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Heather C.

Leigh
#1 Junkie

Série Broken Doll

Tradução Mecânica: Bia Z.

Revisão Inicial: Karla G, Eryka, Nicole S, Taty,


Andressa

Revisão Final: Syd Hart

Leitura Final: Bia B.

Data: 11/2017

Junkie Copyright © 2016 Heather C. Leigh


Eu sou uma viciada em heroína. Uma drogada. Uma prostituta. Vou
fazer qualquer coisa para conseguir a minha próxima dose.

Qualquer coisa.

Incluindo caminhar direto para a propriedade do mais cruel e temido


traficante de drogas de Austin para implorar por alguma H1. Eu não sei o
nome dele, só sei que as pessoas o chamam de Boss. Oh, e que ele não vai
pensar duas vezes antes de colocar uma bala na minha cabeça.

Mas como eu disse, vou fazer qualquer coisa para conseguir a minha
próxima dose. Mesmo que isso me custe a vida.

Ou a mude para sempre.

1
Como os usuários chamam a Heroína.
Série Broken Doll

Heather C. Leigh
Abri a porta lentamente, sabendo que não faria qualquer som. Tive
o cuidado de lubrificar as dobradiças da cadela estridente hoje cedo. O
luar se propagou através das janelas, lançando um leve brilho azulado no
quarto. Me movi tão silenciosamente quanto pude, o que era
extremamente difícil para um cara grande como eu, atravessei o quarto
para ficar ao lado da cama.

Viciada da porra.

Meus lábios puxaram para trás, expondo meus dentes. Se a menina


estivesse acordada, ela provavelmente iria se borrar diante da visão. Eu
era conhecido por assustar as pessoas com uma única carranca. A ruiva
parecia inofensiva dormindo — Magricela, bochecha côncava e braços
magros com marcas de seringas. Mas eu a conhecia melhor. Ela pode não
ser fisicamente forte, mas a patética menina tinha o poder de derrubar
tudo pelo qual eu trabalhei.

Por anos eu esperei pela oportunidade de derrubar o ex-chefe.


Pacientemente observando, aprendendo, encontrando suas fraquezas – as
que uma pessoa tinha encontrado primeiro. Assim, eu tive que começar do
zero. O meu lugar de direito fora negado, eu tive que voltar ao início e
planejar minha ascensão ao topo mais uma vez. E agora, eu estava quase
lá.

Então esta... Esta coisa estava ameaçando derrubar tudo, assim


como da última vez.

Não, eu não perderia o meu lugar. De novo não.

Eu pairei sobre a garota e peguei uma mecha de seu cabelo cor de


cobre, o peneirando através de meus dedos. De alguma forma, eu iria
transformar essa fraqueza em minha maior arma. Eu só tinha que
descobrir como. Sorrindo, eu escapei para fora do quarto e puxei a porta
atrás de mim.

Pode demorar alguns meses, mas eu farei isso acontecer.


Eu ia ser o próximo chefe de Austin.
Boss

Crack!

Eu tive menos de um segundo para me divertir com o som do meu


punho se conectando com a mandíbula do homem, o barulho ecoou por
todo o armazém sujo antes que a dor atingisse meus dedos e irradiasse
para meu braço. Para minha grande satisfação, sua cabeça machucada
bateu violentamente para o lado antes de cair e pendurar mole em seu
peito, sangue, saliva, e muco escorreu pelo seu nariz e boca.

A umidade no Texas era elevada nesta época do ano, o ar no


armazém estava pesado, cheirando a ozônio e odor corporal. Suor rolava
continuamente pelas minhas costas e escorria entre as minhas omoplatas
para mergulhar no cós da minha calça.

Minhas roupas estavam ficando todas danificadas, o que realmente


me deixou puto.

— Pare de choramingar!

Peguei um punhado de seu cabelo loiro gorduroso e puxei sua


cabeça para trás, ignorando seus gritos. Eu queria que esse idiota olhasse
nos meus olhos e entendesse o fodido problema que ele havia se metido.
Para ver em primeira mão o que acontece com aqueles que cruzam o meu
caminho. Os lábios trêmulos do homem e seus olhos assustados só
serviram para me deixar ainda mais irritado. Maricas. O filho da puta não
tinha direito de tentar me fazer sentir pena de sua bunda ladrona.

Pena era algo que estava completamente em falta em mim. Algumas


pessoas haviam me dito que eu não tinha sequer uma alma. Ou uma
consciência.

— É esta puta que eu estive fodendo, Boss. Ela deve ter roubado
alguns. Eu... Eu não...
Crack!

O golpe aterrissou perfeitamente em seu rosto e sua pele se abriu


pela força do soco. O sangue jorrava para o seu pescoço e na gola de sua
camisa suja.

— Não minta para mim, Mason! Eu sei exatamente o que você fez.
Você pensou que eu não iria descobrir?

Eu ignorei a dor em minha mão para me agachar na frente da


cadeira que o homem estava amarrado, resistindo à vontade de fazer uma
careta com a visão de seu rosto ensanguentado e os respingos no meu
terno caro. Nada me irritava mais do que bagunça e sujeira, especialmente
nas minhas roupas. A única coisa que me irritava mais do que o seu
sangue fodendo minhas roupas caras, contaminando a minha pele, era
descobrir que um dos meus funcionários estava me roubando.

Eu agarrei seu queixo inchado e apertei suas bochechas até ele


gritar como uma cadela que era. Uma gota de suor escorreu pelo seu nariz.
Eu quase podia sentir seu medo. Foi uma luta para manter a compostura
enquanto falava. Minha voz saiu baixa e ameaçadora, uma vez que
ressuou do meu peito.

— Ninguém me rouba, Smith. Ninguém.

Aborrecido com a bagunça que o homem choramingando fez no meu


terno de lã de verão, eu fiquei de pé, virei-me para sair, e fiz sinal a um
enorme homem loiro esperando pacientemente em um canto escuro do
armazém. O loiro veio imediatamente para o meu lado, trazendo com ele
uma nuvem de perfume caro. Seu enorme corpo estava vibrando de
empolgação.

— Sim, Boss.

O tom bruto combinado com a faísca aquecida em seus olhos


confirmou o que eu já sabia sobre o meu empregado. Ao contrário de mim,
meu grande amigo não podia esperar para sujar as mãos. Eu fazia isso por
necessidade. Ele fazia por diversão.

— Cuide disso.

Fiz um gesto na direção da confusão soluçante atrás de mim


enquanto eu sacudia a minha mão dolorida e franzia a testa para o
sangue. Eu honestamente não ligava para o que acontecesse com Mason
Smith. Tudo o que eu podia pensar era em esfregar aquela maldita
mancha de sangue e transformar isso em algo limpo.

— Claro que sim, Boss.

O loiro, meu tenente superior, Milo, estralou seu pescoço e seus


olhos escuros se iluminaram em uma espécie doentia de alegria. Situações
de merda era definitivamente a coisa do meu tenente, e era também por
isso que Milo era o meu braço direito, bem como meu guarda-costas-
golpeador-executor. O cara era sádico até o núcleo.

Corri a mão pela minha frente para endireitar as minhas roupas e


fiz uma careta para o rastro de sangue que foi deixado nelas.

— Eu estou indo para casa, Milo. Me informe quando tiver


terminado.

O loiro me deu um aceno rápido e um grande sorriso cruel.


Totalmente confiante de que eu podia confiar em Milo para cuidar da
bagunça, eu girei sobre os meus calcanhares e sai do galpão em ruínas
situado na periferia norte de Austin. O ar fresco, embora pesado com
umidade, limpou minhas narinas ofendidas. Inspirei fundo para me livrar
do cheiro de sangue e suor.

— Pronto para ir, Boss?

Meu motorista, Frank, que estava comigo durante anos, abriu a


porta traseira do sedan. Fechou-a em silêncio depois que eu entrei. Uma
almofada grossa foi colocada sobre o banco de trás junto com papeis
amassados revestindo o assoalho. Eu cuidadosamente desloquei-me
através do assento, eu fiz de tudo para não tocar em nada.

— Leve-me para fora daqui, Frank.

— Sim Boss.

Eu estava em um humor de merda desde que eu tinha sido


chamado para ir ao meu armazém no meio do meu dia já ocupado para
lidar com uma situação em que um dos meus funcionários foi pego
desviando drogas, para seu próprio suprimento. Roubando meu
suprimento. Pior, eu não tive tempo para mudar de roupa, então eu estava
coberto de sangue e um dos meus ternos favoritos foi arruinado. Olhei
para baixo e franzi a testa para as manchas no material fino. Eu engoli a
ansiedade que ameaçava subir a partir da confusão.
Frank manobrou o carro na estrada esburacada, cheia de crateras
que levava para longe do armazém, enquanto eu brincava com o pequeno
compartimento no console entre os bancos dianteiros. Enrolei um lenço de
seda de bolso em torno dos meus dedos para desfazer a trava. Lá dentro,
eu encontrei o que eu precisava e arranquei um par de lenços umedecidos
para limpar o sangue da minha mão. Não eliminava o cheiro acobreado de
sangue, mas pelo menos os tirava de minhas mãos. Eu descuidadamente
joguei os lenços usados no chão. Pessoas eram muito bem pagas para
limpar esse tipo de merda, então eu não tinha o porquê fazer.

Eu não subi ao topo de um complexo de tráfico de drogas muito


rentável e que tem poder sobre todas as vendas de drogas ilegais em
Austin sem sujar as mãos, literalmente. Entende-se que a violência veio
com o trabalho e quem não tem estômago para acabar com os seus
inimigos, e para lidar com a merda desagradável que precisava ser feita,
estava destinado a acabar amarrado a uma cadeira em algum armazém
quente como o inferno em um local industrial abandonado na zona rural
do Texas.

Então, sim, eu tinha que ficar sujo, mas eu não era estúpido.
Depois, eu teria certeza que todas as provas fossem limpas corretamente.

A viagem de volta para enorme mansão de tijolos de dez mil metros


quadrados que eu chamava de lar pelos últimos cinco anos levou quase
uma hora. Passei toda essa uma hora sentada no banco de trás do sedan,
me repelindo pelo meu odor, minhas roupas e as manchas escuras de
sangue seco na minha pele. Não era o sangue que me irritava. Eu
simplesmente gostava de manter certa aparência, uma de poder e controle.
Pelo menos, foi isso que eu disse a mim mesmo.

Para me manter ocupado e parar meus pensamentos conflitantes,


eu rolei minha moeda de 25 centavos da sorte que minha irmã me deu
anos atrás, entre os meus dedos, mas não estava funcionando esta noite.
Nada me distraia por muito tempo. Parecia que meu cérebro nunca
desligava. Eu tinha certeza que eu tinha algum tipo de transtorno
obsessivo-compulsivo. Eu só não gostava de pensar muito sobre isso.
Quanto mais eu me fixava em coisas, pior meus desejos se tornavam.

Eu não ligava para a palavra neurótico, mas por tanto tempo


quanto eu conseguia lembrar, era praticamente assim como minha mente
trabalhava. Minha mente iria até essas merdas repetidas vezes até que isso
me deixasse louco. Merdas como negócios se movendo em todas as partes,
as pessoas, o potencial de vazamentos, o roubo, os empregados indo para
a polícia ou trabalhando para os meus rivais, ou outras coisas, como as
minhas roupas, a limpeza da minha casa, ou pior, o meu passado e minha
família. Eu prefiro ter obsessões de merdas como a sujeira do que com os
tempos mais sombrios da minha vida. No entanto, repetida vezes, eu me
atormentei com esses pensamentos até que eu começasse a beber ou me
transformasse em um bastardo irritado e agitado.

Neste momento, eu não tinha qualquer álcool disponível, e o


bastardo agitado estava ganhando por um deslizamento de terra.

No momento em que o carro chegou a um rolamento lento na


entrada, eu estava ansioso para entrar em um banho quente, desesperado
para sair das minhas roupas manchadas do maldito sangue. O veículo
ainda estava se movendo quando eu abri a porta e saltei para fora antes
que Frank tivesse uma pista que seu único passageiro estava saindo.

— Vejo você na parte da manhã, Frank. – Eu dispensei o meu


motorista e fechei a porta sem um único olhar para trás.

— Sim, está bem. Até mais, Boss.

O ronronar tranquilo do motor deixou-me saber que Frank estava


levando o sedan de luxo elegante para a grande garagem para oito carros.
Meus ombros caíram e deixei escapar um longo suspiro. O sol tinha quase
terminado a sua descida no céu. Um dia inteiro de trabalho realizado e
ainda havia muito a ser feito.

Primeira coisa a fazer. Livrar-me das provas.

Nos degraus de pedra da mansão, eu tirei os meus sapatos italianos


favoritos e macios, agora completamente arruinados. Dando-lhes um
último olhar triste, eu deixei-os no degrau para que a equipe recolhesse e
os eliminasse. Eu usei o mesmo lenço de bolso de seda para abrir a porta
da frente, e caminhei pelo enorme vestíbulo de mármore de dois andares,
até a ampla escadaria, que levava ao hall do andar de cima. A curva à
direita no topo me levou através do quarto principal para o banheiro.

Com exceção da garagem, que era equipada com ferramentas de


fantasia suficientes e aparelhos para fazer qualquer cabeça pirar, este
banheiro era o meu refúgio. Um lugar para escapar da bagunça
interminável que veio por ser o chefe, e inclusive a necessidade de escapar
dos meus próprios pensamentos insidiosos. Por alguma razão, estar sob os
jatos suaves do meu chuveiro era a única forma que eu era capaz de
desligar os meus neurônios e realmente relaxar.

Frank tinha ligado antes para que quando eu chegasse a casa


estivesse preparada, encarregando uma dos meus empregados de espalhar
panos sobre o tapete do quarto principal e no piso de cerâmica do
banheiro. Parei na frente do espelho antes de tirar a roupa e fiz uma careta
quando eu observei o meu reflexo. O que eu vi foi chocante. O estranho
olhando para mim parecia uma merda assustadora, assassina, um maldito
criminoso. Na maioria dos dias, eu tinha a aparência de um rico
empresário bem preparado. A higiene pessoal era importante para mim.
Milo tinha feito piadas e me chamado de metrossexual, o que ele pensava
ser divertido, mas às vezes isso me fazia querer socar o seu dente de ouro.

Naquela noite, porém, o homem no espelho estava longe de ser bem


arrumado. Hoje à noite, eu parecia de todas as formas como o traficante
cruel que eu era.

Minhas sobrancelhas escuras estavam baixas e pesadas sobre o


piscar dos meus olhos que estavam atualmente alguns tons mais escuros
do que o seu habitual azul cobalto. Meus lábios estavam pressionados em
uma linha sombria, meu rosto pesado com stress. O terno de grife
personalizado branco e cinza claro que eu usava e que estava preservado
esta manhã, agora estava sujo salpicado com manchas de sangue. O
rastro era maior no meu peito e abdômen, gotas grossas arrastaram até
uma névoa fina em toda a minha garganta. Meus dedos, mesmo que um
pouco limpos dos lenços umedecidos, estavam vermelhos e inchados.
Haveria contusões sobre eles amanhã.

Deixei escapar um grunhido irritado e balancei a cabeça. Filho da


puta. Eu ainda não podia acreditar que filho da puta estúpido, Mason
Smith, estava me roubando.

Eu gostaria de ter batido nesse filho da puta mais forte.

Levou-me apenas um minuto para eu descartar e jogar todas as


peças ofensivas sobre o pano. Enrolei tudo junto e a enfiei em um cesto de
plástico forrado marcado como “lixo”. Os itens seriam manipulados por
minha equipe, incinerados em cinzas antes que os restos mortais fossem
depositados em um aterro sanitário para me certificar que todas as
evidências foram destruídas. Enquanto as roupas fossem tomadas de
cuidados, outros empregados iriam absolutamente esterilizar os pisos, a
partir dos degraus da frente até todo o caminho para o meu banheiro,
eliminando qualquer vestígio de sangue.

Frank estava no comando da limpeza do carro. Ele iria limpar


qualquer coisa mesmo que não tivesse sido tocado como a tampa do
assento ou os revestimentos do piso, usando uma luz especial para
garantir que todos os fluidos corporais fossem embora. Tudo o que eu
toquei seria esterilizado até que o evento no armazém já não existisse em
qualquer outro lugar, além da minha memória.

Com as roupas fora, eu desabotoei as duas bainhas pretas


envolvidas em torno de meus pulsos, pequenas lâminas de aço, mas letais,
enfiadas dentro de cada uma. Essas, eu cuidadosamente coloquei sobre a
bancada. Minhas mangas as impediram de ficarem sujas, por isso elas não
precisariam ser substituídas. Graças a Deus eu não senti a necessidade de
usar as minhas facas esta noite. Minha mão ficou machucada, mas socar
fazia muito menos sujeira do que esfaquear e cortar alguém. Eu enruguei
meu nariz com o pensamento do poderoso jato de sangue que viria de uma
artéria cortada.

Ansiedade ondulava sobre a minha pele quando eu me aproximei do


enorme chuveiro. Algumas torneiras em um painel digital e o chuveiro de
grandes dimensões rugiu para a vida. A água quente saiu dos jatos da
parede, enquanto uma torneira no teto enviou uma cascata calmante de
água. Desesperado para ficar limpo, eu entrei e assobiei para a picada de
queimaduras que o spray causava. Minha pele oliva instantaneamente
corou sob o calor escaldante da água. Estava muito quente, mas esse era o
meu caminho, minha rotina todas as noites, especialmente depois de
noites como esta. Não só eu precisava ter certeza de que eu estava
completamente limpo e livre de sangue, mas o calor também ajudava a
soltar os músculos tensos do meu corpo, lavando tanto as provas quanto a
ansiedade quando a água batia.

Com o foco único, peguei uma bucha e derramei uma quantidade


considerável de sabonete líquido perfumado sobre ela, esfregando cada
polegada de pele e cabelo. Uma vez lavado, repeti o processo, como de
costume, vasculhando meu corpo até que minha pele estava em carne
viva, tornando-se muito sensível para continuar.

Saí do banho com meu corpo vermelho da limpeza profunda, e


enrolei uma toalha em volta da minha cintura. A toalha foi jogada no cesto
de lixo com minhas roupas e eu voltei para ficar na frente do espelho para
examinar meu rosto. Eu fiz uma careta com o que vi. Sem dúvida, eu tinha
envelhecido muito nos últimos cinco anos, mais do que o natural. A vida
não tinha sido gentil. Ou fácil.

Aos vinte e oito anos, o homem no reflexo parecia mais como trinta
e oito. Linhas que não existiam há alguns anos agora plissavam os cantos
dos meus olhos como afluentes fora de um rio. A barba por fazer curta que
eu mantinha não me ajudava a parecer mais jovem; na verdade, ela fazia o
contrário.

Já manchado com cinza, minha nuca era um contraste chocante


com o meu cabelo quase preto. Mas o pelo facial me fez parecer mais como
um filho da puta assustador e menos como um garoto com cara de bebê
que tinha crescido neste jogo. Um jogo que, acima de tudo, era necessário
incutir grandes quantidades de medo e respeito – as coisas que não eram
entregues facilmente – nos rivais que já tinham visto de tudo e punks que
mal tinham idade suficiente para beber, muito menos executar um império
de drogas ilegais. Eu balancei a cabeça e afastei-me do estranho no
espelho.

Vestido com calças esportivas Armani, eu desci as escadas descalço


e me dirigi ao meu escritório. Com o polegar no teclado digital, abri a porta
reforçada. A luz verde brilhou, silenciosamente retraindo cada um dos sete
trincos de dois centímetros, liberando o trinco com um silvo suave. A porta
também tinha uma chave ou combinação em caso de falta de energia, mas
eu era a única pessoa com acesso a um desses. O escritório era o único
quarto da casa que foi projetado para ser completamente impenetrável, um
quarto do pânico. Enquanto cada janela na mansão foi construída com
vidros à prova de balas, o escritório também ostentava leves chapas de aço
blindados sob a parede de gesso e um sistema de filtragem de ar de alta
tecnologia ligado a um gerador.

Desesperado para libertar minha mente dos pensamentos


obsessivos, incitando-me a fazer coisas nada saudáveis, eu atravessei a
sala para o elaborado bar esculpido entre duas grandes estantes, derramei
uma porção saudável de uísque e bebi em um só gole.

Porra, isso queima tão bem.

Eu me servi outra dose, desta vez adicionando gelo e tomando-o


lentamente enquanto circulava com o dedo. Mentalmente e fisicamente
exausto, eu me deixei cair na cadeira de couro luxuosa. Meu corpo inteiro
relaxou no assento. Eu não queria contemplar os acontecimentos dessa
noite. O que foi feito foi feito. Eu nunca tinha arrependimentos, não com
os negócios de qualquer maneira, mas eu sentia-me cada vez mais piegas.
Minha mente continuava vagando, trazendo-me de volta ao meu passado,
apesar da minha aversão a fazer isso.

Eu precisava ocupar meu cérebro incansável com alguma coisa. Em


primeiro lugar, eu mexi com os poucos itens na mesa de trabalho,
meticulosamente alinhando-as em seus respectivos lugares, mesmo que
elas já estivessem o mais reto possível. Abri a gaveta alongada, plana e
depositei a minha moeda da sorte dentro, então organizei rapidamente o
conteúdo até que tudo estava perfeito. Ainda inquieto e na necessidade
urgente de uma diversão, eu girei para enfrentar a televisão de setenta
polegadas que estava na parede ao lado da mesa. Usando o controle
remoto, eu pressionei vários botões até que uma tela dividida em vinte
pequenas imagens diferentes das câmeras de segurança apareceu, a
maioria era de fora, assim como dez eram do armazém no centro da cidade
que servia como base de operações. Eu não tinha ideia de quanto tempo
eu estava sentado atrás da mesa, os olhos desfocados, olhando para as
imagens em miniatura, mas foi tempo suficiente para que a campainha de
fora do escritório tocasse e me assustasse pra caralho.

Foda-se, eu precisava tirar o inferno para fora do meu humor de


merda.

No monitor, vi Milo à espera na entrada da sala do pânico. Eu me


amaldiçoei silenciosamente. Ninguém deveria ser capaz de me pegar de
surpresa no meu escritório, especialmente não comigo olhando
diretamente para as câmeras de segurança. Uma das câmeras focava
diretamente no outro lado da porta. Eu podia ver que Milo havia tomado
banho e trocado de roupas, porra ele sabia que era melhor ele não vir com
suas roupas cheias de evidências para minha casa, ele esperou ser
autorizado a entrar no meu espaço privado.

Um botão debaixo da minha mesa abriu a porta. Os trincos


soltaram e meu braço direito entrou.

— Boss.

A expressão calma de Milo e o ligeiro sorriso me disse tudo o que eu


precisava saber, sem palavras. O problema Mason Smith tinha sido
cuidado.
Eu balancei a cabeça.

— Bom.

Quarto do pânico ou não, eu nunca discutia negócios em voz alta na


casa a menos que fosse em código ou usasse palavras ambíguas. O cara
que construiu a sala garantiu que era impossível ouvir através das paredes
grossas, mas os federais e os seus equipamentos sofisticados nunca devem
ser subestimados, para não mencionar os rivais prontos para me cortar na
primeira oportunidade.

Milo balançou a cabeça, servindo o seu próprio uísque antes de se


sentar em frente a mim. Esperei enquanto o homem tomou um longo gole
e sorriu. Ele mostrou seu pretensioso dente de ouro, o brilho do metal à
luz da lâmpada. Olhei para o bar e meu coração batia contra o meu peito.
Levou uma enorme quantidade de força de vontade e cerrar dos dentes
para resistir ao impulso de colocar a garrafa de uísque de volta no seu
devido lugar. Porra! Milo a deixou sem tampa no meio do balcão.

Milo era... Interessante. O idiota cruel que prosperou na dor e


poder. Um bastardo sanguinário, ele levava seu trabalho a sério e amava
cada minuto disso. Especialmente o status que veio por ser o executor
mais temido da cidade. Eu poderia ser o chefe da operação, mas Milo era o
músculo. Não que eu não fosse uma visão suficiente para ser temido, mas
se Milo entrasse na sala enquanto você estava sendo interrogado – ou seja,
sendo espancado até os ossos – você sabia muito bem o seu destino.

— E agora?

Perguntou Milo, preguiçosamente rodando sua bebida em sua mão


enorme. Sem ser específico, eu ainda sabia o que Milo estava perguntando.
Quem iria substituir Mason Smith? Aquele idiota fodido de merda. Ele foi
um dos meus melhores fornecedores da área com mais de dez homens sob
seu comando. Smith poderia ter subido na hierarquia e se tornado alguém
importante na minha organização. Mas então um comprador descobriu
que os sacos de Smith estavam leves e reclamou.

— Eu já tenho alguém para o seu lugar.

Eu continuei a beber meu uísque. O gelo tilintou contra o vidro


cada vez que eu inclinei o copo para minha boca.
Milo concordou. Ele recostou-se na cadeira, relaxado e contente
com o silêncio. Ele não era geralmente um homem de muitas palavras, que
seriam apreciadas. De repente, sem aviso, Milo estava de pé, seu brilhante
calibre 45 na mão e seu olhar endurecido fixo na câmera de segurança.
Saltei da minha cadeira, meu pulso acelerado. Meus olhos saltaram de
Milo para a tela e de volta para ele.

— O que, Milo? O que foi?

— Nove.

Ele apontou para a TV com o cano da arma maciça.

Eu empurrei alguns botões no controle remoto e a imagem da


câmera nove encheu a tela. Tudo entre nós tornou-se tão quieto, que eu
teria jurado que paramos de respirar. Quando vi a causa pela qual Milo se
agitou, eu abri a gaveta da mesa com uma mão firme e tirei meu próprio 9
milímetros. Com a arma na mão, uma onda de calma focada tomou conta
de mim quando eu bloqueei os olhos com meu tenente e fiz um gesto em
direção à porta.

— Vamos.

Miri

“Seu filho da puta idiota!” Gritei para o meu namorado-barra-


traficante-barra-estúpido desaparecido enquanto puxava as gavetas
abertas, espalhando roupas por todo o chão imundo em uma busca
desesperada. À beira de perder a cabeça, parei e olhei ao redor do
minúsculo apartamento que eu chamava de casa. Meus dedos trêmulos
emaranharam-se no meu cabelo amarrado. Este lugar era um total
desastre, mais parecido com uma cena de um assalto do que um lugar
para morar, já que eu havia o saqueado completamente na minha fútil
busca por uma dose.

Meu estômago escolheu aquele exato momento para doer. A dor foi
tão intensa que me abracei e desmoronei, caindo no chão enrolada como
uma bola. A agonia não era nada em comparação com o que eu sabia que
estava por vir, se eu não conseguisse algum H em breve. Apenas um
pacote. Isso seria o bastante para me segurar até que aquele idiota do
Mason voltasse. Suando excessivamente, usei a barra da minha camiseta
para limpar minha testa enquanto a ansiedade inundava minhas veias na
qual eu queria que os narcóticos estivessem fluindo. Eu mal tive energia
para me balançar para frente e para trás quando outra onda de dor atingiu
meu corpo frágil. Enquanto me contorcia em angústia, a realidade parecia
dar um forte chute nas minhas costelas.

Sem Mason, sem dinheiro, sem H, não haveria nenhuma forma de


conseguir a dose.

Onde diabos ele está?

Eu agarrei o tapete imundo com minhas unhas quebradas, e gritei


em frustração quando meu corpo e mente se voltaram contra mim. Incapaz
de respirar direito, comecei a discutir comigo mesma enquanto minha
mente se fragmentava.

Meu corpo implorou: Consiga algum H. Consiga algum H.

Eu não posso. Eu preciso que Mason os consiga para mim.

Minha mente respondeu: Eu não preciso dele. Posso obter minha


própria dose.

De alguma forma, esta última ideia fez todo sentido.

Assentindo para a voz em minha cabeça, eu me arrastei até uma


pilha de roupas e peguei uma pequena blusa branca e um short preto que
necessitavam desesperadamente uma lavagem. Calçando sandálias velhas
em meus pés, eu fui para as ruas escuras e incrivelmente perigosas a esta
hora da noite. Não importava – eu não me atentei em nada ao meu redor.
Elefantes cor-de-rosa poderiam estar descendo a rua, tocando o Hino
Nacional e não faria diferença. A única coisa que poderia chamar minha
atenção, tudo que eu podia pensar era na minha próxima dose. Eu lambi
meus lábios rachados enquanto imaginei injetar a quente felicidade líquida
em minha veia e deixar a heroína me levar para longe deste inferno.

Mason tinha um pessoal trabalhando por aqui. Eu só necessitava


encontra-los. Eu esfreguei a coceira da minha pele pinicando,
inconscientemente este ato abriu feridas antigas criando outras novas.
Não que isso importasse nesse momento. As dores agudas em meu
estômago me pararam pelo menos mais cinco vezes enquanto eu
perambulava pelo bairro leste de Austin. Uma dor que eu nunca senti
antes me forçou a me dobrar e gemer uma e outra vez. Tornou-se tão forte,
que me preocupei se iria me borrar ou vomitar em mim mesma na calçada
enquanto desmoronava ao lado das prostitutas que procuram fazer algum
dinheiro. Felizmente, elas viraram as costas para mim, não interessadas
em uma garota viciada caindo aos pedaços em uma esquina a uma da
manhã.

Determinada, eu de alguma forma consegui forcar meus pés


doloridos a continuar, ignorando os calafrios que envolviam meu corpo
apesar da temperatura úmida de vinte e seis graus. Eu provavelmente não
aguentaria caminhar mais um quarteirão sem cair ao chão e me enrolar
em uma posição fetal. Logo eu estaria em abstinência completa e
imploraria para alguém para me tirar da minha miséria. Meu corpo estava
prestes a desistir quando vi um homem alto e magro usando um boné de
beisebol virado para trás na metade da rua.

Meu Deus! Obrigada, obrigada, obrigada.

— Nicky!

Eu não reconheci minha própria voz embargada. O homem me


observou com suspeita em seus olhos, sua mão estava apoiada no bolso
onde eu tinha certeza que ele segurava uma arma. Sem me abalar, eu
cambaleei em direção a ele, o chão parecia inclinar enquanto eu
caminhava.

— Nicky...

Uma tosse seca me interrompeu, roubando meu fôlego enquanto eu


sussurrei, ofeguei e tentei me manter controlada. Antes que eu pudesse
falar qualquer outra coisa, Nicky falou com os olhos arregalados e boca
aberta.

— Miri? É você?

— Sim.

Eu bufei sem fôlego, ainda tentando me recuperar do ataque de


tosse.

— Eu não consigo encontrar Mason e eu preciso de H.


Os olhos azuis de Nicky se estreitaram. — Vinte por um pacote,
Miri. Você sabe que não há brindes.

— Eu não tenho dinheiro, Nicky. Por favor? – Eu segurei em seus


ombros e minhas pernas cederam. Nicky colocou as mãos sob meus
braços e puxou-me de volta para meus pés. – Nicky... Você sabe que
Mason é bom para isso.

Ele zombou. — Caia na real, garota. Não há nada de graça neste


jogo. Vá para outro lugar. – Ele virou as costas para mim, efetivamente
terminando a conversa. Meu estômago escolheu esse momento para torcer
dolorosamente, e eu gritei quando caí de joelhos, ignorando a pele que
raspava no concreto.

— Por favor, Nicky. Eu faço qualquer coisa. — Eu fui para o cinto


dele, pronta para chupar seu pau, se isso era o que eu deveria fazer para
acabar com essa agonia.

— Cai fora, Miri! Eu não preciso de sua boca de puta em meu pau.
Eu tenho muitas garotas para isso. — Seu rosto enrugou em desgosto
enquanto ele me empurrou de volta. — Vá embora, vadia.

No chão, com meus joelhos esfolados, meu corpo surrado, minha


mente e pele se contorcendo como se estivessem insetos rastejando, eu
cobri meu rosto com minhas mãos imundas e solucei.

Como minha vida ficou assim?

Tudo que eu queria era escapar dos horrores em casa. Mas os


horrores que eu tinha visto desde que fugi fizeram o abuso que eu sofri
antes parecer um dia na praia. Eu daria qualquer coisa para voltar e
convencer a estúpida menina de dezessete anos a ficar onde estava e
suportar os espancamentos até a formatura. Ou apenas para ter Cat de
volta. A vida não era tão ruim quando estávamos juntas. Nós estávamos
fazendo isso funcionar. Claro, a vida nunca acaba como você pensou que
seria.

Em vez de viver com a minha melhor amiga e ir trabalhar todos os


dias para ganhar a vida, aqui estava eu, implorando a um negociante de
baixo nível para me dar drogas em troca de sexo.

— Escute... — Nicky baixou a voz, seus olhos ásperos um pouco


mais suaves agora. — Eu não gosto de ver mulheres chorando, Miri, e você
é a garota de Mason. —Eu olhei para ele e lambi meus lábios na esperança
de conseguir meu sucesso. — Eu ouvi um boato de que Mason foi se
encontrar com Boss mais cedo. Você sabe onde Boss mora? — Eu assenti,
minha cabeça saltando para cima e para baixo no meu pescoço magro.

— Eu fui lá com Mason uma vez. – Os olhos de Nicky se abriram


quando eu admiti. Eu rapidamente recuei para cobrir o meu erro. – Eu
fiquei no carro o tempo todo, Nicky. Eu juro. Boss não sabia que eu estava
lá. Por favor, não diga nada. Eu sei que Mason não deveria me levar.

— Não vou dizer nada. Merda, Miri. Vocês dois são um par de
idiotas, você sabe disso? Espere aqui. – Nicky desapareceu nas sombras e
voltou com um homem que eu não reconheci. – Miri, este é o Jorge. Ele vai
levá-la lá. Ele está indo para perto da casa de Boss.

Jorge era baixo, gordo e nojento, mas ele poderia ter uma corcunda e
uma segunda cabeça e eu ainda o seguiria em qualquer lugar se isso
significasse conseguir um pouco de H.

— Oh meu Deus, obrigada, obrigada — eu gritei, tropeçando em


meus pés, e joguei-me em Nicky. Com as pernas bambas, eu o abracei com
meus inúteis braços vacilante. Nicky me empurrou e enrugou o nariz.

— Sim, sim. Você tem que agradecer ao Jorge, não a mim. E não
mencione meu nome para Boss, você entendeu? – O olhar ameaçador e
sombrio estava novamente no rosto de Nicky.

— Você tem isso, Nicky. Qualquer coisa. – Eu teria concordado em


vender um rim neste momento.

O homem chamado Jorge apontou para um Chevy de duas portas.


— É o meu. Vamos.

Seu sotaque mexicano era denso, mas vivendo no Texas, você se


acostuma com isso. Jorge esperou que eu subisse no banco do passageiro
antes de se inclinar, o nariz a centímetros do meu. Eu me encolhi ante a
visão de uma grande cicatriz que correu da têmpora ao queixo em um lado
de seu rosto.

Jorge bateu na minha bochecha com força suficiente para arder e eu


me encolhi. – Cague ou vomite no meu carro, puta, você vai desejar não ter
pego essa carona.
Seu hálito quase me engasgou. Engoli a bile e acenei com a cabeça. –
Eu não vou. Eu prometo.

Inferno, eu prometo praticamente qualquer coisa para conseguir


uma dose.

— Bom.

Jorge fechou a porta e entrou no outro lado, seu corpo largo


ocupando a maior parte do espaço e seu estômago enorme pressionando
contra o volante. Os arrepios atingiram meu corpo frágil. Enfiei meus
calcanhares debaixo de mim no assento e envolvi meus braços em torno
dos meus joelhos. Quando o carro começou a se mover, eu fechei meus
olhos para que eu não ficasse doente e sofresse as consequências desse
ato. Em vez disso, eu me concentrei em chegar à casa de Boss e no alívio
doce do inferno que se instalou em mim

Uma eternidade mais tarde, quando o carro finalmente começou a


parar devagar, eu peguei a maçaneta, desesperada por minhas drogas.
Estava trancada. Eu lutei com a porta do carro antigo, eventualmente
batendo na janela para sair. Minha pele estava arrepiando e coçando, e a
tosse estava piorando a cada respiração.

Oh Deus, eu realmente preciso da minha H.

Enquanto eu brigava com a porta, uma mão carnuda se enrolou em


torno do meu braço fino e eu fui puxada para o console central, contra a
enorme e suada barriga de Jorge.

— Primeiro, quero o meu pagamento, puta.

— Eu... Nicky não te disse? – Eu tentei engolir, mas minha garganta


ressecada e arranhada estava muito seca. – Eu não tenho dinheiro.

Jorge sorriu, a cicatriz em seu rosto distorcendo em uma curva


hedionda, enrugada.

— Eu não quero dinheiro.

Seus olhos ficaram escuros e Jorge me soltou. Ele se remexeu,


bufando e soprando até eu ver que ele tinha o pau duro em seus shorts,
meio escondido em meio de sua gordura. Com uma mão, Jorge começou a
acariciá-lo e eu quase vomitei.
— Você sabe o que fazer, coña estúpida.

Vadia estúpida.

Olhei pela janela e não vi nada além de escuridão. Não havia para
onde correr, para onde ir, ninguém para salvar uma viciada patética como
eu. Essa era a história da minha vida. Outra cãibra bateu e me lembrou do
pouco tempo que eu tinha antes da abstinência completa.

Eu realmente, realmente preciso daquela fodida H.

Fiz uma oração rápida para que eu não engasgasse e vomitasse por
toda a sua virilha, então fechei os olhos, me inclinei e paguei o preço de
Jorge.

Seu eu visse Mason outra vez, eu iria matá-lo.


Boss

— Alguém está no quintal, Boss.

— Eu posso ver isso, Milo.

Eu estava esbravejando com Milo, mas minha raiva era direcionada


a minha equipe de segurança. A minha equipe de segurança ausente.
Ninguém, eu quero dizer ninguém, entra na minha propriedade sem um
maldito convite e sem uma revista completa. Então, quem diabos era
estúpido o suficiente para se esgueirar? E por que diabo nenhum dos
meus homens percebeu a entrada do intruso antes de Milo o ver no
monitor? Quem diabos estava rondando e poderia ter entrado na porra da
minha casa se eu não tivesse ligado o sinal de vídeo no meu escritório e
meu tenente não tivesse visto o movimento na tela.

Milo e eu seguimos pelo amplo salão, com nossas armas na mão


saímos pela porta da frente.

— Onde diabos está Burke?

Olhei para a grande extensão do gramado verde, iluminado por


holofotes estrategicamente espalhados ao redor da casa. Eles brilharam na
grama até que o gramado se desbotava em preto no perímetro.

— Não sei, Boss. Ele deveria estar aqui, ou pelo menos um de seus
homens. Um deles estava aqui quando cheguei.

Milo encolheu os ombros, se desculpando por algo que não era culpa
dele. Burke era o chefe de segurança da casa. O lugar onde eu como e
durmo. O único local que deve estar cem por cento seguro. Era trabalho de
Burke saber cada coisa que estivesse milimetricamente fora do lugar na
minha propriedade e lidar com isso ou vir a mim imediatamente. Agora,
porque não conseguimos encontrar Burke, isto se tornou o meu problema.
Dizer que eu estava irritado era um eufemismo.
Milo e eu calmamente descemos os degraus de pedra que se
arrastaram ao longo do lado da casa em direção onde se localizava a
câmera nove. Quem quer que fosse este filho da puta estaria morto, já que
achou que poderia chegar a mim tão facilmente. Com esse pensamento, eu
acenei para Milo, que se aproximou.

Com a voz baixa, eu me inclinei em direção ao meu tenente.

— Não use essa maldita arma de grande calibre aqui fora.

Com o cano da minha arma, eu bati na sua 45.

— O estrondo é alto, porra. Eu não quero que os vizinhos chamem a


polícia.

A residência mais próxima poderia estar a quase oitocentos


quilômetros de distância, mas ainda assim, a porra da arma soava como
uma explosão sônica quando disparada.

Milo suspirou, colocando o seu bebê precioso no coldre, e tirou sua


arma secundária, uma .22 amarrada em seu tornozelo. Ele arregalou os
olhos com um olhar como quem diz Feliz agora?

Eu joguei de volta outro, Não comece essa merda agora comigo ou eu


vou atirar no seu traseiro.

Com a minha arma, eu fiz sinal para Milo ir primeiro e o segui ao


redor para o pátio lateral. Milo levantou a mão e parou no caminho. Ele
apontou para sua orelha para indicar que ele ouviu alguma coisa. Eu
congelei no lugar para ouvir e peguei o farfalhar fraco de alguém andando
através da grama e um som de clique que me lembrava... Sons feitos por
chinelos? Nós dois fomos contornando a construção de modo que as luzes
ativadas por movimentos não fossem ligadas. O intruso, no entanto, era
malditamente estúpido, e tropeçou um segundo mais tarde.

Quatro holofotes ofuscantes inundou a área, enviando pontos pretos


em toda a minha visão enquanto meus olhos tentavam se ajustar. Uma
rajada de ar quente da noite passou por mim. Eu ouvi um grito agudo e
um grunhido baixo seguido por um baque. Levou uns bons vinte segundos
de estrabismo até que eu finalmente tivesse recobrado minha visão. Uma
vez restaurada, achei Milo na minha frente com o nosso invasor em uma
das mãos, os seus pulsos atrás das costas, e sua arma pressionada contra
sua têmpora, lá estava uma menina ruiva totalmente imunda e pálida.
— Ela não tem nenhuma arma com ela, Boss.

Pisquei várias vezes em descrença pela aparência física do nosso


intruso antes de deixar escapar um suspiro dolorido. Coloquei minha 9
milímetros no cós da minha calça e balancei a cabeça.

— Abaixe a sua arma, Milo.

— De jeito nenhum.

Ele rosnou, olhando para a garota.

— Se você não consegue lidar com esta... – Acenei uma mão para a
menina pequena, frágil, e de aparência muito doente na mão de Milo. –
Esta menina de quarenta quilos sem a sua arma, eu preciso repensar a
sua posição na minha organização.

Milo bufou, mas eventualmente deslizou a arma de volta no coldre


no tornozelo, embora com relutância.

— Eu posso lidar com ela, Boss. – Ele deve ter espremido seus
pulsos porque ela soltou um grito lamentando.

— Vamos entrar. Traga-a.

Eu dei a menina tremendo uma última inspeção confusa e balancei


a cabeça. Besteiras inesperadas como esta me irritava profundamente
como nenhuma outra. Agora, em vez de ter algumas bebidas para dormir,
eu estaria preso lidando com essa menina que conseguiu passar pela
minha segurança. Então algumas cabeças iriam rolar, começando com a
de Burke, como esta menina estúpida conseguiu passar pelos meus
altamente treinados guardas, altamente remunerados que não estavam
onde deveriam estar ou que foram tomar lidar com alguma merda ou se
masturbar em algum canto enquanto um intruso invadia a minha
propriedade.

Recusando a deixar a menina suja sentar-se em qualquer um dos


meus móveis caros, eu tinha Milo a amarrando em uma cadeira de
madeira da cozinha. Inferno era provavelmente desnecessário sequer se
preocupar com restrições. O ser patético mal parecia saudável o suficiente
para respirar, quanto mais lutar contra nós e escapar. Ainda assim, eu
estava muito, muito incomodado, e é melhor prevenir do que remediar. Eu
aprendi isso de uma maneira dura há muito tempo. Confiar em pessoas
que parecem ser inocentes - era um grave erro de julgamento - apenas
para descobrir que elas eram qualquer coisa menos inofensivas. Eu era
experiente, seu olhar estrangulado poderia ser apenas um ato. Talvez ela
fosse alguma agente altamente treinada ou algo assim, como Jennifer
Garner em Alias.

O ridículo pensamento me fez bufar em diversão, recebendo os


olhares confusos da minha equipe de segurança, que finalmente tinha se
materializado e se reunido na cozinha, a pedido de Milo.

Milo e eu compartilhamos um olhar discreto, nenhum de nós sabia


muito bem o que fazer com a menina quase morta. Sendo O Chefe, todo
mundo estava esperando para ver o que eu faria. Cristo. Segurando um
rolar de olhos, eu agachei à frente da cadeira e me impedi de recuar para
longe de seu odor corporal, ou da doença ou da sujeira que cobria ela da
cabeça aos pés.

— Hey!

Eu estalei meus dedos na frente do rosto da garota, sua cabeça


estava baixa, seu queixo delicado caído descansando em seu tórax magro.

Com o esforço de um recém-nascido tentando segurar sua própria


cabeça, ela inclinou o rosto para cima. Debaixo da sujeira, do corpo
desnutrido, da pele marcada e maçante, eu podia ver que esta menina era
realmente impressionante. Tragicamente maltratada. Apesar de sua beleza
natural ter sido completamente destruída pelas drogas.

Os sintomas eram evidentes, sudorese, calafrios, confusão e olheiras


profundas sob os olhos. Ela também tinha as reveladoras marcas roxas
desbotadas sobre o interior de ambos os braços. Eu sei reconhecer um
viciado em heroína em qualquer lugar. Além de ser minha principal
comercialização, tanto minha mãe quanto minha irmã foram muito fracas
para resistir à droga poderosa, estou muito familiarizado com os efeitos
colaterais que a heroína poderia ter sobre seus usuários. Usuários estes
como esta menina. A falta de controle dessas pessoas me revoltava porque
isso tinha arruinado minha vida quando criança, mas estas também me
geravam lucros já que tinham virado para mim uma fonte de renda muito
robusta e muito ilegal.

Eu era um hipócrita do caralho, e estava bem ciente desse fato.

Eu não tinha testemunhado a destruição que meu produto causava


em primeira mão em um longo tempo, mas na minha cozinha, isso se
refletia lamentavelmente na aparência desta moça, a realidade era apenas
como eu me lembrava – horrivelmente desagradável. Meu passado me
atingiu como um chute inesperado na minha cabeça. Observá-la era muito
mais difícil do que a vaga consciência da minha merda sendo vendida para
viciados sem nomes em algum lugar fora da cidade. Dar um rosto aos
meus atos sujos traz à tona lembranças dolorosas, aflorando minha
humanidade. Algo que eu não tenho tempo nem o desejo de reconhecer.

Mas, isso iria exigir de você pelo menos um pingo de humanidade


para reconhecer, apesar de ter perdido a minha há muito tempo.

Tentei falar com a menina novamente.

— Por que você está aqui?

Os remelentos olhos verdes da menina piscaram lentamente e ela


fungou. Olhando ao redor da cozinha, vagamente tomando nota dos outros
seis homens na sala atrás de mim – Milo, a minha equipe de segurança e
Burke que seria repreendido mais tarde – e começou a chorar.

— Eu só preciso de uma dose.

Ela chorou, e começou a tossir incontrolavelmente.

— Mason, ele geralmente...

— Mason? Mason Smith?

Milo gritou do meu lado esquerdo. Ele a assustou tanto, que ela
empurrou suas amarras e quase derrubou a cadeira enquanto se retorcia.
Minha mão disparou para segurar a cadeira antes que ela caísse no chão e
rachasse a cabeça.

— Milo, acalme-se, porra.

Rosnei. Eu estava tão surpreendido quanto Milo de ouvir a conexão


da menina com o meu revendedor recentemente falecido, mas mostrar
qualquer tipo de emoção na frente de um suspeito era má ideia e era uma
falta de sutileza que eu preferia manter. Embora eu prefira estar fazendo
isso em meu terno ao invés da minha calça de moletom, e com alguém...
ugh, mais limpo. Eu engoli o meu desagrado.

— O quê?

Perguntou Milo, incrédulo. Ele apontou para a menina e continuou.


— Ela sabe sobre aquele maldito ladrão de merda. Ele provavelmente
estava roubando H para dar a ela, Boss. Você o ouviu falar de uma
prostituta.

Eu soltei a cadeira, dei um passo para trás, e virei para o meu


tenente. Permanecendo em silêncio, eu cruzei os braços sobre o peito e
esperei até que a tormenta de Milo rapidamente fosse drenada quando ele
se tornou o único foco da minha atenção.

— Eu não a quero caindo e deixando seu maldito cérebro em todos


os meus azulejos italianos importados, imbecil. E eu decido o que acontece
com ela, não você.

— Sim, Boss.

Milo olhou adequadamente desapontado. Se ele estava irritado, ele


escondeu bem. Eu estava ciente que Milo não gostava de ser colocado em
seu lugar na frente do resto dos homens, e, normalmente, eu lhe teria
permitido a rédea livre em alguém que não só se rebelou, mas que também
era um associado de um empregado que me roubou. Mas essa garota –
embora tecnicamente fosse apenas uma viciada desesperada e tola, não
merecedora de piedade – me deixou intrigado, não que eu revelasse esse
fato a Milo ou qualquer outra pessoa.

— Quem é Mason para você?

Eu perguntei e puxei uma segunda cadeira para me sentar frente à


ruiva, meus olhos agora estavam no mesmo nível que os seus.

A menina lambeu os lábios rachados, suas enormes pupilas


dilatadas percorreu todo o lugar para evitar o meu olhar direto.

— Ele, uh, eu não tenho certeza. Eu... Eu não sei. Eu só preciso de


uma dose.

Ela fungou, quase quebrando novamente.

— Ouça-me.

Eu levantei minha voz para que não houvesse dúvida de quem


estava no comando aqui. A menina estremeceu violentamente e uma
mecha do seu cabelo ruivo gorduroso caiu sobre um dos seus olhos
vermelhos e lacrimejantes. Meu olhar se arrastou sobre sua pele
danificada. Arranhões misturados com crostas hediondas pontilhadas,
mas ainda sim consegui imaginar uma vez sua pele sendo cremosa e
pálida. Ruiva natural, conclui, observando o elevado número de sardas da
cor ferrugem pontilhadas em seus braços e face.

— Vou dar-lhe uma dose depois de responder às minhas perguntas.


Caso contrário, eu vou levar você lá fora e atirar na sua cabeça, entendeu?

Milo deslocou para as proximidades, claramente animado com a


ideia da eliminação da intrusa e, ao mesmo tempo provavelmente agitado
pela minha oferta de drogas a uma estranha. Uma que ele considerou
culpada apenas por associação. Para Milo, todo este interrogatório era
desnecessário. Olhei por cima do meu ombro e lhe dei um olhar, mais uma
vez lembrando brutalmente quem estava no comando, antes de voltar
minha atenção para a menina.

— Okay. Okay. Okay.

Ela murmurou mais e mais em um estado quase hipnótico,


enquanto balançava para frente e para trás na cadeira me fazendo lembrar
o autista Raymond Babbitt no filme Rain Man.

Eu resisti à vontade de beliscar a ponta do meu nariz em frustração.

— Quem é você? Como você conhece Mason Smith?

— Mason. Sim, ele é, hummm. Oh Deus.

A menina fez uma pausa antes de soltar um longo gemido de dor, se


dobrando tanto quanto ela podia, enquanto estava amarrada à cadeira.
Dores abdominais. Isso significava que os efeitos da abstinência estavam
piorando. Porra, é melhor ela não vomitar em minha casa.

Ela puxou uma respiração instável e continuou.

— Ele é meu n-namorado, tipo isso, mas não r-realmente. Eu quero


dizer, e-eu vivo com ele, mas... Ele não voltou e eu preciso... Eu preciso.

— Shhhhh.

Usando um dedo, eu choquei-me quando enfiei um pedaço de cabelo


que tinha escapado atrás de sua orelha e não imediatamente saltei para
lavar as mãos.

— Boa. Agora, qual é o seu nome, boneca?


A menina balançou a cabeça.

— Não. Não boneca. Miri. Meu n-nome é Miri.

Sem aviso, ela começou a tremer toda, seu corpo frágil forçando
suas amarras. Miri jogou a cabeça para trás, e os tendões tensos de seu
pescoço magro ficaram presos como cordas de guitarra.

— Oh Deus! Ajude-me, por favor.

Esses olhos tristes e desesperados se fixaram nos meus, um fino


anel de verde era visível em torno das suas grandes pupilas.

Apesar da aparência de Miri ser repugnante, seu vício em heroína


desagradável, e o fato de que ela talvez tivesse namorado o meu empregado
que estava me roubando para alimentar seu vício, eu me sentia
responsável por ela. Foi minha merda que a fez ficar viciada, e ela só
parecia... Frágil e precisava de alguém para cuidar dela. Era quase como
se ela fosse enviada aqui como penitência por meus fracassos passados
cuidando da minha mãe e irmã.

Além disso, Miri se esgueirou pela minha propriedade. Ela sabia


onde eu morava. Eu não podia simplesmente jogá-la fora. Era altamente
improvável, mas ela poderia chamar a polícia e trazê-los até aqui com um
mandado em um piscar de olhos.

Melhor fazê-la dormir e se acalmar antes de tentar falar.

— Jase, — Eu grunhi.

Um dos meus homens imediatamente apareceu ao meu lado.

— Sim, Boss.

— Traga-me o kit.

Com um aceno de cabeça afiado, ele saiu do quarto e reapareceu em


menos de dois minutos para me dar uma pequena bolsa com zíper.

— Aqui está, Boss.

— Todos vocês saiam.

Eu pedi, quando comecei a preparar o kit. Um por um, eu alinhei os


itens em cima da mesa, na ordem que eu precisaria. Todos obedeceram
meu comando, menos um.
— Boss, vamos lá...

— Milo, não me empurre mais longe esta noite.

Virei-me para dar ao meu tenente um olhar sombrio, que dizia: Não
foda comigo. Ele sabia que era melhor não pressionar seus pensamentos
na frente de um estranho.

Os lábios de Milo apertaram enquanto ele lutava para manter a boca


fechada e seguir as minhas ordens. Nada de novo no homem grande e
forte. Ele era muito teimoso, às vezes. Tenso e agitado, Milo cedeu e
concordou.

— Bem. Então eu vou para casa, Boss.

— Vejo você na parte da manhã.

Eu me despedi de Milo e retornei minhas atenções para a menina


tremendo brutalmente e suada na minha cozinha.

Eu coloquei um par de luvas de látex, de jeito nenhum que eu estava


tocando sua pele suja com minhas próprias mãos. Usando uma compressa
embebida em álcool, limpei as luvas para matar os germes. Então eu
peguei um pequeno pacote de pó branco, tomando cuidado para não
derramar nenhum pouco, e o derramei em uma colher projetada para ficar
sobre uma superfície plana sem inclinação. O torniquete de borracha era
longo quando comparado com o braço fino de Miri. Eu dei um nó em torno
do minúsculo membro, segurando uma careta atormentada por tocá-la,
apesar das luvas. Quando eu olhei para cima para ver como a menina
estava, encontrei Miri observando atentamente cada movimento meu. Eu
pisquei e rasguei meu olhar para longe daqueles grandes olhos verdes para
procurar uma veia. Não havia uma única utilizável em seu braço cheio de
cicatriz crivada.

— Merda.

Eu murmurei, fazendo uma inspeção em seu outro braço concluindo


o mesmo.

— Eu uso meus pés.

A voz de Miri era tão suave que eu quase perdi sua resposta.
Travado na lasca de esmeralda daqueles olhos cativantes, me levou
um minuto para responder.

— Tudo bem.

Eu removi o torniquete, o colocando em torno de um dos seus


tornozelos delgados, e coloquei seu pé esquerdo no chão para obter um
melhor fluxo de sangue para a extremidade. Uma veia azulada única
destacou-se, cercada por uma meia dúzia desbotada e marcas de faixa
frescas.

— Aqui está.

Eu peguei outra compressa embebida em álcool e limpei a área. Com


a seringa na mão, eu destampei um frasco de água estéril e administrei
uma pequena quantidade, adicionando-o ao opiláceo que estava na colher.
Usando um isqueiro, eu cozinhei as drogas até que a mistura foi reduzida
a um líquido claro, borbulhante. Enquanto esperava para que os produtos
químicos esfriassem, Miri ficou frenética.

— E-Está tudo bem. Eu p-posso esquentá-lo. Sério. E-eu não me


importo. Por favor…

— Não. — Eu balancei a cabeça. – Não é seguro. Você pode romper


uma veia ou pior.

— Eu não me importo! Dê para mim.

Ela começou a lutar na cadeira, colocando-se perigo de derrubá-la


mais uma vez.

Cansado com os acontecimentos de hoje e com as besteiras em


geral, eu peguei seu queixo entre o polegar e o dedo indicador e apertei
com força suficiente para mantê-la imóvel.

— Pare com isso imediatamente ou você não vai ter nada. Ouça com
atenção, porque eu só vou dizer isso uma vez. Eu nunca, nunca fui
hospitaleiro com intrusos, assim você deve se considerar sortuda por
ainda estar respirando agora e não ser conduzida para um local remoto
onde ninguém nunca vai encontrar seu corpo.

Aqueles olhos opacos se arregalaram com medo e os lábios


tremeram.
— Está bem, está bem. Estou b-bem. Eu serei boa. Eu s-sinto muito.

Eu embebeci outro algodão com álcool e limpei os dedos. Assim que


a mistura estava fria, eu a passei para a seringa com uma agulha
esterilizada e fiz com que o ar saísse.

— Pronta?

Eu não sei por que eu me incomodei em perguntar, eu sabia a


resposta antes que a pergunta fosse feita.

