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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

JACKSON JAMES DEBONA

ENTRE O REGIONAL E O NACIONAL:


Mato Grosso do Sul nos livros didáticos de História - PNLD
2011

CUIABÁ - MT
2015.

i
JACKSON JAMES DEBONA

ENTRE O REGIONAL E O NACIONAL:


Mato Grosso do Sul nos livros didáticos de História - PNLD
2011

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa


de Pós-graduação em História da Universidade
Federal de Mato Grosso na área de concentração
de “Territórios e Fronteiras” - “Ensino de Histó-
ria, Memória e Patrimônio”, sob a orientação do
Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro.

Este exemplar corresponde à redação final da


Dissertação de Mestrado examinado pela Co-
missão Julgadora em 27/03/2015.

BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro (UFMT – Orientador/Presidente)
Prof. Dr. Marcelo Fronza (UFMT – Examinador Interno)
Prof.ª Dr.ª Nauk Maria de Jesus (UFGD – Examinador Externo)
Prof.ª Dr.ª Ana Maria Marques (UFMT – Suplente)

CUIABÁ – MT
2015.

ii
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

D287e Debona, Jackson James.


ENTRE O REGIONAL E O NACIONAL: Mato Grosso do
Sul nos livros didáticos de História - PNLD 2011 / Jackson James
Debona. -- 2015
xv, 164 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientadora: Renilson Rosa Ribeiro.


Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso,
Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Programa de Pós-
Graduação em História, Cuiabá, 2015.
Inclui bibliografia.

1. Livro Didático. 2. Ensino de História. 3. História Regional. 4.


Mato Grosso. 5. Mato Grosso do Sul. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

iii
=== RESUMO ===

A presente dissertação tem por objetivo analisar 05 coleções de livros didáticos, recomen-
dadas para o ensino de História, conforme o PNLD 2011, no esforço de compreender ques-
tões relacionadas à inserção dos aspectos regionais no âmbito dos conteúdos a serem minis-
trados no Ensino Fundamental. A metodologia utilizada no mapeamento, seleção e locali-
zação das coleções, consiste no exame material das fontes selecionadas, a exemplo do que
propõem os estudos de CHARTIER (1990), MOREIRA (2011), CHOPPIN (2004) enten-
dendo que a produção dos textos está diretamente vinculada aos suportes os quais são dados
a ler. A discussão acerca da produção e usos de livros didáticos na contemporaneidade vol-
ta a ser relevante, haja vista iniciativas e orientações governamentais incentivando a esco-
lha e o uso deste material em todas as escolas do país (MOREIRA e SILVA, 2011). Tais
ações vêm sendo orientadas pelo Ministério da Educação, através de programas de roteiri-
zação e produção de guias para orientar essa escolha - PNLD - aliada às práticas cotidianas
as quais, tratando de escola pública, fortalecem, para os professores, a sua utilização e para
os pesquisadores a necessidade de discutir suas formas de apropriação. As mesmas autoras
apontam a necessidade de fomentar pesquisas sobre livros didáticos nos cursos de Pós-
graduação em História, alcançando apenas a marca de 30% das pesquisas, que em suas aná-
lises concentram-se na região Sudeste (MOREIRA e SILVA, 2011) fato que atribui respon-
sabilidade aos cursos da região do Centro Oeste a preencherem essa lacuna. Inserido no
conjunto das preocupações com o ensino de história e a utilização de instrumentos que via-
bilizem a aquisição de conhecimentos desta natureza, as análises indicaram certo silencia-
mento nas abordagens de conteúdos relacionados a temas da região – Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul –. Conforme a hipótese que orientou esse trabalho, concluiu-se que, em
grande parte das vezes, os livros didáticos de história não contemplam temários referentes
aos locais em que circulam, criando a impressão de que o conhecimento histórico passa,
apenas, por questões de foro nacional. Uma análise avaliativa deste material torna-se im-
prescindível para que esta ferramenta de apoio ao professor estimule favoravelmente o en-
sino.

Palavras-chave: Livro didático. Ensino de História. História Regional. Mato Grosso. Mato
Grosso do Sul.

iv
=== ABSTRACT ===

The present essay has the goal to analyse five didactic books collections, recommended to
History teaching, acoording to Didactic Book National Programm (PNLD, in Portuguese)
2011, trying to understand related issues to the insertion of regionals aspects into the con-
tents that will be ministered at Elementary School. The used methodology on mapping,
selection and location of collections consists in the review of the material from the selected
fonts, like in the exemplo from the CHARTIER (1990), MOREIRA (2011), CHOPPIN
(2004) study proposals, understanding that the texts production is directly linked to the
holders that are read. The argument about use and production of the didactic books in con-
temporaneity comes back to be relevant, considering governmental initiatives and guidanc-
es to encourage the choice and use of this material in all contry schools (MOREIRA and
SILVA, 2011). These initiatives have being conducted by Education Ministry, through the
production and routing of guides programs to conduct this choice – PNLD – ally to the dai-
lyy practices that, trying topublic schools, strengthen, to the teachers, its use and to the re-
searchers the need to discuss its appropriation forms. The same authors say the need to
promote research about didactic books at History Graduate School, reaching only 30% re-
searches, that in their analysis, are concentrated on Southeast Region (MOREIRA and
SILVA, 2011), and this fact assigns responsability to the Midwest Region to fills this grap.
Inserted in the conerns about History teaching and the use of the instruments that enable
knowledge acquisition like this nature, the review indicates some silence on approach of
contents associated to region themes -Mato Grosso and South Mato Grosso -. According to
the hypothesis that guides this work, it concludes that, most of the time, the History didactic
books do not contemplate themes that refers to the locals that they are, creating the impres-
sion that historical knowledge passes only on national forum questions. An evaluation
analysis from this material becomes indispensable to this teacher support tool promotes the
teaching favorably.

Key Words: Textbooks. Teaching History. Regional History. Mato Grosso. Mato Grosso do
Sul.

v
Para Adriana,
minha amada esposa,
e nosso pequeno Gabriel.

vi
=== AGRADECIMENTOS ===

No decorrer do Curso de Mestrado muitas pessoas contribuíram de modo signifi-


cativo para o processo de escrita da dissertação. A elas minha sincera gratidão e respeito:
Ao professor Renilson Rosa Ribeiro, pela sua confiança depositada desde as pri-
meiras conversas, pelas orientações precisas, pelos direcionamentos valiosos e acima de
tudo pela motivação nos momentos finais de escrita dessa dissertação.
Aos professores (as) Marcelo Fronza, Alexandra Lima da Silva e Nileide Souza
Dourado, pelas valiosas e significativas contribuições no exame de qualificação. À profes-
sora Nauk Maria de Jesus, por aceitar o convite para fazer parte, ao lado de Marcelo Fron-
za, da banca de defesa.
À amiga Vanda Silva, pelas horas de conversas proveitosas e profícuas.
À amiga e professora Elisângela Cristiane Rozendo São José, pelo auxílio na pre-
paração para prova de proficiência.
Aos amigos e colegas do Curso de Mestrado, sem a contribuição de vocês seria
mais difícil esse processo formativo.
Ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato
Grosso, na pessoa do Prof. Dr. Leandro Duarte Rust, pela atenção durante esse processo.
Registro um agradecimento especial à secretária Valdomira (Val), pelo seu carisma e preci-
sas orientações, desde o período de inscrição para a seleção do Mestrado até os momentos
posteriores. Obrigado Val.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em História - UFMT que, de dife-
rentes formas, contribuíram para a minha formação. Em especial a professora Ana Maria
Marques, pela atitude motivadora.
Aos meus pais Ivres Remigio Debona e Maria Luiza Galeazzi Debona in memori-
an, pela vida, pela educação e ensinamentos.

vii
À minha esposa, Adriana Aparecida Pinto, por seu total e incondicional apoio em
todos os sentidos. Luz do Oriente ao Ocidente. Além de apoio, deu-me um presente maravi-
lhoso, Gabriel, o filho adorado!
A Sidnei Marcos Debona, irmão em todo sentido da palavra. Obrigado.
A Jurandir Evangelista Santos, Sônia Barros Ferreira e filhos, pelo empréstimo de
um ombro amigo, muito mais pais do que amigos, um casal que admiro.
À CAPES pelo apoio para a realização dessa pesquisa, sem a qual muitos impedi-
mentos não teriam sido rompidos.
A Deus, pela inspiração intuitiva e energia, que foram fundamentais no processo
de elaboração e escrita dessa dissertação.

viii
=== LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ==

CDR Centro de Documentação Regional.


COTEC Coordenadoria de Tecnologia Educacional.
ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
IHGMT Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.
IHMT Instituto Histórico de Mato Grosso.
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
MEC Ministério da Educação.
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais.
PDE Plano de Desenvolvimento da Educação.
PIN Plano de Integração Nacional.
PNLD Programa Nacional do Livro Didático.
PRC Partido Republicano Conservador.
PRMG Partido Republicano Mato-grossense.
SED-MS Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul.
SIMAD Sistema do Material Didático.
SISCORT Sistema de Controle de Remanejamento e Reserva Técnica.
UFGD Universidade Federal da Grande Dourados.
UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso.

ix
=== LISTA DE GRÁFICOS ===

Gráfico 1: Perspectiva curricular dominante nas coleções de Livros de História do PNLD


2011, p. 48.

Gráfico 2: Perfil das coleções de Livros de História do PNLD 2011, p. 49.

Gráfico 3: Abordagens temáticas nas coleções de Livros de História do PNLD 2011, p. 50.

