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Fodor, Jerry A. (1983). The Modularity of Mind. The MIT Press, Cambridge, Mass.
I – Introdução
II – As Faculdades Mentais
O autor abre o primeiro capítulo do livro afirmando que vai tratar da Psicologia das
Faculdades Mentais, que é uma Psicologia vertical, oposta à visão generalista ou oceânica
da mente, advogada, por exemplo, por Piaget. Essa Psicologia das Faculdades Mentais vê
a mente como um complexo heterogêneo e, segundo o autor, se impressiona com as
diferenças entre funções ou noções mentais como: sensação, percepção, volição,
cognição, memória e linguagem. Faz, logo de saída a apresentação de um programa de
pesquisa em que se distinguem o comportamento exterior, o comportamento observável,
como sendo o efeito da interação dessas distintas faculdades.
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diferenciada”, contrastando-a com todas as formas de Empirismo, que assumem “a
homogeneidade e não diferenciamento do estado inicial, uniforme, através dos domínios
cognitivos” . Esta presunção aproxima mesmo Skinner de Piaget, embora em muitos
outros respeitos, estes afastem-se radicalmente. Chomsky utiliza analogias anatômicas
(coração, asas, membros) para falar de estruturas mentais. Assim, pode-se falar da
fculdade da linguagem, da faculdade dos números, por exemplo, como órgãos mentais,
bem como o coração, o sistema visual, o sistema de coordenação motora. Segundo
Chomsky, não haveria mesmo uma linha clara demarcando órgãos físicos, sistemas
perceptuais, motores e faculdades cognitivas. Para todos esses órgãos, o crucial é que o
desenvolvimento ontogenético é sempre um processo “intrinsicamente determinado”.
Isso quer dizer que o organismo não aprende a “crescer os braços ou a atingir a
puberdade”. Assim, também, não se aprende a linguagem de fora para dentro e, sim,
ativam-se estruturas intrínsicas (efeito gatilho). Obviamente, para Chomsky, o que a
criança nasce sabendo é um conjunto de princípios inatos, formais que estabelecem
condições sobre o que é universalmente possível. E é esse conhecimento inato que
interage com os “dados lingüísticos primários”. Outro aspecto importante do
conhecimento intrínsico é que, segundo Chomsky, ele é computacional, ou seja, implica
transformações sobre representações. Esquemas endógenos são calibrados em função
dos dados primários, em um processo conhecido como fixação de parâmetros.
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Responder essa pergunta exige a concepção funcional, arquitetural, mais do que a Neo-
Cartesiana. Outro exemplo: há uma faculdade de julgamento que consiste na avaliação
entre diferentes identidades. Essa faculdade tem seu algoritmo, mas seu conteúdo pode
variar, pois ela pode se aplicar a respeito de matérias de estética, questões legais,
científicas, morais, etc. A questão, no entanto, é que do ponto de vista do tratamento
horizontal das estruturas mentais é a mesma faculdade que se exercita em relação a
distintos conteúdos. O sistema de memória seria o mesmo para lembrar de proposições,
por exemplo, a constatação de que o carro é vermelho e de eventos, por exemplo, a ação:
“o carro atropelou um transeunte”. Um sistema horizontal. Enfim, uma faculdade
horizontal é um sistema cognitivo que atravessa diferentes domínios. Se há um mesmo
mecanismo psicológico que se utiliza tanto para identificar uma flor, quanto para
identificar o valor de cédulas de dinheiro, então esse mecanismo é horizontal, conclui
Fodor.
A teoria horizontal parece haver saído de uma teoria do senso comum da mente, parece
que as coisas simplesmente são assim. Por outro lado, a tradição vertical em Psicologia
está associada ao trabalho de Franz Gall. Para Gall, não há memória, atenção, volição,
não há faculdades gerais, horizontais. Há, sim, propensões, disposições, aptidões, que
são identificadas não como competências gerais, mas como competências em domínios
específicos. Assim a aptidão musical é distinta da aptidão matemática ou mesmo verbal. .
Os mecanismos psicológicos que subservem uma capacidade são distintos daqueles que
subservem outra. Um exemplo do próprio Gall: a capacidade de construir ninhos de
certa maneira e a capacidade de cantar de um pássaro não devem ser vistas como
aplicações das mesmas capacidades gerais de desempenhar certas tarefas. Não há uma
capacidade ornitológica única cujas manifestações são cantar e construir ninhos. Há
diferentes intelectos, diferentes capacidades, inteligências múltiplas. Por exemplo, tome-
se a acuidade. Não há uma faculdade da acuidade, sincategoremática. Um indivíduo
pode ter acuidade visual, mas não gustativa, auditiva ou olfativa ou mesmo de memória.
Então não cabe falar de uma capacidade da acuidade, mas de parâmetros de diferentes
módulos: visão, audição, paladar, memória. Esse estilo de teorização combina o
nativismo com a especificidade de domínio, que já foi chamado de organologia. Gall
argumenta, por exemplo, sobre a memória: se esta fosse horizontal, uma pessoa capaz de
se lembrar de uma coisa, deveria se lembrar de qualquer outra coisa igualmente bem, em
qualquer domínio cognitivo e o que se verifica é que há bons memorizadores de números,
que não necessariamente são bons memorizadores de direções espaciais ou de poemas.