— Sim, por favor, por favor, por favor.

Miri vibrou em antecipação.

Apesar do fato de que eu cresci em torno de drogas, desprezava o


uso destas, vi minha família implodir da dependência de drogas e nunca
permiti que qualquer um obtivesse uma dose em minha casa ou permiti o
uso de drogas entre os meus colaboradores, eu fui contra tudo o que eu
acreditava pessoalmente e enfiei a agulha na veia no pé de Miri. Eu me
afastei para ver como o sangue vermelho escuro entrou na seringa. Com a
confirmação visual eu bati uma veia, eu removi o torniquete e injetei
lentamente o ópio em seu sistema até que a seringa estivesse vazia.
Trabalhando de forma eficiente, eu limpei o kit, coloquei os itens usados
em um recipiente para que o pessoal da limpeza jogasse fora e lavei as
minhas mãos na pia.

Então eu sentei e esperei.

Miri

Em menos de um minuto, um formigamento quente correu em


minhas veias percorrendo uma volta completa pelo meu corpo. A
transpiração, a tosse, a dor intensa no meu abdômen tudo desapareceu
com a depressão do êmbolo da seringa na grande mão do homem. Minha
cabeça caiu para trás, embora não em ecstasy – eu estava muito além de
ser capaz de ficar alta por H. Isso pareceu bom, porque eu estava
finalmente sendo capaz de parar de pensar em ter minha próxima dose e
me concentrar em outra coisa que não fosse como fazer a agonia da
abstinência ir embora.
Eu estava exausta, a ponto de chegar perto de entrar em coma uma
vez que as drogas agiram. Tudo o que eu queria agora era um lugar para
dormir. Eu nem sequer me importei em estar bem aqui nesta cadeira com
as mãos ainda amarradas.

Em algum momento, eu senti que a corda em torno dos meus pulsos


estava sendo desamarradas e meu corpo foi levantado por um conjunto de
braços fortes, e colocado contra um amplo peito quente. Contente de uma
maneira que eu não tinha estado em um longo tempo, eu enterrei meu
rosto no tecido de algodão macio e inalei profundamente. O cheiro era
limpo e masculino, uma colônia ou sabão que me fez sentir quente e
segura. Suspirei e me aconcheguei mais perto, aderindo à frente da camisa
em meus punhos. Um ronco baixo vibrou contra minha orelha, o som
íntimo passou profundamente sobre mim como a água do oceano beijando
meus dedos dos pés. A imagem era tão real que eu realmente ouvi o
barulho da água.

Deve ser uma H muito boa.

— Que diabos?

Eu estava rudemente sendo acordada quando o calor do delicioso


peito reconfortante desapareceu e eu estava sendo submetida a um spray
gelado.

— Sem ofensa, boneca, mas você está repugnante.

A água pingava dentro dos meus olhos, o que tornou difícil para eu
ver qualquer coisa. Eu olhei na direção do homem, um cara que
provavelmente era Boss, tinha me largado, totalmente vestida, no chão de
um impressionante chuveiro de vidro e pedra. Água fria glacial chovia
sobre meu corpo, absorvendo-me completamente em segundos.

— Bem, agora eu estou congelando!

Eu tremi violentamente, coberta por arrepios. Agora que eu não


estava alucinando, eu tinha encontrado minha língua e não hesitei em
usá-la contra o idiota que me colocou no chuveiro.

— Você vai viver.

As palavras cruéis do imbecil me fizeram querer dizer a ele muitas


coisas até que o sorriso caísse para fora de seu rosto irritantemente bonito.
Eu abri minha boca para fazer exatamente isso e em um breve momento
de sanidade, pensei melhor. Era definitivamente uma má ideia irritar um
poderoso traficante de drogas. Especialmente quando você invadiu sua
casa e estava extremamente vulnerável cercada por capangas. Além disso,
o homem alto estava olhando para mim como se quisesse me estrangular.
Eu não tinha dúvida de que havia uma chance maior do que cinquenta por
cento, de que ele faria exatamente isso.

Tirei a água dos meus olhos e vi, de boca aberta, quando o chefe deu
um passo para trás, tirou a camiseta e empurrou para baixo sua calça de
moletom escura para revelar um dos corpos masculinos mais perfeitos que
eu já tinha visto na vida real. Apesar do meu medo e confusão, uma faísca
de desejo, aqueceu no interior do meu corpo congelado.

Sem o desejo intenso pela heroína assumindo todos os meus


pensamentos, eu estava lúcida o suficiente para estudar o homem que por
algum motivo desconhecido, me injetou drogas e me salvou do doloroso,
sofrimento debilitante. Ele era grande. Músculos amplos. E alto. Eu não
tinha certeza o quão alto porque o cara estava atualmente elevando-se
sobre mim enquanto eu estava sentada no chão do chuveiro, amontoada
em uma bola gelada. Suas pernas longas eram musculosas e saradas, com
um pouco de pelo escuro. O homem, Boss, ainda usava boxer de algodão
preta, que não fizeram nada para esconder o que parecia ser um pacote de
tamanho considerável, embora ele não estivesse excitado.

Mais acima, meus olhos traçaram um perfeito oblíquo tanquinho e


um impressionante conjunto de abdômen. Passei mais tempo que o
necessário olhando para essas bandas do músculo em cada quadril,
aqueles que apontavam diretamente para baixo, para sua virilha.
Engolindo um desejo inesperado, eu segui a trilha escura para o tesouro
que o cós da cueca escondia e voltei para seu abdômen bronzeado. Havia
uma grande tatuagem de uma rosa sobre o coração, entre os mamilos
firmes como cobre.

Antes que eu pudesse chegar ao seu rosto, fiquei rígida, paralisada


por uma onda de pânico. A água finalmente se tornou quente, mas o calor
do meu corpo se dissipou, substituído por um punho gelado de terror. Um
Boss, seminu, enorme, e assustador pra caralho, deu um passo para a
direita do chuveiro comigo.

Subi para o canto, rebocada contra as paredes de pedra.

— O que... O que você está fazendo?


Minha voz falhou, demonstrando o meu medo.

Ele está esperando o pagamento pela a dose?

— Ajudando você a se limpar, boneca. Você não está em grande


condição de fazê-lo sozinha, e de nenhuma maneira no inferno você estará
andando em torno e deixando cair sua sujeira por toda a casa.

Sua voz profunda tinha um sotaque sedutor e eu tremi novamente.


Boss pegou a esponja e sabonete líquido, e derramou uma boa quantidade
de líquido verde sobre a esponja. Então ele esfregou-a entre os dedos até
que espuma branca e espessa transbordou de suas grandes mãos.

— Você está? Você quer...?

Mordi o lábio e olhei para sua virilha ainda coberta, fiquei surpresa
ao descobrir que estava mole. Na minha experiência, os homens não
ficavam quase nus com mulheres a não ser que queiram algo, e desde que
eu lhe devia pela drogas e por não me matar, eu assumi que ele estaria
duro e pronto para o seu pagamento.

Fechei os olhos e inalei pelo nariz em uma tentativa patética de


controlar o pânico. O delicioso cheiro vindo do homem em pé em cima de
mim encheu minhas narinas e eu percebi que era o sabonete perfumado
que ele estava esfregando que tinha um cheiro tão bom como em sua pele.
Inclinei a cabeça e olhei para o rosto do homem. Eu poderia fazer isso. Ele
era de boa aparência. Inferno, ele era mais do que boa aparência, ele era
completamente impressionante, apto a desfilar em qualquer passarela do
mundo. Inferno, se eu consegui fazer isso como pagamento para o vil e
repugnante Jorge sem vomitar, eu estava confiante de que eu poderia
cuidar do Sr. Alto, escuro e assustador, sem problemas.

Engolindo o meu orgulho – e vamos ser sinceros, eu não tinha mais


nenhum – com as mãos trêmulas, eu estendi a mão para puxar para baixo
sua cueca.

— Whoa!

O homem desviou para fora do meu alcance e golpeou minhas mãos.


Confusa, eu levantei as minhas sobrancelhas.

— Eu pensei...
— Você pensou que me devia? Que eu queria que você me chupasse
porque eu dei-lhe uma dose?

Revolta e raiva em sua voz profunda e retumbante me inundou de


vergonha. Meu rosto ficou quente por seu desgosto flagrante e eu deixei
cair meu olhar para o chão. É claro que ele não queria que o tocasse. Ele
era poderoso e lindo. Um homem como ele não precisa de alguma
vagabunda viciada para chupar o seu pau. Ele provavelmente tinha uma
fila de voluntárias, mulheres lindas e cheirosas esperando em seu quarto
para fazer exatamente isso.

O homem se agachou e pegou meu queixo com a mão ensaboada, o


puxando até que eu encarei o par de olhos mais azuis que eu já vi.

— Não é assim que eu trabalho, boneca. Aqui está o que vai


acontecer, então ouça atentamente.

Meu pulso saltou para o tom de comando, e eu não tinha certeza se


o aumento da minha frequência cardíaca era de medo ou algo
completamente diferente.

— Eu vou lavar a sua sujeira viciada desagradável e depois você vai


dormir no meu quarto de hóspedes. Desde que você entrou sem ser
convidada em minha propriedade, a sua estadia não é opcional. Você não
vai sair desta casa até que eu permita. Até eu decidir de maneira diferente,
você permanecerá aqui e responderá a mim. A conversa que vamos ter
amanhã também é obrigatória. Você entende?

A água correu pelo meu rosto e escorria em meus olhos quando eu


pisquei para ele, sua expressão era dura, mas com um toque de bondade
em seus olhos. Ainda desconfiada de suas intenções, apesar das palavras
que indicava o contrário, eu assenti. Apreensão fez meu sangue correr
violentamente nas minhas veias enquanto meu coração batia
dolorosamente contra meu peito.

Ele está me mantendo aqui? Eu não posso sair?

Lembrei-me das palavras de Nicky de mais cedo.

"Cai na real, menina. Não há nada de graça neste jogo."

Nicky estava certo. Quer dizer, Jorge provou o ponto de Nicky alguns
minutos mais tarde em seu carro quando ele me fez chupar seu nojento
pau pequeno. A memória de engolir a porra grossa de Jorge, enquanto ele
segurava minha cabeça para baixo, quase me sufocando quando ele veio
na minha boca, fez meu estômago revirar, e eu vomitei. Boss virou
gentilmente minha cabeça em direção ao ralo e segurou meu cabelo. Ele
esperou pacientemente enquanto eu arfava, os tremores percorrendo sobre
mim. Nada veio, além de bile e saliva. Eu não conseguia me lembrar da
última vez que comi, meu estômago vazio não me chocou. Uma grande
mão acariciou delicadamente minhas costas até que os espasmos
passaram.

— Você está bem?

Humilhada, eu não poderia obrigar-me a olhar para ele, então eu


apenas sussurrei:

— Sim.

— Vamos para a higienização então.

Com os braços fortes e firmes, Boss me puxou para os meus pés e


me encostou na parede de azulejos.

— Você pode ficar em pé?

Agora que eu estava em pé, percebi que este homem era muito,
muito alto. Alto o suficiente para que meus 1,64 de altura, eu tive que
inclinar a cabeça para trás para olhar esses intensos olhos azuis. Minha
cabeça mal alcançando ao seu queixo.

— Eu estou bem.

Eu tossi, minha garganta crua e dolorida.

Boss concordou e começou a trabalhar a perfumada esponja sobre o


meu corpo. A partir de meus pés, ele esfregou cada um, levantando-os
para limpar a sola. Quando ele pegou o primeiro pé, eu cambaleei, quase
deslizando sobre a espuma escorregadia.

— Segure-se em meu ombro – ele instruiu, seu grande corpo se


agachou na minha frente. Hesitante, eu coloquei uma mão sobre a pele
molhada de seu ombro. Com um sorriso malicioso no rosto, ele inclinou a
cabeça para cima.

— Você pode segurar mais apertado do que isso, boneca. Eu não vou
morder.
O brilho em seus olhos dizia o contrário.

Lutando contra o intenso medo que espremia meu intestino,


aumentei meu aperto, usando seus músculos fortes para me manter de pé
enquanto ele lavava meus pés. A esponja percorreu minhas pernas uma de
cada vez, mãos esfregando mais e mais enquanto a espuma lavava dias de
poeira e sujeira. Boss ignorou minha parte coberta, e se endireitou, e
repetiu o processo em meus braços, gastando tempo extra em minhas
mãos e unhas cobertas de sujeira e as marcas de faixas em meus braços,
apenas para de esfregar enquanto minha pele se tornava rosada.

Em seguida, levantou meu cabelo vermelho longo do meu pescoço e


deslizou a esponja na parte superior das minhas costas e ombros, em
seguida, lavou a parte exposta do meu peito onde o decote da minha blusa
terminava. Olhei para baixo observando como suas enormes mãos ainda
em cicatrização trabalhavam sobre a minha pele, só então percebendo que
minha blusa branca estava completamente transparente e eu não estava
usando sutiã. Instintivamente, minhas mãos voaram para cobrir meus
seios. Ele riu, um som suave, profundo e sedutor que poderia facilmente
seduzir em uma sala cheia de pessoas, derretendo cada par de calcinhas
em um raio de oito quilômetros.

— Um pouco tarde para isso, boneca. Considerando como eu já dei


uma boa olhada em tudo.

Algo sobre seu sotaque arrogante, o sorriso torto em seu rosto, e


essa única sobrancelha levantada me fez sentir desafiada. Minha coragem,
impulsionada pela calmaria decadente da heroína, tinha se estabelecido.
Determinada a mostrar a ele que eu não era uma covarde medrosa, eu
coloquei meus dedos na bainha, puxei a blusa molhada sobre a minha
cabeça, e a joguei no chão com um sonoro splat. Os olhos de Boss se
arregalaram, o que só aumentou meu desejo de fazê-lo comer suas
palavras. Ainda olhando bem dentro daqueles olhos de safira, coloquei
meus polegares no cós do meu short e os empurrei para baixo, saindo
dele, chutei-o de lado. Completamente nua, eu mantive minha posição,
levantando minha própria sobrancelha em troca, com as mãos nos
quadris.

Nossos olhos ficaram presos por mais alguns segundos antes que ele
jogasse a cabeça para trás e começasse a rir. A ação o fez parecer anos
mais jovem do que eu acreditava originalmente.
— Você é algo mais, você sabe, boneca?

Em vez de responder, eu peguei a esponja com sabão de sua mão e


rapidamente terminei de lavar a minha pele recém-exposta.

— Aqui.

Idiota

Boss se moveu para pegar a esponja que eu atirei em seu peito,


tentei sair como uma tempestade para fora do chuveiro. Gritei quando ele
agarrou meu braço e me puxou em direção a ele. O calor escaldante do seu
peito pressionado contra a pele nua das minhas costas fez meu corpo
tremer da cabeça aos pés. Boss me segurou firme, baixando sua boca meu
ouvido para sussurrar.

— Primeiro nunca jogue uma coisa do caralho em mim novamente.

Arrepios eclodiram por toda a minha pele com sua ameaça furiosa.

— Você não vai me desrespeitar na minha própria casa,


especialmente depois da porra da sorte que você teve por eu não matá-la
no segundo em que você colocou os pés na minha propriedade. Entendeu?

Quando não respondi, ele apertou meu braço até que eu


choraminguei.

— S-sim. Eu entendi.

Eu lutei para não gritar em pânico. O que eu estava pensando?


Enfrentar um traficante de drogas, enquanto estava nua em seu chuveiro e
em sua casa cheia de seus capangas no andar abaixo. Eu não poderia
estar mais vulnerável.

Depois de apertar os dedos no meu braço por um longo momento


para provar que ele estava no comando, Boss me liberou e virou em torno
enquanto pegava outro frasco.

— Seu cabelo está imundo, porra. Ele precisa ser lavado.

Ele torceu o nariz em desgosto e mais uma vez, a vergonha me


inundou. Este homem tinha um jeito de me fazer sentir como se eu fosse
menos do que um ser humano. Ele estendeu o frasco, o agitando na minha
cara.
— Ou você faz isso, ou eu faço boneca. Mas você não vai sair daqui
até que o cheiro de viciada esteja completamente fora de você.

O fundo dos meus olhos ardia e meu rosto pegou fogo. Eu não
conseguia olhar para ele enquanto peguei o frasco e derramei um pouco de
shampoo em uma das minhas mãos trêmula. Ele lavou-se rapidamente,
em seguida, ficou com os braços cruzados sobre o peito largo enquanto eu
ensaboava meu cabelo e me enxaguava sob o spray d´água.

— Mais uma vez.

Ele exigiu. Mordi o lábio para não lhe dizer para ir se foder e fiz como
me foi dito.

Quando as últimas espumas rolaram pelo ralo, ele ficou em silêncio


quando se aproximou e desligou a água. Ele cuidadosamente saiu do
chuveiro e me entregou uma toalha, e pegou uma para si mesmo. Tentei
não observar quando ele esfregou o pano branco macio por cima de todos
os músculos de seu tanquinho, mas foi inútil. Olhando fixamente, eu
estava hipnotizada pela visão de como Boss envolveu a toalha ao redor da
cintura e tirou sua cueca molhada por baixo. Engoli em seco, sabendo que
agora ele estava nu sob o veludo macio, a um simples pé de distância.

Quando o silêncio se tornou desconfortável, eu segurei minha


própria toalha sobre o meu peito, desenterrando a pouca coragem que eu
tinha, me virei para ele em um acesso de raiva.

— Tomamos banho juntos e eu nem sequer sei o seu nome.

Ele arqueou a maldita sobrancelha novamente e sorriu, dentes


brancos brilharam no meio de sua escura barba por fazer. Se eu não
soubesse que ele era um traficante de drogas amplamente temido e um
agressivo, arrogante, filho da puta assustador, eu iria achar a sua
expressão quase encantadora.

— Boss.

— Eu já descobri que você é Boss, mas eu quero saber o seu nome.

— Meu nome é Boss. – Ele repetiu. – Ou Boss Man. Qualquer um


funciona.
Como se ele não tivesse uma importância no mundo, como se forçar
as mulheres não dispostas em um chuveiro fosse uma ocorrência diária,
ele deu de ombros e passou a mão pelo cabelo molhado.

Revirei os olhos.

— Tudo bem, não precisa me dizer.

Esse cara era extremamente frustrante. Ele me deu uma dose de H,


me largou no chuveiro, me humilhou, me lavou, mas não quis me dizer o
seu nome. Tanto faz. Virei às costas para ele.

Grande erro.

Duas grandes mãos estavam em volta dos meus ombros, e eu estava


sendo empurrada de volta contra o seu corpo mais uma vez. Nós dois
estávamos atualmente enrolados apenas com toalhas, a sua pendurada
baixo na cintura e a minha debaixo das axilas. Não havia muito contato
pele-a-pele, como no chuveiro, mas isto me fez sentir muito mais íntima.
Lentamente, Boss me girou para encará-lo, e eu tive que abafar um grito
assustado. Seus olhos azuis se estreitaram em fendas, as narinas
dilatadas. A transformação de lúdico para furioso foi imediata e
absolutamente aterrorizante. Pela primeira vez desde que apareci em seu
gramado, eu estava realmente, sem dúvida nenhuma, apavorada.

Este homem, na minha frente, era tão diferente do homem que riu no
chuveiro, ele era o que eu esperava do senhor das drogas. Eu ouvi rumores
sobre ele. Rumores horríveis, atos espantosos de violência. Um homem cruel
que ou era respeitado ou temido.

Boss pressionou o comprimento de seu corpo seminu contra o meu,


e rosnou, seus dentes brilhando por trás dos lábios enrolados.

— Essa é a segunda vez que você virou as costas para mim depois
que eu falei. Eu só vou dizer isso mais uma vez, Miri, de modo que você
ouça com cuidado.

Ele abaixou a cabeça e sua respiração batia em meu pescoço.


Estremeci e um gemido escapou da minha garganta, o resultado de uma
combinação terrível de luxúria e medo.

— Você é minha convidada. Você se esgueirou para a minha


propriedade e teve a maldita sorte que eu não deixei Milo atirar em você.
Não, eu salvei você, trouxe seu traseiro para dentro, dei-lhe a porra da sua
heroína, e deixei você lavar a sua sujeira e usar o sabonete muito caro que
eu lavo o meu corpo, que, aliás, eu nunca compartilho com ninguém. Eu
espero que você seja grata pela minha hospitalidade e me trate com
alguma merda de respeito, entendeu?

Suas mãos apertavam firmemente em torno dos meus braços,


enquanto falava. Sua mensagem foi bastante clara quanto seu toque, que
se tornou mais e mais doloroso. Eu sabia que os seus dedos grossos iriam
deixar hematomas na minha pele pálida e frágil.

Com minhas pernas trêmulas, eu quase me irritei quando fui


confrontada com o lado letal desse homem.

— Eu quero ouvir você dizer que entendeu, Miri.

Boss me soltou e deu um passo para trás até que seus olhos
estivessem produzindo buracos em mim sob suas pesadas sobrancelhas.

Aterrorizada, meu coração bateu rápido e minha respiração ficou


presa em meus pulmões, deixando-me sem palavras. Seus olhos se
estreitaram não se sentindo feliz com o meu silêncio. De alguma forma, eu
consegui sussurrar duas palavras.

— Eu entendi.

Só assim, o senhor das drogas sinistro foi embora. Como se um


interruptor tivesse sido invertido, o Boss aterrorizante foi substituído pelo
o homem sorridente que tinha gentilmente, e não tão gentilmente, mas
atenciosamente, me banhado apenas cinco minutos atrás. Boss piscou
antes de adicionar com seu espesso, sotaque do Texas.

— Fico feliz em ouvir isso, boneca.

Ainda envolto em uma toalha, ele me empurrou pelo corredor e abriu


uma porta para expor um quarto bem decorado. Boss me fez um sinal
para entrar.

— Este é o seu quarto. Você vai ficar aqui, você não vai sair, e você
não vai puxar qualquer besteira a menos que você queira uma bala em sua
cabeça, e acredite nada me irritaria mais do que ter uma bagunça feita em
todo chão.

Mordi meu lábio para silenciar um suspiro e continuei como se ele


não tivesse acabado de me ameaçar de morte. Mais uma vez.
— Há roupas sobre a cama e um banheiro anexo. Você vai manter
este quarto limpo e arrumado. Eu vou ter alguém lavando as suas roupas
amanhã.

Abri a boca para fazer uma pergunta, mas ele se foi. Eu ouvi o clique
do bloqueio do lado de fora da porta. Oh meu Deus, eu estava presa em
uma prisão bizarra, luxuosa, e completamente à mercê do mais feroz
traficante de Austin, e pelo que eu sabia, esse título foi ganho
profundamente nas trincheiras da brutalidade e da morte. Sentei-me na
beira da cama, com a toalha úmida contra a minha pele pegajosa, e tremi
de medo.

Puta que pariu. No que eu fui me meter?


Boss

Eu entrei no meu escritório e senti o cheiro do uísque que estava


abandonado na minha mesa há duas horas, quando Milo e eu corremos
para fora para encontrar uma junkie2 muito magra e em estado deplorável
no meu gramado da frente. A atração do álcool, combinado com o aumento
inexplicável do desejo devido ao encontro inesperado com Miri no
banheiro, me fez beber todo o conteúdo do copo em um movimento rápido.
Avistei a garrafa que Milo largou e fiz uma careta, fechei e a coloquei de
volta em seu local designado, empurrando algumas outras garrafas e
copos até que estivessem em fileiras perfeitas.

Esta maldita noite foi um completo caos.

Caí na minha cadeira e arrastei as unhas através da minha barba


por fazer, pensando sobre os acontecimentos das últimas horas. Quanto
mais eu pensava, mais eu esfregava, e mais comichoso ficava.

Eu deveria apenas raspar essa coisa maldita. Foda-se não parecer


mais velho.

No escritório escuro, a única luz brilhando vinha da única lâmpada


acima do bar, eu sentei na minha mesa e revivi cada interação que tive
com Miri, cada palavra, cada expressão facial, cada toque. O desafio em
seus olhos ardentes, quando ela ficou diante de mim, me fez rir. Esta
pequena ruivinha, fraca, que sem dúvida não é páreo para a minha força
bruta, chocou o inferno fora de mim quando ela tirou suas roupas
ensopadas e as jogou para baixo no chão. Eu fiquei encantado com seu
olhar firme, praticamente me desafiando a dizer alguma coisa.

Apesar de seus problemas, do vício, e sua evidente desnutrição e


cuidados médicos, Miri estava... Viva. Ela parecia o inferno, mas tinha
essa presença sobre ela, uma faísca, uma força interior que me fez
acreditar que ela ainda tinha uma chance. A chance de escapar dessa

2
Termo usado para ser referir a um usuário de drogas.
vida, quando tantos outros antes dela falharam e sucumbiram à tentação
das drogas venenosas e estilo de vida sombrio.

Outros, como Rose. Porra. Eu não posso pensar nisso agora.

Empurrei essa merda para fora da minha cabeça e foquei meus


pensamentos em meu antigo traficante, Mason Smith. Aquele ladrãozinho
filho da puta tinha uma garota em casa, a garota que está trancada em um
dos meus quartos de hóspedes, viciada em heroína. Tão atencioso que não
dava a mínima ao que aconteceria com Miri caso ele sumisse, e com
certeza, quando Mason viu Milo naquele armazém, ele sabia muito bem
que não voltaria para casa.

Minha mão apertou em torno do copo de uísque vazio. Eu estava


furioso com o homem que me roubou, mas verdadeiramente furioso por ele
ter deixado Miri para morrer, esquecida, como um pedaço de lixo para ser
descartado. Eu sabia por experiência o que bastardos como Mason Smith
faziam com meninas como Miri. A total falta de interesse de Miri sobre o
paradeiro de Mason, uma vez que ela conseguiu sua dose, falou por si só.
Ela não se importava com Mason. Eles não estavam apaixonados. Inferno,
eles provavelmente sequer eram um casal. Eu sabia como situações como
a deles funcionava nas escuras e decadentes sombras dos piores bairros
da cidade.

Traficantes como Mason encontravam garotas desesperadas como


Miri e as viciava em drogas. As garotas se tornariam submissas,
dependendo do traficante para tudo. Em seguida, elas se tornariam
incapazes de abandonar seu captor devido à necessidade desesperada para
alimentar o vício. Mason provavelmente fez de Miri sua prisioneira, lhe
dando drogas em troca de sexo. Às vezes, esses bastardos ainda
emprestavam as mulheres a outros homens em troca de dinheiro extra.

Memórias da minha irmã, e de um passado que nunca teria a


chance de consertar, enviaram um ataque de fúria inflamada através de
minhas veias, o fogo pulsando como lava até que eu estava queimando de
raiva de dentro para fora. Sem aviso, o copo na minha mão quebrou,
estilhaços do cristal afiados perfuraram profundamente a carne macia da
palma da minha mão.

Filho da puta!
Vermelho intenso brotou do meu punho fechado e começou a
escorrer pelo braço enquanto eu corria até a pia e colocava a mão sob a
torneira. Eu assobiei conforme arrancava os pedaços maiores de vidro.
Sangue misturado com água descia junto na pia, o líquido vermelho
escuro tornando-se rosa numa espiral antes de desaparecer pelo ralo. Em
uma inspeção mais minuciosa, descobri os cortes que permaneciam
sangrando, vários deles, possivelmente, a uma profundidade suficiente
para precisar de pontos.

Foda-se. Eu estava muito cansado para me importar.

Peguei toalha pendurada nas proximidades, então eu a envolvi em


torno dos cortes e me inclinei sobre a pia, mãos apoiadas em ambos os
lados, cabeça baixa. Meu corpo vibrava conforme eu fervia em fúria.

Não deixe a raiva tomar conta.

Respirei fundo, fechei os olhos e imaginei Miri, saudável e seis quilos


mais pesada, com o cabelo vermelho brilhante e pele branca impecável,
com um brilho corajoso naqueles olhos verde-esmeralda.

De repente, o cabelo vermelho se transformou em preto, ondas


escuras, os olhos verdes para um azul brilhante. Um azul que eu via todos
os dias quando eu olhava no espelho. Rose. Arrependimento perfurou meu
coração, cortando milhares de vezes mais profundo do que os cortes na
minha mão. Raiva e remorso lutaram pelo domínio, correndo por minha
espinha para picar na parte de trás do meu pescoço como se um fantasma
estivesse respirando sob minha pele sensível. Eu apertei meu queixo e me
firmei contra a pia.

É tarde demais para salvá-la. Eu preciso seguir em frente.

A quem eu estava enganando?

Eu nunca seguiria em frente após falhar completamente com a única


pessoa na minha vida que significou algo para mim.

Ergui a cabeça e olhei para o homem no espelho apesar do ódio,


cuidando para evitar os familiares olhos azul cobalto. Eu esperava
encontrar uma imagem destroçada, mas estava literalmente chocado com
quão horrível meu rosto estava – olhos vermelhos e injetados, sombras
roxas ao redor destes, cabelo escuro penteado para trás devido ao banho, e
os fios cinza na minha nuca aparentemente duplicaram ao longo de um
único dia.

Estancada e limpa, eu esfreguei minha mão ilesa pelo meu rosto e


meu ritmo cardíaco disparou, em pânico, enquanto eu verificava que
nenhum sangue havia pingado sobre o chão ou na minha roupa. Satisfeito
que tudo estava limpo, fui até minha mesa e puxei minha moeda para fora
da gaveta. Segurei-a no meu punho por um momento, fechando os olhos e
limpando minha mente. Metodicamente, comecei a lançando-a sobre
minhas juntas esfoladas – para frente e para trás, para trás e para frente,
até que minha respiração desacelerou e o martelar de meu coração reduziu
até o ritmo normal. Cansado com meu breve lapso de controle, eu
empurrei a moeda de volta na gaveta e suspirei.

Agora, precisava lidar com a segurança, ou melhor, a falta dela. O


pensamento de alguém violar tão facilmente o meu perímetro me fez ranger
os dentes. Enviei um texto rápido para Burke para ele me encontrar na
garagem e limpei toda a emoção do meu rosto.

Sem lembranças. Sem sentimentos. Era hora de ser Boss


novamente.

Miri

Quando eu acordei em uma cama grande, macia e limpa e olhei ao


meu redor, os eventos de ontem à noite me invadiram. Ofegante, sentei-me
muito rápido e imediatamente me arrependi. Com um gemido, eu caí no
travesseiro felpudo, fechei os olhos e apertei minhas mãos nas minhas
têmporas latejantes, engolindo uma forte onda de náusea.

Será que eu realmente vim para a casa do chefe de Mason para pedir
um pouco de H? A casa do traficante mais temido e implacável em Austin?
Aquele que ameaçou minha vida mais de uma vez, então me trancafiando
como um criminoso, com Boss agindo como juiz, júri e, se ele assim o
desejar, o meu carrasco?

Sim. Sim eu fiz.


Eu joguei as cobertas e sentei-me mais lentamente dessa vez. Porque
eu ainda não acreditava que a noite passada não tinha sido um sonho, eu
inspecionei meu pé esquerdo. A prova estava bem ali, na forma de uma
pequena alfinetada vermelha onde a heroína foi injetada. Tantas perguntas
assaltaram minha mente ao mesmo tempo. Por que Boss me ajudou? Por
que ele me lavou em vez de delegar a algum de seus funcionários? Por que
ele não exigiu sexo como qualquer outro idiota que eu conheci?

Sem previsão de quando obteria respostas, eu respirei fundo e


levantei para usar o banheiro anexo. Assim como todos os dias ao longo
dos últimos meses, eu propositadamente evitei o espelho, com medo de ver
o que eu havia me tornado. Era mais fácil lembrar a minha aparência de
antes da fuga de casa e até mesmo durante os dois anos e meio antes de
Cat desaparecer. Eu tinha sido bonita uma vez, com um sorriso brilhante e
pele saudável, meus cabelos cor de cobre limpos e bem conservados. Eu
não tinha vontade de ver a viciada patética e deteriorada que tinha me
tornado.

Essa linha de pensamento sempre me trouxe para Cat. Fazia seis


meses que minha melhor amiga desapareceu. Seis meses desde a última
vez que a ouvir rir ou vi seu sorriso. Três anos atrás, foi ideia minha de
fugirmos juntas, embora eu tenha apenas sugerido isso, porque eu sabia o
quanto Cat sofria nas mãos de seu padrasto. Quando ela me confidenciou
que ele a estuprava quase todas as noites, e a mãe fazendo absolutamente
nada quanto a isso, eu precisava tirá-la de lá.

Pequena e franzina como um gato, sua mãe mexicana era baixinha,


com um pouco mais de um metro e meio de altura, muito tradicional com
relação ao lugar da mulher no lar, e fisicamente frágil comparada à
enorme brutalidade do padrasto de Cat. Depois de anos de espancamentos
de minha própria mãe, quando Cat começou a insinuar sobre tomar
medidas drásticas como o suicídio, eu decidi que o melhor para ambas era
dar o fora de nossa cidade rural no Texas.

Quão errada e estúpida eu estava. Tudo correu bem por um par de


anos. Ambas tivemos empregos que pagavam a comida e nosso lugar, mas
as lembranças não eram suficientes para acalmar o vazio no meu coração
causado pela perda da minha melhor amiga.

Eu passei meus braços muito magros em volta da minha cintura e


apertei a camisa enorme em volta do meu corpo. Depois de um banho
bizarro com um dos homens mais temidos de Austin, eu estava
completamente abalada. Boss não parecia muito assustador enquanto
estava molhado, ensaboado e sorridente, mas quando ele baixou seu tom
de voz e me segurou firme em seu aperto, enquanto me repreendia para
que eu falasse o que ele queria ouvir, sim, eu vi exatamente quão
absolutamente aterrorizante ele poderia ser. O homem era intimidante. E
intrigante. E lindo.

Ugh. Esfreguei os olhos turvos com as palmas das minhas mãos. Eu


precisava parar de pensar em Boss como alguém atraente. Ele era um
controlador, filho da puta depravado. Além disso, minha pele estava
começando a coçar e eu podia sentir a agitação subindo. Hora para mais
uma dose, se ele me desse uma. Eu procurei pelo quarto algo para vestir
além das enormes camisas pretas e a bermuda xadrez folgada, deixados na
cama. A bermuda era tão grande que tive que dobrá-la no cós três vezes
para que não caísse. Eu particularmente não me importava com o que
usava ou minha aparência. Inferno, Boss me viu completamente nua na
noite passada. Mas, enquanto na noite passada eu não tive problema em
enfrentar o cafajeste, por alguma razão, esta manhã, eu me sentia
vulnerável.

O desespero por mais heroína, obviamente, me fez ultrapassar os


limites da prudência noite passada, e a luz brilhante da manhã me tinha
lamentando minhas ações. Eu caminhei até a porta do quarto e lembrei-
me de como tinha sido trancada com um clique alto. Enclausurada em
uma gaiola dourada. Ainda estava trancada?

Eu respirei fundo e empurrei a porta do quarto. Sim. Trancada.


Exalei e sentei-me numa pequena poltrona escondida no canto do quarto.
Enquanto me perguntava o que iria acontecer e quanto tempo eu
suportaria antes da abstinência me atingir com tudo, ouvi vozes se
aproximando.

Vozes masculinas.

— Qual é o seu plano, Boss? Continuar a injetar drogas em uma


viciada enquanto ela acredita que sua casa é um hotel para prostitutas?

Eu não reconheci o profundo rosnado, irritado, mas vibrou em


minha medula e enviou arrepios pela minha pele. Não o tipo bom de
arrepios.
— Milo, mantenha sua bunda fora dos meus negócios e faça seu
maldito trabalho, que, por sinal, é fazer o que diabos eu mandar.

Essa voz eu reconheci. O homem do chuveiro. O homem sem nome


que eles chamavam Boss. Ou, como Mason costumava dizer, Boss Man.
Claramente, os dois homens estavam discutindo sobre mim. Eu sabia que
era a viciada referenciada na conversa. Não era a primeira vez que ouvi
esse termo, mas foi a primeira vez que o insulto realmente machucou.
Boss falou de novo e, desta vez, ele estava realmente chateado.

— Certifique-se que meu banheiro seja esterilizado novamente, em


seguida, encarregue-se da segurança e encontre um substituto para o
Burke. Qualquer um dos seus homens que você considere o mais
adequado.

Houve uma pausa antes de Boss continuar.

— A menina não sairá sob quaisquer circunstâncias, e eu não quero


uma repetição da noite anterior. Torne conhecidas as consequências se
caso a segurança falhar novamente. Use Burke como um exemplo,
entendeu Milo?

— Sim, Boss. Entendi.

Eu ouvi os passos pesados do homem irritado desaparecer seguido


de uma parada abrupta.

— Tem certeza que não me quer aqui, quando você tiver que lidar
com...

— Maldição, Milo. Dê o fora daqui antes que me arrependa e seja


obrigado a fazer o trabalho sujo, que você sabe que me irrita pra caralho.

Boss rosnou para o outro homem.

Sua ameaça raivosa deveria ter me assustado, especialmente quando


combinada com a clara intenção de me manter trancada como uma
prisioneira, e agora o som estava vindo do lado de fora da porta do quarto.
Mas em vez de ficar alarmada, o som suave de sua voz enviou outro
arrepio por minha pele. Desta vez, foi um tipo bom de arrepio, do tipo que
estremece meu interior, aquecendo simultaneamente meu centro. O que,
exatamente, isso diz sobre mim?
Quem fica excitada com ameaças de violência e prisão ilegal nas
mãos de um criminoso que me trata como algo menos que humano?

— Ok, Boss.

Passos soam pelo corredor e ouvi uma porta abrir e fechar.

O único aviso que tive foi o clique da fechadura antes da maçaneta


girar. Fechei os olhos, me preparando para ficar cara-a-cara com Boss pela
primeira vez desde o banho humilhante, o posterior cativeiro, e as
múltiplas ameaças a minha vida. Apesar do medo opressivo e minha
atração irracional por esse homem, eu forcei meu corpo a permanecer
imóvel na cadeira enquanto esperava para saber o meu destino.

A porta se abriu, e meus olhos se abriram, focando imediatamente


em sua presença. Boss também me notou, e levei um tempo analisando
aquele homem. Sua presença forte, dominante era inegável, os ângulos
agudos de seu perfil eram intimidantes. Confrontada com ele novamente,
eu lembrei o quão alto e grande ele era. Pelo menos alguns centímetros
acima de 1,80 metros, talvez mais.

Senti mais do que vi, seu olhar sobre mim. Minha pele picou e meu
estômago revirou nervoso.

— Venha comigo.

Ele se virou e saiu confiante de que eu o seguiria. E eu fiz.

Descemos uma grande escadaria para uma sala de espera toda em


mármore. Descalça, percorri um amplo salão forrado com obras de arte
caras e decorações, lutando para acompanhar os passos largos de Boss. O
salão terminava na enorme cozinha.

Eu parei, tremendo e inquieta, esperando.

Boss estava brincando com algo sobre a mesa, de costas para mim.
Ele me deu uma visão perfeita do amplo conjunto de seus ombros,
músculos salientes sob um confortável encaixe, pressionando a camisa
branca que, provavelmente, custava mais do que cada um dos meus
contracheques do ano passado combinados.

Meus olhos percorreram os músculos flexionados em suas costas até


a cintura, demorando-se sobre a forma como sua, sem dúvida, cara calça
azul marinho abraçava sua bunda. Apesar do perigo em que me
encontrava, do inerente medo que este homem invocava nas pessoas, eu
não conseguia desviar o olhar para longe de seu corpo perfeito, magro,
com músculos grandes e bem definido. Músculos que vi muito de perto,
enquanto molhado e escorregadio.

— Vê algo que gosta?

Eu pisquei e encontrei Boss olhando para mim com seus


penetrantes olhos azuis, aquele maldito sorriso torto em seu rosto bonito.
Minha pele ardia por ter sido pega encarando a bunda do homem em sua
própria cozinha.

— Eu não tinha certeza do que você queria que eu fizesse ou... Se...
Se eu poderia sair.

Eu desconsiderei seu aviso de que ir embora não era uma opção e


mantive os olhos no chão, focado em meus pés descalços para diminuir o
peso de seu olhar intenso.

— Eu não tenho um carro... ou, ou dinheiro...

O peso da humilhação me oprimindo. Deus, eu parecia tão estúpida,


naquele imenso palácio, em frente a este homem poderoso, vestindo
roupas folgadas e com os braços cheios marcas. Eu estava sem dinheiro,
era uma viciada em heroína, invadindo sua casa, e agora estava em pé na
sua cozinha esperando... Pelo quê?

Eu não fazia a menor ideia pelo que estava aguardando.

— Sente-se, Miri.

Boss envolveu suas grandes mãos em torno de uma cadeira da


cozinha e puxou-a para trás, angulando em minha direção. Eu engoli em
seco, incapaz de me mover ou mesmo respirar. Meus pés estavam colados
ao chão. Boss estendeu sua mão quente e áspera e segurou meu pulso,
facilmente o cercando com espaço de sobra, puxando-me para frente.

— Sente-se. Se você se comportar, desta vez, não vou amarrá-la.

Seu tom de voz era rouco e eu sabia que ele não estava brincando
sobre me amarrar. Para ser honesta, Boss tinha um toque de diversão em
sua voz que implicava que ele gostaria muito se eu o desobedecesse.

Foda-se. De maneira alguma eu lhe daria essa satisfação.


Quando me sentei, aproveitei a oportunidade e olhei de relance para
ele, sem saber o que iria encontrar em seu rosto, especialmente depois de
ontem à noite. Haveria raiva, irritação, pena, nojo? Chocante, mas não
havia nenhuma dessas opções. Boss estava... sorrindo?

Ele virou-se para encostar o quadril na mesa, com o rosto


enganosamente paciente e amável. A pele ao redor de seus belos olhos
estava enrugada e os lábios apertados segurando uma risada.
Inexplicavelmente, senti minha própria boca sorrir em resposta à belíssima
vista inesperada.

Este homem não para de me surpreender.

Então meus olhos notaram o conteúdo em cima da mesa e meu


sorriso hesitante sumiu. Em um longo suspiro, uma única palavra
escapou.

— Oh.

Sobre a superfície de madeira polida da mesa era o mesmo kit de


ontem – seringa, minúsculo pacote de pó branco, isqueiro, colher e
torniquete. Meus olhos derivaram entre o kit e a intensidade do olhar de
Boss para mim.

Eu me contorci na cadeira.

— Eu, eu não entendo. Você... Você quer o quê? Vai continuar me


dando drogas?

Neste ponto, eu estava muito além de assustada e me encontrava


completamente confusa. Eu nervosamente girei um pedaço de cabelo em
torno de um dedo enquanto mordia meu lábio inferior, incapaz de
descobrir o que este homem esperava em troca da heroína.

— Por-por quê? Por que você faria isso? Eu não sou ninguém. Nada.
Você sequer me conhece.

O que ele queria? Nada vem de graça. Nada.

O olhar triste em seus olhos me surpreendeu. Ao mesmo tempo que


Boss demonstrou um pouco de compaixão, sua boca e mandíbula se
apertaram.

— Você não é nada.


Ele sussurrou tão veementemente que eu vacilei. Boss fechou os
olhos e respirou fundo, como se ele precisasse de um momento para não
estender a mão e me estrangular. Seus brilhantes olhos azuis abriram-se
novamente, prendendo-me em sua intensidade.

— Além disso, você não pode parar imediatamente, boneca. Você vai
acabar incrivelmente doente.

Seu olhar se abateu sobre mim quando ele cruzou os braços sobre o
peito largo, sua camisa esticando sobre os amplos ombros.

— Estou me certificando que você não deixará a propriedade até que


eu descubra como você chegou aqui e quais são suas intenções. Não é todo
dia que alguém tem a audácia de invadir a minha casa...

Ele colocou as mãos sobre os braços da cadeira, prendendo-me, seu


corpo ao meu redor, perto o suficiente para eu sentir o cheiro do pós-barba
combinado com o perfume refrescante do banho. Perto o suficiente que eu
olhasse cada tom de azul em sua íris.

— É ainda mais raro quando eles vivem para contar. Isso é o que me
preocupa, boneca. Eu não preciso de você contando a polícia qualquer
informação, preciso?

Engoli em seco e respirei fundo.

— E o meu... O meu, hum, namorado?

A palavra deixou um gosto ruim na minha boca, mas eu não sabia


como me referir a Mason, sem me explicar em demasia. Sim, o meu
fornecedor de drogas? O cara que me fodia? De jeito nenhum. Então
namorado serviria.

— Você tem um namorado, boneca?

Boss ergueu-se, se afastando e levando consigo aquele cheiro


maravilhoso. Seu semblante era neutro e não dava nenhuma dica sobre o
que estava pensando. Boss puxou cada punho de sua camisa e perdeu
tempo suficiente os endireitando ao ponto que eu queria gritar.

Ansiedade percorreu cada nervo do meu corpo. Cada um tensionado,


vibrando por sua vez, e enviando onda após onda de estresse, como ondas
concêntricas na água. Eu arranhei meus braços, a coceira voltando com
uma vingança ao pensamento de obter mais uma picada.
— Mason, bem, ele não é realmente meu n-namorado. Quer dizer, eu
moro, não, morava com ele, mas...

Minha mão foi para o meu cabelo e eu agarrei uma mecha solta,
girando e puxando furiosamente.

— Ele é... Eu, eu não sei o que ele é. Ele... Ele me dá heroína.

Meus ombros caíram em derrota, incapaz de descrever claramente a


situação complicada.

— Entendo.

Boss permaneceu inalterado pela minha confissão.

— Mason d-deveria estar aqui. Em sua casa. É por isso que eu vim.
Ele está? Aqui, é isso?

Meu coração batia dolorosamente contra meu peito enquanto eu


questionava um homem que a maioria das pessoas ficaria apavorada de
falar, muito menos olhá-lo nos olhos e exigir respostas. Não era como se
eu não tivesse ouvido as histórias, os rumores de crueldade do chefe.
Mason me contou muitas. Falou sobre o rapaz que subiu na hierarquia da
organização, começando como um pequeno vendedor ainda muito jovem,
fazendo isso por anos. Uma vez que ele trabalhou até ser um modesto
traficante, Boss lutou e escalou seu caminho para o topo da cadeia em
menos de cinco anos.

Segundo o que eu ouvi, dos outros, e não apenas de Mason, Boss


derrubou seu mentor e predecessor, juntamente com todos os homens
leais a eles, em um banho de sangue horrível. Indo pela natureza das
ameaças dirigidas a mim, tanto sutis quanto diretas, eu acreditei em cada
palavra. Se eu tomasse por base apenas a expressão de seu bonito rosto
masculino, eu iria rir com o pensamento de Boss ser capaz de atos
violentos. Ele tinha os olhos mais azuis que eu já vi, um queixo forte
coberto por barba rala escura, lábios cheios com dentes perfeitos, e estava
me observando atentamente, sem julgamento, sem hostilidade. Era quase
como se fosse um sonho, conjurado para me salvar do inferno que eu
estava vivendo.

Então Boss franziu a testa, as sobrancelhas contraídas, e a miragem


despedaçada.
— Eu tenho que lhe falar, Miri. Acho bastante perturbador que você
não só sabia Mason teve uma reunião comigo, mas onde minha casa está
localizada. Informações que alguém como você não deve estar a par. Em
qualquer caso, a resposta à sua pergunta é não. Ninguém chamado Mason
está ou esteve aqui.

O Boss não ofereceu nenhuma informação adicional.

Alguém como eu. Uma viciada. Uma prostituta. Menos que humana.

— Oh.

Minha resposta de uma só palavra obteve uma reação estranha do


homem duro a minha frente. Sua sobrancelha maldita arqueou em
surpresa.

— Isto te irrita?

Eu queria dizer, foda-se, seu maluco idiota, mas consegui segurar


minha língua. Em vez disso, eu pensei sobre a pergunta de Boss sobre
Mason ser meu namorado. Sobre Mason não estar aqui quando me
disseram que ele estava. Eu sabia o que isso significava. Eu não era idiota.
Boss matou Mason e estranhamente, isso não me incomodou muito.
Mason pôs um teto sobre minha cabeça e forneceu heroína, mas ele não
era meu namorado e eu não me importava com ele. Eu sabia que Mason
tinha me viciado em drogas com o objetivo singular de me manter em
dívida com ele. A heroína me reteve como prisioneira, e Mason me usou
sexualmente para seu belo prazer.

Uma vez que Cat desapareceu, apesar do meu trabalho decente,


viver em Austin era caro e eu não podia pagar o nosso apartamento
sozinha. Eu fui jogada na rua, sem pertences e sem ter para onde ir.
Quando eu conheci Mason e ele ofereceu um lugar para dormir, eu
aproveitei a oportunidade. Ele facilmente me manipulou e as drogas me
detiveram em seu profundo, escuro aperto, afundando suas garras afiadas
nas profundezas mais obscuras de minha alma. Logo depois, eu perdi meu
emprego e minha renda assim fiquei totalmente dependente de Mason.

Se eu estava com medo do que Boss faria comigo por conta da


invasão, e por ter conhecimento de informações que não deveria? Claro
que sim. Orei para que Boss acreditasse que o tremor do meu corpo era
devido, unicamente, a minha necessidade de drogas e não a esmagadora
sensação de terror. Eu mantive o meu queixo erguido e me recusei a dar a
seu ego controlador a satisfação de saber que tinha me amedrontado.

— Não. Isso não me irrita.

Boss assentiu como se tivesse dado a resposta que ele esperava.

— Me dê sua perna, Miri.

Tremendo, eu inclinei, tentando não me encostar ao homem que


estava tão perto, apenas alguns centímetros nos separava. Eu não fiz caso
para mostrar a Boss minhas fraquezas, e meu vício era de longe a maior de
todas. De alguma forma, fazer isso era muito, mas muito mais pessoal do
que estar despida no chuveiro.

Expor seu mais sujo e escuro segredo sempre é mais difícil do que
expor sua pele. Expô-los a Boss me fez sentir envergonha e patética. Eu
não queria que ele me visse assim. Mas, em seguida, isso é exatamente o
que me tornei quando Cat desapareceu, um fraca, patética, viciada
desesperada.

Quando Boss finalmente tirou os olhos de mim e virou-se para


preparar a injeção, eu usei a palma da minha mão para enxugar a
crescente umidade de meus olhos. Meu joelho balançava para cima e para
baixo enquanto eu esperava por minha dose. Lutei para controlar a
contração dos músculos, o desejo de arranhar cada polegada de minha
pele e gritar a Boss para apressar essa porra antes que eu o empurrasse e
preparasse eu mesma.

Vamos, Miri. Você passou por muito mais do que isso. Você é forte.
Você foi ao inferno e voltou mais vezes do que é capaz de lembrar.

Durante o tempo que Boss precisou para deixar tudo pronto e


começar a enrolar o comprimento do tubo de borracha ao redor da minha
perna, eu mantive minhas emoções sob controle... Na maior parte. Foi o
meu corpo que me traiu. Eu estava suando, tremendo, curvada em
consequência ao estômago contorcido em dor. Se Boss notou, ele não disse
uma palavra. Depois de amarrar o torniquete, seus olhos – tão
incrivelmente azuis que deviam ser lentes de contato – encontraram os
meus.
Em um inesperado gesto de ternura, a mão do Boss levemente
acariciou meu joelho. Meus olhos ficaram focados em seus longos dedos
esfregando na minha pele nua.

— Vai ficar tudo bem, boneca.

Por muito pouco sua simpatia não liberou as lágrimas que


inundaram meus olhos, perigosamente perto de transbordar. Eu estava
prestes a me abrir completamente e desmoronar na frente deste homem
poderoso. Arrisquei uma olhada em seu rosto e a barragem quase
quebrou. Boss estava olhando para mim de sua posição agachada aos
meus pés, com uma preocupação genuína. Meu pulso acelerou com a
significância naquele único olhar.

Quanto tempo se passou desde que alguém deu à mínima ou olhou


para mim assim? Alguém mais além de Cat?

Meu estômago se agitou com algo diferente da habitual dor causada


pela abstinência e meu coração disparou. Funguei e acenei para Boss
confirmando que estava pronta, em seguida, desviei o olhar para que ele
não me visse chorar. Álcool fresco vibrou na minha pele logo antes da
picada da agulha. Uma lágrima escorreu por meu rosto conforme o calor
glorioso entrou na minha corrente sanguínea. As drogas percorreram
rapidamente através do meu corpo, e trazendo com eles uma calma
instantânea, um zumbido suave dos dedos do pé até o topo do meu crânio.
Minha cabeça pendeu para trás enquanto eu me alegrava com a sensação,
mas as lágrimas ainda corriam. Não, eu não estava chapada. Eu não
sentia mais euforia por conta da heroína. Esse benefício desapareceu
aproximadamente um mês de uso contínuo. Após a perda da euforia, a
droga se tornou uma necessidade apenas para me sentir normal, o que
diabos isso significasse. Agora, eu me sentia muito longe do normal.

— Miri.

— Hmmmm?

Um tecido macio limpou meu rosto. Poucos minutos depois, eu


vagamente registrei os sons de Boss reunindo o kit e o jogando no lixo. No
momento em que ele terminou, meu sistema tinha aceitado as drogas e eu
estava me sentindo mais ou menos acordada e alerta, o mais alerta
possível para alguém desorientada pela heroína.

— Miri.
A voz era mais alta, mais forte. Assustada e um pouco nervosa, eu
vacilei.

— Eu estou aqui.

Eu sussurrei.

A mão pesada apertou meu ombro.

— Coma. Você se sentirá melhor.

— O quê?

Eu encarava o homem bonito com os olhos cansados.

Ele não parecia assustador hoje. Ele parece triste. O humor desse
homem oscilava para cima e para baixo, bondoso versus intimidante,
sorridente versus carrancudo.

Eu tive de reprimir uma risada em meus pensamentos errantes.

Boss apontou para a mesa. Virei à cabeça pesada e meu queixo caiu.
No lugar do kit com zíper havia um prato de torradas com manteiga e uma
taça de frutas frescas.

— V-você, você fez isso para mim?

Boss sentou na cadeira ao lado da minha e piscou. Ele me deu um


sorriso largo antes de morder sua própria torrada. Depois de beber café
quente, Boss encontrou meu olhar curioso.

— Eu não cozinho frequentemente, boneca. Quase nunca. Assim, em


vez de botar fogo na casa tentando fazer comida de verdade, eu torrei
alguns pedaços de pão e transferi as frutas de um recipiente para outro.
Mas se você acha que eu fiz o café da manhã, eu não vou te impedir.

Ele apontou para o meu prato com o garfo, me deu outra piscadela,
e aquele homem confuso continuou comendo.

Fiquei espantada. Quanto tempo se passou desde que alguém,


qualquer um, fez algo para mim por vontade própria? Algo bom? E para o
gesto partir de um traficante, um homem cujo nome despertava profundo
temor em bandidos e traficantes de toda a cidade, era incompreensível.

Apesar de não sentir fome, eu não queria perturbar Boss ou arruinar


o seu bom humor ao rejeitar sua consideração. Meu estômago parou de
doer depois de obter a minha dose, eu respirava através de minha boca e
consegui roer no canto de um pedaço de pão levemente com manteiga.
Antes que eu percebesse, meu prato estava limpo.

Acho que eu estava com mais fome do que supunha.

Nunca havia muita comida no apartamento de Mason, mas nenhum


dos dois tinha a intenção de fazer qualquer coisa, exceto usar mais drogas,
dormir o dia inteiro, e no caso dele, transar, o que acontecia somente
quando estava em casa, o que era raro.

Boss empurrou sua cadeira para trás. O raspar de madeira no chão


me trouxe de volta ao presente. Ele se levantou e alisou sua camisa
impecável e pegou sua jaqueta na parte de trás de sua cadeira, deslizando
sobre seus ombros perfeitos. Eu pensei que ele era gostoso em uma camisa
e calça comum, mas vê-lo em um terno azul-marinho sob medida era
suficiente para enviar sangue pulsando entre as minhas coxas.

— Não se preocupe com os pratos.

O sotaque sulista de Boss era menos óbvio esta manhã, mas eu


ainda o detectava aqui e ali.

— Minha governanta vai cuidar deles.

Ele abotoou o casaco, voltou-se para sair da sala, e eu entrei em


pânico.

— Espere!

Boss girou até que seu olhar perspicaz pousou em mim. Mais uma
vez, quando eu era o único foco desses intensos olhos azuis, minha voz
falhou. As sobrancelhas levantadas como se perguntasse: Que porra você
quer?

Limpei a garganta e fiquei atrás de minha cadeira, os dedos


segurando as ripas de madeira.

— Ummm, o que devo fazer?

Uma das minhas mãos encontrou seu caminho para meu cabelo.
Enrolei uma mecha em torno de meu dedo repetidamente.

— Quero dizer...
Dei uma olhada rápida ao redor da enorme cozinha. Permanecer na
casa de um estranho era extremamente desconfortável, mas estar aqui
sem ele em algum lugar próximo, sabendo que outros homens estavam por
todo lugar? Meu nível de ansiedade disparou.

