomitar. — Disse ele soltando-a e lhe dando as costas.
Maisey gostaria de dar um chute no seu traseiro. — Cão pulguento. — Disse
com a voz rouca— Espero que um raio o acerte!
A risada de Roald o acompanhou até a saída. Para sua surpresa deixou o
alçapão aberto— Te furarei com minha adaga me ouve? Suplicará por sua
vida!— Gritou furiosa!
— Parece que está melhor. — Ouviu Sorem dizer.
— Amanhã ninguém vai suportá-la. — Respondeu Roald divertido.
— Arrancarei sua língua!
— Vê?
Afastaram-se da porta para frustração de Maisey. Quando escureceu Olav lhe
entregou uma jarra — Me alegro te encontrar melhor. — Ela fez uma careta
fazendo-o rir.
— Por que não me solta e te demonstro o quanto estou bem?
Olav aparentou horror e a fez rir. O homem a olhou maravilhado e pigarreou
quando perdeu a risada por sua expressão — Boa noite, princesa.
— Boa noite, Olav.
À manhã seguinte Olav a soltou— Pode passar o dia fora. Mas se comporte
bem.
Revirou os olhos fazendo-o rir. Ao ficar de pé se deu conta de que quase não
mancava e o ombro já não a incomodava.
— Pode levar a pele se quiser.
— Não, obrigada. — Respondeu com um sorriso — Agora não tenho frio.
Saiu sem esperá-lo e ficou no convês olhando a seu redor. A primeira coisa
que fez foi levantar a vista pra o céu e se deu conta que quase era meio-dia.
Olav a observava sonrrindo.— Pode se sentar em um desses tonéis. — Eram
onde se sentavam os homens pra conversar e quando os procurou os viu
olhando às mulheres. Entrecerrou os olhos — O que querem?
— Estão interrogando-as a respeito de você. — Disse divertido— Você os
intriga.
Foi para os tonéis e sentou-se. Pelas costas de Roald se deu conta que não
conseguiam o que queriam saber. Ela olhou nos olhos da mulher que dias
antes a tinha chamado viking e fez um gesto no pescoço indicando que se
falasse a mataria.
A mulher empalideceu e Roald se voltou para fulminá-la com o olhar —
Maisey!
— Sim?
— Vem aqui!
Ela apertou os olhos e cruzou os braços.— Não!
— Por todos os raios!— Sussurrou Olav— Vá lá!
Roald cerrou os olhos enquanto Tage a olhava como se estivesse louca e
Sorem sorria.— Move seu traseiro até aqui!
— Não!— Gritou olhando-o do tonel.
Olav gemeu a seu lado — Está louca.
— Caso não venha, aguentará às consequências!
Ela olhou entediada. Sorem e Thorbert puseram-se a rir
— Silêncio!— Gritou Roald aproximando-se dando grandes passadas até ela.
Ali sentada sobre o tonel parecia quase frágil rodeada de seu longo cabelo
loiro. Ele apertou os lábios ao ficar diante dela — Ou você vem ou eu te levo.
— Por que tenho que ir?
— Não me encha a paciência, Maisey.
Como se estivesse fazendo um favor desceu do tonel enquanto Tage a olhava
como se estivesse louca e seus amigos riam.
Ficou diante das mulheres e cerrou os olhos as olhando uma por uma— Do
que a conhecem?
As mulheres olharam pra Maisey com temor e ela cruzou os braços satisfeita.
— Respondam! Não vai acontecer nada com vocês!— Gritou Roald fora de si
ao dar-se conta que não abriam a boca.
— Isso não ajuda, Roald. — Disse Sorem divertido.
— Não tem graça.
— Está claro que a temem.
— Muito observador, Tage. — Disse Roald agarrando-a pelo braço para olhar-
la de frente— Quem é?
— A que vai arrancar sua língua. — Disse calmamente.
— Pelo Thor, esta mulher é impossível! — Disse Tage.
— Me parece maravilhosa.
Roald fulminou Sorem com o olhar antes de voltar-se para Maisey — Por que
te temem? Quem te ensinou a brigar?
— Aprendi quando era pequena. — Disse começando a divertir-se.
— Sua mãe a ensinou. — Disse uma delas com ódio— Era uma megera como
ela.
Maisey se esticou levantando o queixo e girou a cabeça lentamente.— Volta a
falar de minha mãe, puta e esparramarei seus intestinos pelo convês.
A mulher empalideceu baixando o olhar e todos a olharam com admiração.
Inclusive Roald — Uma mulher nos disse que onde você vivia, estava a
mulher que procurávamos.
— Que mulher?— Perguntou fazendo-se de tola.
— Uma mulher de cabelo castanho com menos de quarenta anos. Era sua
mãe?
— Minha mãe era loira. — Disse mentindo descaradamente. Nenhuma das
mulheres abriu a boca e Maisey sorriu abertamente. Sabiam que ela estava
desamarrada e qualquer descuido podia as matar rapidamente.
— Por que a odeiam?— Perguntou Tage.
— Viu-a, homem? Parece idiota!— Disse Sorem com admiração — É a mulher
mais bela que já vi.
— Sorem, fecha a boca antes de que eu a feche pra você!— Roald estava
furioso.
Seu amigo cerrou os olhos e fez uma careta. Olav soltou uma risada e piscou-
lhe um olho. Não acreditava uma palavra sobre ser a mulher mais bela que já
tinha visto, embora Maisey nunca tenha se olhado em um espelho, só tinha
visto seu reflexo na água do rio. Realmente seria bonita? Olhou nos olhos de
Roald que apertou seus braços antes de perguntar— Por que lhe odeiam?
— Não sei. Odeiam-me a vida toda.
— Cadela mentirosa! — Sussurrou uma delas fazendo Roald esbofear Maisey
atirando-a no chão.
— Isso é para que não minta pra mim!— Agarrou-a pelo cabelo e voltou a
levantá-la— Por que lhe odeiam?
Ela levantou o queixo e cuspiu em seu rosto, recebendo outro golpe na outra
bochecha acabando no chão outra vez.
— Por todos os Deuses! Diga-lhe! Gritou Olav.
Nesse momento alguém assobiou e ela fechou os olhos ajoelhada no chão.
— Um navio do Rutger!— Gritou Thorbert passando por ela e agarrando uma
enorme espada. Os homens agarraram suas armas olhando pelo flanco do
navio e ela se levantou lentamente acariciando a bochecha. Um navio viking
se aproximava deles a toda velocidade. Surpreendida se deu conta que não
fugiam deles, mas sim lhes esperavam para lutar. Roald se voltou e a olhou
com os olhos entrecerrados — Maisey, desça à adega!
— Não. — Cruzou os braços— Me dê uma arma.
— Está louca, mulher? Para que me acerte pelas costas. Vá pra adega!
Podia entender a lógica de seus pensamentos. Olhou sobre seu ombro às
mulheres e antes que alguém reagisse deu um murro na que tinha chamado
sua mãe de megera deixando-a sem sentido. Roald revirou os olhos — À
adega!
— Está bem…— Disse zangada olhando o navio que se aproximava. Via-se ao
menos dez pessoas no convês.
— Superam vocês em número…
— À adega!
Então ela se deu conta de algo, não sabia se esses homens que vinham eram
amigos de seu pai ou inimigos, como tampouco sabia se Roald era, embora
parecia que procuravam a sua mãe. Pensou nisso rapidamente olhando o
navio que se aproximava. Tinha que decidir-se e olhou nos olhos do Roald—
Já vou!— Protestou zangada indo para o buraco.
Quando desceu fechou a porta, mas voltou a abrir— E se te matarem?
— Então matarão você também.
— Isso não é justo!
— A vida não é justa. Fecha a porta!
— Uma adaga… pequena.
Olav começou a dar gargalhadas e Sorem o seguiu.
— Maisey!
— Tomara que tenha aprendido a brigar, porque comigo não soube fazê-lo!—
Gritou antes de fechar com força.
As risadas dos homens a fizeram fazer uma careta — Se tivesse meu arco—
Sussurrou olhando a seu redor. Começou a procurar com o que defender-se e
revirou os olhos quando encontrou várias armas em um canto. — Homens
estúpidos! — Um golpe no navio por pouco não a derrubou ela agarrou uma
pequena espada colocando-se junto à escada.
Ouviram-se gritos ensurdecedores no piso de cima e os sons das espadas ao
chocar umas com as outras. Cerrou os olhos quando ouviu que algo caía e
sentiu medo. E se fizessem mal a ela? Era a única possibilidade de encontrar
seu pai. Os olhos do Roald furiosos apareceram em sua mente e sentiu medo.
Se os matassem, podia acabar como escrava em qualquer aldeia do norte,
submetida por algum tirano. Ao menos conhecia o Roald e o que ele fazia não
era tão terrível. Subiu vários degraus sem dar-se conta e abriu o alçapão para
olhar. Os homens lutavam bem e eram quase o dobro que eles. Viu que Olav
estava em dificuldades contra dois homens muito mais jovens que ele. Sem
pensar abriu a porta e um que estava lutando com o Thorbert a olhou com a
boca aberta. Aproveitando o amigo do Roald lhe perfurou o estômago. Maisey
se aproximou por detrás dos que acossavam Olav e golpeou o interior do
joelho de um deles fazendo-o cair enquanto atravessava com a espada as
costas do outro. Deu um salto para trás quando o do chão tentou alcançá-la
com a espada e Olav lhe atravessou o peito — Princesa. — Disse o homem
com a espada ensangüentada no alto — O que te disse Roald?
Encolheu os ombros e ouviu o grito de fúria de Roald. Girou com um pulo
para ver que seu captor lutava com um homem enorme e estava ferido de
lado. Não era grave, apenas um arranhão, mas ela cerrou os olhos furiosa
dando um grito de guerra que punha os cabelos em pé. Os homens
surpreendidos se voltaram para ela e com a espada na mão fez um arco
cortando a cabeça do que estava mais próximo.
— Por todos os Deuses! — Sussurrou um deles dando um passo atrás
enquanto a cabeça de seu inimigo caía diante de Maisey.
Tage aproveitou para matar outro que estava distraído e a luta recomeçou.
Sorem acabou com os que tinha na frente e ela se aproximou de Roald
furiosa— Por que não o matas de uma vez?— Via-se a distância que era
muito superior a seu inimigo.
O viking a olhou como se fosse um demônio antes que Roald lhe rachasse o
peito de cima abaixo. Roald se voltou para ela e a agarrou pelo braço— Não te
disse que esperasse lá embaixo?
— Olav necessitava de ajuda! — Gritou-lhe na cara.— Tem que proteger seus
homens mais fracos! Não se divertir enquanto isso!
— O que sabe você de proteger homens?
— Parece que mais que você!— Um gemido a fez olhar pra o chão e ela
chutou a cara do que gemia deixando-o sem sentido.
— Pelo Thor, quem é você?— Roald estava atônito — À adega!
Ela levantou a espada colocando-lhe sob o queixo — Me obrigue.
Olav gemeu — Princesa, não faça isso!
Os homens os rodearam e Roald sorriu lhe alterando o sangue— Quer lutar
comigo?
— Se ganhar, deixará-me livre assim que chegarmos. — Disse olhando-o nos
olhos — Dará sua palavra.
— E se eu ganhar?
— Se você ganhar... — Pensou— Colaborarei.
— Dá-me sua palavra?
— Sim.
Roald fez um rápido movimento tentando tirar sua pequena espada, mas
Maisey deu um salto para trás ficando fora de seu raio de ação— Tirem os
cadáveres. — Disse Roald começando a divertir-se. Os homens pegaram os
corpos atirando-os pela amurada enquanto Roald e ela caminhavam em
círculo.
— Não lhe faça mal, Roald. — Disse Sorem preocupado.
— Vai ser ela quem chutará seu traseiro. — Disse Tage divertido sentando-se
no parapeito para observar.
— Não é justo, ela veste saias e é mais difícil lutar assim. — Apontou Olav
preocupado.
— Você observa. — Disse Tage sem perder nenhum detalhe.
— Preparada?— Perguntou Roald olhando-a nos olhos.
— E você?
Roald atacou e ela se agachou, a espada passou por cima dela. Apoiando-se
na mão livre estirou a perna com força e lhe deu um golpe no tornozelo que o
fez cambalear-se e escorregar pelo sangue no chão caindo sobre seu joelho.
Roald grunhiu enquanto os homens riam. Maisey lhe atacou com a espada,
mas ele facilmente rebateu o golpe com sua enorme espada levantando-se de
um salto. Sua força era incrível e quase derrubou sua espada.
— Sou muito mais forte que você, Maisey. Tem que ser rápida. É sua única
opção.
Surpreendeu-a que ele desse conselhos e se lançou sobre ele como se fosse
um carrapato atirando-o de costas e colocando sua espada sob seu queixo—
Dizia?
Os homens puseram-se a rir, mas ele soltando sua espada a segurou pela
cintura girando-a de costas e retorcendo sua mão lhe pôs sua própria adaga
na garganta. Foi tão rápido que ela perdeu o fôlego com seu peso distraindo-
se. Estava totalmente imobilizada e ele sorriu— Ganhei.
Para surpresa de todos que esperavam ouvir seus gritos, Maisey pôs-se a rir
deixando-os com a boca aberta. Roald a comeu com os olhos e ela prendeu o
fôlego— Não.
— Sim. — Afastou a pequena espada e a levantou sem nenhum esforço.
Agarrando-a pelo pulso a levou até o alçapão enquanto os homens golpeavam
o chão com os pés. Olav sorriu de orelha a orelha e Maisey se ruborizou —
Desça. — disse ele com voz grave.
Ela tinha dado sua palavra e endireitou as costas levantando o queixo
passando na frente dele. Quando chegou embaixo ficou nervosa vendo-o
descer as escadas. Deixou a porta aberta para ter luz e caminhou para ela.
Maisey deu um passo para trás e logo outro até chegar nas peles.
— Tire o vestido.
— O que?— Na vez anterior não precisou fazê-lo. Apertou as mãos nervosa.
— Tire se não quiser que eu arranque isso, Maisey. — Os olhos de Roald não
mentiam e ela agarrou o vestido pelo quadril tirando-o.
— Isso também. — disse mostrando a camisola.
Ruborizada tirou ficando totalmente nua diante dele. Nervosa porque não
dizia nada, levantou os olhos e ele se aproximou— Não seja tímida. — Disse
com voz rouca olhando seus seios — É tão bonita que dá medo.
Maisey sentiu calor na boca do estômago e seus mamilos endureceram com
seu olhar. A mão do Roald chegou até seu seio sem tocá-lo e ela prendeu o
fôlego. O esfregar de seu dedo polegar em seu mamilo a sobressaltou e o
olhou nos olhos — Preciosa…— Sussurrou ele antes de que sua mão
acariciasse seu seio. As sensações que a percorreram a fizeram fechar os
olhos e quando sua outra mão tocou sua cintura, gemeu sem poder evitá-lo.
Suas mãos percorreram seu corpo acariciando suas costas até chegar a sua
nuca e quando sentiu os lábios de Roald sobre os seus não pôde evitar
responder com desejo. Roald aprofundou o beijo abraçando-a e gemeu dentro
de sua boca ao sentir seu torso contra seus seios, abraçando seu pescoço
para prender-se a ele. Nem se deu conta quando a deitou sobre a pele. Roald
abandonou sua boca para acariciar com seus lábios seu pescoço lhe dando
suaves beijos que a deixavam louca. Descendo por seu seio, gritou
surpreendida quando lambeu um de seus mamilos antes de meter-lhe na
boca e chupar com força. Maisey arqueou as costas necessitando mais e
voltou a gritar ao sentir sua mão acariciando-a entre as pernas. Cravou as
unhas em seus ombros sentindo que algo se esticava em seu interior e gritou
estremecendo-se de prazer quando Roald mordiscou seu mamilo.
Esgotada abriu os olhos e Roald estava sobre ela olhando-a muito sério,
segurando-a em seus braços— Cerque-me com suas pernas. — Sussurrou
antes de beijá-la. Sentindo-se maravilhosamente ela fez o que pedia e gritou
dentro de sua boca quando entrou nela com um forte empurrão. Ele segurou
seu quadril saindo dela brandamente para voltar a entrar com força fazendo-
a gritar de prazer. Olhou-a nos olhos antes de repetir o movimento e Maisey
arqueou seu pescoço para trás sentindo que morria de prazer. Segurou em
seus ombros enquanto Roald beijava seu pescoço continuando seus
movimentos com força, até que com uma última estocada a fez gritar
lançando-a em um mundo maravilhoso.
Com a respiração ofegante, Roald se levantou olhando-a deitada no chão
tentando recuperar-se— Vista-se.
Ela abriu os olhos ainda atordoada pelas sensações que ele tinha
proporcionado nela e gemeu de vergonha porque tinha desfrutado delas.
Voltando para a realidade se sentou sobre a pele e esticou o braço para pegar
sua camisola. Roald se agachou a seu lado e a agarrou pelo cabelo erguendo
seu rosto.— Lembre de sua promessa, Maisey. Não me faça ter que lhe
recordar isso.
— Recordo minhas promessas. — Disse entre dentes movendo a cabeça para
que a soltasse.
Ele a agarrou mais forte e a beijou nos lábios com rudeza machucando-a— Se
algum dia te encontrar com outro homem, te mato.
Olhou-a nos olhos e soube que cumpriria sua promessa. Roald a soltou,
erguendo-se saiu deixando-a sozinha. Maisey ficou olhando por onde ele foi e
cerrou os olhos.— Não vou ficar, viking. — Sussurrou para si.— Prometi que
colaboraria, não que ficaria.
Ela ficou na adega o que restou do dia e estava deitada sobre as peles quando
escutou que alguém descia pela escada. Virou sobre o monte de peles para
ver Roald aproximando-se. Ficou de barriga para baixo e apoiando-se nos
antebraços olhou-o se aproximar. A verdade é que era bonito. Admirou seu
peito e seu pescoço. Seu quadrado queixo e sua boca. Recordando o que fez
essa boca ruborizou, assim olhou seus olhos. Não parecia estar de mau
humor.
— Maisey.
— Sim?
— Está confortável?
— É uma pergunta com armadilha?— Perguntou desconfianda.
— Essas peles são para vender antes de chegarmos em casa.
— E?
— Não deveria dormir em cima.
— E a que usamos antes?
