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LARANJEIRAS
2018
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Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3
JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 8
OBJETIVOS ...................................................................................................... 11
SUPORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO .................................................. 12
CRONOGRAMA .............................................................................................. 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 18
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INTRODUÇÃO
O município de Aimorés, situado no interior do estado de Minas Gerais, pertence a
mesorregião do Vale do Rio Doce, com atividade econômica diversificada, com a indústria
metalúrgica, agropecuária e comércio. Segundo o IBGE (2017), o município conta com 25.703
habitantes, ocupa uma área de 1.348.775 km², sendo que destes, apenas 3,57 km² se encontram
em perímetro urbano, a sede do município se encontra a 76m de altitude em relação ao nível do
mar e temperatura média de 25,2ºC, a capital Belo Horizonte se encontra a 440 km de distância.
Segundo Piló (2008), pesquisas arqueológicas aprofundadas não foram feitas na região
até o final da década de 1990. Todas as publicações sobre a história de ocupação da bacia,
principalmente em seu alto e médio curso afirmavam que esse território era exclusivo dos
grupos Jê, influenciados, pelo povo Krenak que ainda vive na região e é representante desse
grupo linguístico. Durante as pesquisas de salvamento arqueológico desenvolvidas nos
programas de diagnóstico, prospecção e resgate arqueológico na região afetada pela construção
da Usina Hidrelétrica de Aimorés, foram identificados 35 sítios arqueológicos. Ainda de acordo
com Piló (2008), os estudos ali desenvolvidos indicaram, de forma inédita e já na sua fase
inicial, que devido a sua cultura material, a região também foi ocupada, por grupos pertencentes
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ao universo Tupi-guarani, sendo raras e pouco claras as fontes que citam a passagem dos
mesmos pela região, acabando com a afirmação de que era uma região exclusivamente Jê.
A presença da cultura material Tupi-guarani no rio Doce foi identificada a partir de sítios
localizados em praias, terraços, planícies, além de topos de colinas, nas proximidades da calha
principal e em alguns de seus afluentes, sobretudo na subárea Manhuaçu-Guandu, muito
importante na historiografia local como alvo de grandes disputas quanto a localização da divisa
entre os estados do Espirito Santo e Minas Gerais. O conteúdo material característico é
representado por conjuntos de fragmentos de utensílios cerâmicos pintados e plásticos com
muitas variáveis decorativas, “associados, algumas vezes, a uma grande quantidade de artefatos
líticos lascados (quartzo hialino e leitoso) e polidos, incluindo machados de similanita,
calibradores em blocos de arenito e tembetás de amazonita” (PILÓ, 2008).
Além desse tipo de evidência, foram identificados polidores e pilões fixos em blocos
graníticos (até então totalmente desconhecidos em Minas Gerais e na região sudeste, na região
sul são denominados crisóis - atribuídos a grupos horticultores Tupi-guarani), algumas gramas
de ossos longos humanos, um artefato malacológico, e outro em coral. As informações relativas
ao cotidiano das populações Tupi-guarani no rio Doce, ainda são escassas, vide o péssimo
estado de conservação dos sítios arqueológicos, pelo intenso uso do solo para a atividade
agrícola, destruição de grande parte da Mata Atlântica original, garimpo, produção de carvão,
pecuária e a construção da ferrovia Vitória-Minas no início do século XX.
fonte - Iphan.gov.br
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O rio Doce é uma categoria central para a história mineira, e para a cidade de Aimorés
desde o início da colonização. O rio têm sua importância física e simbólica, que se estende até
os dias de hoje, seja com o desastre ocorrido recentemente em Mariana (2015), que destruiu
uma grande parte do rio, seja na relação de “amor e ódio” dos habitantes de suas margens, com
suas cheias frequentes que acabam gerando enchentes de grande porte, mas ao mesmo tempo,
é natural, ver o amor que os habitantes têm pelo rio e pela sua beleza. Além disso, foi um lugar
imaginário de riquezas, território onde não se podia penetrar sem correr risco, mas que
“mandava-se que entrassem’, terra de índios antropófagos, mas onde nunca se viu indicio de
canibalismo; campos de esmeraldas, mas onde não existia jazida e nem campo, cercado de
perigos medonhos e forças malignas: canibais, febres e cachoeiras traiçoeiras.” (ESPINDOLA,
2005 p. 25).
