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1. INTRODUÇÃO................................................................................................................1
2. BREVE HISTÓRICO DO SURGIMENTO DOS BANCOS NA IDADE MÉDIA....1
3. A FAMÍLIA MEDICI......................................................................................................2
3.1. O PODER POLÍTICO DOS MEDICI...............................................................3
3.2. O PODER ECONÔMICO DOS MEDICI.........................................................4
4. GOVERNANÇA INTERNA DA HOLDING.................................................................6
4.1. A HEGEMONIA FAMILIAR............................................................................7
4.2. O ADVENTO DAS PARTNERSHIP.................................................................8
4.3. ISOLAMENTO DOS BRANCHES E A DIVISÃO DOS LUCROS.............10
5. UMA QUESTÃO DE GOVERNANÇA E COMPLIANCE: ANÁLISE DO
DECLÍNIO DO BANCO MEDICI À LUZ DA ATUAL TEORIA............................10
5.1. A ATUAÇÃO ESPECÍFICA DOS BRANCHES À LUZ DA TEORIA........11
6. SÍNTESE CONCLUSIVA..............................................................................................14
7. REFERÊNCIAS..............................................................................................................15
RESUMO
Partindo para a última parte do artigo, entendemos que o surgimento de teorias como
as de compliance e governança corporativa surgem em um contexto histórico muito específico
da nossa realidade; contudo, elas nascem com o intuito de prevenir certas práticas, que, como
averiguamos, não são recentes nem muito menos extintas, mas sim existem e são cometidas
desde quando os Medici dominavam a Europa. Tendo essa relação em vista, analisamos as
práticas corporativas de administração interna dos Medici, que regulamentavam como os
administradores deveriam agir e se eles agiam de acordo, sempre baseados nas atitudes que as
teorias vieram para regular, para, no final, realizarmos como esse gerenciamento influenciou
no posterior declínio do banco.
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exemplo, por conta das expedições marítimas e o comércio ultramarino, muitos bancos surgiam
apenas com o intuito de cuidar das finanças de um determinado intercâmbio, empreendimento
ou viagem, e depois se dissolviam.
Portanto, os bancos no período do século XIII e XIV, atuavam como auxiliares dos
comerciantes e empreendedores, dando a eles a garantia e a segurança não só de que o dinheiro
estaria guardado, mas também de que um conjunto de funcionários e profissionais estariam
empenhados em realizar as transações.
Como será mostrado no próximo tópico, a companhia dos Medici, em seus mais de
noventa anos de existência, adotará práticas semelhantes às da Casa Di San Giorgio, adaptadas,
no entanto, à realidade florentina e suas estruturas políticas, as quais permitirão uma influência
significativamente maior do que a de um “lobby”, como o visto em Gênova.
3. A FAMÍLIA MEDICI
Feita a apresentação do contexto histórico, faz-se necessário agora compreender os dois
principais pilares sobre os quais os Medici se apoiaram para construir seu Império e uma das
maiores fortunas da Europa no século XV: o poderio político e econômico que é o primeiro
enfoque desse tópico.
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3.1. O PODER POLÍTICO DOS MEDICI
Tendo por base a teoria marxista, poder político está ligado, sobretudo, à dominação do
Estado e à imposição dos interesses de uma dada classe1. Os Medici, por conta da origem ligada
ao comércio e às riquezas advindas da atividade, em um contexto de ascensão da sociedade
burguesa na Itália, já se colocavam como parte da classe dominante, tendo assim seus interesses
mais básicos já garantidos pelo Estado, tais como a liberdade de iniciativa e a propriedade
privada.
Ademais, faz-se jus salientar que, ao analisar mais profundamente uma dada classe
dominante, é perceptível um conflito interno quanto à forma como o aparato estatal será
administrado, no qual cada empresa ou família deseja impor suas políticas, a fim de obter
vantagens em relação aos seus concorrentes, estabilidade e proteção frente a qualquer possível
ação do Estado. Tendo isso em mente, a ascensão dos Medici, sobretudo sob a liderança de
Cosme, deve-se ao modo como este, utilizando-se de sua influência e poder econômico,
conseguiu rebaixar a já elitista República Florentina aos interesses de sua Casa, promovendo
,dessa forma, políticas financeiras e tributárias, bem como diplomáticas, alinhadas à suas
ambições e projetos, o que fará as filiais se multiplicarem através da Itália e os lucros
aumentarem em escala espantosa.