Gall invoca o argumento ou lei de Leibiniz: uma mesma faculdade não poderia ser, ao
mesmo tempo, forte e fraca: assim se alguém tem boa memória matemática, mas
memória musical fraca, a memória que media a matemática não pode ser a mesma que
media a música. Assim, a questão se coloca: há diferentes faculdades mentais ou uma
mesma faculdade horizontal com diferentes aplicações? Para Gall as faculdades verticais
têm as seguintes características: especificidade de domínio, determinação genética,
estruturas neurais distintas e autônomas computacionalmente. Fodor considera que a
noção de faculdade vertical é, talvez, a maior contribuição já feita para a psicologia
teórica, base da Ciência Cognitiva moderna. Entretanto, por que não se fala de Gall nos
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livros acadêmicos? Gall fez dois erros que acabaram com ele: associou o grau de
desenvolvimento de um órgão a dimensão relativa da área mental correspondente e
propôs que o cérebro e o crâneo se ajustam como a mão e a luva. Daí para a disciplina
conhecida como Frenologia foi um passo. Passou-se a medir caráter, propensão ao crime,
pelo formato da cabeça, disciplina lombrosiana de triste memória que ocasionou
charlatanismo e fraude. Charlatanismo e fraude por que Gall não é responsável mas por
que, não obstante, pagou seu preço com a obscuridade a que ficou relegado.
4. Associacionismo
(c) As leis associativas são princípios que regem a maneira como a experiência empírica
de um organismo determina que idéias são associadas ou que reflexos condicionados
são formados.
(d) Relações associativas admitem parâmetros (ou pesos) para as estruturas psicológicas
relacionadas, diferenciando, por exemplo os níveis de condicionamento operante.
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computacionais a partir da informação ambiental dada pela experiência. Há um
associacionismo clásssico que admite uma teoria da aprendizagem, um associacionismo
mais computacional que nem mesmo a admite, mas ambos tentam negar ou reduzir o
papel das estruturas mentais, o fato de que há uma arquitetura mental inatamente
especificada cuja ontogenia dá-se em um programa genético “hardwired”. Para os
associacionistas computacionais essas estruturas teriam uma existência a posteriori, ou
seja, seriam elas mesmas resultado de associações.
1. Os sistemas cognitivos têm domínio específico ou suas operações têm escopo sobre
diferentes domínios de conteúdo? A organização cognitiva é VERTICAL ou
HORIZONTAL?
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COMPILADORES –TRANSDUTORES. São, portanto, SISTEMAS de INTERFACE ou
analisadores de input. São SISTEMAS SUBSIDIÁRIOS distintos dos SISTEMAS
CENTRAIS. Um exemplo de análise perceptual é a memória inicial de um input: O
tempo de perduração do percepto auditivo é maior (4 segundos) do que do percepto
visual (1 segundo). Se temos que trabalhar com esse input, ele precisa ser levado a uma
instância de análise mais complexa, a memória de curto prazo. Os sistemas de input
levam informação aos processadores centrais, mediam entre transdutores e mecanismos
cognitivos centrais.
Tricotomia
Fodor passa, então, a caracterizar propriedades exclusivas dos módulos, que os sitemas
centrais não possuem:
1. Função obrigatória. Uma vez recebido o input, este deve ser analisado. Ao lermos a
palavra casa, não podemos deixar de reconhecê-la como uma palavra do português e
recuperar seu sentido. Nós não temos a habilidade de impedir este processo. Nós não
podemos deixar de caracterizar uma frase como uma frase quando a ouvimos, nem
podemos deixar de ver um objeto a nossa frente se olharmos para ele. Em outros
domínios não modulares não há obrigatoriedade. Assim, podemos ser cristãos, mas
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em uma dada ocasião temos o arbítrio de proceder em desacordo com este credo. “Eu
não pude evitar de ouvir o que você disse” é um clichê freqüentemente ouvido.
2. Módulos são de domínio específico e tem acesso limitado aos processos conscientes
de reflexão. Atuação é automática. São mecanismos de propósito especial.
Experiências no laboratório Haskins demonstraram que a análise acústica dos
mecanismos de percepção da cadeia falada são específicos, distintos dos mecanismos
ativados na percepção de sons não lingüísticos. Hoje há evidências, inclusive, de
analisadores específicos não só em relação à capacidade de linguagem, universal, mas
até certo ponto formatados por cada língua específica. (Caso do Princípio Late
Closure, por exemplo). Inclusive, detectou-se aqui o efeito que na Física é conhecido
como o paradoxo partícula/onda. O mesmo sinal acústico pode ser reconhecido como
um “glide”, uma semi-vogal se parte de um estímulo de fala ou como um som não
lingüístico, um “assobio”, se isolado da corrente da fala. O que significa que os
sistemas computacionais invocados na análise perceptual da fala são distintos, pois
operam sobre enunciados lingüísticos, apenas. Ativa-se amaquinaria cognitiva
específica: “ah! É linguagem” , então invoco certas estruturas; “não é linguagem”,
engajo outras. Há mecanismos altamente especializados, seguindo princípios
exclusivos. Vimos por exemplo, no que se refere à linguagem, a noção de c-
comando, uma relação estrutural semanticamente imotivada. Na visão, por exemplo,
há mecanismos especiais para a percepção de cor, a análise da forma, de relações
espaciais tridimensionais. Na audição, há sistemas computacionais específicos para
detectar a estrutura melódica, a estrutura ritmica. Há sistemas próprios para o
reconhecimento de voz. A própria existência de ssitemas modulares são resultado da
concepção de especificidade, no sentido de que outros processos cognitivos não o são.
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processamento que está ativado. O contrário também poderia ocorrer. É claro que
pode-se realizar algum controle, mas é preciso separar. Em alguns níveis se consegue
separar, em outros não.