Conforme Espindola (2005), com a descoberta do ouro, foi proibida a navegação dos
rios que desciam rumo ao litoral, impondo assim, o monopólio da estrada para o Rio de Janeiro
como principal via de escoamento dessa riqueza, e transformando assim, os sertões em zonas
proibidas. Nas palavras de João Camilo de Torres (S/D), com diversas cachoeiras e corredeiras
em seu leito, o rio Doce era uma fortaleza natural, além de que, os habitantes indígenas se
tornaram aliados involuntários para o fortalecimento desse bloqueio fluvial. Mesmo
identificando a presença de índios, pardos e negros, o sertão era visto como um lugar vazio.
Espindola (2005) diz ainda que, o sertão parecia inacessível e num tempo distante do vivido à
época, mesmo com essa construção simbólica, o mito das riquezas aumentava de forma
contundente o interesse em colonizar a região, mesmo que não sendo de forma sustentável,
usando de artifícios como a remoção da mata ciliar (característica bem marcante na cidade de
Aimorés) para espantar os índios das proximidades do rio, facilitando assim a passagem de
embarcações sem que fossem atingidas pelas flechas dos mesmos.
No entanto, com o declínio do ouro, continua Espindola (2005), essa região foi vista
como uma alternativa para a crise, a incorporação do rio Doce passou a ser considerada como
potencial de riqueza. O capitão-mor do Espirito Santo, Ignario João Mangeardino referiu-se as
riquezas contidas no Sertão do Rio Doce: “todas as qualidades de madeiras para construção de
quaisquer navios e naus”, já Francisco Manoel da Cunha apresentou a Souza Coutinho a
Memória sobre a navegação do rio Doce, na qual se refere ao rio como sendo o Nilo
Brasiliense. O ministro mandou que Antônio Pires da Silva Pontes Leme, que tomara posse no
governo do Espírito Santo em 1800, estudasse o curso do rio Doce, fizesse o levantamento
desde a foz até as cachoeiras das Escadinhas (que passa por toda a margem da cidade de
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Aimorés) e produzisse a “Carta Geográfica do Rio Doce e seus Confluentes”, nesse mesmo
ano. Incumbiu-o também de estabelecer comunicação terrestre para Minas Gerais e estudar as
possibilidades de navegação do rio Doce e de colonização de suas margens. Antônio Pires teve
como primeira missão entender-se com o governador mineiro Bernardo José de Lorena, sobre
a demarcação dos limites entre as duas capitanias, (Ficou acertado que o limite entre as duas
capitanias fosse pelo espigão que corre do Norte ao Sul, entre os rios Guandu e Manhuaçu”,
sendo que as terras cujas águas vertessem para leste seriam capixabas e as que vertessem para
oeste seriam mineiras.
Espindola (2005), ressalta que foi estabelecido o Registro do Rio Doce, em Natividade1
(atual Aimorés), próximo a cachoeira das Escadinhas, para recolher os impostos. Depois das
cachoeiras foi instalado o Quartel de Souza, pertencente ao Espírito Santo. Estes três nomes:
Escadinhas, Natividade e Souza são referências permanentes nos documentos sobre as disputas
de limites mantidas até o início da década de 1960. Esperava-se que fosse o centro de um grande
movimento de ocupação de todas as adjacências do rio Doce, decepção ao ver que os esperados
comerciantes não apareceram, também se frustrou diante das continuadas agressões dos índios,
mesmo depois de ter proibido a produção de farinha de mandioca, para não os atrair. Silva
Pontes faleceu em 1805 e sua meta de fazer do Porto de Souza um entreposto comercial nunca
se concretizou.
Paula (1993) diz que, diversas dificuldades ocorriam durante o final do século XIX e
início do século XX, por conta da conhecida cachoeira das Escadinhas, a navegação no rio Doce
precisava ser interrompida durante o trecho que passa pela atual cidade de Aimorés, esse trajeto
era feito por dentro da mata, levando a embarcação gerando uma espécie de comercio com
alguns dos moradores da região onde futuramente existirá a cidade de Baixo Guandu, essas
travessias pela densa floresta duravam dias, mesmo o trajeto tendo apenas algumas léguas,
como informado por Francisco Manoel da Cunha e outros viajantes do período.
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Nome dado em 1856 por João e Luiz de Aguiar a localidade, esse é o nome mais encontrado na historiografia
até meados de 1960, e foi o nome da cidade até 1910, quando, em homenagem aos pretéritos moradores,
deu-se o nome de Aymorés.
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posteriormente aos primeiros ocupantes, o senhor Paulo Martins dos Santos instalou ali um
engenho junto a margem esquerda do rio Manhuaçu, esse seria o “fundador” da cidade, próximo
a sua propriedade, formou-se um povoado que chamaram de “natividade do Manhuaçu”, depois
mudou de nome para “barra do Manhuaçu”, hoje um bairro da cidade.