Boss estalou os dedos e um homem em um terno preto, camisa


branca e gravata preta, apareceu do nada, para ficar ao lado de Boss.

— Patrão.

— Jase, Leve Miri de volta ao seu quarto.

Eu engoli em seco. Ele estava me trancafiando mais uma vez. A


ilusão de ser tratada gentilmente estilhaçou em pedaços conforme a
realidade a substituía. Eu não era uma convidada. Eu era uma prisioneira.

— Miri, tenho trabalho a fazer e estarei ocupado pelas próximas


horas. Um dos meus homens está comprando algumas roupas já que não
tenho nada na casa que te sirva.

Eu olhava para o chão, sem saber o que fazer. Eu queria gritar com
Boss por pensar que poderia me prender e me manter aqui, mas
realmente, para onde eu iria? Eu precisava de heroína, e Boss estava
disposto a me dar. Sabendo que eu não tinha poder de escolha
timidamente me virei para Jase, então ele tentou tocar meu braço.

— Não!

Eu dei um passo para longe e cada músculo do meu corpo retesou,


bem apoiada em meus pés, pronta para fugir.

Boss fez uma careta, e falou em voz baixa ao seu homem.

— Jase, espere aqui.

De repente, uma mão segurou apertado em volta do meu pulso. Eu


estava tropeçando em meus próprios pés para acompanhar Boss enquanto
era arrastada pela cozinha e pelo corredor até a escadaria régia.

— Espere! Por favor, não me tranque.

Meu apelo ficou sem resposta. Empaquei quando chegamos ao


degrau. Boss se virou e me lançou um olhar tão sombrio que quase
desmaiei de puro terror. O homem amável da cozinha tinha desaparecido.
Boss, o violento senhor das drogas, o bastardo sanguinário de quem ouvi
falar nas ruas, curvou os lábios em um sorriso de gozação. Sem uma
palavra, ele me agarrou pela cintura e me jogou por cima do ombro. Minha
cabeça pendia para baixo de suas costas e meu cabelo comprido
obscureceu minha visão.

— Pare!

Eu enrolei minhas mãos em punhos e bati inutilmente em sua parte


traseira.

— Ponha-me no chão!

Eu poderia muito bem ter sido uma mosca zumbindo em torno de


sua cabeça. Boss subiu as escadas e adentrou “meu” quarto para me
atirar rudemente sobre a cama. Eu me levantei antes que ele pudesse
fechar a porta.

— Você não pode fazer isso!

Em pânico, eu agarrei e arranhei seu pescoço e rosto, apavorada


com a ideia de ser trancada no quarto.

Incrivelmente rápido, Boss prendeu meus pulsos em uma mão e me


empurrou para baixo no colchão, seu corpo pesado me segurando no
lugar. Eu o chutei, apontando para sua virilha, enquanto gritava por
socorro. Boss prendeu minhas pernas entre suas coxas grossas e pairou
sobre mim, seu rosto vermelho de fúria apenas alguns centímetros do
meu, vergões de minhas unhas em relevo gritante em sua pele.

Boss apertou meus pulsos até que eu choraminguei.

— Não teste a minha paciência, Miri. Você veio até mim, você
implorou minha ajuda, você invadiu a porra da minha casa. Você quer
mais das minhas drogas? Você precisa aprender como as coisas são feitas
neste mundo, boneca. Se você não consegue lidar com as consequências
de suas ações, você não deveria ter começado a usar heroína e você
certamente não deveria ter vindo aqui. Agora...

Ele rosnou.

— ... Este quarto será a sua nova casa e se você valoriza a sua vida,
você não vai questionar uma única palavra que eu disser.
Seu domínio sobre meus pulsos era tão apertado ao ponto de me
fazer gritar. Agora ele estava tão perto, nossos narizes quase se tocaram.

— Lembre-se, eu não lhe devo nada. Para todos os efeitos, você me


deve.

Boss me deu um último olhar de indução de terror antes de me


soltar e se afastar. Ele levantou a mão e tocou um dos arranhões no
pescoço. Quando ele examinou seu dedo e viu sangue, seu rosto
escureceu.

— Esse foi o seu primeiro erro.

Ele olhou para baixo e inspecionou suas roupas.

— Você tem sorte não ter sangue no terno. Cometa outro erro e você
não viverá para ver o amanhã.

Boss girou sobre os calcanhares, saiu da sala, e bateu a porta. O


clique da fechadura selou meu destino.

Minha mente estava repleta de perguntas - por que ele estava


fazendo isso? O que ele quer de mim? Quanto tempo eu permaneceria aqui?
Mas eu não conseguia me concentrar tempo suficiente para chegar a
qualquer resposta. Eu estava muito ocupada tremendo da cabeça aos pés,
com falta de ar e combatendo as lágrimas que ardiam meus olhos.

Como eu fui me meter nessa confusão?

Eu saltei da frigideira de Mason, diretamente em uma fogueira


crepitante chamada Boss.
Boss

— Temos um carregamento de cinco quilos chegando amanhã. Eu


tenho dez caras prontos para cortar e dividir. Estará disponível nas ruas
em dois dias.

Shade, o cara no comando do meu armazém de distribuição, me


atualizou sobre o status atual do produto. Música mexicana tocava nos
alto-falantes, o volume elevado servia para encobrir nossas vozes no caso
de estarmos sendo monitorados.

— Boa. Eu quero isso feito o mais rápido possível.

— Sem problema, Boss.

Shade estava comigo tempo suficiente para saber como eu


trabalhava. Drogas provinham de fornecedores no México, que obtinham
da Colômbia, Venezuela, ou fabricados por si próprios, e saíam do nosso
prédio o mais rápido possível. Reduzindo as chances de ser apanhado em
nossa posse. Ter um traficante para o transporte de uma pequena
quantidade de heroína era fácil. Explicar que o produto valia milhões de
dólares — era muito mais difícil.

Com o canto do meu olho, eu assisti quando Shade mexeu-se na


cadeira. Ele limpou a garganta antes de falar:

— Boss, as vendas de Two aumentaram.

Olhei para Shade, minhas sobrancelhas levantadas.

— Sério?

Two era um dos mais preguiçosos e desmotivados traficantes da


área. Ele não se preocupava em colocar pressão sobre os traficantes de rua
sob seu comando. Um aumento repentino nas vendas não fazia sentido.

— Muito.
Shadow disse, dando-me um olhar compreensivo. Eu balancei a
cabeça.

— Escolha alguém para ficar de olho nele. Quero relatórios diários.

Se Two, Aka Thomas Gutierrez, não tivesse me apoiado quando


assumi a cidade, ele teria sido chutado anos atrás.

— Entendi, Boss.

Qualquer atividade irregular, especialmente com um negociante


como Gutierrez, um cara que preferia gastar dinheiro a trabalhar sua área,
era algo a ser monitorado. Nós caminhamos através do edifício e me
certifiquei que a operação estava funcionando como deveria antes de sair.
Alguns chefes do tráfico pensavam que eram bons demais para
acompanhar todo o processo. Eles preferiram governar no luxo de sua
casa, charuto na boca e bebida em sua mão. Era um grande erro colocar
toda confiança em outras pessoas. Não estar envolvido no negócio era uma
ótima maneira de ser fodido, financeiramente ou fisicamente. O meu
antecessor estava muito ocupado se viciando em seu produto e em suas
mulheres para perceber que eu estava planejando destruí-lo. Até que era
tarde demais.

Estúpido fodido.

Parei em várias das empresas usadas para lavagem de dinheiro,


incluindo dois antiquários e um restaurante que teve de lidar com uma
batida surpresa da polícia há uma semana. Eles não encontraram nada, é
claro. Seria preciso uma equipe de especialistas forenses procurando por
anos antes de encontrar qualquer irregularidade, mas policiais eram
chatos pra caralho. Eles sabiam meu nome, sabiam o que eu fazia, e
ficaram chateados como o inferno por não conseguirem me acusar por
nada.

Depois de falar com o gerente durante várias horas sobre a visita dos
melhores de Austin, Frank me levou de volta para casa. Seu eu não
aliviasse a pressão no interior do meu crânio, eu teria uma enxaqueca
daquelas. É claro que não haveria descanso. Nunca houve. No segundo
que atravessei a porta, Jase voou escada abaixo, ofegante e com o rosto
vermelho, suor escorrendo por suas têmporas.

— Boss, a garota...
Sem pensar, agarrei as lapelas do casaco e empurrei seu corpo
contra a parede mais próxima. Jase bateu com tanta força, que os quadros
balançaram. Um quadro caiu no chão e quebrou. A respiração de Jase
deixou seus pulmões com um sonoro whoosh e sua cabeça pressionada
contra a superfície dura. Eu tinha o lado direito de seu rosto, raiva
inexplicável pulsando em minhas veias. Com um movimento rápido de
meu pulso, a lâmina da bainha estava na minha mão, o aço frio
pressionado contra a bochecha de Jase.

— Que porra você fez com ela?

Olhando de lado, Jase ergueu as mãos para cabeça.

— Nada, Boss. Eu juro.

Segurei-o com uma mão no peito, com a faca a um milímetro de


distância de cortar sua carne.

— Então me diga o que diabos está acontecendo. Agora.

— E-ela está quebrando tudo em seu quarto, Boss. T-tentou jogar


coisas contra a janela para sair. Quebrou o espelho do banheiro, as luzes,
todas as gavetas da cômoda. Nós... Nós não queríamos que ela se
machucasse.

Ele se encolheu para longe do punhal.

Aproximei-me o suficiente para arranhar sua pele.

— Que porra isso significa?

Jase engoliu seu olhar fixo na faca.

— Tivemos medo de que ela cortasse os pulos ou algo assim, então


George e eu... Não tínhamos escolha. Nós, uh, nós a algemamos à cama,
Boss.

— Por que não fui chamado?

A fúria me percorreu com o pensamento de dois homens grandes


segurando a minha pequena ruiva e a algemando à cabeceira da cama, me
cegando de ódio.

— Nós...
Jase engoliu em seco novamente, seus olhos ainda focados na
lâmina reluzente.

— Nós n-não imaginamos que o senhor queria ser incomodado sobre


isso, Boss.

— Eu quero saber tudo o que acontece na minha organização.


Especialmente na porra da minha própria casa.

Eu empurrei Jase, guardando a lâmina na bainha, e enfiei um dedo


na cara dele.

— Ninguém a toca sem a minha permissão. Ela é minha.

Eu estendi a mão.

— Dê-me a maldita chave da porra das algemas.

Ele procurou em seu bolso e colocou a pequena chave na palma da


minha mão. Eu apontei para a moldura da imagem quebrada.

— Limpe essa bagunça, em seguida, suma da minha vista.

Jase não precisou de um segundo aviso. Ele fugiu pelo corredor


enquanto eu subia as escadas três degraus por vez, coração batendo tão
forte que eu podia ouvi-lo.

Se eles machucaram Miri... porra! Eu parei fora de seu quarto para


descansar minha cabeça contra a porta. Eu precisava de um minuto para
me acalmar ou só iria assustá-la. Não me faria nenhum bem entrar no
quarto com os olhos arregalados e tempestuosos. Eu inalei e exalei através
do meu nariz e esperei alguns minutos agonizantes até meu pulso
desacelerar, embora cada célula do meu corpo implorasse para quebrar a
porta e me certificar que a garota estava bem.

Uma vez eu estava mais ou menos controlado, eu alisei meu terno e


ajustei os punhos. Com uma inspiração profunda, eu abri a porta. Quando
eu entrei, o quarto estava quase breu. As pesadas cortinas foram fechadas
e todas as luzes apagadas. Nada aconteceu quando liguei o interruptor, e
lembrei-me de Jase falando algo sobre Miri quebrando lâmpadas. Um
pouco de luz vinha do corredor, então eu deixei a porta aberta e cruzei
para o lado da cama. Quando cheguei perto, eu enxerguei Miri dormindo.
Seus pulsos foram algemados acima de sua cabeça, em torno de um ponto
na cabeceira da cama.
Eu me forcei a relaxar diante a visão ou eu socaria alguma coisa, eu
odiava perder o controle.

Miri parecia tão frágil, tão pequena na cama. Mas ela parecia estar
relativamente ilesa, embora fosse muito escuro para ter certeza, mas eu
precisava confirmar. Quando eu usei a chave para abrir a primeira
braçadeira, o clique metálico assustou Miri e ela imediatamente chutou
violentamente e gritou com a voz pateticamente rouca.

— Saia de perto de mim!

Jesus Cristo, esta menina era inflamável. Eu tinha que dar-lhe


crédito. Ela ainda estava lutando apesar da futilidade óbvia de sua luta.
Ela sabia que não havia como se livrar de suas amarras ou desta casa a
menos que eu permitisse.

— Pare.

Falei com uma autoridade calma e Miri congelou no lugar. Ela


estava tão chateada que eu podia ver o branco dos seus olhos quando eles
rolaram em minha direção. Suas pupilas estavam dilatadas, então eu
soube que ela tinha recentemente recebido uma dose.

— Você.

Eu mal podia ouvi-la, sua voz era tão crua.

— Eu estou tirando as algemas. Fique quieta.

Abri a segunda algema e abri cada uma.

No minuto em que os pulsos de Miri estavam livres ela se afastou, se


ajoelhou na cama, e me deu um tapa na cara. Forte. Ela levantou a outra
mão para fazer o mesmo e eu a segurei no ar. Com o braço livre ela tentou
me bater de novo, peguei aquele também e os prendi nas suas laterais.

— Eu pensaria duas vezes antes de fazer isso de novo se eu fosse


você.

Absolutamente frustrado, a cabeça martelando de dor, e agora


extremamente chateado por conta desse dia de merda, eu a encarei.
Mesmo com pouca luz existente no quarto, eu não tinha dúvida de que
Miri podia ver minha expressão furiosa. Ela não dava à mínima ou tinha
algum tipo de desejo de morte.
— Foda-se – ela respondeu asperamente.

Assim como sua raiva era surpreendentemente sexy, eu tive mais do


que suficiente de desrespeito descarado saindo de sua boca imunda. Um
rosnado rasgou meu peito. Com os pulsos de Miri em minhas mãos, eu
impeli meu corpo para frente, empurrando-a para trás, usando o meu peso
para segurá-la na cama. Eu apertei suas pernas entre as minhas fortes
coxas. Não daria lhe chance de me acertar um pontapé nas minhas bolas.
Se isso acontecesse, eu não tinha certeza que eu conseguiria me impedir
de fazer algo com essa garota mal-humorada que eu poderia acabar
lamentando.

Apesar da futilidade disso, Miri se contorceu debaixo de mim,


gritando e xingando, sua voz um sussurro suave, mas claramente
enfurecida. Esperei com paciência em cima de Miri, segurando-a firme até
ela cansar. Sim, o caminho mais fácil para calá-la seria devolvendo o tapa.
Foda-se, o tapa que me deu foi forte o suficiente para colocar o gosto
metálico de sangue na minha língua. Qualquer outra pessoa teria a sua
garganta cortada ou uma bala na cabeça por isso. Mas era além até
mesmo do meu nível de crueldade bater em alguém tão pequena e fraca, e
eu simplesmente não estava no humor para tomar sua vida hoje. Esse
simples pensamento quase parou meu coração. Eu balancei a cabeça e
foquei em Miri.

— A birra acabou?

Miri não disse nada. Seu peito arfava enquanto ela segurava a
respiração. A cabeça de Miri virada para o lado, certamente para evitar
contato visual comigo. Levantei-me e estendi a mão para ajudá-la a se
levantar. Quando ela ignorou minha gentileza, eu revirei os olhos para
esconder o calor que disparou na minha virilha. Com um sorriso mau, eu
a agarrei pela cintura e joguei por cima do ombro. Ela imediatamente se
agarrou às minhas costas e eu ouvi pontos romper o e tecido rasgar.

Outro terno tudo fodido e amarrotado.

— Eu estou começando a pensar que você gosta de estar nesta


posição, boneca.

— Foda-se.

Ela deu um golpe fraco no meu traseiro antes de desistir. Parecia


que eu tinha realmente conseguido drenar a luta dela. Ao mesmo tempo
em que eu estava feliz a minha cabeça latejava e eu estava mais do que
farto, a intensidade do fogo de Miri me perturbou. Eu gostava daquele lado
dela, a garota apaixonada e tenaz abaixo da bela, pálida e quebrada
superfície.

— Você fala muito isso, boneca. É um convite?

Eu sabia que ela não queria transar comigo, mas eu não esperava o
súbito silêncio ou o tremor que percorreu seu corpo. Hmmm.

— Isso é um sim?

Sua resposta foi instantânea.

— Não.

Eu ri de sua petulância e abri a porta para o meu quarto. Em duas


passadas, eu atravessei o quarto e a atirei no meio da minha cama king-
size. Eu me forcei a não pensar em como eu teria que queimar os lençóis
se ela sangrasse e foquei no momento. Miri ficou de joelhos, enquanto eu
tranquei a porta e guardei a chave no meu bolso. Seus olhos corriam de
mim para a porta.

— Traçando sua fuga?

Sem pressa, eu afrouxei a gravata e a puxei, a seda deslizando por


meu colarinho. Então eu retirei minha jaqueta e a descartei no cesto. A
gravata foi junto. Entrei no closet e retirei os sapatos e nas pontas do pé os
guardei em seu devido lugar. Quando sai, Miri ainda estava congelada no
colchão.

Fui até a cama e sentei, esperando ela olhar para mim. Teimosa
como era, ela levou vários minutos antes de se virar. Uma vez que ela o fez,
eu falei.

— Agora, nós vamos conversar.

Miri
Presa. Movida de uma prisão para outra. Eu estava presa neste
quarto, nesta cama, com um homem que provou ser capaz de me dominar
facilmente como um tigre lutando contra um gatinho. A raiva irradiava
dele em ondas enquanto ele reclinava contra a cabeceira da cama, as
pernas cruzadas nos tornozelos, escondendo sua fúria agindo como se
manter uma mulher refém fosse uma ocorrência normal diária. Engoli em
seco e olhei para seu rosto irritantemente bonito e vi uma marca de mão
vermelha brilhante em seu rosto. As drogas realmente me induziram a
fazer algo verdadeiramente estúpido, embora não estivesse certa em culpar
apenas a heroína por minha raiva. Eu vacilei, percebendo que era mais
seguro estar acorrentada à cama no outro quarto do que aqui com Boss
após bater nele. Meu pulso disparou com o pensamento.

Merda.

Quem sabe desculpar-me poderia diminuir qualquer punição que eu


estava prestes a receber.

— E-eu não queria bater em você. Eu sinto muito.

Boss colocou uma mão em sua bochecha, as pontas de seus dedos


raspando sobre os pequenos pelos de barba.

— Entendo. Você está arrependida.

Seus brilhantes olhos estreitaram.

— Pena que eu não acredito em uma palavra.

Meu coração pulou uma batida e medo deslizou por minha espinha.
Meu estômago se contorceu em uma forma familiar, as drogas no meu
corpo mantendo-o em um estado constante de desconforto.

— Você pretendia me bater. Você queria me bater.

Em um flash, Boss torceu o tronco e agarrou meu rosto com uma


das mãos, apertando minhas bochechas com força suficiente para me
impedir sequer pensar em tentar me livrar.

— Eu lhe dei uma dose. Uma, Miri. Você estava apavorada. Você
tinha sido acorrentada a uma cama. Entendi.

Ele se aproximou mais, nossos narizes quase se tocando. Meu rosto


doía com a pressão de seus dedos cavando em minha carne, no entanto,
apesar da dor eu não poderia deixar de notar as manchas brilhantes
turquesa dentro dessas profundas íris azuis.

— Faça mais uma vez, e não duvide quando digo, boneca. Você vai
se arrepender do dia que entrou aqui.

Boss soltou meu queixo e eu me afastei, vergonha escaldando meu


rosto e pescoço, enquanto um intenso terror embrulhava meu estômago.
Já era ruim o suficiente ser humilhada e algemada a uma cama por seus
homens, mas saber que eu não poderia fazer nada para escapar, ou mais
precisamente, se eu conseguisse escapar, eu não tinha para onde ir e Boss
provavelmente me mataria. Bem, ter conhecimento desse fato foi pior do
que qualquer coisa que tinha sido feita comigo desde que eu,
estupidamente, invadi sua propriedade.

— Estou feliz que você entende — disse ele, como se eu tivesse


concordado em algum acordo secreto.

— Eu espero que você se comporte a partir de agora. Ponto. Eu não


gosto de bagunça e eu realmente não gosto de ter minhas coisas
quebradas.

Olhei para vê-lo reclinado na cama, com as mãos enfiadas atrás da


cabeça.

— Eu estou pensando que você vai gastar todo o seu tempo


acorrentada à cama, se esse comportamento continuar.

Eu senti o sangue fugir do meu rosto. Náusea ameaçou sublevar


meu estômago.

— E-eu não posso... Quer dizer, eu não quero ficar no meu quarto o
tempo inteiro.

Boss sentou e inclinou a cabeça para um lado.

— O que foi isso?

Minhas mãos estavam escorregadias e pegajosas.

— E-eu não gosto de estar confinada. É... Isso me assusta.

Eu fechei os olhos e pensei em todas às vezes que minha mãe me


manteve trancada no armário por horas a fio sempre que eu a irritava, que
era o tempo todo. O isolamento era pior do que os espancamentos.
— Por que eu lhe permitiria vaguear livre na minha casa depois de
ter destruído meu quarto de hóspedes? Depois de me bater?

Ele se aproximou, sua fronte franzida. Olhei para seu rosto, incapaz
de compreender como alguém tão absolutamente aterrorizante podia ser
tão bonito a ponto de doer olhar para ele. Boss parecia estar pensando
sobre o meu pedido, então eu fiquei quieta.

— Se eu não trancá-la em seu quarto, você se comportaria?

Eu pisquei surpresa.

— Sim. Eu iria. Eu prometo.

— Há homens em minha casa e por toda a área em todos os


momentos, assim como câmeras. Você não será capaz de escapar, se é isso
que você está pensando.

Mais uma vez, eu desviei o olhar. Desta vez, eu apenas dei de


ombros.

— Não importa. Eu não tenho outro lugar para ir.

Meus olhos embaçaram e minha garganta apertou. Eu podia sentir o


peso do olhar de Boss, enquanto o pesado silêncio prolongou-se pelo que
parecia ser para sempre.

Ele deixou escapar um longo suspiro, sua expressão irritada embora


seus olhos de safira brilhassem algo mais... Quente.

— Jesus Cristo. Porra. Tudo bem. Vou dar-lhe carta branca na casa.
Você pode fazer o que quiser, dentro da razão. Dormir, ler – eu tenho uma
grande biblioteca no andar de baixo – ou caminhar pelos jardins.

Boss inclinou-se e entrou no meu espaço pessoal. Ele estava tão


perto que eu não me contive. Eu respirei fundo pelo nariz, sentindo prazer
na colônia rica que ele usava combinado com o sabão luxuoso e seu cheiro
próprio.

Meu corpo vibrava com a tensão. O modo como ele olhou para mim,
carnal, faminto, eu me perguntava se Boss estava finalmente pronto para
exigir o pagamento em troca de sua hospitalidade. Ele me tinha em seu
quarto, na sua cama, e já provou que poderia me subjugar com bastante
facilidade. Eu esperei por um sinal, por qualquer coisa indicando que era
hora do pagamento. O pensamento me fez lembrar quão dura a minha
realidade tinha sido ao longo dos últimos seis meses.

“Nada é de graça.”

Prendi a respiração, esperando. Em vez de retirar suas calças, um


dedo deslizou debaixo do meu queixo para levantar delicadamente minha
cabeça até que eu estava olhando para o rosto impressionante do homem
mais complicado que eu já conheci.

— Eu estou lhe dando um pequeno gosto de liberdade, mas não se


machuque, não crie confusão, e não bisbilhote.

A expressão de Boss endureceu.

— Não há nada no local para descobrir, eu não gosto de pessoas


bisbilhotando meu negócio. E eu desprezo desordem. Meus homens
estarão observando tudo. Não se engane, não haverá segunda chance. Sem
algemas. Sem quartos trancados.

O jeito que ele disse a última parte enviou um arrepio afiado através
do meu corpo frágil enquanto Boss me dava outro vislumbre do traficante
cruel por trás da fachada bonita.

— Eu não vou bisbilhotar.

Boss assentiu e soltou meu queixo. Ele me deu um último olhar


ardente antes de se levantar, parou ao lado de um alto mobiliário e tirou
algo do bolso antes de ir para o banheiro.

— Eu estou cansado e preciso de um banho. A chave está sobre a


cômoda. Você conhece a saída.

Ele fechou a porta do banheiro atrás de si, deixando-me


completamente perplexa. Um traficante que fazia acordos? Um traficante
gentil? Okay, certo. Eu iria descobrir qual desses era Boss.

Eu tremi, sem saber se por medo ou desejo.

Boss
— O que você está fazendo, Boss? Sério? Eu não faço ideia de onde
caralho está sua cabeça. Ela é apenas uma prostituta viciada e rejeitada
de Smith e você vai confiar nela em sua casa? Pelo menos quando você a
mantinha trancada ela não poderia foder sua merda ou ficar no caminho.

Com os braços cruzados e de costas para Milo, os músculos dos


meus ombros retesaram quando ele insensivelmente insultou Miri. Eu
rangia os dentes para controlar a raiva e continuei olhando pela janela da
cozinha a vista impressionante do meu quintal. Miri estava vagando sem
rumo em torno dos jardins bem cuidados, vestindo as roupas que um dos
meus homens comprou na semana passada. Quem foi à loja escolheu
bem. Hoje, Miri usava um belo e rodado vestido de algodão, o material
impresso com flores delicadas.

Apenas dez dias atrás Miri surgiu em minha propriedade, trazendo


vida com seu cabelo vermelho, olhos verdes, e atitude agressiva com ela.
Sim, ela era uma pessoa briguenta, e sim, às vezes ela me olhava como se
quisesse me matar. Entretanto houve momentos em que eu juro que ela
me olhou de forma diferente. De uma maneira que me fez pensar se ela me
achava atraente. Não agradável, não legal. Eu sabia que ela pensava que
eu era cruel, e não se engane, eu era. Mas, às vezes, eu sentia o peso de
seu olhar quando ela pensava que eu tinha despercebido. Miri me
desejava, apesar da merda que eu tinha dito e feito com ela desde sua
aparição. E eu? Quando ela estava irritada, gritando e lutando como uma
pequena tempestade de fogo, meu pau ficava duro como aço. Mas agora,
assistindo-a fazer coisas mundanas como passear no quintal, eu estava
hipnotizado.

Em dez dias curtos, Miri de alguma forma me fez sentir como se eu a


conhecesse há uma vida. Milo, no entanto, tornou-se um grave problema.
O homem, normalmente calado, reclamava sobre Miri a cada dia mais. Ele
recusou-se a entender por que eu insistia que ela ficasse. Seus
comentários cada vez mais rudes e afiados me tornavam mais e mais
irritado a cada minuto. Milo era da opinião que Miri deveria ser largada em
uma esquina qualquer, como se valesse tanto quanto um saco de lixo. Oh,
depois de transar com ela e repassá-la para cada cara no território, em
seguida, cortar sua garganta e assistir alegremente enquanto sangra até a
morte. Como eu poderia esquecer essa parte?

Para um cara como Milo – a maioria dos caras neste negócio – Miri
era lixo. Ela era descartável. Seu valor começava e terminava com o sexo.
Depois do que aconteceu com Rose, essa mentalidade me enfurecia ao
ponto de ferver de raiva. Levou quantidades extremas de autocontrole para
refrear o desejo de girar e atingir a garganta de meu tenente com meu
punho. Em vez de ceder à violência, falei em voz baixa, mas a ameaça
clara no meu tom.

— Eu não respondo a você, Milo. Eu já disse isso antes e você sabe


que eu não me importo de repetir.

Minha raiva crescente era principalmente pela falta de preocupação


de Milo. Mas eu não podia negar que parte também era por estar chateado
comigo mesmo por querer Miri de uma forma que eu não deveria. Quando
meu pênis pulsava com as fantasias de Miri deitada nua em minha cama,
eu balancei a cabeça e foquei no jardim. Assistir Miri perseguir uma
grande borboleta amarela voando em torno de várias flores roxas me fez
sorrir. Quando o inseto pousou em seu ombro nu, Miri abriu um enorme
sorriso. Meu coração balançou com a visão e meu maldito pau inchou,
endurecendo dentro da calça.

Miri ainda era muito magra, sua pele pálida e cheia de cicatrizes,
mas a mulher no meu quintal parecia mil vezes melhor do que a garota
suja e desesperada de uma semana e meia atrás. Milo grunhiu e com o
canto do meu olho, eu o vi olhar lascivamente com a visão no jardim.
Observando-o foder Miri com os olhos me enfureceu ao ponto de querer
arrancar os olhos de Milo de seu crânio com uma das minhas facas. Eu
mudei meu olhar de Miri para encarar meu tenente, que atualmente
estava caminhando sobre uma linha muito, muito fina.

— Quanto tempo ela vai ficar aqui?

Milo sibilou, seu rosto uma máscara de desprezo misturado com


luxúria.

Então ela é uma viciada de merda, mas ele, obviamente, queria enfiar
seu pau nela.

Uma carranca puxou as bordas da minha boca e meus molares


rangiam.

— Ela vai ficar aqui o tempo que eu disser.

Dois passos e eu invadi o espaço de Milo, nossos corpos em


confronto.
— Além disso, isso não é da sua maldita conta. Eu. Sou. O. Chefe. O
que eu digo acontece, sem perguntas. Se eu te disser que eu quero um
maldito harém de prostitutas viciadas vivendo em minha casa, comendo
minha comida, usando minhas drogas, e gastando meu dinheiro, você deve
perguntar quantas trazer. E não questionar se é uma boa ideia. Estou
ficando de saco cheio e aborrecido de ter essa conversa, e eu estou te
avisando, Milo, isso não deve se repetir novamente.

Os olhos escuros de Milo brilharam com raiva, mas ele reconhecia


seu lugar e recuou. Isso não me impediu de notar seu desgosto durante
meu show de poder sobre ele.

— Entendi, Boss.

Seu olhar passou de mim para o quintal e ele abertamente olhou


desejoso para Miri. Meus punhos doíam para esmagar seu rosto doente.
Milo precisava se afastar antes que eu fizesse algo cruel e irreversível com
o meu braço direito. Ele pode ser muito útil e muito bom no seu trabalho,
mas ninguém era insubstituível.

— Eu quero que você encontre Four e avalie a sua seção. Um ou dois


dos seus rapazes não cumpriram suas quotas. Espero um relatório em
menos de uma hora.

Milo entendia o código que usamos para discutir negócios. Devido os


possíveis bisbilhoteiros, cada comerciante era referido por seu número de
área, não um nome.

— Sim, Boss Man.

Com um acesso de raiva, Milo girou e saiu da sala.

Foda-se ele.

Seu constante lamento sobre Miri realmente me enfurecia ao ponto


de ser muito difícil controlar o homem violento dentro de mim. Mesmo
agora, eu flexionei meus braços sob a minha camisa, muito consciente das
tiras de couro que seguravam minhas lâminas.

Eu aprendi a arte de arremesso de faca quando era uma criança


entediada vivendo no gueto sem qualquer tipo de supervisão. Quando
adulto, eu simplesmente me sentia mais confortável com minhas lâminas
em mim todo o tempo. Mas puta merda. Ninguém me questiona. Nunca.
Nem mesmo Milo, que me acompanha desde o início, estava a salvo de
sofrer minha ira caso se atrevesse a me desafiar muitas vezes, e ele estava
muito próximo do limite. Aparentemente, lhe dei muita liberdade para
expressar sua opinião.

Isso iria parar imediatamente.

Afastei-me da janela e sorri enquanto Miri vagava pelo jardim


exuberante, arrastando os dedos sobre as diversas plantas e flores que
revestem a passagem de pedra. O sol brilhava atrás dela, iluminando seu
cabelo vermelho em uma aura de fogo sobre sua cabeça. Viciada ou não,
nada poderia esconder o fato de Miri ser linda. De tirar o fôlego.

O movimento na minha visão periférica me chamou a atenção e eu


segui um membro da minha equipe de segurança quando ele se aproximou
de Miri. Miri assustou-se quando ele apareceu no caminho. O imbecil saiu
de trás de um arbusto denso, com a intenção de assustá-la. A troca verbal
que se seguiu fez o guarda sorrir, já Miri estava de costas para mim, então
eu tinha que estudar sua linguagem corporal para decifrar sua reação.

Com o alinhamento da sua coluna vertebral, era imediatamente


aparente – Miri não queria esse idiota por perto. Ela deu um passo para
trás conforme o desconforto irradiava de seu corpo. Eu estava prestes a
sair quando a mão do guarda disparou e segurou Miri pelas raízes de seu
cabelo. Ele puxou com força, torcendo seu pescoço, e forçando-a a ficar de
joelhos no caminho de pedra.

Raiva atravessou minha pele. Como ele ousa colocar a maldita mão
na minha ardente, porém frágil boneca. Eu abri as portas francesas da
cozinha e corri pelo gramado verde exuberante. Sem a espessura do vidro
à prova de balas nos separando, eu era capaz de ouvir os gritos assustados
de Miri. O som lamentável me atingiu no coração. Eu aumentei minha
velocidade e minha visão aguçada por conta da explosão de adrenalina.

No momento em que cheguei ao caminho do jardim, o filho da puta


tinha Miri presa de bruços no chão, com a mão em torno de seu pequeno
pescoço. Seu vestido rodado foi empurrado para cima e sua calcinha
puxada para baixo, expondo suas nádegas pálidas enquanto o homem
usava a mão livre tentando abrir o cinto. Toda a raiva reprimida
direcionada a Milo tinha finalmente encontrado uma saída. Meu cérebro
funcionava com base no puro instinto primitivo, cada fragmento de
pensamento racional desapareceu com a visão de Miri deitada debaixo
deste idiota estuprador. Com um rugido, eu agarrei o homem e o empurrei
para longe da pequena mulher soluçando. Um movimento do meu pulso e
eu tinha uma lâmina na mão. Ele congelou quando eu a pressionei contra
sua garganta.

— Seu filho da puta!

Eu cuspi na cara dele. No início ele ficou em posição de luta, com os


punhos erguidos, mas quando percebeu quem eu era e sentiu o aço frio
contra sua pele, ele ficou totalmente branco. Os olhos do homem ficaram
tão grandes que parecia que iam saltar fora de sua cabeça. Enrolei minha
mão em torno de seu pescoço e o puxei até que estávamos nariz com nariz.

— Como você ousa tocar no que pertence a mim.

As mãos dele agarraram meus pulsos em uma tentativa de me


impedir de esmagar sua traqueia frágil. Com a outra mão, eu mantinha a
lâmina pressionada em sua têmpora. Sua pele pálida fantasmagórica virou
uma máscara profunda de vermelho à medida que o bastardo doente
lutava para puxar o oxigênio em seus pulmões. Ainda não. Eu não quero
que acabe tão rápido. Não, ele não merecia clemência pelo o que pretendia
fazer, então eu diminuí meu aperto tempo suficiente para o idiota sugar
uma respiração, apenas para prender novamente, continuando a tortura
como um gato brincando com um rato.

Sem morte rápida e fácil para você, violador de merda.

— E-eu não sabia, Boss — ele chiou, engasgou e tossiu sua


desculpa. Este filho da puta deve ser novo, porque eu nunca tinha o visto
antes.

E não o veria novamente depois de hoje.

Meus olhos chicotearam para Miri, que estava sentada no chão em


uma bola, cabeça inclinada para um lado, as lágrimas escorrendo pelo
rosto manchado. Seus olhos verdes estavam vermelhos e suas mãos
tremiam violentamente.

Porra. Eu não posso fazer isso aqui. Não na frente de Miri.

— Eu já volto, boneca.

Eu disse na voz mais calma que consegui vendo como eu queria


rasgar os braços deste puto e empurrá-los em seu rabo. Minha mão
esmagou a garganta do homem mais uma vez, então eu arrastei sua
bunda de volta para a casa. Guardei a faca e chamei meu novo chefe de
segurança.

Após uma conversa rápida, eu puxei o bastardo ofegante em pé


através da casa até a porta da frente enquanto ele gaguejava e tropeçava
por todo o caminho. Na entrada da casa, Frank estava preparado e
esperando com o carro ligado. Sarge, meu novo chefe de segurança, estava
ao lado de Frank com dois homens em seu outro lado.

Desgostoso, eu joguei o guarda para Sarge, que pegou o filho da


puta antes que ele caísse no chão.

— Segure-o.

Rosnei, mal reconhecendo minha própria voz. Cada um deles


agarrou um braço enquanto Sarge o segurou pela cintura.

— Maldito estuprador filho da puta.

— Eu juro, Boss. Eu não sabia que ela era sua!

Parecia que ele ia urinar nas calças de tão assustado.

Ele deveria estar.

— Eu não dou a mínima para quem ela é!

Eu rugi.

— Ninguém que trabalha para mim bate naqueles que são fracos e
inocentes, e muito menos os estupra. E na minha própria casa, filho da
puta! E ninguém rouba de mim. Toma o que não pertence a eles.

Minhas mãos tremiam de raiva.

Incapaz de esperar mais, eu puxei meu braço direito para trás, tanto
quanto podia e o lancei para frente, colocando toda a minha força nesse
movimento. O golpe atingiu o lado esquerdo de seu rosto. A dor atravessou
meus dedos, as ondas de choque subindo meu braço, mas eu não me
importava com isso nesse momento. Sede de vingança sobrepôs o
desconforto. A cabeça do guarda girou violentamente para o lado, o sangue
jorrando de seu nariz em um arco horrível. Dei um passo para trás e no
segundo seguinte, dei um gancho de esquerda no queixo, satisfeito com o
jeito que seu pescoço recuou e seu lábio arrebentou.
— Soltem-no.

Ao meu comando, os meus homens o soltaram e ele caiu no chão.


Eu estava sobre ele em um piscar de olhos, chutando-o mais e mais,
usando os calcanhares sobre os ossos que rangiam sob meus pés.

Peito arfante de fúria, eu coçava para usar minha KA-BAR4, mas


refreei o desejo, não querendo derramar sangue. Eu já estava coberto de
manchas vermelhas, e grande parte iria manchar a calçada
meticulosamente pavimentada. Virei para Sarge e apontei para o homem
instável, que agora estava em pé por causa dos dois homens que o
seguravam sob seus braços.

— Suma com este pedaço de merda da minha vista.

— Sim Boss.

— Espere.

Eles pararam ao meu comando e eu me aproximei do ex-guarda


espancado e ensanguentado.

— Você não merece tocar uma mulher como Miri.

Com isso, eu cuspi nele e me virei para sair. Foda-se. Retornei e


puxei a faca gigante escondida sob a perna da minha calça, e a enfiei em
sua barriga. Sangue jorrou dele e ele gritou de dor.

Enquanto o guarda sangrava, eu infligi a lei sobre meus


funcionários. Eu fiz uma varredura no rosto de cada homem conforme eu
falava para garantir que todos compreenderam.

— Miri é minha. Tomem conhecimento que o próximo a foder com a


minha propriedade vai ter seu pênis cortado e empurrado em sua garganta
para sufocar nele. Entendeu?

E eu estava inflexível sobre isso. Qualquer pessoa disposta a causar


dano àquela ruiva tempestuosa sofreria em minhas mãos.

Cada par de olhos, exceto aquele que tinha seu intestino perfurado,
focou em mim e eles responderam em um uníssono som.

— Sim, Boss.
Satisfeito de que não haveria mais incidentes, me virei e entrei na
casa, direto para o meu quarto para mudar minhas roupas salpicadas de
sangue.

Outro maldito terno arruinado. Isso estava se tornando um padrão


que eu não gostava. Nenhum pouco.
Boss

No andar de cima, no banheiro principal, eu esfreguei minhas mãos


até todo o nojento sangue do filho da puta fosse levado pelo ralo e minha
pele estar em carne viva. Meu coração batia forte enquanto a raiva chiava
em minhas veias, estalando e parecendo como gravetos em uma fogueira.
Eu queria matar aquele pedaço de merda de novo ali no quintal. Eu queria
voltar no tempo e apertar as mãos em volta do seu pescoço até a
cartilagem colapsar e a vida esvair para fora dele. Eu queria colocar minha
faca em sua garganta e ver a luz em seus olhos desaparecer enquanto ele
deixava este mundo mais uma vez. Eu estava tão furioso, minhas mãos
ainda doíam para bater em alguma coisa, e eu as flexionei sobre a pia.

Jesus Cristo. Controle-se.

Eu olhei meu reflexo no espelho e passei minhas mãos molhadas


pelo meu rosto, meus olhos escuros, quase pretos e através da rala barba
por fazer no rosto. Meu casaco, gravata e camisa estavam encharcados de
sangue, e havia respingos em minha garganta e rosto, o que me irritou pra
caralho mais uma vez. A visão não era certamente nada nova, mas era a
primeira vez que em vez de repulsa, eu estava completamente furioso com
as ofensivas manchas vermelhas. Minha pele se arrepiou e eu me senti
contaminado com o pensamento do sangue daquele idiota tocar em
qualquer parte da minha roupa ou em mim. Revoltado ao ponto de quase
engasgar, puxei minha camisa, quase rasgando as costuras em minha
pressa para tirá-la. Ainda agitado, eu empurrei para baixo minhas calças e
cuecas, pegando o pacote inteiro e despejando no cesto forrado de plástico.

Um dos meus malditos ternos favoritos – estúpido bastardo filho da


puta.

Eu queria gritar. Gritar até ficar rouco. Meu cérebro coçava para
recuperar o controle, organizar, limpar. E Miri... Porra. No meio do grande
banheiro, eu estava nu, com os olhos fechados e os punhos cerrados ao
meu lado, meu corpo inteiro cantarolando como um fio exposto a partir de
uma combinação de adrenalina, ansiedade, raiva e medo.

Medo do que?

Era demais para pensar enquanto estava manchado com sangue.


Liguei o chuveiro, tirei as facas gêmeas de suas bainhas, e soltei as tiras
de couro. Depois de retirar a bainha na panturrilha que segura minha KA-
BAR de sete polegadas, atualmente higienizada por Frank, eu pisei debaixo
do jato de água, muito impaciente para esperar a água aquecer. Estava
congelante no início, mas eu meticulosamente lavei cada pedaço do
desgosto que se agarrou a mim depois do que testemunhei no jardim. Uma
vez limpo e com meu nível de ansiedade diminuindo um pouco, um
pensamento aleatório quase me deixou de joelhos.

Eu estava com medo do sangue? Da desorganização? Da falta de


controle? Eu estava com medo do passado se repetindo? Ou eu estava com
medo, porque Miri estava envolvida? Medo de que ela ficaria machucada e
assustada, incapaz de se defender. Se eu não tivesse visto...

Não. Eu balancei a cabeça e enxaguei antes de desligar a torneira.


Esta situação era diferente, não como Rose. Desta vez, eu era Boss. Eu
tinha o poder para que a história não se repetisse.

Depois de fazer um trabalho meia-boca me secando, eu entrei no


meu closet e olhei para dezenas de ternos pendurados em fileiras perfeitas,
ordenados por cor. Meus dedos roçaram os tecidos finos e fiz uma careta
para as calças e casacos caros de lã, as camisas de botões perfeitamente
passadas em todas as tonalidades possíveis, e as fileiras de gravatas de
seda. Teria uma reunião importante em algumas horas, e foi por isso que
eu estava usando um terno em primeiro lugar. Vestir-se bem quando você
deseja ser percebido. Por isso que eu geralmente usava um, bem-feito,
terno customizado caro a cada dia. O poder era percepção.

Foda-se.

Em um movimento atípico, eu fui para longe dos ternos e peguei um


par de jeans desgastado e uma camisa desbotada.

Depois de me vestir, empurrei meus pés em botas gastas, amarrado


a minha bainha da panturrilha de volta. Mangas curtas significava não
usar lâminas de pulso, o que me deixou agitado. A tensão manteve meus
músculos retraídos enquanto eu descia as escadas para o escritório e
ligava para Milo, me servi um pequeno drinque, endireitando as linhas já
perfeitas de garrafas sem pensar.

— Boss.

O tom de Milo era afiado o suficiente para saber que ele ainda
estava chateado sobre antes, quando eu lhe disse para calar a boca sobre
Miri. Muito malditamente ruim. O trabalho de Milo era me dar o relatório
que pedi, e, em seguida, me acompanhar esta tarde para uma reunião com
um proprietário do clube que quer vender. A discoteca era o tipo perfeito
de negócios a ser usado para lavagem de dinheiro.

Se Milo teve seus frágeis sentimentos feridos, é a porra do problema


dele.

— Cancele a reunião, os planos mudaram.

Bebi o whisky e deixei a ardência viajar na minha garganta enquanto


os cubos de gelo chocavam contra os meus lábios.

— O que? Boss... Como nós podemos...

Com a última gota da minha muito limitada paciência esgotada, eu


bati o copo no bar e rugi:

— Maldição. Cancele a porra da reunião e diga que você vai entrar


em contato com eles para remarcar!

O silêncio do outro lado tinha me preparado para desencadear uma


torrente de ameaças no meu tenente. Para sorte de Milo, ele falou.

— Farei isso, Boss. Você precisa que eu volte para sua casa?

— Não – eu rebati – termine o trabalho que lhe pedi e me mande


uma mensagem quando ele estiver pronto. Vou pegar seu relatório mais
tarde.

Desliguei a chamada antes de esperar por uma resposta.

Foda-se Milo.

Completamente exasperado, eu empurrei minhas mãos no meu


cabelo molhado e puxei... Forte. Ser o chefe de um relativamente pequeno,
mas muito rentável negócio de heroína, é estressante, sem dúvida. Hoje,
porém, extrapolou os limites até do meu enorme nível de autocontrole.
Vendo Miri no chão, não mais de quarenta e cinco quilos e impotente
debaixo da força bruta de seu suposto estuprador, velhas feridas
reabriram. Minha alma foi profundamente cortada, cicatrizada. Velhas
feridas foram abertas e sangraram por dentro, a agonia invisível aos olhos,
mas muito real no meu coração. A falta de controle. Merda. Mais uma vez,
as minhas mãos coçavam para organizar. Criar ordem no meio do caos.

Porra. Não faça isso para si mesmo. Não vá por esse caminho.

Toda vez que eu revivia o passado, me torturava com cada erro meu
que levou à perda imensa que sofri e ao abismo enorme deixado para trás
quando minha irmã morreu, eu me tornei irracional e minhas tendências
obsessivas tornaram-se mais sérias. Para ser um chefe eficaz, é imperativo
manter a cabeça fria e manter isolamento e racionalidade. Corri meus
dedos pelo meu cabelo em uma tentativa de corrigir a bagunça que eu fiz.
Não totalmente satisfeito com a minha aparência, com meus olhos ainda
detidos para a fúria persistente, decidi jogar pelo foda-se. Pela primeira vez
eu não ia me preocupar. Meu cabelo era bom o suficiente para se
contentar. Respirei fundo e sai do escritório. A pesada porta assobiou
quando fechou atrás de mim.

Primeiro, eu precisava verificar Miri, por isso segui para o quintal


apenas para detectar uma pequena figura encolhida em uma bola no sofá
na sala de estar formal, fora da cozinha. Incapaz de resistir, aproveitando
o fato de pegá-la sem mais ninguém por perto, eu parei na porta e observei
a pequena ruiva, despercebido. Seus pés estavam escondidos sob o tecido
solto de seu vestido leve, ondas de cabelo cor de cobre em cascata sobre o
braço do sofá se destacando contra o tecido pálido.

Um pequeno fungar e um tremor nos pequenos ombros de Miri


agiram como um gancho, me recuperando até que eu me vi de pé ao lado
do sofá. Me agachei para minimizar a minha altura e parecer menos
ameaçador. Após a experiência traumatizante no jardim, eu não queria
adicionar mais estresse ao seu fardo. Deus, eu queria envolvê-la em meus
braços até que sua dor fosse embora. Mas eu não era conforto. Eu não
tinha paz. Eu era ódio, violência e guerra.

— Miri.

Chocantemente, Miri não vacilou ou pareceu surpresa com a minha


presença. Ela deve ter me ouvido entrar na sala. Miri não respondeu e
apesar das minhas dúvidas, eu estendi a mão para correr suavemente por
seus cachos ruivos brilhantes. Meus olhos se deslocaram para as sardas
em seu ombro nu e no último segundo eu passei meus dedos pela pele
cremosa. Miri recuou e eu puxei minha mão de volta.

— Ele se foi, Miri. Você está segura. Eu prometo.

Com o rosto enterrado sob todo aquele cabelo, Miri deu o menor dos
acenos, mas não teve outra reação. Por alguma razão, a sua atitude me
chateou mais uma vez. Ser ignorado por Miri me irritou mais do que eu
queria admitir. E, é claro, porque eu sou um feroz, bastardo sem coração,
eu recuei, não querendo me diminuir ao implorar por atenção, mesmo que
a mulher foi atacada. Se Miri não queria olhar para mim, ou me agradecer,
ou até mesmo porra reconhecer o fato de que eu puxei o idiota para fora
dela, que eu matei ele por ela, era seu direito, embora irracional para os
meus nervos.

Girei sobre os calcanhares, irritado comigo mesmo por deixar Miri


chegar a mim, por me preocupar quando ela não poderia se importar
menos com quem eu era ou o que fiz por ela. Era fácil esquecer que Miri
era uma viciada em heroína, uma ninguém, outra dos sujos que
inundavam a cidade, financiando minha operação com seu vício. Eu tinha
certeza de tudo o que eu era para ela era uma fonte para seu hábito. Não,
eu não era o cara mais legal e eu fiz algumas merdas para ela que ela
provavelmente não gostou, mas ela ainda poderia mostrar a porra de um
maldito agradecimento. Senti minhas entranhas endurecerem, voltando
rapidamente para o meu eu indiferente violento.

Foda-se ela.

Sai pela porta de trás e fiz meu caminho para a garagem,


murmurando obscenidades sob a minha respiração todo o caminho.
Droga. Eu tinha que me lembrar de estar desinteressado. Isso é um
negócio cruel e eu tinha que estar preparado para fazer o que fosse
necessário para permanecer no topo. De jeito nenhum, alguma viciada iria
ficar na minha cabeça e foder essa merda.

Agora eu parecia Milo. Merda. Eu realmente precisava de uma


distração.

Eu pisei dentro da garagem enorme e examinei meus bebês, todos os


vários carros e motos brilhando sob as luzes. Meus olhos pousaram no
meu favorito, o 1986 Suzuki RG500 Gamma, uma beleza, vermelho,
branco, e azul que adquiri no ano passado depois de uma guerra de preços
excruciante com o seu proprietário original. Passei meus dedos em toda a
extremidade traseira elegante, seguido onde o assento acolchoado
mergulhava no centro, e deslizei minha mão para trás por cima do tanque
de combustível para o volante.

Exatamente o que o médico receitou. Uma distração. Eu peguei um


pano e um líquido de limpeza e comecei a trabalhar.

Miri

Quando Boss saiu da sala, eu soltei a respiração que eu estava


segurando. Era claro que ele não sabia que eu o observei e seus homens
da grande janela na sala de estar. Escondida atrás de uma cortina pesada,
eu vi quando ele brutalmente bateu no meu pretenso estuprador à vista na
entrada da frente. Boss certamente não sabia quando ele gritou tão alto,
eu o ouvi me declarar como sua “propriedade”, uma palavra que me
causou repulsa e me emocionou ao mesmo tempo.

O ataque no jardim foi horrível e abriu meus olhos para o quão


vulnerável eu estava aqui. Uma coisa era a troca de atos sexuais por
favores, como drogas, caronas ou dinheiro. Quando é a minha escolha
para aceitar ou recusar. Era uma coisa totalmente diferente ser
pressionada e levada contra a minha vontade, algo que eu tinha tido a
sorte de ter escapado até agora. Após Boss dispensar várias ofertas de
favores sexuais de mim, nunca me passou pela cabeça que algum
empregado de Boss poderia ou iria recorrer ao estupro.

Boss me salvou. Eu sabia. Se ele não tivesse aparecido, eu estava


certa que o homem com os olhos castanhos psicóticos e inacreditável
força, teria tomado o que queria e me deixado deitada quebrada no
caminho de pedra plana, provavelmente coberta de sangue e hematomas
depois que ele tivesse me dado uma surra completa, depois que ele
terminasse de usar meu corpo.

Logo que perdi a esperança, conformada com meu destino, ele


apareceu, como um super-herói ou cavaleiro medieval. Boss despachou o
homem rápido e eficientemente, entregando-o para seus homens para lidar
com ele. No último minuto, Boss pareceu mudar de ideia. Ele se virou e,
eu o assisti matar o cara na sua garagem. A cena não me chateou como
deveria. Não. Eu estava tão doente e distorcida como Boss, porque eu
estava lisonjeada que o homem poderoso matou por mim. Usou suas
próprias mãos para tirar a vida de meu atacante.

Deveria ter me incomodado que um homem ia morrer, porque ele se


atreveu a colocar as mãos sobre mim. Deveria ter me dado náuseas e me
deixado assustada. O olhar feroz nos olhos de Boss enquanto sua mão
apertava a garganta do cara deveria ter me assustado. No entanto, eu não
senti nada disso. Depois de seis meses com Mason, metade passada nas
ruas, quando ele não estava por perto, eu estava doente e cansada de
homens que queriam a mesma coisa. Isso sempre voltava para o sexo.
Sempre. Mesmo antes de Cat deixar sua casa, ela foi vítima de repetidas
agressões sexuais indesejadas por seu padrasto.

Toquei meu ombro, a pele ainda formigando das pontas dos dedos
dele, e repetindo as palavras de Boss na minha cabeça.

— Você não merece tocar uma mulher como Miri.

— Miri é minha.

A lembrança, o poder absoluto e autoridade na voz de Boss


enquanto ele alertava seus homens à distância, e o olhar lindo ainda que
enfurecido em seu rosto, o sangue escorrendo por seu braço e toda a
manga de seu terno, me fez estremecer de prazer. Quanto mais eu
aprendia sobre Boss, mais eu queria saber. Ele era um enigma completo.
Que tipo de traficante pegava uma viciada em heroína, dava-lhe drogas,
trancava ela, em seguida, comprava roupas, protegia de uma agressão
sexual, e não esperava nada em troca? Exceto... As palavras de Nicky me
bateram forte novamente.

— Não há nada de graça neste jogo.

Apesar do comportamento decente na maior parte de Boss, até


agora, – se eu não contar os primeiros dias, quando ele foi um total idiota,
oh, e o assassinato que ele cometeu – eu sabia que Nicky estava certo.
Eventualmente, Boss iria esperar o pagamento. Mas o que ele procurava?
Limpei a testa suada com uma mão pegajosa, um efeito colateral da
heroína.

— Miri é minha.
Era intenção de Boss me manter aqui como uma escrava? Ele estava
esperando eu ficar limpa e não parecer um desperdício, com cicatrizes,
viciada em drogas antes de fazer seus desejos conhecidos? Talvez ele não
me ache atraente e foi por isso que ele não tinha me pressionado para o
sexo ainda?

Minha cabeça latejava e meus nervos estavam desgastados. Era


somente o final da tarde, mas eu não conseguia mais pensar hoje. Rolei
para os meus pés e marchei até a escadaria elegante para o quarto
designado como o meu por enquanto. Sem dar os acontecimentos de hoje
qualquer outro pensamento, eu caí no colchão macio e estava dormindo
dentro de segundos.

Acordei com uma estranha sensação, como espinhos na parte de


trás do meu pescoço.

Alguém estava me observando.

Meu pulso vibrava e eu engoli minha coragem. Eu me embaralhei em


uma posição sentada e me virei para a porta do quarto. Estava vazio. De
fato, a porta ainda estava fechada. Exatamente como eu deixei ontem
depois de ouvir Boss dizer a todos que eu era sua propriedade. Eu ainda
não sabia como me sentia sobre isso. Parte de mim estava repugnada por
ser tratada como uma peça de mobiliário, mas uma parte estava
emocionada que um dominante, homem sexy como Boss colocou uma
reivindicação tão primitiva em mim. Eu provavelmente deveria me
consultar em um hospital psiquiátrico por me preocupar com Boss e sua
afirmação em vez de me preocupar de ter assistido um homem ser
assassinado ontem.

Cansada apesar de ter dormindo bastante, eu esfreguei os olhos e


deslizei para fora da cama macia. Parte das cortinas deixava entrar uma
lasca de luz cinza pálida. Quando eu empurrei o tecido pesado para um
lado, engasguei com a beleza da vista. Um lago se estendia tanto quanto
eu podia ver ao leste do céu escuro. Luzes cor de rosa e dourada se
espreitavam no horizonte e brilhavam através da água enquanto o sol
nascia atrás da casa.