Gráfico 4 – Coleções do PNLD de História de 2011 que foram escolhidas pelas escolas
públicas do Mato Grosso do Sul, p. 84.

x
=== LISTA DE QUADROS ===

Quadro 1 - Sistematização dos conteúdos de História do MT/MS para o Ensino Fundamen-


tal em 2008, p. 36.
Quadro 2 - Sistematização dos conteúdos de História do MT/MS para o Ensino Fundamen-
tal Anos finais, em 2012, p. 38.
Quadro 3 - Sistematização por ano/série de Livros Didáticos Consumíveis ou Reutilizá-
veis, p. 52.
Quadro 4 - Coleções aprovadas para o PNLD de 2008 em escolas da rede pública de ensi-
no de Mato Grosso do Sul, p. 76.
Quadro 5 - Demonstrativo das cinco coleções de Livro Didático mais adotado pelas Esco-
las do Mato Grosso do Sul no PNLD de 2008, p. 78.
Quadro 6 - Coleções aprovadas para o PNLD de 2011 em escolas da rede pública de ensi-
no de Mato Grosso do Sul, p. 81.
Quadro 7 - Demonstrativo das cinco coleções de Livro Didático mais adotado pelas Esco-
las do Mato Grosso do Sul no PNLD de 2011, p. 82.
Quadro 8 - Coleções de livros didáticos de História presentes no PNLD de 2008 que per-
maneceram do PNLD de 2011, p. 85.
Quadro 9 - Coleção Projeto Araribá – História, p. 96.
Quadro 10 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano, p. 97.
Quadro 11 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano, p. 98.
Quadro 12 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º Ano, p. 98.
Quadro 13 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º Ano, p. 99.
Quadro 14 – Coleção História Sociedade & Cidadania – Nova Edição, p. 102.
Quadro 15 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano, p. 104.
Quadro 16 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º Ano, p. 105.
Quadro 17 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º Ano, p. 105.
Quadro 18 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º Ano, p. 107.

xi
Quadro 19 - Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio, p. 109.
Quadro 20 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º Ano, p. 110.
Quadro 21 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º Ano, p. 111.
Quadro 22 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano, p. 112.
Quadro 23 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano, p. 113.
Quadro 24 - Coleção Projeto Radix – História, p. 116.
Quadro 25 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano, p. 117.
Quadro 26 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano, p. 118.
Quadro 27 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano, p. 119.
Quadro 28 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano. p. 120.
Quadro 29 - Coleção História e vida integrada, p. 122.
Quadro 30 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano, p. 124.
Quadro 31 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano, p. 124.
Quadro 32 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano, p. 125.
Quadro 33 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano, p. 126.

xii
=== SUMÁRIO ===

Agradecimentos, p. vii

Lista de Abreviaturas, p. ix

Lista de Gráficos, p. x

Lista de Quadros, p. xi

Introdução, p. 1

Capítulo 1.
Livro didático, ensino de história e legislação: elementos para a compreensão da pes-
quisa histórica regional, p. 10

[1.1] Livro Didático (LD) como fonte e objeto para o ensino de História, p. 11
[1.2] Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica e Parâmetros Curriculares
Nacionais: a disciplina de História em foco, p. 24
[1.3] O ensino de História e seus conteúdos: um estudo acerca dos documentos orientadores
das propostas curriculares regionais, p. 31
[1.3.1] Primeiros passos rumo à normatização dos conteúdos escolares: Referencial Curri-
cular do Estado de Mato Grosso do Sul - edição 2008, p. 32
[1.3.2] Caminhando para a mudança: Referencial Curricular do Estado de Mato Grosso do
Sul - edição 2012, p. 37
[1.4] O processo de escolha do livro didático: implicações para o ensino, p. 41

xiii
Capítulo 2.
Percursos históricos e fontes: um estudo sobre as coleções de livros didáticos adotadas
em Mato Grosso do Sul, p. 55

[2.1] A História regional: conceitos e componentes de ensino, p. 56


[2.1.1] Por dentro de Mato Grosso: aspectos históricos, p. 59
[2.1.2] A Divisão do Estado de Mato Grosso, p. 70
[2.2] A história regional a partir das coleções de ensino: mapeamento e localização em
Mato Grosso do Sul, p. 74
Capítulo 3.
Livro didático de História: indicativos para uma discussão do ensino de história regi-
onal, p. 87

[3.1] O livro didático e suas contribuições para o ensino da história de Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul, p. 90
[3.1.1] Coleção Projeto Araribá – História, p. 93
[3.1.2] História Sociedade & Cidadania - nova edição, p. 100
[3.1.3] Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio, p. 107
[3.1.4] Projeto Radix – História, p. 114
[3.1.5] História e Vida Integrada, p. 120
[3.2] História regional: conteúdos recorrentes nos livros didáticos de História do
PNLD 2011, p. 127

Considerações finais, p. 134

Fontes, p. 143

Referências, p. 144

xiv
Sites/Documentos, p. 154

Anexos, p. 155

xv
=== INTRODUÇÃO ===

O presente trabalho de dissertação propõe a análise de coleções de livros didá-


ticos de História que fizeram parte do Programa Nacional de Livros Didáticos PNLD
2011 e que circularam nas escolas estaduais de Mato Grosso do Sul, tendo por objeto de
pesquisa o Ensino de História regional no estado de Mato Grosso do Sul nos livros didá-
ticos de história do PNLD de 20111 .
O objetivo do estudo está centrado na investigação de conteúdos de História
Regional nas coleções que mais foram adotadas durante o triênio do Programa Nacional
de Livro Didático PNLD 2011 e da possibilidade das coleções servirem como mais um
instrumento para o ensino de História regional.
A pesquisa do regional nos permite visualizar as especificidades e ou particula-
ridades dos acontecimentos históricos que, mesmo ocorridos nacionalmente, se apresen-
tam de formas diversas nas regiões, haja vista, as diferentes ações contraditórias geradas
pelos seres humanos.
De acordo com Janaína Amado,

[...] partindo de um quadro teórico da chamada “geografia críti-


ca” (que incorpora as premissas do materialismo dialético e his-
tórico). [...] definem “região” como a categoria espacial que ex-
pressa uma especificidade, uma singularidade, dentro de uma to-
talidade: assim, a região configura um espaço particular dentro
de uma determinada organização social mais ampla, com a qual
se articula2 .

Face ao exposto, a relevância desse estudo está assentada na preocupação com


a disponibilização de materiais didáticos pelos PNLD’s que possibilitem de uma forma

1
É importante ressaltar as mudanças ocorridas em 1997 quanto à execução do PNLD. Com a extinção,
em fevereiro de 1997, da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), a responsabilidade pela política
de execução do PNLD é transferida integralmente para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educ a-
ção (FNDE). O programa é ampliado e o Ministério da Educação passa a adquirir, de forma continuada,
livros didáticos de alfabetização, língua portuguesa, matemática, ciências, estudos sociais, história e ge o-
grafia para todos os alunos de 1ª a 8ª série do ensino fundamental público. http://www.fnde.gov.br. Aces-
sado em 3 de março de 2014.
2
AMADO, Janaína. História e Região: Reconhecendo e Construindo Espaços. In SILVA, Marcos A. da
(org.). República em migalhas: história regional e local. São Paulo: CNPq/Marco Zero, 1990. p. 8.

1
mais abrangente o estudo da História da região de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul. Há
livros didáticos e paradidáticos que pautam sobre a região, porém, não atendem toda a
região, pois são livros de pequenas tiragens se comparados com os do Programa Nacio-
nal de Livro Didático e que cobre quase 100% da região. Esse estudo aponta ainda a
necessidade desse material didático de História regional para suprir a carência de conte-
údos que são propostos pelo Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul e, conse-
quentemente, para o ensino de História regional.
A partir do mapeamento das coleções, quantificações e sistematizações em
quadro e gráficos é que a pesquisa tomou forma quantitativa, o que revelou dados insti-
gantes para análise e a escrita do texto de dissertação.
As leituras feitas nas disciplinas, principalmente as de teoria da História, e de
bibliografias referentes ao tema de pesquisa foram essenciais, pois nos possibilitaram a
compreensão para efetivar as análises dos dados extraídos das fontes e documentos e
desse modo tonalizar a dissertação qualitativamente.
O processo de construção de uma narrativa envolve muito mais da subjetivida-
de do que se costuma admitir. A reflexão sobre a trajetória de vida e formação é essen-
cial para nos constituir como indivíduos e como seres humanos, justificando as escolhas
na vida pessoal e profissional.
Neste contexto histórico, ponho-me a narrar as motivações que me levaram ao
envolvimento com questões relacionadas ao ensino, suas formas de aprendizado e os
modos pelos quais se estrutura o pensamento em uma perspectiva histórica, especial-
mente com relação às formas e abordagens pelas quais se processa o ensino da discipli-
na de História. Nesse sentido e de acordo com Michel de Certeau, “todo sistema de pen-
samento está referido a ‘lugares’ sociais, econômicos, culturais etc.”3 Desse modo, as
experiências sociais e culturais são parte integrante do meu lugar social, o que contribui
para o entendimento do leitor dessa pesquisa.
O primeiro encontro acadêmico se dá após quatro anos terminado o então Se-
gundo Grau, ao ingressar no ensino superior no curso de Filosofia, em 1996, nas Facul-
dades de Filosofia, Ciência e Letras de Palmas (FAFI – PR), concluído em julho de
1999.

3
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. 2 ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 66.

2
No ano de 2000 fui chamado para substituir uma professora que se ausentara
do exercício profissional por questões de saúde, - as disciplinas a serem ministradas
eram filosofia e sociologia - na cidade de Coxim – Mato Grosso do Sul, onde passei a
residir por um período curto. Essa primeira experiência foi ímpar, e por meio da qual
senti que havia encontrado minha aptidão profissional, adquirindo atração e gosto pela
docência. Regressando a Mariópolis - Paraná, por questões familiares, sinalizou-se a
possibilidade de dar continuidade ao processo de formação docente, desta vez no curso
de História, que seria realizado na mesma Instituição que fizera anteriormente o de Filo-
sofia. Mas a nova conjuntura de responsabilidades assumidas não possibilitou o ingres-
so no curso e abortei uma paixão que nascera ainda quando cursava Filosofia.
Passado dois anos e com os compromissos findados, fui convidado a retornar
para Coxim, com uma proposta de emprego em vista e a possibilidade de voltar a estu-
dar. De volta à cidade, prestei vestibular para o curso de História no novo campus da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) que tinha se instalado na cidade
há um ano e que ofertava o curso de História, curso esse que almejava fazer. Em 2002
fui contemplado com uma vaga no curso.
O retorno aos bancos escolares, na universidade, fez novamente renascer o gos-
to pelo estudo e o ensino. Em 2004, assumi a disciplina de filosofia em duas escolas
públicas de Coxim e em 2006 assumi o ensino de História do Ensino Fundamental de
quinta a oitava série na Escola Estadual Silvio Ferreira, também no município de Co-
xim.
O contato com ensino de História resultou em muitos questionamentos dentre
os quais as dissonâncias existentes entre os referenciais curriculares e o ensino de Histó-
ria, percebida durante o estágio supervisionado e as discussões realizadas nas disciplinas
de prática de ensino. O escasso material, a falta de maturidade pedagógica e o descom-
passo com a realidade local tornaram mais árduos o ato de lidar com o ensino de Histó-
ria, mas, desses desencontros e questionamentos resultou o interesse para a escolha da
área de pesquisa em História, da qual resultou no Trabalho de Conclusão de Curso
(Monografia - TCC) apresentado em 2008, intitulado “Ensino de História e Historicida-
de: das LDB’s à História e Cultura Afro-Brasileira”.
No ano de 2009, fiquei afastado da docência por motivos particulares, só retor-
nando em 2010 para sala de aula. Esse período de afastamento do ensino de História e

3
Filosofia tornou-se importante no que tange a uma reavaliação do método de ensino
adotado durante os anos que se passaram bem como sinalizaram a necessidade de reto-
mar estudos no âmbito institucional.
A ânsia de tornar a estudar e participar academicamente do círculo de discus-
sões sobre a temática levou a procurar um curso de especialização na área. Em 2012
comecei o curso “Lato Sensu” em Metodologia do Ensino de História e Geografia, e
finalizando o após a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (artigo) intitulado
“Produção Acadêmica Acerca do Livro Didático de História: Apontamentos”, em abril
de 2013.
Concomitante ao curso de Especialização nasce o interesse em aprofundar es-
tudos, em curso de Mestrado. A familiarização inicial e o interesse contínuo pelo ensino
de História deram origem ao projeto. Para seleção foi apresentado o projeto de pesquisa
intitulado “Entre o regional e o nacional: Mato Grosso nos Livros Didáticos De História
– PNLD 2008 e as Práticas na Sala de Aula”. Com o projeto aprovado e dentre outros
quesitos fui admitido como aluno regular do Programa de Pós-Graduação de História da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Após o ingresso no curso, o projeto inicial, mediado pelos diálogos com o pro-
fessor orientador, disciplinas cursadas e leituras realizadas sobre o tema foi tomando
forma de pesquisa. Essa pesquisa busca realizar um estudo mais detalhado do ensino de
História Regional nos livros didáticos de história, cuja compreensão está alicerçada aos
processos pelos quais se dá escolha do livro didático a serem utilizados nas escolas.
Sobre a escolha4 e distribuição busca-se descrever a quem cabe à responsabilidade em
cada instância do processo. Não buscamos nesse trabalho discutir e analisar como se dá
o processo de escolha pelos profissionais, mas entendemos que essa discussão é neces-
sária para conhecer os caminhos percorridos para que a escolha do material se efetive.

