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Narcisismo na contemporaneidade: desafios da prática clínica.

Dra. Vanessa Silva Cardoso


Esp. Juline Aldane Silveira

“Narciso acha feio o que não é espelho” ( Caetano Veloso)

O presente artigo visa apresentar, em linhas gerais, a questão do narcisismo no


âmbito da Psicologia Clínica, sobretudo, sob o olhar psicanalítico. O narcisismo é uma
forma de o sujeito amar a si mesmo, em que é direcionado para ele mesmo seu alvo de
amor. Para alguns autores ( Rudinesco, 1999; Figueiredo 2003) o narcisismo implicaria
em superestima de si mesmo, uma idealização de si, na qual todos os seus defeitos são
deixados de lado. Para estas pessoas os outros estarão sempre a lhes servir, não como
parceiros num relacionamento afetivo, mas como meios de fornecer essas peças que
faltam ao seu eu.

O narcisista é visto como adorador de si mesmo – “Eu me amo” – mas, o que


inspira a preocupação constante com a própria pessoa é a ausência de um estável amor
interior por si mesmo, obrigando-a a usar os outros para confirmá-lo. Assim
preocupações como, “devo ser importante”, apontam que algo está errado com o seu
amor por si mesmo, vive dominado pela ansiedade, pela dependência, pela necessidade
de aprovação pelo outro. Diante das inevitáveis frustrações que essa dinâmica lhe custa,
não tem sido raro deparar-se com pessoas com tais características dentro de uma prática
clínica em que pode ser encontrado por meio de queixas como: exigência com o corpo e
a estética, vazio interior e depressão.

Assim, corrobora-se com o pensamento de Zimmerman (1999) em que afirma


que as pessoas que sofrem de vazios, tem uma ausência de reconhecimento de suas
emoções, em realidade, elas estão cheias de buracos negros, resultantes de uma rígida
carapaça, uma “concha autística”, que se forma contra a ameaça de um sofrimento
provindo de frustrações impostas pela realidade exterior.
Discorrer sobre o narcisismo é, sem dúvida alguma, um grande desafio por ser
um dos temas mais relevantes dentro da psicopatologia. O conceito de narcisismo
passou por uma evolução de diferentes enfoques dentro da teoria psicanalítica e contou
com a contribuição de diversos autores. De maneira geral, quando se faz menção ao
narcisismo, logo se vem a mente um espectro de significados, mas destacam-se palavras
ligadas à perfeição, vaidade, autossuficiência, superioridade, egoísmo entre outros.
Contudo, o termo narcisismo remete ao mito de narciso, que em última análise, significa
um amor pela imagem de si mesmo. Tal a importância do conceito que, conforme
apontado por Zimerman (1999) e Figueiredo (2003), apreende-se que tanto o narcisismo
quanto o investimento objetal mostram-se fundamentais para a formação do sujeito,
uma vez que são os investimentos narcísicos, oriundos dos cuidados maternos, que
confirmarão ou não à criança o seu lugar como objeto de amor, estando, portanto, na
base do que conhecemos por autoestima.
Faz-se necessário, esclarecer que existe uma diferenciação entre a etapa
evolutiva normal vivida por todo ser humano, que conferem ao homem características
sadias, que estão relacionadas com a formação da autoestima, de um quadro de
narcisismo patológico ou transtorno narcisista, que confere ao individuo uma carga de
sofrimento emocional. Para Macckinon, Michels e Buckley (2008) o narcisismo
organiza a personalidade desde o saudável até o patológico, sendo que sua face saudável
é fundamental para manter a convicção de que a pessoa é valiosa e que aceita aplausos e
recompensas por suas conquistas e realizações, ao mesmo tempo em que compartilha e
aceita o papel das outras pessoas neste sucesso.
Os narcisistas, conforme Lasch (1987) se caracterizam pela superficialidade
emocional, medo da intimidade, hipocondria, pseudo autopercepção, promiscuidade
sexual, horror à velhice e à morte. Além disso, para o mesmo autor são descrentes
quanto à possibilidade de transformar o futuro, desprezam o passado e vivem para o
momento, perdendo o sentido da continuidade histórica.