Quanto tempo tem desde que eu apreciei algo tão simples como um
nascer do sol?
Tanto tempo que eu não conseguia lembrar a última vez que eu
assisti. Talvez eu nunca tivesse visto um nascer do sol. Eu não podia ter
certeza. Animada com alguma coisa pela primeira vez em meses, eu vesti
leggings, uma camiseta solta, e enfiei os pés em um novo par de sandálias,
tudo cortesia de Boss. Quando cheguei à porta do quarto, meus passos
vacilaram. Ela estava aberta. Não muito. Na verdade, era quase
imperceptível. A abertura era apenas grande o suficiente para saber que
alguém tinha me observando, porque eu sabia que, sem dúvida, fechei a
porta totalmente quando fui para a cama.

Devo ficar no meu quarto? Devo dizer ao Boss? Devo sair e fugir?

Eu não tinha ideia do que fazer. Tudo o que eu sabia que era certo
naquele segundo, era que eu estava determinada a ver o nascer do sol.
Teimosa o suficiente para ignorar meus instintos, eu levantei meu queixo,
para colocar minha melhor expressão de “eu não tenho medo de você” e sai
para o corredor, grata por encontrá-lo vazio.

— Jesus.

Eu exalei uma respiração instável.

Talvez eu esteja imaginando coisas?

A heroína faz isso com você, te faz paranoico e até mesmo causa
alucinações, às vezes. No entanto, eu tinha que admitir, a força para obter
a minha recuperação não tinha sido tão forte recentemente. Sim, eu ainda
estava sentando na cadeira de madeira dura duas vezes por dia, enquanto
Boss ou um de seus homens silenciosamente me aplicava uma dose, mas
a intensidade dos meus desejos tinha diminuído significativamente. Dei de
ombros para fora do pensamento. Eu provavelmente não ansiava H como
eu costumava fazer, porque eu estava tomando regularmente, o que
significava que eu nunca entrava em abstinência. E era branca como a
neve, então eu tinha certeza que não era apenas qualquer H vencida – a de
Boss era realmente um bom material, puro.

Arrastei-me para o andar de baixo e fui para o quintal. Um olhar e


minha respiração engatou no meu peito. A beleza do terreno atrás da casa
nunca deixava de me surpreender. Traficante ou não, o jardim do Boss era
como o céu na terra. Teci meus dedos entre os arbustos e flores, guiadas
pela escuridão desaparecendo e pela brecha da luz do sol no horizonte.
Passei tanto tempo aqui que eu sabia cada perfume enquanto
passava por várias flores – a doçura suave dos arbustos de borboletas, o
cheiro forte de oleandro 3 , a enjoativa madressilva, e as gardênias
perfumadas. No momento em que cheguei ao gazebo na parte de trás do
jardim, eu estava relaxada e em paz, os aromas familiares enrolando em
torno de mim como um cobertor quente. Tirei as sandálias e me sentei em
um balanço, a madeira caiada em bom estado. Poderia ter se passado
cinco ou trinta minutos. Perdi a noção do tempo enquanto o brilho
alaranjado no horizonte jogou um arco-íris de cores no céu.

— Bom dia.

A voz profunda me assustou, mas eu consegui manter uma fachada


calma, enquanto o meu coração batia em um ritmo acelerado.

— Boss.

Eu respondi, dando-lhe um aceno cortês antes de voltar meu foco


para as listras brilhantes que irradiavam para fora de onde a terra
encontrava o céu. Eu poderia ter parecido composta, mas por dentro,
meus nervos estavam torcendo nós em minha barriga.

É agora que ele pede o seu pagamento?

Não sabendo o que Boss queria de mim ou quando ele me exigiria


me deixava nervosa sempre que esse homem bonito estava por perto.

— Você se importa se eu a acompanhar, boneca?

Seu sotaque era pronunciado enquanto ele apontava para o balanço.

Olhei para ele um segundo muito longo antes de responder e sem


querer deixar minha ansiedade aparecer.

— Nem um pouco.

Quando Boss se abaixou para o banco, eu me arrastei para o canto


mais distante do banco para colocar distância entre nós, minha espinha
pressionada contra o braço rígido do balanço, meus braços em volta dos
meus joelhos.

Sem tirar os olhos do nascer do sol, Boss falou.

3
É um arbusto ornamental grande, extremamente tóxico.
— Eu acho bonito, você não acha?

— Sim, é.

Sentamos em silêncio, enquanto o sol se levantava no horizonte,


transformando o amanhecer na luz do dia. A forte presença de Boss
capturou toda a minha atenção, o nascer do sol há muito esquecido. Cada
movimento que ele fazia, não importa quão pequeno, fazia meu corpo
reagir com uma explosão de hormônios que me sacudiu como mini
choques elétricos em meu sistema. Meu coração já estava batendo no meu
peito apenas pela sua proximidade; as minúsculas correntes de atração só
fizeram a sensação mais intensa.

Mesmo se você não soubesse quem era Boss ou o que ele fazia, ele
não era o tipo de homem que as pessoas ignoravam. Ele era maior que a
vida, confiante, atraente, e irradiava força masculina e poder. Sua
presença em silêncio insistia que você o notasse. Mas continuamente
antecipar a sua eventual demanda por sexo me despedaçava por dentro.
Era como viver com um machado sobre a minha cabeça, cada momento
gasto esperando por ele cair. Se eu aprendi uma coisa, uma vez que vivi
nas ruas, era apenas aguentar firme e enfrentar com a cabeça erguida.

— Miri é minha.

— Ninguém toca em minha propriedade.

Encorajada pelas palavras que Boss usou ontem junto com suas
ações dramáticas, e desesperada para acabar com isso, eu deslizei pelo
assento até minha coxa pressionar contra a dele. Boss não reagiu. Não
mudou sua atenção do céu. Não se virou para olhar para mim. No entanto,
seu desejo era palpável. Boss não conseguiu esconder a contração de seus
músculos da perna ou a respiração presa. Chefe ou não, ele ainda era
apenas um homem, e mais importante, ele não disse não ou me afastou.

Um pouco mais confiante, joguei uma perna sobre seu colo e montei
nele, descansando um joelho de cada lado de seus quadris. Boss não se
mexeu para pegar minha cintura ou colocar suas mãos sobre mim. Foi só
quando meu rosto estava em frente dele e ele foi forçado a encontrar o meu
olhar que eu me encontrei presa pelos olhos mais impressionantes que eu
já vi. De perto, pude ver um azul tão profundo que me lembrava dos mares
azuis das Ilhas Gregas. Apesar de estar sentada em seu colo, a expressão
de Boss não se alterou.
Hesitante, eu levantei a mão e passei meus dedos sobre os pelos
macios e curtos no seu rosto, arrastando-os para seus lábios cheios.
Novamente, Boss não fez nada. Não revelou nada. Baixei a cabeça,
permitindo-lhe tempo de sobra para me parar antes de nossas bocas se
encontraram, mas não o fez. Senti o calor de sua respiração enquanto
meus lábios tocaram nos dele.

Beijei-o enquanto Boss estava sentado imóvel debaixo de mim.


Confusa, passei minha língua em seu lábio inferior para incentivar a
participação e gemi com o gosto requintado de sua boca. Mais uma vez,
não houve resposta. Eu me afastei e o olhei.

Boss levantou uma sobrancelha escura.

— Você já terminou?

Suas palavras eram pesadas com sarcasmo.

Eu vacilei como se ele tivesse me dado um tapa no rosto. Minhas


bochechas queimaram em humilhação da fria rejeição. Deslizei de seu
colo, precisando urgentemente ir o mais longe possível. Ele não sentia o
mesmo. Boss agarrou meu braço antes que eu pudesse sair, prendendo-
me ao lado dele. Deixei cair o meu olhar e esperei enquanto a vergonha me
invadia, um quente rubor encobrindo minha pele, explodindo em chamas.
Talvez fosse queimar quente o suficiente para me transformar em cinzas,
então eu não teria que enfrentá-lo novamente.

— Encontre-me na cozinha.

Com isso, Boss soltou meu braço. Essas foram as únicas palavras
que ele disse, ditas em uma voz baixa e completamente infetada, o sotaque
lúdico do Texas desaparecido. Mortificada, eu virei e corri, deixando
minhas sandálias para trás e segurando as lágrimas.

Por que eu ainda me importo se ele me quer ou não? Isso é uma coisa
boa, certo?

Eu não deveria querer ser uma prostituta, trocando sexo por drogas
e um lugar para ficar. Boss recusando meus avanços deveria me deixar em
êxtase, mas enquanto eu fazia o meu caminho através do jardim eu não
senti nada, além da picada quente de rejeição. Eu fui mais baixa que uma
drogada, menor do que uma prostituta. Não só eu era ambas as coisas, eu
estava aparentemente tão contaminada que Boss nem sequer me tocou.
Repugnante, repulsiva, inútil patética... Palavras da minha mãe
voltaram com força total, como se fosse ontem que ela estivesse lançando
insultos ao mesmo tempo que jogava qualquer coisa que ela pudesse ter
nas mãos. Pratos, eletrodomésticos, móveis... se pudesse ser levantado, ela
me batia com isso. Uma vez, ela até rachou uma costela minha quando
quebrou uma cadeira em minhas costas.

Eu não parei de correr até que eu estava lá em cima no meu quarto.


Ha! Meu quarto. O que isso significava? Eu não possuo uma única maldita
coisa neste mundo.

No banheiro anexo, joguei água fria no meu rosto até que eu estava
certa de que não iria chorar. Chorar mostrava fraqueza e eu não era fraca.
Eu nunca dei a cadela da minha mãe a satisfação de me quebrar; eu não
daria a um homem que mal conhecia. E daí? Ele não queria me foder.
Viver aqui, com um dos homens mais perigosos da cidade, ainda era o
mais seguro que eu senti em um longo tempo.

Agora, eu só tinha que enfrentar Boss e lhe mostrar que seu fora não
me afetou. Com as mãos tremendo, eu desci para a cozinha para a minha
dose impessoal de heroína.

Boss

A moeda girou metodicamente sobre os nós dos dedos, esquerda


para a direita, direita para a esquerda, minha concentração estava uma
merda, ouvia brincadeira indo e voltando entre Milo e Shade quando nos
sentamos no escritório do armazém. Agora, eu deveria estar prestando
atenção aos detalhes sobre a chegada da próxima remessa. Infelizmente, a
minha mente continuava vagando, de volta para a manhã no gazebo com
Miri duas semanas atrás, quando eu agi como um completo idiota.

Miri não tinha ideia de como era difícil fingir que ela não me afetava,
que tê-la sentada no meu pau, pressionando aqueles lábios de rubi
vermelho ao meu, me deixava louco de desejo. Foi quase impossível não a
jogar para baixo e foder sua doce boceta ali mesmo no chão de madeira do
gazebo. Não havia razão para não aceitar o que Miri ofereceu. Não era
como se ela não soubesse exatamente o que estava fazendo, me montando
e esfregando meu pau, especialmente após desmamar Miri de heroína sem
o seu conhecimento, dando-lhe doses cada vez menores a cada dia. Sim,
sua mente provavelmente estava bastante clara quando ela montou
minhas pernas e tentou me convencer a fodê-la.

Mas eu não fodia mulheres em troca de drogas ou dinheiro. Eu


certamente não viciava mulheres em H apenas para tirar proveito delas.
Eu poderia não ser a única pessoa que viciou Miri em heroína, mas
enquanto ela estava recebendo drogas de mim, ela estava fora dos limites.
Claro que, com a taxa que eu estava administrando sua dose, ela estaria
fora dessa merda venenosa em uma ou duas semanas. Miri nem sequer
suspeitou que eu estava fazendo isso. A queda na dosagem foi tão gradual
que ela não iria notar qualquer sinal de abstinência. Era para seu próprio
bem. Miri não merecia a vida de merda que ela foi puxada por aquele
maldito idiota, Mason Smith.

— Boss? Tudo bem com você? Posso definir tudo para a reunião,
comida, mulheres, as obras.

Agarrei a moeda, olhei para cima e vi Milo e Shade, seus olhos fixos
nos meus, ambos à espera de algum tipo de resposta. Porra. Eu precisava
colocar minha cabeça no jogo e parar com a obsessão por Miri.

Suspirei e cocei a nuca.

— Diga-me novamente.

Os homens trocaram olhares preocupados, e começaram do início.

No segundo em que Frank parou o carro em frente da casa, fui direto


para cima trocar de roupa. Trocando o terno de grife e a gravata por jeans
escuros, uma camiseta, minha jaqueta de couro, e minhas velhas botas de
combate. As mangas da camisa eram curtas, então me livrei das bainhas
de pulso, mas mantive o KA-BAR na minha panturrilha. Minutos depois,
voltei para baixo para atravessar a cozinha no meu caminho para a
garagem. Ao passar pela biblioteca, vi Miri pelo canto do olho e parei,
inexplicavelmente atraído para a menina. Quando eu percebi que ela
estava dormindo, entrei, incapaz de resistir a uma boa e longa olhada para
a ruiva, quando ela não podia fugir ou esconder o rosto.

Ou me escalar como uma árvore e me tentar a agarrar essa bunda


deliciosa, empurrando meu pau profundamente dentro da sua vagina até
que ela gritasse meu nome.
Miri estava enrolada em uma das espreguiçadeiras macias, vestida
com roupas folgadas e confortáveis, os cabelos cor fogo jogados em cima de
sua cabeça. Seus olhos estavam fechados e o livro que estava lendo foi
colocado sobre o peito virado para baixo.

Eu sorri, absorvendo a doce imagem e queimando-a em minha


memória. Eu sabia que não deveria, mas era incapaz de me controlar, o
que me deixava puto a seu respeito. O cheiro empoeirado de livros velhos
encheu minhas narinas enquanto eu atravessava a sala. Rose teria
adorado aqui. A leitura era sua paixão, antes das drogas a terem levado.
Eu construí esta biblioteca só para ela.

Quando cheguei à espreguiçadeira, fiquei acima de uma Miri


adormecida e li o título do livro em seus braços. Orgulho e Preconceito.
Interessante escolha. Um livro sobre pessoas que se julgam mal quando se
encontram pela primeira vez apenas para descobrir mais tarde como foram
erradas as suas primeiras impressões.

Eu julguei mal você, boneca? Ou foi você quem me julgou mal?

Não havia respostas para as minhas perguntas. Examinei-a


novamente e sua beleza me fez parar, e inalei bruscamente. Miri parecia
tão doce, tão inocente, seus cílios loiro-avermelhados espalhados sobre a
pele, as bochechas pálidas e sardentas. Seus lábios gordos e rosados
estavam entreabertos, e seu peito subia e descia ritmicamente a cada
respiração, o livro se movendo com ele. Quanto mais tempo eu ficava ali,
mais eu percebia que depois de quatro semanas com ela em minha casa,
eu não sabia nada sobre essa garota. De onde ela era, o que tinha visto e
feito, porra, eu nem sabia seu sobrenome ou quantos anos ela tinha. Só
que ela era parte cabeça quente, parte anjo, e que meu pau estava
excitado por ambos.

Não era de admirar que Miri pensasse que eu a mantinha aqui para
usá-la como minha puta pessoal. Eu não tinha feito nada para fazê-la se
sentir como sendo um ser humano real com sentimentos. Dei um passo
atrás, de repente confuso e inseguro do que exatamente estava fazendo,
pegando Miri e limpando-a. Para lançá-la de volta nas ruas? Limpa sem ter
para onde ir? Eu não poderia mantê-la aqui para sempre, mas o
pensamento de não ver aqueles olhos verdes brilhantes todos os dias fazia
o meu peito doer.
Com uma perda, eu girei no meu calcanhar e fui direto para a
garagem. Eu desprezava a incerteza, especialmente de mim mesmo. Era
inútil e frustrante, assim como as emoções. Na garagem, não desperdicei
tempo e montei minha elegante Ducati Superbike vermelha, empurrei um
capacete preto brilhante na minha cabeça, e passei rasgando pela entrada,
indo para um lugar que eu não tinha estado em muito tempo. Milo iria
ficar puto que eu não tivesse levado ele e Frank para cuidarem da minha
segurança, mas eu não poderia me importar menos. Esta era uma viagem
que eu tinha que fazer sozinho.

Eu fui pelo caminho mais longo para me dar algum tempo para
limpar a cabeça e aproveitar a poderosa máquina rugindo debaixo de mim.
Quando cheguei ao meu destino, desliguei a moto e a apoiei no lugar. Eu
conhecia o caminho como a palma da minha mão e provavelmente poderia
fazê-lo com os olhos vendados. O ar estava imóvel enquanto eu andava
pelo gramado exuberante, passando entre árvores, flores e centenas de
lápides. O tempo estava quente e o céu sem nuvens, mas não havia
nenhuma outra pessoa à vista. No meio de uma fileira, eu parei ao lado de
uma familiar lápide de granito rosa e me agachei ao lado.

— Rose – sussurrei, limpando a sujeira longe das bordas de sua


lápide. – Faz um tempo.

Fiz uma pausa, fechando os olhos para lembrar da minha irmã em


tempos mais felizes, brilhando com a saúde da sua juventude, os dentes
brancos retos e brilhantes, longas ondas escuras em cascata pelas costas e
em torno de seu rosto.

— Eu sinto sua falta – minha respiração engatou enquanto eu me


lembrava do quanto falhei com a minha irmãzinha. — Eu sinto muito,
Rose. Eu penso em você todos os dias. Tudo o que faço, lidar com as
besteiras, a violência, é tudo para você.

Minha voz falhou e eu segurei um soluço, pressionando as mãos nas


têmporas como se pudesse aliviar a dor excruciante de perdê-la.

— Estou mudando, Rose. É lento, mas estou trabalhando nisso.


Eu... Eu estou ajudando uma menina. Ela... Ela me lembra você – um
pequeno sorriso ergueu o canto da minha boca. — Ela é linda e brilhante,
e tem a mesma chama acesa que você. Essa paixão pela vida. Sei que não
compensa o que aconteceu, mas... Talvez eu possa fazer a diferença de
alguma forma. Quero ser um homem melhor.
Eu corri um dedo pelo nome esculpido na pedra.

Axl Rose Bosman

— Amo você, irmã. Sempre.

Levantei e fui embora sem olhar para trás. O passado estava feito.
Eu só poderia mudar o futuro.

A Ducati rugiu entre minhas coxas enquanto eu acelerava.

Era hora de descobrir que porra o futuro me reserva.

Miri

Eu sabia que algo estava diferente antes de chegar ao hall de


entrada. Ruídos altos e estridentes me acordaram de um sono profundo,
embora já fosse tarde o suficiente e eu deveria ter acordado há horas atrás,
mas para que eu tinha que acordar? Heroína? Certamente, ninguém sentia
minha falta. Depois de tomar banho e colocar um short e um top, desci a
majestosa escadaria curvada.

Na metade do caminho, notei que a porta da frente estava bem


aberta enquanto vários homens vestidos com macacões brancos
carregavam grandes peças de equipamentos e recipientes de comida para
dentro de casa. Logo no lado de fora, avistei Milo observando o progresso,
sua habitual careta medonha colada no rosto perpetuamente puto.
Calafrios passaram em meus braços, causando arrepios. Milo me
desprezava. Eu poderia ser uma viciada, mas eu não era estúpida. Milo
provavelmente estava tão confuso com as ações de Boss quanto eu,
perguntando-se por que diabos ele me tinha morando aqui com ele.

Não querendo receber um dos olhares afiados e cortantes de Milo,


passei pela porta e fui à cozinha, onde encontrei o caos total. Meia dúzia
de homens com os mesmos uniformes brancos estavam montando o que
parecia ser equipamento de armazenamento suficiente para alimentar um
pequeno exército, enquanto três dos homens de Boss supervisionavam. Eu
não queria interromper ou fazer minha presença conhecida, então eu
decidi renunciar ao café da manhã e encontrar um lugar para ficar fora da
vista. Eu estava indo para a biblioteca quando Boss saiu de seu escritório,
um lugar tão importante, que tinha um teclado eletrônico e uma porta
elegante com uma sonda que a protegia.

— Miri – disse ele com um mergulho de seu queixo.

Olhei para a porta da frente, depois de volta para o homem


intimidador que se erguia sobre mim, baixei meus olhos para evitar o duro
olhar azul de Boss.

— O que está acontecendo?

— Boneca, estou aqui em cima – disse Boss, seu tom mais leve do
que o habitual. Oh, então estamos de volta ao amigável texano, não
estamos? Curiosa, eu encontrei seu olhar e para descobri-lo sorrindo.

— Eu não costumo entreter aqui em casa, mas um parceiro de


negócios de fora da cidade que está de visita insistiu. Eu estou dando um
jantar formal esta noite — ele não parecia muito feliz com o encontro, mas
manteve o que parecia ser um sorriso doloroso e forçado.

— Oh, ok. – Mordi o lábio e enfiei um dedo em meu cabelo, o


torcendo em torno. — Vou me certificar de ficar no meu quarto.

O rosto de Boss se abriu em um sorriso genuíno e ele falou em um


sotaque tão sexy que meu interior se apertou.

— Não, boneca, você me entendeu mal. Eu quero você comigo, ao


meu lado.

O sangue foi drenado do meu rosto.

— O que? Não!

O sorriso do Boss caiu e eu vi um flash de raiva nos azuis


profundos.

— Eu... Quero dizer... Eu não sou boa o suficiente para me sentar


com você. Eu sou apenas uma...

Minhas palavras sumiram quando eu vi seu rosto endurecer. Não


existia desafio a este homem. Boss sempre conseguia o que queria. Ele
provavelmente não tinha ouvido a palavra “não” em anos.

Todos os pretextos caíram.


— Você estará lá e será educada e encantadora. – Sua voz cortou o
ar como uma guilhotina e eu engoli o desejo de fugir. — Eu não pedi nem
exigi uma única coisa de você desde a sua chegada inesperada. Você
estará vestida e pronta às seis em ponto.

O desagrado de Boss com a minha recusa era óbvio. Com um último


brilho hostil, ele ficou satisfeito de que a sua palavra era lei e se virou para
sair.

— Eu vou estar pronta, mas...

Eu quase engasguei de medo quando Boss girou para me encarar


mais uma vez, a fúria em seus olhos e irritação na sua linguagem corporal
indicava que ele estava mais do que pronto para uma briga. Retrocedendo,
eu gaguejei.

— Eu... Não têm nada para vestir.

A expressão de Boss relaxou um pouco, mas sua postura


permaneceu hostil e defensiva. A linha de sua mandíbula estava dura,
afiada o suficiente para me cortar e espalhar a minha coragem por todo o
chão.

— Um vestido de coquetel foi colocado em seu armário, juntamente


com sapatos. Você deve encontrá-los facilmente.

Boss recuou, andando para trás para manter o olhar frio fixo em
mim.

— Às seis, Miri. Não me decepcione.

Quando ele finalmente se virou e saiu, eu exalei, ofegante de alívio.


Levou alguns momentos para apagar o medo profano que torcia meu
estômago em nó. Essa foi facilmente a interação mais terrível que eu tive
com Boss desde xingá-lo no chuveiro na primeira noite. Uma coisa era
certa, Boss não gostava de ser desafiado ou de receber um não. Idiota.

Voltei para a biblioteca e olhei o relógio. Meio-dia. Seis longas horas


para surtar enquanto esperava para ser apresentada como uma espécie de
caso de pena para colegas de trabalho de Boss, o que quer que diabos isso
significava. Ele ia me mostrar como uma espécie de experiência? Olha
como eu limpei essa prostituta viciada. Ou eu estava sendo vestida por
razões mais sórdidas? Entretenimento, talvez?
Afastei as lágrimas quentes com a mão trêmula, com raiva de mim
mesma por ficar chateada. Eu faria o que fosse preciso para sobreviver.
Boss não estava me dizendo para foder todo mundo na frente de uma
plateia. Ainda. Tudo o que ele queria era que me juntasse a ele em um
jantar. Eu poderia fazer isso. Eu tinha feito muito, muito pior por muito
menos.
Miri

O jantar foi mil vezes pior do que eu imaginava. Os convidados de


Boss, embora externamente bem arrumados e vestidos com ternos caros
eram, sob a superfície, alguns dos homens mais assustadores que eu já
conhecera, e isso dizia muito. Durante a refeição, eu olhava para cima do
meu prato apenas para encontrar um ou mais deles olhando de soslaio
para mim como se eu fosse uma seleção no menu. Um único jantar me fez
sentir mais como uma prostituta do que qualquer outro momento da
minha vida, inclusive quando eu estava realmente agindo como uma
prostituta trocando sexo por drogas.

— Sabe, há rumores de que El Cuchillo está de olho em assumir o


seu território, Boss – o homem corpulento que parecia estar no comando
dos visitantes disse casualmente com um forte sotaque mexicano. Ele
usou um guardanapo para limpar a boca e tomou um longo gole de sua
taça de vinho.

Boss acenou a mão com desdém.

— Diga-me algo que eu não sei. Ele estava atrás do meu antecessor
por anos, mesmo antes de eu assumir. Não tenho dúvidas que Cuchillo
está atrás de mim. Ele quer Austin. Isso não é um segredo.

Eu me virei para olhar para Boss sentado ao meu lado. Ele estava
vestido em seu próprio terno de grife, parecendo mais um modelo do que
um senhor das drogas. Boss se recostou na cadeira, casualmente, como se
ele estivesse falando do tempo.

— Naturalmente, ele não terá sucesso – os cabelos em meus braços


se arrepiaram quando seus vibrantes olhos azuis estreitaram e
escureceram para ásperas fendas em seu belo rosto. — Deixe-o tentar. Ele
vai ver o que acontece com aqueles que atravessam o meu caminho.

Após um longo e doloroso silêncio, o outro homem começou a rir,


uma risada assustadora e sombria que gelou minhas veias.
— Bom para você, Boss. Bom para você.

Boss empurrou a cadeira para trás e levantou-se, puxando a minha


como se ele fosse um cavalheiro e este fosse um restaurante cinco estrelas.
Não composto por traficante de drogas e um encontro com membros
repugnantes de um cartel mexicano.

— Não há mais negócios por agora – disse ele, estendendo a mão


para me ajudar a levantar. — É hora de relaxar.

Com meu cotovelo firmemente, quase dolorosamente, apertado em


sua mão, Boss conduziu o grupo para uma grande sala formal, onde um
barman estava esperando para servir bebidas. Uma vez que todos estavam
confortáveis e conversando entre si, engolindo o caro licor de Boss, ele me
puxou para sentar ao lado dele em uma pequena namoradeira.

Um dos homens de Boss apareceu na porta e os dois trocaram um


olhar. Meu queixo quase caiu no chão quando Boss assentiu e mulheres
começaram a entrar na sala. E não apenas mulheres. Do tipo seminua,
com peitos falsos, batom vermelho brilhante, e saltos de stripper de dez
centímetros. Elas eram prostitutas. Muitas delas.

Os convidados aplaudiram, todos eles a meio caminho de ficar


bêbado e ansiosos para começar a festa. Tudo o que estava faltando eram
as linhas de coca na mesa de café, juntamente com várias outras drogas,
uma cena que eu tinha vivido muitas vezes nos seis meses que passei com
Mason.

Boss deve ter me sentido tensa, porque sua grande mão pousou na
minha coxa e seus dedos pressionaram a minha carne, um aviso silencioso
para não me mover ou fazer uma cena. Eu lhe dei o olhar mais sujo que eu
consegui, o que ele retornou com um olhar impassível.

Babaca!

Tentei mexer minha perna para fora do seu alcance, mas os dedos
de Boss só cavaram mais fundo. Ele apertou tão forte que mordi o lábio
para abafar um grito. Resignada a me sentar calmamente ao seu lado, eu
tentei não prestar atenção, enquanto o espetáculo nojento na minha frente
rolava. Uma a uma, as prostitutas se espalharam em toda a sala, cada
uma encontrando um homem para entreter. Náusea queimando em meu
esôfago, o meu jantar tentando ressurgir, enquanto a dança e strip-tease
rapidamente se transformava em completo pornô ao vivo. Outro vislumbre
de Boss e eu podia ver que ele ainda tinha aquela maldita máscara
indiferente no lugar, não dando um indício do que ele estava sentindo ou
pensando. Eu não podia dizer nem mesmo para onde ele estava olhando.
Seus olhos estavam desfocados, como se ele não quisesse assistir a cena
mais do que eu.

Quando a primeira das mulheres, agora quase nua, deslizou para o


chão entre uma das pernas dos homens e começou a chupar o pau, eu já
tinha visto o suficiente. Levantei do sofá para sair, mas Boss foi mais
rápido. Ele agarrou meu pulso, enrolou a outra mão na minha cintura e
me puxou para montar o seu colo, de frente para ele.

— Que porra você está fazendo? – Eu rosnei em seu ouvido. — Eu


não quero ver isso.

Boss me manteve no lugar, a mão no meu pulso movendo-se para a


parte de trás da minha cabeça, quase prendendo meu peito contra o dele,
e as bochechas pressionadas umas às outras em direções opostas. O
arranhão de sua barba enviou eletricidade deslizando pela minha espinha
para chegar onde as nossas virilhas estavam esfregando juntas, e a
maldição de seu cheiro fazia minhas pálpebras pesarem.

— Nem pense em me desrespeitar na frente dos meus convidados.


Você é minha propriedade, Miri. Hoje à noite, você vai agir assim.

Seu rosnado baixo me assustou tanto quanto me irritou, enquanto a


intimidade de nossos corpos fazia meu coração bater.

A mão na minha cabeça apertou no meu cabelo e a outra mão de


Boss passeou pelas minhas costas para acariciar minha bunda. Engoli em
seco quando ele me procurou através do vestido de coquetel curto que
tinha me forçado a usar e deslizou a mão por baixo do tecido macio.

— Pare.

Minhas palavras foram interrompidas quando Boss me puxou pelos


cabelos até que estivéssemos nariz com nariz. Seus olhos azuis estavam
escuros, ambos com raiva e com luxúria que eu podia sentir claramente
crescendo entre nós, quente e duro enquanto ele tocava minha virilha sob
a calcinha. O atrito lento começou a me deixar louca de desejo. A
hostilidade em seus olhos era o que me assustava, mas, ao mesmo tempo,
incendiava o meu corpo.
— Faça como eu digo, boneca.

A respiração de Boss estava quente em meus lábios e me fez sentir


vontade de prová-los novamente. Ele se mexeu debaixo de mim e eu gemi,
incapaz de parar de separar meus próprios lábios. O prazer de seu pau
mexendo entre as minhas coxas foi rápido demais.

Nós estávamos cercados por sons e cheiros de sexo. Grunhidos,


xingamentos, sons molhados – que me revoltaram e me transformaram em
algo feroz. Eu sabia que deveria dar um tapa em Boss e sair da sala. Ele
merecia por me colocar nessa posição, obrigando-me a suportar essa
humilhação, mas o poder que eu sentia de ser capaz de desfazer esse
homem me fez incapaz de parar. Eu não queria parar. O contato visual
inabalável de Boss e seu duro pau pressionado contra mim, provavam que
eu o afetava. Meu toque o excitou. Com essa nova realização, comecei a
balançar meus quadris para trás e para frente, os movimentos tão
pequenos que eram pura tortura quando o que eu realmente queria fazer
era desabotoar a calça dele e soltar seu pau duro e me afundar nele, com
os convidados ali ou não. Mas gostaria de me negar para voltar a Boss. Eu
queria que ele sofresse por isso, por sua alta manipulação.

Claro que, sendo um maníaco furioso por controle, Boss não iria me
permitir estar no comando da provocação. Com um grunhido, ele assumiu
o comando, uma de suas mãos deslizando da minha cintura para minha
coxa, os dedos longos roçando em minha calcinha. Estremeci incapaz de
parar de ofegar quando ele pressionou seu polegar para baixo em meu
clitóris e começou a massageá-lo através do tecido de algodão leve. Minhas
coxas se apertaram contra os quadris de Boss quando um raio de prazer
rasgou minha espinha.

— Oh Deus – eu gemi e minha testa caiu em seu ombro.

— Fique quieta – ele sussurrou em meu ouvido.

Antes que eu pudesse responder, sua mão deslizou para debaixo da


borda da minha calcinha, e um longo e grosso dedo foi empurrado para
dentro da minha boceta molhada. Meu corpo se apertou enquanto ele
trabalhava aquele dedo talentoso, esfregando e me fodendo enquanto eu
tentava não me mover ou fazer qualquer barulho. As outras pessoas na
sala desapareceram, todo o meu foco ficou unicamente em Boss e a mão
malvada trabalhando entre as minhas pernas.
— Jesus.

Sem pensar, eu pus a minha língua para fora para provar a pele no
pescoço de Boss. Gemi com o sabor salgado e enterrei meu nariz em seu
colo para inalar seu cheiro inebriante. Meus quadris começaram a
empurrar por conta própria, fodendo-me na sua mão, determinado a
perseguir aquela doce liberação, eu afundei meus dentes em seu ombro
para sufocar os gemidos construídos em minha garganta.

Os dedos de Boss agarraram meu quadril com mais força.

— Não se mova – Ele rosnou enquanto me fodia mais forte,


adicionando com um segundo dedo.

— Eu não posso – eu estava ofegante, desesperada por mais.

— Eu tenho você, boneca.

Boss pressionou seu polegar em meu clitóris e o circulou enquanto


seus dedos continuaram bombeando para dentro e para fora, e era isso.
Eu quebrei, tremendo enquanto minha buceta se apertava em torno de
seus dedos e o orgasmo rasgou através de mim. Mordi o lábio com tanta
força para sufocar um grito que saiu sangue.

— Oh meu Deus – eu sussurrei. Suada e saciada, eu mantive minha


cabeça em seu ombro, completamente em êxtase.

— Assista. — A voz profunda de Boss penetrou na neblina. Ergui a


cabeça o suficiente para encontrar seu olhar pesado. Boss retirou os dedos
e mostrou suas digitais brilhantes para mim antes de colocá-los em sua
boca, chupando e lambendo meus sucos como se estivesse morrendo de
fome e fosse o único alimento à vista.

Minha boca se abriu enquanto eu o observava, ansiosa para juntar a


minha língua com a dele e compartilhar o gosto do meu prazer. Baixei os
olhos para os lábios sensuais e me inclinei para frente.

Antes de nossas bocas se tocassem, Boss tirou os dedos, endireitou


sua espinha, e me levantou do seu colo para me colocar em pé. Em um
movimento gracioso, ele se levantou e abotoou o casaco para esconder a
sua ereção.

— Senhores, aproveitem o resto da noite. Os meus homens vão levá-


los para fora quando estiverem satisfeitos.
De repente eu estava incrivelmente autoconsciente. Todos ao redor
da sala, as mulheres e os homens estavam nus, fodendo, chupando, em
pares ou até mesmo em três ou quatro. E eu gozei na frente deles como se
eu fosse uma das prostitutas pagas. Meu rosto estava tão quente que eu
pensei que poderia incinerar e eu estava pronta para fugir. Boss sentiu
meu medo, pegou minha mão e entrelaçou os dedos para me conduzir
para fora da sala e da cena bizarra. Ele não me soltou até que nos
conduziu até o andar de cima no meu quarto.

Uma vez lá, Boss finalmente me soltou, abrindo a porta do quarto.


Incrivelmente confusa e chateada, o que ele fez era humilhante, mas eu
ainda queria ele. Fiquei na porta, o pulso acelerado, esperando que Boss
exigisse que eu retribuísse o favor e cuidasse de sua ereção óbvia. Gostaria
de fazê-lo, mesmo que ele me tratasse como as outras prostitutas na sala.

Naturalmente, Boss fez exatamente o oposto do que eu esperava.


Aquele idiota se virou para sair, com toda a intenção de me jogar aqui sem
nenhuma explicação sobre o que diabos aconteceu.

— Ei – eu gritei em suas costas — Que porra é essa?

Boss parou, com os ombros tensos, e por um momento eu me


perguntei se eu tinha um desejo de morte ou algo assim. Não era
inteligente esquecer que ele era um criminoso violento. Boss virou-se,
caminhou até a minha porta e parou na minha frente, olhando sobre seu
nariz, sem dizer nada.

— O que foi aquilo? – Perguntei, meu rosto ainda empolado com


indignidade.

O rosto de Boss tinha aquela maldita expressão neutra que ele


usava, como se ele estivesse irritado com minhas perguntas como uma
mosca zumbindo em torno de sua cabeça. Como se ele estivesse apenas
tolerando a estúpida prostituta viciada enquanto ela continuava.

Boss passou a mão na frente de seu terno de três peças perfeito e a


enfiou no bolso, se apoiado casualmente no batente da porta. Ele falou
comigo como se eu fosse uma empregada, frio e impessoal.

— Só para você saber, eu não durmo com prostitutas, o que é um


problema às vezes. Meus convidados teriam achado estranho se eu não
tivesse minha própria mulher, enquanto eles estavam sendo entretidos.
Minha pele ficou mais quente, mas desta vez, não era de vergonha.
Era uma raiva em brasa.

— Então... Então o que? – Eu cuspi. — Eu era apenas uma


substituta para uma daquelas prostitutas? Apenas um buceta conveniente
para sentar em seu colo para você não ficar como um idiota na frente de
um bando de bandidos sujos?

Boss me deu um olhar desinteressado mais uma vez.

— Essa é uma maneira grosseira de dizer, mas se te ajuda a


entender, então sim.

Antes que eu soubesse o que eu estava fazendo, eu recuei e dei um


tapa no rosto de Boss tão duro quanto eu poderia. Sua cabeça não se
moveu com o golpe, mas eu sabia que ele sentiu. Aqueles olhos azuis
demoníacos provaram que ele estava chocado por eu bater nele. Mais uma
vez. Suas narinas dilatadas e a ligeira curvatura de seu lábio superior
provaram que o tinha irritado.

Bem, foda-se ele.

Minha mão estava em chamas e meu coração parecia que ia explodir


no meu peito, mas eu me recusei a mostrar qualquer fraqueza, apesar da
ameaça de Boss de me matar se eu o batesse novamente.

— Você é um canalha – com as palmas das mãos no peito dele, eu o


empurrei de volta, me sentindo satisfeita comigo mesma quando ele
tropeçou em seus próprios pés. — Eu me senti mais como uma prostituta
esta noite do que em toda a minha vida.

Então eu bati a porta na cara dele e a tranquei. Eu sabia que ele


poderia entrar e me matar se ele quisesse, e ele provavelmente iria. Eu não
me importava. Eu estava tão extremamente irritada e tinha sido só uma
questão de tempo até que eu batesse nele. Eu estive esperando que Boss
quisesse o pagamento por sua bondade por mais de um mês, o estresse
pairava sobre minha cabeça. Bem, agora estava feito.

Então, por que eu ainda me sentia como uma merda?

Eu fui capaz de segurar por cerca de dez segundos antes de cair no


chão e soluçar em minhas mãos.

Mais. Que. Porra.


Boss

No segundo em que eu estava atrás da porta trancada do meu


quarto, eu libertei meu pau doendo e o segurei na minha mão, encostado
na porta, porque eu estava muito impaciente para ir mais longe dentro do
quarto. Eu deveria ter ficado furioso com Miri por me esbofetear, mas sua
raiva, seu fogo, sua indignação, só serviram para fazer meu pau ficar mais
duro. Imagens de Miri enquanto estava sentada no meu colo, o calor
escorregadio em torno dos meus dedos, inundaram minha cabeça
enquanto minha mão se movia mais rápido para cima e para baixo. Fiz
uma pausa para cuspir na minha mão e continuei me masturbando. Em
poucos minutos, a pressão acumulada em minhas bolas e a base da
minha espinha tremiam de prazer.

— Porra! Maldição!

Meu pau pulsou quando eu gozei e eu gritei alto o suficiente para


sacudir as janelas enquanto minhas bolas esvaziavam. Jatos grossos de
porra dispararam sobre a minha mão e molharam todo o piso de madeira.
Ofegante, cai contra a porta, muito esgotado para dar a mínima para
colocar meu pau de volta em minhas calças ou imediatamente limpar o
punhado de porra entre meus dedos. Minha mente estava completamente
mexida pelo orgasmo alucinante.

Quando eu finalmente consegui recuperar o fôlego, eu lavei minhas


mãos e tirei o terno para entrar sob o jato quente do chuveiro. Agora que
eu tinha liberado a tensão sexual, me senti nojento. Miri estava sofrendo.
Eu a machuquei. O olhar em seu rosto quando eu disse que ela não era
nada mais que uma puta me fez estremecer. Eu não quis dizer isso, mas
era melhor para Miri pensar que eu era um idiota do que ela começar a se
preocupar comigo ou pensar que eu era qualquer tipo de bom sujeito.

Eu definitivamente não sou um cara bom.

Esfreguei minha bochecha e fiz uma careta. Porra, ela me pegou


bem. E o que eu fiz depois que ela bateu a porta na minha cara? Eu me
masturbei com os pensamentos de eu a dedilhando em uma sala cheia de
criminosos e prostitutas. Eu era um doente, bastardo fodido.
Com as mãos apoiadas no azulejo, baixei a cabeça e deixei a água
cair na parte de trás do meu pescoço. Que porra eu estava pensando?
Fazer isso para Miri em uma sala cheia de homens de um dos maiores
distribuidores de narcóticos do México? Devo estar louco ou a meio
caminho para perder minha maldita cabeça.

Eu disse Miri a verdade sobre tê-la comigo esta noite. Ela estava ao
meu lado especificamente para que eu não tivesse que participar com as
prostitutas o que era esperado ter para meus “clientes”. Era uma cortesia
comum fornecer mulheres a estes tipos de reuniões, mas eu não toco em
prostitutas.

Meus convidados, no entanto, me veriam como fraco ou gay se eu


não participasse da festa. Usei Miri como um escudo. Meu plano era
simplesmente ter Miri sentada no meu colo e fingir algum tipo de ato
sexual para que os outros não suspeitassem, mas quando vi o desejo real
em seus olhos e senti o calor dela contra o meu pau duro, eu não consegui
manter as mãos longe dela.

Meu pau começou a subir novamente com as memórias de empurrar


meus dedos em sua buceta apertada e molhada.

— Filho da puta!

Virei a água para o frio e pensei sobre as palavras cruéis que joguei
em Miri, e meu tesão desapareceu. Uma onda de repulsa me percorreu
enquanto eu me secava e subia na cama. Tratei Miri não melhor do que
uma daquelas prostitutas hoje à noite. Eu a forcei a sentar no meu colo
enquanto eu a dava um orgasmo na frente de um cartel de homens que
estavam fodendo mulheres que eu paguei. Mesmo agora, tudo que eu
conseguia pensar era voltar para seu quarto, e a jogar de bruços na cama,
e empurrando meu pau lá no fundo da sua buceta perfeita e quente. Miri
estava chateada, mas ela não conseguia esconder o fato de que me queria.
Se eu não tivesse sido tão babaca, ela teria prazer em me deixar fodê-la
direito no colchão até que nós dois estivéssemos gritando com nossas
gargantas secas.

Agora não. Eu fui e fodi tudo.

Mulheres frágeis, como Miri eram a minha fraqueza, que era


exatamente porque eu tinha que evitá-la. Eu não poderia me dar ao luxo
de ter qualquer fraqueza para os meus inimigos explorarem. Eu não podia
dar ao luxo de me aproximar de Miri, apesar da eletricidade intensa que
provocava e crepitava entre nós sempre que estávamos juntos. Se eu
cedesse aos meus desejos, eu ficaria tão envolvido com ela que eu iria
começar a cometer erros, ou os meus rivais iriam descobrir sobre ela e de
bom grado feririam Miri para chegar a mim, exatamente como eles fizeram
com Rose.

Olhei para o teto durante toda a noite, incapaz de livrar a minha


mente da pequena e ardente ruiva com tristeza nos olhos enquanto ela
batia a porta na minha cara.

Miri

Fiquei no primeiro andar da casa durante todo o dia, à espera de


Boss. Eu não tinha certeza por que, exatamente. Eu queria perguntar a ele
exatamente o que diabos foi a noite passada, mas eu estava tão
envergonhada por suas ações e ferida por suas palavras, que eu nunca
queria vê-lo novamente. Eu queria beijá-lo, eu queria chutá-lo nas bolas.
Eu deveria evitar ele. Eu estava mais do que um pouco preocupada do que
ele iria fazer sobre a promessa de me matar se eu batesse nele novamente.

Boss fez o meu dia terrivelmente longo. Ele não mostrou sua cara
estúpida e idiota. Nem uma única vez. Fui até a biblioteca para ler, mas
não consegui me concentrar e acabei pensando na noite passada
repetidamente.

Meu coração doía por ser usada e descartada de forma tão


descuidada. Boss era um idiota. Então, por que eu não podia me livrar da
memória daqueles dedos talentosos me fodendo? Mason nunca deu a
mínima se eu gozava quando ele me fodia. Mas então, eu sabia que para
Mason, eu era apenas um buraco conveniente para ele usar sempre que
lhe convinha.

Estupidamente, eu pensei que Boss era diferente. Melhor do que


apenas um babaca que usava mulheres e as jogava de lado. Boss não era
melhor. Ele deixou isso muito claro na noite passada.

Eu despertei com o clamor de vozes altas entrando na casa e a


grande porta da frente batendo. Meu pescoço estalou quando me sentei e
olhei ao redor. Devo ter adormecido na biblioteca enquanto esperava por
Boss. O cara tinha que voltar para a casa em algum momento. Ele poderia
estar me evitando, mas eu estava decidida em falar com ele.

— Eu quero que você coordene com Six e faça com que coloquem
mais homens nisso, Milo.

— Claro, Boss.

As vozes dos homens flutuavam no enorme hall e entravam na


biblioteca. Eu escutei seus passos pesados atravessarem o chão de
azulejos da cozinha. Determinada e chateada por ter sido evitada, entrei
na cozinha, pronta para ver o homem frustrante que tinha de alguma
forma se tornado muito mais importante na minha vida do que deveria.

— Eu também acho que nós...

Boss parou e dois conjuntos de olhos pousaram em mim. Qualquer


que fosse a confiança que eu tinha construído enquanto me forrava com
raiva o dia todo, desapareceu em uma nuvem de fumaça.

Boss estava perfeitamente vestido como de costume, em uma camisa


e gravata escura, com o casaco cuidadosamente pendurado na parte de
trás de uma cadeira da cozinha. Do outro lado da sala, o seu olhar de
pedra e rosto inexpressivo fizeram o meu estômago revirar. Perto dali, Milo
estava me dando o mesmo olhar de ódio que eu tinha visto muitas vezes
desde que cheguei aqui. Seus pensamentos eram tão transparentes como
se estivessem estampados na testa de um Neanderthal.

Viciada. Prostituta. Desagradável. Lixo.

Milo me desprezava. Meu corpo inteiro congelava com seu olhar


gelado.

— Miri. – Boss disse, puxando minha atenção para longe do


assassino intimidante que atualmente estava me desejando morta sob as
sobrancelhas pesadas. — Está tarde. Milo e eu estamos falando de
negócios. Eu apreciaria se você se despedisse e fosse para o seu quarto.

Calor inundou minhas bochechas, mais uma vez.

Aquele desgraçado! Quem era ele para me dispensar como uma


criança?
Boss esperou para que eu cumprisse suas ordens, seu rosto uma
máscara vazia irritante que me fez querer gritar. Milo, por outro lado, riu e
as luzes da cozinha atingiram um dos seus dentes ouro brilhante. Eu mal
consegui não me encolher com a visão. O homem realmente me
aterrorizava.

— Lá em cima. Agora, Miri.

As palavras de Boss me atingiram como um soco no estômago.


Minha pele começou a picar e minha garganta se apertou. Engoli a
vontade de gritar foda-se e disparar insultos para ele em vez disso.
Insultos que não responderia ou mesmo reconheceria. Enquanto eu subia
as escadas, cheguei a uma conclusão que eu deveria ter descoberto há
muito tempo.

Você não pode contar com ninguém além de si mesmo. Você sempre
será fodida e decepcionada se você confiar em qualquer um para qualquer
coisa.

Foda-se Boss, foda-se Mason e foda-se Cat por me deixar sozinha.

Deprimida, abandonada, eu sai sem qualquer esperança, eu cai na


cama e chorei até dormir.
Miri

Boss estava cada vez menos por perto desde que ele me tratou como
uma merda há duas semanas. O homem me chamou de prostituta depois
que ele me fez gozar em uma sala cheia de traficantes de drogas, em
seguida, me dispensou como uma criança no dia seguinte quando eu
queria conversar como adultos. Eu nunca me senti mais degradada na
minha vida.

Não foi difícil descobrir que Boss estava me evitando de propósito. O


idiota tinha um de seus empregados me dando minhas injeções duas vezes
por dia, sem se preocupar em fazer isso ele mesmo. Mesmo quando eu
sabia muito bem que ele estava em algum lugar na casa. Seu
comportamento infantil era mais do que um pouco desconcertante porque,
honestamente, por que um homem como Boss se esconderia de mim? Eu
não era ninguém. Um nada. Um pedaço de propriedade. Ele provou isso
quando me usou em seu jantar repugnante e me descartou depois. Ele é o
único que se referiu a mim como a propriedade mais de uma vez. Fui eu
quem não ouvi.

Boss tinha sido o único na casa a falar comigo, os outros foram ditos
para manterem distância. Devido a isso, eu não tinha ninguém e me
encontrei incapaz de ficar parada por mais de alguns minutos. Até agora,
eu não tinha percebido quão calmante sua presença era, como meus
nervos acalmavam simplesmente quando eu sabia que Boss estava
próximo. Nossa luta combinada com não o ver mais tinha me colocado
sobre o limite da sanidade durante todos os dias. Eu estava tão ansiosa
que eu quase saltava para fora da minha pele ao menor ruído ou
movimento.

Os homens de Boss patrulhavam a casa e o terreno regularmente.


Eu não confiava neles exatamente, mas eu estava faminta por
companheirismo e faria o que eu pudesse para obter, mesmo uma
conversa rápida. Exceto, nenhum deles falava comigo, muito menos fazia
contato visual. Se eu entrava numa sala, os funcionários se dispersavam,
com medo de Boss e suas ameaças de destruir qualquer um que se
atrevesse a me tocar.

Essas duas semanas foram isoladas e deprimentes. Eu estava


cercada por pessoas, mas completa e totalmente sozinha. Boss não fez
uma única aparição.

Até agora, eu já tinha explorado todos os quartos da enorme


mansão, ginásio, teatro, sala de jogos e biblioteca – que se tornou meu
lugar favorito para passar o tempo. Abastecida com livros contemporâneos
e clássicos, eu tinha terminado cerca de uma dúzia de livros até agora.

Exceto pelas salas fechadas, só havia um lugar que eu não tinha


visto. Esta manhã, o amanhecer ainda estava uma hora de distância e eu
estava bem acordada. Era o momento perfeito para satisfazer a minha
curiosidade e evitar, pelo menos, uma hora de tédio entorpecente.
Atravessei a cozinha e corri para o caminho pavimentado de pedra.

Quando cheguei ao edifício, eu testei a maçaneta. Destrancado. A


dobradiça bem oleada estava sussurrando quando eu abri a porta. Boss
disse que eu tinha liberdade na casa, mas meu coração ainda batia
descontroladamente no meu peito como se eu estivesse fazendo algo ilícito.
Conhecendo sua tendência para mudanças de humor irracionais, Boss
muito possivelmente poderia mudar de ideia e me trancar no meu quarto
por explorar esta parte da propriedade. Ele nunca disse que estava fora
dos limites, mas não era tecnicamente parte da casa, então eu não tinha
certeza.

Antes de qualquer um dos guardas chegasse à esquina, eu deslizei


para dentro. Minha respiração veio rápida e curta da excitação de fazer
algo proibido. O pouco de emoção depois de semanas me deixou
emocionada. Quando a porta se fechou, eu me vi mergulhada na escuridão
completa em um prédio sem janelas. Tateando com as palmas das mãos
suadas, eu senti ao longo da parede até que meus dedos encontraram um
interruptor. Um clique e uma dúzia de brilhantes luzes fluorescentes
inundaram o enorme espaço.

Piscando, eu esperei até que meus olhos se adaptassem. Quando o


fizeram, minha boca se abriu em estado de choque, e eu juro, eu quase
tive no orgasmo no local. Na verdade, eu tive que parar de saltar para cima
e para baixo, batendo palmas e gritando como uma concorrente de um
programa idiota que acabou de ganhar um conjunto de mesa de baixa
qualidade.

— Puta merda.

Seria possível que morri e fui para o céu?

Esta era a garagem de Boss e sua personalidade se mostrava. Era


enorme, iluminada e brilhantemente limpa, sem uma única mancha de
graxa no chão de epóxi de manchas cinzentas. Eu não pude deixar de
notar que o homem era um pouco obcecado com limpeza e aparências.
Ferramentas de nível profissional alinhadas à parede mais distante, cada
uma mantida impecavelmente pendurada em um gancho marcado.
Próximo havias várias caixas de ferramentas de metal maciço
incrivelmente caras, todas da mais alta qualidade possível.

As ferramentas eram ótimas, mas não eram o que tinha me


congelado no lugar, incapaz de respirar e com os joelhos fracos de prazer.
Não, era a linha perfeitamente reta de veículos de luxo, cada um era um
raro colecionável ou um top de linha, modelos novos, estacionados um
após o outro. O exterior de cada carro era brilhante e impecável. Não havia
uma partícula de poeira à vista.

Eu andei por toda garagem, ignorando meu pulso que vibrava para
estudar cada veículo. Eu estava desesperada para tocar as curvas
estonteantes, adorar o cromo brilhante, e sentir o metal frio sob meus
dedos, mas eu tinha muito respeito pela sua pura magnificência para
marcar as superfícies lustrosas com impressões digitais gordurosas, por
isso eu enrolei meus dedos que coçavam nas palmas das minhas mãos.
Quando cheguei ao fim da linha e vi o que estava estacionado no final, eu
mordi o lábio para sufocar um gemido. Três das motos mais
impressionantes que eu já tinha visto estavam espaçadas uniformemente,
estacionadas perpendicularmente aos oito carros reluzentes.

— Meu Deus. De jeito nenhum.

Minha maior fraqueza junto com H eram motos, especialmente


aquelas feitas para correr. Podia ter conseguido algum tipo de autocontrole
com os carros, mas eu era incapaz de me conter com as motos. Excitada
ao ponto de ter vertigens, passei minhas mãos ávidas na elegante e
impecável 1.986 Suzuki RG500 Gamma. Leve e perfeitamente equilibrada,
a RG foi apenas produzida por três anos. Menos de dez mil delas já foram
feitas. Eu nunca, nunca pensei que veria uma pessoalmente, muito menos
tocaria em uma. Eu queria tirar minhas roupas e esfregar meu corpo no
aço suave. Ao lado da Suzuki, vi uma Ducati Superbike Pangione e, além
disso, um modelo antigo da Kawasaki Ninja H2. Uau. Três das mais
rápidas e radicais motos da estrada, tudo ao alcance dos meus pequenos
dedos gananciosos.

Eu sorri e soltei um suspiro. Finalmente, depois de quase dois


meses, eu aprendi algo pessoal sobre Boss. O homem adorava carros caros
e motos rápidas. Pisquei de volta a minha descrença. Esta era uma paixão
que compartilhávamos. Uau. A viciada e o traficante tinham algo em
comum.

O homem era um grande e completo fanático por carros.

Um sorriso se abriu em meu rosto quando eu pensei em um enorme


e intimidador Boss, agachado ao lado de sua moto, graxa espalhada em
suas mãos grandes e uma variedade de ferramentas espalhadas no chão
enquanto trabalhava. Na minha imaginação, Boss estava usando um jeans
solto e desbotado que pendia muito baixo na cintura e tinha buracos nos
joelhos, por cima uma camiseta desgastada. Uma faixa de pele apareceria
quando ele se curvar, expondo o topo de sua bunda, e seu corpo estaria
liso com suor, enquanto os músculos definidos...

Droga. Enxuguei a testa com a palma da minha mão. Apesar da


temperatura e da umidade controladas na garagem, meus pulmões se
esforçaram para encher, minha respiração roubada pela fantasia que criei
na minha cabeça. Não. Boss era um idiota total. Recusei-me a pensar nele
como qualquer coisa, exceto perigoso e cruel, e foquei a minha atenção de
volta para as motos.

Tentada além de qualquer capacidade de me impedir de ceder, eu


voltei para a porta, abri uma fresta, e espiei para me certificar de que
ninguém estava por perto. O pátio escuro estava vazio, por enquanto.
Nenhum dos homens de preto de Boss estava à vista – era como comecei a
chamar os homens que patrulhavam a propriedade de Boss, porque todos
usavam o mesmo terno preto, camisa branca e gravata preta, combinando
com tons escuros, óbvio. Era fácil perceber que Boss era obcecado com as
aparências, tanto a dele quanto a dos seus homens. O homem quase
sempre usava um terno, mesmo quando ele não saia de casa.
Satisfeita que eu estava sozinha, fechei a porta, rapidamente
encontrei o que precisava, e trouxe os itens para o Suzuki. Pequenos
quadrados de carpete estavam empilhados em uma pilha num canto.
Peguei um e o coloquei ao lado da moto. O chão era de epóxi, por isso não
era tão duro quanto concreto, mas eu gostaria de estar com jeans ou um
moletom para proteger os joelhos. Não importava, de jeito nenhum eu
deixaria aquele céu para trocar de roupa; em meu curto vestido pastel de
verão, eu me ajoelhei no tapete, sorri e comecei a trabalhar.