Esse povoado recebia todas as mercadorias que vinham pelo Rio Doce até o Porto do
Souza na cidade vizinha, um novo povoado surgiu na margem direita do córrego da Natividade,
região inclusive de disputa com o estado do Espirito Santo sobre fronteiras de estado, esses dois
povoados coexistiram como centros de comércio e fluxo de mercadorias até a construção da
Estação Ferroviária da Estrada de Ferro Vitória a Minas em 1907, transferindo esse centro para
o largo da estação (hoje Praça João Pinheiro) e a Av Afonso Pena (hoje, Av, Dr Américo
Martins da Costa), sendo até hoje a principal zona comercial da cidade.
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JUSTIFICATIVA
O patrimônio arqueológico brasileiro está sob a tutela do Estado, sendo os sítios
arqueológicos bens da União. A integridade dos bens arqueológicos é respaldada (assim como
o presente trabalho) por uma série de legislações que definem como uma prática ética da
sociedade brasileira, a preservação de seu passado através da devida gestão do patrimônio
material. A primeira legislação nesse sentido foi a Lei 3.924, de 1961, que proíbe a destruição
ou mutilação, para qualquer fim, da totalidade ou parte das jazidas arqueológicas, o que é,
portanto, considerado crime contra o patrimônio nacional. Nessa lei, pela primeira vez, a cultura
material arqueológica foi vista pelas autoridades como um bem a ser resguardado; afirmação
que, por sua vez, se ratifica na Constituição de 1988, em seu artigo 225, parágrafo IV, no qual
a guarda e proteção dos bens arqueológicos é assegurada.
Assim como ocorre em âmbito federal, o estado de Minas Gerais também tem sua
legislação própria de tratamento para com os bens arqueológicos. Nesse sentido, a Constituição
Estadual de 1989 (artigo 11, parágrafo III; artigo 208, parágrafo V), trata da competência do
estado em relação à proteção de bens arqueológicos e seu conceito de patrimônio cultural, além
de diversas leis complementares ao que pede a Constituição, sendo elas: Lei nº 11.726, de
30/12/1994; Lei nº 13.956, de 24/7/2001, que discutem o patrimônio arqueológico e sua
preservação. Dessa forma, a importância da preservação da integridade dos bens arqueológicos
é responsabilidade de todas as esferas de poder, demonstrando assim a necessidade de trabalhos
de diagnostico arqueológico para que esses bens possam ser identificados e devidamente
amparados e assistidos.
Apesar de todas as legislações que nos auxiliam a dirimir a destruição desses bens,
algumas traem os seus princípios protetivos, e acabam gerando possíveis riscos para as futuras
pesquisas em determinadas regiões. Um exemplo disso é a resolução 357/2017 do CONSEMA
gaúcho que coloca em risco todos os bens não registrados, já que essa resolução condiciona a
realização de estudos arqueológicos somente onde já existem bens acautelados.
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são de pequeno porte, e assim, não se enquadram na legislação que exige estudos de impacto
ambiental.
Situação essa, que ocorre no momento em Aimorés, onde diversas obras de reforma e
construção de novos prédios, modificam a paisagem sem uma adequada gestão do potencial
patrimônio ali contido. Já que, conforme demonstrado na introdução do presente projeto, o
município se encontra em uma zona com comprovadas ocupações pretéritas (FIGURA 2), e
uma ocupação contemporânea centenária. Sendo assim, uma gestão adequada do patrimônio
arqueológico, evitaria o risco de sítios arqueológicos de extrema importância para compreender
a ocupação humana naquela região, se perderem.
Segundo Oliveira (2005), o ponto de partida para esse tipo de estudo e para a
preservação é o levantamento de potencial arqueológico, onde serão identificados os recursos
arqueológicos, sem sabe o que e onde, como se pode proteger algo? sendo assim, os
levantamentos de potencial, inventários arqueológicos e as cartas de potencial patrimonial são
de extrema importância para definir onde deve ser concentrada a atenção nas pesquisas futuras
e na gestão do patrimônio ali contido.
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no sentido da adoção de medidas legais, balizadas por uma legislação adaptada
às especificardes das áreas urbanas, como por exemplo, a instauração da
obrigatoriedade do acompanhamento de obras considerados na Carta
Arqueológica Municipal, como de alto potencial a existência de sítios
arqueológicos. (CHMIZ & BROCHIER, 2004 p.40).
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OBJETIVOS
O objetivo deste projeto de pesquisa é apresentar, localizar e identificar os depósitos
arqueológicos em Aimorés, e assim, construir uma carta arqueológica onde a integridade desses
achados possa ser garantida. Para isso, nos utilizamos aqui, de conceitos que demonstram a
possibilidade de sucesso desse tipo de ferramenta, abordados em JULIANI, 1997; OLIVEIRA,
2005. Juliani (1997), propõe a carta arqueológica como um instrumento não apenas de
inventário de indícios, mas de análise e pesquisa, buscando a compreensão dos traços de
ocupação antrópica do território. Sendo assim, esse instrumento é de grande valia para a gestão
patrimonial.