4
Segundo MATOS & SENNA: OS editais do PNLD possuem duas fases principais: a primeira é marcada
pela candidatura dos livros para avaliação e posterior liberação da listagem dos indicados; a segunda é a
fase na qual os professores, a partir dessa listagem, escolhem quais livros utilizarão em suas salas de aula.
A estrutura do Programa é complexa e, portanto, pouco ágil, mas tem se mostrado eficaz. MATOS, Júlia
Silveira; SENNA, Adriana Kivanski de. Estados, editoras e ensino: o papel da política na produção, avali-
ação e distribuição dos livros didáticos de História no Brasil (1938-2012). Revista História Hoje, vol. 2,
n. 4, 2013, p. 213-240.

4
Outro dado que agrega interesse à pesquisa sobre o tema diz respeito à partici-
pação, como docente da disciplina de história, na escolha de livro didático 5 de história
no ano de 2007, PNLD de 2008. Essa experiência deixou marcas e questões a serem
respondidas quanto ao processo e critérios na escolha do livro didático. À época não
tivemos acesso ao Guia de livro didático e tão pouco as coleções que foram avaliadas e
recomendadas pelo PNLD – naquele ano composta por 19 títulos. Seguiam os questio-
namentos e inquietações: Que critérios utilizar para não prejudicar o ensino de história e
o aprendizado dos discentes? Que coleção escolher se o Referencial Curricular/MS che-
garia só no ano seguinte? Priorizar qual abordagem historiográfica? Essas questões, e as
ausências de respostas, foram as que mais pesaram na escolha da coleção.
De acordo com alguns colegas, o importante era escolher o livro didático que
tivesse mais atividades e exercícios, outros já falavam em priorizar o que tinha mais
conteúdo, outros a coleção mais ilustrada e outros diziam ainda que qualquer um ser-
viria para deixar na prateleira, pois iriam seguir a seleção de conteúdos e exercícios
propostos por eles mesmos. Por fim, sob minha conta e risco, fiz a escolha de uma cole-
ção e passei a secretária da escola para registrar o pedido 6 . É importante salientar que
nenhum momento o diálogo estabelecido pelos professores fluiu para análise das con-
cepções de História, subjacentes para nós, nas coleções de livro didático.7
De acordo com um levantamento, feito por mim no ano de 2013, já quando era
aluno do Mestrado e estava iniciando o mapeamento para a pesquisa, sob a escolha de

5
Segundo Circe Bittencourt, “A complexidade da natureza desse produto cultural explica com maior
precisão o predomínio que exerce como material didático no processo de ensino e na aprendizagem da
disciplina, qualquer que seja ela. O livro didático tem sido, desde o século XIX, o principal instrumento
de trabalho de professores e alunos, sendo utilizado nas mais variadas salas e condições pedagógicas,
servindo como mediador entre a proposta oficial do poder expressa nos programas curriculares e o conhe-
cimento escolar ensinado pelo professor”. BITTENCOURT, Circe. Livros didáticos entre textos e ima-
gens, in: O saber histórico na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1998, p. 69-90.
6
Essa experiência profissional mexeu com a minha (in) capacidade intelectual de formação é o sentimen-
to que me tomou naquele momento. Mas de acordo com Olinda Evangelista e Eneide Oto Shiroma,
“Conquanto os professores não participem como interlocutores legítimos da definição de diretrizes ed u-
cacionais são –junto com a escola- alvo preferencial de desqualificação política e profissional, especial-
mente nos documentos do Banco Mundial. Pelo menos dois tipos de argumentos sustentam tal investida.
De um lado, argumenta-se que o professor é corporativista, obsessivo por reajustes, descomprometido
com a educação dos pobres, um sujeito político do contra. De outro, que é incapaz teórico -
metodologicamente, incompetente, responsável pelas falhas na aprendizagem dos alunos, logo – em últi-
ma instância – por seu desemprego”. EVANGELISTA, Olinda; SHIROMA, Eneida Oto. Professor: pro-
tagonista e obstáculo. Educação e Pesquisa, São Paulo, vol. 33, n. 3, set/dez, 2007, p. 536.
7
De acordo com Henry A. Giroux, “Em vez de aprenderem a refletir sobre os princípios que estru turam a
vida e prática em sala de aula, os futuros professores aprendem metodologias que parecem negar a própria
necessidade de pensamento crítico”. GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: rumo a uma
pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 157-164.

5
livro didático de história realizado pelo PNLD de 2008, a coleção de que foi naquela
época escolhida por mim8 foi à mesma da maioria das escolas do município de Coxim.
Fiquei surpreso já que na área de história era a primeira vez que participava de uma es-
colha de livro didático, esse dado deixou claro que o despreparo e ou a falta de orienta-
ção dos professores na escolha dos livros é geral, mas cada um parte dos princípios
aprendidos na sua formação de graduação para atender as necessidades mínimas refe-
rentes ao ensino daquela disciplina.
Cursadas as disciplinas no Programa de Pós Graduação em História, voltando-
se a pesquisa, o projeto inicial tomou outro rumo. A proposta inicial objetivava analisar
os livros didáticos indicados pelo PNLD de 2008, e adotados em Mato Grosso do Sul.
Verificada a impossibilidade de localizar e obter as cinco coleções de livro didático de
história que mais foram adotadas no ensino de sexto ao nono ano do Ensino Fundamen-
tal, tendo em vista que esse material, ao final do seu triênio de uso é repassado para des-
carte ou incineração, passamos a busca por um triênio mais próximo, a escolha e distri-
buição do PNLD de 2011.
Mas antes dessa mudança buscamos informações sobre as coleções do PNLD
2008, nos escritórios das editoras de Campo Grande, capital do Estado, na Secretaria
Estadual Educação de Mato Grosso do Sul, no setor de livro didático – COTEC, nas
escolas estaduais, com professores e alunos. Entramos em contato com a sede das edito-
ras e com o Ministério da Educação (MEC) no setor que é responsável pela distribuição
de livro didático. No entanto, a informação sobre o triênio do PNLD 2008, é que já teria
passado o prazo de utilidade e foi reciclado, o que impossibilita a localização, nesse
curto período de tempo, e análise das coleções. Estava sendo cometida uma “atrocidade
com a história”; esse foi o meu pensamento perante a informação recebida.
A alteração do período delimitador levou-nos a um novo mapeamento e locali-
zação dos Livros didáticos de história que fizeram parte do PNLD de 2011. No entanto

8
É difícil de admitir sem fazer considerações, a preocupação mais latente há época era o novo Referenc i-
al curricular que viria em 2008, sabendo que a escolha do livro didático foi em 2007 e a sugestão para o
novo referencial curricular também assim o foi, caberia de certa forma intuitiva, escolher um livro didát i-
co que se alinhasse ao novo referencial curricular, pois tínhamos visualizado a proposta de ensino de
história regional proposta pela SED-MS. Conhecedor dos limites quanto ao conhecimento regional optei
pela coleção que “mais parecia ter menções a região de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul”. Minha surpre-
sa quando fiz o levantamento das coleções em 2013 é que possivelmente os outros professores tiveram
semelhante critério para a escolha. Muitas vezes se nega o uso do livro didático, mas o que me pareceu há
época é que longe de se promover um diálogo sobre metodologia e de concepções de história se opta por
um livro que dê menos trabalho.

6
para dar conta dessa mudança, tivemos que percorrer caminhos que já havíamos trilha-
do, como o mapeamento de todas as escolas públicas estaduais de ensino de sexto a no-
no ano do Ensino Fundamental, elaborar tabelas e gráficos, incorporar o Referencial
Curricular/MS de 2012 na análise e, por fim, chegar a ponto de partida para a escrita da
dissertação.
Face ao exposto, o texto que segue apresenta-se estruturado em três capítulos
com suas respectivas subdivisões de acordo com as necessidades que se apresentaram
durante as análises empreendidas às fontes pesquisadas.
O primeiro capítulo, intitulado “Livro didático, ensino de história e legislação:
elementos para a compreensão da pesquisa histórica regional” apresenta um panorama à
discussão pertinente ao livro didático, buscando realizar a interface com a legislação de
ensino, bem como os dispositivos que orientam e regulam a adoção deste material nas
escolas publicas brasileiras.
As possibilidades de escrita da história são dadas a partir de inúmeros olhares.
Tais olhares podem, e em muitos casos devem, ser orientados por intermédio das fontes
que possibilitam ao estudioso da história entender percursos, opções metodológicas e
formulações teóricas para investigar determinados campos de pesquisa.
A organização interna deste capítulo reflete a necessidade em se compreender
o livro didático como objeto em si, mas, sobretudo como fonte para a pesquisa em His-
tória, tendo em vista que se constitui em instrumento de ampla e obrigatoriamente utili-
zado para efetivar o ensino dos conteúdos escolares, sobretudo em instituições públicas
de ensino.
Ao lado dos estudos que asseguram a importância das pesquisas realizadas so-
bre o tema, enfocaram-se as legislações (documentos oficiais) pertinentes ao ensino da
disciplina de História, cujos livros didáticos examinados nesta dissertação de mestrado
dizem respeito. A opção por este tipo de abordagem justifica-se na necessidade de com-
preender de que modo os mecanismos legais, legitimadores das ações relativas ao uso
do material em espaços de ensino, dispõem sobre a regulamentação e os conteúdos para
o ensino da disciplina.