Boss

— Nossos rapazes perceberam um aumento incomum na atividade


descendo em vários locais conhecidos de Los Guerreros.

Milo se ergueu da minha mesa impecável enquanto ele dava seu


relatório. As informações recolhidas através do envio de meus homens
para San Antonio para prestar atenção em nossos rivais.

— Que tipo de atividade?

Eu enfiei minha moeda sobre os nós dos dedos para acalmar o


desejo de levantar e encontrar Miri.

Fazia duas semanas desde que eu a tinha usado na frente de


Guzman e sua gangue, para em seguida jogá-la de lado como lixo e a
insultar. Até agora, eu tinha sido bem-sucedido em negar a minha enorme
necessidade de encontrá-la, estar perto dela, fazê-la gozar, possui-la, e
mais importante de tudo, pedir desculpas pelo meu comportamento de
merda naquela porra de festa estúpida.

Eu sou um idiota egoísta, apesar da convincente voz dentro de mim


para fazer Miri ser minha, eu resisti a atração. Agora, a única coisa que me
impedia de ir atrás Miri era o meu orgulho. Isso e o fato de que eu era
muito provavelmente a pior escolha entre os homens para uma menina
lutando contra um vício. Especialmente uma que finalmente estava se
recuperando após chegar tão baixo.

Além disso, Boss, não pedia desculpas. Eu fazia o que eu queria,


quando queria, a quem eu queria. Rastejar aos pés de uma mulher faria
meus homens perderem o respeito por mim. Neste negócio, o respeito
vinha antes de tudo, mesmo do que eu queria para mim.
De qualquer forma, nada disso importava. Para Miri era melhor ficar
limpa e longe de mim. Minha mãe e irmã ambas mortas e enterradas
devido à heroína provaram o meu ponto.

Era quase o amanhecer, mas Milo ligou e me acordou uma hora


atrás para dizer que tinha informações. Como Boss, era o meu dever
trabalhar sempre que necessário. Saí da cama e tomei banho, vestido e na
metade de uma xícara de café no momento em que Milo chegou. Neste
negócio, a merda acontece em horários inconvenientes. Eu usava um terno
porque eu nunca sabia quando ia ficar cara-a-cara com alguém
importante. Poder e intimidação eram uma fachada importante de manter
e uma das minhas armas favoritas para exercer, mesmo que, por vezes,
significasse, para o meu desgosto, arruinar um dos meus ternos.

— Sete e alguns de seus homens viram um aumento notável no


número de entregas ao armazém principal Los Guerreros. – Disse Milo,
tirando-me dos meus pensamentos obsessivos sobre Miri.

Joguei a moeda, pegando-a no ar, e agarrando com força.

— Eles descobriram o que estava nas entregas?

Irritado pela minha paixão por Miri, eu abri a gaveta da mesa e


deixei cair a moeda dentro, determinado a juntar minhas coisas e me focar
nos negócios.

— Armas. A maioria das coisas que ele levou para dentro foram
transportadas em caixas marcadas, mas El Cuchillo é um filho da puta
arrogante. Veio à vista, e abriu uma caixa. O idiota estava sorrindo
enquanto levantava um enorme lançador de granadas para fora de uma
caixa e colocava no ombro. – Milo soltou uma risada sarcástica. – O filho
da puta está ficando relaxado. O enorme ego dele o faz cometer grandes
erros. Devemos ataca-lo em breve, Boss. Ele está planejando algo e ele não
nos verá chegar se atacarmos agora.

— Eu concordo que ele está cometendo erros, mas El Cuchillo não é


o que eu consideraria um homem estúpido. Imprudente, sim, mas não
estúpido.

Eu me levantei, endireitei minhas mangas, e fui até a janela.

Milo deu um passo atrás de mim e falou.


— Então, você quer marcar uma reunião com os nossos rapazes?
Descobrir como abordar a situação com este bastardo e seus capangas?

Eu me virei da janela, incapaz de perder o entusiasmo no rosto de


Milo ou o brilho excitado em seus olhos escuros. O filho da puta brutal
não adoraria nada mais do que uma guerra total com os nossos vizinhos
em San Antonio. Merda, se eu dissesse a ele para executar cada um deles,
Milo pegaria três caras, dirigiria para a sede Los Guerreros, e marcaria
todos eles em suas bundas, sem perguntas. E ele sairia sem um único
arranhão e com um sorriso em seu rosto.

Era tentador, mas eu preferia uma abordagem diplomática. Por


agora.

— Marque uma reunião no nosso armazém norte e certifique-se que


todos os nossos homens mais bem qualificados estejam lá. Eu sei que você
está ansioso para uma luta, Milo, mas meu objetivo é evitar o confronto
com Cuchillo. Vamos discutir as nossas opções e a melhor forma de lidar
com a informação que temos. Se possível, quero evitar uma guerra com os
nossos vizinhos.

Meu tenente franziu a testa, obviamente desapontado que ele não


iria começar a jogar de Rambo hoje. Felizmente, Milo balançou a cabeça
saiu para cumprir minhas ordens.

Sozinho, andei pela sala reforçada de aço, minhas pernas inquietas e


as mãos coçando por algo para fazer. O terno e gravata começaram a
encolher, apertando minhas pernas e pescoço, restringindo os meus
movimentos. Foda-se. Eu precisava me trocar e sair por um tempo. Um
novo ambiente me ajudaria a me concentrar na reunião desta noite e não
em uma certa ruiva sexy.

Depois de trocar a roupa de lã por uma de algodão, uma Henley de


manga comprida para esconder minhas bainhas no pulso e uma jaqueta
de couro para cobrir meu coldre, fui para a garagem, agitado e ansioso
para dar um longo passeio para limpar minha cabeça de todas as merdas.
No topo das minhas fantasias sem limites de dobrar Miri, rasgando a sua
calcinha, e reivindicando sua buceta doce, agora eu tinha que lidar com o
El-fodido-Cuchillo.

Maldito bastardo. Que porra você está planejando, seu pequeno


pedaço de merda?
— Boss.

Eu balancei a cabeça para o homem patrulhando o quintal e


continuei em direção a garagem que abrigava os meus bens mais valiosos.
Eu poderia não dar a mínima para nada na casa, mas meus carros e
motos? Eles foram alojados em uma estrutura de aço à prova de fogo com
temperatura e umidade controladas. Abri a porta lateral e o espaço que
deveria estar escuro estava iluminado como o Quatro de Julho. Um toque
em meus pulsos e eu tinha uma lâmina em cada mão. Sim, poderia ser
apenas Frank aqui fazendo a manutenção regular em meus carros, mas o
frio na parte de trás do meu pescoço me fez pensar que quem quer que
fosse, não era Frank.

O barulho de uma ferramenta batendo no chão foi seguido por uma


maldição alta, mas distintamente feminina. Cristo. Definitivamente não era
Frank. Com um suspiro, eu guardei minhas facas, puxei para baixo as
mangas para cobri-las, e segui o som até o final da garagem.

O que encontrei quando virei à esquina no final da fila de carros era


tão surpreendente, que me tirou o ar. Incapaz de falar, eu simplesmente
fiquei no lugar e me permiti desfrutar da visão deslumbrante, piscando
para me certificar de que não estava sonhando.

Miri – a bela, frágil, pequena Miri – estava deitada no chão de costas


enquanto usava uma chave de torque na corrente do meu clássico Suzuki.
Todos os motivos que usei para justificar ficar longe dela evaporaram e não
me restou nada além desejo cru e primal.

Miri estava sem maquiagem, usando um vestido curto delicado que


tinha subido e expunha suas pernas longas e bem torneadas. Mamilos
retos levantaram o tecido fino sobre os seios e eu soube que ela não tinha
se preocupado em usar um sutiã. Sua pele pálida contrastava com escuras
manchas de graxa em uma coxa e em ambas as mãos pequenas. Manchas
de sujeira que normalmente teriam me dado coceira para ir para o
chuveiro, em vez disso me aproximei.

— Droga!

Miri deixou cair a chave e sacudiu a mão, enquanto xingava.


Sentou-se e inspecionou o dedo ferido. Do meu ponto de vista, notei um
filete de sangue saindo de um lado.

— Precisa de alguma ajuda?


— Puta merda!

Os braços de Miri se debateram e ela quase caiu para trás. Isso me


fez rir, mas Miri não pareceu achar muito engraçado. A carranca que ela
me jogou poderia ter assustado um homem menor. Eu? Porra eu adorei.
Miri estava tão sexy, toda excitada e chateada, assim como ela estava na
noite em que ela me deu um tapa e deixou meu pau tão duro que me
masturbei em tempo recorde.

— Jesus, Boss. Você me surpreendeu.

Miri usou sua mão ilesa para agarrar o peito. Eu sorri para sua voz
ofegante, rouca e inclinei a cabeça.

— Eu poderia dizer o mesmo para você. O que você está fazendo


aqui, boneca?

A pele pálida de Miri ruborizou, o lindo carmesim se espalhando


pelas pontas das orelhas e descendo pelo pescoço para cobrir suas
clavículas.

— Eu-eu...

Os olhos de Miri corriam em volta enquanto ela se mexia. Seu dedo


ainda estava sangrando e a coisa pequena estendeu-o para não pingar em
seu vestido inocente e sedutor, quase transparente.

— Falamos em um minuto. Vamos limpar você primeiro, ok?

Eu estendi a mão.

Olhando cautelosa, Miri aceitou a minha oferta e colocou a mão boa


na minha. Puxei-a para seus pés e não pude deixar de correr meus olhos
cheios de luxúria sobre seu corpo, devorando-a da cabeça aos pés e cada
parte sexy como pecado no meio.

Porra, Miri nunca pareceu tão linda como agora, a pequena raposa
descalça, com manchas de graxa no queixo e mãos, as faces coradas,
cabelos vermelhos brilhantes amarrados no topo de sua cabeça, e usando
um dos vestidos mais frágeis que já vi. Sim, ele cobriu tudo que é
importante, mas o material de escumilha era tão leve, que se você
colocasse uma luz por trás dela, você seria capaz de ver o contorno de
cada curva de seu corpo sob o tecido. Eu nem sequer me importei que ela
passou parte da graxa de sua mão para a minha. Meu pau inchou em
apreço.

De jeito nenhum eu poderia esperar resistir a isso. Miri era pura


tentação e eu um homem que nasceu para o pecado.

— Ummmm...

Miri se mexeu desconfortavelmente e estendeu a mão para evitar que


o sangue caísse sobre seu vestido.

Merda. Eu estava tão envolvido em fantasiar, que me esqueci de sua


lesão.

— A pia está ali. – Eu apontei para a minha esquerda. – Vá lavar-se


e eu vou pegar o kit de primeiros socorros.

Meu corpo inteiro estava em chamas, um desejo ardente queimando


como inferno pela não tão inocente Miri. Pelo amor de Deus, a mulher
conhecia sobre motos. E não só isso, ela trabalhou nelas, enquanto usava
um vestido sexy transparente, porra. Como eu poderia resistir? A mulher
era uma tentação, empurrando cada um de meus botões ao mesmo tempo.
Ela me levaria pelo caminho da destruição. Com minhas mãos e
mandíbula apertada, eu girei e sai do outro lado da garagem para o
armário que abrigava os suprimentos médicos.

Jesus Cristo, Jag. Tire a porra de um tempo para si mesmo antes de


fazer algo estúpido.

Algo como colocar Miri sobre uma das bancadas, virar aquele vestido
curto para cima, rasgar sua calcinha, e fodê-la aqui na garagem – duro,
sujo e rápido. Eu gemi quando minha imaginação correu solta com todas
as possibilidades. Meus pensamentos eram assim tão imundos que tive
que me encostar no gabinete e imaginar algumas das mais sangrentas e
horríveis coisas que eu tinha visto e feito apenas para deixar meu pau até
a meio mastro. Respirei lentamente pelo nariz, consegui pegar o kit e
caminhar de volta para Miri sem rosnar, reivindicando-a como minha. Ela
era minha. Minha propriedade. Minha ardente tentação. Minha boneca
quebrada.

Esses eram os tipos de fantasias que dominaram minha mente


recentemente. As fantasias que eu não queria ter amado cada segundo
delas. Miri era tudo que eu conseguia pensar, e estava ficando fora do
maldito controle ao ponto de se tornar obsessão. Por isso que eu a estava
evitando. Eu sabia que tinha tendências obsessivas, mas normalmente
apenas em relação a roupas, organização e limpeza. Eu nunca fui
obcecado por outro ser humano. Bem, se você não conta se vingar do
bastardo que matou minha irmã. Eu estava muito obcecado com ele no
momento. Inferno, eu ainda não o tinha deixado ir.

Foco. Miri está sangrando.

Soltei um longo suspiro e me aproximei de Miri. Ela estava apoiada


contra a pia, de cabeça baixa e mordendo o lábio inferior como se fosse
uma criança pega fazendo algo errado à espera de sua punição. Engoli um
gemido. Eu ficaria feliz em bater na sua bunda pálida se punição fosse o
que ela queria. Porra. Miri. Machucado. Sangramento. Depois de colocar o
kit no balcão e abri-lo, eu gentilmente peguei sua mão e inspecionei seu
dedo, ignorando meu pau dolorido que apertava minha calça.

— O corte não é profundo. O curativo vai bastar.

— Ok. – A voz de Miri era suave e vacilante.

Eu pisquei surpreso e estudei sua postura. Era rígida e ansiosa, sua


respiração vinha rápida e superficial. Merda. Miri estava com medo. De
mim. Ela deveria ter, é claro. Eu era um homem muito perigoso que tinha
feito coisas muito terríveis. Coisas que me colocariam na cadeia por um
longo tempo se eu alguma vez fosse apanhado, e com razão. No entanto, o
pensamento de Miri assustada, vendo-a recuar quando cheguei perto, me
apertou o coração. Eu sabia que merecia depois de como a tratei, mas doía
mesmo assim. Com um aperto na garganta, eu espalhei cuidadosamente
uma camada de pomada antibiótica e envolvi duas ataduras em torno da
ferida para me certificar de que iria ficar coberto.

— Boss?

O sussurro de Miri quebrou meu transe. Levantei meu olhar de seu


dedo para os olhos mais verdes que eu já vi. Eu explorei suas profundezas,
à procura de alguma coisa, qualquer coisa para me deixar saber que Miri
sentia isso também – a intensa conexão entre nós. Como imãs opostos se
juntando, não importa o quanto eles tentaram ficar distantes. Eu queria
ela mais do que eu queria qualquer coisa na minha vida, e eu não estava
acostumado a negar a mim mesmo.
Sua língua rosada deslizou sobre seus lábios cheios e o suor correu
pela minha pele, o fogo se espalhando a partir do topo do meu couro
cabeludo para as solas dos meus pés. Deus, ela era tão gostosa. Um
mundo de distância da coisa pálida, suja e trêmula que caiu na minha
porta alguns meses atrás, e mesmo assim ela era atraente. Eu estava
prestes a me inclinar e chupar aquela língua aveludada na minha boca
quando senti Miri se afastar.

— Minha mão, Boss. Eu preciso dela.

Olhei para baixo e percebi que ainda tinha a mão ferida presa entre
as minhas.

— Merda, desculpe.

Eu a soltei e a pele do meu pescoço queimou de vergonha. Para


colocar um pouco de espaço necessário entre nós, eu recuei. Distância era
a única coisa que poderia me impedir de toma-la.

— Vo-você está com raiva de mim?

Minha testa puxou baixo com a pergunta.

— Raiva? Por quê, boneca?

Miri baixou a cabeça, mais uma vez mordendo aquele lábio maldito.

— Porque... – Miri apontou para a Suzuki, as ferramentas ainda


espalhadas. – Eu toquei na sua moto.

Talvez eu devesse ter ficado com raiva. A Suzuki era um clássico, e


uma raridade. Então eu olhei para a bagunça e me lembrei da imagem
erótica dela deitada debaixo da moto na porra daquele vestido curto. Um
riso estrangulado escapou.

— Claro que não, eu não estou com raiva. – Quando meu olhar
voltou para Miri, mais uma daquelas ondas malditas de calor subiu em
minhas veias. — Eu tenho que te dizer, é sexy pra caralho você saber
sobre motos, boneca. Você nunca deixa de me surpreender.

Minha voz ficou presa na minha garganta e saiu áspera.

O desejo de tocar seu rosto macio, de provar seus lábios vermelhos,


quase quebrou o meu autocontrole. Eu tive que desviar minha atenção
para algo além de sua boca tentadora. Depois de algumas respirações
profundas e calmantes, perguntei a Miri sobre as motos.

— Como você sabe tudo isso?

Ela me deu um olhar confuso.

— Tudo o quê?

Eu sorri e me aproximei da Suzuki, agachando-me para inspecionar


seu trabalho.

— Motos. Com certeza parece que você sabe o que está fazendo,
boneca.

Meus olhos percorreram a correia impecavelmente limpa, e uma


onda de orgulho inchou no meu peito.

— Eu tenho que admitir, eu nunca teria esperado isso de uma coisa


pequena como você.

O rosto de Miri escureceu, o adorável queixo se projetando para fora,


e ela cruzou os braços sobre os muito perturbadores seios.

— Porque eu sou apenas uma vadia viciada, certo? Eu não poderia


ser útil para qualquer outra coisa.

— O quê?

Eu estava de pé, minha boca boquiaberta em sua conclusão muito


franca, e muito imprecisa.

— Não. Me desculpe ter lhe dado a impressão de que te vi assim,


Miri. Não é verdade.

Miri não respondeu, mas ela não olhou para mim. Eu sabia por
causa da dor em seu rosto e o brilho úmido em seus olhos que Miri estava
se lembrando da noite que entretive meus convidados. Jesus, eu, de fato, a
tratava como uma prostituta viciada. Porra.

— Boneca, por favor, venha aqui.

Quando Miri não se mexeu, eu perguntei novamente.

— Por favor? Eu não sou um homem que implora ou se desculpa,


Miri, então tenha em mente que isso é extremamente raro para mim.
Ela bufou, mas aproximou-se da Suzuki e parou a um braço de
distância.

— Conte-me sobre isso. – Eu apontei para a motocicleta e as


ferramentas no chão. — Como você aprendeu sobre manutenção de
motos?

Baixei meu corpo para sentar no tapete e peguei a chave de torque.


Após uma verificação rápida para ver o quão longe Miri foi, eu continuei a
trabalhar na correia que ela limpou. Miri fez um trabalho tão bom que
parecia novo. O lubrificante da corrente já estava ao lado da moto. Ela foi
minuciosa e bem preparada, o que atraia a minha personalidade
obsessiva. Quando peguei o lubrificante, ouvi um leve murmúrio e parei.

Virei à cabeça, surpreso ao ver Miri ajoelhada ao meu lado no tapete,


perto o suficiente para os nossos braços roçarem um contra o outro. Meu
corpo reagiu instantaneamente. O fogo de antes voltou, um ardor quente,
implacável de desejo pulsando na minha virilha. Sufoquei um gemido e
resisti à tentação de arrumar o meu pau.

Miri soltou um suspiro triste.

— Meu pai trabalhava em uma oficina. Ele começou a me ensinar


coisas quando eu tinha oito anos. Quando saí de casa, eu trabalhei como
mecânica por alguns anos em uma loja de motos.

Meu queixo caiu. Esta menina nunca deixava de me surpreender.


Ela era a porra de uma mecânica de motos? Meu cérebro imediatamente
conjurou uma imagem de Miri vestindo macacões sujos. A frente aberta
até a cintura para revelar um top branco fino e, claro, sem sutiã. Perfeito e
apresentando os seios pequenos e mamilos duros. Meu pau acordou para
a vida, não que ele tivesse perdido o interesse. Eu não sabia se alguma vez
perderia o interesse em Miri.

— Seu pai? Ele é um mecânico?

— Foi.

Eu segurei minha língua e dei a Miri uma chance para continuar.

— Ele morreu quando eu tinha quatorze anos.

— Oh. Eu sinto muito.


— Que seja.

O tom de Miri deixou claro que o assunto estava fora dos limites.

— Bem – Eu disse enquanto entregava a garrafa de lubrificante de


correia para ela. — Mostre-me o que você pode fazer, boneca. Então talvez
possamos fazer um passeio, se quiser.

Pela primeira vez em semanas, Miri sorriu. A visão era tão radiante
que minha respiração ficou presa.

Porra, ela é impressionante.

Agora que Miri estava completamente fora das drogas venenosas e


tinha ganhado algum peso, eu finalmente vi a mulher que ela deveria ser.
Por me sentir como um idiota pelo que fiz para Miri naquela festa, eu parei
de fazer suas injeções e os meus homens continuavam a administrar duas
vezes por dia. Exceto que agora havia apenas um soro fisiológico estéril na
seringa. Eu não queria que Miri soubesse que eu tinha desmamado ela da
heroína. Ela poderia não ser feliz em ter essa decisão tomada por ela,
especialmente por mim. Meus homens foram instruídos a preparar a
“dose” antes de Miri entrar na cozinha. Caso contrário, ela saberia que
nenhum pó era adicionado à colher e não estava sendo drogada.

Sem mais uma palavra, Miri se acomodou ao meu lado, pegou o


lubrificante de correia da minha mão, e voltou de onde parou. Eu podia
sentir a emoção saindo dela enquanto ela trabalhava na Suzuki.

Vendo esta menina delicada e linda descer e trabalhar suja na


minha moto, me deixou na beira da excitação. Foi de longe a coisa mais
sexy que eu já tinha visto.

E eu queria mais.
Miri

— Vamos dar um passeio, boneca.

Eu estava na pia, de costas para Boss enquanto limpava a graxa sob


minhas unhas. Meus ombros instintivamente ficaram tensos e eu fui para
o alerta total assim como eu fiz quando ele estava próximo. Normalmente,
sua voz transformava meu corpo em líquido, fazendo-me derreter no local,
mas uma grande parte de mim ainda estava desconfiada de suas
intenções. Especialmente depois de Boss me usar na frente de seus
“parceiros de negócios”, apenas se virando e deixando bem claro que a
sedução foi um ato e ele de modo algum iria se rebaixar para tocar alguém
como eu em particular.

Limpei a garganta.

— Um pa-passeio?

Havia uma parede de calor nas minhas costas e eu sabia que Boss
havia se aproximado trás de mim. Debaixo do forte cheiro de gasolina e
graxa preta picante em minhas mãos, eu ainda podia sentir o cheiro dele.
E dane-se, apesar de seu comportamento de merda, esse perfume
inebriante trabalhou seu caminho por debaixo da minha pele e acelerou o
meu coração.

— Sim, você sabe.

Ele respirou no meu ouvido. Arrepios eclodiram na parte de trás do


meu pescoço e desceu pelos meus braços.

— Um passeio. Você, eu, montando uma peça elegante da máquina,


suas coxas pressionando contra minha bunda, seus peitos contra minhas
costas, enquanto nós corremos pelas ruas.

Grandes mãos agarraram meus quadris e eu quase mordi a língua, a


fim de resistir à tentação de empurrar a minha bunda para trás e moer
desenfreadamente contra sua virilha. Eu não podia deixá-lo chegar a mim.
Minha resposta foi lavar calmamente minhas mãos e as limpando antes de
me virar para enfrentar o homem intimidante, porém lindo. Aquele que
enviou sinais mistos mais do que qualquer um que eu já conheci. Eu
deveria estar chateada com ele, dizendo-lhe para ir se foder, mas por
alguma razão eu era incapaz de dizer não.

— Tudo bem. Podemos ir para um passeio.

Minha aquiescência deixou Boss tão feliz, seus olhos azuis


brilharam e seu sorriso raro fez meu coração saltar uma batida. Mas eu
não estava deixando-o tão fácil.

— Com uma condição.

O sorriso do Boss vacilou e o brilho nos olhos dele se tornaram


cautelosos.

— Que condição?

Em um movimento ousado, mais corajoso do que qualquer coisa que


eu já tinha feito — infiltrar na propriedade de um senhor das drogas, subir
no colo do chefe no gazebo, batendo o homem perigoso não uma, mas duas
vezes — eu dei um passo para frente, perto o suficiente para os meus
mamilos escovarem contra o tecido fino de sua camiseta. Eu forcei os
meus nervos a se acalmarem, levantei um dedo, e arrastei para baixo no
centro de seu peito até parar no cós da calça jeans. Boss estremeceu e eu
não consegui esconder meu sorriso.

— Antes de eu subir na moto, você tem que me dizer o seu nome.

— Meu nome?

Boss parecia desapontado e surpreso com a minha pergunta. Desde


a protuberância em sua calça jeans, ele estava esperando por algo um
pouco mais... Com as mãos. Eu sorri para a constatação de que eu o afetei
tão fortemente.

— Sim, o seu nome. Eu odeio te chamar Boss. É tão... Impessoal.

Eu me aproximei, enganchado meu dedo em seu jeans, e esfreguei


meus mamilos duros sobre os músculos rígidos de seu abdômen superior.
Minhas coxas balançaram a partir da intensidade do raio de eletricidade
que disparou a partir de meus seios à minha virilha. Eu mordi de volta o
desejo de me esfregar contra o eixo duro em suas calças.

— Eu quero saber o seu nome. Não é pedir muito. Eu estive aqui


durante semanas e eu ainda não sei nada sobre você.

Sua boca se torceu em uma careta.

— Você sabe muito sobre mim, boneca. O suficiente para saber que
eu não sou um bom homem.

Com a mão livre, eu estendi a mão ao lado de seu rosto. Meus dedos
deslizaram sobre o curto restolho macio em seu rosto. Quando cheguei à
boca, eu escovei meu polegar em toda a carne suave, incapaz de parar de
descobrir se eles ainda eram tão suaves e quentes como eu me lembrava
do gazebo.

Eles não eram. Minha memória não lhes fez justiça. Eles eram ainda
mais suaves.

Boss gemeu e a ponta da sua língua sacudiu para fora para provar a
ponta do meu polegar.

— Foda-se.

Seu tom de voz era baixo e rouco.

— Você faz coisas para mim, Miri. Coisas que eu não posso me
permitir ser pego.

Boss gentilmente pegou minha mão na sua, tirou-a da sua boca, e


baixou-a ao meu lado. Decepção cortou profundamente, mais dolorosa do
que a noite da festa e do gazebo combinadas. Boss havia me rejeitado
novamente.

Quando eu iria aprender? O homem não me queria. Seu corpo


poderia, mas ele não.

Humilhada, eu puxei minha mão para que eu pudesse correr e me


esconder no meu quarto antes da umidade encher meus olhos. Mas Boss
segurou firme.

— Vamos!
Eu puxei mais forte. O estúpido teimoso não se moveu. Meus olhos
nadaram em lágrimas e virei à cabeça para que ele não me visse chorar.

Segurando apertado, Boss envolveu a outra mão ao redor da minha,


para apertá-la entre suas duas mãos grandes. Bochechas em chamas, eu
dei uma espiada neste enigma de homem. Com um pequeno sorriso,
levantou nossas mãos unidas e pressionou um beijo em meus dedos, em
seguida, escovou os cabelos macios, curtos em seu queixo sobre a pele
formigando.

Boss inclinou-se. Eu levantei na ponta dos pés para encontrá-lo no


meio enquanto ele sussurrou uma única palavra no meu ouvido.

— Jag.

Inclinei em meus calcanhares, minha testa se enrugou.

— Eu não entendi.

Boss bufou uma risada seca e olhou para suas botas de motociclista
arranhadas, a única coisa que eu tinha visto ele usar que não fosse
brilhante e novo.

— O meu nome. É Jag. Mick Jagger Bosman, se você puder


acreditar. Minha mãe tinha uma coisa por estrelas do rock.

— Jag — eu repeti, testando o seu nome em voz alta, amando como


esse nome rolou fora da minha língua.

Olhei para aqueles olhos azuis intensos e engasguei. Boss, Jag,


parecia... Incerto? Ele estava realmente preocupado com a minha reação ao
seu nome? O fato de que eu tinha tanto poder enviou faíscas de calor por
toda a minha espinha. Prazer disparou em linha reta para o meu núcleo e
o apertei com a necessidade.

— Eu amo isso.

Eu pisquei e dei-lhe um sorriso.

O homem nervoso na minha frente relaxou e seus ombros caíram. A


expressão tensa no rosto bonito desapareceu. Jag soltou minha mão e
gentilmente tocou meu nariz com um dedo.
— Não diga a ninguém. Se meus homens descobrirem que eu sou
nomeado em homenagem a um dos Rolling Stones, eu nunca ouvirei o
final disso.

Jag revirou os olhos.

— Meu último nome é Bosman. É por isso que eles me chamam Boss
Man. Prefiro isso do que Jag qualquer dia da semana.

Eu ri.

— Ninguém sabe?

Ele encolheu os ombros.

— Milo poderia saber. Talvez os outros saibam, mas se o fizerem,


eles sabem que não devem me chamar de Jag na minha cara.

Jag fez uma careta e eu peguei um breve vislumbre de seu lado mais
sombrio, um lembrete de como ele era perigoso. Uma piscada depois, ele se
foi.

— Bem, Jag. Eu acho que eu gostaria de um passeio agora.

Uma imagem suja minha montada no pau de Jag passou pela minha
mente.

Isso seria o céu, mas eu vou aceitar um passeio em sua motocicleta


em vez disso.

Jag colocou a mão sobre a bancada de cada lado dos meus quadris e
me prendeu contra a pia. Ele era muito mais alto do que eu, ele tinha de
curvar-se muito para sua boca pairar acima da minha. Eu não tinha
certeza se eu choraminguei em voz alta, mas eu não poderia me importar
menos nesse ponto. Internamente, eu estava implorando por Jag para me
beijar, para pressionar esse enorme corpo, quente, duro contra o meu, me
levantar para o balcão, devorar minha boca, e afundar seu pênis
profundamente dentro da minha dolorida boceta vazia.

Mais uma vez, eu enfrentei a decepção. Jag se afastou da pia e


estendeu a mão.

— Vamos para esse passeio, boneca.


Jag me entregou um capacete vermelho brilhante e uma jaqueta de
couro preta que era muito maior do que eu. Ele rapidamente colocou o seu
próprio equipamento. Enquanto me vestia, Jag mandou uma mensagem a
alguém. Até o momento que eu terminei de lutar com o casaco enorme,
encontrei Jag em pé na frente das três máquinas incríveis, todas
estacionadas em uma linha perfeita.

— Qual delas, boneca? Sua escolha.

Meus olhos quase saltaram da minha cabeça em sua oferta. Passei o


meu olhar entre as motos caras e Jag. Eu esperei para o sinal da piada.
Não, não é uma piada. A expressão de Jag era sincera e um pouco
divertida.

Eu tropecei sobre minhas palavras.

— Você... Você está me deixando escolher?

Os olhos de Jag iluminaram-se e ele apertou os lábios.

— Claro que estou. Então...

Ele andou até a primeira moto, o clássico Suzuki.

— O que vai ser, boneca? O corredor raro?

Jag andou, seu olhar nunca deixando o meu, até que ele estava ao
lado da Ducati vermelha brilhante.

— A Superbike?

Jag acariciou as linhas deslumbrantes da motocicleta como se


estivesse acariciando uma amante. Meu coração falhou e meu estômago
vibrou com a visão de suas mãos deslizando pela superfície. Em seguida,
Jag mudou-se para a Ninja preto e verde.

— Ou a mais perigosa das ruas?

Meus olhos estavam focados em seus dedos grossos, enquanto


dançavam nas curvas da última moto.

Eu andei até as motos com um sorriso no meu rosto e balancei meus


quadris de um lado para o outro. Se ele queria jogar, eu poderia facilmente
ir a bordo com isso. Eu repeti movimentos de Jag e dancei os dedos sobre
cada máquina enquanto me aproximava do homem no fim da linha. Eu
propositadamente mordi meu lábio inferior e silenciosamente aplaudi
quando os olhos de Jag focaram em minha boca. Seu pescoço ficou
vermelho de desejo e seu pomo de Adão balançou quando ele engoliu. Eu
não parei até que nós estávamos a alguns centímetros de distância e os
nossos corpos quase se tocando mais uma vez. Esfreguei e acariciei a
superfície fria Ninja.

— O mais perigoso, é claro.

Eu usei meu queixo para apontar para a Kawasaki.

Jag me deu um sorriso torto.

— Eu sabia que você iria pegar essa. Você parece atrair perigo,
boneca.

Lambi meus lábios.

— Eu não o atraio, eu o amo.

Eu não tinha ideia de onde estas palavras vieram. Eu não era o tipo
de garota que “vivia no limite”, apesar da dependência tóxica que Mason
forçou em mim.

Jag se aproximou e envolveu um braço em volta da minha cintura


para me puxar para perto.

— Eu acho que você é o perigo.

O ronco baixo em seu peito combinado com o olhar cheio de luxúria


em seus olhos fez minhas entranhas acenderem com desejo, o calor
escaldante queimando meu corpo.

— Aqui está, Boss!

Com um grito assustado, eu saltei dos braços de Jag. Ele fez uma
careta quando um de seus homens de preto cruzou a garagem, um par de
botas de cowboy vermelhas na mão. Jag arrancou-as do homem e rosnou.

— Obrigado. Agora saia.

Droga, Jag não apreciou seu tempo comigo sendo interrompido, isso
era tão quente. Assim como a sugestão do sotaque do Texas que ele
soltava de vez em quando.
Os olhos do homem se arregalaram, ele se virou e saiu da garagem o
mais rápido que podia. O estalo do temperamento desagradável de Jag era
um lembrete de que tão charmoso quanto ele era, às vezes, ele ainda era
um homem cruel que você não queria chatear.

— Aqui, boneca. Você não pode andar com os pés descalços.

Jag entregou-me as botas.

Meu queixo caiu. Jag era uma contradição. Irritado e rosnando em


um segundo, doce e pensativo no próximo. Enfiei os pés dentro das botas,
o que, naturalmente, se encaixaram perfeitamente.

— Vamos dar o fora daqui.

Jag virou uma coxa musculosa sobre Ninja e ficou em cima da moto
elegante e apertou um botão, abrindo a grande porta automática da
garagem.

— Pula aí, boneca.

Jag tinha um sorriso perverso me apressando a obedecer. Enfiei meu


capacete na cabeça e joguei minha perna sobre o assento. Minhas coxas
aninharam contra o traseiro de Jag e apesar da espessura do jeans entre
nós, meu corpo pulsava a partir do contato. Eu juro que podia sentir seu
calor intenso irradiando através das camadas de tecido.

— Segure-se firme!

O rugido do motor ecoou na garagem. Eu passei meus braços ao


redor da cintura de Jag e pressionei as palmas das mãos contra o seu
tanquinho.

Jag rodou o acelerador e a máquina poderosa disparou para fora da


garagem, voou até a entrada, e disparou para a rua. Quando Jag virou
para a estrada principal, a moto inclinou para a esquerda, nossos joelhos
quase tocaram o chão. A corrida emocionante da velocidade, o vento
picando minha pele, a sensação de liberdade, tinha-me quase chorando de
alegria.

Apertei o meu domínio sobre Jag e me agarrei a ele como se ele fosse
o único fio me prendendo ao chão enquanto minha mente e corpo
dispararam. A moto pegou velocidade quando bateu uma linha reta e tudo
que eu conseguia pensar era, eu espero que isso nunca termine.
Jag

Eu nunca deveria ter levado Miri para esse maldito passeio no outro
dia. Mas como eu poderia resistir? Ela estava tão sexy espalhada como
uma oferenda no altar da minha Suzuki. Quem teria pensado que a
pequena coisa com grandes olhos verdes e lábios vermelhos completos era
uma mecânica de motos? E uma muito boa.

Jesus, eu estava ferrado.

Foda-se lhe dando o passeio. Eu nunca deveria ter deixado Miri em


minha casa, ponto final, porque agora que eu tenho um vislumbre de
quem ela realmente era, livre da heroína que estava consumindo sua
mente e corpo, eu não conseguia o suficiente dela. Eu queria estar perto de
Miri todo o tempo para aquecer a sua luz, sua alegria, sua forma de fazer
cada pequena coisa na vida parecer emocionante. O que uma vez eu
pensei como penitência tinha-se tornado uma punição, balançando algo
que eu queria muito na minha frente, mas não merecia ter. Mas quando
não merecer algo tinha me parado?

O que era mais chocante foi que eu tinha esses pensamentos,


mesmo que eu não tinha tido relações sexuais com Miri. Não era como se
eu não quisesse rasgar a roupa dela, agarrar seu corpo nu, e enfiar meu
pau profundamente dentro dela até ela gritar. Lembrei-me de cada
segundo que meus dedos estavam dentro daquele apertado, molhado
calor, o êxtase em seu rosto quando ela veio e o rubor em sua pele pálida,
e a forma em que seus lábios se separaram em um suspiro.

Eu queria transar com ela desde sua primeira noite aqui quando ela
levantou o queixo, encarou o meu olhar, e sem medo tirou a roupa no
chuveiro. Era o fato de que eu precisava ter sexo com Miri e querer passar
mais tempo com ela que me desequilibrou.

E puta merda, eu queria ter relações sexuais com ela. Uma foda
suja, crua, selvagem... Animalesca e ruidosa. Eu imaginei uma centena de
vezes até que a minha fantasia foi se aperfeiçoando em cada quadro
individual do filme tocando na minha cabeça.
A primeira coisa que eu faria seria segurar seu rosto inocente girá-lo
para a parede, pressionaria Miri contra a superfície dura, segurando-a
com uma mão firme entre as omoplatas. Eu iria fixar sua bunda sexy no
local usando o peso do meu corpo, minha mão segurando o cabelo para
manter o rosto contra a parede, apertando tão forte que ela não poderia se
mover, nem mesmo um centímetro. As suaves, curvas sedutoras de Miri se
encaixaria contra o meu volume como duas peças de quebra-cabeça
enquanto eu empurraria meu quadril para frente, meu comprimento rígido
aninhado perfeitamente na fenda de seu traseiro tentador.

Eu gostaria de ver seu rosto com aqueles grandes olhos verdes


arregalados e aqueles malditos lábios grossos e rosa se separando
enquanto ela ofegava com desejo. Miri ficaria tão desesperada para ter-me,
ela empurraria sua boceta contra meu pau, me implorando com o corpo
dela para levá-la, apesar da forma áspera que eu a tratei.

Até então a sua boceta estaria molhada e eu não seria capaz de


resistir a uma amostra da sua doçura. Eu deslizaria a mão entre suas
coxas pálidas e enfiaria dois dedos dentro do seu escorregadio calor.

Jesus, Miri seria apertada e quente. Os sons que ela faria comigo
bombeando dentro e fora dela, iria conduzir-me perto de perder o controle.
Memórias da noite que eu tinha os dedos dentro dela vieram à tona.
Lembrei-me da forma em que seus músculos apertaram, como as coxas
seguraram a minha enquanto ela gozou na minha mão. Eu não iria deixá-
la sair tão fácil desta vez. Não, eu torturaria essa pequena provocadora
sexy. Eu a traria para a borda e pararia de novo e de novo, então forçaria
ela a assistir enquanto eu chuparia cada pedaço de seus sucos doces em
meus dedos.

Porra, eu queria isso. Ter o meu pênis dentro de Miri estava sempre
em meus pensamentos conscientes, cada minuto de cada dia. Eu ainda
não tinha atingido a parte da minha fantasia onde eu enfio em sua boceta
apertada e a fodo com força contra a parede, e meu pau era uma barra de
ferro nas minhas calças. Os devaneios que criei sobre Miri tanto me
chocavam quanto me fascinavam.

Inferno, tudo sobre Miri tinha me chocado e me fascinado. A porra


da minha Miri. Minha quebrada, doce, boneca sexy.

E era por isso, mais uma vez, eu estava pegando merda de Milo, que
realmente precisava aprender a calar a boca. Eu estava no meio da minha
fantasia sentado na minha mesa, quando Milo de repente apareceu com
notícias perturbadoras. Era importante o suficiente para eu ouvi-lo, mas
minha mente estava ainda meio imersa na boceta de Miri enquanto meu
tenente falava, e meu pau contido estava começando a doer.

— Boss, você precisa tomar uma decisão em breve. El Cuchillo tem


algo na manga. Eu sei isso. Todos os sinais indicam que ele está
planejando fazer algum tipo de grande movimento, e logo. Os homens que
estão monitorando sua operação, disseram que a atividade em torno de
suas propriedades tem sido acima do normal, especialmente nas últimas
vinte e quatro horas.

— Eu entendo.

Para me distrair da minha fantasia sexual persistente, eu abri minha


gaveta da mesa e agarrei a minha moeda. Eu a rodei e virei de ponta
cabeça em meus dedos, indo ao longo das diferentes maneiras de abordar
o chefe rival.

Por um lado, o pensamento de outra guerra de territórios fez o meu


sangue correr frio. A última vez que eu fiz isso, havia um propósito para a
violência. Uma razão para destruir brutalmente meu antecessor e assumir
o seu território. Essa razão estava muito longe, enterrada a seis palmos
sob a terra. Por outro lado, ignorar uma ameaça se construindo era um
erro que eu me recusava a fazer, mas eu não iria tomar medidas sem
primeiro fazer uma tentativa de uma solução diplomática.

— Marque uma reunião com ele. Vamos ver o que The Knife4 é... Se
ele é homem o suficiente para aparecer. Talvez tudo o que ele esteja
fazendo é um monte de besteira que não tem nada a ver conosco. Talvez
ele esteja lidando com armas agora. Inferno, talvez ele esteja planejando
assumir o território de Brick em Houston, e não tem nada a ver com a
gente.

— Tem certeza, chefe? Encontrar cara a cara com esse bastardo


pode ir mal rápido. Ele é uma merdinha sorrateira, e se ele for bem-
sucedido na destruição de Brick e expandir-se para Houston, ele vai ser
muito poderoso para nos parar – Milo avisou.

5 A Faca em português.
Milo não estava errado em querer ir duro e rápido com o elemento
surpresa do nosso lado. Meu rival não era conhecido por suas habilidades
de negociação ou a sua capacidade de se manter profissional. Mesmo nós
criminosos temos um código de honra. Não The Knife. Se as histórias
sobre ele ainda são uma meia verdade, e eu sei que na verdade alguns
delas são, El Cuchillo só poderia ser mais cruel do que eu, e vendo como
eu o esfaquearia na virilha e o veria guinchar apenas para me olhar
engraçado, isso faz dele um cara muito letal.

— Tenho certeza de que você está certo, Milo, mas eu ainda quero
tentar uma reunião em primeiro lugar. Deixe-me saber quando ele estará
disponível.

Após dispensar Milo, coloquei minha moeda na gaveta da mesa.


Levantei-me e abotoei meu paletó e enquanto atravessava a saída trancada
passei minha mão na frente para alisar o tecido no lugar. Meu pau, que
estava duro como pera alguns minutos atrás, estava agora desinteressado.
Toda essa conversa de violência arruinou a minha diversão.

— Mas Boss...

Eu parei a meio caminho da porta do escritório e lutei contra a


escuridão que ameaçava entrar em erupção pela insubordinação do meu
tenente.

— Milo, não fode com essa merda de novo.

Sua quase diária irritação, encorajando-me a começar uma guerra


e/ou jogar Miri na rua, tinha ficado velha a ponto de me dirigir à violência.
Além disso, ultimamente Milo tinha constantemente desafiado minhas
ordens, o que me deixou mais furioso do que eu tinha estado, visto que um
dos meus guardas atacou Miri no jardim. Agora, o desafio de Milo,
combinado com o fato de ele interromper minha fantasia punheteira logo
quando estava ficando bom, tinha me deixado absolutamente violento.
Virei-me para olhar para o meu tenente e encontrei seus olhos escuros.

Desaprovação irradiava Milo quando ele abriu sua grande boca para
dizer alguma coisa, então sabiamente a fechou. Eu o conhecia bem o
suficiente para saber que ele estava lutando contra o desejo de me dar
palestra sobre Miri de novo, e como tornar-me ligado a ela me fez fraco e
incapaz de fazer o que precisava ser feito e tirar El Cuchillo e seus homens
antes que pudesse fazer o mesmo para nós. Milo apertou os lábios
apertados e eu pensei que ele tomou a decisão certa ao fechar a boca.
Esperança deixou a porra do prédio quando o idiota começou a falar.

— Eu apenas penso...

Antes de Milo pudesse terminar a frase ou reagir, eu tirei o meu KA-


BAR da bainha e pressionei na garganta de Milo quando bati seu corpo
contra a porta grossa, à prova de som.

— Não. Pense. Porra.

Um grunhido animalesco irrompeu do meu peito. Milo se atreveu a


abrir a maldita boca de novo, apesar dos meus avisos. Eu empurrei a
ponta da arma em sua carne. Apenas o suficiente para desenhar uma
linha fina de sangue em torno da lâmina de carbono preto para provar
para o idiota que eu estava falando sério.

— Eu já lhe disse para não pensar, porra. Isso significa que eu não
quero ouvir mais uma maldita palavra, questionando as minhas decisões.
Você é pago para fazer a porra que eu lhe digo para fazer, entendeu?

O suor escorria pelo meu couro cabeludo e ameaçou escorrer pelas


minhas têmporas. Meu coração batia no meu peito e meu corpo almejava a
selvageria crua de uma boa luta. Eu nem sequer dei a mínima se eu
acabasse cobrindo a ponta do sapato com sangue neste momento. Não
importa meus motivos pouco nobres para me tornar o chefe da operação,
quando isso descia, eu era um filho da puta violento. Milo estava me
dando a desculpa perfeita para desencadear semanas de raiva reprimida e
uma camada de frustração sexual extrema em cima disso.

— Eu entendi. Estou bem, Boss.

Sua expressão não parecia apologética, mas Milo tinha as mãos


acima de sua cabeça, as palmas para frente. Ele sabia que se ele demorar
para recuar, eu não pensaria duas vezes sobre cortar sua garganta e
descartar seu corpo em algum lugar que nunca seria encontrado.

Por um longo momento, eu esperei e simplesmente olhei para o meu


tenente.

— Não há mais chances, Milo. Este é o seu último aviso.

Com isso, eu dei um passo para trás e tirei a faca de sua garganta,
mas fiz questão de mantê-la apertada em meu punho. Cada músculo do
meu corpo estava apertado e meu pulso rugia atrás das orelhas. Eu estava
mais do que pronto para matar o meu tenente se ele continuasse com isso.

Milo colocou dois dedos grossos em seu pescoço e puxou-os de volta.


Ele fez uma careta para a visão de sangue.

— Porra, Boss. Eu estou sangrando.

— Fora.

Eu apontei para a porta com a faca enorme, a minha capacidade de


controlar meu temperamento rasgado em pedaços. Quando Milo teve uma
boa olhada em mim, meu peito arfando e meus dedos ficando brancos ao
redor da arma, ele empalideceu. Sem outra palavra, Milo se virou e saiu do
escritório.

Assim que a porta sibilou fechada e trancada, deixei escapar um


longo suspiro.

— Filho da puta do caralho.

Ainda furioso, eu lavei a faca na pia e sequei antes de devolvê-la à


sua bainha, em seguida, esfreguei as mãos por um total de cinco minutos.

Maldito Milo!

Meu corpo inteiro vibrou com adrenalina, os produtos químicos


surgindo através de minhas veias. Eu sofria para fazer alguma coisa,
desejava algum tipo de saída – violência, sexo – eu não ligava para o tipo,
desde que fosse físico. Fui imediatamente de volta para a minha fantasia
de Miri e em meio segundo tinha uma ereção completa e dolorida
novamente. Sexo com Miri iria cuidar com a minha agitação e ninguém
teria de se machucar.

Fechando os olhos, rosnei em frustração.

Eu não poderia fazer isso com Miri. Agora, sexo comigo seria rápido,
duro e brutalmente individual, não era algo Miri poderia lidar. Além disso,
mesmo se ela pudesse lidar comigo no meu pior, eu não rebaixaria a usá-
la assim. Eu já tinha ignorado seus sentimentos uma vez, a memória da
tristeza no rosto depois de obtê-la apenas para dispensá-la como uma
prostituta comum, quase me fez encolher. Quase. Eu poderia ter me
sentido uma merda sobre isso, mas eu ainda era um bastardo sem
coração.
De qualquer maneira, eu precisava de uma maldita saída. Agora.
Cada tendão no meu corpo se contraia, cada músculo estava tenso e
pronto para entrar em ação. Em vez de caçar Miri e arruiná-la com uma
foda cruel, sem coração, peguei meu telefone e enviei um texto rápido para
uma menina que eu conhecia. Fácil, sem ligações, e consensual, além do
mais, esta era uma cadela pervertida. Eu podia foder sua boca, sua vagina,
sua bunda, e ela não pediria nada em troca. Ela não era mais do que um
buraco quente a disposição. Exatamente o que eu precisava para
descarregar. Quando a resposta surgiu na tela, enviei uma mensagem para
Frank dizendo-lhe para deixar o carro pronto o mais rápido possível.

Depois de uma rápida mudança de roupa, subi no carro. Quando


Frank parou o carro longe da casa, vi Miri na frente da janela, observando-
me sair. Por um breve segundo, havia uma dor aguda no meu interior.
Transar com outra mulher enquanto Miri estava vivendo em minha casa,
sob minha proteção, e obviamente querendo-me em sua cama, era uma
coisa de merda a fazer, mas eu precisava disso. Era para seu próprio bem.

Foda-se.

Eu afastei qualquer preocupação com Miri fora da minha cabeça.


Miri e eu não éramos amantes e eu não lhe devia nenhuma explicação.
Além disso, era melhor para ela desta forma. Ela não precisava de alguém
como eu para estragar a vida dela mais do que já estava, por brutalmente
transar com ela. Porque agora, isso era tudo que eu poderia oferecer. Uma
foda dura, irritada e brutal.

— Frank, me leve para Karina.


Miri

— Ai! Merda!

Eu chupei meu dedo na minha boca e um gosto metálico de sangue


atingiu minha língua. Esse foi o terceiro ferimento leve em poucos dias. Eu
estive fora do meu trabalho menos de um ano e já estava fora da prática
no trabalho em motocicletas.

Enquanto lavei minhas mãos e coloquei um curativo no meu dedo,


eu me lembrei do dia em que Jag fez um curativo em mim neste mesmo
lugar antes de virar meu mundo de cabeça para baixo. A oferta da Jag me
chocou por dentro, mas consegui empurrar o meu medo do passado, subi
na parte de trás da Kawasaki, e ele me levou em um passeio que eu nunca
iria esquecer. Um passeio que, literalmente, trouxe a minha alma morta de
volta à vida.

Nos últimos três dias, eu passei todo o meu tempo na garagem de


Jag, de sol a sol, e não tinha visto um único vislumbre do homem desde
que ele me levou para esse passeio. Um passeio que me emocionou no
interior, excitou-me pela primeira vez em meses, me deu uma razão para
não desistir, e me acordou do nevoeiro, tropeçando na neblina que a
minha existência tinha se tornado. Eu estava finalmente sendo capaz de
sentir todas as coisas maravilhosas que meu príncipe sombrio, a heroína,
tinha sufocado sob o seu polegar cruel. Naqueles poucos minutos
preciosos na parte traseira da moto de Jag, eu era a garota que costumava
ser antes das drogas, antes de Mason, antes de perder Cat e a mim mesma
junto com ela.

Debrucei-me contra a pia, olhei para o meu dedo enfaixado, e fechei


os olhos. Meus pulsos agitaram e os sentidos aguçaram quando recordei o
cheiro exato da jaqueta de couro de Jag enquanto eu aninhava contra suas
costas, o calor de sua pele que ecoava através de suas roupas, enquanto
minhas mãos pressionaram em seu abdômen duro. Lembrei-me da picada
do vento nas minhas pernas nuas enquanto voávamos através da estrada,
e a emoção do meu coração pulando na minha garganta com cada firme e
eletrizante virada que a Ninja dava. Lembrei-me cada segundo, porque
depois de afundar tão baixo e perder todos os pedaços de esperança,
aqueles momentos arrepiantes sobre essa moto com Jag, significavam que
eu era capaz de viver novamente.

O único problema com viver significava que minhas emoções eram


um jogo livre. Eu podia sentir não só o bom, mas o mau também. Meu
coração ansiava por Cat, uma dor surda constante que nunca saiu.
Sempre que eu refletia sobre seu desaparecimento, uma dor aguda de
perda me atingia como uma faca mergulhando diretamente no peito para
perfurar o meu coração maltratado e quebrado.

Onde ela estava? Ela ainda estava viva?

Minha garganta apertou e os meus olhos arderam. Chorando, eu me


afastei da pia e peguei uma toalha de papel para limpar o meu rosto,
determinada a aguentar isso.

Depois de algumas respirações profundas para recuperar a


compostura, eu joguei a toalha no lixo. Quando me virei, calma e pronta
para continuar a limpeza do filtro de ar na Ninja, vi uma figura escura se
movimentando em um canto da garagem. Assustada, eu pulei para trás e
minha espinha inferior colidiu com a borda da bancada enquanto soltei
um estridente e super feminino grito de filme de terror.

A figura saiu das sombras e eu quase chorei de alívio.

— Oh meu Deus, Jag. Você praticamente me matou de susto.

Eu agarrei a parte superior do tanque sujo de graxa em uma patética


tentativa de abrandar o coração disparado.

— Desculpe por isso, boneca. Acho que eu deveria ter dito a Howdy
para me anunciar – o sorriso torto de Jag disse que não estava nada
arrependido.

Enquanto o calor inundou meu rosto, o choque inicial seguiu uma


raiva súbita, incessante. Depois que Jag me levou para esse passeio e
acordei a parte de mim que tinha desistido da vida, o idiota voltou e
desapareceu por três dias. Agora, era esperado que eu fizesse o que? Agir
como se nada tivesse acontecido? Fingir que somos amigos? Falar sobre o
clima? Não é provável.
Cruzei os braços sobre o peito e lhe lancei um olhar sujo, fazendo o
meu melhor para não notar o quão quente ele parecia hoje.

— Por que você está aqui?

Eu não sei que tipo de boas-vindas Jag estava esperando, mas é


óbvio que não foi à hostilidade que lancei sobre ele. Suas sobrancelhas
escuras voaram para o seu couro cabeludo e seu queixo caiu. O grande,
mau traficante foi atormentado pelas palavras de uma humilde viciada.
Bom. Idiota.

Jag arrumou sua expressão e tirou a própria postura rígida,


imitando a minha.

— O que quer dizer com por que estou aqui? Última vez que
verifiquei, esta era a minha garagem.

Sua atitude irreverente e rosto irritantemente bonito só serviram


para me empurrar da raiva para furiosa.

— Foda-se, Jag.

Virei-me para sair, determinada a ter a última palavra após Jag me


enganar em pensar que ele se importava, se aproximar e me fazer sentir
especial, apenas para me dispensar como se eu fosse menos do que a
merda de cachorro na sola de suas bostas estúpidas, gastas e sexy.

Jag antecipou minha reação e se moveu. Ele foi rápido demais para
eu ter qualquer chance real de escapar. Uma grande mão enrolou no meu
braço e me puxou de volta contra seu peito quente. Minha bunda
pressionou diretamente na virilha de Jag e eu fechei meus olhos enquanto
meu corpo me traiu, tremendo, coração acelerado, minha pele,
literalmente, cheia de energia elétrica. Apesar de querer bater nele, minhas
reações estúpidas significavam que eu ainda desejava o homem
fisicamente.

Por mais difícil que fosse, eu abri meus olhos e tentei retomar o
controle, fazendo-me afastar do meu mais novo vício, um homem que só
poderia ser pior para mim do que a heroína que tomou conta da minha
vida e me trouxe para o mais baixo dos baixos.

— Não.
Eu puxei meu braço para fora do aperto de Jag e girei para encará-
lo, pronta para desencadear uma torrente de palavrões.

Eu não deveria ter me virado.

Jag era lindo. Isso era notícia velha. Seu corpo era perfeito, mas eu
também sabia disso. O que eu não esperava era o olhar aquecido, vigoroso
em seus olhos encapuçados, ou ver seu rosto recém-barbeado e queixo
enrubescidos com desejo. Sem a barba áspera, Jag parecia anos mais
jovem. Tanto que eu posso ter superestimado sua idade por quase uma
década.

Jag era bonito antes. Agora? Ele estava positivamente


impressionante. Debaixo de sua camiseta de manga comprida que
abraçava seu corpo, o peito largo de Jag se moveu para cima e para baixo
com cada respiração. Sua língua empurrou para fora da boca para deslizar
através de seus lábios e eu não pude evitar. Meus olhos se concentraram
em sua língua rosa aveludada, imaginando as coisas pecaminosas que
poderia fazer para o meu corpo. Meus mamilos endureceram e minhas
coxas cerraram com a dolorida necessidade de ser tomada por este
homem. Preenchida, esticada e penetrada. Duro, quente e confuso.

