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Gênero y

Para desafiar
estereótipos
Projetos buscam estimular interesse de
alunas do ensino médio pelas ciências exatas

B
árbara Gomes, aluna do último crições já estão concluídos e receberam
ano de engenharia de produção cada um R$ 30 mil.
da Universidade Federal de São As propostas foram submetidas por
João del-Rei (UFSJ), em Minas grupos de mulheres, coletivos feminis-
Gerais, criou com colegas, no ano pas- tas, grupos de pesquisa, associações de
sado, o projeto Mulheres na Engenha- pais e mestres e outras organizações, em
ria, que envolveu mais de 100 alunas de parceria com escolas públicas de ensino
ensino médio de uma escola estadual da médio. Umas das exigências do edital era
cidade na construção do protótipo de um que os projetos envolvessem a comuni-
carro para competir na Fórmula SAE, dade escolar. “Na educação pública há
uma prova de veículos elétricos desen- uma enorme diferença entre meninos
volvidos por estudantes de graduação e meninas quando se trata de ciências
e promovida pela Sociedade dos Enge- exatas”, afirma a cientista política Kelly
1

nheiros da Mobilidade (SAE). “Quan- Kotlinski Verdade, conhecida como K.


do eu era criança, não gostava muito K. Verdade, coordenadora executiva do pelo órgão nas áreas de ciências exatas e
de bonecas e sempre me interessei por Fundo ELAS, que é apoiado por empre- da Terra, engenharias e computação. Em
matemática. A escolha por engenharia sas, como a Chevron, e fundações do país São Paulo, um levantamento da FAPESP
foi inevitável”, conta Bárbara. Aos 23 e do exterior, como a Fundação Ford. Ela indica que, embora o número de sub-
anos, a universitária está convencida de menciona como exemplo a última edição missões de projetos por pesquisadoras
que a baixa participação de mulheres do Programa Internacional de Avaliação tenha quase dobrado entre 2000 e 2016,
em carreiras científicas e tecnológicas de Estudantes (Pisa), segundo o qual as o menor índice de participação feminina
ocorre por falta de estímulos desde a meninas apresentaram desempenho pior ocorre nas ciências exatas e nas enge-
educação básica. “Crescemos ouvindo que o dos meninos em disciplinas como nharias (ver Pesquisa FAPESP nº 259).
aquele estereótipo de que meninas não química, física e matemática. “Isso tem Um novo edital do Elas nas Exatas
fotos  1, 2 e 4  fundo elas 2 e 5  roberto ribeiro

são boas em raciocínio lógico”, comenta. reflexo na pesquisa científica. Nessas foi lançado no dia 24 de outubro e re-
O projeto de São João del-Rei foi um áreas, a proporção de mulheres já é baixa cebe projetos até 28 de novembro. “Não
dos contemplados pelo edital Elas nas na graduação e tende a cair ao longo da queremos, com isso, criar uma pressão
Exatas, lançado em 2015 pelo Instituto pós-graduação e da carreira docente”, para que todas as meninas escolham
Unibanco, o Fundo ELAS e a Fundação observa K. K. Verdade. fazer graduação em exatas, mas apenas
Carlos Chagas, com o objetivo de finan- Dados divulgados no início do ano pelo que elas saibam que as exatas são uma
ciar iniciativas que reduzam o impacto Conselho Nacional de Desenvolvimento opção viável”, esclarece a cientista po-
da desigualdade de gênero nas escolhas Científico e Tecnológico (CNPq) mos- lítica. De acordo com os organizadores,
profissionais das estudantes. Os 10 pro- tram que a participação das mulheres não os projetos alcançaram mais de mil alu-
jetos selecionados entre mais de 170 ins- ultrapassa 30% das bolsas financiadas nas do ensino médio. Embora o número

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são alguns dos personagens lembrados.
Quando perguntados se também conhe-
ciam mulheres cientistas, nenhum no-
me era mencionado pelos estudantes,
que participaram de uma peça interativa
encenada pela (Em)Companhia de Mu-
lheres, um coletivo de pesquisa teatral
feminista. Durante uma hora e meia, as
atrizes e pesquisadoras Rosimeire Sil-
va, Drica Santos e Priscila Mesquita in-
terpretam mulheres que se destacaram
Alunas na ciência em diferentes épocas, entre
participam da elas a matemática inglesa Ada Lovelace
construção de
(1815-1852), a química polonesa Marie
um carro de
competição na Curie (1867-1934) e a astronauta norte-
Universidade -americana Mae Carol Jemison. A ideia é
Federal de São dar visibilidade a pesquisadoras de des-
João del-Rei, em
taque nas ciências exatas.
Minas Gerais
“Trata-se de uma oportunidade de
promover essa reflexão, utilizando a po-
tência da linguagem lúdica do teatro,
e de mostrar às jovens que elas podem
ser o que quiserem”, diz Rosimeire. Os
2 recursos disponibilizados pelo edital
foram utilizados pela equipe do (Em)
seja limitado, a organização estima que Outro projeto apoiado pelo Elas nas Companhia de Mulheres para realizar a
mais de 12 mil pessoas, entre familiares Exatas recorreu ao passado da ciência pesquisa, produzir o figurino das atrizes
e amigos, tenham se envolvido de for- para discutir o papel das mulheres na e comprar material para cenário. Em um
ma indireta com as iniciativas apoiadas construção do conhecimento. Em salas ano, foram feitas 12 apresentações para
pelo edital. de aula do Instituto Estadual de Educa- mais de 600 alunos do Instituto Estadual
Em São João del-Rei, o intuito do pro- ção de Santa Catarina, em Florianópolis, de Educação de Santa Catarina. Atual-
jeto Mulheres nas Engenharias foi apre- estudantes do segundo ano do ensino mente, a peça esteve em cartaz no Sesc
sentar o ambiente de pesquisa às estu- médio foram instigados a citar nomes de Prainha, no centro de Florianópolis. “O
dantes do ensino médio. Os R$ 30 mil cientistas que entraram para a história público também é formado por meninos.
do edital foram destinados à compra de da ciência. O físico alemão Albert Eins- É importante que todos façam parte dos
materiais como cilindros de aço, fibra de tein (1879-1955), o matemático inglês debates”, argumenta Rosimeire.
vidro e gás para soldagem. As atividades Isaac Newton (1643-1727) e o astrôno- No Rio de Janeiro, o Elas nas Exatas
práticas ajudaram a desmistificar o uni- mo italiano Galileu Galilei (1564-1642) ajudou a impulsionar o projeto Tem Me-
verso da engenharia. “As meninas apren-
deram a soldar ligas de metal, além de 2
acompanhar as etapas de montagem de
um carro”, conta Bárbara. O trabalho na
oficina da UFSJ encorajou as estudantes
a conversar sobre assuntos como assédio
sexual e igualdade de gênero no espaço
acadêmico. “Percebemos que muitas ado-
lescentes temem o assédio. E o medo de
não serem respeitadas pode levar muitas
delas a evitar profissões predominante-
mente masculinas”, avalia. 4