Associado a isto, corrobora-se as ideias de Rudinesco (1999) na qual sugere que


o sofrimento psíquico manifesta-se sob a forma de depressão, em que se misturam a
tristeza, a apatia, a busca da identidade e o culto a si mesmo. A este respeito, concorda-
se com o referido autor, que se acredita que a depressão se tornou um fenômeno
freqüente no mundo moderno a ponto de ser considerada como uma reação natural deste
tempo.
De acordo com os autores Rudinesco (1999) e Wanderley (1999) as condições
sociais predominantes da autalidade tendem a desenvolver traços narcisistas, em vários
graus, em todos. Estas condições recursivamente moldaram as famílias, que por sua vez,
são a matriz de identidade do homem moldando, assim, uma sociedade narcisita,
depressiva, apática e vazia.

Nesse sentido, Wanderley (1999) assinala que o homem narcísico se diz


tolerante, permissivo e liberado, mas em contrapartida diante de tanta liberdade, na
busca incessante do prazer, sente-se vazio. Além disso, nesta perspectiva esse sujeito
torna-s e indiferente a tudo e a todos que não lhe dizem respeito diretamente.

Não obstante, suas ocasionais ilusões de onipotência, o narcisista depende dos


outros para validar sua autoestima . Ele não consegue viver sem uma audiência que o
admire, mesmo com sua aparente liberdade dos laços familiares e dos constrangimentos,
essa inclinação para o mundo externo não o impede de ficar só consigo mesmo ou até
mesmo de se exaltar em sua individualidade. Pelo contrário, ela contribui para sua
insegurança, que ele somente pode superar quando vê seu “eu grandioso” refletido nas
ações nas atenções das outras pessoas, ou se ligar àqueles que irradiam sua celebridade,
poder e carisma. “Para o narcisista, o mundo é um espelho, ao passo que o
individualista áspero o via com o um deserto vazio, a ser modelado segundo seus
próprios designos” ( Lasch 1983 p. 30 citado por Wanderley 1999).

Além disso, não é possível falar em narcisismo sem trazer para esta reflexão os
conceitos de narcisismo primário e secundário, propostos por Freud. Em “Sobre o
narcisismo: uma introdução” (1914), Freud concebeu a ideia de que o sujeito toma seu
próprio corpo como sendo ao mesmo tempo fonte e objeto da libido sexual. Assim, o
narcisismo primário é uma etapa evolutiva que ocorre após a etapa do auto-erotismo, e
baseia-se no investimento que objetos externos fazem ao bebe, porem ainda não há uma
diferenciação entre eles.