Eu balancei a cabeça e pisquei para o meu desejo, mas minha mente


ainda estava presa em algum lugar na minha fantasia, imaginando Jag
arrastando aquela língua perversa até meu estômago e entre as minhas
pernas. A próxima coisa que eu sabia, eu abri minha boca e em vez de
dizer para Jag sair, meu cérebro gaguejou e enguiçou com a pura
gostosura de Jag e minha fantasia, e eu soltei a primeira coisa que poderia
pensar que não envolvesse arrancando as roupas dele.

— Você raspou sua barba.

Se eu soava estúpida, Jag não transpareceu ou comentou.

— Sim. Eu fiz.

Sua voz era baixa e rouca. Ele deu um passo mais perto, cada
centímetro dele se movendo com fluidez, como um predador perseguindo
sua presa. O sangue pulsava em minhas veias como fogo líquido. Eu
estava queimando para ele de dentro para fora, meu corpo transformando
em cinzas debaixo da fachada.

— Por quê?
Jag deu outro passo e me encurralou contra a pia com nenhum
lugar para ir. Minhas mãos estavam tão escorregadias com o suor, que
quando tentei segurar na bancada, escorreguei na borda e antes que eu
percebesse, minhas pernas se dobraram e eu estava caindo. Mãos fortes se
estenderam e me pegaram antes que minha cabeça pudesse bater contra a
borda da pia de aço inox gigante.

— Jesus, Miri! Você precisa ter mais cuidado!

Jag parecia chateado, o que era besteira. Eu era a única que estava
chateada. Ele me abandonou. Ele me evitou. Mas, por alguma razão, eu
não poderia encontrar em mim a força para lutar contra seu aperto forte
em meu braço ou dizer-lhe sobre o quão magoada fiquei quando ele me
ignorou.

Jag envolveu-me apertado em seus braços, uma mão na minha


cabeça, pressionando minha bochecha contra seu peito, a outra no meio
das minhas costas. Com meu ouvido achatado na ampla superfície de seus
peitorais, fechei os olhos e ouvi o ritmo suave do seu coração. Ele estava
batendo rápido. Como o meu.

Jag é afetado por mim como eu sou por ele?

— Por que você fez a barba, Jag?

Minhas palavras foram abafadas contra sua camisa macia, mas eu


sabia que ele ouviu. Quando falei, sua respiração engatou e seu coração
bateu mais rápido.

Uma das mãos de Jag derivou mais baixo, acariciando gentilmente,


traçando a curva da minha espinha até a palma da mão descansar um
pouco acima da curva da minha bunda.

— Eu raspei para você – ele murmurou.

O estrondo profundo de sua voz contra a minha orelha enviou


vibrações prazerosas diretamente para a minha virilha.

— Para mim?

Inclinei a cabeça para trás a partir do conforto de seu abraço para


olhar para o homem complicado.

— Eu não entendo.
Os olhos de Jag brilharam com algo que eu não poderia entender até
que suas mãos se moveram para segurar meu rosto. Oh. Minha pulsação
pulou e eu engoli em seco. Era ternura. Preocupação. Desejo. Seus
polegares roçaram cada uma das minhas bochechas e os dedos curvaram
para abranger toda a minha nuca, tão longos que eles sobrepunham na
parte de trás. Eu sabia que estava por vir, mas isso aconteceu tão rápido,
não houve tempo para pensar, não há tempo para reagir. Quando Jag
baixou sua boca na minha, tudo o que eu podia fazer era afundar em seu
abraço, aceitar o que ele deu, saborear cada segundo deste momento.

O beijo começou lento, apenas macias escovadas doces, pele na pele.


Em seguida, os dedos de Jag apertaram contra a parte de trás da minha
cabeça, enfiando no meu cabelo e fazendo com que todo meu corpo
entrasse em erupção. Desejo pulsava quente e duro, o fogo lambendo
minhas veias, queimando com a necessidade irresistível de estar mais
próxima, para obter mais contato com a fonte deste prazer incrível.
Reunindo minha coragem, eu envolvi minhas mãos em volta da cintura de
Jag e segui em frente até que nossos corpos estavam fundidos do peito à
virilha.

Depois de alguns minutos, eu afastei minha boca, procurando por


ar. O cheiro do perfume de Jag encheu meu nariz e fez meu desejo subir
rapidamente para que eu pudesse morrer se eu não tivesse mais agora,
porra.

Meu cérebro estava mexido e a dor constante entre as minhas coxas


tornou quase impossível pensar, muito menos falar, mas de alguma forma
eu consegui.

— O-o que você quer dizer que você raspou para mim?

Jag baixou os lábios para o meu pescoço enquanto ele lambia para
cima e para baixo a carne sensível. Eu tremi quando seu hálito quente
varreu a pele úmida deixada no caminho da sua boca talentosa.

Sem responder, Jag trouxe seu rosto de volta para o meu, devorando
a minha boca numa confusão de beijo faminto profundo. Nós dois
gememos quando ele assumiu o controle, mergulhando sua língua para
saborear cada superfície única da minha boca. Nunca na minha vida tinha
sido tão dominada por um beijo. Jag parou para recuperar o fôlego, nossos
lábios perto o suficiente para se tocarem. Eu deslizei meus braços em seus
lados para colocar minhas palmas das mãos contra o seu incrível peito. A
rápida batida de seu coração debaixo de minhas mãos falou muito.

— Você tem o cabelo vermelho e a mais bela pele cremosa que eu já


vi.

Para enfatizar seu ponto, Jag colocou um dedo na minha boca e


varreu lentamente em meus lábios e desceu pelo meu queixo, então enfiou
a mão no meu cabelo, deixando as mechas longas caírem por seus dedos.

— Imaginei minha barba machucando você e deixando sua pele


sensível.

Eu afastei minha cabeça com a sua admissão. Ele estava falando


sério? O homem tinha me considerado o suficiente para levar em conta um
machucado de barba? Mais importante, se Jag tinha raspado para mim,
isso significava que ele planejou este encontro. Que ele veio para a
garagem especificamente para me beijar. Mas por que agora, depois de ter
me evitado por vários dias?

— Então você...

Eu me atrapalhei sobre minhas palavras, piscando em confusão


enquanto Jag continuou a manter-me perto, aquelas íris azuis
impressionantes passando rapidamente entre a minha boca e meus olhos,
me devorando com uma intensidade que eu nunca tinha experimentado
antes.

— Você... Você planejou isso? Pensou em me beijar?

Um leve rubor manchou suas bochechas, mas ele nunca desviou o


olhar.

— Mas... Mas você não falou comigo em dias. Eu pensei... Quer


dizer...

Jag me cortou escovando seus lábios nos meus.

— Sinto muito, Miri. Eu não deveria estar aqui. Eu tentei fazer a


coisa certa, mas eu não poderia ficar longe por mais tempo.

Jag rosnou, sua boca puxada em uma carranca.

Ele deixou cair às mãos, se afastando do nosso abraço, e virou as


costas para mim. Eu quase chorei com a perda de seu calor, seu cheiro,
seu abraço reconfortante, e levou uma incrível quantidade de força de
vontade para evitar segurá-lo pelos ombros, me agarrando a eles, qualquer
coisa para evitar Jag de se afastar. Sua cabeça pendeu e ele esfregou a
mão na parte de trás do seu pescoço. Os músculos em sua coluna e
ombros estavam visivelmente tensos sob a camisa.

Depois de um momento estranho de silêncio, o grande, bonito,


assustador, o fodido senhor da droga, virou-se para mim e passou a mão
pelo rosto. Desta vez, notei seus olhos brilhantes eram maçantes,
exaustos, e cheios de culpa. Com uma bufada alta, Jag soltou uma risada
sem humor.

— Eu estava evitando você, boneca. Para o seu bem. No entanto,


aqui estou eu, apesar do que eu sei que é o melhor. Você verá que eu sou
um homem muito egoísta e não tão bom em negar algo a mim mesmo.
Especialmente algo que eu quero, tanto quanto eu quero você. Na verdade.

A expressão de Jag alterou, a dor indo para a luxúria, se expandindo


enquanto seu olhar passou pelo meu corpo.

— Eu nunca quis nada tanto quanto quero você, Miri.

Esta não foi a primeira vez que sotaque do Texas do Jag saiu. Notei
que era mais evidente quando ele estava perdendo o seu firme controle ou
ele estava simplesmente relaxado o suficiente para não se importar.

Ele grunhiu e sua cabeça caiu para trás para que ele pudesse olhar
para o teto. Paralisada onde ele me deixou contra a pia, eu assisti a suave
ondulação da garganta bronzeada de Jag enquanto ele engoliu várias
vezes. Meus olhos caíram para suas mãos, ásperas e cheias de cicatrizes,
cerradas ao lado do corpo, as veias e tendões em seu pescoço salientes. O
homem estava claramente lutando com alguma coisa. Eu só não sabia o
que era ou como ajudar.

Quando Jag finalmente levantou a cabeça, ele apertou os lábios e


deu um passo longo para frente, colocando-lhe a um milímetro de
distância. Tão malditamente perto, mas ainda me negando o prazer de seu
toque. Eu ansiava para fechar a distância, para ter seu corpo contra o
meu, para ser cercada pelo cheiro e calor de Jag, e a segurança de seus
braços. Mas eu precisava dele para tomar a decisão, para ter certeza de
que ele queria. Eu não poderia ser sugada por seus encantos só para me
machucar novamente.
Sem dúvida, Jag era um homem confuso e um pouco assustador. No
entanto, nos meus olhos, Jag representa lar. Não pedindo nada em troca,
ele me deu um teto sobre minha cabeça e colocou comida na minha
barriga. Jag me protegeu de outros homens, indo tão longe ao ponto de
ameaçar seus próprios empregados, provavelmente tendo um morto por
tentar me estuprar.

Apesar dessas primeiras noites terríveis, Jag me fez sentir


confortável em sua enorme mansão, e me permitiu tratá-la como minha.
Em algum lugar durante a minha estadia, essa sensação de conforto foi
transferida da casa para o próprio homem. A casa não me curou, Jag fez.
Eu lhe devia muito. Meu peito apertou e meus olhos ardiam pela onda de
gratidão.

Jag abaixou seu queixo até que nossos olhos se encontraram, azul
cobalto e verde esmeralda. Mesmo que minha visão estava embaçada com
lágrimas, eu podia ver o que ele escondia atrás da luxúria crua. Jag talvez
nunca admitisse, mas ele se importava.

Mãos enormes envolveram em torno dos meus braços. A pele áspera


nas palmas das mãos rasparam ao longo dos meus braços, enviando uma
onda de arrepios aos meus ombros e em toda a curva do meu pescoço.

— Eu não sou bom para você, boneca. Eu provei isso pela forma
como tratei você. Além disso, você deve ter medo de mim. Você deve me
odiar. — A voz de Jag era grossa sexy, rouca e profunda. Seu olhar intenso
sacudiu indo e voltando entre meus olhos e boca.

— Eu não tenho medo de você. — Minha resposta, tão ingênua


quanto ela pode ser, foi imediata e absolutamente verdadeira. — E eu não
odeio você. Você me tratou melhor do que qualquer um na minha vida.
Você me deu comida, cama, roupas, você não me bateu ou me usou... Você
me salvou.

Jag aproximou as palmas das mãos espremendo meus quadris,


dedos fortes cavando em minha carne. Um puxão rápido e ele me
empurrou para frente. Jag aterrou seu pau duro em meu abdômen,
empurrando uma coxa grossa e poderosa entre as minhas pernas, e
colocou uma certa gloriosa pressão onde eu mais precisava. Eu engasguei
com o movimento inesperado, meu pulso vacilou juntamente com a minha
força de vontade. Jag inclinou-se para baixo até que nossos lábios se
tocaram.
— Diga-me você quer isso, boneca. Você tem uma escolha. Eu quero
tomar você, ter você, fazer você gritar que é minha. Mas se você disser não,
eu vou sair agora.

Fechei os olhos, respirei seu cheiro, e sabia que apesar do que Jag
disse, eu realmente não tinha escolha. Eu queria este homem desde o
momento em que o vi no chuveiro naquela primeira noite, todo alto,
sombrio e ameaçador, a água correndo sobre a detalhada tatuagem de
rosa sobre o seu coração, descendo pelas dobras do abdômen,
desaparecendo no cós da sua apertada cueca preta.

— Eu quero isso. Eu quero você. Mas... Eu estou arruinada, Jag.

Eu engoli meu orgulho e segurei seu braço, freneticamente piscando


para conter as lágrimas.

Os olhos de Jag se alargaram por um breve momento antes de


minhas palavras fazerem sentido. Ele levou rapidamente um dedo calejado
para baixo na pele sensível do meu braço interno, sobre as múltiplas
marcas de faixa e enrugada, com cicatrizes leves.

— Eles fizeram você ser quem é, Miri. A partir da sua fraqueza, o seu
vício, você vai provar que você pode sair disso e levantar-se, tornando-se
uma versão melhor, mais forte de si mesma. Você é impressionante. Você é
perfeita. Nós todos temos nossos defeitos e imperfeições, boneca.

Jag levantou meu braço para sua boca e beijou cada marca
vermelha feia, arrastando os lábios pelo meu braço, seu hálito quente
enviando uma onda de arrepios de volta.

Engasguei com um soluço quando Jag repetiu o gesto no meu outro


braço. Suas palavras eram exatamente o que eu precisava ouvir, mesmo se
eu não pudesse acreditar nelas.

Jag se endireitou e encontrou meus olhos. Eu peguei um breve


vislumbre das brasas incandescentes por trás das lindas íris azuis antes
daqueles lábios pecaminosos caírem sobre os meus. Minhas mãos voaram
para seu pescoço e puxei-o ainda mais para baixo. Eu queria ele tão perto
que eu desejei poder escalar dentro de seu corpo para que ele não pudesse
afastar-se de mim nunca mais. Mas da forma como Jag me segurou e a
força por trás de seu beijo, eu sabia que ele não tinha intenção de parar.
Eu não poderia dizer se eu estava emocionada ou completamente
petrificada.

Talvez ambos.

Jag

Minha força de vontade estalou. Desintegrou-se à poeira e dispersou


no ar, deixando-me à mercê de uma pequena, resoluta, ruiva. Aquela que
invadiu a minha vida sem ser convidada, e de alguma forma explodiu seu
caminho através dos meus muros de proteção apenas para montar um
acampamento na minha cabeça obsessiva vinte e quatro horas por dia.
Miri era tudo o que eu pensava, dia ou noite, dormindo ou acordado, não
importa o que estava acontecendo ou exigindo a minha atenção. Ela estava
sempre na minha mente, na frente e no centro. Meu TOC encontrou sua
mais nova fixação, completo de desejo, eu duvidava que conseguisse
controlar.

Agora eu tinha a sua frente e no centro, literalmente, e eu não era


forte o suficiente para afastá-la desta vez.

Miri derreteu contra mim quando eu reivindiquei sua boca. Foi


melhor do que eu imaginava. Seu sabor era tão doce, tão perfeito, eu
nunca quis parar. Eu ansiosamente devorei cada um dos pequenos ruídos
que ela fez, atraindo-os para o meu corpo para torná-los uma parte
permanente de mim. A espessura do meu jeans irritou meu pau rígido,
mas não havia nenhuma maneira no inferno que eu ia parar de empurrar
contra o corpo macio e quente de Miri. Em troca, ela aterrou sua boceta
em minha coxa, o intenso calor de seu desejo queimou minha pele através
do tecido grosso. As unhas de Miri cavando em meu pescoço e nossos
corpos se contorcendo em um.

— Foda-se.

Eu afastei minha boca, não querendo parar, mas forçado apenas


para recuperar o fôlego. Além disso, eu precisava desacelerar antes de
explodir em minhas calças como uma porra de uma criança. Os lábios de
Miri estavam vermelhos e inchados, seus olhos verdes escuros sob as
pálpebras pesadas. Corri meu polegar sobre a pele pálida em torno de sua
boca.

— Veja, sem a barba não arruíno a sua pele cremosa perfeita.

Não que eu não queria marcar Miri de alguma forma. Eu fiz, e eu o


faria. Foda-se, sim, eu faria. Mas não em seu rosto. Seu rosto era delicado
demais, perfeito demais para arruinar arranhando-o com uma barba eu
não conseguia nem ficar de pé.

— Eu não teria me preocupado com a barba.

Ela murmurou, balançando em seus pés, bêbada de luxúria.

— Jesus, Miri. Você é sexy assim tão... Tudo sobre você me deixa
louco. Você acha que está em ruínas? É você quem vai me arruinar.

Desesperado por contato pele com pele cheguei por trás do meu
pescoço, puxei a minha camisa e joguei-a no chão. O olhar de Miri caiu
para estudar as bainhas pretas em ambos os pulsos. Ela arregalou os
olhos, mas ela não disse uma palavra. Miri estendeu a mão, as pupilas
dilatadas e passou as mãos sobre o meu peito e abdômen, concentrando a
atenção extra sobre a tatuagem rosa por cima do meu coração.
Normalmente, eu adoraria deixar Miri explorar cada polegada de minha
pele e os músculos que trabalhei tão duro para manter, mas não hoje.
Hoje, eu precisava sentir seu calor escorregadio enrolado no meu pau.
Agora, porra. Eu cheguei entre nós e abri o botão da calça jeans, puxando
para baixo o zíper e bruscamente empurrei suas calça e calcinha até os
joelhos.

Miri gritou quando eu segurei sua cintura fina e facilmente a


coloquei em cima do balcão ao lado da pia.

Deus, assim como a minha fantasia. Meu pau latejava com o


pensamento de viver os meus desejos mais profundos.

— Frio.

Miri deslocou sobre a superfície sólida da bancada de aço inoxidável.

Eu pisquei, sorrindo maliciosamente.

— Não por muito tempo, boneca. Estou prestes a fazê-la explodir em


chamas.
Agarrando a bainha, eu puxei sua calça jeans por seus tornozelos, e
os joguei no chão com minha camisa. Enquanto eu cavei um preservativo
fora da minha carteira e empurrei as minhas calças para baixo, Miri puxou
sua blusa por cima da cabeça. Eu congelei, com o pacote de alumínio na
mão, hipnotizado. Os seios pálidos de Miri eram pequenos, mas cheios, os
mamilos atrevidos em um lindo rosa pálido. Ela tinha ganhado peso desde
que a vi nua no chuveiro mais de dois meses atrás. Suas costelas não
estavam salientes, seus seios eram mais pesados e seus quadris
perfeitamente arredondados. A visão me fez esquecer que eu estava
fazendo.

— Jag.

A súplica gutural de Miri me tirou do meu torpor e eu rolei o


preservativo no meu pau. A carne rígida era tão sensível que eu sibilei com
o toque da minha própria mão.

Miri estava sentada no balcão nua e esperando, as pernas abertas,


sua boceta rosa brilhante exposta. Meu pau pulsava em minha mão.
Lambi meus lábios, faminto por ela.

— Cristo, eu não posso esperar para estar enterrado profundamente


dentro de você.

Com minhas calças em torno de meus tornozelos, agarrei Miri pelos


quadris. Ela gritou quando a puxei para a borda da bancada, sua bunda
pendurada no ar pela metade. Miri agarrou meus ombros e gemeu.
Qualquer capacidade de tomar meu tempo e fazer isso durar deixou o
prédio no minuto que Miri disse que sim. Com meu pau mais duro do que
aço, coloquei-me entre as pernas dela e dei-lhe um beijo de punição
rápido.

— Miri, isto será duro e rápido.

Ela assentiu. Ela se contorcendo constantemente e ofegando


enquanto arranhava a minha pele, me deixando louco enquanto eu tomei
uma posição, usando os joelhos para espalhar ainda mais as suas pernas.
Com uma palma aberta sobre a carne macia de sua coxa, eu usei a minha
mão livre para alinhar meu pau o empurrando dentro de seu calor
apertado.

— Puta merda.
Eu tremi da cabeça aos pés, a sensação tão intensa que eu me
curvei sobre Miri para afastar o instinto de bater rápido e duro até que eu
gozasse. Cada tendão do meu corpo ficou tenso e meus olhos rolaram em
minha cabeça. Eu gemi enquanto continuei a empurrar para frente até que
a cabeça do meu pau estava fundo na apertada e molhada boceta de Miri.

— Jag, ohmeudeus.

Amaldiçoei em como era incrível o calor e a arrepiante sensação do


corpo de Miri apertado ao redor do meu pau.

— Droga, Miri.

Minha testa caiu para seu ombro e eu segurei perfeitamente imóvel,


mesmo à beira de perder o controle. Eu estava com medo de que ia
explodir se eu me mexesse uma polegada. Com os dentes cerrados, eu
assobiei, segurando a base do meu pau para evitar de gozar ali mesmo.

— Você é tão apertada, boneca.

— Jag.

Sua voz era uma súplica desesperada.

— Eu preciso que você se mova... Eu não posso...

As unhas de Miri cavaram minhas costas e arranharam tão forte que


eu tinha certeza de que ela tirou sangue.

— Por favor!

— Droga. Foda-se, boneca. Você vai me matar.

Uma vez que o meu orgasmo iminente diminuiu o suficiente para


que eu não estivesse com medo de que gozaria depois de duas bombadas,
eu respirei fundo e olhei para seus olhos selvagens brilhando.

— Deus, Miri, você se saiu muito melhor do que eu imaginava.

Eu agarrei seus quadris e nossas bocas se chocaram em uma


confusão gananciosa, desleixada quando eu retirei até a ponta e empurrei
para frente. O corpo de Miri balançou a partir da força. Apertei meu aperto
para manter o ritmo duro e colocá-la de volta na bancada. Se eu não
tivesse cuidado, ela poderia bater a cabeça nos armários superiores.
Miri gritou seu prazer dentro da minha boca e um grunhido
primitivo saiu da minha garganta enquanto eu repetia a ação, puxando
para trás e batendo nela, brutal e totalmente reclamando-a como minha.
Meus dedos cavaram em seus quadris com força suficiente para
machucar, e eu lutava para mantê-la imóvel quando eu empurrei nela
mais e mais, enquanto ela se contorcia e se debatia no meu pau. Pele
batendo contra a pele, os sons ecoando nas paredes de cimento da
garagem enorme. O cheiro de graxa do motor, a gasolina, sexo e Miri
encheram minhas narinas, uma mistura inebriante que tinha a minha
mente girando. Eu pensei que amava a minha garagem antes, mas depois
disso, eu provavelmente iria ficar duro e teria que me masturbar cada vez
que entrasse aqui.

— Jag...

A voz de Miri rachou cada uma de suas respirações ficando mais


rápida do que o anterior. Pequenos dedos agarraram meus ombros e
seguraram apertado e seus olhos vibraram fechados. Miri caindo aos
pedaços era uma visão que eu nunca iria esquecer. Pedaços de meu
coração começaram a bater novamente, piscando de volta à vida depois de
anos de um nada além de sombrio.

Impulsionado por essas novas emoções, eu dobrei meus joelhos


ligeiramente e enganchei as pernas de Miri sobre meus braços, mudando o
ângulo quando investi dentro dela, não abrandando o meu ritmo
implacável. Por alguma razão eu precisava que ela viesse, gritasse meu
nome e admitisse que ela era minha. Miri engasgou em voz alta, sua
cabeça caiu para trás e eu sabia que ela estava quase lá. Um familiar
formigamento começou na base da minha espinha. Sua vagina era assim
tão perfeita. O formigamento se transformou em faíscas, que cresceu
rapidamente em um fogo ardente de êxtase. Um calor atingiu minhas
bolas, apertando-as enquanto Miri gritou e começou a convulsionar.

Com um rugido, eu soltei a minha carga e sua vagina se contraiu,


apertando meu pau tão forte que era quase doloroso. Xingando, eu
bombeei jorro após jorro da minha libertação dentro da camisinha. No meu
impulso final, a boceta de Miri apertou com tanta força em volta do meu
pau, que eu gritei o nome dela enquanto a pressão rasgou uma última
explosão alucinante de porra das minhas bolas sensíveis. Eu gritei em
êxtase e afundei os dentes em seu ombro, mordendo a carne macia com o
orgasmo mais incrivelmente foda da minha vida que explodiu minha
maldita cabeça, deixando-me tremendo através dos tremores secundários.

— Puta merda.

Eu ofegava, o suor escorrendo da minha testa.

Miri se inclinou para trás em seus cotovelos, sua única resposta foi
um gemido fraco. Afastei-me e meu pau consumido saiu do seu calor.
Antes de cuidar de Miri, peguei uma toalha de papel e tirei o preservativo.
Impedido por minha calça jeans, eu os puxei até a minha cintura e fechei o
zíper, mas deixei o botão desfeito.

Eu dei uma boa olhada em Miri e ri, passando minhas mãos pelo
meu cabelo suado.

— Você está destruída, boneca.

Ela estava caída contra os armários superiores, pernas afastadas,


sua linda boceta bem fodida em plena exibição.

Olhos fechados, o corpo mole e saciado, ficou claro que Miri não
estava se movendo tão cedo sem ajuda. Não havia nenhuma maneira do
caralho que eu tomaria a chance de que Frank ou qualquer outra pessoa
entrasse e a visse toda fodida como estava. O pensamento enviou uma
explosão de raiva que mim. Eu mataria alguém.

Divertido, eu levantei suas calças do chão e coloquei uma perna de


cada vez. Ainda meio fora, eu ajudei Miri a ficar em pé e subi seu jeans
pelos seus quadris, fechando e abotoando o zíper. Em seguida, eu coloquei
sua blusa e uma vez que ela estava um pouco apresentável, eu dei um
beijo rápido em seus lábios inchados.

Quando Miri não respondeu com mais de um piscar lento, eu


estudei seu rosto de perto, procurando qualquer sinal de arrependimento
ou que eu possivelmente a tinha machucado.

— Você está bem?

Miri elevou o queixo e um sorriso preguiçoso se espalhou através de


seu belo rosto esgotado pelo sexo.

— Eu estou fantástica. Quando podemos fazer isso de novo?


Eu sorri de volta, determinado a colocar esse olhar em seu rosto
novamente o mais rápido possível.

— Logo, boneca. Muito em breve.

— O homem com quem falei disse que El Cuchillo está disposto a se


encontrar com você, Boss. Só você. Disse que você pode trazer um cara, ele
iria trazer um cara. Não serão permitidas armas. Ele quer te encontrar em
um local neutro.

Andei meu escritório e deixe as palavras de Milo afundarem, minha


mente rapidamente procurando as diferentes opções.

— Quando?

— Ele disse que você poderia escolher o dia e Cuchillo estaria lá.
Tenho que dizer, eu não gosto, Boss. Aquele filho da puta tem algo na
manga, eu sei disso.

Eu parei de andar para pegar um pedaço de fiapo de minha manga,


franzindo a testa para ele antes de olhar para o meu tenente. Milo estava
parado do outro lado da sala. Assim como eu, ele estava muito tenso para
sentar. A expressão de Milo estava apertada e sua postura rígida.
Provavelmente porque na última vez que estive aqui eu coloquei uma faca
em seu pescoço. Isso ou ele estava seriamente preocupado com esse
imbecil do El Cuchillo nos apunhalando pelas costas, literal e
figurativamente.

Eu entendi que Milo hesitasse sobre esta reunião, mas precisava


acontecer. Eu me recusava a entrar cegamente numa guerra sem ao
menos tentar uma discussão ou tentar descobrir o que o idiota sorrateiro
estava planejando.

— Diga ao homem dele que podemos nos encontrar no Terrace Club


esta noite às nove. Eu quero fazer isso imediatamente. Não lhes dando
qualquer momento para nos irritar ou planejar uma emboscada. O clube
estará lotado e o layout irá tornar mais difícil para ele nos surpreender ou
esconder em qualquer lugar, além de nós conhecermos o proprietário. O
estacionamento é bem iluminado e há um estacionamento com suporte na
porta da frente. Cuchillo não vai puxar qualquer coisa em um lugar
público. Ele é um bastardo impulsivo e um idiota faminto de poder, mas
ele não é estúpido e não deve ser subestimado.

— Eu vou marcar, Boss. Se for o que você acha que é melhor.

— Eu acho.

Eu cortei qualquer objeção que Milo poderia ter antes que ele
pudesse expressar isso. Eu estava extremamente doente e cansado de Milo
esquecendo o seu lugar na minha organização e não queria ter uma
repetição do outro dia para refrescar sua memória. Já tinha sido
derramado sangue suficiente e com uma possível guerra iminente, tinha
certeza de que mais seria derramado antes que terminasse.

Eu esfreguei minha testa e olhei pela janela traseira. Era quase


crepúsculo, os exuberantes jardins nada mais do que sombras flutuando
em luz fraca.

Jesus. Sombras flutuando do caralho?

Miri estava me deixando suave. Antes dela chegar, eu já teria


dispensado Milo sem dar-lhe um segundo pensamento. Sua
insubordinação constante, desafiando tudo o que eu disse e cada ordem
que eu dei, foi imperdoável. E não havia nenhuma maneira de que eu
estaria olhando para algumas flores fodidas com um sorriso estúpido no
meu rosto. Eu estaria cercado por meus homens, traçando a melhor
maneira de eliminar os meus vizinhos em San Antonio.

Quando percebi que Milo tinha se movido e estava atrás de mim, me


virei e lancei um olhar, com uma sobrancelha levantada. Eu estava
determinado a provar que eu não era fraco. Se isso significava voltar a ser
o Boss implacável que eu tinha sido antes Miri aparecer na minha vida,
então que assim seja. Miri ou não, esse lado meu nunca foi muito longe.

— Por que diabos você está parado aí, Milo? Caia fora e vá configurar
a porra da reunião.

Milo se irritou, mas deixou o escritório sem argumento. Obrigado


porra. Talvez ele tivesse parado com toda a sua besteira de rebeldia. Ele
era o melhor homem em minha organização, de longe, e o filho da puta
mais sangue frio que eu já conheci. Milo seria fundamental para ganhar
qualquer guerra que poderia começar entre o meu regime e Los Guerreros.
Além disso, seria uma dor na bunda substituí-lo por alguém com a mesma
habilidade tão tarde no jogo. Se nós formos para a guerra, eu decidi que
iria me livrar de Milo quando acabasse. Ele tinha atravessado muitas
linhas e tinha que ir.

Servi-me um uísque e bebi em dois goles, agitado pela minha


incapacidade de me concentrar. Eu desprezava toda essa besteira—
negociação, ameaças e guerras territoriais iminentes. Cuidar das suas
costas o tempo todo e tendo de colocar olhos extras e ouvidos nas ruas era
um maldito pesadelo. Com certeza homens iriam morrer se eu não
pudesse trabalhar em algo com El Cuchillo.

Maldição, em vinte e oito anos eu já era velho demais para essa


merda, ou muito cansado, ou talvez apenas cansado de todo o negócio da
droga ilegal. Mas nada dessa merda importava. Agora, eu tinha que estar
no topo do meu jogo. Qualquer fraqueza ou hesitação com certeza seria
explorada pelo meu inimigo e usada para me derrubar. Eu não podia dar
ao luxo de me acovardar só porque eu não queria ir para a guerra ou
preferia ficar com alguém. Não, esta noite eu precisava lembrar El Cuchillo
que ele deveria ser grato por eu não acabar com sua pequena operação
anos atrás, não porra começando merda comigo.

A raiva familiar surgiu no meu interior. Ninguém me dizia o que


fazer. Eu era o dono dessa porra de cidade. Eu bati o copo vazio e subi as
escadas para ficar pronto. Aparentemente, eu estava indo ao clube esta
noite.
Boss

No chuveiro, minha mente voltou para Miri. Se eu pudesse resolver


essa reunião cedo o suficiente, talvez eu pudesse escorregar no quarto de
Miri, subir sob os lençóis e acordá-la lambendo sua boceta doce. Ao
contrário da garagem, desta vez, teria uma cama e eu seria capaz de tomar
meu tempo, explorar cada curva deliciosa, sentir o gosto de cada polegada
de pele macia e sardenta com a minha língua. Meu pau começou a
recuperar-se, mas não houve tempo suficiente para me masturbar. Com
um suspiro, eu virei a água fria e estremeci até o meu tesão murchar.

Vestido com minhas roupas para um clube—calça preta justa e um


ajustado suéter de cashmere escuro sobre uma fina camiseta—verifiquei
meu reflexo. A camiseta não era tão apertada para mostrar o contorno das
minhas bainhas, mas a manga estava solta o suficiente para obter as facas
se necessário. Com o meu cabelo penteado para trás e a barba feita, eu
parecia errado, muito jovem, muito amigável, não... Assustador o
suficiente. Felizmente, El Cuchillo não esqueceu a minha reputação com
base na minha aparência jovem. Cruzar o meu caminho seria um erro que
ele não viveria o suficiente para repetir. Tomei esta cidade com vinte e três
anos de idade. Idade não significava nada, contanto que você tivesse a
coragem de fazer o que precisava ser feito.

No momento em que eu sai, Milo estava esperando na calçada.


Frank tinha o carro pronto, porta aberta. Eu empurrei meu queixo para
cumprimentá-los e entrei. Milo seguiu, seu tamanho combinado com o
meu ocupou todo o banco de trás. O caminho foi em silêncio enquanto
contemplava a reunião. Milo me deu o tempo que eu precisava para
organizar meus pensamentos. Logo antes que chegar ao clube, eu
finalmente falei.

— Cuchillo não está recebendo o melhor de nós esta noite. Recuso-


me a parecer fraco ou permitir que ele pense que pode nos intimidar.
Milo assentiu, suas maciças mãos marcadas dobradas entre as
pernas.

— Não fale a menos que eu peça. Seu trabalho é se parecer com o


filho da puta assustador que você é, o meu é para negociar.

— Entendi, Boss.

A boca de Milo puxou em um sorriso sádico, satisfeito com o retorno


do chefe, o impiedoso traficante implacável.

— Bom.

O carro parou em frente ao clube e saltamos para fora quando o


manobrista abriu a nossa porta. Fiquei reto e projetei um ar de confiança e
intimidação. Jag tinha ido embora. Boss estava irritado e pronto para uma
luta.

— Vamos lembrar esse idiota porque nós somos os donos desta


cidade.

Milo soltou uma risada baixa e caminhou ao meu lado quando


entramos no clube.

É hora da porra do show.

Miri

Calor desfraldado entre as minhas coxas, começando como uma


pequena fervura que rapidamente acendeu em uma intensa chama pelo
meu corpo inteiro. Eu me contorci no colchão e tentei me puxar a partir do
sonho vívido. Quando eu pisquei os olhos abertos, o quarto estava
sombreado na escuridão ainda que o incrível prazer continuou, embora eu
soubesse que eu estava acordada. Minhas costas arquearam para fora da
cama e um grito rasgou da minha garganta. Um baixo gemido vibrou
contra minha buceta e eu sabia que isso não era um sonho. Eu puxei o
lençol para encontrar Jag, nu e deitado de bruços entre as minhas pernas,
a boca fechada sobre a meu clitóris. Seus olhos brilhavam no escuro e
encontraram os meus no segundo exato em que ele enfiou dois dedos
dentro de mim. Tremores atiraram de cima a baixo na minha espinha e
meus quadris empurraram para fora da cama.

— Meu Deus. Jag. O-o que...

Eu tinha certeza que deveria estar com raiva de Jag por ter vindo ao
meu quarto sem ser convidado e me tocar enquanto eu dormia, mas sua
boca estava tão incrível que eu não me importava. Tudo que eu queria era
mais. Minhas mãos encontraram seu caminho em seu cabelo espesso e
escuro. Ele gemeu novamente quando cavei meus dedos em seu couro
cabeludo e levemente puxei os fios. Jag inseriu um terceiro dedo em mim e
enrolou-os para frente, esfregando contra a parede frontal sensível do meu
núcleo. Incapaz de controlar o meu corpo, eu apertei meus punhos em seu
cabelo e cavei meus calcanhares no colchão para que eu pudesse moer
minha pélvis para o rosto dele. Um raio de eletricidade explodiu e luzes
brilhantes explodiram atrás dos meus olhos quando eu gozei, gritando. Jag
continuou com o dedo através do êxtase até que eu desci do orgasmo mais
intenso da minha vida.

Jag lambeu e mordiscou meu clitóris, trabalhando seus dedos até


que eu estava tão sensível que pensei que eu ia desmaiar.

— Pare, por favor.

Eu fracamente bati em sua mão. Jag riu, passando a língua pela


inchada carne uma última vez. Meus quadris empurraram por conta
própria.

— Jag!

Eu desenrolei os dedos de seu cabelo e os meus braços caíram mole


em meus lados. Derretendo na cama, minha pele lisa com suor, eu levei
um minuto para recuperar o fôlego. Enquanto eu ofegava, Jag se arrastou
até o meu corpo e apoiou os cotovelos em ambos os lados da minha
cabeça. Ele abaixou sua boca para a minha e me deu um beijo profundo e
apaixonado. O gosto da minha excitação em seus lábios era tão sexy que
meu corpo se arqueou para fora da cama, buscando mais contato com o
dele. Jag ficou pairando acima de mim, fora de alcance enquanto
continuava a provocar com beijos leves e pequenos beliscões na minha
boca. Frustrada e dolorida para ser preenchida, eu envolvi minhas pernas
em volta de sua cintura e puxei-o para baixo, nossos corpos se tocando do
peito até a virilha. Jag rosnou em minha boca quando seu pau grosso
esfregou contra a minha fenda escorregadia e sensível.

— Mais, Jag. Eu preciso de você dentro de mim.

Eu sussurrei contra seus lábios, sentindo-me vazia e desesperada


para ser fodida.

Jag balançou os quadris, seu comprimento duro deslizando para


trás e para frente através do calor molhado. Tentei angular minha pélvis
assim seu pênis iria escorregar para dentro, mas o bastardo sabia o que eu
estava tentando fazer e continuou a me provocar, puxando para trás
sempre que eu o tinha onde eu queria. Jag usou fricção suficiente para
manter-me na borda, ao mesmo tempo deixando-me sem preenchimento e
necessitada. Jag baixou a cabeça, lambeu e chupou seu caminho no meu
pescoço, parando a língua sobre a marca da mordida vermelha irritada que
ele fez quando me fodeu na garagem hoje. Ou foi ontem?

— É tão gostoso ver a minha marca em você.

A voz de Jag era baixa e rouca e o som disso enviou tremores


diretamente para o meu núcleo dolorido.

— Jag...

Eu estava me contorcendo na cama em desespero.

— Eu preciso de você dentro de mim. Eu preciso...

Ele chupou um mamilo pontudo em sua boca e meus olhos rolaram


em minha cabeça.

— Eu quero provar tudo de você, boneca.

Jag escovou seu nariz sobre os bicos sensíveis antes de morder.

— Foda-se!

Meus quadris tentaram sair da cama de novo, mas a parte inferior


do corpo do Jag me prendeu. Eu gemi de frustração, incapaz de me mover
o suficiente para esfregar contra ele onde eu mais precisava.

— Deus, Jag... Apenas... oh!

Ele mudou para o outro seio e sugou o mamilo em sua boca quente,
lambendo e mordendo até que eu não poderia dizer nada mais do que uma
série de disparates confusos. Depois de uma eternidade de prazer
torturante, Jag soltou a carne inchada e voltou a pairar sobre mim, cara a
cara, olho no olho.

— Você é tão malditamente sexy, Miri. Eu quero chupar e lamber


cada pedaço de você. Esfregar meu corpo todo no seu até você estar
coberta com o meu cheiro. Marcar a sua pele para que qualquer outro
homem saiba que você pertence a mim. Fodê-la tão forte, que você sentirá
o meu pau por dias e nunca se esquecerá de que você é minha.

Olhei para este homem bonito, muda. Sua? Eu era dele? Uma foda
em uma garagem não me fez seu nada. Mas o cuidado que ele tinha dado
livremente — uma casa, uma cama, roupas, drogas, alimentos, proteção...
Tudo isso tornou minha resposta fácil.

— Eu quero isso. Ser sua.

— Porra, boneca.

Sua boca caiu sobre a minha. A ternura se foi, substituída pela fome
voraz. Jag dominou minha boca com a dele, enfiando a língua
rispidamente, tomando o que ele queria o que precisava, e eu amei cada
segundo disso. Tendo este poderoso homem lindo e perigoso, tão
desesperado para me ter, me excitou como nada mais. Eu mexi embaixo
dele e levantei uma perna para embrulhar em torno de sua cintura
estreita. Jag engasgou quando a cabeça de seu pau deslizou em minha
entrada. Ele arrancou sua boca da minha e jogou a cabeça para trás. Os
tendões do seu pescoço se destacaram enquanto ele tencionava a partir do
esforço que levou para parar. Jag rangeu os dentes e fechou os olhos.

— Cristo, Miri. Deixe-me pegar um preservativo.

Ele abriu os olhos e encontrou o meu.

— Seu homem.

Eu ofegava, ainda tentando me mover e forçar mais em seu pênis.

— Ele tirou meu sangue para verificar... Por causa do uso de drogas.
Ele disse que eu não tinha nada.

— Sim, eu disse-lhe para fazê-lo. Eu estava preocupado com você.


Jag sussurrou, suas pupilas dilatadas.
— Eu não tenho nada aqui, mas...

— Eu confio em você. Eu quero isso.

Movi meus quadris novamente e tomei alguns centímetros do pau de


Jag.

— Quero sentir você completamente.

— Santo...

A cabeça de Jag caiu ao lado da minha, sua respiração quente


contra o meu pescoço.

— Eu nunca comi ninguém sem um preservativo, Miri. Eu não


posso... É... Oh Deus. Isso é muito bom pra caralho.

— Por favor, Jag. Eu preciso disso. Eu preciso de você.

Eu não tinha absolutamente nenhum indício porque eu precisava


que Jag me tomasse sem nada, mas eu queria... Desesperadamente. Talvez
porque isso significaria que ele me possuía completamente. Uma parte dele
estaria dentro de mim quando ele gozasse. Eu queria isso, eu precisava
disso, eu desejava mais do que qualquer dose de H que eu já tive.

— Jesus Cristo, você está me matando.

A voz de Jag era de dor, mas apesar de seu cérebro estar dizendo
para ele parar, seu corpo começou a se mover. Ele puxou os quadris para
trás e deslizou para frente em um curso longo e lento.

— Tão boa pra caralho, Miri.

Jag repetiu o movimento, recuando e empurrando dentro ainda mais


lento dessa vez. Para frente e para trás, dentro e fora, agonia e êxtase. Meu
corpo cantarolou com prazer, terminações nervosas preparadas e prontas
para disparar a qualquer momento. Mas Jag nunca mudou o seu ritmo,
não me fodeu forte o suficiente ou rápido o suficiente para me trazer além
da borda intensa e torturante que eu me agarrei.

— Mais.

Enfiei meu calcanhar em sua bunda firme e arranhei suas costas,


mas ele recusou parar a doce agonia.
— Eu não quero que isso chegue ao fim, boneca. É bom pra
caralho... Tão quente e apertada.

Ele sibilou e mostrou os dentes.

— É como se sua boceta fosse feita para caber o meu pau.

Suas palavras enviaram uma onda de prazer na minha espinha e eu


apertei forte em torno de seu pênis. O corpo inteiro de Jag empurrou
acima de mim.

— Maldição! Foda-se, Miri.

Ele empurrou de joelhos, jogou minhas pernas sobre seus ombros, e


envolveu as mãos em torno de minhas coxas, os olhos meio fechados, a cor
da meia-noite profunda, queimando sob os cílios negros espessos. Mãos
firmes me mantiveram no lugar enquanto Jag empurrou seus quadris para
frente. Gritei da pura força e o alívio de finalmente ser fodida mais forte.

— É isso que você quer?

Jag se segurou perfeitamente imóvel até que eu respondi.

— Sim! Urgh, por favor... Mais!

Jag estalou os quadris novamente, desta vez com força suficiente


para me tirar o fôlego e eu deslizar para cima na cama. Com medo de bater
minha cabeça, eu coloquei minhas mãos na cabeceira da cama e assenti.
O lábio de Jag enrolaram em um grunhido feroz e, finalmente, ele se
soltou. Jag bateu em mim forte e rápido. Meus gritos agudos se
transformaram em um único gemido longo e incoerente quando ele me
penetrou incessantemente, levando-me como um animal no cio. Eu não
conseguia tirar os olhos de Jag enquanto ele se movia. Ele era lindo. Seu
abdômen contraiu com cada ondulação de seus quadris. O suor brilhava
em seu glorioso peito, e seus ombros e bíceps incharam e flexionaram
enquanto ele segurava as minhas coxas. Seu corpo era uma obra de arte.

Mas foram as expressões faciais de Jag que tinham me hipnotizado.


Jag no auge da paixão—selvagem, desinibido, e tendo exatamente o que
ele queria — era absolutamente impressionante. Seu cabelo escuro estava
úmido e caia sobre os olhos, suas narinas dilatadas e seus lábios se
separaram enquanto ele sibilou várias maldições e grunhidos.
Jag soltou minhas pernas e se inclinou para frente, apoiando o peso
sobre mim. Ele estendeu a mão e puxou minhas mãos da cabeceira da
cama. Jag entrelaçou os dedos com os meus sobre o travesseiro e os
enviou sobre minha cabeça. Nossos olhos se encontraram e ele manteve o
contato, me hipnotizando com um olhar de admiração absoluta em seus
olhos. Uma gota de suor caiu de seu queixo para pousar no meu lábio
superior. Antes que eu pudesse pegá-lo com a minha língua, Jag
mergulhou para baixo, lambeu a gota, e me deu um beijo profundo,
fundindo nossas bocas juntas.

Quando ele começou a se mover novamente, ele manteve os olhos


presos nos meus. A expressão de Jag era tão intensa que enviou um frio
na parte de trás do meu pescoço. Ele olhou para mim como se estivesse
em estado de choque e temor. Eu não tinha certeza se isso me deixou
desconfortável ou me fez sentir como a coisa mais preciosa do mundo.
Dedos entrelaçados, Jag balançava para frente e para trás em cima de
mim, seu osso pélvico esfregando o meu clitóris enquanto seu pênis foi o
mais profundamente possível, tocando fundo com cada impulso. Meus
músculos apertaram e uma onda de calor espalhou-se no meu núcleo.

— Deus, Miri. Eu vou explodir, porra.

Os olhos de Jag rolaram em sua cabeça e ele pegou o ritmo. Esse


estrondoso sotaque do Texas foi direto para minha virilha e meu corpo
detonou em torno dele. Eu gritei com a força esmagadora do meu orgasmo,
estremecendo e tencionando da cabeça aos pés.

— Puta merda! Oh Deus... Merda, Miri.

O ritmo de Jag vacilou. Suas mãos agarraram as minhas quase


dolorosamente e ele empurrou uma última vez. Jag jogou a cabeça para
trás e rugiu quando ele esvaziou sua libertação espessa. Senti pulso após
pulso de seu esperma quente inundando minhas entranhas.

De repente, o quarto estava tranquilo, exceto por nossa respiração


pesada. Jag soltou minhas mãos e rolou de costas ao meu lado. Engoli em
seco e lambi os lábios, a garganta seca de tanto gritar. Os olhos de Jag
estavam fechados, seu peito se movendo para cima e para baixo quando
ele se recuperou. Tremores de prazer moveram por toda a minha pele,
deixando meu corpo flutuando e formigando.
Exausto, o sono começou a lavar sobre mim e meus olhos ficaram
pesados. Se eu pudesse, eu iria passar a noite toda olhando para o rosto
impressionante de Jag e seu corpo. Enquanto me afastava, me perguntei
se ele estaria aqui na parte da manhã ou se eu tinha acabado de cometer
um grande erro. Antes que eu pudesse dar-lhe qualquer outro
pensamento, o sono reivindicou minha consciência, assim como o homem
na minha cama tinha reivindicado meu coração.

Boss

Relutantemente, eu arrastei minha bunda para fora da cama para ir


ao banheiro. Quando voltei para o quarto, eu assisti Miri dormir, com o
rosto relaxado, seu corpo nu meio enrolado no lençol. Deus, ela era tão
linda que doía. Eu não deveria estar aqui. Envolver-me com Miri com uma
guerra iminente a estourar e ela vivendo em minha casa... Porra, era uma
má ideia. Corri a mão pelo meu rosto e exalei. Eu deveria sair. Voltar para
o meu quarto e dormir da mesma forma que sempre faço, sozinho. Miri
agitou e um suspiro suave flutuou de seus lábios cor de rosa. Apesar de
saber que eu era a pior escolha possível para ela, eu voltei para a cama
com Miri, e puxei-a em meus braços.

A próxima coisa que eu sabia, eu pisquei e a luz cinzenta da


madrugada inclinada através da janela. Demorou um minuto para
perceber que meu telefone estava vibrando do bolso da minha calça jeans
no chão. Exausto, meu primeiro pensamento foi de ignorá-lo, mas eu não
podia. Meus homens nunca me incomodavam sem uma boa razão,
especialmente tão cedo. Com as palmas das minhas mãos, eu esfreguei os
olhos cansados, sentei-me, agarrando meus jeans para puxar o telefone
para fora e verificar a mensagem. Era de Sarge, meu chefe de segurança.

SOS

As três letras na tela fizeram minha pulsação acelerar em alta e


tinha-me totalmente desperto e me movendo em um flash. O mais
silenciosamente possível, eu coloquei a roupa da noite anterior e desci
correndo as escadas descalço, cheirando a sexo e a Miri. Sarge estava
esperando na porta do meu escritório, as mãos atrás das costas, peito para
fora. Ele parecia tão cansado como eu me sentia, mas o homem tomou o
tempo para colocar o seu terno e apresentou-se perfeitamente. Eu estava
orgulhoso de Sarge para a compreensão do nível de respeito que eu exigia
dos meus funcionários. Uma pontada de culpa me bateu quando eu
percebi que não parei para vestir a minha própria roupa antes de descer.
Foda-se. Com um SOS, a velocidade era mais importante do que a minha
aparência.

Abri a porta espessa e fiz sinal para Sarge me seguir.

— Milo está a caminho, Boss.

Eu balancei a cabeça e sentei atrás da minha mesa.

— Vamos esperar por ele então. Sente-se.

Sarge abaixou-se em uma das cadeiras de couro escuro.

— Bebida?

Eu usei meu queixo para apontar em direção ao bar. Sim, já era de


manhã cedo, mas eu tive um sentimento de que o quer que esteja indo
para baixo pode exigir um pouco de álcool.

— Não, chefe.

Eu inclinei minha cabeça em reconhecimento. Cinco minutos depois,


eu ouvi Milo entrar no escritório. Ele não parecia tão arrumado como
Sarge. Ainda vestindo o mesmo terno de ontem à noite, o cabelo do meu
tenente era uma bagunça, a gravata torta, e sua boca vermelha e inchada
e virada para baixo nos cantos.

— Eu espero que nós não tenhamos interrompido nada importante.

Sarcasmo pingava de minha voz e eu sorri para Milo, sabendo pelas


manchas de batom em seu rosto exatamente o que tínhamos interrompido.

— Merda, Boss. Minhas bolas estão me matando. Malditas bolas


azuis.

Milo franziu a testa.

— Você poderia ter, pelo menos, esperado até eu terminar.

Milo não teve problema em se servir uma bebida antes de cair na


cadeira ao lado da Sarge.
— Tudo bem, o que você tem?

Voltei minha atenção para o meu chefe de segurança.

— Depois de sua reunião com El Cuchillo, George e três seguiram o


seu carro como você pediu.

— E?

— Ele foi para outro clube, em San Antonio.

Isso em si não era surpreendente. San Antonio era o seu território,


depois de tudo.

Milo bufou.

— Qual é o seu ponto de maldito, Sarge?

Atirei a Milo um olhar sombrio alertando-o para calar a boca. Eu não


dou uma mínima do caralho se ele estava no meio do melhor boquete da
porra da sua vida. Ele precisava parar de ser mal-humorado e superar
isso. Quando ele recebeu um telefonema, seu trabalho era para aparecer e
fazer o que diabos lhe foi dito. Eu pagava muito para ele estar à minha
disposição e chamada. Ele poderia rebentar uma bola mais tarde.

Sarge visivelmente se irritou com Milo, mas continuou.

— Ele tinha uma outra reunião. Com Brick.

— Que porra é essa?

Milo levantou o rosto de repente um profundo tom de vermelho.


Seus olhos correram ao meu, a raiva neles era palpável.

— Que porra de traidor babaca. Eu lhe disse que não podia confiar
em sua bunda magra.

— Sente-se.

Do lado de fora, eu parecia calmo, mas por dentro, eu estava tão


furioso quanto Milo. El Cuchillo deixou meu encontro para ir diretamente
para outro. Com o cabeça de distribuição de heroína em Houston. Pouca
merda. Gritar, no entanto, não fazia nada para mudar o novo
desenvolvimento.
Milo rosnou e caiu para trás em sua cadeira, mas seus ombros
estavam puxados até as orelhas e os punhos cerrados no colo. Meu
tenente estava pronto para explodir. Sua reação era exatamente por isso
que ele era tão útil para a minha organização. Violento. Reativo. Cruel.

Voltei-me para Sarge.

— Será que os nossos homens ouviram o que foi discutido?

— Não, Boss. O clube estava muito aberto para eles chegarem perto
e não foi feito por Brick ou El Cuchillo.

Eu levei um momento para pensar, juntando os dedos na frente da


minha boca antes de desenrolar minhas mãos e reclinar na cadeira.

— Então, ou ele está jogando conosco ou Brick, ou possivelmente


ambos.

— Talvez ele esteja tentando fazer-nos lutar para que ele não tenha
que sujar as mãos?

Milo disse. O medo arrepiou a parte de trás do meu pescoço.

— Estamos em território entre Los Guerreros e o de Brick. Nós não


podemos ficar à margem se El Cuchillo decidir ir para a guerra com
Houston. É muito possível que ele está nos posicionando para lugar com
Brick por ele, mas é mais provável que ele esteja oferecendo o mesmo
negócio para nós dois e esperando para ver quem aceita. Então ele vai unir
forças e tirar o terceiro.

— Nós não aceitamos seus termos, Boss,

Milo me lembrou com uma carranca profunda em seu rosto.

— Não, nós não. Isso não significa que Brick irá.

— Brick vai.

Milo disse confiante.

— O que El Cuchillo ofereceu?

Os olhos de Sarge saltaram entre um Milo fumegante e eu.

Metade da razão Milo estava tão irritado era porque acreditava que
era um erro dispensar o negócio ousado de El Cuchillo. Milo pensou que
ramificar nossa operação de heroína era uma ótima ideia. Meu tenente não
tinha ideia de que eu preferia morrer antes que eu me envolver com o que
El Cuchillo estava oferecendo. Milo culpou minha recusa em Miri,
pensando que ela me fez muito fraco e emocional para aceitar o novo
acordo de negócios. Ele não veio a público e disse isso — ele sabia que eu
ia matá-lo se fizesse — mas Milo deixou indícios suficientes desde que Miri
apareceu para eu saber exatamente como se sentia sobre ela e como ele
percebeu sua suposta influência sobre mim.

Respirando fundo, eu sufoquei minha raiva pela segunda vez esta


noite. Mais cedo, sentado em um alto, clube lotado, era mais fácil para
manter meu rosto neutro com o chefe do cartel de heroína em San Antonio
vomitando sobre seu mais novo empreendimento como se tivesse
reinventado a maldita roda. Ele esperava o que de mim? Eu deveria bater
palmas de alegria e louvar o idiota por me incluir em seu esforço nojento?
Foda-se ele.

Eu engoli a bile subindo antes de responder Sarge.

— Ele vai lidar com mulheres.

A boca de Sarge se abriu e seus olhos se arregalaram.

— Mulheres? Quer dizer prostitutas, certo?

— Não.

Eu agarrei os braços da minha cadeira até que meus dedos doerem.

— Não putas. Cuchillo vai...

Parei para sufocar um grito.

—... Traficar, sequestrar mulheres e meninas para vender como


escravas sexuais. — Eu falei com os dentes cerrados enquanto lutava para
controlar minha reação instintiva de tirar minhas facas e matar alguém.

— Puta merda.

Sarge empalideceu.

— O quê?

Milo virou-se para Sarge, franzindo o cenho.


— É uma enorme porra de máquina de fazer dinheiro. Há um grande
mercado para as meninas, especialmente as mais jovens.

— Milo, cala a boca agora.

Meus dedos coçaram para retirar a faca e cortá-lo do esterno à


virilha antes de me lembrar de que eu não estava usando nenhuma das
minhas lâminas. Droga, da próxima vez, SOS ou não, eu vou me vestir
adequadamente.

— Eu não vou nunca vender seres humanos. Não fale sobre isso na
minha frente novamente.

Milo não sabia sobre Rose. Ninguém sabia, mas não era a porra do
assunto. Eu não tenho que me explicar para ele ou qualquer um e eu não
estava me mexendo nesse ponto. Milo estava claramente descontente, com
o rosto vermelho, os músculos de seu pescoço apertados.

Voltei-me para Sarge, ignorando a ira de Milo.

— Mantenha os homens sobre ele em todos os momentos. Certifique-


se de ter cuidado. El Cuchillo pode agir como um idiota babaca da porra,
mas ele não é tão estúpido quanto parece. Se ele pega os nossos homens,
ele vai matá-los, e não vai ser rápido ou indolor.