7
Ao partir das Diretrizes Curriculares Nacionais9 para o ensino de história, pas-
sando pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados em esfera nacional,
buscou-se perceber em que medida o ensino de história em Mato Grosso do Sul opera-
cionalizava tais normatizações, abordagem também presente neste capítulo, com o exa-
me dos referenciais curriculares de Mato Grosso do Sul para o Ensino Fundamental dos
anos finais.
Ao detalhar o processo de escolha do Livro Didático, tornou-se possível com-
preender os meandros que envolvem essa prática administrativo-pedagógica do governo
federal como meio de proporcionar material gratuito e assegurar um ensino de qualidade
e universal como estabelece Plano Nacional de Educação (PDE).
O segundo capítulo, intitulado “Percursos históricos e fontes: um estudo sobre
as coleções de livros didáticos adotadas em Mato Grosso do Sul”, objetiva apresentar e
discutir aspectos relativos a especificidades das fontes, sem, no entanto, apresentar as
abordagens que constituem o problema de pesquisa a ser encaminhado através da con-
clusão desta dissertação, estando organizado a partir de três eixos básicos de condução,
a saber: a apresentação de uma releitura da produção bibliográfica pertinentes à história
de Mato Grosso e da criação de Mato Grosso do Sul ao lado da discussão teórico meto-
dológica da produção de uma história tipicamente regional sem, no entanto, estar des-
vinculada da história nacional; a apresentação e discussão dos dados coletados a partir
dos sistemas de controle e distribuição dos livros didáticos em Mato Grosso do Sul nos
anos do PNLD de 2011 e o encaminhamento das coleções selecionadas para objetivar a
análise relativa aos temas pertinentes a Mato Grosso e Mato Grosso do Sul identificados
nos materiais didáticos que circularam nas escolas no período em exame.
O terceiro capítulo, intitulado “Livro didático de História: indicativos para uma
discussão do ensino de história regional”, objetiva apresentar e discutir o mapeamento e
análise dos conteúdos referentes à História regional nas cinco coleções de livros didáti-
cos de história que fizeram parte do PNLD de 2011 e que tiveram mais adesão pelas

9
De acordo com Circe Bittencourt, “Para a maioria das propostas curriculares, o ensino de História visa
contribuir para a formação de um “cidadão crítico”, para que o aluno adquira uma postura crítica em
relação à sociedade em que vive. As introduções dos textos oficiais reiteram, co m insistência, que o ensi-
no de História, ao estudar as sociedades passadas, tem como objetivo básico fazer o aluno compreender o
tempo presente e perceber-se como agente social capaz de transformar a realidade, contribuindo para a
construção de uma sociedade democrática”. BITTENCOURT, Circe. Livros didáticos entre textos e ima-
gens, in: O saber histórico na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1998, p. 69-90.

8
escolas estaduais do estado de Mato Grosso do Sul. Na intenção de apresentar e discutir
as formas de abordagens da história de Mato Grosso do Sul a partir dos dispositivos
didáticos utilizados para seu ensino, tendo em vista que nos materiais didáticos utiliza-
dos nas escolas públicas do estado, analisado, observou-se pouca inserção de conteúdos
referentes à história regional, antes e após a sua divisão territorial.
A escolha destas fontes justifica-se na importância e representatividade que
possuem para o ensino nas escolas estaduais de Mato Grosso do Sul, sendo que é consi-
derado instrumento em potencial para tratar de questões históricas regionais.
Desse modo, buscou-se nas coleções de livros didáticos, por ser material pri-
mordial para o ensino e ter sua distribuição financiada pelo Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD 2011), por todo território Nacional, conteúdos que viabilizem o ensino
de história regional, entendendo que a história de Mato Grosso relaciona-se a um espaço
geográfico temporal que perpassa da capitania de São Paulo, à criação de Mato Grosso,
chegando à divisão, em 1977, até eventos recentes.
Acredita-se que pesquisas dessa natureza possam fomentar apontamentos da
existência de referenciais bibliográficos para o estudo de História/Historiografia regio-
nal e, concomitantemente, promover um diálogo fecundo quanto à questão de escolha
de livros didáticos e o ensino de História que se aproxime a realidades históricas de nos-
sa região.

9
=== CAPÍTULO 1 ===

LIVRO DIDÁTICO, ENSINO DE HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO:


elementos para a compreensão da pesquisa histórica regional

As possibilidades de escrita da história são dadas a partir de inúmeros olhares.


Tais olhares podem, e em muitos casos devem, ser orientados por intermédio das fontes
que possibilitam ao estudioso da história entender percursos, opções metodológicas e
formulações teóricas para investigar determinados problemas de pesquisa. Nesse senti-
do, o presente capítulo objetiva apresentar questões inerentes à pesquisa histórica que
tem como fonte de investigação o livro didático para o ensino da referida disciplina,
pousando o foco em alguns aspectos para subsidiar as análises que se pretende realizar
nos capítulos posteriores.
A estrutura que segue orienta-se a partir da necessidade de compreender se há
presença ou ausência da história regional do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul no li-
vro didático. Desse modo, utilizaremos nesse trabalho o livro didático como fonte ou
domínio para a pesquisa em História, tendo em vista que se constitui em instrumento
presente no cotidiano das práticas pedagógicas de professores e alunos da rede pública e
particular de ensino no Brasil, utilizado para efetivar o ensino dos conteúdos escolares,
procedimento igualmente adotado nas escolas de Mato Grosso do Sul, espaço geográfi-
co no qual o estudo incide suas preocupações.
Ao lado dos estudos que asseguram a importância das pesquisas realizadas so-
bre o tema, optou-se por retomar a documentação orientadora das diretrizes para o ensi-
no de história em âmbito nacional e regional, na tentativa de encaminhar a análise dos
capítulos seguintes, tendo em vista que os livros didáticos examinados nesta dissertação
de mestrado dizem respeito a temas pertinentes aos conteúdos desta disciplina e as for-
mas de abordagem nos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano). Esse recorte
justifica-se na necessidade de compreender de que modo os mecanismos legais, legiti-
madores das ações relativas ao uso do material em espaços de ensino, dispõem sobre a

10
regulamentação e os conteúdos para o ensino da disciplina em relação às especificidades
regionais.
O período que perfaz as análises apresentadas circunscreve-se entre os anos de
2008 a 2012 por observar, de acordo com a documentação emanada do poder público
(Diretrizes Curriculares Nacionais e Referenciais Estaduais) certa mudança nas inser-
ções de temário referente a outras localidades que não apenas àquelas comumente con-
templadas nos grandes eventos de ordem nacional, delineando um ensaio de ensino de
história regional, que deveria apresentar reflexos nos livros didáticos do Estado de Mato
Grosso do Sul.
Ao partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino de história, pas-
sando pelos Parâmetros Curriculares elaborados em esfera nacional, buscou-se perceber
em que medida o ensino de história em Mato Grosso do Sul operacionalizava tais nor-
matizações, abordagem que se evidencia com o exame dos Referenciais Curriculares
para os anos finais do Ensino Fundamental.
Apoiando esse debate, a discussão encaminha a descrição e análise das formas
de estruturação dos processos de escolha dos livros didáticos, cujo processo tornou-se
institucionalizado por meio do PNLD, por considerar que aspectos que regulam a pro-
dução, difusão e escolha dos livros didáticos auxiliam no conhecimento dos processos
de circulação desse material, com implicações para o contexto escolar.

[1.1] Livro Didático (LD) como fonte e objeto para o ensino de História

A discussão acerca da produção e usos de livros didáticos na contemporanei-


dade torna-se relevante, haja vista iniciativas e orientações governamentais incentivando
a escolha e o uso deste material em todas as escolas do país. O estudo realizado por Mo-
reira e Silva, contribui para o entendimento de que,

A investigação sobre o LD no Brasil intensifica-se a partir da década


de 1970, ganhando fôlego nas décadas posteriores, tendo em vista a
difusão do LD com o processo de “democratização de ensino” que se
inicia no país a partir da segunda metade do século XX. O LD aparece
como solução para suprir a falta de professores qualificados nesse pe-

11
ríodo de expansão da demanda por vagas e, consequentemente, por
escolas.10

Ainda, na perspectiva histórica Alain Choppin complementa:

É no decorrer dos anos 1970, que os historiadores começam a mani-


festar um real interesse pelo livro e pela edição escolares. O fim da
década testemunha essa tomada de consciência com a publicação,
quase concomitante, de contribuições que sublinham a importância
que revestiu o manual como fonte para os historiadores da educação,
em diferentes países.11

No entanto, o mesmo autor em outro artigo destaca que o livro didático 12 possui
outros parceiros no processo educativo escolar, os quais são de igual importância ou de
função complementar. Portanto, a ressalva quanto à importância do livro didático, feita
por Choppin, está imbuída de afirmar a importância do livro didático mesmo existindo
outros instrumentos de igual equivalência, pois se tornou indissociável desses o LD.
No Brasil, o incentivo ao uso dos livros didáticos se fortalece a partir de 1985
com o surgimento do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)13 . Tais ações vêm
sendo orientadas por meio de campanhas pela escolha de livros didáticos, propagandea-
das pelo Ministério da Educação (MEC), bem como da institucionalização de programas
de roteirização e produção de guias para orientar essas escolhas, aliadas às práticas coti-

10
MOREIRA, Kenia Hilda e SILVA, Marilda. Um inventário: o livro didático de História em pesquis as
(1980-2005). São Paulo: Ed. UNESP, 2011, p. 17-18.
11
CHOPPIN, Alain. O historiador e o livro escolar. Revista História da Educação. Pelotas, (11), abr.
2002, p. 11.
12
“O livro didático não é, no entanto, o único instrumento que faz parte da educação da juventude: a
coexistência (e utilização efetiva) no interior do universo escolar de instrumentos de ensino -aprendizagem
que estabelecem com o livro relações de concorrência ou de complementaridade influi necessariamente
em suas funções e usos. Estes outros materiais didáticos podem fazer parte do universo dos textos impres-
sos (quadros ou mapas de parede, mapas múndi, diários de férias, coleções de imagens, “livros de prê-
mio” – livros presenteados em cerimônias de final de ano aos alunos exemplares – enciclopédias escola-
res...) ou são produzidos em outros suportes (audiovisuais, softwares didáticos, CD-Rom, internet, etc.).
Eles podem, até mesmo, ser funcionalmente indissociáveis, assim como as fitas cass ete e os vídeos, nos
métodos de aprendizagem de línguas. O livro didático, em tais situações, não tem mais existência ind e-
pendente, mas torna-se um elemento constitutivo de um conjunto multimídia”. CHOPPIN, Alain. História
dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa. São Paulo, vol. 30, n. 3,
set./dez. 2004, p. 553.
13
O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) é o mais antigo dos programas voltados à distribuição
de obras didáticas aos estudantes da rede pública de ensino brasileira e iniciou -se, com outra dominação,
em 1929. Ao longo desses 80 anos, o programa foi aperfeiçoado e teve diferentes nomes e formas de
execução. Atualmente, o PNLD é voltado à educação básica brasileira, tendo como única exceção os
alunos da educação infantil.