Neste texto serão contempladas as noções para além da ideia corriqueira do


narcisismo, mas sim, buscar-se-á apontar para uma compreensão psicodinâmica do
profundo significado do narcisismo. De fato, a lógica narcisista baseia-se na busca de
um ideal. O uso do mecanismo da idealização de si mesmo e do outro, justifica-se pela
necessidade constante da fuga da realidade interna, qual seja, a depressão. Para
Mackinon et al (2008), essa categoria psicopatológica surgiu com o esforço dos
psicoterapeutas em compreender esse grupo de pacientes considerados difíceis, uma vez
que não eram considerados psicóticos e nem enquadravam-se na perspectiva neurótica.
Estes pacientes são frequentemente vistos pelo mundo com uma alta capacidade
funcional e sem psicopatologia óbvia, já que suas questões, na maioria das vezes, são
internas e relacionadas com a forma de enxergarem a si mesmo e aos outros.
A este respeito, concorda-se com Figueiredo (2003) quando este aponta para os
fenômenos sociais e psíquicos que se está experimentando no século XXI: “ A ameaça
de destruição da humanidade cedeu lugar a uma cultura do individualismo esquizóide,
na qual, entre mortos e feridos, todos nos salvamos, cada um na sua e nada entre nós”
(p. 52-53). Com isso, evidencia-se o inegável sofrimento subjacente destas pessoas que
apresentam alta insatisfação, uma enorme inveja do sucesso dos outros e um grande
vazio interno.
De acordo com Mackinon et al (2008) enquanto patologia narcisista existe um
continum desde a forma branda até as mais graves. O paciente narcisista mais
comprometido apresenta uma oscilação entre dois estados do sentimento: grandiosidade
e um senso de insignificância. Destaca-se a grande contradição nestes pacientes se por
um lado precisam do outro como fonte de gratificação e admiração constantes, por outro
lado, evitam qualquer intimidade e interesse na relação.
A este respeito, recorre-se ao conceito de posição narcisista, proposto por
Zimerman (1999) que auxilia na compreensão da construção de uma configuração
narcisista que cada sujeito vivencia, e que depois toma seus contornos e singularidades
próprias, de acordo com a constituição do sujeito e da interação deste com o ambiente.
Esta posição narcisista pela qual todos passam, refere-se ao momento do
desenvolvimento no qual ainda não se estabeleceu a diferenciação entre o eu e o outro.
De acordo com Zimerman (1999), a posição narcisista, é um estado necessário
do desenvolvimento psíquico, formado por diversos fatores psíquicos (tais como
defesas, angustias entre outros), vivenciada logo no início da vida, que terá repercussões
na construção da sua personalidade até a vida adulta. Esta posição e marcada por uma
total indiferenciação do bebê em relação a mãe. Todo bebê passa por uma fase de
simbiose com a mãe em que ele “imagina” que a sua genitora é uma extensão dele, ou
seja, para o bebê ele e a mãe estão fundidos. Durante esta fase de indiferenciação o
infante pode formar uma ilusão onipotente de uma independência absoluta, já que tudo
o que ele necessita e deseja, encontra-se nesta relação simbiótica.
No entanto, no decorrer do desenvolvimento o contato com realidade vai
rompendo com essa onipotência e evidenciando que o que existe, na verdade, é um
estado de absoluta dependência. Por isso, a separação da mãe, por meio da entrada de
um terceiro na relação mãe-bebê torna-se fundamental para o estabelecimento de
frustrações necessárias em direção ao reconhecimento e aceitação da incompletude e
falta. Se o bebê não passa por este processo, ou seja, se ele permanece na ilusão da
independência e completude, ele poderá ter dificuldades em suportar a realidade. Neste
sentido, ele pode estar constantemente buscando aquela satisfação perdida, quais sejam,
sentir-se poderoso e indispensável.
Para o sujeito narcisista, reconhecer que necessita de outros, demanda
sofrimento. O sujeito pode então recorrer a mecanismos de defesa como negação e
onipotência para fugir dessa realidade, para não ver cair sua autoestima e sentimento de