— Essa é minha. — Disse agarrando a que tinha nos braços para tirá-la.—
Como você.
— Eu não sou sua. — Disse segurando em seus ombros.
— Claro que é! É minha escrava. É de minha propriedade. — Deitou-a sobre a
pele no chão e se deitou a seu lado pegando uma mecha de seu cabelo.
— O que está fazendo?— Perguntou puxando a mecha de sua mão.
— Nada. — Parecia surpreso com sua atitude e não entendia a razão.
Ela virou as costas pra ele franzindo o cenho. O que acontecia com esse
homem? Uns minutos depois ao ver que não se movia olhou sobre seu ombro
— Vai dormir aqui?— Continuava olhando-a apoiado em seu antebraço— Por
que não dorme em cima com seus homens?
Ele levantou uma sobrancelha e voltou a pegar uma mecha de seu cabelo. Ela
puxou novamente sentando-se sobre a pele. Olhou-a divertido— Está
incômodada ao lado de um homem, certo?
Que tipo de pergunta era essa? Ele sabia que era virgem antes de que a
tocasse. Roald entendeu sua expressão— Me refiro a não estar acostumada a
te relacionar com homens.
Ruborizou-se ligeiramente porque tinha razão. Sempre que se relacionava
com eles era para lhes golpear ou para defender-se.
— E daí?— Disse na defensiva.
— Não tem pai ou irmãos?
— Já te disse que meu pai te mataria, então sim, tenho pai. — Disse irritada
voltando a dar-lhe as costas.
— Mas não o conhece, certo?
— O que você sabe? Conheço-o muito bem. — Disse com raiva.
— E como ele é?
— É forte e alto. Seu cabelo é dourado.
— Como o seu. — Sussurrou ele tocando-lhe.
— Sim!
— Que mais?
— É um homem de honra e queria a minha mãe. — Ao ver que ele não dizia
nada continuou— Protegeu a minha mãe quando ela necessitou e a amou
muito. — Uma lágrima caiu por sua bochecha— Teve que ir embora. Mas
antes ensinou minha mãe a proteger-se sozinha.
— Foi muito longe?— Sussurrou ele.
Ela estreitou os olhos— E você, porque se importa? Ele teve que ir! É o
bastante.
Voltou a dar-lhe as costas e ele a olhou — Se conhece tão bem a seu pai
como se chamava?
Estreitou os olhos.— Por quê?
Ele rasgou a manga de seu vestido e mostrou o bracelete em seu braço— Seu
pai deu de presente isto a sua mãe?
— Você rasgou meu vestido!— Gritou indignada olhando seu braço. Estreitou
os olhos furiosa e com a palma da mão aberta acertou seu nariz— Rasgou
meu vestido!
Roald com a mão em seu nariz grunhiu.— Te conseguirei outro!— Disse
movendo seu nariz de um lado para outro.
— Não quero outro! Eu gostava deste!
— É um trapo!
— É meu trapo!
Olharam-se nos olhos furiosos e ele a agarrou pela nuca beijando-a
apaixonadamente enquanto ela abraçava ele quase com desespero. Roald
impaciente subiu seu vestido com toda pressa acariciando seu traseiro e
Maisey gemeu levando suas mãos às tiras de couro que seguravam sua calça,
colocando-se escarranchada sobre ele quando o liberou. Maisey se esfregou
contra ele impaciente e Roald gemeu lhe apertando as nádegas. Maisey se
afastou olhando-o nos olhos e se levantou ligeiramente para que entrasse
nela lentamente fazendo-a fechar os olhos de prazer. Apoiando as mãos em
seu peito deixou que guiasse seus quadris e entendeu o que tinha que fazer,
continuando enquanto Roald acariciava seus seios em cima de sua roupa.
Sentindo que necessitava muito mais, moveu-se sobre Roald mais rápido
acariciando seu torso enquanto se olhavam nos olhos. — Assim mesmo, você
faz muito bem! — Sussurrou ele levando uma mão a seu sexo para acariciá-
la. Maisey gemeu arqueando seu pescoço para trás movendo-se mais rápido
enquanto ele seguia acariciando-a. Sentiu que o prazer a atravessava
estremecendo e Roald a deitou de costas dando estocadas com força,
grunhindo contra seu pescoço.
Uns segundos depois se afastou deitando de costas e levando-a com ele.
— Aprende muito rápido. — Disse acariciando suas costas.
— Não é difícil. Agora você vai embora?
Roald riu e ela levantou a vista surpresa.
— Isso quer dizer não?— Ele continuou rindo e ela irritada se afastou dele
para lhe dar as costas outra vez.
— Por que usa esse bracelete?— Perguntou encostando em suas costas —
Era de seu pai?
— Por que pergunta tanto por ele?
Roald baixou a manga do vestido e ela soube o que estava olhando. Um
bracelete de ouro com um elaborado desenho de círculos entrelaçados e uma
pedra vermelha no meio. Era muito grande para ela por isso podia colocá-lo
no alto do braço.
— É que acredito que vi um parecido em algum lugar. — Sussurrou ele
tocando-o.
Maisey prendeu o fôlego. — Eu vi vários parecidos ao longo dos anos. — Disse
mentindo. Não tinha visto nenhum igual em seus dezessete anos de vida. Seu
trabalho era tão fino que era inconfundível.
Roald deixou cair a cabeça deitando de costas.
— Tem razão. Certamente vi um parecido porque seu pai não é Harald, certo?
Ela se esticou e voltou a olhá-lo.
— Quem é Harald?
— É nosso Jarl. — Ao ver que ela franzia o cenho, o esclareceu— Como nosso
chefe, nosso rei. Sua palavra é lei.
Maisey deixou cair o queixo surpresa. Seu pai era o rei desses homens? Era
uma brincadeira?
— Por que te surpreende tanto?
— Por isso seguem suas ordens de ir a meu povo e agarrar às mulheres?
Roald estalou a língua.— Tínhamos que vender as peles e outras coisas. Mas
aproveitou nossa viagem. Eu não queria fazer isso porque se tivermos má
sorte começará a nevar e dificultará a viagem.
— Vivem tão ao norte?
Ele sorriu divertido.— Vivemos no extremo norte. No inverno neva tanto que
quase não saímos de casa. — A cara de horror de Maisey dizia tudo e Roald
pôs-se a rir.— Acostumará.
— Por que procura essa mulher?
Roald parou de sorrir.— Não sei. Só me disse onde tinha que ir e procurar
uma mulher de uns trinta e cinco anos com o cabelo castanho.
— Não sabia seu nome?— Sussurrou.
— Na verdade me disse isso, mas estava tão zangado que não me lembro
bem, assim para abreviar pegamos todas as de cabelo castanho. — Disse
indiferente.— De toda maneira necessitávamos de mulheres. Faz dois anos
umas febres arrasaram a aldeia. Muitos homens dormem sozinhos.
— E não recorda nada de seu nome?— Perguntou impaciente.
— Começava pela letra A, acredito. — Ele estreitou os olhos. — Como se
chamava sua mãe?
Suspirou decepcionada.— Blair.
Roald assentiu e voltou a agarrar uma mecha de seu cabelo.— Não se
chamava Blair.
Estava enganada? Pensou vendo ele acariciar seu cabelo. Até agora tudo
encaixava, mas esse não era o nome de sua mãe. Suspirou deitando-se e
pensando nisso dormiu.
Capítulo 4
Despertou e ao olhar a seu lado viu que estava sozinha. Aliviada olhou o teto,
pois tinha deixado o alçapão aberto e havia luz. O que devia fazer agora?
Antes de lhe dizer o nome de sua mãe estava convencida de que Harald era
seu pai, mas agora já não estava tão segura. E se tudo aquilo não tivesse
nada a ver com ela? Pode ser que algum dos companheiros de seu pai
procurasse alguém. Mas sua mãe tinha o cabelo castanho e sua idade
coincidia com a mulher que procuravam. E se chamava Harald o homem que
a procurava. Tinha que ser seu pai. Roald estaria equivocado? Devia ser isso,
não prestou atenção ao nome de sua mãe. Sorriu levantando-se. depois de
usar o balde, tirou-o fora. Os homens estavam falando entre eles em seu
idioma e ela dissimulou levando o balde até a amurada para esvaziá-lo.
— E o que vai fazer? Porque quando souberem, as gêmeas vão te matar. —
Disse Tage divertido.
— Não vou fazer nada. — Respondeu Roald irritado. — Por que faria algo? Ela
é minha escrava. Como elas. Terão que acostumar.
Olav a olhou de esguelha enquanto Maisey se esticava. Tinha duas escravas
gemêas! Com certeza também compartilhavam sua cama.
— Pois verá quando sua mãe souber. — Disse Tage nesse momento. — Dirá
que é um libertino. Já disse isso quando levou as gêmeas. Agora o expulsará
de casa.
— Já é hora de fazer uma casa. — Disse ele olhando-a enquanto lavava o
balde. — Alguma me dará um filho e já somos muitos nessa casa de loucos.
Os homens puseram-se a rir divertidos enquanto que Maisey escondia seu
rosto ruborizado.
— Estranho é que as gêmeas não lhe tenham feito pai. — Disse Thorbert
divertido.
— Meu pai a primeira vez que me deu uma mulher, disse-me que não me
derramasse dentro.
Os homens riram a gargalhadas— E é capaz?
Maisey não entendia muito bem o que diziam e se voltou para eles fazendo-se
de tola.
— Tenho fome.
— Olav…— disse Roald com aborrecimento.
O homem se levantou e sorriu pra Maisey.
— Vem, princesa. Gosta de arenque?
— O que é isso?
Afastaram-se dos homens e a levou até um barril. Abriu-o e mostrou o que
era.
— É pescado?
— Prova-o. — Deu-lhe uma parte e de outro barril lhe entregou pão.
Aproximou-se dela e lhe sussurrou— Não se importe.
— Não entendo o que diziam. — disse antes de colocar um pedaço de pescado
na boca. Estava seco, mas gostoso.— O que não derrama? — Olav se
ruborizou.
— A semente, princesa.
— A semente?— perguntou com a boca cheia.
Olav ficou como um tomate. — É muito inocente.
Maisey o olhou confusa e Olav olhou os homens por cima de seu ombro. —
Roald está olhando. — Sussurrou. — O homem quando termina… — Passou
uma mão por sua espessa barba — derrama sua semente na mulher.
— Ah…— Disse ela entendendo— E ele não o faz.
— Tira seu membro antes. — Disse envergonhado como um menino metendo
um pedaço de arenque na boca.
— Comigo não.
Olav se engasgou e tossiu com força. Preocupada lhe deu vários tapas nas
costas.— Está bem?
Congestionado a olhou com os olhos lacrimejantes assentindo.
— Maisey!— Voltou-se para Roald que a olhava com os olhos cerrados.— Vem
aqui.
Caminhou para ele e os homens se dispersaram.
— O que quer?
Ele a agarrou pelo vestido aproximando-a dele. Mastigando seu café da
manhã o olhou nos olhos.— A partir de agora se encarregará das mulheres.
— O quê? Nem pensar!
Roald a sentou sobre seus joelhos e lhe disse ao ouvido. — Começam a estar
inquietas e não quero problemas, é melhor que você cuide delas. Dará-lhes de
comer e as acompanhará a aliviar-se.
— E por que você não faz isso?
— Muito engraçada! Lembra sua promessa?
Maisey estreitou os olhos pois ele tinha razão.— Está bem. — Tentou
levantar-se, mas ele a segurou pela cintura.
— Como dormiu?
Olhou-o surpreendida.— Bem…
— Certeza?
— Claro.
— Ontem choramingou.
Maisey se esticou. — Ah, sim?
— Sim.
— Pois estou bem.
Ele a observou atentamente.— Está bem. Vá fazer suas obrigações.
Levantou rapidamente e se afastou dele. Olav lhe deu o café da manhã das
mulheres e ela o levou. Várias a olharam com ódio, mas pegaram o pescado e
o pão que lhes deu. Depois deu água pra elas. Sorriu pra menina que
correspondeu embora depois olhou pras mulheres com medo e perdeu o
sorriso. Já tinham se aliviado antes de que ela chegasse, assim esperaria um
momento.
Essa foi sua rotina a partir daquele dia. Encarregava-se das mulheres de dia
e de noite se encarregava de Roald. A segunda tarefa era a mais agradável.
Depois daquele dia se fixou no que haviam dito os homens e Roald com ela
não o fazia. Isso a preocupou porque não podia ter um filho nesse momento.
Se Harald não era seu pai tinha que voltar para casa. Sentia falta do Raio.
Não havia dia que não lembrasse de seu cão. Esperava que estivesse bem.
Segundo os homens estavam tendo muita sorte com o tempo e esperavam
estar em casa em poucos dias. Isso a alíviou porque já estava farta do navio.
Fazia dias que navegavam através de um rio e desde seu encontro com aquele
navio não se encontraram com ninguém mais.
Uma manhã Roald despertou lhe movendo o braço.— Levanta, preguiçosa.
Estamos chegando ao Egersund.
— Chegamos então?— Perguntou sentando-se de repente.
— Aqui venderemos a mercadoria. — Respondeu ele antes de assobiar.
Os homens começaram a descer e a recolher coisas para levar ao convês. Ela
se levantou a contra gosto.
— Poderei descer?
— Não. — Grunhiu Roald agarrando um monte de pele em seus enormes
braços.
— Por quê?
— Assim irei mais rápido.
— Posso ajudar. — Sugeriu ela.
— Já disse que não!
Maisey apertou os lábios e pegou umas peles para ajudar sem protestar. Em
silêncio ajudou no que pôde e Olav a olhou preocupado.
— O que aconteceu, princesa?
— Não me deixa descer. — Disse enquanto deixava umas peles sobre a
enorme pilha.
— Alguém tem que ficar no navio e vigiar as mulheres.
Ela olhou a seu amigo— Você não vai ficar?
— Eu também. — Respondeu divertido.— Não vai fugir a menos que leve o
navio.
— Muito engraçado.
Olav pôs-se a rir e Roald estreitou os olhos. — Não têm nada que fazer?
Uns minutos depois passaram ao redor de uma montanha e Maisey ofegou de
assombro ao ver uma aldeia enorme. As casas situadas em um formoso vale
chegavam até ao pé das montanhas. Nunca tinha visto nada igual, embora
não seja estranho porque só tinha visto sua pequena aldeia.
Ao chegar o navio, ataram umas cordas ao embarcadouro. Maisey olhava
tudo com os olhos arregalados. Várias mulheres se aproximaram gritando e
rindo. Viu que alguém mostrava muito seus encantos abrindo o decote de seu
vestido.
— Roald, você voltou!— Disse a que mostrava os seios deixando Maisey
atônita. A raiva a invadiu e cerrou os olhos apoiando as mãos na amurada.
— Sentiu minha falta, preciosa?
Maisey voltou os olhos a Roald como uma mola e se aproximou dele furiosa.
— Quem é essa?
Os homens puseram-se a rir dando palmadas nas costas de Roald— São suas
amigas. — Disse Tage.
— Amigas! — Maisey parecia ter sido possuída. Não entendia o que lhe
acontecia, mas sabia que não queria que ele se aproximasse dessas…. dessas
putas.
— Você se encarrega das mulheres, nós voltamos logo. — Disse Roald muito
sério. — Não quero problemas, Maisey. Fica no navio.
— Vou contigo!— Não confiava que ele não se deitaria com alguma dessas ou
com todas.
— Ficará aqui!— Gritou-lhe ele. — E aguentará às consequências se não fizer!
Furiosa cruzou os braços e virou as costas pra ele com vontade de matá-lo.
Foi até a popa e se sentou sobre um barril vendo como baixavam a rampa e
descarregavam a carga. Viu-o descer pela rampa acompanhado de seus
amigos sem olhar atrás, enquanto as descaradas os seguiam rindo e
gritando. Olav a olhou com pena.
— Não me importo.— Disse ela zangada.
— Não deve preocupar-se. Será você que viverá com ele. — Ela levantou o
olhar e Olav se preocupou.— Não tente escapar, princesa. Roald fica com
muito mal humor quando se zanga.
Não respondeu a seu amigo. Levantou-se e foi olhar como estavam as
mulheres. Estava lhes dando água quando uma sussurrou— Nos deixe
escapar.
— Sim, vou te deixar escapar porque foi muito boa comigo. — Disse ela
divertida — Sorte sua que não disse pra eles que procuravam a minha mãe e
eles matassem todas vocês.
As mulheres ofegaram assustadas –Não, por favor.
Aproximou-se da menina e lhe deu água.— Como está, pequena?
— Bem.
— Não minta, doem-lhe os pulsos. — Disse uma das mulheres.
Preocupada se ajoelhou diante da menina que escondeu as mãos em sua
saia. — Me deixe ver.
A menina a olhou com desconfiança, mas depois de uns segundos levantou
as mãos. Tinha os pulsos em carne viva pela corda que as amarrava. Tirou-
lhe a corda e a menina tentava ser forte retendo as lágrimas.
— Pode chorar sabe? Não vou dizer a ninguém. — Sussurrou levantando o
vestido e rasgando sua camisola para lhe cobrir as feridas. A menina
levantou o queixo orgulhoso e ela sorriu— Assim que eu gosto. Que todo
mundo veja quão dura é.
— Como você?
Olhou surpreendida em seus olhos cor de mel.— Eu não sou dura.
— Pode com todos.
— Não é verdade. Sempre há alguém mais forte que você que pode te fazer
mal. Por isso tem que aprender a se defender para se livrar dos que
conseguir.
— Me ensinará?
— Quer aprender comigo? Há pessoas que sabem mais que eu.
— Você é a melhor. Na aldeia todos lhe temiam.
Sorriu encantada. — Seriamente?— Olhou às mulheres que desviaram os
olhos. Revirou os olhos e terminou de cobrir suas feridas — Pronto.
Pôs-lhe a corda menos forte para que não apertasse.— Como se chama?
— Tavie.
— Tavie, eu sou Maisey. — A menina sorriu. — Quer mais água?
— Eu sim. — Disse uma mulher a seu lado que devia ter uns vinte anos.
— Perguntei pra você?
— Não.
— Pois então. — Mostrou a chaleira à menina e voltou a beber.
Ia dar a volta, mas no final se voltou e estendeu a concha à mulher que
sorriu antes de agarrá-lo para beber ansiosa. — Agora se tiver vontades de se
aliviar terá que aguentar como todas.