12
dianas as quais, em se tratando de escola pública, fortalecem, para os professores, a sua
utilização, e para os pesquisadores a necessidade de discutir suas formas de apropriação.
As pesquisas de Moreira e Silva apontam a necessidade de fomentar pesquisas
sobre livros didáticos nos cursos de Pós-Graduação em História, alcançando apenas a
marca de 30% das pesquisas, que em suas análises concentram-se na região Sudeste14 .
Há que se considerar, ainda, os apelos editoriais na elaboração dos livros didá-
ticos e estes, via de regra, ao predominarem na orientação do processo escolar, interfe-
rem de forma prejudicial na aprendizagem. Uma análise avaliativa deste material torna-
se imprescindível para que esta ferramenta de apoio ao professor estimule favoravel-
mente o ensino.

Várias publicações sobre o ensino de História, em forma de revistas,


anais, artigos, teses e dissertações, foram produzidas nesse período,
gerando uma significativa literatura especializada nesse tema, preocu-
pada em redefinir as finalidades, os conteúdos e a metodologia para
essa disciplina. Como exemplo dessas publicações há: Caminhos da
história ensinada, de Fonseca (1973), que trata da substituição do en-
sino de História e Geografia por Estudos Sociais com a Lei 5.692/71;
Repensando a história, organizada por Marcos Silva a partir de uma
moção encaminhada à sessão administrativa do 6º. Encontro da Asso-
ciação Nacional dos Professores Universitários de História, Anpuh,
realizado em Assis, campus da Unesp, de 6 a 10.9.1982; O ensino de
história: revisão urgente, de Cabrini et al. (1986); O ensino de história
e a criação do fato, organizada por Pinsky(1988); História em quadro
negro: escola, ensino e aprendizagem, sob responsabilidade de Marcos
Silva (1989; 1990); e O saber histórico na sala de aula, organizada por
Bittencourt (1997), entre outros. Sem a pretensão de esgotar, registra-
mos ainda três autoras amplamente reconhecidas na literatura sobre
ensino de História a partir desse período: Dea Ribeiro Fenelon (1982),
Kátia Abud (1984) e Elza Nadai (1992/1993).15

Face ao exposto, recensear algumas das pesquisas que abordaram o livro didá-
tico de história, seja como fonte ou como objeto para evidenciar aspectos inerentes à
área, tornou-se oportuno na tentativa de perceber como as pesquisas vinham se deline-
ando no estado, afinal como afirma Marcus Vinicius de Moraes, “o poder da História
encontrada nos livros didáticos e ensinada nas escolas é grande, mesmo que imperceptí-

14
MOREIRA, Kenia Hilda e SILVA, Marilda. Um inventário: o livro didático de História em pesquisas
(1980-2005). São Paulo: Ed. UNESP, 2011, p. 187.
15
Idem, 2011, p. 21-22.

13
vel.”16 Por se tratar de pesquisa que busca compreender a abordagem regional para os
conteúdos históricos, considerou-se oportuno examinar a produção sobre o tema nos
Programas de Pós Graduação em História e Educação sediadas no Estado de Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul.
Em Mato Grosso identificou-se no Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT - duas dissertações que utilizam o
livro didático de história como fonte ou como objeto de estudo: Friozo (1995)17 e Silva
(2013)18 .
Em Silva observa-se a utilização dos livros didáticos como fonte para, entre os
anos de 1889 – 1930, analisar as várias formas que o Estado de Mato Grosso era repre-
sentado realizando metodologicamente dois movimentos: o primeiro é a análise de li-
vros didáticos de história escrita por autores que não eram da região (Estado Mato Gros-
so), os quais construíram e deixaram registrados nos livros uma imagem de “represen-
tação” da região como sendo uma terra sem lei “de gente incivilizada e violenta”. Esse
tipo depreciativo de representação está vinculado ao “imaginário coletivo das elites
litorâneas”. Quanto ao segundo movimento, são analisados livros didáticos de história
em que os autores eram do Estado de Mato Grosso. Estes autores, afrontando a constru-
ção negativa dos litorâneos, “passaram a construir representações locais que contestas-
sem aquelas vindas do litoral”. Como podemos observar, a dissertação trabalha dois
conceitos sempre presentes em cada capítulo, o “imaginário e representações”, alinha-
vados ao livro didático de história, faz emergir o poder da construção histórica pelo his-
toriador.
No Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), nenhuma dissertação sobre livro didático e suas relações com ensino
de história foram encontradas.

16
MORAES, Marcus Vinícius de. História Integrada, in: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas
nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009, p. 201-217.
17
FRIOZO, Ilda. Em busca do sujeito perdido de história de 1º grau. Dissertação (Mestrado em Educa-
ção). Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá, 1995.
18
SILVA, Aparecido Borges da. Mato Grosso nos livros didáticos de História (1889-1930): imaginários
e representações. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá,
2013.

14
Em Mato Grosso do Sul, o levantamento realizou-se no Centro de Documenta-
ção Regional (CDR), sediado na Universidade Federal da Grande Dourados19 (UFGD),
não sendo identificados trabalhos que versavam sobre o tema, bem como na Biblioteca
Central da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Com base nesse exercício de levantamento e localização, entendemos que en-
frentar a discussão de questões relacionadas ao ensino de história regional no Ensino
Fundamental, anos finais, não parece ter chamado a atenção dos pesquisadores até o
momento nessa região. A aparente ausência de inserções ligadas ao território mato-
grossense gera uma série de questionamentos, sobretudo quando examinados os refe-
rencias curriculares estaduais para o ensino de história, que trazem, ainda que de modo
breve, pontos referentes à história do Estado para serem ensinados como conteúdos
formais.
Tradicionalmente visto como parceiro do professor no ambiente escolar é im-
portante ressaltar que muitas das apropriações sobre o uso dos livros didáticos são feitas
sem conhecimento efetivo do material. Esta indicação quando promovida por institui-
ções credenciadas e investidas de legitimidade, no campo das formulações de propostas
metodológicas e políticas educacionais e autoridade intelectual de seus autores, garante
e confere, pretensamente, o argumento da qualidade garantindo ao material a condição
de ser utilizado e, indiretamente, atribuindo aos professores, caso não obtenham bons
resultados a partir de seu uso, a condição de despreparados para tal empreitada.
O processo de profissionalização docente deve contar com momentos de dis-
cussões acerca de materiais didáticos, sobretudo tratando-se de profissionais formados
para atuação no ensino de História. Jaime Cordeiro destaca pontos para reflexão nos
processos de ensino e de aprendizagem que valem a pena ser considerados, especial-
mente quando se trata da escolha de instrumentos que visam a auxiliá- los.20

19
Cf. Kênia Hilda Moreira, ao tratar o tema Livro Didático como fonte, elabora um balanço das pesqu isas
em história da educação produzidas na região Centro-Oeste do Brasil. “As produções referem-se às co-
municações apresentadas em anais de congressos acadêmicos na região, a saber: os Encontros de História
da Educação do Centro-Oeste (EHECO, I em 2011 e II em 2013) e os três últimos Encontros de Pesquisa
em Educação da Associação Nacional de Pesquisadores da Educação (Anped) Centro -Oeste (9ª em 2008;
10ª em 2010; e 11ª em 2011)”. MOREIRA, Kênia Hilda; PASSONE, Eglem de Oliveira; NEVES, Samara
Grativol. O Livro Didático como Fonte de Pesquisas em História da Educação no Centro Oeste: entre
temas, períodos e métodos. Revista História e Diversidade, vol. 4, n. 1, 2014, p. 111-125.
20
“Quando se fala no processo de ensino e aprendizagem, corre-se o risco de adotar uma descrição ideali-
zada, que tende a considerar isoladamente os atores sociais envolvidos. Assim, pensa -se muitas vezes que
basta um professor bem preparado, como um bom planejamento e bom domínio de conteúdos e dos mé-
todos, aliado a um conjunto de alunos individualmente bem motivados e dotados de condições prévias

15
A expressão classificação/caracterização livro didático é recente na historiogra-
fia da educação brasileira. Já o uso de materiais com estas características nem tanto.
Qualificados como manuais escolares, manuais didáticos ou, ainda, manuais pedagógi-
cos, localizam-se referências a materiais elaborados com características de compêndios
e com objetivo de sistematizar conhecimentos em determinadas áreas de saber, utilizan-
do-se de linguagem direcionada àqueles que se dedicavam ao ensino, ou estudos autodi-
datas, desde o final do século XVIII.

Os manuais didáticos se tornaram instrumentos para auxiliar o profes-


sor e, principalmente, para formá-lo de acordo com as novas necessi-
dades postas para a escola, pois expressavam também os valores, os
conhecimentos considerados necessários para a formação das crianças
e jovens, e, por meio de seus textos e suas imagens, a instituição esco-
lar poderia construir consensos e homogeneidade cultural.21

No tocante à disciplina de História, sendo um lugar privilegiado de ensino e


construção do passado, Jaime Francisco Cordeiro enfatiza que a História como discipli-
na se tornou meio pelo qual umas séries de medidas no sentido de reforçar uma deter-
minada concepção sobre o passado, estando desde os seus primórdios associada ao
ensino do civismo, no intuito de formar cidadãos bem comportados.22 Os feitos políti-
cos e as datas comemorativas dos acontecimentos “históricos” foram o baluarte dessa
concepção de história que direcionavam os professores em sua metodologia de ensino a
repetirem, de forma oral, uma história factual verdadeira e acabada. Ao aluno restava
decorar e regurgitar no dia da prova.
Nesta perspectiva, Maria Stephanou destaca que:

o ensino de história, mais do que outras disciplinas escolares, tem se


constituído em solo fértil para a memorização, a repetição, o monólo-
go do professor, um espaço propício para a ideia do saber pronto, aca-
bado, que resta apenas transmitir. Embora insistentemente apontada
pelos autores e reconhecida diante dessa crítica, tanto os professores

consideradas satisfatórias (tais como boa nutrição, posse dos pré-requisitos cognitivos e boa disposição),
que tudo se passará bem: o professor conseguirá ensinar e os alunos conseguirão aprender. Qualquer
insucesso com base nessa perspectiva, só poderá ser devido a alguma deficiência ou carência situada no
plano individual”. CORDEIRO, Jaime Francisco P. Didática. São Paulo: Contexto, 2007, p. 97.
21
VALDEMARIN, Vera Teresa; PINTO, Adriana Aparecida. Das formas de ensinar e conhecer o mun-
do: lições de coisas e método de ensino intuitivo na imprensa periódica educacional do século XIX. Re-
vista Educação em Questão. Natal, vol. 39, n. 25, set./dez., 2010, p. 168.
22
CORDEIRO, Jaime Francisco P. A História no centro do debate: as propostas de renovação do ensino
de História nas décadas de setenta e oitenta. Araraquara: Laboratório Editorial; Cultura Acadêmica, 2000,
p. 43.