identidade. De modo geral, o sujeito passa pela vida tentando fugir do que Zimerman
(1999) chama de verdades penosas, quais sejam: reconhecer que não é o único
importante, que sofre dependência, perdas e separações. Esta necessidade poderá ser
ampliada para tudo o revele um limite, como a morte, o envelhecimento e tantos “Nãos”
que receberá ao longo da vida.
Associado a isto, elucida-se a dificuldade destes sujeitos em reconhecer seus
limites: envelhecimento, morte, perda. A este respeito cita-se como exemplo: E:
Paciente J,25 anos, ao agendar uma sessão para a terapeuta pediu a mesma um
horário que já tinha outra pessoa marcada. Indignado o referido paciente solicitou que
a profissional desmarcasse com o outro cliente para que fosse atendido. Este relato
evidencia a dificuldade do mesmo em lidar com limite, não ser o único importante para
a terapeuta e sentir-se desprivilegiado.
Nos transtornos narcisistas, evidencia-se um lado regressivo, por meio de
características com baixa tolerância a frustração, uso de negações, inveja entre outros.
Assim, é possível que o sujeito transforme sua insegurança e dependência em
autossuficiência e onipotência. Neste sentido, evidencia-se o que Zimerman (1999)
chama de núcleo de simbiose e ambiguidade.
Na relação com psicoterapeuta estes pacientes fazem uso de demasiada
identificação projetiva, ou seja, uma forma de comunicação inconsciente em que
aspectos do próprio sujeito são negados e atribuídos ao psicoterapeuta. Neste sentido,
pode-se apontar para a vinheta clínica do caso clínico da jovem, 21 anos, recém
graduada e que não passou em um processo seletivo para uma vaga de emprego na qual
sentia que tinha todas as condições para assumir: eu não acredito que não passei, era o
emprego dos meus sonhos e sempre me dediquei para isto. Acho que você já sabia que
eu não iria passar. Acho que agora vou fazer outra faculdade e virar estagiária.
Complementando que já foi apontado até aqui é possível conhecer que podem
ser delineadas outras características desta personalidade narcisista, tais como: possuir a
tendência a generalizar alguma deficiência para a totalidade de sua pessoa. Assim, pode
funcionar em extremos, ou é o melhor, ou é o pior. As falhas e fracassos são sentidas
como insucesso na totalidade de sua estrutura e sobre essa característica, aponta-se para
o relato de um paciente, caso A, após um tempo de processo terapêutico: eu acho que
tive um insigth (pausa), eu visualizei um monstrinho correndo, fugindo de mim, dai eu
cheguei devagarinho, e cuidei dele, fiz carinho e ele se acalmou...eu penso que não
preciso mais lutar contra coisas que eu criticava em mim, sou vaidoso, ambicioso,
quero ser mais, melhor...talvez se eu souber dosar pode ser bom...porque se eu ficar
acreditando que tudo é ruim não vou a lugar nenhum.”
No processo terapêutico torna-se importante ajudar o paciente a integrar o seu
self, superando essa lógica dualista de ser ou bom ou mal. Frisa-se, ainda, a auto
exigência como uma outra característica comum entre os narcisistas. A fim de satisfazer
um ideal de ego e ego ideal severos, a autoestima sofre uma espécie de pressão, ficando
vulnerável. O ego ideal se constitui das ambições pessoais enquanto o ideal de ego
representa a necessidade do sujeito em cumprir as expectativas e ideais dos pais e da
sociedade.
A esse respeito, quando a autoestima do sujeito depende quase que
exclusivamente do comprimento da obrigação de corresponder às expectativas de si
próprio ou de seus pais ou representantes e isto produz, inexoravelmente, sofrimento
psíquico. Além disso, tal qual apontado por Lasch ( 1987) há uma profunda indiferença
para com tudo que não seja interesse do próprio individuo, pois o narciso da época atual
é exigente e tirânico em relação a tudo e a todos que podem opor-se à satisfação dos
seus desejos imediatos. Assim, uma configuração narcisista necessita satisfazer-se com
o constante reconhecimento alheio que se torna uma espécie “alimento”. A busca
incessante por riqueza, poder, inteligência, beleza entre outros, servem para as pessoas
confirmarem seu valor.

