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MEETING ON SKEPTICISM
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TRATA-SE DO MAIS PROEMINENTE DIFUNDIDOR DA FILSOFIA CRÍTICA. COM SUA
FILOSOFIA ELEMENTAR, DEFENDEU UMA APRESENTAÇÃO MAIS SISTEMÁTICA DA
FILOSOFIA CRÍTICA, QUE DEVERIA SE BASEAR NUM ÚNICO PRINCÍPIO AUTOEVIDENTE, O
PRINCÍPIO DA CONSCIÊNCIA. MENCIONAR QUE SE TRATA DO PRINCIPAL
POPULARIZADOR E DEFENSOR DA FILOSOFIA CRÍTICA, TENTANDO ENCONTRAR PARA A
MESMA UM PRINCÍPIO INCONDICIONADO PARA TODO O EDIFÍCIO DA CRÍTICA,
TORNANDO-A INCÓLUME AOS ATAQUES DOS CRÍTICOS. O SURGIMENTO DO
AENESIDEMUS DE SCHULZE REPRESENTARIA, SEGUNDO BEISER, O MOTIVO PELO QUAL
A SUA FILOSOFIA, A FILOSOFIA ELEMENTAR, TERIA CAÍDO NO OSTRACISMO
FILOSÓFICO... Para mais, cf. BONACCINI, 52.
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Ou seja, não ignoramos que suas criticas eram também lançadas contra a filosofia elementar
(Elementarphilosophie) de Reinhold. Porém, frisa Beiser, “embora o Aenesidemus seja principalmente
uma polêmica contra Reinhold, ele ainda contém uma extensa bateria de objeções contra Kant. Estas são
de fato as objeções mais importantes do arsenal de Schulze. Enquanto a polêmica contra Reinhold lida
apenas com uma única formulação da filosofia crítica, os argumentos contra Kant dizem respeito à
empresa da filosofia crítica como um todo” (BEISER,280). Falaremos sobre suas críticas a Reinhold
quando abordarmos a dívida de Schulze em relação ao princípio da consciência reinholdiano.
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a figura de Kant a que está por trás da Filosofia Elementar de Reinhold3, e que o
filósofo de Königsberg é o pai genuíno da filosofia crítica (BEISER,280). Melhor,
então, observar a questão pelo ângulo de que o seu alvo é a filosofia crítica em toda a
sua extensão4.
A ser assim, embora o título de Aenesidemus escolhido por Schulze para dar nome
ao seu primeiro trabalho denuncie por si só sua filiação ao antigo cético Enesidemo 5
(séc. I a. C.), o motivo do profundo impacto filosófico ocasionado pelo seu surgimento
está diretamente ligado à sua filiação a outro cético, David Hume6 (1711-1776). Como
bem lembra Cassirer, a problematização do conhecimento imposta pelo pensamento
humeano7, largamente conhecida como o problema de Hume8, encontra-se presente nas
principais censuras endereçadas por Schulze aos alicerces sobre os quais se assenta toda
a filosofia crítica kantiana. Por isso, grosso modo, o núcleo duro de sua crítica a Kant
consiste em afirmar que este não havia superado o ceticismo de Hume9.
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Para mais sobre a posição de Schulze sobre a interpretação de Reinhold da filosofia crítica, cf. Bárbara
Assis Viana da Silva, com seu trabalho Aenesidemus: as objeções de Schulze à leitura de Reinhold da
Filosofia Crítica, 2013 (DISSERTAÇÃO DE MESTRADO-USP).
4
Não obstante isso, quando tratarmos das contradições, apontadas por Schulze, que envolvem o conceito
de coisa em si, com sua respectiva visão representacionista do mundo, o alvo será claramente Kant.
Quando, porém, abordarmos a teoria dos fatos da consciência schulzeana, o alvo será o Princípio da
Consciência de Reinhold.
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Cético este a quem é atribuída, pela grande maioria dos estudiosos, a autoria, dentre outras obras, dos
dez primeiros tropos céticos da suspensão do juízo, cuja autoria Hegel havia atribuído equivocadamente a
Pirro de Élis. Para mais, cf BROCHARD, 257. a autoriaque é tido como autor, dentre outras obras, é tido,
pela grande maioria dos estudiosos, como o autor, como reforça Victor Brochard, dos dez primeiros
tropos céticos da suspensão do juízo, cuja autoria Hegel havia atribuído equivocadamente a Pirro de Élis
(BROCHARD, 257).