16
quanto os estudantes acabam não tendo experiência ou não encontran-
do uma alternativa que escape à exposição oral, textos, questionários,
decoreba, maniqueísmos e grosseiras simplificações sugeridas pelos
manuais escolares que predominam no ensino desta área do conheci-
mento.23

Não bastando somente elevar a educação a um nível diferente do que ela vinha
ocupando até então, observa-se também a preocupação com os métodos de ensino, pois
não seria suficiente ensinar, sendo necessário, primeiramente, saber ensinar. A adoção
de materiais de ensino, para além de trazer maior organicidade aos processos didáticos,
torná-lo-ia mais produtivo, sistematizado proporcionando um atendimento mais rápido e
eficaz às necessidades do regime; juntamente com a preocupação dos métodos estava a
necessidade de preparar os professores para desenvolvê-los a contento do que se espera-
va.
Tomando de empréstimo a análise de Circe Bittencourt acerca dos livros didá-
ticos de História, observa-se que:

[...] o ensino de história associava-se a lições de leitura para que se


aprendesse a ler utilizando temas que incitassem a imaginação dos
meninos e meninas e fortificassem o senso moral por meio de deveres
para com a Pátria e seus governantes (...) desde o início a proposta de
ensino de história voltava-se para uma formação moral e cívica, con-
dição que se acentuou no decorrer dos séculos XIX e XX.24

A contribuição da disciplina de história para a anulação de um passado de lutas


e disputas e homogeneização da cultura escolar, tomando os fatos e acontecimentos
como unidirecionais, de cunho salvacionista, se coaduna com os interesses desta escola
que estava se organizando por ocasião dos interesses republicanos.
A discussão acerca do ensino de história passava pelo slogan da matéria deco-
rativa, face ao tempo exíguo dentro dos currículos escolares que impossibilitam o de-
senvolvimento de um trabalho mais aprofundado no currículo havendo assim uma forte
tendência a atividades mais práticas e objetivas em detrimento das reflexivas.25 Por ou-
tro lado, durante muito tempo, a história foi vista como disciplina que visava ao apren-
23
STEPHANOU, Maria, Instaurando maneiras de ser, conhecer e interpretar. Revista Brasileira de Histó-
ria. São Paulo, vol. 18, n. 36, 1998, p. 15-38.
24
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cor-
tez, 2004, p. 61.
25
Cf. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo:
Cortez, 2004.

17
dizado factual de uma dita ‘história dos vencedores’, sem grandes possibilidades de
intervenção, questionamento ou crítica, por parte dos alunos, sobretudo entre os anos de
1964 a 1985.26
Acredita-se que o uso do livro didático situa-se no imaginário que perpassa as
relações entre o sagrado e o profano. Justifica-se essa hipótese em uma análise prévia
dos discursos dos professores quando negam terminantemente o uso do livro didático,
mas, no entanto, não prescindem de sua utilização para o preparo de suas aulas. Na con-
tramão, encontramos professores que seguem linearmente a demarcação dos conteúdos
“vencendo o livro didático” ao final do período letivo, como se estivessem travando
uma batalha, cujos combatentes são alunos, professores e o próprio livro didático aliado,
ou não aos interesses das escolas.
Seja em cumprimento da sua “missão educativa”, seja por exigência da escola,
o livro didático é instrumento cuja presença é garantida nas escolas públicas brasileiras.
Estudá-lo pode significar compreender meandros dos processos educativos no que tange
ao ensino aprendizagem, sobretudo na implantação de propostas metodológicas de ensi-
no.
Nessa direção, os estudos acerca do livro didático vêm proporcionando ao am-
biente educacional uma produção crítica sobre esse material pedagógico. Entender a
importância desse suporte didático viabiliza nosso entendimento em relação às políticas
públicas voltadas para educação, desde a sua avaliação até aos investimentos realizados
pelo MEC no sentido de sua produção e veiculação.
De acordo com Antonia Calazans Fernandes,

De modo geral, o livro didático tem sido desvalorizado de imediato


por cumprir uma função especifica na vida dos indivíduos, ou seja,
por ser intrínseco ao contexto escolar, tornando-se descartável e sem
valor fora do contexto original. Todavia, para uma pessoa que valoriza
a educação, que tem sua vida profissional ligada ao magistério, o livro
didático ganha em sua memória outra coloração. O valor atribuído ao
livro e a leitura em geral estende-se também aos materiais didáticos.27

26
Cf. GERMANO, José Willington. Estado Militar e Educação no Brasil (1964 -1985). 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1994.
27
FERNANDES, Antonia T. Calazans. Livro didático dimensões materiais e simbólicos. Educação e
Pesquisa. São Paulo, vol. 30, n. 3, set./dez. 2004, p. 537.

18
Este público enxerga-o como referencial básico para o estudo; e em todo início
de ano letivo, nos últimos tempos, as editoras têm colocado no mercado uma infinidade
de obras, diferenciadas em tamanho e qualidade.28
Os livros didáticos, na abordagem teórica e metodológica inserida na história
do livro e dos saberes escolares, são considerados um depositário dos conteúdos escola-
res, suporte básico e sistematizador privilegiado dos conteúdos apresentados pelos pro-
gramas curriculares das diferentes disciplinas escolares. É por intermédio dele, dentre
outros meios, que são passados os conhecimentos e técnicas consideradas fundamentais
de uma sociedade em determinada época.
Para Décio Gatti Junior,

[...] os livros didáticos são, incontestavelmente, instrumentos privile-


giados no cenário educacional brasileiro e internacional, pois são eles
que, verdadeiramente, ‘estabelecem grande parte das condições mate-
riais para o ensino e aprendizagem nas salas de aula de muitos países
através do mundo’.29

Eles também constituem um “instrumento pedagógico”, uma vez que produ-


zem uma série de técnicas de aprendizagem – exercícios, questionários, sugestões de
trabalho, enfim, as tarefas que os alunos devem desempenhar para a apreensão ou, na
maior parte das vezes, para a retenção dos conteúdos. Dessa forma, segundo Circe Bit-
tencourt, os livros didáticos apresentam não somente os conteúdos das disciplinas, mas
também como esse conteúdo deve, na visão dos seus produtores 30 , ser ensinado31 .
E, por fim, o livro didático apresenta-se como um importante veículo portador
de um sistema de valores, de uma cultura. Percebemos nele a construção de imagens e
interpretações sobre o mundo que se procura representar.

28
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livros didáticos entre textos e imagens. In: O saber histórico
na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto. 1998, p. 71.
29
GATTI JÚNIOR, Décio. A escrita da história: livro didático e ensino no Brasil (1970-1990). Bauru:
EDUSC; Uberlândia: EDUFU, 2004, p. 27.
30
Neste sentido, Décio Gatti Júnior alerta que nas últimas décadas este objeto do cotidiano escolar rivali-
zou quando não, em certa medida, substituiu os professores, “passando a ser portadores dos conteúdos
explícitos a serem transmitidos aos alunos e, também, (...) tornando -se os organizadores das atividades
didático pedagógicas exercidas pelos docentes para viabilizar os processos de ensino e de aprendizagem”.
Idem, 2004, p. 27.
31
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livros didáticos entre textos e imagens, in: O saber histórico
na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1998, p. 71.

19
Para dar conta da compreensão do objeto livro didático de História, por exem-
plo, há uma exigência de análises ligadas, de um lado, à educação e ao ensino e, de ou-
tro, à História e ao discurso historiográfico. Estas preocupações, de acordo com os inte-
resses e perguntas do profissional da História, têm aberto caminhos para diferentes re-
cortes e perspectivas de investigação. Perguntas, recortes, escolhas, documentos são
instrumentos que auxiliam o historiador do ensino de História nas suas peregrinações
pelo mundo do saber histórico escolar.
Nas pesquisas que se têm debruçado sobre a análise do cotidiano escolar, a uti-
lização do texto didático continua sendo um elemento central, merecedor de estudos
mais aprofundados, que permitam a compreensão das questões relativas a ele.32
A amplitude de temas e problematizações que podem ser formuladas a partir
dele tem transformado este objeto polêmico e complexo, com perspectivas de análise
diversas, envolvendo diferentes áreas do saber. Neste universo múltiplo de olhares (lei-
turas) podemos encontrar educadores, historiadores, linguistas, semiólogos, entre outros
profissionais, preocupados em investigar questões ligadas à sua gênese, à sua continui-
dade e suas transformações, aos seus usos e práticas na produção e reprodução de co-
nhecimento, aos valores e ideologias, aos estereótipos e preconceitos de seus conteú-
dos.33
Há neste universo de pesquisas que abordam questões ligadas à sua fabricação
– o livro como objeto, mercadoria que sofre as influências de contingências sociais,
econômicas, técnicas, políticas e culturais como qualquer outra e que percorre os cami-
nhos da produção, distribuição e consumo. Outras que enveredam para a história dos
autores dos livros didáticos, vasculhando o cotidiano daqueles que escrevem suas pági-
nas.34

32
Cf. GASPARELLO, Arlette Medeiros. Construtores de identidade: a pedagogia da nação nos livros
didáticos da escola secundária brasileira. São Paulo: Iglu, 2004.
33
Para Circe Bittencourt, “o livro didático é um importante veículo portador de um sistema de valores, de
uma ideologia, de uma cultura. Várias pesquisas demonstram como textos e ilustrações de ob ras didáticas
transmitem estereótipos e valores dos grupos dominantes, generalizando temas, como família, criança,
etnia, de acordo com os preceitos da sociedade burguesa”. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes.
Livros didáticos entre textos e imagens, in: O saber histórico na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Contexto,
1998, p. 72.
34
Cf. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livro didático e conhecimento história: uma história do
saber escolar. Tese (Doutorado História Social). Universidade de São Paulo. São Paulo, 1993.

20
Thais Nívia de Lima e Fonseca, no final dos anos 1990, já anunciava com
imensa satisfação a força que este movimento de pesquisa ganhava no meio acadêmico
brasileiro, especialmente na oficina dos historiadores:

Tenho visto, com prazer, a emergência do livro didático de História


como fonte de pesquisa em muitos trabalhos recentes no Brasil. Nesta
perspectiva, ele extrapola sua condição primordial – a de um manual
útil ao ensino de disciplina – e alcança o caráter de documento, lado a
lado com aqueles mais tradicionais ou mais prestigiados. Não posso
deixar de relacionar este fato aos avanços da historiografia brasileira
contemporânea, que tem ampliado sobremaneira o espectro das fontes
de investigação, seu tratamento e sua interpretação. É o resultado, sem
dúvida, da incorporação de novas abordagens e novos pressupostos
teórico-metodológicos nas últimas décadas. Neste processo, o livro
didático tem sido interrogado num esforço de desconstrução de dis-
cursos e de imagens, criando-se possibilidades de discussão que per-
mitem a compreensão de sua historicidade.35

Consolidando esse pensamento, em outra obra a mesma autora pontua a impor-


tância do livro didático como instrumento de consolidação da memória36 . A sua respon-
sabilidade como fundador de um discurso autorizado, que consolida práticas e institui
representações37 torna esse material importante aliado nacional na configuração de sabe-
res.
Em suma, o livro didático é um objeto rico de pesquisa por se constituir como
espaço privilegiado de disputas políticas de constituição de identidades. Nele, há dife-
rentes personagens e modelos de interpretações em jogo. Assim como o currículo, o
livro didático é lugar, espaço e território de batalhas de interpretações.38
Desta forma sintética de abordagem, livro didático é todo livro pensado e ela-
borado para um fim específico de ensinar alguma coisa, transmitir algum conhecimento
independente do conteúdo. No entanto, Alain Choppin entende que definir livro didático

35
FONSECA, Thais Nivia de Lima e. Livro didático de História: lugar de memória e formador de ident i-
dades, in: Simpósio Nacional da Associação Nacional de História (20: 1999: Florianópolis) História:
Fronteiras. vol. 1. São Paulo: FFLCH/USP, 1999, p. 203.
36
FONSECA, Thais Nivia de Lima e. História & ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
37
CHARTIER, Roger. Formas e Sentido Cultura Escrita: entre distinção e apropriação. Campinas : Mer-
cado de Letras; Associação de Leitura do Brasil (ALB), 2003.
38
Cf. RIBEIRO, Renilson Rosa. Livros didáticos de histó ria: trajetórias em movimentos, in: JESUS,
Nauk Maria de; CEREZER, Osvaldo Mariotto e RIBEIRO, Renilson Rosa (org.). Ensino de História:
trajetórias em movimento. Cáceres: Ed UNEMAT, 2007, p. 42-43.