Sarge assentiu e se levantou.

— Eu vou mantê-lo atualizado, Boss.

— Obrigado.

Zumbi a porta aberta e Sarge saiu do escritório.

— E agora, Boss?

Corri a mão pelo meu cabelo, vacilando entre a exaustão completa e


fúria.

— Agora, nós nos preparamos para a guerra.

Miri
Tendo terminado com o meu projeto, eu arrumei as ferramentas e
lavei as minhas mãos na pia da garagem. Assim como eu temia, apesar de
querer desesperadamente acreditar que Jag era diferente, eu acordei com
uma cama vazia. Jag tinha ido embora. Ele não estava em qualquer lugar
da casa, também. Não sabendo mais o que fazer, eu me vesti e fiz alguma
manutenção na Ducati.

A oficina em que eu trabalhei quando vivia com Cat não estava na


melhor zona da cidade, por isso esta era a minha primeira vez fazendo
manutenção em uma motocicleta tão chamativa ou cara como uma Ducati.
Minha falta de experiência com a moto elegante desacelerou-me e demorou
um pouco mais do que o habitual para terminar o trabalho, mas no
momento em que terminei, eu tinha tudo planejado e estava confiante de
que poderia lidar com qualquer moto lá fora.

Isso me trouxe a minha mais nova preocupação. Eu precisava de um


propósito, uma vida, algo meu. Tão agradável como era, eu precisava de
um emprego. Eu não poderia viver aqui para sempre, vivendo da
generosidade de Jag. Eu já tinha me deixado aproximar muito dele. Era
melhor me separar, voltar a ficar sobre meus próprios pés o mais rápido
possível, e sair daqui antes que eu me apaixonasse por um homem
incapaz de retornar meus sentimentos. O maior obstáculo para cortar era
a heroína. Eu ainda estava recebendo duas doses por dia do elenco
rotativo dos Homens de Preto de Jag. No entanto, eu jurava que me sentia
mais saudável do que eu tinha estado em meses. Eu estava ganhando
peso, ficando mais forte, minha cabeça estava clara e meus sentidos
afiados.

Talvez eu pudesse apenas parar de usar. Durante o último mês ou


algo assim, cada efeito colateral terrível da droga tinha desaparecido, a
coceira, a dor de estômago, a pele pálida, e a ansiedade—tudo
desapareceu. Franzindo a testa, eu decidi que a próxima vez que eu estava
programada para receber uma dose, eu recusaria e veria o que aconteceria
com o meu corpo. Eu tinha que parar de usar em algum momento, e eu
preferia fazê-lo aqui na casa de Jag do que uma vez que eu estiver sozinha
por minha própria conta. Se eu pudesse ficar limpa, eu poderia trabalhar e
economizar dinheiro. Talvez eu pudesse até guardar o suficiente para
contratar alguém para encontrar Cat, um investigador particular. Mesmo
que minha melhor amiga pudesse estar morta, eu preferia saber a
continuar a sofrer nesse limbo de agonia de não saber.
Depois de esfregar a graxa das minhas mãos e colocar cada
ferramenta em seu devido lugar, passei o resto do dia no gazebo,
balançando no balanço e olhando para o lago, enquanto uma leve brisa
peneirava através de meu cabelo.

— Senhora...

Meus braços se agitaram e eu gritei de surpresa. Um dos homens de


preto estava de pé nos degraus, me olhando. Meu estômago se apertou e
meu coração acelerou. Não precisava ser um gênio para saber por que ele
estava aqui.

É agora ou nada.

Calma e serena, eu nivelei os olhos para o homem chamado Jase.


Com uma respiração profunda e forte, eu falei.

— Eu sei por que você está aqui e não vou com você.

O cara não conseguia esconder seu choque. Depois de piscar várias


vezes, ele gaguejou e tropeçou em suas palavras, sua expressão quase em
pânico.

— Mas... Eu tenho que... Quer dizer, Boss disse... Minha senhora,


você realmente precisa vir e obter a sua dose.

— Não, eu não preciso. Eu não estou tomando mais.

Mãos moles em seus lados, Jase ficou boquiaberto, claramente sem


saber o que fazer com uma viciada desobediente.

— Boss disse...

— Foda-se ele.

Eu disse e o rosto do jovem virou branco fantasmagórico com o


insulto que eu casualmente joguei com um homem que a maioria das
pessoas, incluindo esse cara, consideravam muito assustador para falar
mal, mesmo quando ele não estava à vista. Bem, foda-se isso e foda-se
ambos. Eu não tinha medo de Jag e eu não estava cedendo. Não sobre
isso. Meu corpo, minha escolha.

— Eu não posso...
Levantei-me e apoiei as mãos no corrimão de madeira do gazebo,
usando a vantagem da altura inclinei-me sobre o homem. Toda a minha
frustração com Jag, com a minha vida, com a porra da minha existência
de merda, irrompeu numa torrente alta de maldições.

— Eu não vou com você porra e você não vai me furar com uma
agulha maldita. Então, vá para longe idiota! Eu não dou à mínima se você
disser ao seu patrão precioso que estou me recusando! Ele pode enfiar sua
opinião em seu próprio rabo!

Jase visivelmente se encolheu, tropeçando em seus próprios pés


para colocar distância entre ele e o meu discurso com raiva. Sua
mandíbula se contraiu e eu sabia que ele estava lutando contra o desejo de
apenas me pegar e me jogar sobre o ombro. Mas as ordens de Jag eram
claras. Ninguém poderia colocar um dedo em mim e eu sabia disso e Jase
sabia que eu sabia. Com meu queixo saliente e um falso ar de confiança,
virei e me sentei no balanço, os braços cruzados enquanto eu atirava
punhais ao homem de preto, desafiando-o a fazer um movimento,
enquanto meu coração disparava. Murmurando algumas obscenidades,
Jase se afastou, provavelmente de volta para a casa para bisbilhotar.

Enlouquecendo, eu inalei profundamente para me acalmar, minhas


mãos tremendo. Foda-se todos eles. Eu possuía o meu corpo. Se eu não
quero drogas, ele não poderia fazer-me tomar, e eu gostaria de lutar com
unhas e dentes para impedir que isso aconteça.

Horas mais tarde, eu ainda estava estufada com raiva, balançando


para frente e para trás, meus olhos desfocados enquanto planejei meu lado
da eventual discussão com Jag. Na verdade, eu estava tão chateada, que
eu não ouvi abordagem Jag até que suas botas fizeram contato com os
degraus de madeira do gazebo.

— Vá embora.

Eu disse, não me movendo para fazer contato visual com seus olhos.

Claro que, na sua habitual forma, irritante, dominador, Jag ignorou-


me e sentou-se no balanço, apesar da minha irritação óbvia. A estrutura
de madeira balançou sob seu peso adicional. Com o canto do meu olho, eu
o peguei me estudando, suas sobrancelhas se juntaram. Eventualmente,
Jag desistiu de tentar me entender e apenas perguntou.

— Quer me dizer o que está acontecendo?


— Vá embora.

Eu repeti, odiando que eu parecia uma menininha mimada chorona.

— Não. Então, vamos tentar novamente. Por que você está com
raiva, Miri? Eu machuquei você na noite passada?

Sua voz foi tão sincera, tão cheia de apreensão, no meu furor sobre
as drogas, eu esqueci com o quão terno Jag fez amor comigo ao olhar nos
meus olhos como se eu significasse algo para ele. Mas não, ele com certeza
me enganaria novamente. Jag se levantou e me deixou lá assim que eu
servi o meu propósito. Uma transa, uma trepada rápida, um bom tempo, e
então se foi. Descartável. Lixo. Drogada.

— Não.

Eu brinquei com meus cabelos, torcendo uma onda vermelha longa


em torno de um dedo, uma e outra só para deixá-lo deslizar livre para que
eu pudesse torcê-lo novamente.

— Miri...

Seu rosnado baixo me irritou. Pela primeira vez desde que ele se
sentou, me virei para encará-lo. Toda a raiva, as palavras cortantes que eu
tinha preparado, ficaram presas na minha garganta. De repente nervosa,
eu puxei um pé para cima do banco para levar a minha perna para o meu
peito, descansando meu queixo no meu joelho.

— Você não pode me obrigar a tomar drogas mais. Eu não quero


elas.

O bater de meu pulso em meus ouvidos tornou difícil para organizar


meus pensamentos.

— Eu não estou fazendo isso.

Jag olhou para mim com olhos azuis tão intensos, tão focados, eu
me contorcia no banco sob o seu controle. Eu estava prestes a discutir
meu caso ainda mais quando os cantos dos olhos do Jag enrugaram e sua
expressão solene quebrou, lentamente se transformando em um sorriso
largo.

O que—?
Inclinei a cabeça. Eu estava vendo coisas? Eu pisquei algumas vezes
e verifiquei novamente. Não, Jag estava definitivamente sorrindo.

Eu bufei alto e bati.

— O que?

Por alguma razão, a resposta de Jag tinha me levado mais no limite


do que se ele estivesse com raiva. Com raiva eu poderia lidar. Com raiva
que eu poderia argumentar, lançar um ataque, deixar escapar a dor que
eu sentia por ele ter me fodido e me deixado na noite passada. Feliz? Eu
não tinha ideia do que fazer com feliz.

— Miri...

Jag pegou uma das minhas mãos, mas eu a puxei de volta para
mim, colocando-os sob minhas axilas. Ele franziu o cenho para o meu
desprezo, mas se recompôs rapidamente. Seus olhos brilhavam e, pela
primeira vez desde que nos conhecemos, o homem sem medo na minha
frente parecia... Com medo.

— Você está limpa há duas semanas.

Minha boca se abriu e me levou um minuto para fechar.

— Eu não entendo.

Com minhas mãos ainda em meus braços, eu agarrei meus lados,


cavando meus dedos em minhas costelas.

— Eu... Eu ainda recebi injeções...

— Salino.

Jag mudou de posição no banco, aproximando-se. A brisa pegou o


perfume de sua colônia e sabonete, soprando-o para o meu lado do
balanço. Eu inalei profundamente, o cheiro trazendo de volta lembranças
da noite passada, parte do tempo na garagem, de suas mãos e boca por
todo o meu corpo. Meus olhos se fecharam quando eu repassei a ternura
de seu beijo, como ele virou exigente e possessivo em uma maneira que eu
não poderia explicar, no entanto, me excitou mesmo assim. Lembrei-me da
sensação de veludo de sua língua na minha pele e a mordida afiada de
seus dentes enquanto ele brutalmente me marcou.

— Miri?
Um leve toque na minha perna me sacudiu de volta ao presente.

— Então o que você está dizendo? Estou totalmente limpa?

Uma gota de suor escorreu entre as minhas omoplatas. Não podia


ser assim tão fácil. Eu não poderia estar livre das drogas. Sem abstinência,
sem dor, sem diarreia, sem falta de ar, sem vômitos?

O sorriso de Jag caiu e seu toque provisório tornou-se um peso,


pressionando na minha perna.

— Eu tenho desmamado você desde que chegou aqui. Você merece o


melhor, Miri. Eu não podia... Eu não iria mantê-la ligada a essa merda
venenosa.

Ele fechou os olhos e seu belo rosto contorceu de dor. Quando Jag
finalmente abriu os olhos, a angústia refletida em suas profundezas era
tão clara como o dia.

— Mas você vende heroína. Você é um traficante de drogas e você


está chamando-o de veneno? Eu não entendo.

Jag se levantou, estendendo a mão. Ele estava me dando uma


escolha, para ir com ele ou ficar aqui. Tão irritada como eu estava pela
noite passada, e sua ausência, esta manhã, a minha necessidade
inexplicável por ele ganhou mais do que guardar rancor. Enfiei minha mão
tremendo na sua e cada ansiedade se dissipou. De alguma forma, Jag fazia
tudo melhor apenas por estar por perto. Sim, ele era um traficante
violento. Sim, ele era capaz de coisas horríveis e terríveis. Coisas ilegais.
Sim, ele me machucou esta manhã.

Mas eu precisava saber mais. Eu precisava conhecer o real Jag, o


homem que amava motocicletas e carros velozes e acolheu uma viciada
sem-teto para limpá-la e dar-lhe uma segunda chance na vida. Ele tinha
seus momentos de merda, com certeza, mas eu sabia que, no fundo, Jag
era uma boa pessoa. Um bom homem. Um homem digno.

Jag me puxou para os meus pés até que eu estava em pé na frente


dele, separados por alguns centímetros e uma montanha de segredos.
Segredos que eu pretendia cavar um de cada vez, mesmo que isso
significasse revelar o meu. Sua mão na minha, eu uni nossos dedos e
forcei meu corpo a relaxar. Jag me deu um sorriso torto, revelando suas
covinhas que induziam ao desmaio, e me puxou para descer as escadas.
— Vamos, boneca.

Eu vou onde você quiser. Você não precisa nem perguntar.


Boss

Miri me entregou seu capacete e pulou da Ducati. Eu balancei


minha perna por cima da moto e coloquei o capacete no assento ao lado do
meu. Eu não vinha até o lago na Ducati com muita frequência. Talvez duas
vezes no último ano. Manobrar a moto potente entre os cinquenta e cinco
metros de um terreno traiçoeiro, sem pavimento, com uma linha rochosa à
beira do lago significava lutar para manter a máquina pesada em
equilíbrio. Além disso, com Miri na parte de trás, mesmo sendo pequena
como ela era, todo o processo foi um milhão de vezes mais difícil. De
alguma forma, nós conseguimos fazer isso sem deixar a moto cair.

— Isso é lindo.

Miri olhava para o lago, de costas para mim, mas eu podia ver sua
excitação na forma como seus ombros estavam relaxados, uma mão caída
ao seu lado enquanto a outra protegia seus olhos do sol brilhante do meio-
dia que o lago refletia. Mechas de seu cabelo escaparam do seu prendedor
com o vento e se agitaram na brisa.

Deus, ela é linda pra caralho.

Eu a queria ao meu lado a cada minuto do dia. Dei um passo em


direção a Miri e deslizei minhas mãos em torno de sua cintura fina,
puxando-a contra o meu peito. Miri era tão pequena que eu podia
descansar meu queixo no topo de sua cabeça.

— Eu venho aqui algumas vezes quando eu preciso esquecer.

Eu disse, abaixando a cabeça para inalar o doce aroma de seu


cabelo. Miri inclinou a cabeça para trás para olhar para mim.

— Esquecer?

Apontei para uma área plana próxima à costa.


— Vá por cima até esse ponto, boneca. Eu estarei lá em um
segundo.

Os olhos de Miri se estreitaram, essas íris verde-esmeralda brilhando


de curiosidade, mas ela saiu do meu abraço e caminhou até o pequeno
pedaço de gramado, um pouco marrom da seca, sem fazer uma única
pergunta. Desamarrei o pacote e atirei-o por cima do ombro. Miri estava
chateada comigo sobre algo, eu só tinha que descobrir o que. Eu tinha
repassado os eventos da noite passada um milhão de vezes e não consegui
pensar em uma única coisa que eu poderia ter feito para deixá-la tão
furiosa como estava esta manhã, quando eu a encontrei no gazebo.
Inferno, se olhares matassem, eu teria caído duro no local.

Jase estava assustado ao me informar que Miri recusou sua dose


matinal de heroína. Eu praticamente ri na cara dele. Ele não sabia que eu
estava esperando por esse dia chegar, o dia em que ela decidiria por conta
própria que era hora de ficar limpa. Tinha que ser uma decisão de Miri,
não minha. Ela precisava estar em um nível mental onde se sentiria forte o
suficiente para não precisar mais das drogas, embora tecnicamente já
tivesse desmamado dela.

Agora, eu era sortudo que Miri não estava chateada por ter sido
enganada com as injeções. Na verdade, ela parecia totalmente prazerosa
por estar livre das drogas. Relembrando de sua expressão hostil antes que
eu dissesse isso a ela, eu meio que esperava um chute nas bolas.

As botas de Miri foram colocadas na pequena praia e seus jeans


estavam enrolados quando ela mergulhou os dedos dos pés no lago.
Sorrindo, eu abri o pacote e estendi um cobertor fino. Coloquei suas botas
em dois dos cantos e as minhas nos outros dois para impedir que o
cobertor enrolasse na brisa leve. Miri deve ter me ouvido aproximar,
porque ela falou sem desviar sua atenção da vista.

— Isso é realmente alguma a coisa, Jag. Eu posso ver por que você
gosta de vir aqui.

Eu deslizei meus braços em torno dela e segui sua linha de visão. O


lago Travis esparramava em todas as direções. A profunda água azul
suavemente rodava na pequena faixa de areia entre a borda do lago e o
início das árvores. Estava em uma temperatura perfeita, também—
refrescante, mas não frio.
— As pessoas acampam aqui durante a alta temporada, mas é
praticamente vazio durante o resto do ano.

Miri riu e o som doce fez meu estômago fazer piruetas.

— O quê?

Perguntei, sorrindo para sua diversão. Ela definitivamente não ria


bastante. Eu teria que mudar isso.

— Você.

Ela virou-se em meus braços, colocando as mãos nos meus ombros.


Movi minhas mãos para seus quadris, aquecendo-me perante o brilho de
seu sorriso.

— Quando você está animado, o seu sotaque texano sai.

Soltei um bufo indignado.

— Eu não tenho nenhum sotaque do Texas.

— Você tem. É adorável.

Eu estava prestes a discutir, quando Miri ficou na ponta dos pés e


deu um beijo em meus lábios.

— E sexy. — Ela sussurrou contra a minha boca.

Gemendo, eu agarrei a cintura dela e puxei-a para frente,


segurando-a contra meu corpo. Aprofundei o beijo, desesperado para
saboreá-la de novo, assim como eu estava desde o minuto em que sai de
seu quarto na noite passada. Miri abriu lindamente, dando-me rédea livre
para devorar vorazmente sua boca. Eu lambi cada pedaço quente,
molhado, torcendo minha língua em torno dela. Consumindo. Alegando.
Possuindo. Somente quando respirar tornou-se uma necessidade eu me
afastei. Meu olhar recaiu sobre seus lábios inchados e pupilas dilatadas.
Passei a ponta do meu polegar sobre seu lábio inferior.

— Tão perfeita.

Ela beliscou o meu polegar e chupou em sua boca, ocasionalmente


afundando seus dentes em minha carne.

— Jesus, boneca.
Eu sibilei quando sua língua girou em torno do meu polegar e ela
aumentou a sucção.

— Merda!

Meu pau estremeceu e eu retirei minha mão. A expressão de Miri era


a mesma de uma criança que teve seu pirulito puxado grosseiramente de
suas mãos. Com o peito arfante, dei um passo para trás e corri meus
dedos pelo meu cabelo, lutando para recuperar a compostura.

Falar em primeiro lugar. Foder mais tarde.

— Vamos, boneca. Vamos sentar.

Eu andei até o cobertor e sentei. Miri levou um momento, mas


eventualmente seguiu-me, ostentando uma aparência adorável, petulante,
quando ela caiu ao meu lado. Eu puxei uma garrafa de água para fora do
pacote e ofereci-lhe um pouco. Ela balançou a cabeça em negação. Com
um suspiro, eu me inclinei para trás, a minha parte superior do corpo
apoiada sobre os cotovelos.

— Você está com raiva de mim, boneca?

Com o sol brilhando no céu atrás dela, eu tive que apertar os olhos
para ver o rosto de Miri. Seu cabelo vermelho brilhante, literalmente,
brilhou à luz do sol, formando um halo de fogo em sua cabeça. Uma leve
brisa soprou fios soltos em seu rosto, alguns prendendo em seus lábios.

Miri deu de ombros e brincou com uma mecha de seu cabelo


vermelho impressionante.

— Não tenho certeza.

Ela estava indo me fazer arrancar isso dela.

— Explique.

Miri bufou pela minha exigência e revirou os olhos. Foi tão bonito,
porra, que eu tive que me concentrar para não sorrir.

— É porque eu a fiz largar a heroína?

Perguntei, sabendo que não era o problema.

— Não. É...
Miri se moveu e deitou-se de costas ao meu lado, cruzando as mãos
sobre a barriga para olhar para o céu azul sem nuvens.

— Você saiu.

Deitei todo o caminho até o chão, inclinando a cabeça para observá-


la com cuidado.

— Saí? Eu não entendo.

— Parece tão estúpido.

— Você não é estúpida. Nada que você diz é estúpido, Miri. Conte-
me.

Ela suspirou e virou o rosto para mim, nossos narizes a polegadas


de distância.

— Eu acordei e você não estava.

Suas bochechas estavam coradas e ela desviou o olhar. Dedos


nervosos puxavam um fiapo do cobertor.

— Boneca...

Quando Miri não respondeu, eu tomei seu queixo em meus dedos e


empurrei-a até que ela encontrou meu olhar.

— Houve uma emergência no meio da noite. Eu estava com você,


mas eu tive que levantar-me e lidar com algo relacionado ao trabalho. No
momento em que foi resolvido, já era tarde demais para voltar para a
cama.

Seu rosto brilhava um tom ainda mais profundo de vermelho. O que


fez um contraste lindo com sua pele pálida, leitosa, e me teve endurecendo
nas minhas calças.

— Oh.

Ela pensou que eu a tinha fodido e a abandonado. Não me admira


que ela esteja chateada.

Miri gritou quando eu a rolei, terminando em cima dela, de forma


que cada parte do nosso corpo estivesse alinhada do peito aos pés.

— Nada além de uma emergência poderia me fazer sair de sua cama.


Miri piscou aqueles cílios loiro-morango e seus lábios de rubi se
entreabriram. Eu podia sentir a batida de seu coração acelerando contra o
meu.

— O que você disse antes... Isso... Que eu sou sua. É verdade?

Baixei a cabeça até que minha boca roçou a dela.

— Você quer que isso seja verdade? Você quer ser minha? Porque eu
tenho que lhe dizer, boneca, o pensamento de qualquer outra pessoa
tocando você me deixa louco de ciúmes.

Aqueles grandes olhos verdes nunca deixaram os meus. Miri engoliu


em seco e suas pupilas dilataram.

— Você... Você me faz sentir segura. Eu quero estar com você. Eu


quero ser sua.

— Então você é minha.

Sem aviso, Miri agarrou a parte de trás do meu pescoço e me puxou


para baixo, esmagando nossos lábios juntos. Ela atacou minha boca
enquanto seu corpo se arqueou do chão. Miri rodeou suas pernas esguias
em volta da minha cintura e moveu sua pélvis contra a minha. Só com
isso, meu pau era uma rocha dura e vazando. Ele respondia da mesma
forma, sempre que Miri estava por perto, mesmo quando não havia
nenhum contato físico real. Com isso? Com Miri gemendo debaixo de mim?
Eu era incapaz de resistir. Desesperado por mais pele, sentei sobre meu
calcanhar e puxei sua camisa sobre a cabeça.

O gemido retumbou em meu peito e meu pau latejou. Abaixei-me e


apertei a base através do meu jeans, para parar de molhar minhas calças.

— Porra, você vai me matar. Sem sutiã de novo.

O canto da boca de Miri levantou em um mau, sexy como pecado,


sorriso.

— Seu rapaz não me comprou nenhum.

Ela riu com a expressão no meu rosto.

— Eu vou falar com ele mais tarde. Se ele fez isso de propósito para
obter uma olhada em seus peitos, eu juro...
— Ele é um homem, Jag. Tenho certeza que ele apenas esqueceu.

Miri se contorceu e contraiu seus quadris novamente, gemendo de


prazer. Ela deslizou suas mãos sobre seus seios e começou a puxar seus
apertados mamilos rosados.

— Foda-se.

Assistir Miri mexer em seus seios fez meu cérebro deletar tudo o que
eu iria dizer, fazendo-me esquecer tudo em um instante. Rápido como um
relâmpago eu arranquei todas as minhas roupas e removi seu jeans e
calcinha, adicionando-os para a pilha de roupa ao redor do cobertor.

— Depressa, Jag.

Miri ainda estava trabalhando naqueles botões cor de rosa


apertados, torcendo e rolando-os entre os dedos enquanto sua coluna se
curvava do chão. As pernas de Miri se abriram quando ela lambeu os
lábios e eu quase gozei perante a vista.

— Jesus Cristo, boneca.

Nu, eu voltei para cima dela, abaixando-me, a nossa pele estava


escaldante quando nos tocamos. Eletricidade estalou e chiou entre nós e
eu podia praticamente sentir a chuva de faíscas quando nos movemos
juntos.

Miri lambeu de cima abaixo na minha garganta, agitando sua língua


perversa sobre a pele sensível e tendões tensos. Quando ela afundou seus
dentes afiados na carne grossa que juntava meu pescoço e ombro — do
mesmo jeito que eu fiz com ela na garagem — um grunhido primitivo
escapou de minha garganta e em um só golpe brutal eu empurrei meu pau
profundamente em seu calor apertado, molhado, sem aviso. Miri gritou
contra a minha pele e mordeu profundamente no músculo duro.

— Filho da puta. Ungh... Sim! Porra, Miri. Olhe para mim, boneca.

Eu sibilei e cerrei os dentes quando a dor de sua mordida enviou um


choque de prazer direto para o meu pau.

— Você vai me fazer perder a porra da minha cabeça. Caralho!

Miri finalmente soltou-me e deitou a cabeça de volta no cobertor, os


olhos fechados em êxtase.
— Você gosta de me marcar, boneca?

Miri assentiu, incapaz de formar palavras, suas pálpebras


tremulando aberta e fechando novamente enquanto eu batia em sua
buceta apertada.

Eu retirei todo o caminho e seus olhos imediatamente se abriram.


Antes que ela pudesse protestar, eu a agarrei pelos quadris, a virei sobre
seu estômago, e empurrei de volta. Ela gemeu, estremecendo com prazer.
Eu precisava de mais contato com a pele macia, então eu curvei-me sobre
ela, cobrindo seu pequeno corpo com o meu, lambendo as gotas de suor
em sua nuca.

— Oh, Deus, Jag... M-mais.

Miri estava se debatendo sob o meu peso pesado. Eu peguei suas


mãos e entrelacei os dedos juntos para mantê-la imóvel, em seguida,
enganchei seus tornozelos com os pés, deixando-a imóvel.

— Não se mova, boneca. Apenas sinta.

O suor escorria da minha testa enquanto eu a fodia no chão sob o


sol quente do Texas.

— Sinta cada polegada do meu pau em sua buceta.

— Eu sinto... Oh, Deus!... Deus! Jag!

O corpo inteiro de Miri endureceu e ela começou a tremer quase


violentamente. Suas pernas tremiam e sua respiração engatou. Um
formigamento na minha espinha e o aperto familiar nas minhas bolas
avisou-me que eu estava perto. Nossos dedos apertados agarravam uns
aos outros com tanta força que doía.

— Deus, Miri... Eu vou vir. Oh, merda.

Deixei minha testa cair no seu ombro e encontrei a minha marca.


Passei a língua sobre o hematoma escuro antes de morder ferozmente,
sugando a carne sensível em minha boca enquanto ela gritava.

Miri empurrou com força e segundos depois sua buceta agarrou meu
pau quando ela soltou um longo gemido. Seu corpo apertado, Miri explodiu
em um alto clímax, poderoso, me arrastando direto sobre a borda com ela.
Eu gozei com um rugido, empurrando meu pau em seu calor escorregadio
tão profundamente quanto possível, enquanto o gozo explodiu de mim em
intermináveis surtos de êxtase impensável.

Pingando de suor e exausto, caí para o cobertor e fechei os olhos


para recuperar o fôlego. Eu podia ouvir Miri ao meu lado ofegante. Devo
ter cochilado, porque a próxima coisa que percebi, foi algo frio e molhado
pressionando contra minhas costelas.

— Puta merda!

Eu ergui-me em uma posição sentada e encontrei Miri rindo


incontrolavelmente, uma garrafa gelada de água na mão. Eu arrastei meus
dedos pelo meu cabelo e sorri.

— Sua pequena...

Miri sorriu e eu não pude deixar de soltar uma risada. Sua alegria
com certeza era algo bonito de ver.

— Isso não foi muito agradável.

— Eu sinto muito.

Seu sorriso cansado deixou-me saber que ela não estava nada
arrependida. Porra, mas eu amava esta Miri divertida e brincalhona. Era
tão raro vê-la relaxada e despreocupada.

— Sim, claro.

Peguei a garrafa e bebi metade antes de colocá-la para baixo.

— Você deve se vestir, Jag. Você vai se queimar.

Enquanto eu bebi o resto da água relanceei meus olhos ambiciosos


sobre o corpo de Miri, decepcionado ao ver que ela já tinha a maioria de
suas roupas.

— Eu não sou um branquelo ruivo, boneca. Eu não queimo, eu pego


um bronzeado.

— Não tire sarro de mim, seu idiota. — Ela riu e empurrou meu
ombro.

Peguei minhas roupas e as coloquei, sabendo que poderia ser pego a


qualquer momento. O parque pode ser normalmente vazio nesta época do
ano, mas isso não significava que ninguém poderia tropeçar em nós.
Depois, enfiei tudo na mochila e comecei a caminhar em direção a Ducati
quando Miri agarrou meu braço.

— O que é, boneca?

Sua expressão brincalhona tinha ido embora. Pequenas linhas se


formaram entre as sobrancelhas de Miri e ela mordeu o lábio inferior.

— Ei, me diga. Eu não vou ficar com raiva, eu prometo.

Ela soltou seu lábio e encontrou meu olhar.

— Eu quero procurar um emprego.

Minhas sobrancelhas praticamente voaram de tão rápido que eu as


ergui. Eu não estava esperando isso.

— Um emprego?

— Eu não posso viver dependendo de você para sempre, Jag. Eu


preciso fazer alguma coisa. Eu era feliz quando estava trabalhando. Você
disse que eu estou livre das drogas?

Ela esperou por mim para acenar em confirmação antes de


continuar.

— Eu quero voltar a trabalhar. Eu fiquei por dois anos e meio


trabalhando em uma oficina.

— Você fez?

Miri estendeu o lábio inferior em um biquinho e eu achei


incrivelmente difícil não me inclinar e chupar a carne rosa brilhante.

— É tão difícil de acreditar?

Piscando, removi meu olhar de sua boca para me concentrar em


suas íris azul esverdeada.

— De modo nenhum. É realmente... Sexy.

Eu balancei minhas sobrancelhas e ela riu, uma visão rara que eu


avidamente devorei.

— Um trabalho, hein? Ok.

— Sério?
Seus olhos se arregalaram e ela olhou para mim com o que só
poderia ser descrito como reverência. Aproximei-me e tomei aquele lindo
rosto em minhas mãos, dando-lhe um beijo casto.

— Qualquer coisa que você queira, boneca.

Eu queria perguntar a Miri como ela acabou viciada em H e vivendo


com esse fodido Mason. Aparentemente, ela tinha um bom emprego e uma
vida decente. Porque diabos ela deixou isso? Eu segurei minha língua,
porque eu sabia que se seu forçasse muito, Miri iria se fechar. Ela não
tinha me deixado entrar completamente e não confiava em mim
plenamente. Eu estava confiante, porém. Miri acabaria por me deixar ver
tudo dela, e quando o fizer, eu mataria todos os seus demônios e faria tudo
em meu poder para manter esse seu sorriso lindo.

Qualquer coisa.
Miri

Limpa.

Eu estava limpa pela primeira vez em meses e não tinha sequer


percebido. Talvez eu devesse ter ficado com raiva pela prepotência de Jag,
mas tudo o que eu sentia era imensa gratidão. Jag, Boss – um cruel,
violento criminoso – era a única pessoa em toda minha vida, além de Cat,
que realmente se importou comigo e com meu bem-estar. Toda vez que
aprendi algo novo sobre o homem enigmático, caí um pouco mais difícil
pelo senhor com um coração de ouro escondido.

Desde o nosso dia no lago há uma semana, eu não tinha visto muito
de Jag. Ninguém me diria o que estava acontecendo, não que eu gostaria
de perguntar, mas eu não era estúpida. Algo estava errado e o que quer
que fosse tinha todos ao redor na casa no limite. O número de homens de
preto andando pelo complexo dobrou, o braço direito de Jag, o super
assustador Milo, era uma presença constante. Tinha até passado a dormir
no quarto mais próximo do meu. O pensamento de que um bandido
assustador estava tão perto me fez estremecer, especialmente nas noites
em que Jag não veio para a minha cama.

Ser excluída incomodava. Eu queria confrontar Jag, estar lá para ele


como esteve comigo em meu tempo de necessidade. Mas não havia uma
chance no inferno que o chefe de um grande sindicato de drogas iria
confiar na porra de uma ex-viciada, não importa o quanto ele parecia se
importar ou quão terno e amoroso ele era na cama. Por mais que eu queira
acreditar que o que eu sentia por Jag era recíproco, eu sabia melhor. Uma
vez que eu estivesse sobre meus próprios pés, eu iria embora antes que
Jag me jogasse para fora. Seria menos humilhante assim.

Se eu aprendi uma coisa desde que Cat desapareceu, era que


ninguém fazia nada sem esperar algo em troca, por isso, mesmo que eu
estivesse com minha cabeça no lugar e, lentamente caindo por Jag,
quando na realidade eu deveria estar correndo para muito, muito longe, eu
não tinha ilusões quando eu estava com ele. Ele não ia me pôr no colo, me
comprar minha casa dos sonhos e iríamos viver felizes para sempre. Eu só
tinha que ter certeza de proteger meu coração.

— Nós estamos aqui, senhora.

A voz de Frank me tirou dos meus pensamentos errantes.

— Oh, obrigada. Hmm, eu vou estar de volta em poucos minutos.

Quando toquei a maçaneta da porta, Frank limpou a garganta. Olhei


para ele por cima do meu ombro.

— Tem certeza de que não quer que eu vá com você?

Seus olhos escuros sacudiram ao redor da oficina gasta. Um edifício


de dois andares, feito com tijolos em ruínas, as janelas mostrando sinais
de podridão. As portas enferrujadas do compartimento estavam enroladas
e homens com aparência dura e usando macacão estavam ou embaixo dos
carros ou imersos em conversas uns com os outros, enquanto indicavam
vários veículos. A familiaridade disso me confortou.

— Eu vou ficar bem, Frank.

Sua preocupação era um pouco doce, mas eu sabia que seu


comportamento era mais devido ao seu medo de Boss se algo acontecesse
comigo do que preocupação real por minha segurança. De qualquer
maneira, a ajuda de Frank era desnecessária. Eu estive em situações
muito, muito piores do que isso. Dei-lhe um pequeno sorriso e sai do
carro. Quando olhei para trás, notei o olhar afiado de Frank perfurando-
me, acompanhando meu progresso enquanto eu atravessava o lote
empoeirado, em direção ao balcão entalado em um minúsculo espaço no
canto da frente da oficina. Atrás dele estava um homem grande,
musculoso que ofuscava a cadeira em que sentava, um ventilador
industrial soprando forte o ar úmido em suas costas.

Minhas bochechas aqueceram conforme eu sentia cada conjunto de


olhares disparando em minha direção no segundo em que pus os pés no
espaço úmido.

O homem na recepção não pareceu perceber o silêncio súbito ou a


minha presença na frente dele. Com cabeça baixa, ele tinha um telefone no
ouvido e uma fatura em sua mesa. Ele estava claramente chateado,
discutindo com quem estava do outro lado sobre o recebimento de peça
errada. Quando desligou, ele deixou escapar um longo suspiro e arrastou
as mãos manchadas de graxa pelo seu rosto. Ele me viu e suas mãos
pararam no meio do caminho.

O grandalhão me olhou de cima e para baixo, e sua boca se abriu.


Ele deixou cair as mãos até sua mesa e inclinou a cabeça para o lado
enquanto apertava os olhos.

— Oi.

A vermelhidão em meu rosto foi para todo meu corpo, fazendo a


garagem úmida ainda mais quente. Estar sob o escrutínio de tantos
homens de uma só vez era embaraçoso. Memórias de quão duro eu tive
que trabalhar para provar eficiência para os homens na minha antiga
oficina inundou a minha mente. Eu era melhor mecânica do que mais da
metade deles. Uma vez que todos meus colegas perceberam isso, eles a
contragosto me aceitaram como um dos seus, sendo mulher ou não.
Conquistar um grupo novo seria uma merda, mas eu faria o que fosse
preciso para conseguir minha vida de volta.

Você pode fazer isso, Miri.

— Oi. Eu sou Miriam Murphy... Miri.

Eu disse, estendendo a mão por cima da mesa.

O ruído alto da cadeira de metal no concreto sacudiu meus dentes


quando o homem se levantou. Engoli em seco, forçando-me a respirar
enquanto ele se elevou sobre mim, uns bons oito centímetros mais alto que
Jag, que não era um homem baixo de qualquer forma. Lembrei-me de que
Frank estava a apenas alguns quilômetros de distância no carro e reuni
minha mente, forçando um sorriso.

O homem piscou em choque antes de sua mão calejada envolver em


torno da minha.

— Beau Clayton.

Depois de um balançar saudável, ele soltou minha mão e me deu um


olhar de sobrancelha arqueada.

— Então, o que posso fazer por você, mocinha?


Eu me enrolei meus dedos em minha mão, cavando minhas unhas
curtas na carne macia para não estremecer.

— Eu quero me candidatar para o trabalho de mecânico de motos


que você disponibilizou.

Desta vez, Beau nem sequer tentou esconder sua surpresa. Seus
olhos se arregalaram comicamente e sua boca se curvou em um sorriso
torto. Ele era um cara de boa aparência, como uma espécie de cowboy
louro volumoso usando um macacão ao invés de jeans e chapéu.

— Um mecânico, hein? Uma coisinha pequena como você? Você não


tem medo de quebrar uma unha ou algo assim, querida?

Eu levantei minhas mãos, certificando-me de que Beau desse uma


boa olhada nas minhas unhas curtas, lascadas e com meias-luas de graxa
abaixo de cada uma.

— Olha como eu me importo com as minhas unhas?

Foi a minha vez de levantar uma sobrancelha. Beau riu e gesticulou


em direção a uma, mas relativamente nova, moto Honda suja de lama.

— Mostre-me o que você pode fazer. Hank aqui só estava indo


verificar a transmissão e ver o que está causando ao proprietário uma
tonelada de dores de cabeça. Impressione-me, querida, e você tem o
emprego.

Várias horas depois, Jag ainda não estava em casa. Na verdade, uma
vez que eu pensei sobre isso, eu percebi que não tinha visto ele desde
ontem, e mesmo assim foi apenas um olhar fugaz quando ele entrou na
casa para se trancar em seu escritório com meia dúzia de seus homens.
Nós não tivemos a oportunidade de fazer contato com os olhos ou falar
uma única palavra antes que Jag desapareceu cercado por Milo e seus
homens de preto, com profundas e ameaçadoras carrancas em cada um de
seus rostos.

Eles pareciam tão irritados e intimidantes que calafrios eclodiram


sobre a minha pele quando eles marcharam pela sala. A maneira como
eles rodearam Jag quando desciam pelo corredor me lembrou de um
batalhão de Stormtroopers seguindo Darth Vader em torno da Estrela da
Morte.

Devo ter cochilado enquanto esperava, um grande estrondo me


assustou através de um sono profundo. Com o coração acelerado, me
levou um minuto para me recuperar e lembrar de que eu estava na sala de
estar, à espera de Jag chegar para que eu pudesse lhe dizer a boa notícia
do meu novo emprego. Do lado de fora estava escuro, e o cômodo banhado
em sombras. Era mais tarde do que eu pensava.

Comecei a erguer-me do sofá quando a porta da frente bateu e vozes


iradas ecoaram através do foyer. Meu estômago caiu e eu hesitei no limiar
da sala de estar.

Eu vou até lá? Fico escondida aqui?

Uma das vozes definitivamente pertencia a Jag e uma era Milo, mas
as outras poderiam ser de qualquer um dos Homens de Preto. Havia
apenas uma maneira de sair desse cômodo, e levava diretamente para o
corredor fora do hall de entrada, onde a comoção estava. Enervada, eu
estava prestes a me enrolar de volta no sofá e esperar que todos se
acalmassem ou desaparecerem, quando Jag soltou um sonoro rugido
primal que fez meu pulso disparar e meu sangue gelar. O grito foi
imediatamente seguido por um silêncio ensurdecedor.

Bem, isso fez a minha decisão fácil.

De jeito nenhum eu poderia ficar de braços cruzados e ouvir Jag


destruir a casa ou se machucar em uma luta. Se Jag estava com tanta dor,
eu queria estar lá para ajudar de qualquer maneira que eu pudesse. Ele
tinha estado lá para mim quando eu estava no fundo do poço; agora era a
minha vez de retribuir o favor.

Sem pensar, eu corri para o corredor, descalça, e derrapei até parar,


quase derrubando um dos Homens de Preto. Meu coração se partiu com a
visão de Jag, seu belo rosto vermelho de raiva, peito e rosto pressionado
brutalmente contra a parede. Milo e outro homem estavam usando toda a
sua força combinada para manter Jag preso. Milo tinha torcido o braço de
Jag para trás de forma cruel enquanto Jag lutava para se libertar. Olhei
em volta e vi um belo armário antigo destruído, o painel decorativo
resumido a vidro espalhado pelo chão de mármore em milhares de
brilhantes pedaços.
— Senhora, tenha cuidado.

Um dos homens enfiou um braço para me impedir de caminhar


sobre os cacos de vidro com meus pés descalços.

Jag estava em tal estado que ele não me viu entrar no cômodo
apenas a alguns metros de distância. Infelizmente, Milo notou. Seu olhar
escuro, hostil, pousou em mim e medo gelado penetrou minha pele, terror
correndo por todo a caminho até os meus ossos. Mesmo ao usar toda a
sua força para subjugar Jag surrando e xingando, o olhar intimidador de
Milo nunca deixou o meu rosto. A expressão de Milo só poderia ser
descrita como ódio cru, absoluto. Dirigido exclusivamente a mim. Os
cabelos na minha nuca se arrepiaram quando os lábios do grande homem
se curvaram em um sorriso desagradável.

— Dê o fora daqui, vadia!

Milo estalou. Saliva voou de sua boca.

Eu vacilei, tonta com a falta de fluxo sanguíneo enquanto tudo isso


corria pela minha cabeça até os meus pés, e eu tremi de frio repentino. As
palavras venenosas de Milo apertaram em volta do meu pescoço e me
deixaram sem resposta. O silêncio caiu como uma cortina espessa em todo
o foyer e Jag parou de lutar. Ele ficou completamente imóvel pela primeira
vez desde que rompi pela porta da frente. Ficou tão tranquilo que eu podia
ouvir o barulho do meu coração batendo nos meus ouvidos.

— Me solta.

Jag murmurou, quebrando o silêncio. Sua voz era um rosnado


baixo, suas palavras uma estaca afiada conforme ele tomava respirações
rasas, rapidamente exalando contra a parede, implacável.

O Homem de Preto imediatamente tirou as mãos de seu chefe e se


afastou. Milo, no entanto, permaneceu no lugar, empurrando contra as
costas de Jag, puxando o braço de Jag mais para cima entre as omoplatas
em um ângulo doloroso. O olhar furioso de Milo nunca deixou o meu,
apesar das ordens de seu chefe. Seu foco sobre mim era tão singular que
eu me perguntava se ele sequer ouviu Jag falar.

Agitada até o núcleo, minha boca e garganta estavam secas. Lambi


meus lábios rachados e não havia umidade para molhá-los. Se olhares
pudessem matar, eu teria morrido mil vezes pelo brilho de aversão de Milo.
— Se você não tirar a porra das mãos de cima de mim neste
segundo, você não vai viver até amanhã.

Foi a ameaça de Jag que finalmente estalou Milo fora de seu transe.
Ele zombou e me libertou de seu olhar predatório. Engoli em seco
conforme respirava, não ciente de que eu estive segurando a minha
respiração durante todo o impasse.

No segundo que Milo soltou o braço de Jag, Jag girou em um borrão


e bateu seu tenente na parede oposta, pressionando seu antebraço contra
a garganta de Milo. Magicamente, Jag estava com a maior e mais
assustadora faca que eu já tinha visto, e segurou a lâmina serrilhada preta
no rosto de Milo, seus olhos brilhantes e os dentes descobertos.

Puta merda...
Boss

Esta noite foi uma bagunça de proporções épicas. Los Guerreros


pegaram os homens que Milo atribuiu para seguirem seu patrão, El
Chuchillo, e executou-os sem entrar em contato comigo ou me dar um
aviso. Era um código tácito avisar ao outro chefe se pretendia matar seus
homens — acordos foram feitos, vidas foram poupadas, compromissos
feitos. Não esse pequeno pedaço de merda. Ele cortou as gargantas de
Seven e Jimmy, em plena vista da nossa outra equipe. Eu não tinha
dúvida de que ele fez isso de propósito para me antagonizar em uma
guerra. Eu, obviamente, subestimei quão insultado El Chuchillo ficou
quando recusei sua oferta para entrar no mercado sexual.

Se esse filho da puta queria uma maldita guerra, era exatamente


isso que ele ia obter.

Eu estava na minha base de operações quando recebi a notícia das


execuções. George era da balística, com Jimmy sendo um amigo de
infância. Os dois juntaram-se sob o antigo chefe e eram tão próximos como
irmãos. Fiquei puto, não só porque meus homens foram brutalmente
assassinados, mas também porque eu honestamente não acredito que
Cuchillo teve a coragem de começar uma guerra comigo. O fato de que ele
fez, e o fez de forma tão brutal, significava apenas uma coisa. Brick em
Houston tinha aceito o seu negócio e ambos uniram forças. Eles estavam
indo para tentar derrubar a minha operação e tomar Austin para si
próprios.

E eles podem realmente ter sucesso.

No momento que pacifiquei George e reuni nossos homens para uma


reunião de emergência na minha casa, eu estava agitado ao ponto de
perder a minha merda, e foi a minha vez de ser o único que teve que ser
acalmado.
Nós montamos em três grandes SUVs de volta para casa. No
segundo que a minha parou, eu abri a porta e invadi a casa, meu corpo
explodindo em uma torrente de raiva e minha visão tingida de vermelho.

— Merda, porra. Filho da puta do caralho! Eu vou cortá-lo em


pequenos pedaços com as minhas próprias mãos!

— Se acalme, chefe!

Virei perante a reprimenda de Milo, pronto para uma luta. Eu


precisava de uma. Qualquer coisa para expelir a raiva e frustração gerada
pela esmagadora sensação de fracasso. Dois dos meus homens jamais
voltariam, e isso pesava da minha mente.

— Cale a boca, Milo!

Caminhei até ele e bati seu peito com o meu. Eu podia ver Milo
tentando segurar. Sua mandíbula pulsava e seus olhos brilhavam com
fogo. O pequeno estúpido queria me bater. Muito.

— Nós não podemos ganhar esta coisa se não podemos sentar e


fazer um plano maldito, porque você está muito ocupado tendo um
chilique.

Milo retrucou.

— Foda-se!

Eu coloquei minhas mãos sobre o peito do homem grande e


empurrei. Milo tropeçou para trás, os olhos arregalados. Ele se recuperou
rapidamente, com o rosto vermelho e fervendo. Milo ajeitou o paletó e
levantou uma sobrancelha arrogante.

— Como eu disse antes, talvez ter uma buceta em sua casa se


esfregando contra você tenha o feito emocional e toda essa merda. Inferno,
isso fez você recusar o negócio que Chuchillo ofereceu. Um bom negócio
que poderia nos fazer um monte de dinheiro, porra. Qual é o problema,
você tem TPM ou algo assim, chefe?

Com a menção de Miri, eu tive um estalo. Com um rugido, eu


abaixei a cabeça e empurrei Milo. Choquei-me contra ele e suas costas
colidiram contra um armário de vidro preenchido com pequenos pedaços
de alguma porcaria cara. Milo grunhiu quando eu bati a respiração fora
dele. O armário caiu no chão de ladrilhos, explodindo com um grande
estrondo, seguido pelo som de vidro quebrando.

— Não vá lá comigo, Milo!

Meu tenente levantou-se e me empurrou para trás. Furioso e


desesperado para libertar minha raiva, para causar dor, eu levantei o
punho para tomar impulso. Alguém atrás de mim agarrou meu braço, me
impedindo de matar o meu braço direito.

— Boss, acalme-se.

O sussurro no meu ouvido não fez nada para diminuir a minha


fúria. Na verdade, eu só lutei mais. Milo saltou e pegou meu outro braço,
usando-o para me manobrar como queria. Os dois homens me prenderam
contra a parede enquanto eu chutava e pedia para ser liberado. Em todos
os meus anos de trabalho neste negócio, esta foi apenas a segunda vez que
eu já tinha perdido o controle. A primeira vez foi quando eu descobri que
minha irmã estava morta. Lembrei-me daquele momento como se tivesse
acontecido ontem.

Fora de controle. Sem poder consertar nada. Inútil. Uma falha.

— Dê o fora daqui, vadia!

As palavras de Milo me fizeram congelar, minha luta parando


abruptamente. Havia apenas uma mulher na mansão de quem ele poderia
estar falando. A governanta e a cozinheira não estariam aqui até tarde da
noite. Só assim, a minha indignação tingida de vermelho foi congelada, se
transformando em um manto de escuridão letal.

— Me solta.

Minha voz era tão baixa que surpreendeu até a mim. Feyo, o homem
que ajudou a me segurar, imediatamente liberou meu braço e deu um
passo para trás junto dos outros homens. Inalei pelo nariz, desejando
manter a calma o suficiente para falar.

— Se você não tirar a porra das mãos de cima de mim neste


segundo, você não vai viver até amanhã.

Ouvi Miri ofegar. Ela estava perto. Muito perto. Muitos homens
perigosamente explosivos nas proximidades. Eu incluído. Finalmente, Milo
voltou a si e soltou meu braço. Com um movimento rápido, bem praticado,
eu arranquei meu KA-BAR da minha perna e girei ao redor, prendendo
Milo contra a parede oposta com meu antebraço, enquanto brandia a
lâmina longa. Deixei a borda afiada raspar sua pele, onde fez um corte
milimétrico. O sangue brotou e uma única gota escorreu por seu rosto.
Furioso, eu cavei meu antebraço em seu pescoço grosso, assistindo
alegremente enquanto seu rosto ficou vermelho e seus olhos escuros
queimavam com raiva. Nossos narizes colidiram quando eu lancei o último
aviso.

— Nunca fale sobre Miri novamente. Não fale com ela. Não olhe para
ela, nem sequer, porra, pense nela. Ela não tem absolutamente nada
comigo recusando aquela merda de negócio.

Mesmo com o seu ar cortado, Milo conseguiu esboçar uma carranca.

— Eu não negocio prostitutas e eu definitivamente não lido com a


escravidão humana. Entendeu?

Arrastei a lâmina para baixo e o corte abriu dois centímetros. Um


fluxo constante de sangue escuro brotou da ferida, escorrendo pelo queixo
de Milo e em seu terno. Eu tive que segurar um sorriso de escárnio.

Eu arrastei a lâmina para baixo e o corte aberto para meia polegada.


Um fluxo constante de sangue escuro brotou da ferida, escorrendo pelo
queixo de Milo e em seu terno. Eu tive que segurar um sorriso de escárnio.

Nojento pra caralho.

Relutante, Milo deu um afiado aceno de cabeça em entendimento.


Dei um passo para trás, limpando cuidadosamente a faca em sua jaqueta
antes de devolvê-la a bainha. Seu terno já estava arruinado—não havia
nenhum sentido em destruir o meu também. Meus olhos foram até Miri.
Ela parecia como se estivesse acabado de acordar, sem maquiagem,
vestindo shorts minúsculos de dormir e um top combinando, seu cabelo de
fogo empilhado sobre a cabeça e sua boca aberta em estado de choque. Eu
conheci os olhos verdes assustados e inclinei meu queixo para que ela
soubesse que estava tudo bem. Ainda há trabalho a ser feito, então eu dei
meia volta, mandei um deles chamar alguém para limpar a bagunça e o
resto me seguir para o escritório.

Por mais que eu teria amado jogar Miri sobre meu ombro, levá-la
para cama e me enterrar entre suas coxas durante toda a noite, eu tinha
uma guerra para planejar.
Foda-se, eu estava cansado.

Dois dos meus homens estavam mortos, um sinal claro da intenção


do meu rival para me levar ao extremo. Eu tive outra fodida luta com Milo
quando precisávamos mais do que nunca trabalhar em equipe para
demolir o nosso inimigo, e eu estava frustrado por não conseguir um único
momento com Miri em mais de uma semana, sozinhos ou de outro jeito.

Quando passei pela porta fechada de seu quarto, fiz uma pausa. Ela
parecia devastada antes, quando me viu perder a cabeça no foyer.
Estremeci com o pensamento de Miri me ver assim, completamente fora de
controle, mas parecia como se ela entendesse. Foi uma camaradagem das
sortes. Miri sabia o que era estar fora de controle. Ela conhecia a dor.

Ia contra a minha natureza procurar conforto em outra pessoa.


Tenho certeza de que é porque lidei com isso sozinho por anos. No entanto,
eu queria, muito. Movendo-me o mais silenciosamente possível, eu
escorreguei em seu quarto e me despi. Miri estava deitada de lado, de
costas para a porta. O doce aroma de sua pele enchia o quarto e chamou-
me como uma mariposa em seu casulo. Eu não podia sair agora, mesmo
se quisesse.

Eu não queria.

Eu deveria ter ido para o meu quarto, dormir na minha cama e


deixar Miri só para ela não ficar presa na minha merda mais do que eu já
estava. Mas eu era muito egoísta, profundamente egoísta. Eu precisava
dela como eu precisava de ar para respirar. Deslizei entre os lençóis
frescos e pressionei meu corpo contra as costas de Miri, deixando-a escoar
o calor na minha pele fria e coração gelado. Ela fez um pequeno som, um
pequeno gemido satisfeito, e eu sabia, conforme passei meus braços em
volta de sua cintura e me enrolei em torno de seu pequeno corpo, eu sabia
que estava apaixonado por essa garota. A única que tinha tropeçado na
minha vida e a transformou para sempre.

Conforme minhas pálpebras ficaram pesadas, o sono me puxando


para baixo, meu subconsciente me lembrou que eu provavelmente teria
que fazer uma escolha em breve. Miri ou meu trabalho. Recusava-me a
prendê-la nesta vida quando ela merecia muito mais. Mas eu tinha certeza
de que não possuía a força para tomar a decisão correta. Eu era egoísta.
Ávido. Com fome por mais.

Amanhã. Eu me preocuparia com isso amanhã. Vivendo o momento,


enterrei meu nariz no cabelo de Miri e respirei o cheiro dela, permitindo
que os sonhos de um futuro que jamais teria preenchessem a minha
mente enquanto eu adormeci.

Miri

A pele ao redor dos meus olhos estava inchada e pesada quando eu


pisquei perante a luz da manhã entrando no quarto. Minhas pálpebras
estavam tão inchadas que mal consegui ver através das fendas finas.
Comecei a rolar para cobrir a cabeça com o travesseiro quando me lembrei
de ontem à noite. Jag e Milo, lutando com grunhidos e maldições. Milo
olhando para mim com aqueles olhos terríveis como se quisesse me matar
com as próprias mãos. Eu fui para cama e chorei sozinha até dormir
sabendo que um verdadeiro relacionamento com Jag nunca seria possível.
Minha garganta estava apertada e meus olhos ardiam. Eu não podia
chorar. Eu não iria chorar. Quero dizer, meu Deus, eu simplesmente não
tinha mais lágrimas depois de ter derramado tantas na última noite.

Uma respiração suave me fez sentar na cama com medo. Olhei por
cima e piquei várias vezes para ter certeza do que eu vi. Para a minha
surpresa, Jag estava deitado ao meu lado na cama, de costas, braços
longos estendidos. Seu lindo rosto estava relaxado com o sono, e eu fiz
uma careta para a grande mancha roxa descolorindo uma bochecha.

Ele veio até mim na noite passada?

Eu não me lembrava de Jag entrar no quarto, muito menos subir na


minha cama. Jesus, eu deveria estar muito cansada. Desde que eu tinha
estado na casa de Jag, esta foi a primeira vez que compartilhamos uma
cama para outra coisa além de sexo. Meu coração estava pesado com
emoção. Eu desejava gravar esse momento em meu cérebro para que eu
pudesse relembrá-lo daqui a alguns anos, quando Jag não fosse nada além
de um mero ponto no radar da minha vida.

Mordendo meu lábio, eu olhei para o homem lindo, estudando cada


detalhe. Assim como fiz na primeira vez que o vi dormir, notei que, sem as
constantes exigências de seu trabalho, Jag parecia muito, muito mais
jovem do que o chefe rude que eu vi todos os dias. Seu rosto tenso, sempre
em atitude defensiva se foi, substituído por um homem descontraído, belo
e assombrado. A barba fina que cresceu durante a noite coloriu suas
bochechas angulares e queixo, dando um toque robusto para sua beleza
clássica de boa aparência.