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Embora Vieweg afirme que “as raízes fundamentais da sképsis ‘artificiosa’ de Schulze não descansam
na tradição cética de Hume” (VIEWEG, 12), é difícil, pelas razões que veremos logo adiante, não
entender seu ceticismo senão como uma continuação, ao menos em parte, do empirismo cético humeano,
sobretudo quando pensamos nas censuras schulzeanas ao uso transcendente da categoria de causalidade,
pela filosofia crítica, obviamente inspiradas na tese humeana de que o nosso conceito de causa se funda
apenas no hábito. No entanto, sua tese da validade absoluta do conhecimento imediato, através dos fatos
da consciência, remonta de fato às teses do filósofo escocês Thomas Reid....
7
Segundo Cassirer, com a vantagem de ele agora estar munido, através do ceticismo de Schulze, da
instrumentalização categorial própria da filosofia crítica (CASSIRER,... ). Ademais, vale sublinhar que
parte da reputação adquirida por Schulze foi devido à sua raríssima capacidade de entendimento amplo e
profundo da Crítica da Razão Pura.
8
De fato, se é verdade que quando pensamos no problema de Hume pensamos imediatamente no
problema da indução, não é menos verdadeiro, contudo, que a polêmica em torno da objetividade do
princípio de causalidade está aí de todo incluída...
9
LOCAL NO ENESIDEMO ONDE ELE AFIRMA ISSO...
2
“busca de fato refutar o ceticismo humeano
pressupondo simplesmente como certas e já
comprovadas as mesmas proposições cuja
credibilidade fora o alvo de todas as dúvidas
céticas de Hume” (SCHULZE, AENESIDEMUS,
100).
De modo geral, mesmo numa breve leitura da primeira Crítica kantiana, salta aos
olhos o fato de que as categorias do entendimento, desde que aplicadas aos fenômenos
dados numa intuição sensível, possuem decerto validade objetiva, funcionando assim
como legítimas condições de possibilidade de toda e qualquer experiência de objetos. A
par disso, o que destes últimos conhecemos nada mais é do que aquilo que lhes
emprestamos, de modo que as coisas em si mesmas, isto é, o objeto em si mesmo na
total ausência de nossas faculdades cognitivas – sensibilidade/intuições e
entendimento/conceitos –, ser-nos-iam totalmente incognoscíveis. Da coisa em si, não
obstante sua absoluta incognoscibilidade para nós, seres finitos, conhecemos apenas,
como se depreende do que foi dito acima, o seu fenômeno, enquanto produto da ação
causal da coisa em si sobre a nossa sensibilidade10.
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Há uma passagem na Crítica que ilustra bem a contradição apontada por Schulze, na medida em que
afirma que o “entendimento limita a sensibilidade e, ao adverti-la de que não deva aplicar-se às coisas em
si, mas apenas aos fenômenos, pensa um objeto em si, mas apenas como objeto transcendental que é a
causa do fenômeno, mas que não pode ser pensado nem como grandeza, nem como realidade, nem como
substância, etc., (porque estes conceitos exigem sempre formas sensíveis em que determinam um objeto).
É por isso que ignoramos totalmente se está dentro ou fora de nós e se seria anulado conjuntamente com a
sensibilidade ou se, abolida esta, permaneceria. É-nos lícito, se quisermos, dar a esse objeto o nome de
númeno, porque a sua representação não é sensível. Porém, como não podemos aplicar-lhe nenhum dos
nossos conceitos do entendimento, esta representação mantém-se para nós vazia e serve apenas para
delimitar as fronteiras do nosso conhecimento sensível e deixar livre um espaço que não podemos
preencher, nem pela experiência sensível, nem pelo entendimento puro (KANT, B344-345). Para mais, cf.
BONACCINI,. Há, como é sabido, toda uma discussão em torno do fato de que Schulze teria confundido,
ainda que inadvertidamente, o conceito de condições de possibilidade com o de causalidade, o que
deitaria a perder o valor total de suas objeções a Kant... Por outro lado, cabe também salientar o caráter
ambíguo presente nas assertivas kantianas, o que daria margem a ambas interpretações.... Em todo caso,
como estamos apenas apresentando, bastante resumidamente, o modo como Schulze se insere no cenário
filosófico do idealismo alemão, não é nossa intenção aqui aprofundar tal querela, já que fugiria muito do
nosso escopo.