— Sim, Maisey. — Respondeu submissa.
Depois de deixar a concha e o balde de água, voltou-se a sentar sobre o barril
olhando o povo. Olav se aproximou dela com algo de comer e ofereceu.— Não
tenho fome. — Sussurrou.
— Tem que comer algo. — Colocou a comida diante dela que aceitou com
relutância. — Por que é tão bom comigo?
Ele se sentou como ela em outro barril.— Não sou bom contigo. — Disse
surpreso — Te trato como se deve tratar uma mulher.
— Não trata elas assim.
— Elas não são vikings. — Disse como se isso o explicasse tudo.
Maisey olhou para o povoado.— Vai se deitar com elas não é verdade?
— Tem que entender algo, princesa. Poucos homens são fiéis e muito menos
se não amarem a sua mulher. Você é uma escrava porque quer. — Olhou
seus olhos azuis.— Se o que acredito é verdade, Roald não terá outra saída
que não seja casar-se contigo. Será sua esposa e te deverá respeito, mas se
não conseguir que te ame, não será fiel.
— Não quero que me ame. Voltarei para casa. — Resmungou ela mordendo a
carne seca.
Olav a observou comer— Não o fará, Maisey. Desde que te vi soube que tudo
tinha mudado.
— A que se refere?
— Entenderá quando chegarmos em casa. Vais ter muitas mudanças eu sei.
— Levantou-se e foi até o leme recolhendo uma corda que estava ali jogada.
Começou a enrolá-la em seu braço e Maisey encolheu os ombros. Não sabia o
que queria dizer, mas não se importava. Quando terminou de comer,
levantou para beber um pouco de água. Estava bebendo quando um homem
passou em frente ao navio e ficou olhando-a com a boca aberta. Ela baixou a
concha e confusa olhou para trás, mas ao ver que não havia ninguém voltou
a olhá-lo. Era loiro e muito alto. Trajava umas calças de pano verde e uma
camisa escura de uma cor indefinida.
— Como se chama?— Perguntou o homem na língua de seu pai. Ela olhou a
sua redor nervosa sem responder.— Não sabe minha língua?
Sentou-se na amurada do navio e seu longo cabelo loiro ficou balançando. O
homem se aproximou do cais.— Como se chama?— Perguntou mais perto.
Desta vez em sua língua materna.
— Maisey. — Sorriu ao poder falar com ele. Gostava como a olhava. Como se
fosse a mulher mais linda do mundo.
Ele sorriu e se deu conta de que tinha os olhos cinzas — Por que não desce e
falamos dando um passeio?
— Não posso descer. — Sussurrou olhando para trás. Olav devia ter descido à
adega porque não o via em lugar algum.
— Pois falamos assim. — Disse sorrindo abertamente. — Me chamo Sakeri.
— Encantada.
— É preciosa. — Ruborizou-se baixando o olhar— É casada?
— Não. — Disse levantando o olhar até seus olhos.
Ele pareceu o homem mais feliz do mundo e olhou a seu redor — Seus pais
estão no navio?
— Não. Por que quer saber?
— Eu gostaria de pedir sua mão. É maravilhosa e quero que seja minha
esposa.
Um torso apareceu atrás de Sakeri e ela levantou a vista surpresa. Ao ver a
cara de Roald furioso atrás de Sakeri se esticou levantando-se.
— O que me diz? Você gostaria de ser minha esposa? Posso cuidar de você
muito bem. Sou carpinteiro e ganho bem a vida. — Perguntou sem inteirar-se
de nada.
— Não vou poder. — Disse torcendo as mãos vendo que Roald estava a ponto
de estourar a veia do pescoço.
— Está comprometida?— Deu outro passo para ela ficando mais perto do
cais.
— Não, mas não posso. — Implorou com o olhar.— Tem que ir.
— Vamos preciosa, desça do navio e te convido a comer bolo.
— Não, obrigada. — Temia que Roald fizesse algo com ele. Estava furioso.
— Posso te apresentar a minha mãe e ela te convidará pra comer. — Disse
com um encantador sorriso.
— Ela já disse que não. — A voz grave do Roald fez que Sakeri se voltasse
surpreso. Depois sorriu com esperança.— É você um familiar dela?
— É minha, entende ou tenho que quebrar seu pescoço para que entenda?—
Deu um passo em direção a Sakeri, mas ele pareceu não entender.
— Sakeri, vai embora certo?
O homem a olhou sobre seu ombro — Não, não vou.
Ela gemeu vendo como Roald esticava o braço e o agarrava pelo ombro. — Te
dou uma oportunidade antes de arrancar sua cabeça.
Sakeri arregalou os olhos.— É solteira.
— Não, não é solteira. É minha. — Disse agarrando-o pela nuca e
aproximando-o dele— Repete comigo. É…
— É…
— Minha…
— Minha…
— Minha, não tua.
— Isso.
Roald levantou o olhar e estreitou os olhos soltando-o, fazendo que o pobre
caísse na água. Ela ofegou indignada aproximando-se da amurada e
comprovando se ele sabia nadar.
— Maisey!— Disse Roald entre dentes. — Desça à adega.
— Não desci do navio!
— Desça à adega!
— Não!
Ele se dirigiu para a rampa e ela cerrou os olhos — Desça à adega!
— Não!
Ao ver que subia a rampa furioso, ela caminhou para trás e suas costas se
chocaram com o mastro principal. Ela levantou o olhar e se agarrou uma
corda começando a subir. Roald correu para ela, mas não foi bastante rápido.
— Desça daí!
— Não!
Pessoas começaram a formar rodas no porto para vê-la. Subiu ao alto do pau
e se sentou com as pernas abertas no pau transversal onde estava enrolada a
vela.
— Maisey, se vê tudo!— Gritou furioso— Desça agora mesmo!
Ela olhou para baixo, só viam suas pernas até os joelhos e encolheu os
ombros.
— Princesa o que faz aí?
Olav a olhava com a boca aberta e ela protestou gritando. — Quer que eu vá
pra adega e não fiz nada!
Ao olhar para Roald se levantou furiosa e Olav levantou as mãos gritando.—
Sente-se, princesa!
— Não!
— Maisey, sente-se. — Roald se aproximou do mastro.
— Se você subir, caminharei por ele. — Disse dando um passo.
— Certo!— Disse pedindo calma com as mãos pra o alto. — Está bem. Não
me aproximarei.
Franziu o cenho. — Não estava fazendo nada.
— Estava falando com ele!— Roald estava muito zangado e ela deu outro
passo até o extremo— Maisey! Não se mova! Sente-se! Olav, vá procurar Tage.
— E onde ele está?
— Com alguma fulana! Busca-o!
Olav saiu correndo pela rampa e empurrou várias pessoas para poder passar.
Maisey com os braços em cruz olhou ao porto onde Sakeri a observava
encharcado.— Peça perdão a meu amigo.
— Está louca, mulher? Quando descer daí vou te dar uma surra que não vai
poder sentar por uma semana!
Ela deu outro passo pelo pau e Roald estreitou os olhos com os braços nos
quadris— Te advirto, Maisey. Se você cair, te mato!
— Que tolice. Se eu cair, morro de qualquer jeito.
— Se matará quando eu mandar!— Gritou fora de si.
Vários homens se aproximaram correndo e ela viu que eram a tripulação.—
Que raios aconteceu?— Perguntou Sorem assombrado subindo pela rampa.
— Tage, desçá-a
Tage olhou para cima. Era o mais ágil de todos e já tinha visto ele em uma
ocasião subido ali porque a vela não se desenrolou como deveria.
— Não é boa ideia, Roald. — Disse preocupado. — Se subir e ficar nervosa
pode cair.
— Peça perdão a meu amigo!— Gritou ela de cima.
— Nervosa? Tem os nervos de ferro! Sobe aí e desça ela de uma maldita vez!
— Não descerei até que peça perdão a meu amigo!
— Maisey, baixa céu! Falarei com seus pais e tenho certeza que permirá nos
casarmos!— Gritou Sakeri do cais fazendo com que ela corasse intensamente.
— Quem é esse idiota?— Perguntou Thorbert espantado.— O que está
dizendo sobre casamento?
Os homens do Roald ficaram em guarda olhando pra Sakeri — Ei, você! Se
não quer que eu quebre sua cabeça, saia daqui!— Gritou Sorem furioso.
Sakeri demonstrando uma coragem que ela admirou, gritou.— Ela quer casar
comigo! Não vêem?
Seus homens olharam pra Roald assombrados e ele ficou vermelho de fúria.
— Maisey!
— Sim?— Perguntou encantada olhando pra Sakeri com um maravilhoso
sorriso.
— Diga a este verme quem é seu dono.
Ela não disse nem uma palavra enquanto seguia olhando pra Sakeri que lhe
lançou um beijo enquanto os aldeãos lhe aplaudiam pelas costas.
— Maisey!
Olhou pra Roald como se estivesse farta e ele quase explodiu de fúria. — Por
todos os Deuses!
Olav a olhou com a boca aberta. — Princesa, desça daí antes que se
machuque.
— Machucar-se! Se não fizermos algo vai quebrar todos os ossos!— Gritou
Sorem.
Traga o machado. — Disse Roald fora de si.
Todos o olharam com a boca aberta.— Tragam o machado.
Tage se aproximou do enorme machado com lâminas curvas e o entregou a
Roald.
— Vai descer?
— Não!— Gritou ela furiosa.
— O que vai fazer? Está louco!— Gritou Sakeri do cais.
Roald agarrou o machado com as duas mãos e se aproximou do mastro—
Desça agora mesmo ou eu o derrubo.
E como chegariam a seu destino? Ela observou os homens que não pareciam
nada preocupados se seu chefe derrubaria o mastro.
— Não vão fazer nada?
— Não! — todos cruzaram os braços e sorriram para seu espanto.
Seu captor levantou o machado e várias pessoas gritaram enquanto ela se
sentava no mastro outra vez. O impacto fez que a vibração chegasse até ela e
gritou tentando segurar-se.
— Vai descer?
— Te apodreça!
O seguinte impacto a inclinou e se segurou à vela tombando seu peito sobre
ela enquanto se agarrava a uma corda com ambas as mãos. Várias pessoas
gritaram e Sorem agarrou Roald pelo braço.— Pare!
— É ágil como um esquilo. — Disse Roald entre dentes soltando-se agressivo.
— Desce ou derrubo o mastro.
— Vai matá-la!— Gritou seu amigo.
— É minha para fazer o que quiser com ela!
Essas palavras os deixaram sem fala e Maisey empalideceu ao dar-se conta
que não se importava com sua vida absolutamente. Não importava se morria
caindo do mastro contanto que prevalecesse sua opinião. Ela endireitou as
costas e se levantou sem dizer nada. Roald sorriu e a raiva a percorreu.
Então girou sobre o mastro e olhou o mar. Pôs-se a correr pelo mastro e se
lançou à água antes que alguém se desse conta do que ia fazer. Escutou os
gritos ao jogar-se de cabeça na água e nadou sob a água tão rápido quanto
pôde. Ao voltar à tona viu a distância que tinha percorrido. Três homens
estavam na água olhando para baixo antes de voltar a mergulhar e ela
apertou os lábios furiosa. Seguiu nadando enquanto ouvia como Roald e Olav
a chamavam. Deu a volta em uma curva e observou. Roald na água gritava
aos outros que a procurassem antes de mergulhar tentando encontrá-la.
Saiu da água e foi até o cais lentamente torcendo o cabelo. Alguns se
voltaram como se vissem um fantasma abrindo espaço pra ela subir pela
rampa calmamente. Aproximou-se de Olav que olhava a água de um lado pra
outro.— Não a vejo, Roald. Está se afogando!
— Tem que estar aqui!— Roald mergulhou novamente e Maisey se sentou na
amurada vendo-os nadar de um lado pra outro. Tage e Thorbert se chocaram
entre si ao mergulharem enquanto Roald afastou mais. Maisey viu Sorem ao
lado do Olav olhando de um lado pra outro e virou um pouco a cabeça para o
ver direito.— Você não quer se banhar?
— Não sei nadar. — Disse olhando a água. Sorem estreitou os olhos antes de
olhá-la com os olhos arregalados enquanto Olav a observava de cima abaixo
assombrado.
— Por todos os trovões e relâmpagos! Foge, princesa! — Disse angustiado. —
Vai matá-la a golpes.
— Maisey, vá pra adega. — Disse Sorem ainda espantado.— Eu o deterei.
Girou a cabeça pra água — Ao que parece se preocupa um pouco comigo.
Olav gemeu passando a mão pelo rosto e Maisey sorriu antes de perguntar
aos gritos.— Está boa a água?
As pessoas do cais puseram-se a rir ao escutá-la e Roald olhou para seu
navio vendo-a sentada na amurada tranqüilamente. Tage agarrou o pescoço
de Thorbert para tirar sua cabeça da água enquanto a olhava como se
quizesse matá-la.
— Maisey, desça pra adega. — Disse Roald entre dentes.
— Não queria que descesse? Pois desci. — Disse encolhendo os ombros
enquanto Olav gemia puxando a barba.
— Vá pra adega até que eu me acalme, Maisey. – Seus olhos verdes de uma
cor intensa, diziam que estava furioso e ela não era tola.
— Está bem. — Levantou-se e como se fosse uma rainha se dirigiu para o
alçapão.
— Maisey, meu amor! Encontrarei você e escaparemos juntos!— Gritou
Sakeri — Te encontrarei, me espere!
— Fracote, vou torcer seu pescoço!— Roald subia ao navio furioso e agarrou o
machado. As pessoas começaram a sair correndo esbaforidas e Sakari lhe
lançou um beijo com a mão antes de voltar-se para sair correndo. Roald se
voltou para ela e gritou— À adega!
— Já vou! Além disso ele já se foi. — Acrescentou como se isso fosse o mais
importante.
Roald deu um passo para ela com o machado na mão como se quizesse matá-
la.— Desça e não sairá até que eu diga!
Maisey estalou a língua descendo as escadas. Ao chegar embaixo tudo estava
tão espaçoso que se sentiu estranha. Só ficaram algumas armas e a pele onde
dormia ao lado do grilhão. Suas calças de couro estavam ao lado da pele e ela
se aproximou dali. Tirou a roupa e as botas. Agarrou a pele e se cobriu
sentando-se no chão zangada. Sakeri lhe parecia encantador e se Roald podia
ficar com aquelas prostitutas, ela podia falar com outro homem ao menos.
Não entendia por que ficou assim. Bufou olhando o fundo da adega.
Possivelmente deveria dizer quem era. Não, não podia fazer isso porque Olav
disse que iam obrigá-la a casar-se com ele. E não era tola. Então já não se
livraria dele. Pode ser que fizesse coisas que ela gostava e muito, mas não se
casaria com ele. Ela queria que seu marido a amasse como seu pai amou sua
mãe e ele não o fazia. Não, não se casaria com ele que ainda se unia com
outras mulheres. Tinha que amá-la tanto que não quereria estar com
ninguém mais além dela. Maisey não se conformaria com menos.
Escutou-lhe descer pela escada. E pelo modo como respirava, soube que
estava fora de si.
— Maisey. — Levantou o olhar para ele que parecia estar a ponto de matá-la
— Ficará aqui até chegarmos em casa.
— Não fiz nada!
— Não discuta!— Gritou furioso. agachou-se na frente dela e a agarrou do
pescoço com uma mão.— Estou farto de você e juro por Odin que se me
contradizer novamente eu te mato!
Maisey sentiu seu estômago se retorcer porque parecia que falava sério.
Sentiu uma vontade enorme de chorar porque ele não sentia nenhum apreço
por ela. Roald ao dar-se conta de que ela não respondia, assentiu satisfeito e
a beijou com dureza machucando seus lábios.
Maisey tentou afastar-se, mas ele a abraçou em seu peito devorando sua
boca. Afastou-se dela agarrando-a pelo cabelo e a olhou aos olhos.
— É minha. — Disse entre dentes — E será até o dia em que morrer.— Ela
empalideceu ao escutá-lo.— Repita, Maisey. Quero ouvir você dizer isso.
— Essas palavras nunca sairão de minha boca. — Respondeu com ódio.
Roald forçou sua cabeça para trás deixando seu pescoço descoberto. Seus
olhos verdes se obscureceram de fúria e olhou seu pescoço— Tão preciosa e
tão frágil. — Agarrou-a pelo pescoço e apertou ligeiramente. — Poderia te
destroçar o pescoço com uma só mão.— Voltou a apertar e Maisey não quis
mostrar o medo que a percorreu ao sentir a pressão— Não é nada para mim.
É uma mulher que só serve para me agradar e isso o posso encontrar em
qualquer lugar. — O ódio de suas palavras fizeram que uma lágrima caísse
por sua face sem dar-se conta. Isso enfureceu ainda mais a Roald que
apertou a mão em seu pescoço. Maisey sentiu que lhe faltava o ar e agarrou
seu pulso com força tentando soltá-la, mas ele apertou mais.— Sente falta do
ar? — Ela não quis mostrar que estava sofrendo e ficou quieta olhando-o aos
olhos. Uma sopro de ar saiu de seus lábios e deixou cair a mão sentindo que
morria. Sua cabeça caiu para trás perdendo os sentidos e Roald a olhou
surpreso. — Maisey?— Tirou a mão de seu pescoço e tocou sua face
totalmente pálida.— Maisey!— Gritou lhe dando tapinhas no rosto.— Maisey,
acorda!
Deitou-a no chão enquanto gritava seu nome. — O que aconteceu?—
Perguntou Sorem descendo as escadas correndo.
— Não respira!— Gritou desesperado olhando pra seu amigo.
— O que você fez?— Sorem correu para ele e se ajoelhou a seu lado.
— Matei-a!— Estava tão surpreso que não podia acreditar.
Sorem aproximou o ouvido da boca de Maisey. — Não respira. — Afastou a
pele e pôs a orelha sobre seu peito. Sorem se aproximou de sua boca e
soprou.
— O que está fazendo?— Roald o afastou furioso.
— Dando-lhe ar!— Gritou ele — Você tirou o ar dela agora tem que dar de
novo.
Roald aproximou de sua boca e fez o que Sorem fazia antes— Vamos,
pequena. –Sussurrou contra seus lábios. — Não faça isto comigo.— Voltou a
fazê-lo, mas não funcionava.