Atrizes encenam
peça sobre
mulheres cientistas
para estudantes em
Florianópolis 5

pESQUISA FAPESP 261  z  47


Coletivo feminista de
São Paulo produziu
uma websérie sobre
a participação de
mulheres negras
na ciência

fotos  fundo elas


nina no Circuito, uma colaboração entre os dados sobre desempenho escolar por
um grupo de professores do Instituto de sexo não chegam às escolas. Com isso,
Física da Universidade Federal do Rio de muitos professores não se dão conta das
Janeiro (UFRJ) e a Escola Estadual Al- As atividades diferenças de gênero presentes nas rela-
fredo Neves, em Nova Iguaçu. Cerca de ções em sala de aula e na escola como um
20 alunas do ensino médio participaram práticas todo”, assinala Sandra. “Os estereótipos
de oficinas de eletrônica e programação. acabam sendo reproduzidos até sem ser
“As adolescentes aprenderam a montar
ajudam a percebidos, como desconsiderar a capa-
circuitos elétricos e alguns conceitos de desmistificar cidade das meninas para a matemática.”
mecatrônica”, relata Thereza Cristina La- A avaliação indicou que 64% dos me-
cerda Paiva, professora da UFRJ e coor- o universo das ninos que responderam ao questioná-
denadora do projeto. Nessas oficinas, ela rio eram negros. No caso das meninas,
explica, as estudantes chegaram a desen- engenharias a proporção foi de 62%. Sandra chama
volver sistemas mais complexos, como um a atenção para a necessidade de incluir
motor cujos movimentos, programados
para as meninas no debate sobre mulheres na ciência a
por softwares, são ativados por sensores. questão racial. “Quando falamos da par-
As atividades ocorreram na escola e ticipação da mulher negra na ciência, a
em laboratórios da UFRJ. “Foi impor- situação é ainda mais alarmante”, afirma.
tante levar as garotas para conhecer a Um dos projetos apoiados tocou nes-
universidade e ver de perto alguns equi- sa questão. Em São Paulo, o grupo Em-
pamentos utilizados em pesquisas”, sa- Foram aplicados questionários a 2.569 poderadas desenvolveu um projeto de
lienta Thereza, lembrando que a escola estudantes. Do total de meninas que res- webséries com alunas de ensino médio
está localizada em uma área pobre de ponderam, a maioria (29%) indicou me- sobre as histórias de vida de mulheres
Nova Iguaçu. “A tendência dos estudan- dicina como primeira opção de carreira. negras na ciência e na tecnologia. O pro-
tes da Escola Estadual Alfredo Neves é Entre os meninos, a maior parte (24,8%) jeto incluiu ainda rodas de conversa e a
terminar o ensino médio e não prosse- gostaria de seguir carreira militar. Os en- exibição de vídeos.
guir para a graduação.” As alunas visi- trevistados foram estimulados a também Para mudar a mentalidade nas escolas
taram ainda o Museu de Astronomia e sinalizar quais eram as disciplinas de e também na sociedade em geral, San-
Ciências Afins (Mast) e foram à Funda- que mais gostavam. Entre os meninos, dra Unbehaum sugere que iniciativas
ção Oswaldo Cruz (Fiocruz) assistir a as favoritas foram educação física, ma- como o Elas nas Exatas continuem com
uma palestra sobre genômica. temática e história. Já entre as meninas, mais participação dos professores. “O
a mais citada foi biologia, seguida por envolvimento deles gera oportunidades
Diferenças assinaladas educação física e português. de aprendizagem em gênero e amplia
Entre fevereiro e junho de 2016, os pro- De acordo com a socióloga Sandra a chance de criar uma cultura escolar
jetos selecionados no edital receberam Unbehaum, pesquisadora da Fundação sensível para perceber os estereótipos e
a visita de pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas, houve uma preocupação discriminações. Assim, pode-se contri-
Carlos Chagas, que avaliaram o perfil em distinguir os resultados do estudo se- buir para romper com o viés de gênero
dos estudantes das escolas envolvidas. gundo o gênero. “Na maioria das vezes na pedagogia”, diz. n Bruno de Pierro

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