Meus olhos examinaram a tatuagem intrincada na pele de seu


peitoral esquerdo. A escuridão, a rosa vermelha sanguinária foi muito bem
sombreada. Algumas folhas verdes profundas cresciam a partir de um
tronco coberto de espinhos. Eu nunca tinha realmente olhado para a
tatuagem antes. Quando Jag não estava usando camisetas, usava blusas
de manga compridas—nenhuma das quais exibia sua arte. Toda vez que vi
Jag sem camisa, tínhamos estado perdidos um no outro, o fogo
inextinguível que queimava entre nós. Esta foi a primeira vez que tive a
oportunidade de estudar a aparência.

Precisando tocá-lo, eu gentilmente tracei a linha curva da haste com


uma ponta do dedo.

A mão de Jag disparou para fora de seu lado, pegando a minha


própria em um aperto dolorosamente apertado.

— Ow!

Eu lutei para puxar minha mão de seu domínio esmagador.

— Miri?

Quando Jag percebeu o que ele estava fazendo, uma carranca puxou
sua boca e ele soltou minha mão. Jag sentou-se e esfregou as mãos pelo
seu rosto, o arrastar de dedos em sua barba praticamente me implorou
para inclinar e deslizar minha língua sobre a superfície áspera.

— Sinto muito, Miri. Eu estava dormindo, eu acho. Normalmente,


não... Quer dizer... Eu nunca dormi com ninguém, então eu não estou
acostumado a...
As mãos de Jag caíram para seu colo e ele caiu contra a cabeceira da
cama.

— Você está bem?

Olhos azuis cansados encontraram os meus. Os círculos escuros


sob eles sublinharam a extensão de sua exaustão.

— Estou bem. Eu não queria assustá-lo.

Eu olhei para longe, sem saber o que dizer sobre a exibição cruel e
assustadora da noite anterior. Ou sobre encontrá-lo na minha cama esta
manhã. No final, eu decidi sobre honestidade.

— Por que você está aqui, Jag?

Seu suspiro foi longo e cansativo, o de um homem cansado de lutar.

— Eu não sei, Miri. Eu só queria me sentir normal durante um


minuto da minha vida.

Ele virou a cabeça para prender-me com aqueles olhos


hipnotizantes.

— E eu senti sua falta.

Meu coração deu uma cambalhota e eu respirei alto.

— Também senti sua falta.

Com um pequeno sorriso, o grande traficante mau fez algo que eu


nunca, nunca pensei que veria. Jag levantou o braço—um convite para
que eu me enrolasse no espaço ao lado dele, um abraço. Eu não tive que
pensar duas vezes antes de aceitar a oferta e correr para fechar a
distância. Uma vez que eu estava do seu lado, Jag envolveu seu braço forte
ao redor de mim, me segurando perto. Meus olhos fecharam quando ele
pressionou um beijo suave no topo da minha cabeça.

— Eu tenho um emprego.

Eu segui os gomos de seu estômago tenso com a ponta dos dedos.

— Parabéns.

O sorriso era evidente em sua voz, embora eu não pudesse vê-lo.


— Obrigada. Eu começo na segunda-feira.

— Motocicletas?

— Sim. Eu não posso esperar para trabalhar de novo.

Eu derreti ao lado de Jag, aquecendo-me com seu louvor e o conforto


raro oferecido neste momento de paz. Nenhum outro homem por perto,
sem gritos, ninguém incomodando Jag ou olhando feio na minha direção.
Era refrescante e relaxante e... Normal, assim como Jag disse que queria.

— Estou feliz por você, boneca. Na verdade... Eu tenho pensado em


fazer uma nova carreira.

O que?

Tão confortável como eu estava envolvida em seus braços, me


inclinei para trás para que eu pudesse ver seu rosto.

— Você está falando sério?

A boca de Jag se curvou em um sorriso torto e meu coração pulou


uma batida.

— Sim, eu estou, boneca. Eu nunca quis fazer isso por tanto tempo.
Esse nunca foi o meu plano.

Aqueles lindos lábios puxaram para baixo nos cantos.

— Mas você continuou fazendo isso.

Ele assentiu.

— Eu fiz. Uma vez que eu...

Jag engoliu, sua garganta ondulando antes de continuar.

— ... Assumi tudo isso.

Ele fez um gesto ao acaso com um movimento de seu braço para


indicar tudo o que nos rodeava.

— Eu não tinha nada mais. Para onde ir, sem outras opções. Isto é
tudo o que eu conhecia.

Jag deu de ombros, uma tentativa de agir casual, mas depois dos
últimos dois meses, eu o conhecia melhor do que isso. A verdade em seus
olhos o traiu, dor piscando atrás do azul feroz. Eu queria
desesperadamente perguntar o que Jag entende por nenhuma opção, mas
não queria estragar o momento ou fazer com que o homem normalmente
calado parasse de falar.

— O que você faria se você saísse?

Jag baixou o olhar e tomou uma das minhas mãos, nossos dedos
entrelaçados. As borboletas no meu estômago vibraram de alegria.

— Eu tenho um monte de dinheiro, Miri. Eu poderia tomar alguns


anos, aprender uma profissão, descobrir alguma coisa. Talvez apenas me
aposentar e não fazer nada por um tempo. Comprar uma casa pequena e
viver em uma praia aleatória em algum lugar. Uma varanda que me
permitisse ver o nascer do sol.

Seus olhos retornaram aos meus, hesitante.

— Talvez você pudesse considerar me fazer companhia?

Minha respiração deixou meus pulmões em uma corrida. Eu estava


tão atordoada que perdi a capacidade de falar.

— Miri?

A testa de Jag estava franzida e ele estava corando. Meu Deus! Boss
está corando! Responda o homem, Miri!

— Eu adoraria.

A carranca de Jag se transformou em choque antes de se espalhar


em um largo sorriso.

— Você realmente iria comigo? Deixaria Austin e começaria de novo?

Eu sorri de volta.

— Sim. Não tenho mais nada aqui.

De repente, eu estava deitada de costas, noventa quilos do homem


mais sexy em cima de mim, beijando-me sem sentido. Jag se afastou,
ainda sorrindo quando olhou para mim. Ele riu e a verdadeira felicidade
no som muito raro selou o acordo.

Onde eu já tinha flertado com o perigo por me envolver com Jag, eu


já estava caindo do penhasco, incapaz de parar a rápida descia. Quando
eu bati no fundo, em vez de ser pega no conforto dos meus sentimentos
por Jag, a realidade me bateu na cabeça.

Eu estava apaixonada por esse homem intrigante, por vezes violento,


super protetor, mas eu não podia ir com ele.

Como Jag estava ocupado cobrindo meu rosto e pescoço com beijos,
dormência gelada penetrou sob minha pele. Eu empurrei o seu peito, mas
Jag era muito pesado e continuava a me beijar.

— Jag.

Ele me ignorou e continuou seu ataque sensual.

— Jag!

Uma cabeça despenteada de sono e com pálpebras pesadas ergueu-


se de onde estava acariciando meu pescoço.

— Eu não posso deixar Austin. Não... Não sem Cat.

Jag olhou, seu rosto repentinamente sério. O jovem brincalhão, feliz,


desapareceu e o traficante feroz retornou em um piscar de olhos.

— Quem é Cat?
Boss

— Milo, eu quero que você veja a situação com Los Guerreros


enquanto eu cuido de uma coisa.

Milo olhou para mim do outro lado da minha mesa como se eu


tivesse acabado de admitir que tinha um segundo pau escondido em
minhas calças. Ele coçou o queixo entre os dedos grossos. Meus olhos
deslizaram para o pequeno corte em sua bochecha onde eu atingi com
minha lâmina na noite passada. Já estava se curando, dois curativos
presos sobre uma crosta que se formou sobre a ferida.

— Boss, o que poderia ser mais importante do que se preparar para


uma guerra?

Enquanto eu entendi a preocupação de Milo, especialmente num


momento em que as coisas eram instáveis e poderiam ir muito ruim muito
rápido, o que faço ou deixo de fazer era o meu próprio negócio. Por mais
que eu queria calá-lo permanentemente por mais uma vez questionar
minhas ordens, eu precisava de Milo agora mais do que nunca, se eu
queria parar os Los Guerreros de assumir Austin.

— Nada é mais importante do que a preparação para a guerra, meu


amigo. É por isso que você foi atribuído de estar no comando de tudo. Você
é o melhor que eu tenho. Estou confiante de que você pode manter tudo
sob controle.

Alimentar o ego enorme de Milo era sempre a melhor maneira de


calá-lo e levá-lo a seguir os comandos.

Como esperado, neste caso não foi diferente. Ele mostrou seu dente
de ouro e sorriu, os olhos escuros brilhando com sua sede de sangue, filho
da puta louco.

— Certo. Eu sou a porra do melhor.


E ele é.

Eu balancei a cabeça.

— Eu estou te dando controle total sobre George e os homens sob o


seu comando. Os negociantes devem manter olhos e ouvidos nas ruas,
mas eles não estão fazendo qualquer vigilância total. Esses idiotas não são
treinados ou equipados para lidar com um confronto com os homens de El
Cuchillo.

Apenas os escalões mais altos da minha organização sabiam como


lidar com os inimigos. Esses pequenos traficantes de rua tinham uma
função: manter o produto em movimento. Era isso. Eles não eram os
cérebros por qualquer meio. Bastaria apenas um idiota falando besteira
para transformar uma situação tensa em uma guerra civil.

Milo se espreguiçou, gemendo quando sua coluna estalou.

— Vou comandar tudo através do armazém principal se estiver tudo


bem, Boss.

— Perfeito. Quero alguém observando esses bastardos em todos os


momentos. Já mandei monitorar Brick. Um contato em Houston está
observando seus movimentos para nós. Nós vamos ter aviso com horas de
antecedência se ele estiver vindo em nossa direção.

Eu me levantei e circulei a mesa, estendendo a mão para o meu


tenente. Nós tínhamos batido cabeça muito ultimamente, mas eu
precisava ter certeza de que Milo se comprometeu a parar El Cuchillo.

Milo aceitou minha mão, apertando-a enquanto me cumprimentava


com um golpe de ombro.

— Eu vou cuidar dele, Boss. Não se preocupe.

— Mantenha-me atualizado.

— Você pode contar com isso.

O grande homem piscou, mostrando aquele hediondo dente de ouro


uma última vez antes de sair. Algo sobre o olhar em seus olhos escuros e
sem emoção me perturbou.

Foda-se.
Eu deslizei para trás em minha cadeira, meus músculos doloridos
estavam cheios de nós e amontoados apertado. Eu não tinha percebido o
quão tenso eu estava com Milo ao redor. Nossa luta na última noite foi
muito ruim. Nós não costumávamos perder o controle durante nossas
divergências. Desejo de sangue? Isso foi rapidamente se transformando em
uma coisa regular, e Milo não era o tipo de homem que deixava a merda ir
tão facilmente. Eu não tinha certeza se podia confiar nele como antes.

Um pouco de seguro extra não poderia machucar. Ainda bem que


havia pessoas que me deviam. Era hora de lucrar com alguns favores.

Depois de fazer algumas chamadas, esfreguei as costas do meu


pescoço em uma tentativa de parar a dor de cabeça que martelava
incessantemente dentro do meu crânio. Meus olhos doíam, queimando de
falta de sono, e meu corpo inteiro estava dolorido de cansaço. Estiquei
meu ombro, estremecendo com a dor aguda do golpe áspero de Milo.

Imbecil.

Mais uma vez o desejo de matar o homem passava por mim e meus
músculos se contraíram para agir. Trinquei os dentes para controlar a
fúria crescente causada pela incapacidade do meu tenente para calar a
boca. Ele tinha sorte de que El Chuchillo tinha começado essa merda ou
ele já seria um cadáver em algum lugar nos arredores da cidade. Eu
balancei a cabeça e retornei ao trabalho. Eu precisava falar com mais
alguns contatos e checar um cara de Houston.

Algumas horas mais tarde, minhas costas e ombros estavam


latejando e muito distraído para continuar debruçado sobre um
computador. Sai do escritório, esperando encontrar Miri para um pouco de
tempo de qualidade. Meu fardo diminuiu com cada passo que eu dava
para longe do meu trabalho e meu escritório, e uma luz, uma sensação de
flutuar criou raízes no meu peito. Talvez Miri gostasse de ir para um
passeio em uma das minhas motos. Sair desse ambiente opressivo por
uma ou duas horas seria celestial. Eu estava confiante de que meus
homens me alertariam se alguns dos homens de El Cuchillo entrassem em
nosso território. Então, contanto que eu ficasse nas estradas que conhecia,
estaríamos seguros. Sorrindo, eu pensava em meios de encontrar a ruiva
de fogo.

— Ei, sexy. Eu estive esperando por você.


Minha cabeça girou. Quando meu olhar caiu sobre o assento na
mesa da cozinha, que comportava uma loira alta em vez da ruiva esbelta
que eu fantasiava sobre, meu rosto se contorceu em uma carranca e
extrema irritação nublou o meu humor.

— Que porra você está fazendo aqui, Karina?

Por que diabos a minha foda rápida está na minha casa?

— Foi-me dito que você precisava descontrair um pouco.

Karina se levantou e deslizou em direção a mim em seus saltos


altíssimos, os quadris dançando e grandes seios saltando. Ela estendeu a
mão com uma longa unha pintada e arrastou-a pelo meu peito. Afastei sua
mão, além de irritado.

— Eu não pedi para você vir aqui, Karina. Você deve sair.

— Bem, eu já estou aqui. Nós também podemos tirar proveito.

A loira curvilínea cortou o espaço entre nós, agarrou meu pau e


começou a massageá-lo. Desta vez, eu segurei seu pulso e o torci em suas
costas.

— Seus serviços não são necessários, Karina. Nem agora, nem


nunca.

Eu a soltei e dei-lhe um pequeno empurrão. Ela tropeçou em seus


pés, mas se equilibrou rapidamente.

Os olhos de Karina se estreitaram e sua pele ruborizou.

— Foda-se!

Dei um passo para frente até que suas costas foram pressionadas
contra a parede e me aproximei, as palmas das mãos em ambos os lados
de sua cabeça. Precisou de cada grama de força de vontade que eu pude
reunir para me impedir de jogá-la em sua bunda para fora da casa.

— Fale assim de novo comigo e veja o que acontece. Eu te desafio.

Karina engoliu em seco, olhos arregalados e seu ato sedutor


desapareceu completamente. Eu apontei em direção ao foyer.

— Agora, caminhe pelo corredor, abra a porta da frente, e saia porra.


Ela assentiu e abaixou-se sob meu braço, movendo-se tão rápido
quanto aqueles sapatos ridículos permitiram. Uma vez que a porta da
frente fechou, revirei os olhos e me perguntei o que diabos eu havia visto
nela. Em vez de saltos e unhas pintadas eu imaginava mãos manchadas
de graxa e botas de cowboy. Em vez de dez camadas de rímel e
maquiagem, eu queria um punhado de sardas vermelho-ouro.

— Foda-se.

Apesar de querer saber por que Karina estava aqui, eu estava mais
interessado em encontrar Miri e ir a nosso passeio, então eu continuei
minha busca.

Miri não estava na biblioteca ou na garagem, seus dois lugares


favoritos. Na verdade, ela não estava em qualquer lugar. Agravado, eu
liguei para Sarge para ter seus homens fazendo uma varredura do terreno.

— Boss, eu pensei que você soubesse...

Um tentáculo gelado deslizou pela minha espinha.

— Soubesse de que?

— Nós pensamos, quero dizer, ela disse que estava tudo bem. Nós
pensamos, porque você a deixou conseguir um emprego...

— Maldição, Sarge! Cuspa isso fora agora!

Eu bati minha mão na mesa da cozinha, meu temperamento sendo


segurado pelo mais fino dos fios de seda, pronto para perder o controle a
qualquer momento.

— Miri saiu. Frank lhe deu uma carona. Ele a levou para o
shopping.

Sarge estava claramente com medo por ser o único a me informar


sobre a partida de Miri.

— Algum de seus homens foi com eles para protegê-la?

— Não, chefe.

— Filho da puta! Diga para Frank colocar o carro na frente! Vou


trazê-la de volta eu mesmo.
— Boss, Frank ainda não voltou. Ele está com ela no shopping,
esperando.

Eu gritei no telefone, gritando completamente fora de controle.

— Seu idiota. Se Frank está com ela, ligue para o filho da puta e
diga-lhe para obter sua bunda aqui e trazer Miri. Se ela ainda está nas
compras, faça-o entrar na maldita loja, colocá-la no carro e trazê-la para
mim. Agora!

— Sim, Boss.

Eu apertei o telefone na minha mão, suprimindo a vontade de atirá-


lo em toda a sala. Se Frank ligasse eu precisava do meu telefone
funcionando não em um milhão de pedaços inúteis—não importa o quão
gratificante seria vê-lo explodir. Foda-se, eu deveria ter lhe dado um
telefone. Esses filhos da puta deveriam ter me perguntado antes de levar
Miri em qualquer lugar. Eles respondem a mim, não a ela. Eles a levaram
sem proteção com essa maldita guerra iminente.

Droga!

Confuso e um pouco instável, minhas mãos coçavam e minhas


pernas estavam inquietas. Eu precisava de algo para fazer me acalmar e
parar meu cérebro hiperativo de me enviar sobre a borda em um discurso
inflamado cheio de violência, simplesmente porque Miri foi ao shopping.
Eu considerei arrumar meu armário ou reorganizar minha mesa, mas
decidi que precisava de algo físico em vez disso.

Miri estava desprotegida. Fora da casa. Fora da minha proteção.


Onde Los Guerreros poderiam chegar até ela.

Furioso, eu rapidamente vesti roupas de treino e me dirigi para


minha academia bem equipada. Depois de um breve trecho, o qual eu
interrompi porque era muito sem sentido usar uma atividade para me
impedir de ficar obcecado com a segurança de Miri, eu pulei na esteira e
defini o teclado para um treino muito pesado. Meia hora e baldes de suor
depois, o tempo não tinha feito uma única coisa para acalmar minha
imaginação muito ativa ou meu humor volátil.

E se Miri foi às compras e se machucou?

Será que os homens de El Cuchillo a levaram?


Será que Frank derrapou na estrada e ambos estão mortos em uma
vala?

Certamente Frank teria ligado ou já estava de volta. O fato de que eu


não tinha ouvido falar dele ou de Sarge tinha me irritado além da conta.

Bati no botão de parar e me curvei, as mãos sobre os joelhos, para


recuperar o fôlego. Poças se formaram na esteira e suor escorria de mim
em córregos. Quando a minha frequência cardíaca diminuiu um pouco, eu
peguei uma toalha de uma pilha limpa de um armário nas proximidades e
fui em direção à pequena piscina na casa que servia como base de
operações para minha equipe de segurança. Sarge estava indo para obter
um pedaço da minha mente. Quando me aproximei da porta da casa da
piscina, grandes vozes vieram de dentro. Frank e Sarge estavam
discutindo.

— Você está dizendo a ele o que você fez Frank! Não fui eu quem
perdeu ela!

Pelo som disso, Sarge estava surtando.

E Miri estava desaparecida.

Meu estômago entrou em colapso, tentáculos de medo desenrolando


em meus membros de repente enfraquecidos enquanto eu ouvia Frank
responder.

— Calma, Sarge. Não sabemos o que aconteceu e você tem os


homens procurando por ela.

Mesmo o comportamento suave de Frank não fez nada para ajudar a


aliviar a náusea queimando meu intestino. Na verdade, sua falta de
preocupação com Miri me irritava. Incapaz de segurar por mais tempo, eu
rompi pela porta e os dois homens congelaram, olhos arregalados e bocas
abertas.

— Digam-me o que diabos está acontecendo. Agora!

Pelos olhares nos rostos dos homens, eu tinha certeza que parecia
insano, escorregadio dos pés à cabeça com suor, mãos em punhos e as
veias salientes. Se eu tivesse que adivinhar, diria que meu corpo inteiro
estava vermelho brilhante e vibrando com fúria. O fio que eu tinha
mantido pendurado acabara de estalar.
— Hey, Boss. Sarge e eu só...

— Eu não dou a fodida mínima para o que vocês estavam fazendo!

Dei um passo para frente e os dois homens se encolheram. Meu


queixo doía de apertar tão forte.

— Conte-me tudo. Agora.

Miri

O alto, zumbindo estridente de ferramentas pneumáticas


combinadas com o baixo zumbido constante de serras e o ressoar
constante de metal enviava vibrações através do teto para o chão onde eu
estava sentada. Cai no chão duro, enrolada em uma bola com as costas
contra parede, os tremores quase fortes o suficiente para fazer meus
dentes baterem.

Mendigos não têm o luxo de escolher e para ser honesta, o pequeno


apartamento acima da loja de carros era um inferno de muito melhor do
que alguns lugares que eu tinha chamado de casa. Beau não tinha ideia
do quanto eu devia a ele por me deixar ficar no pequeno espaço sem pagar
aluguel até que eu ganhasse meu primeiro salário. Sob a superfície áspera,
a grande montanha, o mal-humorado proprietário da loja tinha um
coração de ouro.

Quando eu apareci sem aviso prévio algumas horas atrás, meu rosto
manchado e úmido de lágrimas e minhas roupas sujas por caminhar
vários quilômetros, levando cada coisa que eu tinha em uma bolsa
pendurada por cima do ombro, Beau ofereceu o apartamento sem fazer
perguntas. Eu estava tão grata que fiquei sem palavras. Minha única
resposta a sua bondade foi começar a chorar mais uma vez.

Meu estômago roncou, mas eu ignorei, demasiado cansada para sair


e encontrar comida real. Além disso, Jag... Não, Boss, não era um homem
estúpido. A loja, que recentemente me empregou, seria um dos primeiros
lugares que ele iria verificar quando descobrisse que eu havia ido embora.
Uma vez que ele visse que minhas coisas estavam faltando, ele saberia que
eu fui embora de propósito e não desapareci do shopping.
Fechei os olhos e fiz uma oração rápida para Frank. Não era culpa
dele que ele me perdeu. Sob o pretexto de fazer compras, eu pedi a Frank
para me levar ao shopping, sabendo que eu poderia fugir por uma dúzia de
entradas sem ser vista. O homem amável até mesmo me deu um enorme
maço de dinheiro, sorrindo quando me disse para comprar algo bonito
para mim.

Pisquei as lágrimas iminentes, determinada a não chorar de novo,


mas meu coração partido não ia permitir-me esquecer a conversa que
tinha tido anteriormente. A única que cortou a confiança suada que dei a
Jag, cortando tudo entre nós com um único golpe profundo.

Milo entrou na biblioteca, o sorriso em seu rosto erguendo bandeiras


vermelhas por todo lugar. Olhei em volta, meu pulso acelerando, e percebi
que estava encurralada e sozinha. Quanto mais ele vinha para perto, mais
rápido o meu coração batia. Meu cérebro gritou para eu correr, mas eu
estava paralisada pelo medo.

Parando a poucos passos de distância, o homem enorme se


empoleirou no braço de uma cadeira próxima, seu corpo enorme elevando-se
sobre onde eu estava sentada em um sofá de couro, um livro sobre meu colo.
Apesar de eu saber que não deveria, eu me sentia obrigada a olhar em seus
olhos.

Quando o fiz, finalmente entendi o significado da expressão “um cervo


travado nos faróis”. Eu era a presa e Milo o predador. Meu coração vacilou.
Eu sabia que não tinha chance, se ele quisesse me machucar fisicamente.
Eu engoli o grito em minha garganta e falei.

— Po-por que você está aqui?

Milo ainda estava sorrindo, mas seus olhos contaram uma história
diferente. Uma história assustadora. Eu tremia sob seu olhar me
examinando. Frio, duro, sem emoção, mortal—essas são as palavras que eu
usaria para descrever o homem sem alma por trás de seu olhar sombrio.

— Nós começamos com o pé errado, Miri.

Milo inclinou-se, ficando mais perto do que era confortável.

— Eu queria começar de novo se você me deixar.

O sotaque profundamente texano de Milo saiu do nada e soou tão


estranho vindo dele como um sotaque francês soaria vindo de Jag. Eu não
queria este homem perto de mim. Cada instinto que eu tinha recuou perante
sua proximidade, mas deixar Milo com raiva não era algo que eu queria
fazer por acidente.

— Tudo bem.

— Bom.

Disse ele estalando as palmas de suas mãos sobre os joelhos.

— Você tem um trabalho, certo?

— Sim.

Onde estava Jag? Meu cérebro estava gritando advertências tão alto
que eu queria tapar os ouvidos.

Saia! Corra! Fuja!

Milo sorriu, mostrando um único dente de ouro. Tive que me


concentrar para não me assustar visivelmente.

— Isso é maravilhoso. Agora você pode chegar até onde quer e ter
uma vida. Encontrar um cara legal para tratá-la bem.

Franzi minha testa com a sugestão de Milo. Ele estava me atraindo


para algo, eu sabia disso, mas não pude resistir de perguntar.

— O que você quer dizer? Como um namorado?

Ele sabia que eu estava com Jag. Eu não tinha dúvidas, porque ele me
odiava por isso. Então, qual era seu ponto?

— Mas é claro! Uma coisinha bonita como você merece mais do que
ser tratada como uma prostituta em um harém.

As palavras me bateram bem no rosto e caíram no chão com um


baque.

— Ha-harém?

O sorriso deslizou do rosto de Milo, substituído por um olhar sombrio.

— Bem, sim. Você não... Você não achava que era a única garota do
Boss, não é?
Meu peito apertou e minha pele pálida estúpida me traiu, queimando
quente com humilhação, provavelmente num tom vermelho brilhante.

— Oh, você pensou isso.

Ele estendeu a mão e colocou a mão no meu ombro. Era suposto ser
um gesto de conforto, mas em vez disso, enviou um traço de medo em toda a
minha pele, levantando os cabelos na parte de trás do meu pescoço.

— Desculpe, querida. Você não seria a primeira a cair em seus


encantos, você sabe. Eu estou certo que você não será a última.

Dei de ombros afastando sua mão, nauseada, tanto devido ao toque


assustador do Milo e o desgosto esmagador pressionado em meu peito.

— Sinto muito por isso, querida. Sinceramente, pensei que você sabia.

Milo ficou de pé, ajeitando sua roupa.

— Vou deixá-lo sozinha, mas você pode vir a mim se você precisa de
alguém para conversar.

Eu não me movi ou olhei para Milo quando ele saiu, com medo de
quebrar na frente do homem intimidante. Piscando para conter as lágrimas,
eu puxei um cobertor fora do braço do sofá, de repente gelada até aos ossos.

Milo estava mentindo. Ele tinha que estar. O homem me odiava e


faria qualquer coisa para se livrar de mim.

Determinada a não deixar aquele idiota me atingir, eu continuei lendo


o meu livro. Bem, eu tentei ler. Depois que Milo deixou cair a bomba certeira
em seu alvo, a minha concentração foi prejudicada. Quando eu li a mesma
página pela décima vez, sem conseguir entender uma única palavra, eu
desisti. Eu precisava falar com Jag. Isso ajudaria. Uma vez que fizesse isso,
tudo estaria em ordem.

Mas e se Milo estivesse dizendo a verdade? Eu nunca entendi porque


Jag me permitiu ficar depois da invasão de sua propriedade. Porque ele iria
pegar uma viciada se não para o sexo?

As palavras de Nicky de meses atrás ecoaram na minha cabeça uma


e outra vez como aconteceu desde a primeira vez que eu pus meus pés na
frente de Jag.

“Caia na real, garota. Não há nada de graça neste jogo.”


À beira das lágrimas, eu coloquei o livro e o cobertor no sofá e me
dirigi para o escritório, o cômodo que eu nunca tinha visto. A campainha
tocou quando passei pelo foyer e soltei um grito surpreso. Alguns segundos
passaram e não apareceu ninguém para abrir a porta. De jeito nenhum eu
iria atender. Poderia ser alguém perigoso com uma arma ou pior.

Eu estava prestes a virar as costas e ir para o meu quarto quando


ouvi passos se aproximando. Não querendo ser pega perto da porta, eu
entrei na sala de estar da frente e esperei por quem quer que fosse para ir
embora.

— Karina? O que você está fazendo aqui?

Eu reconheci a voz do homem na porta. Era Jase, um dos homens de


preto de Jag.

— Jag quer sexo. Por que mais eu estaria aqui?

A voz falsa de puta? Essa eu não reconheci.

— M-mas... Quero dizer... Você tem certeza? Ele queria que você
viesse aqui?

Era óbvio pela forma como Jase falou que ele estava se perguntando a
mesma coisa que eu. Por que Jag queria que uma vadia fosse a sua casa
enquanto eu estava vivendo aqui? Enquanto ele estava me fodendo? Eu
enrolei minha mão em punho e mordi minhas juntas para abafar meu
choramingo. Aquele desgraçado do Milo estava me dizendo a verdade. Jag
provavelmente tinha prostitutas por toda a cidade.

Quão estúpida eu poderia ser?

A mulher, Karina, caiu no ato puta e latiu como uma cadela, uma
mordida afiada em seu tom.

— Bem, você vai me convidar para entrar ou vai me fazer ficar em pé o


resto do dia?

— Desculpe, entre. Boss está no escritório. Venha para a cozinha e


sinta-se confortável. Você vai ter que esperar por ele, nós não perturbamos
ele...

— Quando ele está em seu escritório. Eu sei como funciona.

— Desculpe, Karina. — Disse Jase.


— Agora isso — a cadela respondeu. — É uma maneira muito melhor
de me tratar.

O clique alto de saltos em mármore ecoou quando ambos foram pelo


corredor até a cozinha. À beira de um colapso, eu corri para fora da sala e
voei escada acima, cegamente empurrando tantas roupas que pude enfiar
dentro da pequena mochila que Jag comprou para eu usar quando montasse
em sua moto. Eu odiava ter que levar coisas compradas por aquele idiota,
mas eu não tinha escolha—eu não tinha nada que era realmente meu.

Eu não tinha nada. Ninguém. Eu poderia ficar. Mas tive um grande


golpe com Jag. Qual é o ponto? Eu não pertenço aqui.

Limpei meu rosto com as costas da minha mão e respirei fundo.

Mantenha a calma, Miri.

A fim de sair daqui eu precisava parecer feliz e normal. Frank não


faria o que eu pedi sem suspeitar de algo se eu fosse uma bagunça de
lágrimas e soluços. Levantando a mochila em meu ombro, respirei fundo e
dei uma última olhada ao redor do quarto.

Era hora de seguir em frente de qualquer maneira. Eu não pertenço a


esse lugar.

Virei de costas e, de cabeça erguida, sai.

Boss

Quando meus homens apareceram sem nada para relatar, eu estava


menos do que satisfeito. Mais como um furioso assassino.

— É a porra de uma garota! Voltem e não retornem sem ela!

Cada um de meus homens se encolheu com a veemência na minha


voz.

Os homens se espalharam como formigas, nenhum deles querendo


ser pego na minha mira. Eu invadi o escritório quando eles saíram e usei a
minha impressão digital para desbloquear um cofre na parede. Uma caixa
de metal preto estava na prateleira de cima. Puxei-a para fora e a deixei
cair na minha mesa com um baque forte. Um canto da caixa atingiu um
pedaço da mesa de madeira polida e espalhou alguns itens perfeitamente
alinhados, mas eu não poderia me importar menos com o meu TOC agora.
Eu abri a caixa e tirei minha Sig calibre 22 e acoplei o silenciador no cano.
Três compartimentos carregados estavam dentro da caixa também. Eu
cliquei uma na arma e acumulei o slide para colocar uma bala na câmara.
As outras foram para o meu bolso e a arma em um coldre de ombro que eu
mantinha em uma gaveta da mesa. Com minha jaqueta de couro, a arma
era invisível. Flexionei meus pulsos para garantir que a bainha estava no
lugar e verifiquei minha KA-BAR na minha perna. Todo o resto voltou para
o cofre.

Totalmente armado, saí do escritório e fui direto para a garagem. A


casa estava vazia, salvo um par de homens em guarda e para o caso de
Miri voltar sozinha. Eu não estava disposto a me iludir, porém. Eu sabia
que as chances de ela retornar por si mesma estavam perto de zero.
Algumas de suas merdas haviam ido embora, o que significava que Miri
fugiu. Fiquei aliviado que ela não foi sequestrada, mas isso me irritou
mais. Porque ela foi embora? E se o fez, será que Cuchillo a encontrou?
Infelizmente, nenhuma dessas hipóteses terminava com Miri subindo os
degraus da frente tão cedo. Metade dos meus homens estava observando
Los Guerreros e iriam me notificar se soubessem se eles tinham Miri. A
outra metade vasculhava a cidade em busca de qualquer sinal da pequena
ruiva.

Abri a porta da garagem, caminhei até a Kawasaki e atirei a perna


por cima da moto. Meu coração doía com a perspectiva de nunca mais ver
Miri novamente. De nunca mais tocá-la, ouvi-la rir, enterrar meu nariz em
seu cabelo e inalar seu perfume doce, sentir sua pele macia debaixo de
mim e seu calor apertado em volta do meu pau. Acelerei o motor e
arranquei para fora da garagem, chegando à rua próximo do limite de
velocidade. Quando cheguei a rodovia e realmente acelerei a moto, a
paisagem voou em um borrão. No momento em que cheguei ao meu
destino, eu tinha imaginado tantos cenários horríveis na minha cabeça
que eu estava quase ofegante.

Isso tudo era extremamente familiar. Era algo que eu nunca pensei
que teria que passar novamente. Foi por isso que eu não me aproximava
de ninguém, porque me tornei Boss, o senhor das drogas frio que não
demonstrava misericórdia. Porque cuidar, amar alguém, perder alguém,
dói como a porra do inferno.

O silêncio quando desliguei a moto era quase tão alto quanto o


motor. Vários conjuntos de olhos erguidos verificavam a máquina que eu
montei. Então os olhos começaram a me avaliar. Tirei o capacete e me
aproximei das baias abertas, minha linguagem corporal certamente
gritando perigo. Um rápido exame da oficina causou um soco rápido de
decepção no meu intestino, a força disso quase me fazendo dobrar de dor.
Nenhum sinal de Miri.

— Posso ajudar?

Eu girei para encontrar um enorme hulk loiro andando em minha


direção. O homem enorme intimidante usava jeans e uma camiseta, assim
como eu, mas a sua estava salpicada de óleo de motor e manchas de graxa
preta. Grande como ele era, ele não era aquele que precisava esconder
uma pistola silenciada e duas facas debaixo de um casaco de couro. Fixei
o meu melhor sorriso.

— Oi. Eu estou procurando Miri Murphy. Você a contratou para


trabalhar aqui.

Os olhos do homem brilharam com reconhecimento e uma pitada de


raiva. Eu me irritei com a reação dele. Hulk sabia alguma coisa.

Miri esteve aqui ou ela estava aqui.

Alívio caiu sobre mim. Se Miri veio aqui, significava que El Cuchillo
não a pegou. Graças a Deus.

— Ela disse que você viria.

Disse o loiro corpulento. Ele se endireitou em toda sua altura, o que


era várias polegadas mais alto que eu. Não que eu dei a mínima sobre o
quão grande ele era. Eu iria matá-lo com minhas próprias mãos se isso
significasse manter Miri segura.

— Tudo bem.

Eu lutei para conter meu temperamento. Após o dia que eu tive, eu


estava no fim da minha paciência quase inexistente. Mas eu ficaria até que
esse cara me dissesse o que eu queria saber, até que eu estivesse Miri de
volta em meus braços, então eu me manteria estável até lá.
— Onde ela está?

O homem estreitou os olhos.

— Não posso dizer que ela quer ver você, cara. Talvez você devesse
subir naquela moto brilhante que você tem e ir embora.

Um grunhido saiu de minha garganta e meus dedos se fecharam em


punhos.

— Qual é o seu nome?

Perguntei com os dentes cerrados. O idiota me deu um sorriso


compreensivo. O fodido sabia o quanto eu queria vê-la e estava brincando
comigo. Como eu não tinha qualquer ideia do caralho porque Miri foi
embora ou porque ela iria dizer a este babaca que eu não podia vê-la, eu
estava pairando a beira de perder completamente a minha merda.

— Eu sou o Beau. Esta aqui é minha oficina.

Eu balancei a cabeça e com o canto do meu olho observei que os


outros homens tinham parado de trabalhar e estavam chegando mais
perto de onde eu estava, na defensiva.

— Bem, Beau. Eu não consigo ver como o que se passa entre Miri e
eu é da sua conta. Então, me desculpe se eu não dou qualquer merda
sobre isso e me diga onde diabos a minha menina está, então eu estarei
fora daqui e ninguém precisa se machucar.

Enfiei a mão no casaco retirei a Sig, o silenciador fazendo a arma


parecer mil vezes maior e mais assustadora do que uma arma normal.
Beau tropeçou um passo para trás e seus homens congelaram no lugar.

— Agora, eu não sou um homem paciente.

Eu disse, levantando a arma e a usando para indicar a meia dúzia


de homens no local.

— Eu tendo a ter um temperamento terrível quando as pessoas


ficam entre mim e algo que é do meu negócio. E Miri é o meu negócio.

Beau levantou as mãos na altura dos ombros.

— Escute...
Ele lambeu os lábios e fixou seu olhar sobre o metal preto fosco que
eu mantinha firme na minha mão.

— Ela veio aqui chorando. Disse que precisava de um lugar para


ficar, então eu dei-lhe o quarto em cima da garagem.

Ele usou seu queixo para apontar para o segundo andar do edifício.

— Eu não quero nenhum problema, mas eu não posso deixar você


machucar a menina, com ou sem arma.

O olhar de Beau endureceu e deslocou-se da Sig para os meus olhos.

Eu tinha que admitir, eu respeitava o homem. Ele estava disposto a


ir contra mim para proteger Miri, mesmo com uma arma apontada para
ele. Lentamente, eu abaixei a Sig.

— Chorando? Sobre o que?

Beau olhou para seus homens e acenou. Eles se dispersaram, indo


para trás na oficina, mas nenhum deles pararam de olhar.

— Cara, não faço ideia. Talvez isso tenha alguma coisa a ver com
você.

— Eu?

Que porra é essa?

— De qualquer forma, ela está segura. Dei-lhe a chave e ninguém


mais tem uma, para que ninguém possa perturbá-la. Ela começa a
trabalhar na segunda feira.

Beau parou e me deu um olhar compreensivo.

— A menos que haja algum problema, então eu tenho medo de que


eu não posso tê-la aqui.

Filho da puta. Bastardo escorregadio.

Ele iria demitir Miri se eu não saísse. Dois meses atrás, se alguém
falasse assim comigo, iria ganhar uma bala no meio dos olhos. Ele tem
sorte que alguma bondade de Miri passou para mim.

— Merda.
Eu empurrei a Sig de volta no coldre e esfreguei a minha testa,
correndo a miríade de opções na minha cabeça.

— Bem. Pode me emprestar uma caneta e papel?

As sobrancelhas de Beau franziram, mas ele me levou até uma mesa


bagunçada.

— Aqui.

Ele me entregou um pedaço de papel e uma caneta. Eu rabisquei um


bilhete rápido.

— Dê isto a Miri.

Minha garganta apertou enquanto eu segurava o papel dobrado


sobre a mesa. Beau olhou para ele por um segundo antes de tomar
hesitante o bilhete da minha mão.

— Eu não estou prometendo que não vou voltar.

Ele assentiu.

— Eu entendo.

Antes de me virar e sair, dei a Beau um aviso.

— Não deixe que nada aconteça com ela. Se ela se machucar, eu não
serei tão agradável como fui hoje.

Os olhos de Beau se arregalaram com minha ameaça e ele


empalideceu.

— Cara, eu não esperaria qualquer outra coisa.

Subir na minha moto e deixar Miri para trás foi uma das coisas mais
difíceis que já fiz. Meus olhos ardiam e era como se alguém tivesse
colocado uma faixa apertada em torno do meu peito. De alguma forma, eu
iria descobrir o que diabos aconteceu e traria Miri de volta para casa.

Ela era minha. Ela pertencia a mim, assim como eu pertencia a ela.

Droga. Eu estava apaixonado por ela.


Miri

Eu assisti Jag subir de volta na moto e voar para fora da entrada.


Poeira ergueu-se por trás da moto e deixou uma trilha nublada densa em
direção a estrada principal. No início, eu não podia acreditar no que estava
vendo — Jag, o rosto torcido e vermelho de raiva, segurando uma enorme
arma para o meu novo empregador e colegas de trabalho. Então me
lembrei de quem Jag realmente era, o que ele faz para ganhar a vida, e isso
não era realmente o mais chocante.

Depois de ver o carinho, o lado brincalhão e doce de Jag, era fácil


esquecer que ele também era um criminoso egoísta, violento. Ele era o
Boss. Jag era apenas uma ilusão. Eu caí como uma garota ingênua e
estúpida, apaixonada pelo homem que me salvou.

Uma batida na porta do apartamento puxou-me da janela e meu


coração começou a bater mais forte.

Jag tinha ido. Não, não era Jag ali fora segurando uma arma para o
meu chefe. Boss tinha ido.

— Quem é?

— É Beau, Miri. Uh, alguém... Esse cara... Ele uh, ele deixou uma
coisa para você.

Jag deixou algo para mim?

Eu me atrapalhei para destrancar a porta e abri-a. Beau ficou do


lado de fora, pairando sobre mim. Sua camisa estava coberta de suor,
transparente e aderindo sobre seu peito. Ele estava corado e mais do que
um pouco assustado.

— Aqui.

Sua grande mão segurava um pedaço de papel dobrado.

— Você não mencionou que o seu namorado era um filho da puta


louco.

Eu peguei o papel e olhei nos olhos de Beau. Ele não parecia


irritado, mas cauteloso e tentando colocar alguma leveza no que era uma
situação assustadora. Não era todo dia que alguém o ameaçava com uma
arma. Beau também estava inspecionando-me da cabeça aos pés,
provavelmente à procura de sinais de um relacionamento abusivo.

— Ele realmente não é um cara mau.

A mentira caiu facilmente de meus lábios.

— Ele está apenas preocupado comigo.

Mas só quando ele não está ocupado com vadias loiras de seios
grandes.

Devo ter parecido chateada, porque Beau franziu a testa e


gentilmente tocou no meu braço.

— Você está bem? Eu posso chamar o xerife se você precisar. Ter um


relatório escrito se esse cara é problema.

— Não!

Beau retirou a mão rapidamente quando eu praticamente gritei a


minha resposta. Eu respirei fundo e tentei agir com calma.

— Estou bem. Ele nunca me machucou... Fisicamente, eu digo. Ele


nunca faria isso. Eu só... Eu preciso ficar sozinha agora. Eu preciso de
algum tempo para pensar.

— Você não tem que explicar tudo isso para mim, Miri. Eu estou
apenas tendo certeza de que você está bem.

— Eu estou. Obrigada por se preocupar. Você não sabe o quanto


isso significa para mim.

Beau foi a primeira pessoa a cuidar de mim desde sempre. Exceto...


Jag se importava. Apesar da vadia loira, ou me trancar no meu quarto, ou
qualquer outra coisa que ele me fez passar, eu sabia que Jag se importava.
Ele não teria me feito deixar a Heroína se não o fizesse.

Beau assentiu.

— Deixe-me saber se você precisar de alguma coisa. Vejo você no


trabalho. — O homem se virou e desceu pela escada bamba.

Fechei a porta e deslizei para o chão com o bilhete apertado na


minha mão trêmula. Eu não queria ler as palavras e permitir que ele me
levasse de volta para o seu mundo de mentiras e falsas promessas. Sim,
ele me ajudou a largar a heroína e eu sempre serei grata por isso, mas Jag
não era bom para mim. Infelizmente, o meu coração queria
desesperadamente saber o que ele tinha a dizer e, claro, eu era fraca, de
modo que a curiosidade venceu a lógica.

Eu desdobrei o papel e li a letra limpa.

“Miri, eu não sei o que eu fiz ou por que você saiu, mas não é seguro
para você ficar lá fora sozinha. Por favor, volte e nós podemos conversar. Eu
vou fazer o que for preciso para protegê-la, mesmo se você não quer
qualquer coisa entre a gente. Eu não vou desistir de você. Me liga. Por favor.

Jag.”

Um número de telefone foi colocado ao lado de seu nome.

Eu sufoquei um soluço e amassei o papel na minha mão. Eu não


sabia mais o que era a coisa certa a se fazer. O que ele quis dizer que eu
não estava segura? Que eu precisava de proteção? Jag estava dizendo
essas coisas para me assustar e me fazer voltar?

Eu não teria as respostas a menos que eu ligasse para o número, e


eu não estava pronta para fazer isso ainda. Exausta e com fome, peguei
uma barra de granola em minha bolsa, que comprei em um posto de
gasolina, e a comi antes de cair em um sono agitado sobre o chão nu.
Miri

Bang, bang, bang!

Minha cabeça estava batendo tão forte que parecia tambores


estavam batendo em um ritmo constante, incessante, no meu crânio.

Bang, bang, bang!

Com um gemido, eu rolei. Todo o meu corpo doía de passar a noite


no chão.

Bang, bang, bang!

Ok, isso definitivamente não era minha cabeça. Dei uma guinada
para a posição sentada e congelei. Alguém estava na porta. O apartamento
estava muito escuro. Apenas um leve toque de luar passou pelas cortinas e
criou sombras sinistras nas paredes.

— Miri! Abra a porta.

Meu estômago caiu. Era Jag. Aparentemente, a ameaça de Beau não


foi suficiente para mantê-lo afastado. Meu coração estúpido flutuou pelo
fato de que Jag se recusou a ficar longe. Que estava lutando por mim. Que
ele não desistiu de nós. Meu cérebro, no entanto, estava cansado e
confuso. Malditamente confuso.

— Miri! Que Deus me ajude, eu vou quebrar essa maldita porta se


você não a abrir.

Seu rugido rouco enviou arrepios pela minha pele e um arrepio


percorreu minha espinha indo diretamente para o meu núcleo. Eu engoli
um gemido. O homem ainda era capaz de me afetar de maneiras que
ninguém mais poderia. Um estalo alto quebrou o silêncio.

Meu Deus. Ele realmente vai quebrar a porta.


Eu me levantei e, com as mãos trêmulas, desfiz o bloqueio. Assim
que ele se abriu, um metro e noventa de um traficante incrivelmente
chateado invadiu o minúsculo apartamento.

Profundos olhos azuis bloquearam os meus. Houve uma fração de


segundo em que eu vi o medo genuíno neles antes que Jag se adiantar e
me puxar contra seu peito.

— Porra. Eu estava tão preocupado.

Seus lábios roçaram contra o topo da minha cabeça enquanto eu era


mantida firmemente em seus braços.

— Jesus, Miri. Por quê? Por que você foi embora?

A respiração de Jag engatou enquanto falava, e ouvi sua voz falhar.


Os sons da sua angústia quase me quebraram. Ele recuou e segurou meu
rosto com as mãos, acolhedor e confortável e tão familiar. Antes que eu
pudesse responder, os lábios de Jag caíram sobre os meus. Ele não se
conteve e reivindicou minha boca em um beijo duro, possessivo, que não
deixou dúvidas sobre quem pertence a quem.

Apesar da minha raiva, eu derreti em seus braços, incapaz de


proteger meu coração deste homem. Nem mesmo vinte e quatro horas
longe dele e isso se sentia como se fossem anos. Eu gemi em sua boca. O
som enviou Jag em um frenesi. Ele deslizou as mãos em volta da minha
cintura e puxou minha camisa sobre a minha cabeça, a costura se
rompendo. Meus shorts seguiram e eu estava nua em seus braços. Jag
lambeu um caminho até meu pescoço, sussurrando como ele adorava
minha pele, sua voz trêmula.

— Eu preciso de você, Miri. Porque você se foi? Seu lugar é comigo.


Você pertence a mim.

Jag empurrou sua coxa muscular entre as minhas pernas e eu


choraminguei no contato bruto. Era muito, mas, ao mesmo tempo, não era
o suficiente. A boca de Jag estava trabalhando a pele sensível ao redor da
minha orelha enquanto eu esfregava minha vagina contra sua coxa. Uma
das mãos de Jag estava pressionada contra a parte inferior da minha
coluna, enquanto a outra segurava a parte detrás da minha cabeça,
inclinando-a para que Jag pudesse ter acesso ao meu pescoço.
Quando seus dentes encontraram minha orelha e morderam a pele
sensível, choques elétricos percorreram todo o meu corpo e eu gritei.

— Tira.

Eu disse asperamente, freneticamente puxando o zíper do jeans de


Jag.

Ele me soltou para arrancar a camisa sobre a cabeça enquanto eu


empurrei para baixo seu jeans e cueca. Jag tirou as botas, depois as
calças e meias e chutou tudo para o lado.

— Eu preciso de você.

Ele murmurou. Nós colidimos novamente juntos, uma mistura de


bocas e mãos, degustação e toques até me meu corpo, minha alma, estava
em chamas.

Eu movi minha mão entre nós e agarrei seu pau duro. A respiração
de Jag engatou quando comecei a bombear minha mão para cima e para
baixo na carne macia e quente.

— Por favor, Jag. Eu preciso de você dentro de mim.

Jag golpeou minha mão e nos manobrou até que minhas costas
bateram na parede. Suas mãos deslizaram por trás de mim e agarraram
minhas coxas. Nós trabalhamos juntos como se tivéssemos feito isso mil
vezes. Jag me levantou e eu envolvi minhas pernas em volta de sua cintura
estreita. Ele me posicionou acima dele e me desceu rente em seu pênis
inchado.

— Oh porra, Miri.

Eu gemi quando ele xingou.

Jag usou sua força acumulada e empurrou com força, me fodendo


com seu pau enterrado todo o caminho dentro do meu corpo. Eu gemi no
movimento glorioso, a queimação de ser preenchida completamente por
este homem. Um homem que possuía meu corpo e estava
assustadoramente perto de possuir meu coração. Jag começou a mover os
quadris enquanto me segurava contra a parede.

Minhas pálpebras se fecharam com força, o formigamento em minha


virilha ficando cada vez mais forte conforme o prazer intenso se
desenrolava, acendendo o sangue em minhas veias. A boca de Jag
devorava a minha novamente, nossas respirações mais rápidas conforme
Jag se movia contra mim com movimentos rápidos e potentes.

— Oh... Oh, Deus. Jag...

Minha cabeça caiu para frente e eu enterrei meu rosto em seu


pescoço, com falta de ar. Cada inalação inundou meus sentidos com ele—
seu suor, seu calor, sua essência. Eu estava completamente cercada por
Jag, seu corpo, seu cheiro, seu toque. Estávamos ligados por dentro e por
fora, movendo-nos como um só. Tornando-se um.

— Jesus, Miri. Estou perto... Merda. Você é tão gostosa.

Jag me levantou mais alto, mudando o ângulo de penetração, me


elevando.

— Meu Deus. Sim! Jag... Assim. Eu estou... Eu estou...

Minha respiração foi roubada quando a pressão em minha coluna


liberou e ondas de êxtase caíram sobre mim. O orgasmo rasgou através do
meu corpo, uma onda de calor que começou no meu núcleo e se espalhou
rapidamente, tão forte que cada músculo do meu corpo se contraiu
enquanto eu gritava de prazer.

— Deus, sim. Foda-se, Miri. Isso é bom pra caralho.

Jag bombeou seus quadris mais algumas vezes e mais uma última
vez. Sua cabeça caiu para trás e os tendões de seu pescoço estavam
salientes como cabos apertados, claramente visíveis na luz suave da lua.
Ele gritou sua liberação, seus dedos cavando em minhas coxas quando ele
gozou. Eu assisti, em transe, quando esse homem lindo me inundou com
seu esperma quente. Ele era impressionante. De tirar o fôlego. A coisa
mais linda que eu já vi.

Quando seu tremor finalmente passou, Jag apoiou o queixo no meu


ombro. Nossa respiração alta, pesada, era o único som no apartamento.
Depois de um minuto, Jag passou os braços em volta de mim e
gentilmente me colocou no chão. Minhas pernas estavam fracas e não
funcionavam.

— Aqui, deite-se.
Jag agarrou sua camisa, enrolou-a debaixo da minha cabeça, e
deitou-se ao meu lado.

— Não é tão bom quanto uma cama.

— É perfeito.

Eu segui sua boca com meu dedo. Nossos olhos se encontraram e,


novamente, eu vi dor naquelas íris azuis que pareciam cinza ardósia no
quarto escuro. Mesmo em tons de preto e branco, Jag era lindo.

Como eu poderia deixá-lo? Mas como eu poderia ficar?

Jag

— Por que você me deixou, Miri? Eu pensei...

Eu engoli e observei o olhar aquecido de Miri em direção a minha


garganta. Jesus, ela vai me fazer tê-la novamente. Eu balancei a cabeça,
precisando de respostas.

— Eu pensei que talvez, depois que falamos sobre ir embora juntos,


isso significou algo.

Eu coloquei a mão em seu quadril e ela enrijeceu.

— Então o meu toque lhe incomoda? Eu não entendo?

Estendi a mão com um braço e peguei meu jeans do chão. Eu não


poderia ter essa conversa nu. Furioso, enfiei os pés nas pernas e arqueei
as costas para puxá-los sobre meus quadris. Miri agarrou suas próprias
roupas e rapidamente se vestiu. Meu pulso acelerou e minhas mãos
estavam suadas de repente. Eu queria algumas malditas respostas.

— Você não precisa de mim. Eu a vi, Jag.

Miri estava triste... Derrotada. Meu coração se partiu com a visão de


seus olhos brilhando com lágrimas.

— O quê?

Corri a mão pelo meu cabelo e olhei para ela.


— Quem? Do que você está falando?

Miri fez uma careta e ergueu-se.

— Essa, essa loira... Puta! Eu a vi, Jag. Se você está chamando-lhe


para vir foder você, então você não precisa de mim! Se isso é assim, eu não
quero estar por perto.

Eu me levantei.

— Karina? Você me deixou por causa de Karina?

— E daí? Você acha que não é um grande negócio? Eu deveria estar


bem com você me namorar e falar sobre o futuro, enquanto transa com ela
depois?

Fiquei de boca aberta.

— Eu não estou transando com ela. Eu não tenho ideia do por que
ela estava na minha casa.

Miri bufou.

— Eu a ouvi dizer por que, Jag. Você chamou-a para uma 'foda'.

Miri fez pequenas aspas com os dedos em torno da palavra foda.

— Eu não a chamei para uma foda.

Os olhos de Miri brilharam com raiva. Eu estava chateado, mas


queria dizer-lhe a verdade.

— Sim, eu costumava foder com ela. Costumava. E ela jamais foi a


minha casa. Eu saí do meu escritório e a encontrei na minha cozinha.

Eu segurei o olhar de Miri, pedindo-lhe para entender.

— Eu disse a ela para dar o fora.

— Você não ligou para ela?

Ela não parecia convencida.

— Não, baby.

Eu dei um passo em direção a Miri.


— Eu não faria isso. Por favor. Você significa muito para mim. Eu
não posso imaginar jogar tudo fora por uma transa rápida com alguém que
não significa nada.

— Eu não sei.

Miri mordeu o lábio. Ela, obviamente, não tinha certeza se deveria


acreditar em mim. Foda-se essa merda. Eu estava além de feito com toda
essa coisa.

— Miri, você é minha. Seu lugar é comigo. Podemos discutir isso


mais tarde, mas nós temos que ir. Não é seguro aqui.

Eu peguei a mão dela.

— Falaremos sobre isso em casa.

Miri empacou.

— Preciso de tempo.

Medo se prendeu ao meu intestino — medo de que eu poderia perder


Miri para sempre, medo por sua segurança com uma guerra em
andamento. Isso emergiu em algo mais manejável, algo que eu sabia lidar
e entender.

Raiva.

— Filha da puta, Miri. Eu não vou ficar aqui de pé e discutir essa


porcaria enquanto há homens lá fora que querem me ver morto. Sem mais
argumentos. Você está vindo comigo.

Ela gritou quando a agarrei pelas coxas e a joguei por cima do


ombro, pegando a alça de sua bolsa com a outra mão enquanto eu
caminhava para a porta.

— Ponha-me no chão!

— Quando voltarmos para a casa você pode ficar tão chateada


quanto quiser, mas eu estou cansado desta porra, Miri.

Eu desci as escadas com Miri surrando e batendo nas minhas costas


o tempo todo. Porra. Cheguei ao último degrau e me lembrei que eu dirigi a
Ducati. Como eu a faria cooperar e se sentar na moto?

— Maldição.
Segurei-a com uma mão e tirou meu celular do meu bolso com a
outra. Enquanto eu estava percorrendo o contato de Frank, Miri gritou.
Não apenas qualquer grito — foi um de gelar os ossos, de puro terror, um
grito primal.

— O que...

Tarde demais, eu ouvi o som de sapatos sobre o chão e Miri foi


arrancada de meus braços. Os gritos de Miri foram abafados, como se
alguém a tivesse amordaçado. Me virei para surrar quem se atreveu a
tocar o que era meu, se atreveu a colocar as mãos sobre a minha menina,
e de repente a parte de trás do meu crânio explodiu em dor. Luz branca
brilhou através dos meus olhos e ouvi o bater de portas de carro antes de
tudo ficar preto.

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