— Não pare!— Gritou Sorem enquanto Tage descia para ver que ocorria.
— Por todos os trovões o que fizeram?
Roald pálido tocava o rosto de Maisey — Eu a matei.
— Não pare!— Sorem se apoiou no peito de Maisey para afasta-lo e soprou
em sua boca enchendo seu peito.
Maisey aspirou levantando o peito e Sorem sorriu caindo sentado no chão .—
Ela é abençoada pelos Deuses, disso estou seguro. — Disse olhando-a
respirar delicadamente.
— Por que não abre os olhos?— Perguntou Tage muito nervoso.
Roald a pegou nos braços como se fosse uma boneca.— Vamos preciosa, abre
esses olhos azuis.
— Deixa-a respirar, Roald. — Disse Sorem levantando-se para tirá-la dos
seus braços.
Roald o fulminou com o olhar.— Não toque nela!
Seu amigo o olhou surpreso.— Não fui eu quem a matou!
— Sosseguem!. — Ordenou Tage olhano pra Maisey — Ela está despertando.
Roald baixou o olhar e a viu abrir os olhos lentamente. — Maisey?— Não
pareceu reconhecê-lo quando o olhou nos olhos e lhe acariciou a bochecha.—
Maisey me ouve?
Olhou em seus olhos durante uns segundos.— Vamos preciosa, me diga algo.
— Bode! — Doía-lhe a garganta e estava esgotada, mas isso não impedia
querer matá-lo. Ao ver sua cara de alívio disse com voz áspera.— Quando
meu pai souber disto, pode fugir.
Roald olhou sorrindo pra seus amigos.— Seriamente? Estou desejando
conhecê-lo.
— Espera e verá, vai tirar esses olhos de porco que tem. — Tossiu levando a
mão ao peito.
Surpreendendo-a Roald a abraçou.— Nos deu um susto de morte. — Disse no
seu ouvido.— Não havia dito que morreria apenas quando eu dissesse!—
Gritou-lhe afastando-a.— Não volte a fazer isto!
Atônita o olhou como se estivesse louco enquanto os homens pigarreavam
incômodos.— Em realidade foi você…— Começou a dizer Sorem zangado.
— Saiam!— Disse a seus amigos fulminando-os com o olhar — Saiam!
— Vamos, Sorem. — Tage agarrou o braço do seu companheiro tirando-o da
adega.
Quando ficaram sozinhos ele acariciou seu rosto.— Me perdoa?
— Está mal da cabeça?— Sussurrou olhando-o com os olhos cerrados. — Me
Solte.
Roald a beijou na bochecha brandamente.— Necessito que me perdoe. Não
queria…
— Não queria me matar? Pois dissimulou muito bem. — Respondeu com
rancor ainda com o medo no corpo empurrando seu antebraço para que a
soltasse.
— Preciosa, sinto muito. — Beijou-a nos lábios com delicadeza e ela
surpreendida ficou quieta — Não queria te fazer mal.
— Não me toque! — Sussurrou contra seus lábios — Te odeio!
Ele levantou a cabeça ligeiramente olhando seus olhos. — Sei, mas não me
deixará até que eu queira.
Deixou-a delicadamente no chão e ficou de pé — Descansa. — Olhou-a de
cima a baixo e a cobriu bem com a pele.— Tem que descansar. Foi uma
manhã um pouco agitada. — Ela o olhava como se estivesse louco e Roald
apertou os lábios.— Tem fome?
Maisey cobriu a cabeça com a pele e lhe deu as costas. — Está bem. Darei
tempo para que passe seu aborrecimento.
Aborrecimento? Tinha tentado estrangulá-la! O aborrecimento ia durar toda a
vida!
Capítulo 5
No dia seguinte ela impaciente olhou o céu do meio dia.— Falta muito para
chegar?
Um grito da margem do rio lhe deu a resposta. Vários homens saudaram com
a mão aos do navio e Tage assobiou com força. Ao fazer uma curva, viu um
cais e se surpreendeu ao ver mais cinco navios. Muito excitada viu como Olav
tirava um chifre e soprava com força. O som foi tão potente que ela o olhou
surpreendida. Soprou pelo chifre várias vezes e ela viu como corriam várias
pessoas pelo atalho que dava ao cais.
Maisey olhou ansiosa para as pessoas que se aproximavam até que Roald a
agarrou pelo braço girando-a para que o olhasse de frente. — Irá com o
Thorbert até que eu arrume algumas coisas.
— O quê? –Confusa olhou a seu redor.— Porquê?
— Já disse! Tenho que fazer algumas coisas!— Voltou-se lhe dando as costas
e Maisey mordeu o lábio inferior.
Não podia fazer isso! Tinha que conhecer o Harald! Nervosa foi até o leme
onde Olav estava manobrando.— Tem que me ajudar. — Sussurrou olhando
ao seu redor.
— O que aconteceu, princesa?
— Tenho que ver o Harald e Roald não vai levar-me com ele.
Olav a olhou surpreso.— E com quem vai?
— Com o Thorbert. — Torceu as mãos olhando o cais onde ia acumulando
gente, gritando e saudando. Estreitou os olhos ao ver duas garotas morenas
bonitas, que desciam agarradas uma na mão da outra rindo como meninas.
Eram as gêmeas e seus grandes seios balançavam enquanto corriam para lá.
Sem se dar conta do que fazia, olhou seus seios que não eram como os delas
nem de brincadeira. Fez uma careta e voltou a olhá-las. Realmente eram
bonitas e o rancor começou a correr por suas veias. Estreitou os olhos
olhando como chamavam Roald a gritos saudando com a mão. Dirigiu seu
olhar para o Roald que lhes lançou um beijo com um pé na amurada e
segurando uma corda.
— Cão infiel! — Disse entre dentes.
Olav sorriu. — Não se preocupe, princesa. Logo as coisas estarão em seu
devido lugar. Em relação ao Harald deixe comigo. Não discuta e vá com o
Thorbert. Antes do anoitecer, chamarão-lhe.
Deu-lhe um beijo na bochecha de seu amigo. — Obrigada!
— Maisey!— Gritou Roald furioso. — Que raios está fazendo?
— Agradecendo a Olav por ter sido tão bom comigo. — Respondeu espantada.
— Eu também quero agradecimentos. — Disse Sorem olhando-a com
adoração.
— Cala a boca!— Gritou Roald aproximando-se com grandes passadas e
pegando-a pelo braço com maus modos. Fulminou o Olav com o olhar.— Tem
sorte de ser um velho amigo.
— Sei. — O olhar do Olav faiscava de alegria.
Sorem começou a rir enquanto atirava as cordas ao cais para que os
rebocassem. Vários homens puxaram levando-os ao lugar onde atracariam.
— Cuide das mulheres!— Gritou em seu rosto.
— Não fale assim comigo. — Olharam-se nos olhos desafiando-se.
— Depois eu deixarei as coisas claras.
— Já deixaste tudo as claras. — Disse desviando-se dele.
Roald olhou para o cais e a soltou de repente endireitando-se.— Thorbert!
— Sim. — De repente a cobriram com sua pele e ela levantou o olhar
surpresa.— É para evitar problemas. — Respondeu o amigo de Roald.
— Problemas?— Olhou para o atalho e desciam um homem e uma mulher. O
homem era o irmão do Roald, disso não havia dúvida. Devia ter uns cinco
anos menos que ele e era enorme. Quase tão grande como Roald. Seu cabelo
negro também chegava a seus ombros e tinha uma espessa barba.
Certamente para parecer maior.
A mulher era morena também, mas tinha uma mecha totalmente branca que
saía de sua têmpora esquerda. O olhar da mulher era duro. Embora fosse
uma mulher atraente, esse olhar indicava que nunca tinha sido feliz. Sentiu
pena por ela. Valgard saudou com um assobio assim que chegou e Roald
saltou do navio para ir abraçá-lo. Também saudou a mulher afastando-os
dali. Thorbert a levou pra passarela e a desceu com toda pressa.
— Não vamos com o Roald?
— Te buscará depois. — Disse empurrando-a para afastá-la das pessoas.
Surpresa viu que não subiam pelo atalho, mas sim entravam no bosque
certamente para não encontrar-se com ninguém. Passaram umas árvores e
chegaram a um claro onde havia várias casinhas de madeira com teto de
palha.
— Rápido! — Disse o homem olhando a colina. Ela olhou para lá e viu
surpreendida uma grande casa, mas o que mais a surpreendeu foi que as
paredes formavam um círculo. A casa era redonda! Nunca tinha visto uma
casa redonda, todas as de sua aldeia eram quadradas como as casinhas que
havia ali.
— O que é isso?
— A casa do Jarl.
— É enorme. — Disse deixando-se levar.
— Ali vivem muitos. — Disse sem especificar.
Aproximaram-se de uma cabana e abriu a porta colocando-a dentro — Fique
aqui.
Ela escutou assombrada como fechava a porta por fora com uma tábua.
Olhou a seu redor e viu a luz com uma panela no fogo. Aproximou-se por
curiosidade e aspirou o aroma. Cheirava bem. Olhou a seu redor e encontrou
um concha de sopa. Colocou-o olhando o conteúdo e sorriu ao ver que era
uma sopa de coelho. Agarrou uma tijela e se serviu o bastante. Agarrou uma
colher de madeira e se sentou na mesa olhando ao seu redor. A casa era
maior do que parecia. Tinha uma boa cama ao fundo e outra mais pequena
em um lateral. Assim era a cabana de uma família. Olhou a comida pensando
que provavelmente estava tirando a comida de alguém. Encolheu os ombros e
começou a comer com vontade.
Estava bom e desfrutou da primeira comida quente em muitos dias. Quando
terminou, começou a ficar nervosa. Olav lhe havia dito que a chamariam,
mas estavam demorando.
Ali não havia janelas e a surpreendeu um pouco. Então entendeu que igual
era para que não passasse o frio no inverno. A luz a deixava ver o suficiente,
mas ainda assim começou a ficar nervosa. Olhou a seu redor e viu um pente.
Sorrindo levantou e esteve um momento escovando o cabelo.
Escutou vozes ao redor da casa e ela tampou com a pele sua larga cabeleira
se por acaso não fosse Olav.
As vozes passaram ao largo e ela suspirou decepcionada. Tamborilando os
dedos sobre a mesa apoiou o queixo sobre sua outra mão enquanto olhava a
porta.
Parecia-lhe que estava passando muito tempo e se começou a impacientar.
Levantou-se e foi para a porta empurrando-a. O tábua devia ser muito forte
porque não se moveu absolutamente. Que tipo de pessoas eram essas, que
fechavam suas casas por fora? Qualquer um poderia lhes prender lá dentro.
Revirou os olhos porque aquilo não tinha sentido.
— Há alguém aí?— gritou à porta.
Escutou uns passos e ficou alerta. Eram passados rápidos e ligeiros— Há
alguém aí?— perguntou no idioma de seu pai.
— Sim. — a voz de uma menina a fez sorrir.
— Pode abrir a porta?
Escutou como a tábua se movia e quase se sentiu triunfal. A porta se abriu
lentamente e uma menina de uns oito anos a olhou pela abertura. Arregalou
os olhos ao vê-la.
— Quem é? Enviaram-lhe os Deuses?
Que pergunta mais estranha— Não. — respondeu sorrindo.
A menina prendeu fôlego e assentiu— Sim, enviaram-lhe os Deuses.
— Bom, pois me enviaram os Deuses. Agora quero sair.
A menina se afastou abrindo a porta totalmente e ela cobriu o cabelo lhe
piscando um olho. Sem perder tempo olhou para a casa do Jarl e subiu a
colina a toda pressa. A menina a seguiu e Maisey a olhou de esguelha— O
que faz?
— Quero ver como reagem ao ver a enviada dos Deuses.
— Então, somos duas. — disse divertida aproximando-se da porta.
Escutavam-se vozes e cantos no interior, assim Maisey entendeu que
estavam celebrando a chegada dos seus. Abriu a porta ligeiramente e colocou
a cabeça. Todos em círculo olhavam algo que havia no centro. Ela só via
costas, assim entrou na casa com a menina atrás dela. A menina sorriu
fechando a porta. Maisey olhou às pessoas e escutou o cântico de uma
mulher.
— Basta!— ouviu gritar. A mulher se calou no ato e Maisey ficou nas pontas
dos pés para ver algo — Agora me conte o que ocorreu!— a voz desse homem
expressava que estava zangado. Muito zangado.
— Estas são as únicas mulheres de cabelo castanho da aldeia.
— Tem certeza que era a aldeia correta?
— Sim, Harald. Seguimos suas instruções estritamente. — escutou Tage
dizer.
— Pra que isto, marido?— perguntou uma mulher.
Fez-se o silêncio na sala, Maisey impaciente olhou a seu redor. Viu um barril
em uma esquina e subiu muito devagar para não fazer ruído. Um homem
estava sentado em uma enorme cadeira. Maisey perdeu o fôlego ao vê-lo
porque soube imediatamente. Estava vendo seu pai. A emoção a embargou
levando uma mão ao peito. Era forte como havia dito sua mãe e embora fosse
mais velho, ainda conservava sua força. Olhou seu cabelo loiro e era certo
que o tinha mais escuro que ela. Sorriu olhando-o atentamente. Dali não
podia ver seus olhos, que nesse momento pareciam zangados. Não levava o
torso nu mas sim levava uma camisa azul e umas calças de fino couro. Suas
botas chegavam a seus joelhos e por seu contorno, Maisey se deu conta de
que ainda conservava uns bons músculos.
— Não se intrometa, Tashia. –disse seu pai levantando-se de seu assento e
olhando às mulheres. Sua cara de decepção era evidente e Maisey se
emocionou. Procurava a sua mãe. Mordeu o lábio inferior, não querendo
chorar pelo amor perdido de seus pais. Maisey procurou com o olhar a Roald
que estava com os braços cruzados olhando seu pai.
— Assim são as únicas.
— Sim, Jarl. — Roald olhou à mulher morena da mecha branca que o
interrogou com o olhar. Roald a ignorou enquanto seu pai revisava às
mulheres.
Ao chegar à última apertou os lábios antes de lhes dizer— Repartir isso .
Os homens ficaram a discutir e ela assombrada viu que vários começavam a
brigar por elas. Viu Tavie morta de medo entre dois homens. Estes tinham
idade de serem seu pai.
— Basta!— gritou ela furiosa deixando cair a pele que a cobria. Ninguém a
escutou e ela desceu do barril. A menina lhe mostrou um grande prato de
ferro pendurado em uns paus e um martelo. Aproximou-se a toda pressa e
com o martelo golpeou o prato várias vezes fazendo um grande estrondo.
Todos ficaram em silêncio virando a volta. Maisey se endireitou com o martelo
na mão.
— Quem deu o alarme?— perguntou seu pai zangado.
Maisey levantou o queixo e vários se separaram fazendo um corredor até o
centro onde estavam as garotas e seu pai. Maisey olhou a seu pai nos olhos e
sorriu. A cara de surpresa do Harald não passou despercebida a ninguém,
menos ao Roald que furioso deu um passo à frente. — Ela é minha! Eu a
capturei! Pertence-me.
Harald não lhe fez caso enquanto dava um passo para ela. Maisey não o
suportou mais e correu para ele atirando-se a seu pescoço. Harald a abraçou
fortemente enquanto Maisey chorava — Te encontrei –lhe sussurrou ao
ouvido — Não posso acreditar isso.
Seu pai a levantou apertando-a contra ele— Minha menina.
Todos ofegaram para ouvi-lo.
— Harald, é minha!— gritou Roald furioso dando um passo para eles com os
punhos fechados. Valgard o agarrou do braço, mas ele se soltou furioso.
Seu pai a deixou no chão muito emocionado— É igual a sua mãe. —
sussurrou lhe acariciando a cara.
— Seriamente?— suas lágrimas caíam por suas bochechas Se olharam nos
olhos que eram da mesma cor— O que ocorreu?
— A levaram as febres.
— Quando?
— Faz um ano.
Ele fechou os olhos gritando de dor e lhe abraçou pela cintura lhe
consolando.
— Por todos os Deuses o que ocorre aqui?— perguntou a mulher morena
levantando-se de seu assento.
Harald a apertou a ele e sem fazer caso a ninguém a levou até uma larga
mesa onde a sentou. Todos ofegaram ao ver o lugar que ocupava na cabeceira
da mesa. Seu pai se sentou em outra cadeira diante ela— Não se casou?—
olharam-se nos olhos e lhe agarrou as mãos — Não tinha que havê-la
deixado, verdade?
Os olhos do Maisey se encheram de lágrimas— Não! –gritou-lhe para
estupefação de todos— Nos deixou! Não tinha que havê-lo feito!
Harald sorriu lhe apertando as mãos — Acreditava que fazia o melhor. Como
se chama?
— Maisey. — respondeu correspondendo seu sorriso.
Olhou-a sem perder um detalhe— Ao menos tenho a ti. –sussurrou.
Roald ficou a seu lado com os braços cruzados— Te advirto que se tiver que
me desafiar contigo , farei.
Harald levantou a vista divertido — Maisey o que ele está dizendo?
— OH, se empenha em dizer que sou dele.
— Seriamente?— seu pai ficou de pé enquanto todos murmuravam — Quais
foram minhas ordens, Roald?
— Trazer as mulheres de cabelo castanho. Mas ela não tem o cabelo
castanho.
— Tinha-o quando me conheceu. — disse ela sorrindo de orelha a orelha—
Mas caiu a tintura.
Seu pai pôs-se a rir a gargalhadas surpreendendo a todos — Então que me
trouxe ela porque era castanha.
— Sim. — grunhiu ele irritado. Percebia-se de longe que ele não entendia
nada.
— Sinto muito, filho. Não lhe posso dar isso. — Harald também estava sem
entender nada.
— Como que não?— Roald estava furioso.
— Façamos um desafio. — disse Valgard comendo-lhe com os olhos.
— Afaste se não quiser que eu te parta a cabeça!— gritou-lhe Harald
deixando claro quem mandava.
Tage e Sorem os olhavam preocupados. Olav sorria ao lado do Thorbert que
olhava pra ela como se quizesse matá-la.
Harald voltou a olhar pra Roald. Observaram-se um momento e seu pai disse
— Maisey…
— Sim? – começava a divertir-se.
— Ele te tocou?
— Sim.
— Violou-te?