Bleichmar (1983), utilizou o termo depressão narcísica para designar o quadro


clinico em que, frustrações pequenas são sentidas como desamparo, humilhação e
aniquilamento, por não atender as exigências do ideal de ego e ego ideal. Outra
consequência da tentativa de super adaptação em relação as demandas do ego é a
construção de um “falso self”, em que o sujeito afasta-se de seu verdadeiro eu, para ser
aquilo eu crê que seja idealizado e desejado pelos outros e por ele mesmo. Esse “falso
self” esgota facilmente o ego porque o sentimento de insatisfação é continuo, e obriga o
sujeito a ultrapassar ate mesmo seus limites.
De acordo com Zimerman (1999), na construção da personalidade narcisista,
geralmente existem falhas ocorridas no processo de identificação com as figuras
parentais, que pode ocorrer pela apreensão do discurso parental ou imitação ou
denegrimento do modelo introjetado. De qualquer forma, é na relação com as figuras
importantes que a criança vai percebendo as necessidades e expectativas do meio e vai
moldando sua personalidade, podendo até mesmo distanciar-se de seu eu verdadeiro.
Zimerman (1999) utiliza o termo personalidade “camaleônica” para designar as pessoas
que se adaptam conforme o ambiente, valorizando mais as demandas externas do
ambiente que suas próprias ideias e desejos. No caso A, citado anteriormente, o paciente
costumava-se sentir vulnerável e influenciável:
Sou um maria vai com as outras, o outro é que é referencia, se estou próximo de
um gigante, poderoso, bem sucedido, quero ser como ele, quando estou com um cara
simples, que não se importa com isso, eu também quero ser como ele. Além disso, sinto
que falo o que as pessoas gostariam de ouvir, sei agradar, fico preocupado se causei
uma boa impressão, fico com medo dos erros aparecerem”.
Para que isto ocorra, é natural que falhas precoces sofridas pelo sujeito nos
primeiros anos de vida, prejudicaram o desenvolvimento saudável de sua autoestima.
Assim, a personalidade narcisista, frágil em sua confiança básica e segurança básica,
passa a utilizar com frequência um jogo e comparações, para reafirmar ou descartar seu
valor. Para a paciente M, 43 anos, caso B, a família dos outros sempre era melhor que a
sua e desta forma passava a inferiorizar-se: Eu praticamente não tenho família e me
contentar que a minha família não me ajuda, se eu tivesse a família igual a da fulana,
tudo seria diferente, tudo dá errado para mim por causa desta família, mas se eu
tivesse uma família com dinheiro como a dela,eu ainda seria melhor que ela. Acho que
até fazer dieta seria mais fácil.
Para o psicanalista Zimerman (1999), Narciso e Édipo estão interelacionados,
muitas vezes, um torna-se o refúgio para o outro. Nem sempre uma regressão narcisista
resulta numa fuga do Complexo de Édipo, mas sim numa nova tentativa de fazer um
começo diferente, com uma base de autoestima suficiente para superar o complexo de
édipo e seguir de forma mais madura e saudável.
Com tudo o que foi exposto, podemos delinear a matriz, as principais defesas e a
psicodinâmica desta estrutura. Para Rosenfeld (1987) o narcisismo pode ser também
classificado em dois tipos: 1- Narcisista de “pele fina” que são aqueles que são
supersensíveis, melindráveis, com uma extrema vulnerabilidade na autoestima, que se
colocam num papel de vítima, para de alguma forma, assegurar o poder. Este tipo de
narcisista reage com dor a tudo que parece rejeição, sensação de inferioridade e
utilizam-se da ameaça suicida como uma forma de controle. Também e comum o
sujeito “pele fina’ a oscilação entre estados emocionais e exige um trato especial do
psicoterapeuta. 2- Narcisista “pele grossa”. Este tipo apresenta-se de forma mais
arrogantes, prepotentes, com uma atitude defensiva e agressiva, intimidadores,
insensíveis aos aspectos de dependência. Aparentam superioridade, quando na
realidade, apresentam um self destrtutivo. Estas pessoas funcionam a partir da “tríade
maníaca”: atitude de controle, triunfo e desprezo. Na realidade essas características
encobrem, dissimulam e protegem uma subjacente pele fina. Para evitar as dores das
velhas e precoces feridas narcísicas, constroem uma espessa cicatriz de pele grossa. O
narcisismo de pele grossa, aproveita seus conflitos como uma força para ir atrás das
coisas que deseja, sua ferida é o seu “combustível”. No caso do paciente A, podemos
considerar seu narcisismo do tipo pele grossa, pois apesar de sua insegurança, baixa
auto estima e medos de rejeição, abandono entre outros, ele transformava sua
vulnerabilidade em força para lutar, superar, crescer, e ir em busca de seus sonhos e
ideais. Apesar de suas feridas e conflitos, sentia-se um “guerreiro” e “não entregava os
pontos” (palavras do paciente). Quando encontrava uma dificuldade transformava em
desafio e buscava força para superar. Já os narcisistas de pele fina adotam uma postura
de desistência na vida. Como exemplo de uma estrutura tipo pele fina, citaremos trecho