Como levantado pelo professor Paul Larivaille, o maior mérito de Cosme foi ter
conseguido suplantar a bem firmada, e fervorosamente defendida por grande parte da
população, República Florentina por uma “monarquia larvada”. Para tal, o visionário Medici se
aproveitou de algumas “fraquezas”, por assim dizer, da República ali firmada, dentre as quais
consta a existência de um eleitorado restrito às classes mais altas, uma seletividade dos possíveis
candidatos com base em critérios de renda e um sistema que, constantemente, apelava a
indicações aos cargos. Com isso, a obtenção de hegemonia política estava diretamente ligada a
possuir simultaneamente aliados dentro da burguesia e posições nos conselhos responsáveis por
indicar candidatos, sendo ambas condições facilmente conquistadas quando se é uma das
famílias mais ricas da cidade.
Havia um cuidado para reproduzir esse sistema de forma a evitar ferir as instituições,
respeitando, sobretudo, a legalidade e o método pelo qual as eleições eram feitas. O objetivo
era, justamente, evitar desagradar a população, a burguesia não partidária e a oposição.
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MARX, K, ENGELS, F. A Ideologia Alemã. p. 61, 7ª ed, São Paulo: Hucitec, 1989.
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Interessante é também apontar que além das táticas institucionalizadas, os Medici se
perpetuaram no poder por ter uma visão ampla da estrutura social Florentina. Suas políticas,
por mais que fortemente ligadas à interesses individuais, atendiam a ordem burguesa em sua
maioria, fazendo com que mesmo os grandes comerciantes e banqueiros opositores da família
os vissem como aliados em momentos de crises sociais ou políticas estatais mal geridas. Um
episódio que retrata bem esse fenômeno ocorreu em 1497, quando ,após a expulsão dos Medici
da cidade, por conta dos erros cometidos por Piero de Medici, e a “restauração da república”, o
Duque de Milão, apoiado por setores da burguesia, sugeriu a necessidade de um golpe para
devolver à família o poder, a fim de estabilizar a convulsão social gerada por Savonarola, um
padre que, com apoio popular, vinha desafiando setores do alto clero e da burguesia.
Além disso, o fato da família ser a maior contribuinte da cidade e a terceira da Itália é,
indubitavelmente, uma questão a ser levada em consideração ao pensar na influência exercida.
Um aumento na arrecadação de impostos proporcional ao sucesso dos investimentos da Casa
fez com que, para uma parcela da população, existisse um retorno para o público na
instrumentalização feita do Estado, o que agradou também a nobreza e os burocratas existentes
à época.
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O investimento na seda, por exemplo, é feito em um contexto no qual há uma intensa
desvalorização da lã florentina, fazendo dela uma substituta a longo prazo para o ramo
decadente. Entretanto, é no que diz respeito ao alume que será perceptível o caráter exuberante
dos empreendimentos da companhia.
A Guerra do Alume, como foi chamado o episódio, ocorreu em 1450, quando, após a
expansão turca sob uma região da Ásia Menor, uma das principais fornecedoras do alume para
a Itália, tem início uma crise por escassez do recurso e, consequentemente, a corrida para obtê-
lo. Os Medici, obviamente, não ignoraram a situação, ainda mais por terem seus investimentos
na indústria da lã e da seda, altamente dependentes do composto, e por isso, em 1461, quando
é descoberta uma jazida na Itália, a companhia investe fortemente na Societas Aluminun, que
viria a ter o monopólio de extração do minério com certa ajuda da Igreja Católica.
Esse capítulo demonstra também a relação simbiótica existente entre o poderio político
e econômico dos Medici, uma vez que, em 1470, outra cidade italiana, Volterra, descobre uma
mina de alume em seu território e, após uma confusão com investidores florentinos ligados à
família, dá ordens para seus soldados ocuparem a jazida. O resultado da disputa, por fim, foi o
cerco e saque de Volterra pelos florentinos.
Por outro lado, esse modelo administrativo, comparado por De Roover às holdings
modernas, ao mesmo tempo que gera uma série de vantagens, demanda também uma maior
quantidade de gestores responsáveis e competentes, o que se tornará um problema após a morte
de Cosme, em 1464.
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Por fim, vale destacar também o papel dos Medici na Cúria da Igreja Católica, na qual
eram depositários da Câmara Apostólica, possuindo dessa forma uma posição de extrema
importância, a qual garantia também um enorme lucro para a Casa, mais especificamente para
a filial de Roma, a mais lucrativa. Em tal empreendimento, os Medici, basicamente,
administravam as finanças pontificais, bem como o dinheiro de ricos membros do clero.