Ela se mordeu o lábio inferior pois não queria mentir pra seu pai.
–Sim. — sussurrou — Mas não foi grande coisa.
Todos puserem-se a rir e Roald a olhou zangado.
— Fez algo mais?
— Não sei a que vem isto, mas ela é minha!— gritou Roald fora de si.
— Pegou-me e me matou. — seu pai a olhou surpreso— Embora logo voltei
para a vida.
— Está abençoada pelos Deuses, meu Jarl. –disse Tage sorrindo.
Harald não deixava de olhar pra Roald que estava tenso como um arco — Não
a merece.
— É minha.
Seu pai a olhou— O que quer fazer?
— Não pergunte a ela!
— Cale a boca!— Harald voltou a olhar a sua filha e perguntou muito sério —
O que quer fazer?
Ela se levantou sorrindo e ficou diante de Roald com as mãos nos quadris —
Preciosa…— a advertência de sua voz indicava que não estava para
brincadeiras.
Maisey sorriu — Pai, disse-lhe que você o estriparia.
Os ofegos os rodearam entendendo a situação, enquanto que ela sorria
abertamente vendo como Roald se esticava.
— Seriamente, filha? — Harald se colocou atrás dela fulminando Roald.
— Como que pai?— gritou a mulher morena.
Todos a ignoraram pelo duelo que havia entre Harald e Roald.
— Não sabia que era tua filha. Mentiu pra mim.
— Não sabia que ele era meu pai. Para estar segura tinha que vê-lo. — disse
divertida.— E olhe pra ele, ele é.
Roald grunhiu sem deixar de olhar pra Harald — O que pensa fazer?
— É minha filha e você a quer?
— Não é justo!— gritou Valgard— Eu também a quero!
Seu pai olhou ao irmão de Roald— Idiota ainda não entendeste que é sua
irmã?
Maisey olhando pra Roald empalideceu— É meu irmão?
— Não. — voltou a grunhir irritado sem deixar de olhá-la.
— Ele é filho de minha esposa. — disse Harald agarrando-a pelos ombros
para apartá-la. Seu pai e Roald se olharam fixamente — Sabe o que tem que
fazer?
— Sim, Jarl.
— Cumprirá com seu dever?
Ele assentiu olhando-a de lado. Ela semicerrou os olhos sem entender o que
estava acontecendo
— A protegerá e cuidará?
— Sim, Jarl.
Seu pai se aproximou de seu rosto— Se souber que fez mal a ela de algum
jeito, esfolo-te vivo…
Roald estreitou os olhos— Não conhece sua filha. Dentro de uns dias me
suplicará que a dome. — disse no idioma de seu pai.
Ela ofegou indignada e respondeu no mesmo idioma— Seu idiota, não fale
com meu pai assim sobre mim!
Todos a olharam surpreendidos e Olav gargalhou. — Sabia!
Harald sorriu abertamente e a agarrou pela cintura levantando-a enquanto
gritava.— Aqui têm a minha filha. Maisey, filha do Harald e esposa do Roald.
— ela ficou com a boca aberta e olhou pra Roald que sorriu satisfeito
cruzando os braços. Seu olhar não pressagiava nada bom enquanto todos
aclamavam. Estava-lhe dizendo que as pagaria todas juntas.
Quando seu pai a deixou no chão e Roald a agarrou pelos ombros pegando-a
a seu peito— Agora sim que é totalmente minha. — disse ele a seu ouvido.
Maisey olhou pra seu pai que estava dando um discurso — Vai ser muito
interessante, preciosa.
Ela olhou a seu redor e viu o olhar de ódio da mulher de seu pai. Tashia não
aceitou muito bem sua chegada. Seus olhos indicavam que a odiava. Ao
seguir observando viu Tavie escondida entre as mulheres — Pai…
— Sim, filha?
— Essa menina é minha. — disse apontando pra Tavie.
— Maisey…
— É minha!— gritou olhando à menina— Salvei a vida e é minha. — seu pai
assentiu e fez sinal pra menina, que se aproximou dela a toda pressa —
Ninguém a tocará porque é minha. E se me inteirar que algum homem ponha
um dedo em cima dela os cortarei todos. — disse-o de tal maneira que
acreditaram. Ah se acreditaram. Ao fim e ao cabo era filha de seu pai. Seu pai
riu a gargalhadas e gritou— Hoje é dia de festa! Celebramos a chegada de
minha filha e seu casamento!
Todos aclamaram e sussurrou a Tavie em seu idioma— Não se separe de
mim.
A menina assentiu. Sentaram-se a enorme mesa. Tavie ficou atrás dela e
como uma boa serva, encarregou-se de que não lhe faltasse nada. Serviram
carne de cervo e ela achou deliciosa.
— Me diga, filho algum problema na viagem?— perguntou seu pai olhando ao
Roald.
— Além de sua filha?— seus homens começaram a rir e ela os fulminou com
o olhar.
Harald sorriu apoiando suas costas no respaldo de sua grande cadeira— Diz
como se fosse um problema mais que uma bênção.
— É questão de opiniões.
— Diz isso porque subi em uma árvore. É um rancoroso. — disse ela antes de
mastigar.
— Preciosa porque não come e se cala?
Ela sorriu amorosa –Morra!
Seu pai gargalhava e deu vários golpes na mesa que todos acompanharam.
As bandejas de comida ricocheteavam na mesa e Tavie agarrou sua jarra para
que não derramasse.
— É uma lutadora de primeira, Harald. É ágil e muito rápida. — disse Sorem
com admiração.
Ruborizou-se ligeiramente enquanto todos a olhavam — E com o arco é letal.
— acrescentou Roald.
Harald a olhou com um sorriso nostálgico— Então ela te ensinou a se
proteger.
Emocionada assentiu — Sim, praticava todos os dias.
— E quem te ensinou nossa língua?
— Uma mulher que vivia perto de nós. Era viking.
— Ensinou-te bem.
— Foi muito boa conosco. — Deu uma piscadela e Roald franziu o cenho.
— Preciosa, entendeste tudo o que dissemos durante a viagem, verdade?
Seu pai pôs-se a rir entendendo— Sim. Tinha que saber o que pretendiam. —
disse como se ele fosse estúpido. Seu pai agarrou o estômago sem deixar de
rir.
— É inteligente, minha filha.
Roald grunhiu antes de meter uma parte de carne na boca. Maisey olhou a
seu redor e viu as gêmeas cochichando no que parecia. — Essas no salão são
suas gêmeas?
Fez-se o silêncio na mesa e Roald a fulminou com o olhar— Maisey…
Ela sorriu –Tranquilo…Só perguntava. — levantou-se de repente e lançou
uma faca que ninguém sabia que tinha na mão. A faca passou entre as
cabeças das gêmeas cravando-se no enorme poste que havia detrás. As
garotas olharam para trás e gritaram horrorizadas antes de sair correndo
uma pra cada lado — Olhem, podem separar-se.
Seus homens puseram-se a rir enquanto outros a olhavam atônitos. Voltou a
se sentar sorrindo abertamente e olhou a seu pai que a observava com
admiração.
— Sua mãe te ensinou bem, pequena.
— Obrigada, pai.
Lançou um olhar pra Roald que parecia que queria estrangulá-la.— Marido,
ponha outra cara. É nossa celebração.
Apertou os olhos e agarrou sua mão delicadamente.— Maisey…
— Sim, marido?— perguntou olhando-o nos olhos como se fosse a melhor
pessoa do mundo.
Ele levantou sua mão e a levou até sua boca beijando sua palma lhe cortando
o fôlego— Deixa as facas.
— Sim, esposo.
Harald riu e levantou sua caneca— Quero brindar por minha filha e por seu
casamento!— Todos aclamaram levantando-se com as canecas na mão —
Pelos netos que me dê com Roald o grande!
O grande? Ela o olhou a seu lado. Era certo que era grande e era dela. Sorriu
radiante olhando a seu pai — E por sua nova vida entre nós. Espero que
todos lhe dêem as boas-vindas como merece.
O olhar da mãe do Roald lhe indicava que não ia dar nenhuma boa-vinda.
Maisey levantou o queixo. Não ia poder com ela.
Capítulo 7
Deitou-se por um momento, mas não podia dormir. Estava muito excitada,
assim que se deu por vencida e depois de um par de horas saiu da casa. No
alpendre estavam esperando-a todo seu clã— Como está, princesa?
Ela olhou ao Olav e sorriu— Bem.
— Filha, se não quiser fazê-lo…
— Não a ponham nervosa. — disse Roald olhando-a fixamente — Está
pronta?— olharam-se nos olhos e assentiu— Necessita água fria?
— Água fria?— perguntou Tage surpreso— Tem sede?
Eles não lhe fizeram caso –Não sei.
— Deixarei um balde perto. Se precisar, diga-me e lhe jogo a água quando se
aproximar.
— Está bem.
Os homens os olharam como se eles estivessem loucos.
— Vamos preciosa, quanto antes melhor.
Faste e outros se uniram ao seu grupo com ela à cabeça. Olav lhe deu uma
adaga e ela olhou seu amigo— Sem piedade, princesa.
— Sim, amigo. — olhou seu pai que a tocou nas bochechas— Sinto tudo isto.
— Fez o correto. Agora termina-o. — disse olhando-a seriamente — Se tiver
que matar, não duvide.
— Sim, pai. — disse endireitando-se. Harald a beijou na bochecha e ela
sussurrou a seu ouvido— Cuida de Tavie se eu não sair desta.
Seu pai emocionado se afastou e ela se voltou para seu marido — Se notar
que está perdendo o fôlego, grita meu nome — disse ele tenso.
— Está bem.
— Vamos começar?— perguntou Galt divertido.
— Tem pressa por morrer?— as risadas de seus clãs incomodaram Galt.
— Tome cuidado, preciosa.
— Vejo-te logo. Reserve energias para quando eu te atacar. — Ela piscou um
olho pra ele antes de entrar no círculo que se formou.
Galt sorriu sem vontade e ela disse pra si mesma que não estava tão crédulo
como tentava aparentar — Ainda pode se render — disse ele.
— Estava pensando o mesmo pra você. — as risadas os rodearam e ela ficou
em posição de ataque.
— Você quem quis.
Galt dobrou os joelhos e caminhou em círculo vários passos. Todos
esperavam seu primeiro ataque e Galt não o levou a cabo esperando um dela.
Ela fez uma ameaça com a adaga para movê-lo e Galt atacou. Sua adaga
passou tão perto de seu ombro que cortou o vestido. Aproveitando a posição,
agarrou seu braço e lhe deu uma cotovelada no peito, mas ele quase nem se
alterou, pois era muito forte. Agarrou-a por sua trança com a outra mão e
girou-a rindo.
— Isto vai ser tão fácil, que é engraçado.
Maisey levou a mão entre as pernas dele e apertou com força fazendo-o
gemer. Ao aproximar sua cara a dela, Maisey golpeou-lhe com a frente no
nariz rompendo-lhe, se afastou assim que lhe soltou o cabelo. Aproveitando
sua vantagem o golpeou no joelho e ouviu um rangido — Sem piedade,
princesa!— gritou Olav.
Galt perdeu o equilíbrio, mas com sua adaga fez um ataque, cravando na
coxa de Maisey. Ela reprimiu um grito não querendo preocupar aos seus,
mas eles tinham notado como ela foi atingida.
— Maisey!— gritou Roald. Seus homens tiveram que segurá-lo enquanto Galt
tirava a adaga de sua coxa. Furiosa golpeou-lhe com o punho livre no nariz
quebrado e depois lhe agarrou o cabelo e golpeando-lhe com a perna ferida
deu joelhadas em sua cara várias vezes até fazê-lo cair de costas.
— Rende-se?
— Morre, vadia. — disse com a boca cheia de sangue.
Maisey se aproximou dele— Tome cuidado!— gritou seu marido enquanto ela
dava um chute entre suas pernas que o fez uivar. Atirou-se sobre ele, mas
antes de dar-se conta Galt rodou colocando-se em cima e pondo sua adaga
em seu flanco sem dar-se conta que Maisey cravava a sua até o fundo
debaixo de sua axila.
Ficaram olhando-se surpreendidos e nenhum dos dois se moveu enquanto
todos os espectadores observavam. Galt tossiu salpicando-a com seu sangue
na cara, antes que sua cabeça caísse sobre a grama, sem vida. Ninguém se
moveu esperando e Maisey se afastou lentamente tentando levantar-se. Uns
braços a levantaram e abraçou Roald que a apertou fortemente— Não sairá
mais de casa.
— Roald, ela está sangrando muito. — disse seu pai preocupado.
Antes que percebesse ele a pegou nos braços e a levou até uma das cabanas.
Os homens atiraram as panelas no chão para deitá-la na mesa. Tyree agarrou
uma faca para rasgar suas calças. Maisey tentou olhar, mas seu marido a
impediu— Me deixe ver!
— Tyree se encarregará.
— Acredito que está deixando de sangrar. — disse Tyree levantando sua
perna — Sim, por trás já não sangra.
— Enfaixa-a! Fortemente. — disse irritada consigo mesma. Olhou seu marido
e sorriu — Eu consegui.
— Sim, quase não deu conta. — disse ele furioso— Quando ele girou
colocando-se sobre você…
— Venci-lhe. — sorriu triunfante e vários puseram-se a rir.
— É a Jarl de três clãs!— gritou Olav enquanto outros a animavam.
— A viking mais poderosa!
Ela revirou os olhos e sorriu pra seu marido— Agora falta você.
— Não penso te desafiar. E menos ainda nestas condições. Todos diriam que
me aproveitei. — disse aproximando-se e beijando-a nos lábios.
— Estou bem!— gritou ela afastando-o.
— Filha, tem que descansar!
— Saiam!— gritou a todos farta daquilo. Viu que sua coxa estava fortemente
enfaixada e baixou as pernas da mesa — Olav!
Seu amigo se aproximou e lhe entregou a adaga— É muito, princesa.
Ela apertou os lábios agarrando a adaga e olhou a seu marido— Fora, agora!
Roald entrecerrou os olhos.— Isso é ridículo.
— Isso me dirá quando eu tiver te vencido.
Voltou-se deixando-o ali e caminhou sem mostrar a dor que começava a
percorrê-la cada vez que dava um passo. Saiu ao exterior e os homens ali
reunidos a animaram. Sorriu olhando a seus súditos e desceu os degraus. O
corpo do Galt tinha desaparecido e ela se aproximou da mancha de sangue.
Olhou a seu redor e viu os homens do Galt que agacharam a cabeça em sinal
de reconhecimento— Cumprirão a palavra do Galt?
— Sim, meu Jarl. — disseram juntos. — Nosso clã é teu.
Ao sentir Roald atrás dela se voltou olhando seu marido nos olhos— Está
preparado?
— Maisey…— sussurrou entre dentes— Está ferida. Não pode seguir com
isto.
Ela entrecerrou os olhos— Recusa o desafio?
Roald se endireitou— Sim.
O mundo lhe caiu ao entender que ele não lutaria por ela. Sentiu uma dor no
peito olhando seus olhos— Então já não é meu marido. — disse quase sem
voz.
— Deixa de dizer tolices, Maisey— sussurrou tentando tocá-la no braço.
Ela se afastou e gritou — Se afaste!— os homens se esticaram e vários
tiraram suas armas— Se não quiser brigar pra ser meu marido, perde esse
privilégio!
Roald se endireitou furioso— E o que devo fazer, te vencer quando está
ferida? Até eu tenho orgulho e não vou brigar com quem já é minha esposa,
por algo que é meu!
Os murmúrios os rodearam— Isso se me vencer.
— De qualquer maneira, se você tanto se empenha em não ser minha esposa,
não vou obrigá-la! — disse furioso— Assim não lutarei!
— Não lutarei, meu Jarl!— terminou por ele.
Roald semicerrou os olhos — Meu Jarl.
Ela elevou o queixo e se voltou olhando seu pai que estava atônito. — Pai,
volte para a aldeia. Terão notícias minhas.— disse ela morta de dor, tentando
que não notassem.
— Mas filha…
— Olav, fica aqui.
— Sim, meu Jarl. — disse aproximando-se rapidamente olhando de esguelha
pra Roald que apertava os punhos furioso.
Aproximou-se de um dos homens do Galt— Quem é o segundo no comando?
Um dos homens se aproximou –Eu, meu Jarl. Meu nome é Harold.
— Harold volta para seu povo. De momento você terá esse cargo. Assim que
resolva vários assuntos, passarei por lá e contarei meus planos.
— Sim, meu Jarl. — os homens do Galt que agora eram seus homens se
voltaram para seus cavalos e empreenderam a viagem.
— Maisey…— sussurrou Olav— Fala com ele. Não deixe as coisas assim.
— Não tenho nada mais que falar. — encaminhou-se até a cabana de Tyree—
Faste! Consiga-me uma cabana!
— Sim, meu Jarl.
Ignorando a todos entrou na cabana de Tyree e fechou a porta ficando
sozinha. Então se deixou levar pela dor que estava sentindo. Gemeu levando
as mãos ao estômago e chorou deixando-se cair no chão de joelhos sentindo
uma dor dilaceradora que não a deixava respirar. Não podia acreditar depois
de tudo o que Roald lhe havia dito, que se negasse a lutar por ela. Sentia-se
traída. Um homem que não tem palavra não é nada, havia-lhe dito sua mãe.
E tinha razão.
Levantou-se e lentamente foi até a cama. Deixou-se cair e gemeu pela dor que
transpassou sua perna. Desmaiou imediatamente.
Tyree a sacudiu e abriu os olhos esgotada— Meu Jarl, tem febre.
— Me traga a curandeira.
A mulher saiu apressadamente e Maisey levou a mão à frente. A maldita
punhalada, a ia deixar uns dias doente. A curandeira chegou em seguida com
Tyree a seu lado— O que devo fazer, meu Jarl?
Maisey olhou à curandeira— Traga-me as ervas que tem para febre.
A mulher apertou as mãos nervosa— Não sei quais são, meu Jarl.
— Por todos os Deuses, acaso não aprendeste nada de sua mãe?
— Sinto muito. — disse a beira das lágrimas.
— É incrível que não tenha matado ninguém.
Tyree olhou à garota de soslaio e se deu conta que sim tinha matado a
alguém— Sua cabana está muito longe?
— Está aqui ao lado. — disse Tyree— Me diga de que precisa e eu trarei.