21
constitui uma dificuldade39 . Entretanto, o interesse de pesquisadores sobre o estudo do
livro didático é incontestável e riquíssimo de abordagem. Desse modo o autor destaca
que:

Após ter sido negligenciado, tanto pelos historiadores quanto pelos bi-
bliográficos, os livros didáticos vêm suscitando um vivo interesse en-
tre os pesquisadores de uns trinta anos para cá. Desde então, a história
dos livros e das edições didáticas passou a construir um domínio de
pesquisa em pleno desenvolvimento, em inúmeros países.40

Observado sua importância, como fonte e objeto de pesquisa, o livro didático


tem sido revisado e remodelado paralelamente ao processo formativo da escolarização
no país. Nessa direção, os estudos acerca do livro didático vêm proporcionando ao am-
biente educacional um conjunto de leituras críticas sobre esse material pedagógico.
Essas considerações acerca desse objeto de estudo no cotidiano escolar apro-
ximam-se das afirmações de Kazumi Munakata, quando este destaca que,

[...] longe de pretenderem esgotar uma possível história do livro didá-


tico, servem apenas para indicar que este faz parte da vida escolar
desde que a escola é escola: o ensino, o livro e o conhecimento são in-
separáveis” na forma escolar, e o professor carregando livro não é
imagem estereotipada da sua deficiência a ser compensada com mule-
ta, mas a afirmação da sua distinção profissional.41

O livro didático é um dos parceiros dos professores do qual se apropriam e


usam em suas aulas. No entanto, alguns livros didáticos priorizam a atividade leitora
outros focam nos exercícios ao fim do texto didático. Desse modo a metodologia do

39
“Se, até onde sabemos, nenhuma tentativa como esta chegou a ser realizada, é porque ela se defronta
com uma série de dificuldade que certamente limita seu alcance, sem diminuir, entretanto, seu interesse.
A primeira dificuldade relaciona-se à própria definição do objeto, o que se traduz muito bem na divers i-
dade do vocabulário e na instabilidade dos usos lexicais. Na maioria das línguas, o “livro didático” é
designado de inúmeras maneiras, e nem sempre é possível explicitar as características específicas que
podem estar relacionadas a cada uma das denominações, tanto mais que as palavras quase sempre sobre-
vivem àquilo que elas designaram por um determinado tempo. Inversamente, a utilização de uma mesma
palavra não se refere sempre a um mesmo objeto, e a perspectiva diacrônica (que se desenvolve concomi-
tantemente a evolução do léxico) aumenta ainda mais essas ambigüidades. Alguns pesquisadores se e s-
forçam em esclarecer essas questões e estabelecer tipologias, mas contata-se que a maior parte deles se
omite em definir mesmo que sucintamente seu objeto de estudo”. CHOPPIN, Alain. História dos livros e
das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa. São Paulo, vol. 30, n. 3, set./dez.
2004, p. 549.
40
Idem, 2004, p. 549.
41
MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. Tese (Doutorado em História e
Filosofia da educação). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1997.

22
professor fará o diferencial quanto ao ensino, pois a práxis do professor será exponenci-
al de acordo com sua formação acadêmica e seus conhecimentos e apropriações dos
conteúdos de história. Resultante desse processo de apropriação do livro didático, for-
mação do professor e vontade do aluno (estimulo) é que teremos o desabrochar da cria-
tividade e da criticidade dos mesmos perante os conteúdos dos livros didáticos.
Em síntese, não basta, pois, que tenhamos professores ‘ideais’, alunos ‘ideais’
em uma organização escolar que pretensamente, na sua essência, preocupa-se com o
ensino reflexivo e voltado para questões de análise do contexto social, e preservação da
memória cultural e histórica, e contraditoriamente lida com problemas que são reais, e
extrapolam o campo do ensino e aprendizagem dos conhecimentos clássicos. Seja em
cumprimento da sua “missão educativa”, seja por exigência da escola, o livro didático é
instrumento cuja presença é garantida nas escolas públicas brasileiras. Estudá-lo pode
significar compreender meandros dos processos educativos no que tange ao ensino
aprendizagem, sobretudo na implantação de propostas metodológicas.
No que diz respeito aos processos de elaboração, editoração e circulação42 o li-
vro didático é atravessado por propostas teórico-metodológicas e pedagógicas que
transcendem o âmbito escolar, como por exemplo, a esfera comercial. Ampara-se
igualmente nas Diretrizes Curriculares Nacionais e Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), nacionalizando, em certa medida, o conhecimento a ser ensinado, não resguar-
dando suas especificidades regionais, então observáveis nos Referenciais Curriculares
Estaduais, no caso específico do Estado de Mato Grosso do Sul, como evidencia a dis-
cussão que segue.

42
Em entrevista dada a Daniel Medeiros em 2005, a Editora presta as seguintes informações q uanto a
elaboração do material didático: “[..] inicia-se com um processo seletivo de escolha do autor, caracteriza-
do por uma prova conceitual e análise de uma unidade de trabalho. Escolhido o autor, ele passa a trab a-
lhar subordinado a um supervisor direto, que contribui na seleção e organização dos conteúdos e na orien-
tação metodológica do material. Face o exposto, o autor perde parte de sua autonomia. Quanto a editora-
ção: “O original do material submete-se a outras intervenções editoriais: Organização do formato- que é
padrão; Iconografia, onde são selecionadas imagens com base na Identidade Visual e nos direitos aut o-
rais- uma série de imagens e textos são vetados pelos responsáveis por esta área, neste momento; Cart o-
grafia – a empresa dispõe de setor próprio de cartografia que produz mapas padrão, Programação visual e
adequação de linguagem”. Desse modo, o material dos originais perde o perfil (essência) do pensamento
histórico do autor.Segundo Medeiros: “Na entrevista com a Editora, a determinação principal do livro
didático é o cenário de mercado. Como o material é líder de mercado, há uma exigência maior de suste n-
tabilidade da posição e, portanto, um espaço menor para quaisquer inovações”. MEDEIROS, Daniel Ho r-
têncio de. A Formação da Consciência Histórica Como Objetivo do ensino de História no Ensino Médio:
O Lugar do Material Didático. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Paraná. Curitiba,
2005, p. 37-38. Ancorado na comercialização dos livros didáticos, inovar é sinônimo de risco fina nceiro.
Desse modo permanecem os ranços nos livros didáticos de história.

23
Nessa direção, essa pesquisa busca apresentar alguns elementos que fazem ou
participam e implicam desde a elaboração e edição do livro didático até a sua apreciação
pelos alunos, professores e pesquisadores. As leis de diretrizes de Base Nacionais con-
juntamente com os PCN fazem parte desse contexto por legislar e nortear as ações dos
autores de livros didáticos e das normativas estabelecidas para formatação dos conteú-
dos e confecção dos livros didáticos. Não menos importante é o Referencial Curricu-
lar/MS, pois observa as prerrogativas da instância federal, mas preserva as especificida-
des regionais.

[1.2] Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica e Parâmetros Curri-


culares Nacionais: a disciplina de História em foco

A educação escolar e o ensino no Brasil são organizados e sistematizados, atu-


almente, com base na Constituição Federal de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação (Lei n. 9.394/96), Diretrizes Curriculares Nacionais e dos PCN, de 1997-1998, os
quais, em esferas estaduais e municipais, atuam como elementos norteadores dos Refe-
renciais Curriculares, elaborados com a finalidade de estabelecer programas de ensino e
eixos temáticos para as disciplinas escolares.
Dentro dessa lógica de organização, buscaremos visualizar pontos significati-
vos de convergências quanto à estruturação do Referencial Curricular/MS no que tange
a regulamentação e os subsídios teóricos oferecidos para o ensino da história de Mato
Grosso do Sul, deste momento em diante nominado como História regional.
A Constituição Federativa do Brasil de 1988 proporcionou abertura aos movi-
mentos sociais que há décadas defendiam reformulações na legislação educacional e de
suas diretrizes e referenciais curriculares. No entanto, a elaboração da Lei de Diretrizes
e Bases em 199643 , das Diretrizes Curriculares e dos PCN em 1997 foi resultado de uma
construção conjunta de especialistas e políticos ligados ao pensamento neoliberal.

43
O projeto da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 foi um projeto apresentado pelo Senador Darcy Ribeiro
que após reformulações voltou ao senado como Substitutivo Darcy Ribeiro em fevereiro de 1995 e em 20
de dezembro de 1996 foi sancionado pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Segundo
Dermeval Saviani, “Esse resultado é explicável uma vez que o MEC foi, por assim dizer, co -autor do
texto de Darcy Ribeiro e se empenhou diretamente na sua aprovação. E, como a iniciativa privada, ficou
inteiramente satisfeito com o desfecho. Tanto que recomendou ao Presidente da República a sanção sem
vetos. E assim foi feito”. SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas.
8 ed. rev. Campinas: Autores Associados, 2003, p. 162. Conjunturas políticas que se alinhavam aos ajus-

24
Porém, algumas conquistas, fruto dos movimentos sociais, geraram a inserção
das minorias sociais ao acesso à educação em todos os níveis e principalmente a inclu-
são de novas concepções históricas e temas que passaram obrigatoriamente fazer parte
dos referenciais curriculares nacionais.
Os sistemas de ensino se inter-relacionam a partir das normativas nacionais:
quanto à Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro
de 1988. O art. 211 estabelece que: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
nicípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. (EC n. 14/96 e
EC nº 53/2006)” (BRASIL, Constituição Federal, 1988). E quanto à organização e fi-
nanciamento, o art. 211 rege em seus parágrafos:

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territó-


rios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá,
em matéria educacional, função redistribuitiva e supletiva, de forma a
garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo
de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
§ 2º Os municípios atuarão prioritariamente no Ensino Fundamental e
na educação infantil.
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no Ensi-
no Fundamental e Médio.
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Mu-
nicípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a uni-
versalização do ensino.
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino
regular.44

Face ao exposto, evidenciam-se as responsabilidades que cada instância deve


assumir. Porém, o que é comum a todos e que deve ser observado em todos os níveis é a
colaboração para a universalização do ensino. Devemos lembrar que as estruturas de
ensino são formas de estabelecer padrões de ensino de uma forma nacional.
Elemento significativo para esta pesquisa, pois enuncia a possibilidade da in-
serção dos estudos regionais, é o Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o En-
sino Fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos va-

tes da sociedade brasileira às demandas do grande cap ital. Cf. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA,
Maria. Educação Básica no Brasil na década de 1990: subordinação ativa e consentida à lógica do mer-
cado. Campinas: CEDES, 2003, p. 93-123.
44
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5 de
outubro de 1988, com as alterações adotas pelas Emendas Constitucionais n. 1/92 a 56/2007 e pelas
Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a 6/94. – Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições
Técnicas, 2008, p. 136-139.