da sessão da paciente S, 21anos, em sua terceira faculdade ( não concluída) “Quando eu
piso nos corredores desta instituição de ensino sinto minhas pernas me puxando para
fora. É como se elas me dissessem que não vou dar conta mais uma vez, aí eu prefiro
nem ir mais e desistir”.
De acordo com Zimerman (1999), os pacientes que possuem muitas
características da posição narcisista que pertencem ao que se chama “pacientes de difícil
acesso”, que por sua vez, evidenciam a necessidade um manejo técnico cuidadoso e
especial.Torna-se importante a análise dos aspectos narcisistas, em termos de grau
(moderado ou intenso), e natureza (sadia ou patológica). Compreender o perfil do
paciente narcisista: a base da estruturação do paciente narcisista encontra-se na forma
como se desenvolveu o apego da criança com sua mãe. Situações de precoce fracasso
ambiental, como privações maternas, possessividade narcisista da mãe em relação ao
filho, falhas na empatia, falhas da capacidade de frustrar a criança adequadamente,
depressão materna no momento primordial do investimento do olhar e amor da mãe
para com o bebê, entre outros. Tais aspectos dificultam a construção do apego saudável
e trazem consequências negativas para a autoestima da criança que apresenta como
resultante disso tudo, um prejuízo na construção da confiança básica, da constância
objetal, da passagem da indiferenciação para a de separação e individuação e da
internalização de objetos bons, com largos “vazio”no espaços psíquico(Zimerman,
2004).
As situações que remetem a alguma forma de desamparo, constituem-se na
chamada ferida narcísica que representam a vivência da dor precoce. Na tentativa de
esconder a necessidade de dependência e cuidado, o medo das humilhações e abandono,
o paciente narcisista procura controlar as situações, usando todos os recursos que
desenvolveu por compensação, tais como: os atributos de beleza, poder, status, e
inúmeras outras capacidades valorizadas por nossa cultura. Porém,permanece sob
tensão, pois vive em luta constante para não sucumbir a depressão anaclitica, que
remete ao primitivo desamparo e falta da figura materna. A principal angústia da
estruturação narcisista que é a denominada de desamparo, que leva a ansiedade de
aniquilamento e abandono.
Para o paciente narcisista conectar-se com a realidade interna é algo
extremamente penoso, pois reconhecer as suas limitações e aceitação da realidade,
pode se constituir uma ameaça ao seu ego frágil. Estes pacientes possuem ainda, um
baixo limiar de tolerância a frustrações vindas do psicoterapeuta, pois teme decepcionar
o mesmo e, assim, ser abandonado como foi percebido outrora na sua relação com a
mãe.
No processo terapêutico destes pacientes, por meio do setting e do
reconhecimento da relação transferencial – contratransferencial, que o terapeuta ajuda o
paciente a distinguir as frustrações necessárias das desnecessárias e inadequadas. O
terapeuta precisa, então, deixar bem claro o enquadre deste processo, pois é muito
comum que o paciente narcisista tente desvirtuar o setting instituído e fazer com que o
terapeuta quebre algumas regras técnicas. O paciente tenta fazer essa trangressão, pois
ele precisa sentir que é diferente dos outros pacientes, ele quer sentir-se mais especial
que os outros, pois isto seria uma prova do amor do terapeuta. Utiliza para isso,
sedução, chantagem e desafios para tirar o terapeuta do seu papel e sentir assim mais
igual e menos dependente. Pode-se citar novamente o caso do paciente A que, no
primeiro contato telefônico deixou claro que por ter uma profissão reconhecida
socialmente e que o tornava muito ocupado, esperava que a terapeuta conseguisse um
horário especial para ele, que a terapeuta precisaria se esforçar para encaixar sua sessão.
Assim ele se apresenta e se coloca nas relações, esperando ser tratado com privilégios,
para confirmar seu frágil sentimento de superioridade.
Assim, consideramos importante enfatizar a necessidade da preservação da
assimetria da relação terapêutica, uma vez que para o paciente narcisista é indispensável
a colocação de limites, o estabelecimento da hierarquia e reconhecimento das diferenças
entre ele e o outro. A este respeito, trazemos o caso da paciente M, 43 anos ( Caso B,
também já citada anteiormente) que insiste em chamar a terapeuta de “amiga”, por
diversas vezes, no setting, foi colocado que esta relação não é uma interação de
amizade e a mesma insistiu em chamá-la desta forma como uma tentativa de burlar a
relação hierárquica entre elas.
A construção de uma aliança terapêutica é fundamental, incluindo aquilo que
Bion chama de “pessoa real do analista”, pois o terapeuta esta servindo como um novo
modelo de identificação, que vai oferecer novas formas de enfrentar as angustias,
funcionar como continente, e ajudar o paciente a pensar sobre as verdades. O terapeuta
deve auxiliar o paciente a realizar uma integração do self, mostrando as conquistas e