— Tenho que vê-las. — Ergueu-se com esforço sentando-se na cama. Quase
não tinha forças— Chama o Olav.
Tyree saiu correndo e a curandeira a agarrou pela cintura para levantá-la—
Tem sorte que esteja doente, porque merece uma surra por não observar com
atenção.
— Sim, meu Jarl.
A mulher estava assustada e não se surpreendeu. Uma palavra dela e podia
acabar com a cabeça separada do corpo. Estavam saindo da casa quando
Olav chegou correndo— O que ocorre, meu Jarl?
— Me ajude a chegar à casa da curandeira.
Olav a pegou nos braços e seguiu a mulher. Ao entrar na cabana, Maisey viu
vários potes — Me leve ali.
Seu amigo o fez rapidamente e ela revisou vários. Abriu um deles e cheirou—
Este.
— O que quer que faça com ele?
— Necessito água quente. Olav, me sente sobre a mesa.
Assim que o fez começou a tirar a atadura de sua perna. Ao ver sua coxa
entrecerrou os olhos ao ver pus amarelado na ferida— Tenho que tirar pus de
minha perna.
— O que faço? — Olhou a seu amigo— Lave bem as mãos com água quente.
Olav fez o que lhe mandou, inclusive usou sabão. Aproximou-se dela quando
a curandeira se aproximava com a água quente.
— Traz um pano limpo.
Quando o deixou sobre a mesa olhou a seu amigo— Tem que apertar a ferida
até que o sangue saia limpo.
— Por todos os Deuses — Olav empalideceu — Vai doer.
— Tyree, me dê algo para morder.
Seu amiga lhe estendeu uma colher de madeira e ela a pôs entre os dentes.
Assentiu antes que seu amigo aproximasse a mão de sua coxa apertando com
força. A dor era insuportável, enquanto a ferida arrebentava salpicando
sangue. Olav voltou a fazê-lo para assegurar-se e quando terminou, molhou a
ferida com a água quente fazendo-a gritar arqueando as costas. Aliviada
quando a dor diminuiu, olhou em seus olhos.
— Agora por trás. — disse sem fôlego.
— Por todos os Deuses.
Voltaram-na com cuidado e repetiram o processo. Ao terminar, com a
bochecha sobre a mesa sussurrou— Pegue as ervas. Punha um punhado
delas na água quente. Amasse até fazer uma massa e ponha na ferida antes
de voltar a me enfaixar.
— Qual quantidade? — a curandeira lhe pôs o pote diante com um concha e
Maisey esticou a mão agarrando a quantidade que desejava — Agora faz o
que te digo.
— Sim, meu Jarl.
Quando terminaram estava esgotada e Olav voltou a leva-la pra cabana de
Tyree para deitá-la na cama — Não, me deixe em minha cabana.
— Não, meu Jarl. — disse Tyree — Não te deixarei sozinha estando doente.
Dormirá a meu lado.
Sorriu sem forças fechando os olhos. Olav a olhou preocupado— Deveria
avisar seu pai ou a seu marido.
— Fecha a boca, amigo. Eu não estou casada.
Olav estalou a língua— Será seu marido até o dia em que morra.
— Isso mesmo dizia ele e logo não lutou por mim. — sussurrou até dormir.
— E esse é o problema não é verdade, princesa?
Os dias seguintes teve que descansar e sorriu ao escutar os gritos do Rutger
quando se inteirou que já não era o Jarl. Abriu a porta da cabana de repente
e o menino de Tyree pôs-se a chorar. Ali estava seu tio com um humor
terrível.
— Como se atreve?
— A quê?
— A roubar o que é meu!— gritou furioso.
— Desculpa, mas não perdeu o desafio?
Rutger se ruborizou— Sim.
— Então entendi mal a minha gente? Quem ganha do Jarl em um desafio não
é o novo Jarl?
Era bonito até quando grunhia — Pois então sou seu Jarl. — olhou-o nos
olhos muito séria — Como sou a Jarl de meu povo e do de Galt.
Abriu os olhos atônito— Desafiou todos?— depois entrecerrou os olhos— O
que é que buscas?
— Procuro fazer o povo forte. Não diminui-los com essas batalhas e suas
disputas, que só levam destruição e ódio. A partir de agora mando eu! E farão
as coisas como eu disser.
— Está louca!
Tyree ofegou— Não fale assim com o Jarl.
Agora ele não tinha autoridade e se surpreendeu que uma simples mulher lhe
falasse assim.
— Fecha a boca, mulher.
Maisey tirou as pernas da cama levantando-se, mostrando a camisola branca
que levava— Falará com respeito comigo e com a minha gente também! Se
não, já sabe o que tem que fazer.
— Está me expulsando de minha própria aldeia?
— É minha aldeia!— gritou furiosa.
Faste se apresentou atrás do Rutger— O que está acontecendo aqui?
— Ao que parece seu antigo Jarl não compreende suas próprias regras.
Explique-as pra ele.
— Filho, saia daí. — a voz autoritária da avó fez que Rutger se endireitasse
virando-se.
— Você também, mãe?
— Os fatos são iguais para todos. Dê-se por satisfeito porque ela não te tirou
a vida, mas sim também lhe devolveu isso.
— Avó. Disse ao tio a boa nova?— Maisey se aproximou da porta divertida
para ver ali metade do clã.
Rutger arregalou os olhos— Avó?
— Vem filho, tenho coisas que te explicar.
Em choque se deixou levar por sua mãe— Ela disse avó?
— Meu céu, ainda não está totalmente bem, não é verdade?
— Tenho que ver com quem o caso. — disse ela voltando-se para o Olav—
Tem o que te pedi?
— Sim, princesa. — entrou na casa atrás dela e se sentou a seu lado na cama
— Mais ao norte há três Jarl. Só um está viúvo. Mas os outros têm filhas
casadoiras.
— Bem. Amanhã vamos pra casa. Há muito o que fazer.
Olav sorriu— Já está bem?
— Estou bem para a viagem. — disse desviando o olhar — Três mulheres
virão conosco. Tyree, as escolha. Solteiras em idade de se casar e que não
sejam muito feias.
— Sim, Jarl.
— Funcionará?
— Se queremos ser fortes temos que ser um. Não três tribos separadas, e sim
uma somente.
Olav sorriu— Seu pai vai gritar pra o céu quando se inteirar.
— Quando lhe disser que Valgard será um dos que deve se casar, me
agradecerá.
Olav pôs-se a rir enquanto saía da casa.
— Você começará com a gente não é? Mas não vai parar aí... — Tyree
disse. — É por isso que pediu essa informação para Olav.
— É esperta, Tyree. Será meus olhos e meus lábios enquanto eu não estever
na aldeia.
Tyree a olhou surpreendida— E Rutger?
— Você vai fazer tudo certo. Ele não ficará aqui. — disse maliciosa— Me
disseram que mais ao norte faz um frio horrível no inverno.
Tyree riu muito. — Será má.
No dia seguinte lhe deram um cavalo. Na viagem só foram três homens dos
quais ainda não sabia o nome, além do Faste, Olav e as três garotas. Sua avó
se despediu abraçando-a— Volta logo. Não tivemos oportunidade de falar
muito e quero te conhecer melhor antes de morrer.
Maisey riu e lhe deu um beijo de despedida. Rutger a olhava com o cenho
franzido e ela se aproximou— Tio, deixei Tyree no comando e caso não
cumpra com seu dever, saberei cedo ou tarde. — disse como se falasse com
um menino.
— Está começando a me chatear, sobrinha.
Piscou um olho surpreendendo-o e subiu ao cavalo — Quero que em minha
ausência façam mais dez cabanas.
— Sim, Jarl. — disse Tyree com seu filho nos braços— Raynor se encarregará
da construção.
— Voltarei em uns dias. Quero solucionar tudo antes de que a neve chegue.
— agarrou as rédeas e começou o caminho com Faste a um lado e Olav do
outro.
Dormiram ao relento e se deu conta que as mulheres estavam preocupadas.
Ao amanhecer ela se aproximou e as levou para um lado.
— Quero que saibam o que irão enfrentar. — as mulheres sorriram
agradecidas— Mostrarei pra vocês uns homens que procuram esposa e vocês
escolherão o que mais gostarem.
— E se nós não gostarmos de nenhum?
Ela entrecerrou os olhos, pois não tinha pensado que não gostariam de
nenhum— Veremos o que ocorre, de acordo? Se vocês não gostarem de
nenhum tentaremos na seguinte aldeia.
Suspiraram aliviadas.
Chegaram no meio da tarde e suspirou de alívio ao deter o cavalo porque lhe
doía a perna. Diante da casa do Jarl vários os observavam chegar e ela sorriu
a seu pai que se aproximou com os braços abertos abraçando-a como um
urso— Como está, filha?
— Vamos entrar e conversar. Como está? Dói-te o ouvido?
Seu pai sorriu levando-a pra dentro. Surpreendeu-se ao não ver Tage e os
outros — Onde estão os homens?
Harald se sentou a seu lado na cabeceira da mesa— Se foram, Maisey.
Essas palavras a deixaram sem fala— O que quer dizer com isso?
— Roald e seus amigos se foram da aldeia. Para fazer fortuna. Não acredito
que voltem.
Atônita se levantou sussurrando— Depois conversaremos.
Saiu da casa enquanto seus homens a olhavam preocupados. Foi até sua
casa e entrou. Tavie gritou de alegria ao vê-la e se atirou a seus braços.
— Retornaste…— se agarrou a ela e Maisey fez o mesmo.
— Como está, pequena?
Tavie assentiu— Bem, mas não vá outra vez.
Maisey a apartou para lhe ver a cara— Tudo ficará bem.
— Roald se foi. O dia em que chegou, foi embora. — disse Tavie chorando.
Maisey passou a mão por seu cabelo castanho com carinho — Sei.
— Tem que fazer algo. Tem que fazer com que ele volte.
— Não sei onde ele está. — sentia que as lágrimas corriam por suas
bochechas sem poder evitar. Tavie lhe acariciou as bochechas limpando seu
pranto.
— Voltará em algum momento.
Maisey assentiu e se voltaram quando Raio entrou na casa. Aproximou-se de
sua dona rondando sua perna notando que estava triste— É teu?
Ela sorriu com tristeza agachando-se a seu lado — Veio me buscar. Chama-
se Raio. — abraçou-se a seu pescoço escondendo sua cara em sua densa
pelagem— Foi meu único amigo durante muito tempo.
Tavie sorriu ajoelhando-se a seu lado e Raio lhe lambeu a cara fazendo-a rir—
É carinhoso.
— Sim, ele é. — disse acariciando seu lombo com tristeza— Quando eu não
esteja contigo, protegerá-te. Cuidará de ti como o fez comigo.
A menina a olhou— Obrigada. Agora me conte porque é a Jarl. Ouvi-lhes
falar, mas só Lala me fala em meu idioma e ela tampouco entende o que está
passando.
Explicou à menina seus planos e sorriu— Assim vais fazer que se casem
entre eles para que se unam.
— Exato.
— E com quem vai me casar?
Não havia temor em suas palavras, a não ser resignação— Não vou te casar
com ninguém. É muito jovem.
— Tenho quatorze anos.
Maisey a olhou surpresa— Quatorze?
Tavie corou— É que ainda não me desenvolvi, mas tenho quatorze. — disse
tocando seus seios.
— Se eu lhe…— interrompeu dando-se conta que a estava envergonhando —
Sinto muito.
— Não se preocupe. Algum dia me nascerão os seios maiores da redondeza.
— disse levantando o queixo.
Maisey pôs-se a rir— Não ficará confortável com eles, asseguro-lhe isso. —
olharam-se durante um momento— É muito jovem para se casar.
— Faz muito que não tenho família…— disse abaixando a cabeça— nem um
lar. Quero ter um.
Entendia-a perfeitamente e embora fosse muito jovem, se queria casar
ajudaria — Você gosta de algum daqui? Eu não gostaria que estivesse longe
de mim.
A garota sorriu de orelha a orelha— Há um que me parece agradável, mas
não me olhará nunca.
— Quem é?— perguntou intrigada.
Ruborizou-se ligeiramente— É Tage.
Maisey gargalhou— Não pode ser!
Tavie sorriu— É agradável comigo.
— Sim, ele é.
— Mas nunca me quererá como esposa.
Maisey entrecerrou os olhos — Isso é o que veremos. No momento vai
começar a tomar umas ervas que dão força. Parece-me que não lhe
alimentaram muito bem e necessita essa força para crescer.
— Você acha?— a garota animada aplaudiu— Posso fazer algo mais para
isto?— disse alisando seu peito plano.
Maisey pôs-se a rir— Dizem que o caldo de frango ajuda, mas me parece um
conto de velhas.
A porta da casa se abriu lentamente e seu pai as viu sentadas no chão com
Raio deitado a seu lado— Filha, devemos falar.
— Sei. — sorriu a seu pai que se aproximou lentamente— Tavie pode nos
deixar sozinhos?
— Vou pegar um frango. — disse levantando-se rapidamente fazendo-a rir.
Harald a viu sair— Ela disse frango?
— Coisas de mulheres. — seu pai pareceu um pouco incômodado e se
levantou agarrando sua mão. Sentaram-se à mesa e Maisey o olhou nos
olhos. Os mesmos olhos que os seus. — O plano não saiu muito bem.
— Sei. — acariciou-lhe o cabelo — Quando me desafiou me dei conta do que
se propunha, mas Roald é muito teimoso.
— Estragou tudo!— disse frustrada — Se tivesse me vencido, agora seria o
Jarl de todos, mas teve que negar-se! — e zangando-se levantou— Tenho um
marido que é idiota!
— Você não está zangada por isso.
— Claro que sim! Agora sou a Jarl de uma gente que nem conheço. Eu não
queria isto.
— Você está doída porque não lutou por ti.
— Isso também! Disse que o faria e me decepcionou. Já não é meu marido!
Voltou-se para ocultar sua dor. As mãos de seu pai em seus ombros a
reconfortaram— Tem que entender Roald. Brigar contra sua esposa, que além
disso estava ferida, para seguir casado com ela, é um pouco humilhante. Ele
teria te vencido. Todos sabem.
— Isso não importa.
— É um guerreiro e tem seu orgulho. Que tenha dito diante de todos que não
queria continuar casada com ele, foi muito duro para Roald. E que te
empenhasse em que lutasse, mais ainda.
Não tinha visto desse ponto de vista e apertou os lábios. Gemeu tampando o
rosto— Não sei como arrumar isto.
— No momento é a Jarl e deve cumprir com seu dever até que possamos
arrumá-lo. Pode fazê-lo. Ganhaste o respeito de todos.
Maisey se voltou e o abraçou com força— Me alegro de ter te encontrado.
— Não tanto como eu, filha. — disse contra ela antes de lhe beijar a cabeça—
Agora me conte seus planos.
Estiveram falando horas e só quando as tripas de Maisey protestaram,
reuniram-se com outros. As três mulheres, que tinha levado até ali, estavam
ao final da mesa e depois de jantar se aproximou delas.
— Bem, vamos começar. — olharam-na assustadas e ela sorriu para as
tranquilizar— Me escutem todos. Os homens solteiros fiquem naquela metade
do salão.
Vários olharam uns aos outros enquanto Harald ria baixo. Foram levantando
lentamente fazendo o que seu Jarl lhes ordenava. As mulheres sentadas na
mesa olhavam aos homens muito interessadas.
— Não sejam tímidas — disse-lhes — Aproximem-se. Devem se conhecer.
Uma delas se levantou rapidamente e se aproximou de um homem muito
corpulento. O homem com o cenho franzido, olhou-a de cima abaixo.
Estiveram olhando um momento até que o homem a agarrou, carregando-lhe
no ombro e levando-lhe enquanto os outros riam. Maisey sorriu. Aquilo não
seria tão difícil como esperava. Ou possivelmente tinha tido sorte. As outras
duas mulheres se aproximaram timidamente e um homem se adiantou
estendendo a mão a uma, que o observou de cima abaixo antes de olhar seus
olhos. Ela agarrou sua mão e o homem sorriu encantado.
A terceira mulher olhou aos seis homens que ficavam um por um e voltou a
passar a vista para trás entrecerrando os olhos. Um deles deu um passo
atrás e ela se aproximou furiosa com os braços nos quadris.
— Gert?— o homem gemeu surpreendendo a todos— Por todos os Deuses é
você?— o homem assentiu dando um passo à frente.
— Olá, Halley.
— Olá, Halley? É tudo o que tem que dizer depois de me deixar?
— Não te deixei. Fui fazer fortuna!— resmungou envergonhado, fazendo todos
rirem.
— Fortuna! Já te darei uma fortuna! Caminha para casa!— gritou-lhe furiosa
lhe mostrando a porta.
Todos riram vendo como com a cabeça encurvada ia para a porta enquanto
ela não deixava de lhe gritar.
Maisey pôs-se a rir e olhou a seu pai que assentiu.
Capítulo 12
Assim começou a união das tribos e seguiu com seu plano, indo de uma pra
outra com grupos de três. O mais difícil, pois não a conheciam nem um
pouco, foi a tribo do Galt. Seus homens seguiam suas instruções ao pé da
letra pois tinham dado sua palavra, mas alguns não estavam muito contentes
com seus planos até que viram as seis mulheres que ela trouxe. Três de seu
clã e três do clã Rutger. Não sobrou nenhuma mulher, todas foram bem
recebidas. Só uma delas não se decidiu por nenhum.
Chamava-se Kolina e tinha caráter. Maisey sorria interiormente com as
respostas que dava aos homens que se ruborizavam envergonhados e saíam
aterrorizados. Quando uns resmungaram— Que mulher mais insuportável.
Prefiro me casar com um cavalo que com ela. Receberei menos coices. —
Maisey decidiu falar com ela.
Saiu pra passear e a viu olhando o rio. Aproximou-se lentamente vendo-a
ensimismada em seus pensamentos. Era bonita. Tinha o cabelo loiro escuro
que caía em grossos cachos por suas costas e uns bonitos olhos cor mel. Não
entendia porque não estava casada ainda, pois devia ter vinte anos.
– Kolina?
Ruborizou-se ao vê-la e ocultou seu olhar— Meu Jarl…
— Vamos dar um passeio.
A mulher caminhava a seu lado em silêncio— Me conte o que te ocorre.
