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Dona Josefa: E eu faço parte por que nós somo irmã, nós três. E eu
conheço que não existe outra lei na face da terra a não ser essa. Nós
sabemo que essa tem uma rapa do antigo! E a que tá havendo hoje é
dos tempo moderno. É do moderno. Então nós não acompanha os
tempo moderno. 1
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Entrevista realizada no dia 07 de julho de 2015.
O tempo histórico se constitui, portanto, na tensão entre experiência e
expectativa. É importante destacar que essas categorias não surgem na obra de
Koselleck como estruturas imóveis ou deterministas. O autor pontua diversas vezes que
existe uma mudança histórica na relação entre experiência e expectativa.
É exatamente quando este historiador se propõe a investigar a relação dessas
categorias com o conhecimento histórico que encontro pontos de interseção e de
afastamento com o pensamento do também historiador Françoise Hartog.
É inegável a influência de Koselleck na obra deste último na construção
daquilo que Hartog denominou como o instrumento interpretativo dos regimes de
historicidade que são os diferentes modos de articular as categorias de passado, presente
e futuro. Em resumo: a ideia de que existe uma simultaneidade de tempos históricos a
pautarem a vida cotidiana de qualquer sociedade.
Um primeiro diálogo entre os autores pode ser percebido quando Hartog define
o período da historia europeia que ele denomina como sendo o “Antigo regime de
historicidade”. Neste momento reinaria, segundo o autor, a perspectiva da historia
magistra vitae, ou seja, a dimensão do passado é valorizada como uma chave para a
construção de regulamentos, práticas, ações cotidianas e do próprio estado.
Este mesmo período é encarado por Koselleck como o momento em que
experiência e expectativa estavam tão intimamente ligadas que uma expectativa por ser
descoberta não chegava a romper o mundo da vida que se transmitia. É importante
destacar que, para Koselleck, essa explicação não poderia ser estendida a todas as
camadas sociais. Uma nova expectativa se manifesta em várias ocasiões (cruzadas,
colonização ultramarina), em paralelo à supervalorização da experiência.
Existe um rompimento dessa valorização da experiência especialmente após o
marco da Revolução Francesa onde o que importava verdadeiramente era o rompimento
com o passado e a elaboração de um horizonte de expectativa grandioso e diverso.
De 1789 até a contemporaneidade, os autores parecem concordar que torna-se
cada vez mais perceptível uma aceleração da percepção do tempo que relaciona-se,
talvez, com um novo horizonte de expectativa: o do progresso e do aperfeiçoamento.
Hartog vai além: segundo suas propostas é possível que esse presentismo acabe
diluindo as experiências e expectativas no “imediatismo” corrente do tempo presente.
Entretanto, e aqui unem-se Koselleck, Hartog e Dona Josefa, ainda persiste uma
autoridade do passado no tempo presente. Mas Hartog não se satisfaz, inquieto ele
estima ser possível refletir sobre uma autoridade do futuro e talvez uma autoridade do
presente. Existe a substituição, portanto, de um presentismo por um autoritarismo?