A função, apesar de privilegiada e lucrativa, era condicionada à uma boa relação com a
Igreja, o que nem sempre vinha a acontecer, tendo em vista o episódio no qual, após um
desentendimento relacionada à questão do alume, o papel na Cúria foi passado para os
principais concorrentes dos Medici em Florença, os Pazzi.
Observa-se que a companhia dos Medici, pelo menos até a liderança de Cosme, era, sem
sombra de dúvida, visionária, não só em relação às possibilidades, mas também quanto à sua
própria gestão, criando o primeiro grupo societário que se tem registro (Na proto-história…), e
o cenário político e social de Florença, o que veio a permitir enriquecimento e, sobretudo,
controle sobre as instituições republicanas florentinas em um nível nunca antes exercido pela
ascendente burguesia italiana.
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4.1. A HEGEMONIA FAMILIAR
Na gerência do banco, havia dois tipos de sócios: os gerentes locais e os membros da
família Medici, sendo que esses últimos sempre possuíam mais de metade do capital social e
tinham o poder de dissolver a sociedade a todo tempo. Assim, os Medici eram controladores,
com o poder de ditar a política empresarial da sociedade, enquanto que os gerentes locais apenas
faziam a administração ordinária dos negócios locais.
O acesso ao poder decisório acerca da empresa, então monopólio dos Medici, se dava a
partir de parentesco ou via casamento. Era comum, por exemplo, que membros da família
fossem trabalhar em algum dos branches e tivessem um péssimo rendimento por acharem que
suas relações familiares os protegiam de qualquer situação, mas mesmo assim eram sucessores
dos gerentes das respectivas filiais, e só acabam por trazer prejuízos à empresa.
Ainda sobre a forma como se estruturavam os branches, seus gerentes, muitas vezes,
tinham grandes responsabilidades inerentes a seus cargos, mas que eram demasiado difíceis de
serem carregadas sozinhas. Isso ocorria pela política da empresa de garantir autonomia entre
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cada uma das filiais, sem que se elas se comunicassem entre si antes de fazer as mensagens
chegarem à matriz. Tal fato era reflexo da centralização decisória concentrada no pater familias,
seja Cosme de Medici, seja Lorenzo, o Magnífico. Inclusive, o apelido deste último veio do
modo pelo qual seus subordinados o chamavam, demonstrando tamanha pompa e sofisticação.
Além das operações bancárias, os Medici desenvolveram outras duas atividades, ligadas
ao papado: explorou jazidas de alume, utilizando o poder espiritual da igreja para constituir um
monopólio da venda do mineral, e detinha a exclusividade de coleta de dízimas pontifícias. A
fim de atender a todas essas atividades, os Medici formaram uma estrutura empresarial
complexa e flexível.
No entanto, mesmo com tal informações o comércio era arriscado, uma vez que a
comunicação era muito devagar, gerando a possibilidade de, assim que a informação acerca de
uma localidade chegasse, a situação do mercado naquele local já ter mudado completamente.
Mesmo assim, as transações com o exterior tinham a vantagem de espalhar os riscos, uma vez
que não eram feitos compromissos além de uma certa quantidade inicial de capital investido.
Antes dos Medici, a atividade dos banqueiros florentinos era centralizada, havendo uma
sede que se estendia no exterior por meio de agências. Porém no banco dos Medici havia um
rompimento na ficção de igualdade entre sócios, criando-se a figura do sócio controlador, o
chefe, sendo que as agências no exterior se tornaram autênticas sociedades locais. Uma das
explicações para essa diferenciação em relação aos outros bancos seria a ideia de isolar os riscos
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de insolvência local em relação à empresa familiar, sendo que a fragmentação societária serviria
como um obstáculo para o espalhamento de crises entre as filiais.
Dessa maneira, banco dos Medici não consistia em uma única firma, e sim em uma
combinação de parcerias (partnerships) controladas por uma firma principal, localizada em
Florença, que incluía na sua maioria membros da família Medici. Cada um dos branches
consistia em uma entidade separada, com seu próprio capital e sua própria gerência, mas a maior
parte do poder continuava concentrada na firma principal da família Medici. Nesse modelo, o
banco dos Medici se assemelhou muito, guardadas as devidas proporções, às holdings atuais,
pois consistia em uma verdadeira combinação de parcerias, ao invés de uma organização no
estilo de corporações e companhias. A filial principal, controlava as filiais subsidiárias, por
possuir mais de 50% do capital total do banco. Isso impedia que as filiais subsidiárias
rompessem com a filial principal e criassem firmas concorrentes. Para o mesmo objetivo, eles
também mantinham regras de marca e a custódia dos objetos do branch. Assim, a filial
principal não apenas controlava as subsidiárias, como também as inspecionava e
supervisionava.