— Eu não gosto de nenhum!— exclamou frustrada fazendo-a sorrir — Não sei
para que vim.
— O que você não gosta neles?
— São estúpidos! Não me conhecem por que iriam querer casar-se comigo?
Maisey sorriu— Não dá oportunidade para que lhe conheçam. — ao ver que
se ruborizava franziu os olhos— Muito bem, quem é?
— Não sei do que fala, meu Jarl.
— Não te faça de idiota. A quem amas?
— É um idiota, cego como um morcego!— gritou frustrada— E estou farta de
que não perceba que estou viva! Vou casar- me com outro!
Maisey reteve a risada. Kolina era uma das garotas de seu clã e estava
intrigada— Quem é?
— Um idiota, já disse isso. — apertou as mãos nervosa e ao ver seu firme
olhar deixou cair os ombros— É Sorem.
Maisey abriu a boca surpreendida— Sorem?
— Sim, sei que nunca me olhará. Está apaixonado por você e não há nada
que eu possa fazer.
— Por que diz que está apaixonado por mim?
— Pelo modo como te olha!— gritou-lhe no rosto — Você é mais formosa e
luta bem e…
— Basta, Kolina!— de repente Maisey não suportou mais e começou a
gargalhar.
Kolina endireitou as costas ofendida, mas Maisey não pôde evitá-lo. Tudo
aquilo era ridículo. Tavie louca pelo Tage e Kolina por Sorem.
— Não tem graça. Não gosto de nenhum outro. Todos eu comparo com ele. —
disse deixando-se cair na erva úmida.
— Não sabemos quando voltará… prefere o esperar? Não tem obrigação de se
casar.
— Odeio-lhe. — disse a beira das lágrimas — Me casarei com outro.
Maisey suspirou agachando-se a seu lado— O que tem feito para que te note?
Kolina a olhou confusa— Não tenho que fazer nada! O homem é ele!
— Não tenho muita experiência com os homens, mas sei que para conquistá-
los tem que sorrir um pouco, que lhe vejam bonita…
— Eu não faço essas tolices!
Maisey não se deu por vencida— O que lhe disse em sua última conversa?
Kolina entrecerrou os olhos— Ei você, me passe uma parte de veado!—
Maisey pôs-se a rir a gargalhadas e Kolina zangada cruzou os braços— Não
aceito bem estas coisas!
— Estou vendo. Vem, vamos praticar. Tem que aprender a seduzir um
homem e quando terminar contigo, Sorem estará perdido.
— Jura? — perguntou esperaçosa. Maisey a observou bem e assentiu
erguendo-se.
Começaram nessa mesma noite no jantar. Maisey da cabeceira da mesa
observou Kolina e lhe fez um gesto com a cabeça indicando que começasse.
Kolina negou bebendo hidromel e ela insistiu com a cabeça. A mulher revirou
os olhos fazendo-a rir— Gosta da comida, meu Jarl?— perguntou Harold, seu
segundo no comando no clã do Galt.
— Tudo está delicioso. — respondeu com um sorriso sem deixar de olhar pra
Kolina que pegou um prato e o pôs sob o nariz do homem que tinha ao lado.
Escutou-a dizer— Quer carne?
— Já tenho. — respondeu um pouco surpreso de que lhe dirigisse a palavra.
— Come homem, que tem que encher de músculo esse braço tão adoentado.
Maisey viu como o homem se ruborizava agarrando uma parte de frango e
deixando-o em seu prato. Olhou a Kolina que ao invês de sorrir tinha uma
careta macabra na cara e Maisey já não pôde mais. Suas gargalhadas se
ouviram em todo o salão provocando os sorrisos de seus homens. Kolina
franziu o cenho e zangada deixou cair o prato no centro da mesa salpicando
de molho o homem que tinha em frente.
— Perdão, embora essa camisa já necessitasse de uma boa lavagem.
Maisey não podia parar e teve que limpar as lágrimas de seus olhos ao ver a
cara do outro que parecia ofendido, embora Kolina houvesse dito a pura
verdade. Nervosa, a mulher se levantou chocando com o quadril no cotovelo
de seu companheiro, derrubando a hidromel em cima— Uff!! Vá, sinto muito.
Embora assim asseamos um pouco essa barba né?— Kolina entrecerrou os
olhos aproximando sua cara a do homem –Por todos os Deuses, isso são
piolhos?— perguntou com um grito, fazendo com que os que estavam ao lado,
movessem-se no banco afastando-se dele, provocando que seu segundo em
comando caísse do banco.
Maisey não esperou mais, antes que ela provocasse um conflito— Kolina!
— Sim, meu Jarl?
— Vem aqui.
Kolina saiu do banco e com as costas muito reta se aproximou— Eu tentei,
mas são muito secos comigo.
— Vamos ver. — olhou pra seu segundo em comando que ainda estava
sentado no chão fulminando com o olhar seu companheiro de mesa — Sorria
pra o Harold. Mas antes relaxa a expressão.
A mulher com o cenho franzido enquanto o homem se levantava forçou as
bochechas mostrando os dentes como se fosse atacar em algum momento.
Harold deu um passo atrás e Maisey suspirou — Isto vai ser mais difícil do
que eu esperava. Vá descansar. Amanhã voltaremos para casa.
Kolina lhe sorriu radiante e Maisey levantou uma sobrancelha vendo-a sair
do salão. Faste gemeu a seu lado e Maisey sorriu— Eu conseguirei.
— Não o duvido, meu Jarl. Mas é como ensinar a um gato selvagem.
— Então voltarão para casa?— perguntou Harold preocupado.
— Sim, logo começará a nevar e tenho que descansar, pois nos últimos
tempos não parei um momento. — disse olhando-o fixamente— Terá algum
problema?
— Não, meu Jarl.
— Se acontecer algo me envie um recado e se não puder vir, enviarei alguém.
— Será um inverno tranquilo, meu Jarl. Temos tudo preparado, assim não
haverá problemas.
— Tem suficientes provisões?
— Precisamos de um pouco mais de carne, mas iremos caçar para solucioná-
lo.
Maisey franziu os olhos. Não gostava de partir sem que tudo estivesse em
ordem.
— Atrasaremos a saída um dia e amanhã iremos a caça.
— Não tem que fazê-lo, meu Jarl. Eu me encarregarei.
— Sim, Maisey. — disse Olav advertindo-a com seu olhar. Harold se
encarregará. Sabe quais são suas obrigações.
Ela olhou pra Harold e sorriu— É verdade. E tem feito muito bem estas
semanas.
Harold sorriu inchado o peito — Obrigado, meu Jarl.
— Bem. — levantou-se acariciando sua pequena barriga— Vou descansar.
— Descansa, meu Jarl. — disse Olav preocupado olhando-a— Amanhã vai
ser exaustivo e precisa repor as forças.
Quando chegou a sua cama suspirou olhando o teto de palha, que estava
avermelhada pelo reflexo do fogo que esquentava a habitação. Uns olhos
verdes apareceram em sua mente e suspirou acariciando o ventre, enquanto
pensava onde estaria o idiota de seu marido.
E sobre tudo, com quem estava. Caso tocasse outra mulher, matava-o e
assunto encerrado. Morto o cão, acabou-se a raiva.
Empreendendo o caminho de volta começou a nevar com força, mas não quis
deter-se. Queria chegar em casa o quanto antes e teve que discutir com Olav
para que continuassem o caminho.
Quando chegaram à aldeia, a neve tinha era tão espessa que custava andar.
Todos estavam esgotados, mas contentes de estar em casa. Ao entrar no
salão todos estavam jantando e Harald se aproximou pra saudá-la— Filha
está louca? Como te ocorre viajar com este tempo em seu estado?
— Estou bem. — sorriu esgotada e morta de frio— Só necessito uma bebida
quente.
Lala a agarrou pelo braço para sentá-la em seu lugar— Minha menina, tem
que estar exausta.
Quando tirou a pele Lala olhou sua barriga e franziu o cenho
— Está louca – saiu correndo e Maisey a olhou divertida.
— Como vai tudo, pai?
— Roubaram-nos.
Surpresa o olhou— O que roubaram?
— Várias ovelhas e mataram uma vaca.
— Mataram uma vaca?
— Esquartejaram-na e deixaram o que não queriam.
— Sabe-se quem foi?
Seu pai sorriu— Todos os anos antes do inverno ocorre algo assim.
— E não fazem nada?
— Não sabemos quem são.
— Eu digo que é alguém que vive nas montanhas. — disse Olav sentando-se
a seu lado. Lala deixou uma terrina diante deles, enquanto os homens foram
entrando depois de atender os cavalos — E que guarda a carne para o
inverno.
Maisey agarrou a terrina e bebeu um pouco de caldo reconfortando-se com o
calor que lhe proporcionou — Está muito saboroso, Lala.
— Obrigada, meu Jarl.
Faste se sentou ao lado do Olav. Desde que tinham se conhecido eram
inseparáveis, converteram-se em grandes amigos — Bom, teremos que deixá-
lo passar até o ano que vem. Onde está Tavie?
— Está um pouco resfriada. — disse Lala um pouco preocupada. Tomou uma
infusão que preparei pra ela, mas não vejo melhoria.
Terminou o caldo e se levantou pegando a pele— Imagino que Raio está com
ela.
— Não sai de seu lado. — respondeu seu pai sorrindo.
— Vou descansar.
— Até amanhã, Jarl. — disse seu pai lhe piscando um olho.
Quando entrou em sua casa viu que o fogo não estava muito forte e jogou
uma lenha. Tirando a pele e deixando-a sobre a cama olhou a porta de Tavie
que estava entreaberta. A luz de sua chaminé brilhava com força e sorriu
pensando no que devia estar assando. Aproximou-se e abriu a porta. Estava
metida em sua cama coberta até a cabeça. Raio se aproximou movendo o
rabo— Olá, amigo. O que está acontecendo?— perguntou sentindo
preocupação porque a garota não se moveu da cama.
Aproximou-se sentando-se na cama e moveu o ombro de Tavie para despertá-
la— Tavie?
A garota gemeu e Maisey franziu o cenho. Virou-a e viu que tinha muita febre
— Tavie?— chamou-a mais alto.
Suspirou de alívio ao ver que abria os olhos— Voltou. — sussurrou com a voz
rouca.
— O que tomaste?
Tavie tossiu com força e Maisey a ajudou a sentar-se para que respirasse
melhor — As ervas de febres que me deu. — disse assim que pôde.
Maisey tocou em sua testa.— Quando as tomou?
— Depois de comer.
— Encontrava-se assim quando tomou?
— Estava melhor.
Isso indicava que não tinham funcionado, assim se levantou e foi pra
cozinha. Foi até os potes de ervas que tinha ali armazenados e procurou em
vários até que encontrou o que queria. Então entrecerrou os olhos ao ver algo
que lhe chamou a atenção. Umas folhas se amarelaram dentro do pote e isso
não podia ser. Colocou a mão no pote e viu que as ervas estavam misturadas.
— Mas como…?
Voltou para o quarto e voltou a despertar Tavie— Misturou as ervas?
— O quê?
— Estão misturadas, Tavie.
A garota a olhou com seus olhos lacrimosos pela febre— Faz uma semana
encontrei Tashia na casa. Disse-me que tinha vindo comprovar que eu não
necessitava de nada.
Maisey a deixou descansar. Furiosa voltou para a cozinha e olhou os potes
pensando no que fazer. Dava graças aos Deuses porque as ervas misturadas
não tinham matado Tavie ou a outra pessoa. Agarrou o pote e atirou seu
conteúdo sobre a mesa. Separou com paciência as folhas que Tavie precisava
e lhe fez uma infusão que lhe deu muito devagar, pois tinha dificuldade pra
engolir.
Revisou todos os potes e vários tinham as ervas misturadas. Felizmente
nunca as triturava antes de colocar no pote, pois assim podia usá-las para
outras coisas.
Furiosa saiu da casa e entrou no salão. Tashia estava sentada em seu lugar
no final da mesa. Sem deter-se foi até ela e lhe deu um tapa que a tirou da
cadeira.
— Filha!
Seu pai se levantou rapidamente e Maisey sem deixar de olhar a Tashia deu
um passo para ela com vontade de matá-la— Por que fez isso?
— Não sei que quer dizer, meu Jarl.
— Não se faça de idiota comigo.
Vários homens se levantaram para as rodear— Deixa a minha mãe!— gritou
Valgard zangado.
Maisey o olhou apontando com o dedo pra ele— Não se intrometa! Isto é entre
sua mãe e eu!
— O que ela fez?— seu pai se agachou e levantou sua mulher.
— Misturou as ervas que eu tinha reservado para o inverno. Sabe o que
poderia provocar se eu não tivesse notado?
— Sua protegida teria morrido?— perguntou com brincadeira.
Assombrada porque não tinha nenhum remorso, agarrou-a pelo cabelo
furiosa— Quer saber o que é necessitar uma cura e não tê-la?— tirou-a a
puxões pra fora — Amarrem-na ao poste!
— Maisey, por todos os Deuses vai morrer de frio. — disse seu pai tentando
detê-la. Olav e Faste agarraram a Tashia que gritava como uma louca
amarrando-a ao poste.
Maisey o olhou— Sabe o que podia ter provocado? Pai, se Tavie tivesse
distribuido as ervas como eu tinha mandado, podia ter morrido gente. Sua
gente! Não penso aceitar mais sua atitude! É intolerável que se comporte
assim!
Maisey sentiu a ponta de uma espada na base de suas costas e se voltou
ligeiramente. Valgard estava atrás dela empunhando-a— Solta a minha mãe!
— É muito valente atacando pelas costas, irmão.
— Deixa essa espada, Valgard!
— Desde que ela veio tudo mudou!— gritou furioso— E você se deixa levar
como um velho estúpido, mas eu estou farto! Assim que a matar, eu serei o
Jarl dos três clãs! Não ela!
Seu pai o olhou com vergonha— Não tem honra. Nunca será o Jarl de nosso
povo e nem de nenhum outro. Envergonho-me de ti.
Valgard o olhou com desprezo — Isso é o que veremos.
— Solta essa espada, Valgard. — disse ela olhando-o nos olhos— Não quer
matar o filho de seu irmão.
— Esse feto deve morrer tanto quanto você. — o ódio de sua voz era tão
intenso, que ela se deu conta que sua relação não teria conserto.
— Está morto sabe?
Ele apertou a espada sobre suas costas e Maisey fez um gesto de dor ao
sentir como lhe rompia a carne. Valgard caiu no chão antes de dar-se conta,
com Raio em cima dele. O cão lhe mordia o braço por debaixo do ombro com
fúria, enquanto ele gritava que o tirassem de cima.
— Pra trás!
Raio o soltou imediatamente— Não te mato porque é filho de meu pai. — os
homens o levantaram e ela observou que sangrava muito pelo braço— Mas
não continuará vivendo perto de mim.— olhou a seu pai que assentiu— Fica
banido e pode levar a sua mãe se ela quiser ir contigo. Faça um curativo
nessa ferida e lhe darei um cavalo antes que se vá. Que alguém o vigie até
que saia do povoado.
— Sim, meu Jarl. — disse Olav agarrando-o pelo pescoço com desprezo.
Maisey olhou pra mãe que permanecia amarrada ao poste –Irei com meu
filho.
— Sinto por meu pai. Mas é tua decisão.
Voltou-se dando-lhe as costas — Faste, que a vigiem também até que se vão e
solte-a do poste. Já terá frio na viagem.
— Sim, meu Jarl. — disse olhando-a com admiração.
Maisey agarrou o braço de seu pai entrando no salão e levando-o para o fogo
enquanto Olav atendia ao Valgard— Pai…
— Não tem que dizer nada. Fez o correto. Não merece nenhuma piedade
alguém que se volta contra sua própria família.
Olharam-se nos olhos entendendo o que cada um sentia. Ela, medo por ter
cometido um engano e ele dor pela traição de seu filho. — Sinto muito.
— Eu também sinto que um filho que eu criei, tenha menos honra que uma
que acabo de conhecer. Isso diz muito de meu papel como pai.
— É um pai muito bom. — Maisey lhe abraçou pela cintura lhe dando ânimos
— Ao menos para mim o é.
— Como disse, não estive contigo.
— Sinto por essas palavras…— sussurrou— Como dizia minha mãe, cumpriu
sua palavra ao voltar para cuidar dos teus.
— Tinha que tê-la trazido comigo.
— E viver como uma escrava toda sua vida. Viver vendo a Tashia a seu lado?
Harald assentiu — Não teria gostado.
— Fez bem. Agora não se incomode mais.
— O que dirá Roald quando voltar?— perguntou preocupado.
Maisey olhou nos olhos apartando— Pouco me importa.
— Algum dia voltará e…
— Não quero falar disso. Agora vou descansar porque foi um dia duro.
Ignorando os gritos do Valgard saiu da casa do Jarl e voltou para a sua. Lala
estava sentada na cama de Tavie.
— Ficarei esta noite. Você descansa.
— Obrigado Lala, é um sol.
— Já não te atirará sobre mim, me agarrando as tranças?
Maisey riu — Parece que foi há mil anos. É incrível que só tenham acontecido
há uns poucos meses. — afastou indo para sua cama e suspirou olhando-a,
pois era a que lhe tinha feito Roald. Enquanto se despia recordou as noites
que passou ali com ele e reteve as lágrimas sentindo sua falta. Possivelmente
deveria ter explicado seu plano pra ele, mas tinha tido medo a que se
negasse, que foi precisamente o que fez.
Abraçou o travesseiro pensando em seu cenho franzido quando a olhava
pendurado na árvore. Sorriu com nostalgia pensando em tudo o que tinha
passado em tão pouco tempo. Como havia dito a Lala, parecia que tinham
acontecido há mil anos.
O inverno foi muito cru para Maisey que não estava acostumada a tanto frio.
Sentia-se muito incômoda grávida, pois tinha que estar tão vestida que entre
as roupas e a barriga não podia mover-se como estava acostumada. Seu pai e
outros a mimavam em excesso. Lala sempre lhe tinha preparado algum pão-
doce ou sua comida favorita. Seu humor começou a variar e tinha que
encerrar-se em sua casa frequentemente a chorar amaldiçoando ao Roald por
haver-se ido.
A primavera não trouxe calor precisamente, pois seguiu nevando até bem
entrada a estação. Os velhos diziam que fazia anos que não viam um inverno
tão longo e frio, certamente porque se atrasou e precisamente porque tinha
que deixá-la doida. Seu enorme ventre a deixava com um humor de mil
demônios, pois não a deixavam fazer nada e se aborrecia enormemente.