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Eis, de forma concisa, em que consiste o arcabouço teórico traduzido na
revolução copernicana levada a cabo por Kant no conhecimento filosófico, colocando
fim desse modo àquilo que parecia ser um eterno conflito entre os sistemas metafísicos
dogmáticos. Porque estes, na medida em que se aventuravam no conhecimento dos
objetos, bem como dos princípios objetivos que os regem, sem um prévio exame das
suas reais condições de possibilidade, acabavam por fazer um uso transcendente das
categorias, isto é, aplicavam as categorias do entendimento às coisas em si mesmas, e
não aos fenômenos, como prescrevera Kant. Nesse sentido, se os metafísicos sempre
confundiam uma condição necessária do pensamento com uma condição necessária das
coisas em si mesmas11, as antinomias nas quais todos eles se enredavam não eram senão
uma consequência inevitável de tal confusão. Portanto, ao demonstrar que os fenômenos
não se confundem com meras aparências, como havia acreditado toda a tradição
metafísica, e que, ao contrário, possuem decerto validade objetiva, contanto que se
conformem a nossos conceitos e intuições, Kant teria oferecido a um só tempo a mais
acabada refutação do ceticismo e um fundamento sólido para a filosofia encetar, enfim,
o caminho seguro da ciência.
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Como veremos logo adiante, o núcleo duro da censura schulzeana à filosofia crítica reside justamente
aqui, isto é, em confundir o que se apresenta como uma condição necessária do pensamento como sendo
como uma condição necessária da realidade, como algo inerente à objetividade. Ora, aquilo que deve ser
pensado como necessário não participa necessariamente da existência, de modo que esse salto ontológico
da ordem do pensar para a ordem do ser é totalmente injustificado.
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Ao que tudo indica, a tarefa – preconizada pelo idealismo transcendental – de
fazer o discurso filosófico encetar de modo definitivo o caminho seguro e constante da
ciência, por dois motivos básicos, parece não ter sido bem executada. Em primeiro
lugar, porque ela não realizou uma verdadeira dedução do princípio de causalidade,
incorrendo assim numa clara petição de princípio. Em segundo, porque fez um uso
transcendente desse mesmo princípio, excedendo assim os limites da experiência ao
aplicar a categoria de causalidade à coisa em si, ou seja, porque transgrediu o limite
para ela imposto pela própria crítica da razão.
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Embora o termo Gemüt seja geralmente traduzido entre nós por ‘mente’ ou ‘ânimo’, entendemos que o
termo ‘espírito’, utilizado pelo tradutor do livro de Cassirer para a língua espanhola, ao menos nesse
contexto não comprometeria o sentido proposto pela crítica de Schulze à filosofia crítica. Para mais sobre
o papel que o conceito Gemüt desempenha no interior do criticismo, bem como sobre qual seria sua
melhor tradução para o português, cf. Valerio Rohden, 2009: A função transcendental
do Gemüt na Crítica da razão pura revista Kritérion..
5
“antes que seja possível perguntar com razão quais
são as fontes e as causas do nosso conhecimento, é
necessário assegurar que tudo o que é real tem um
fundamento e uma causa, e que nosso
conhecimento, em particular, não é senão, quanto a
todas as suas determinações, o efeito de causas
especiais” (SCHULZE, AENESIDEMUS, 137).
Ou seja, a dedução tenta provar que as categorias – entre as quais está incluída a
de causalidade – aplicam-se à experiência unicamente sob a condição de o sujeito
transcendental ser o legislador da natureza. Mas assumir que este sujeito é o legislador
da natureza, que cria as leis às quais a natureza deve se conformar, já pressupõe a
aplicação da categoria de causalidade, portanto uma relação causal (BEISER, 281).
Numa palavra, a dedução transcendental dos conceitos puros do entendimento – ou
categorias em geral – levada a cabo por Kant não refuta o ceticismo de Hume, mas
apenas pressupõe como de todo válido o que este último precisamente colocara em
questão, a saber: o princípio de causalidade.
O que significa que Kant não só não refuta o ceticismo humeano, posto que não
oferece uma prova legítima da objetividade do princípio de causalidade, como ainda
aplica este mesmo princípio à coisa em si; haja vista que, segundo o autor da Crítica da
Razão Pura, ela – i.é, a coisa em si – agiria causalmente sobre a nossa sensibilidade. De
6
modo que a coisa em si, enquanto elemento causal, poria em atividade o nosso aparelho
cognitivo transcendental – composto basicamente pela díade sensibilidade e
entendimento –, dando origem assim às nossas representações. Mas como, observa
Schulze,
13
Sobre isto, cf. Bonaccini, Kant e o problema da coisa em si no idealismo alemão...