A nomeação de novas gerências de cada filial era seguida de rigorosos contratos, que
seguiam mais ou menos o mesmo padrão, e que versavam desde a distribuição de lucros e perdas
até aspectos da vida pessoal do novo gerente. Os Medici, na filial principal, não estavam tão
dispostos a assumir responsabilidades ilimitadas, de maneira que as vezes constituíam parcerias
limitadas, nas quais eles não poderiam ser executados por quaisquer créditos além de sua
contribuição inicial.
Todo ano, os gerentes de cada filial deveriam enviar para a Florença uma folha de
balanços que indicasse todos os créditos e débitos das operações comerciais operadas por aquela
filial. Essas folhas eram checadas, item por item, para certificar a existência de eventuais contas
duvidosas ou não-pagas. Isso requeria a presença do gerente da filial para responder eventuais
dúvidas, o que explica a exigência de que os gerentes que morassem na Itália fossem ao menos
uma vez por ano para Florença, e os que morassem além dos Alpes fossem ao menos uma vez
a cada dois anos. No entanto, mesmo tal fiscalização folha por folha não permitia um total
controle das finanças, uma vez que, em primeiro lugar, era feita entre lapsos temporais
relativamente grandes, o que impedia que problemas fossem detectados rapidamente, e em
segundo lugar não impedia que adulterações nos documentos fossem feitas antes da ida à
Florença, como veremos que ocorria mais à frente, uma vez que a fiscalização não se dava no
branch a todo tempo, e sim apenas no momento da prestação de contas.
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4.3. ISOLAMENTO DOS BRANCHES E A DIVISÃO DOS LUCROS
Os branches tratavam uns aos outros como se não fizessem parte de um mesmo banco.
Eles cobravam taxas uns aos outros, e uma filial não era responsabilizada pelas atitudes de outra
filial. Assim, as filiais organizavam-se como sociedades, com razão social e capital próprios.
Elas comerciavam entre si na mesma base que o faziam com terceiros.
O único meio de comunicação entre as filiais subsidiárias e a filial principal, além das
subsidiárias entre si, era a correspondência, muito lenta na época. Apenas uma pequena fração
das cartas sobreviveu até os dias atuais, mas ainda correspondem em um grande número de
material de estudo. Havia dois tipos de cartas. O primeiro eram as lettere di compagnia, cartas
de negócio, que versavam acerca de contas, pagamentos, chegada de encomendas, débitos e
créditos e outros assuntos rotineiros. Já o segundo tipo eram as lettere private, que tratavam de
assuntos confidenciais e eram geralmente escritas pelo gerente de uma filial e endereçadas para
o gerente da filial principal, e versavam acerca de assuntos como política de créditos,
perspectivas para o futuro, problemas de gestão e a condição financeira das filiais. Elas também
tratavam de questões de política e às vezes serviam inclusive como informativos de informações
confidenciais, que conferiam à família Medici certo poder diplomático.
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algumas branches, como, por exemplo, a de Roma e Veneza, como a atuação dos sócios
influenciou a falência do banco ao colocar em evidência as suas práticas que estavam em
desacordo com a teoria.
O intuito da comparação não é de criticar a atuação dos Medici, uma vez que as
concepções apresentadas nem sequer existiam na sua época de controle do banco. A finalidade
é demonstrar a importância da adoção da teoria para as empresas modernas por meio da
exposição, do que agora sabemos ser erros, de práticas de atuação corporativa que levaram a
família mais poderosa da Europa naquela época a falir e que se repetem até hoje, mas que
atualmente podem ser evitados graças ao desenvolvimento teórico demonstrado.
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funcionários, com intuito de impedir revoltas contra o diretor. Na verdade, essa prática retinha
a informação das partes interessadas tanto pelo lado dos trabalhadores como do lado da
organização central do banco. O único que controlava a veracidade das informações do livro
era o próprio diretor, logo, a única coisa que impedia a falsificação dos dados era sua moral.
Uma preocupação maior com a clareza das informações que estavam sendo contidas poderia
permitir uma fiscalização mútua entre todos os engajados na manutenção da filial para que as
informações fossem verídicas e de acordo com a realidade que eles se encontravam, tendo em
vista que era do interesse de todos o bom funcionamento e faturamento.