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SUPORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO
Segundo Staski (1982), a arqueologia urbana é definida como a relação entre cultura
material, comportamento humano e conhecimento (tecnologia) em um contexto urbano. O
mesmo, prossegue dizendo que, essa área de estudo surgiu somente durante a década de 1970,
tendo emergido na Europa e Estados Unidos por conta do desenvolvimento urbano e o perigo
que isso representava para integridade dos bens arqueológicos. A arqueologia urbana iniciou
com um apelo a uma arqueologia mais rigorosa em contexto urbano, posto que o pensamento
da época, era de que, o sítio urbano não poderia ser trabalhado, por conta de diversas alterações
“definitivas”, o sítio agora se encontra abaixo de camadas de pedras, cimento, asfaltos, enfim,
uma cidade. No entanto, esse novo apelo, demonstrou que tal contexto pode (e deve) ser
trabalhado.
Já na região sudeste,
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atualmente na Cidade da Copa. Outros trabalhos de longo prazo também
vêm sendo realizados em Salvador, tendo à frente Etchevarne (1999-
2000;2003), assim como as prevenções realizadas no Pelourinho. Em
outras capitais nordestinas alguns trabalhos pontuais também foram
realizados, em destaque temos Natal e São Luís, assim como os trabalhos
tanto preventivos como acadêmicos nas cidades de São Cristóvão e
Laranjeiras, em Sergipe por Costa. (COSTA, 2014 p. 59).
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escritório do arqueólogo. Inserem-se aqui, por exemplo, antigos mapas com a
localização de ocupações pretéritas ou de estruturas arquitetônicas, referências
de cronistas sobre a presença de edifícios específicos ou de áreas de uso (...), etc.
(DURAN, 2008, p.108).
As cartas arqueológicas, segundo Juliani (1996), têm sua origem nas reflexões sobre
arqueologia urbana da década de 1970, elas evidenciam a erosão de depósitos arqueológicos
assinalando o que existe e quais as lacunas do conhecimento da cidade, sendo um instrumento
básico na gestão deste patrimônio, além disso, devem conter, entre outros:
- Delimitação espacial das áreas de interesse histórico reconhecidas, como centro histórico,
rotas dos caminhos históricos, antigos pousos, praças, setores históricos dos bairros, etc.;
- Delimitação das áreas críticas, onde o risco de destruição do patrimônio arqueológico é maior,
em razão da iminente perturbação do solo pelas obras de infraestrutura urbana,
empreendimentos industriais e comerciais, etc.; esta delimitação não deve ser estática, devendo
estar sujeita a atualização constante;
- Análise preditiva, com base em modelos teóricos e amostragens recolhidas nos mapeamentos
preliminares, objetivando a avaliação do potencial de grandes áreas, quanto a probabilidade de
ocorrência de sítios arqueológicos. As análises levarão em conta os critérios amplamente
reconhecidos na metodologia e teoria arqueológica sobre os padrões de assentamento humano,
observando-se a contextualização histórica, ambiental, arqueológica e de preservação do solo,
segundo as diversas fases de ocupação territorial e prerrogativas de significância arqueológica;
- Avaliação dos recursos culturais, quando possível, segundo a sua utilização para fins
educacionais e/ou turísticos;
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CRONOGRAMA
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAETA, Alenice Motta; DE MATTOS, Izabel Missagia. A Serra da Onça e os índios do Rio
Doce: uma perspectiva etnoarqueologica e patrimonial. Habitus, v. 5, n. 1, p. 39-62, 2007.
JULIANI, Lucia de JCO. Gestão arqueológica em metrópoles: uma proposta para São
Paulo. São Paulo: Dissertação de Mestrado da USP, p. 27, 1996.
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OLIVEIRA, Alberto Tavares. Um estudo em arqueologia urbana: A Carta de Potencial
Arqueológico do centro histórico de Porto Alegre. Programa de Pós-Graduação em História,
Pontifícia Universidade Católica Do Rio Grande Do Sul, Rio Grande Do Sul, Brasil, 2005.
PAULA, Antônio Tavares de. História de Aimorés. Belo Horizonte: Usina de Livros, 1993.
PILÓ, Henrique Moreira D.; TUPIGUARANI, Arqueologia. relações entre as implantações dos
sítios e cultura material no Médio Rio Doce. Belo Horizonte, 2008.
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