7
que elas estariam unidas pela relação de causalidade, desloca para o mundo noumenal
propriedades que só poderíamos encontrar nas nossas representações dos objetos, as
quais, por seu turno, em nada coincidem com estes quando considerados em si
mesmos14 (SCULZE, AENESIDEMUS,...). Nesse caso, parece oportuno parafrasear
aquela emblemática afirmação de Jacobi15, segundo a qual sem a pressuposição da coisa
em si, não se pode entrar no sistema kantiano, mas com essa pressuposição, não se pode
permanecer nele (JACOBI,...).
Diante disso, Schulze conclui seu vasto repertório de censuras à filosofia crítica
defendendo a tese de que uma filosofia que procura o conjunto total das condições de
possibilidade do conhecimento empírico, ao mesmo tempo em que parte do princípio de
que não pode transpor minimamente os limites da experiência, cai presa fácil e
necessariamente de um círculo vicioso, dado que o conjunto total das condições de
possibilidade da experiência sob hipótese alguma pode se configurar como objeto de
investigação de uma tal filosofia, simplesmente porque tais condições, se de fato
existem, não ocorrem, nem podem ocorrer, em nenhuma experiência sensível16. Donde,
portanto, a sua asseveração de que a posição filosófica mais coerente com o criticismo é
justamente aquela que encerra o ceticismo. Ou melhor, como lembra Beiser, o resultado
último e inevitável da filosofia crítica não é senão o próprio ceticismo de Schulze17.
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Como veremos um pouco adiante, num livro publicado em 1801, intitulado Crítica da Filosofia
Teórica, Schulze parte da mesma tese para inviabilizar as pretensões cognitivas da filosofia especulativa,
a saber, que as nossas representações dos objetos nada nos comunicam com certeza sobre os objetos
mesmos.
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PEQUENA NOTA EXPLICATIVA SITUANDO O PENSAMENTO DE JACOBI EM RELAÇÃO À
FILOSOFIA DE KANT, NO CONTEXTO DO IDEALISMO ALEMÃO. CF. BONACCINI, KANT E O
PROBLEMA DA COISA EM SI NO IDEALISMO TRANSCENDENTAL...
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A investigação transcendental busca os ‘fundamentos’ da experiência, e os fundamentos da experiência
não são precisamente os objetos dela (SCHULZE,...).
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Ou seja, tudo deve estar submetido à crítica da razão, inclusive a própria crítica da razão. Assistimos
assim, com o ceticismo schulzeano, ao surgimento da primeira censura generalizada à teoria do
conhecimento. Esta disciplina, caso deseje permanecer fiel aos princípios de que parte, deve se converter
em ceticismo. Segundo Beiser, “o Aenesidemus de Schulze introduz uma forma nova e radical de
ceticismo na filosofia moderna, quando afirma que, até o presente momento, nada se demonstrou com
certeza sobre as origens e condições do conhecimento. O que agora cai sob a dúvida cética não é apenas a
pretensão da metafísica de conhecer as coisas em si mesmas, mas também a pretensão da epistemologia”
[i.é, filosofia crítica] “de conhecer as origens e condições do conhecimento. (...) Schulze sustenta que o
resultado último e inevitável do criticismo kantiano é seu próprio ceticismo. Se há, na verdade, uma tese
central única do Aenesidemus, então é a de que o criticismo deve se tornar ceticismo” (BEISER, 268-
270). Como dissemos anteriormente, Schulze é acusado por alguns autores de ter confundido o conceito
de causalidade, que é um conceito de primeira ordem, com o princípio de condições de possibilidade, que
seria de segunda ordem. Independentemente disso, já que estaríamos adentrando uma querela que nos
conduziria para bem longe do nosso escopo principal, há uma passagem schulzeana na qual ele sustenta
que a filosofia é um discurso sobre o ser, isto é, sobre a realidade, de modo que, caso não se encontre na
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Crítica da Razão Pura teses que digam respeito à realidade, ao ser, então ela não teria relevância alguma
para o discurso filosófico. ENCONTRAR A PASSAGEM E MELHORAR A ARGUMENTAÇÃO...