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Por fim, um último princípio da governança corporativa interessante a ser estudado
segundo a atuação do Banco Medici é a responsabilidade corporativa. Ele afirma que os agentes
de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização, reduzir as
externalidades negativas de seus negócios e aumentar as positivas. No entanto, muitas vezes o
banco foi dirigido de acordo com intenções particulares dos administradores ao invés da
responsabilidade econômico-financeira da sua atuação.
Os interesses pessoais dos Medicis iam além dos empréstimos para os duques, mas
também afetava a evolução interna dos funcionários do banco. Leonardo Vernacci, em carta
para Giovanni de’ Cosimo, reclamou que um dos melhores funcionários do branch de Roma
havia se demitido após oito anos de serviço por ter sido negada uma promoção pelo
reconhecimento do seu bom serviço. Vernacci afirmou que ia contra a política do banco que
qualquer um poderia avançar através do bom desempenho, independente dos laços familiares.
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banco era apenas um fator que podia ou não coincidir com os interesses pessoais de alguns dos
administradores.
Por fim, é importante salientar que nenhuma das situações apresentadas por si só foi
decisiva para o declínio do banco, tampouco foram os únicos fatores que o influenciaram. O
banco passou por períodos de boas e más gestões e enfrentou até mesmo guerras na Europa.
Porém a desatenção para os regimentos internos do banco durante sua gestão, a falta de
transparência, accountability, responsabilidade corporativa e engajamento dos funcionários,
individualmente foram se empilhando e, no cenário final, com certeza obtiveram uma
participação significativa para que o banco não conseguisse sobreviver. Os Medici não estavam
munidos do conhecimento teórico que possuímos hoje, porém, o interesse do presente artigo
foi de analisar como as situações que a teoria surgiu para ajudar a prevenir não são problemas
recentes, mas que podem ser observados tanto nos bancos atuais como no embrião do sistema
bancário que foi o Banco Medici.
6. SÍNTESE CONCLUSIVA
O artigo buscou proporcionar uma contextualização histórica de onde, quando e por que
surgiu o Banco Medici: a relevância da mudança de perspectiva da sociedade, o avanço das
vendas e trocas, a utilização em larga escala das moedas. Nesse cenário, a predominância da
família foi fundamental para responder aos novos anseios que a mudança de paradigmas sociais,
econômicos, políticos e culturais trouxe consigo. Os Medici acumularam na sua figura familiar
um incrível poder político e econômico, que foi grande o suficiente para que controlassem a
Europa de acordo com as suas vontades. Todavia, a hegemonia familiar proporcionou também
conflitos. Alinharam uma inovação na governança interna do banco, que foi a aplicação de um
sistema muito semelhante ao que hoje conhecemos como uma holding, estando esse sistema
inovador alinhado a um fator muito tradicional que é mecanismo de controle familiar.
Conhecendo todos esses fatores, analisamos à luz de alguns princípios criados pelas
teorias de compliance e de governança corporativa a atuação dos Medici. Muitas vezes a gestão
das filiais do banco não seguiu os próprios regimentos internos definidos, pois os gestores
privilegiaram seus interesses e ganhos pessoais. Além disso, também não havia exigências de
uma fiscalização ou transparência por parte da central do banco, que facilitava esses desvios de
conduta. Em última análise, os casos isolados não são suficientes para derrubar a estrutura do
banco, mas com certeza colaboraram com o seu declínio. As práticas também não são
exclusivas dos Medici ou dos comerciantes da Idade Média, mas sim práticas que perduram até
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os dias atuais. Porém, hoje possuímos a vantagem de conhecermos as teorias que os Medici
nem sonhavam em possuir.
O objetivo do trabalho foi demonstrar como as propostas teóricas de uma boa
administração interna de uma empresa são extremamente relevantes para os empresários
contemporâneos, uma vez que a atuação em desacordo com práticas administrativas mais
saudáveis, no vocabulário de hoje, foi um fator muito importante para derrubar até mesmo um
dos maiores bancos que o mundo já conheceu.
7. REFERÊNCIAS
KOHN, Meir. Merchant Banking in the Medieval and Early Modern Economy.
Dartmouth College, Department of Economics Working Paper No. 99-05, 1999.
LARIVAILLE, Paul. A Itália no Tempo de Maquiavel (Florença e Roma). 2ª ed, São
Paulo, Companhia das Letras, 1998.
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PARKS, Tim. O Banco Medici. Record, 2008.
ROOVER, Raymond. The Rise and Decline of the Medici Bank (1397-1494). Harvard
University Press, Cambridge, Massachusetts, 1963
ZINGALES, Luigi. Towards a Political Theory of the Firm. Journal of Economic
Perspectives, vol 31(3), pages 113-130, 2017.
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