Tavie se recuperou muito bem de seu resfriado e seguia tomando caldo como
uma louca. A infusão que bebia para lhe dar força, parecia que estava dando
seus frutos porque a via mais mulher. Inclusive começava a ter peitos.
Emocionada esperava impaciente a chegada de Tage para que a visse. Outra
que estava louca com a chegada dos homens era Kolina. Praticavam seu
comportamento cem vezes ao dia e Lala a observava com o cenho franzido,
corrigindo-a para depois repreendê-la por ser tão brusca.
Um dia pela manhã, saiu de sua casa para ir tomar o café da manhã com
outros quando se deu conta que havia menos neve. Algo lhe saltou no peito e
levou ali a mão sentindo que seu coração pulsava com mais força.
— Já falta pouco. — escutou atrás dela.
Voltou-se surpresa — O que faz aqui, Wava?
— Te prevenir. — a ruiva coberta com uma grande pele cinza se abrigou mais
dando um passo para ela.
— Me prevenir do quê?
— Mais que te prevenir, é te dar um conselho antes de que meta os pés pelas
mãos.
Olhou-a com desconfiança –Diga então, pois tenho frio.
— Seu destino está pra chegar, não lhe bata com a porta no nariz. — disse
antes de dar a volta.
— Um momento! O que quer dizer?
Wava a olhou sobre seu ombro — Não se deixe levar pelo orgulho, meu Jarl.
O ciúmes e o rancor acabam com muitas relações.
— Ele vai voltar?— perguntou com esperança.
— Por que pergunta se acaba de sentir? Às vezes fazem umas perguntas
muito tolas.
Wava lhe deu as costas e começou a descer a colina. Maisey sorriu olhando o
rio e desejando que a neve desaparecesse.
— Meu Jarl!— gritou Wava de baixo— Não chegará agora! E entre que vai
sentir muito frio!
Sorriu olhando suas costas e contente entrou na casa de seu pai. Aproximou-
se dele impaciente e se sentou agarrando sua mão sobre a mesa— Filha, está
gelada.
— Sabe o que Wava acaba de me dizer?
— Ela esteve aqui?
— Que Roald chegará logo.
Seu pai sorriu— Sério?
— Não é ótimo?
— Me alegro muito, filha.
Quando souberam, as garotas gritaram de alegria abraçando-se embora Tavie
depois olhou seus seios fazendo uma careta— Não cresceram o suficiente.
— Já tem quinze anos e cresceram um pouco. Agora ele te notará. — disse
Kolina.
— Estou desejando vê-lo, embora não me tenham crescido as tetas— disse
sem pensar as fazendo rir. Ruborizada olhou a seu redor esperando que
ninguém a tivesse escutado.
— E você, está desejando vê-lo?— perguntou-lhe a garota olhando-a nos
olhos.
— Sim. — acariciou o ventre que nesse momento lhe deu um chute. — Uff.
Dá-me uns chutes que parece que quer sair.
Nesse momento a porta se abriu de repente e todo o salão olhou para lá.
Ficou sem fôlego ao ver seu marido com uma barba horrível, entrando no
salão seguido de seus amigos. Vários dos homens ali reunidos gritaram de
alegria ao vê-los e se aproximaram pra saudá-los. As gêmeas correram para o
Thorbert, atirando-se em cima dele enquanto ele gargalhava.
— Não disse que chegariam depois de alguns dias?— sussurrou Kolina
comendo Sorem com o olhar.
Ignorando-a se levantou da cadeira vendo como seu marido sorrindo
abertamente, saudava seu pai com um abraço. Ela deu um passo para ele e
Roald levantou a vista olhando-a nos olhos. Olhou seu ventre apertando os
lábios e se separou do Harald.
— Como foi a viagem?
Nesse momento entraram várias mulheres no salão. E uma se aproximou de
Roald, colocando-se a seu lado enquanto tirava a grossa pele. O decote de seu
vestido era revoltante e Maisey entrecerrou os olhos. Roald passou um braço
por seus ombros e a aproximou de seu peito— O que você acha?
— Quem são essas vadias?— Kolina estava a beira de gritar e Maisey a olhou.
— Não diga nada. Wava me advertiu sobre isto. — estava tão calma que suas
amigas a olharam como se não a conhecessem.
— Está tocando o seu homem.
— Rechacei-lhe. — disse tomando ar— Tem direito a fazer o que quiser—
Maisey sorriu sem vontade e voltou a olhar seu marido que não se
aproximava dela. Uma falta de respeito tendo em conta que era a Jarl do
povoado. Um chute no ventre voltou a atravessá-la, mas ela não se alterou.
Seguia olhando-o esperando que se aproximasse dela. Harald a olhava de
esguelha— Então conseguiste riqueza.
— Tantas que não teremos tempo de gastá-lo. — disse Tage antes de beijar no
peito a uma de suas mulheres.
— Estúpido caipira. — sussurrou Tavie com raiva. Olhou-a— Não vai dizer
nada?
— Não.
— É a Jarl, tem que apresentar seus respeitos.
Nesse momento Roald fez como se a acabasse de ver— Então está aqui a Jarl.
A ninguém passou despercebido que não havia dito meu Jarl. Maisey sorriu
por seu comportamento e ele entrecerrou os olhos— O que faz aqui, Roald?
— Acaso esta não é minha casa?— perguntou atônito.
— Não foi isso que eu quis dizer e sabe…
Roald apertou a mulher contra ele e a beijou na boca, provocando ofegos
entre as mulheres que ali havia. Olav e Faste se esticaram visivelmente e
vários de seus homens se ofenderam. Ver como beijava os lábios de outra
mulher, transpassou-a como um raio, mas não moveu um gesto. Todos
sabiam que a tinha rechaçado ao não querer lutar por ela, então aquele
comportamento público era um intento de humilhá-la ainda mais.
Apertou os punhos escondendo-os com a pele que estava coberta — Maisey…
— disse Tavie com pena.
Seu pai estava entre assombrado e furioso. Maisey com um olhar lhe indicou
que não dissesse nada e ele cruzou os braços. Certamente para não moê-lo a
golpes. Ou ao menos tentá-lo.
— Roald…— a voz de advertência de Olav, fez que seu marido levantasse o
olhar do que estava fazendo, mas a mulher passou seus braços por seu
pescoço segurando-o.
Rindo a apartou— Mais tarde, preciosa.
O apelido que utilizou machucou ainda mais e o menino se moveu inquieto.
Engoliu em seco vendo-o afastá-la e perguntar a seu amigo— Que tal tudo
por aqui, Olav?
— Não pergunta como se encontra a mãe de seu filho?
— Ah, mas é meu?
O insulto era tão grave que todos ficaram em silêncio. Inclusive seus amigos o
olharam horrorizados. Roald a olhou irônico— Então não tocou ninguém
mais? Não me admiro.
Um dos homens mais jovens se atirou sobre ele, mas Faste o segurou — Vejo
que tem admiradores. — disse rindo-se divertido.
— Aconselho-te que feche a boca. — disse Harald furioso— Antes de que eu
faça algo do qual possa me arrepender.
Roald o olhou irônico e depois deu uma olhada ao seu redor— Onde está
minha mãe? E Valgard?
Todos se mexeram e Harald disse, pois ela não tinha palavras— Foram
banidos por traição.
— O que disse?
— Sua mãe tentou atentar contra a vida de vários pessoas para deixar Maisey
em evidência e Valgar tentou matá-la para conseguir ser Jarl.
Roald a fulminou com o olhar— Só traz problemas, não é verdade? Maldito o
dia que fui te buscar naquela aldeia.
— Roald…— Sorem deu um passo à frente enquanto Tavie a agarrava pelo
braço tentando protegê-la— está sendo injusto.
— Não fale assim com nossa Jarl!— gritou um dos homens dando um passo
para ele tirando sua espada.
— Silêncio!
Todos a olharam e ela soltando o braço de Tavie deu vários passos para o
Roald. Ele se esticou endireitando as costas. A mulher que estava entre ela e
seu marido a olhava divertida. Era bonita. Morena com o cabelo muito
comprido que chegava até o quadril e com os olhos negros como a noite.
Também era voluptuosa. Justamente o contrário dela. Levantou a vista pra
seu marido e sorriu surpreendendo-o— Se não te conhecesse diria que me
quer fazer ciúmes com esta puta. — a mulher ofegou indignada— É um
insulto tão evidente que mais parece patético. Ao que parece seu orgulho não
se recuperou de que eu tenha te deixado. — Roald a olhou furioso, mas não o
deixou falar— Por outro lado que insinue que levo o filho de outro dentro de
mim, indica que não me tem nenhum respeito. Uma autêntica pena.
Esperava que ao menos houvesse respeito entre nós. — olhou pra seus
homens que estavam mais tranquilos antes de voltar a lhe olhar. A veia
torcida de seu pescoço indicava que estava a ponto de explodir— Pode ficar,
posto que esta é sua casa, mas caso volte a ofender aos meus ou a mim, terá
que abandonar a aldeia. — olhou Sorem e os outros e sorriu— Bem-vindos a
casa, meninos.
Emocionada viu como se aproximaram dela e a abraçaram os três. Thorbert
fulminou com o olhar a seu amigo que parecia envergonhado.
— Bom, bom…— disse ela sorrindo tentando conter as lágrimas afastando-se
— Me alegro que tenham retornado. Necessito de babás.
Os homens puseram-se a rir olhando seu ventre— Está enorme. — disse
Tage.
— Está preciosa. Não poderia estar mais bela. — disse Sorem olhando-a com
adoração. Kolina apareceu a seu lado e ele a olhou brevemente.
— Kolina acompanha-me a minha casa?
— Claro, Maisey. — disse olhando com aversão ao Sorem que se surpreendeu
— E Tavie também vem, certo?
— Sim. — passou ao lado de Tage e lhe pisou sem querer— Ui, perdão.
Tage franziu o cenho, mas disse — Não é nada. — quando saíam ouviram que
perguntava— Essa era a menina que trouxemos na viagem anterior?
As três foram em silêncio para a casa e quando entraram Kolina explorou—
Como se atreve a te fazer isso?
Maisey teve que sentar-se na cama, pois lhe tremiam as pernas. Outra dor no
ventre a fez acariciar-se irritada, enquanto seu amiga continuava reclamando
— Tinha que tê-lo posto em seu lugar! Tinha que ter ordenado que lhe
dessem cem chicotadas por sua ousadia…
— Kolina…— a interrompeu Tavie aproximando-se de Maisey— Está bem?
— Sim, só quero me deitar. Ajudem-me a me trocar. — disse sem forças. Só
tinha vontade de chorar, mas nem isso se permitia em público, se quizesse
que não a considerassem fraca. Entre as duas a despiram e lhe puseram a
camisola. Suspirou deitando-se na cama e outra dor a percorreu. Franziu o
cenho porque aquilo já não era normal e ficou de barriga para cima. Seus
amigas a olhavam preocupadas.
— Vão dormir, estou bem.
— Seguro? Melhor ficar dormindo com Tavie.
— Sim, será o melhor. — disse a garota.
Raio subiu à cama e se aninhou em sua perna. Estava inquieto e Tavie se
preocupou — O que lhe ocorre?
— Nada. — disse divertida — Certamente está assim porque Roald retornou e
não lhe cai muito bem.
— Que cão mais esperto. — disse Kolina indo em volta da habitação da garota
— Até amanhã, Maisey.
— Até amanhã.
Tavie ficou olhando— Seguro que te encontra bem?
— Um pouco decepcionada. Isso é tudo.
— Sim…— Tavie apertou os lábios antes de dizer— Descanse, Maisey.
Antes de ir pôs mais lenha no fogo e Maisey suspirou olhando as chamas
enquanto Raio deitava ao seu lado colocando o lombo junto a sua perna,
como se temesse que desaparecesse. Suspirou sorrindo, mas logo recordou as
palavras de Roald. Uma lágrima percorreu seu nariz e ela a limpou furiosa.
Sabia que estava zangado, mas insultá-la em público era o cúmulo. Não
entendia como podia tratá-la assim. Ou possivelmente sim. A razão era que
não a amava.
Capítulo 13
Harald o olhava com o cenho franzido— Não me olhe assim. Tinha que fazer
algo ou me mataria.
— Prometeu não machucá-la.
— E o que queria que eu fizesse? Que deixasse me matar?— seu sogro
grunhiu e Roald o olhou surpreso — Muito gracioso.
— Agora você é o Jarl. Espero que esteja a altura.
— Foste um exemplo que seguirei.
— Tinha que ter prestado atenção em sua esposa, mas felizmente ainda a tem
ao seu lado para que possa te aconselhar.
Roald olhou a sua mulher e sorriu— Certo. E daí não se moverá.
— É o melhor.
O menino pôs-se a chorar e Maisey despertou de repente sentando-se na
cama.
— Harald. — disse confusa olhando a seu redor.
Roald suspirou de alívio e a olhou— O que faz em minha cama?
— É minha cama. Eu a fiz.
Olav estava enfaixando seu braço e ela o olhou com o cenho franzido. O velho
se deteve — Será melhor que você continue.
— Sim, será melhor.
Todos saíram da casa deixando-os a sós e olhou-o nos olhos— Como está?
Como eu me saí?
— Preciosa, você nunca fica por baixo. — disse tocando o lado.
— Sinto muito. — disse aproximando-se para lhe agarrar o braço— Mas tinha
que ser convincente. Se não os homens não o engoliriam.
— Posso te assegurar que foi acreditável. — agarrou-lhe uma mecha de
cabelo e o acariciou— Me perdoaste?
— Não sei. Estou pensando isso. Mas vai por um bom caminho.
Segurou sua mecha enrolando-a em seu dedo— Me dê um beijo como deve
ser, esposa. Venci.
— Certo. — sussurrou contra seus lábios— Venceste justamente.— Roald
gemeu antes de apoderar-se de sua boca com paixão. Desesperado esticou a
mão agarrando sua cintura, mas ao pegá-la ele gemeu de dor. Ela sorriu
contra seus lábios — Quando estiver melhor.
— Sim.
O menino choramingou no berço e ela se levantou imediatamente— Tem
fome, meu amor?
Roald viu como o segurava em seus braços e abriu o vestido para lhe dar de
mamar. — Fica linda quando faz isso.
Maisey olhou nos olhos — Seriamente? Não são muito pequenos?
Roald fez uma cara como se ela fosse louca. — São perfeitos. Cabem na
palma da minha mão.
— Agora já não. — disse olhando ao menino.
— Estou desejando comprová-lo— disse com voz rouca.
— Pois demorará um tempo. E eu também.
— Esperarei, preciosa. Esperarei.
Levantou o olhar para ver o desejo em seus olhos — A devolverá?
— Sim.
— E me será fiel?
— Sim.
— Você me ama?
Roald sorriu— Você me ama?
— Talvez. — respondeu ruborizando-se.
— Talvez eu te ame também. — disse levantando-se e aproximando-se dela.
Acariciou-lhe a bochecha — Não posso viver sem você, preciosa. Tentei ir
embora, mas pensava em você todos os dias.
— Senti sua falta. — disse emocionada — Eu não queria isto.
— Sei, meu amor. — aproximou-se e a beijou nos lábios brandamente— Fez o
que era correto.
— Amo-te. — disse contra seus lábios. Roald gemeu beijando-a com ardor e
Harald protestou entre os braços de sua esposa separando-os de repente.
— Está claro que consegue o que quer, como sua mãe. — disse divertido
olhando a cara de protesto do bebê, que tinha o cenho franzido sem deixar de
mamar.
— Acredita que será o Jarl quando crescer?
— Se você se empenhar…
Epílogo.
— Roald você prometeu que nos banharíamos juntos. — disse ela metida na
banheira
— Preciosa, eu não entro aí.
— Ficarei por cima.
Roald pôs-se a rir enquanto se despia. Ia tirar as calças quando a porta da
casa se abriu de repente— Maisey!— gritou Kolina furiosa— Já estou farta!
Seu marido gemeu sentando-se na cama— O que ocorre agora?
— Disse-me que não se casará! Que estamos bem assim!
— Se deitou com ele?
Kolina corou— É que… é tão bonito…
— Kolina!
— Você se deitou com ele antes de se casar!
— Isso foi diferente.
Kolina cruzou os braços e Roald pigarreou — Sinto muito Jarl, mas até que
sua mulher não me dê uma solução, não irei daqui.
Roald se levantou da cama e descalço foi até a porta gritando— Sorem!— seu
amigo tentou entrar na casa, mas ele o impediu empurrando-o no peito —
Amanhã se casará!
— O quê?
Roald fechou-lhe a porta no nariz e Kolina sorriu— Bem dito, chefe.
— A sua casa!
— Sim, Jarl. — Kolina piscou um olho pra Maisey que sorriu cúmplice. O
plano tinha dado resultado cem por cento.
Quando ficaram sozinhos, Roald ia tirar as calças quando a porta se abriu
novamente e Tavie entrou furiosa— Como que ela se casa e eu não?
Roald foi até a porta agarrando-a pelo braço— Tage, amanhã se casa!— disse
aos gritos. O primo de seu marido gritou ao longe que nem louco— Te ordena
isso seu Jarl!
— Não sei do que se queixa tanto!— gritou Tavie – Está louco por mim!
— Maldita pirralha!
Roald fechou a porta e a trancou com uma tábua de madeira antes de voltar-
se sorrindo— Bem onde estávamos?
Maisey levantou uma perna colocando o calcanhar na borda da banheira. A
luz do fogo mostrava uma imagem muito sugestiva e seu marido tirou as
calças com toda pressa.
— Cada dia é mais preciosa. — disse colocando as mãos na banheira e
levantando-a fazendo-a rir— Sinto meu amor, mas aí não há lugar para mim.
Abraçou-o pelo pescoço— Estou te molhando.
— Em seguida me secará.
Quando a deitou na cama, colocou-se em cima dela acariciando seu corpo.
— Te amo. — disse-lhe em voz muito baixa, olhando-o nos olhos— Me alegro
de que tenha me encontrado.
— Eu também me alegro, meu amor. Quando te encontrei comecei a viver,
minha princesa viking. — sussurrou contra seus lábios.
— O mesmo digo, meu Jarl.