forcas do pacientes bem como aquilo que é desafio para ele, ou seja, integrar a parte
adulta e a parte infantil.
Com sua atividade interpretativa o psicoterapeuta propicia o crescimento mental
do paciente. Para isso é necessário que o terapeuta esteja atento para seus próprios
aspectos narcisistas, e não formar conluios inconscientes. O já citado paciente do caso
A, tentava “seduzir” a terapeuta dizendo, por exemplo, que em sua família havia a
prática de procurar sempre os melhores profissionais da cidade, que só se tratavam com
pessoas muito competentes. Já a paciente do caso B, afirma que a vida dela é outra
depois que se começou a se consultar com a melhor terapeuta da sua vida. Por esses
discursos vemos a necessidade do paciente de confirmar para si mesmo sua importância
com a ideia de ir ao que ele espera ser “melhor”terapeuta. Ao mesmo tempo comunica
sua expectativa de que o profissional se dedique mais ao paciente e atenda suas
expectativas. Um misto de reconhecimento, expectativas e auto afirmação, além de
exibicionismo.
É muito comum no inicio do tratamento que o paciente narcisista faça uma
idealização necessária do terapeuta, que se transforma no decorrer do processo. Da
mesma forma, o paciente gostaria que o terapeuta o idealizasse, pois na logica psíquica
essa seria uma garantia de não separação ou abandono. O terapeuta deve estar atento
também as resistências e contra-resistenciais, pois esta é uma indicação sobre o
funcionamento do paciente. O terapeuta por vez necessitara ter uma boa capacidade de
continência, para tolerar e transformar os sentimentos, tais como, a “fúria narcísica”
(Kohut) que surge no decorrer do processo psicoterapêutico. De acordo com Kohut,
algumas formas de transferência narcisista: fusional, na qual o paciente espera que o
terapeuta advinhe e dê conta das necessidades dele. O tipo gemelar”, na qual o paciente
espera que o terapeuta seja como ele é, que apoie e confirme suas teses. E a do tipo
especular, na qual espera que o terapeuta reconheça sua grandiosidade exibida por ele.
O paciente do caso A costumava apresentar o seguinte padrão: todas as vezes
que a terapeuta se afastava por motivo de férias ou algum imprevisto importante que
necessitasse desmarcar a consulta, tornava-se comum a ausência na sessão seguinte ao
retorno. Uma forma de demonstrar sua ambivalência com o afastamento da terapeuta.
Ao mesmo que trazia a tona sua duvida quanto a seu valor e aceitação, uma ferida
primitiva, também precisava sentir-se no controle, e por isso a falta seguinte, para não
se sentir tão vulnerável, já que apresentava medo da dependência afetiva. “Estou com
medo de ficar dependente de ti, porque eu não consegui decidir aquilo, eu precisava da
tua opinião, e não deu tempo, fiquei com raiva não de ti, mas porque eu queria muito
vir... ás vezes eu preciso de ti e tu não estás” . Já a paciente do Caso B, ligou para
terapeuta enquanto esta estava de férias, para certificasse que a terapeuta estava viva
porque, segundo ela, precisava dela viva para continuar vivendo.
Por fim, entende-se que os conceitos, a caracterização, bem como as vinhetas
clínicas até aqui apresentadas são apenas alguns delineamentos da estrutura narcisista
que vão além do que abordado. À guisa de conclusão, sabe-se que um paciente
narcisista pode beneficiar-se de uma psicoterapia em que estejam claras as nuances
desta estrutura pois, compreende-se que possuir uma dose de narcisismo, gostar-se, ser
bom naquilo que faz, mas sem escravizar-se é saudável. Porém, sofrer por conta das
próprias exigências, toma outro contorno que se afasta do narcisismo saudável. Como
psicoterapeutas, vivencia-se cotidianamente a presença de pacientes com vários níveis
de narcisismo e sofrimento, o delineamento do processo terapêutico bem sucedido com
empatia e cuidado pode descortinar o aprisionamento destes pacientes que tiveram seu
desenvolvimento reprimido. Acredita-se que é possível vislumbrar um bom
prognóstico, quando o gelo intrapsiquico e a angústia interior forem atingidas neste
processo e propiciarem o crescimento emocional destes pacientes.

Referências Bibliográficas:
Bleichmar, H (1983) Depressão: um estudo psicanalítico. Porto Alegre: Artes médicas.

Figueiredo, L.C (2003). Psicanálise. Elementos para clínica contemporânea. São


Paulo: editora escuta Ltda.

Lasch, C (1987) O mínimo eu. Sobrevivência Psíquica em tempos difíceis. São Paulo:
editora brasilense.

Mackinnon, R. A; Michels, R; Bucley, P. J (2008) A entrevista Psiquiatrica na prática


clínica. Porto Alegre: artmed

Roudinesco, E. (1999) Por que a Psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor

Zimerman, D. E (1999). Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica: uma


abordagem didática. Porto Alegre: Artmed.

Wanderley , A. A. R (1999). Narcisismo Contemporâneo: uma abordagem laschiana.


Em: PSYSIS: Revista de Saúde Coletiva. 9 (2), pp. 31-47.

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