25
lores culturais e artísticos, nacionais e regionais. 45 Esse artigo abriu um leque de possi-
bilidades para o estudo e as pesquisas em história regional mesmo assegurando uma
formação básica comum nacional.
De acordo com Renilson Rosa Ribeiro,

Nos anos 90 esses debates sobre o ensino de História no Brasil torna-


ram-se intensos e acirrados nos momentos de elaboração e implanta-
ção de novos currículos, como, por exemplo, a Lei de Diretrizes e Ba-
se da Educação Nacional e os Parâmetros Curriculares Nacionais para
o Ensino Fundamental e Médio, as Diretrizes Curriculares para o en-
sino superior. Percebe-se, nesses debates, o confronto entre diferentes
concepções de História, currículo, ensino, livro didático, professor e
aluno. No caso especificamente dos livros didáticos, as discussões se
aprofundaram mais ainda quando estes passaram a ser avaliados por
comissões do Ministério da Educação em 1994. Ao lado das inova-
ções historiográficas e pedagógicas do período, não podemos perder
de vista o papel desempenhado pelos movimentos sociais no processo
de redefinição do presente e do passado do Brasil pós-ditadura militar.
A agenda de lutas por parte destes movimentos passou a fazer parte
das críticas e revisões feitas ao currículo e principalmente aos livros
didáticos de História. 46

Nesse sentido, podemos perceber que ao longo da década de 1990 e em con-


formidade a Constituição Federal, se processaram mudanças nas legislações educacio-
nais resultantes do embate entre os movimentos sociais e entidades de cunho acadêmico
científico e do ou o poder político representante das políticas neoliberais 47 . É observável
o processo das transformações contidas na Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, a qual
ao estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional, em seu “Art. 26. Os currícu-
los do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, a ser com-
plementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diver-

45
Cf. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5
de outubro de 1988, com as alterações adotas pelas Emendas Constitucionais n. 1/92 a 56/2007 e pelas
Emendas Constitucionais de Revisão n. 1 a 6/94. – Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições
Técnicas, 2008, p. 137.
46
RIBEIRO, Renilson Rosa. Livros didáticos de história: trajetórias em movimentos, in: JESUS, Nauk
Maria de; CEREZER, Osvaldo Mariotto e RIBEIRO, Renilson Rosa (org.). Ensino de História: trajetórias
em movimento. Cáceres: Ed UNEMAT, 2007, p. 45.
47
Cf. SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 8 ed. rev. Campi-
nas: Autores Associados, 2003, p. 33. Cf. LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOS-
CHI, Mirza Seabra. Educação escolar: estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003, p. 117.

26
sificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e da clientela”.48
A complementação a qual menciona a Lei, de acordo, ainda, com o Art. 26,
quanto ao ensino de História deve conter: §4º. O ensino da História do Brasil levará em
conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasi-
leiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia 49 .
Importante e de responsabilidade na organização dos componentes curriculares
nacionais, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica estabelecem o
currículo da base nacional, obrigatória em observância a LDB vigente e em conformi-
dade ao artigo 26. Os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Fundamental são
organizados segundo suas áreas de conhecimento, conforme seguem:

I – Linguagens:
a. Língua Portuguesa;
b. Língua materna, para populações indígenas;
c. Língua Estrangeira moderna;
d. Arte;
e. Educação Física.
II – Matemática
III – Ciências da Natureza
IV – Ciências Humanas:
a. História;
b. Geografia.
V – Ensino Religioso.50

De acordo com os componentes curriculares obrigatórios e efeito da lei, as ins-


tituições educacionais se organizaram para ministrar conteúdos que são estabelecidas a
partir da obrigatoriedade legal e a realidade de sua clientela, perfil de seu corpo docente
e de conformidade com o projeto político pedagógico da escola.
Quanto à obrigatoriedade de alguns conteúdos para o ensino de História, cabe
ressaltar a mudança ocorrida na LDB no artigo 26 A, alterado pela Lei n. 11.645/2008,
que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”,

48
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
n. 9.394/96, de 20 de Dezembro de 1996). Brasília: MEC, 1996, p. 114.
49
Idem, 1996, p. 114.
50
Idem, 1996, p. 114.

27
a História e a Cultura Afro-Brasileira, bem como a dos povos indíge-
nas, presentes obrigatoriamente nos conteúdos desenvolvidos no âm-
bito de todo ocurrículo escolar, em especial na Arte, Literatura e His-
tória do Brasil, assim como a História da África, contribuirão para as-
segurar o conhecimento e o reconhecimento desses povos para a
constituição da nação. Sua inclusão possibilita ampliar o leque de re-
ferencias culturais de toda a população escolar e contribui para a mu-
dança das suas concepções de mundo, transformando os conhecimen-
tos comuns veiculados pelo currículo e contribuindo para a construção
de identidades mais plurais e solidárias.51

As reformulações dos temas e conteúdos que se tornaram obrigatórios são ele-


mentos significativos para história do Brasil, já que salienta as especificidades de algu-
mas regiões que estavam sendo negadas ou silenciadas da participação na construção da
cultura brasileira, que assim ao emergir, deram um novo impulso na construção da his-
tória. Esses traços históricos não negam a história de uma cultura ou sociedade, mas
fortalece a multiplicidades das concepções e de abordagens historiográficas que podem
ser trabalhadas. Cabe aos autores de livros didáticos estarem atentos às historiografias
regionais para fazerem reformulações em suas obras e contemplar as regiões sem perde-
rem o viés nacional.
No que concerne aos conteúdos propriamente ditos, as abordagens contempla-
das no PCN de História (3º e 4º ciclos) do Ensino Fundamental, indicam que,

Nas últimas décadas, por diferentes razões, nota-se uma crescente pre-
ocupação dos professores do Ensino Fundamental em acompanhar e
participar do debate historiográfico, criando aproximações entre co-
nhecimento histórico e o saber histórico escolar. Reconhece-se que o
conhecimento científico tem seus objetivos sociais e é reelaborado, de
diversas maneiras, para o conjunto da sociedade. Na escola, ele adqui-
re, ainda, uma relevância específica quando é recriado para fins didá-
ticos.52

Essa preocupação é crescente pela importância que vem sendo dada ao conhe-
cimento histórico e à pesquisa sobre os materiais didáticos, haja vista sua presença em
grande parte dos níveis de ensino. O conhecimento histórico dá a visibilidade às socie-
dades no tempo, por meio do qual podemos perceber as mudanças e as permanências, o
que facilita a compreensão do presente e interação entre as sociedades num mundo em

51
Idem, 1996, p. 114.
52
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História (5a a 8a
séries). Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 30.

28
que as distâncias entre os povos, com os adventos da tecnologia moderna, têm diminuí-
do.

Nesse contexto, os estudos históricos desempenham um papel impor-


tante, na medida em que contemplam pesquisas e reflexões das repre-
sentações construídas socialmente e das relações estabelecidas entre
os indivíduos, os grupos, os povos e o mundo social, em uma época.
Nesse sentido, o ensino de História pode fazer escolhas pedagógicas
capazes de possibilitar ao aluno refletir sobre seus valores e suas prá-
ticas cotidianas e relacioná-los com problemáticas históricas inerentes
ao seu grupo de convívio, à sua localidade, à sua região e à sociedade
nacional e mundial.53

Esse fazer pedagógico, em contrapartida, deve ser acompanhado por materiais


didáticos que contemplem estudos do local ou regional para que se possa fazer o exercí-
cio racional sobre suas práticas e valores do cotidiano, relacionando-os a outros povos
de culturas diferentes e que estão no âmbito nacional e global. Cabe ressaltar a impor-
tância do livro didático de História, pois em muitas regiões esse é o único livro “físico”
que proporciona o conhecimento histórico do regional, quando existente.
De acordo com os PCN de História (3º e 4º ciclos), os conteúdos sugeridos têm
objetivos norteadores e não um padrão sumariamente a se seguir. Desse modo, fica a
critério do professor atender as necessidades de conhecimento dos alunos a partir de
diagnóstico por ele feito. Quanto às sugestões do PCN de história para o Terceiro Ciclo,
pautam-se no “Eixo Temático: História Das Relações Sociais, Da Cultura e do Traba-
lho” que se subdividem em dois subtemas: o primeiro trata das “Relações entre a soci-
edade, a cultura e a natureza, em diferentes momentos da História brasileira”; o se-
gundo trata das “Relações de trabalho em diferentes momentos da História brasilei-
ra”54 .
Trabalhar os subtemas sugeridos acima é percorrer por um caminho inesgotá-
vel de conteúdos e de possibilidades de abordagens. Mas segundo os PCN de História
(3º e 4º ciclos),

A ideia é que se problematize a realidade atual e se identifique um ou


mais problemas para estudo em dimensões históricas em espaços pró-

53
Idem, 1998, p. 34.
54
Os conteúdos sugeridos pelo PCN podem ser conferidos em: BRASIL. Secretaria de Educação Fund a-
mental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História (5a a 8a séries). Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 57-62.

29
ximos e mais distantes. A partir daí, devem ser selecionados conteú-
dos da História brasileira, da História da América, da Europa, da Áfri-
ca e do Oriente e articulados em uma organização que permita ao alu-
no questionar, aprofundar, confrontar e refletir sobre as amplitudes
históricas da realidade atual, como são construídos os processos dinâ-
micos e contraditórios das relações entre as culturas e os povos. 55

Em relação ao ensino de história, importa ressaltar que os alunos trazem uma


bagagem de informações significativas e que, se trabalhadas, podem somar-se ao co-
nhecimento escolar. Neste aspecto a disciplina de história pode promover diálogos pro-
dutivos, no qual aluno e professor serão beneficiados. Desse modo, os PCN de História
(3º e 4º ciclos) propõem o eixo temático “História das representações e das relações de
poder” que se divide em dois subtemas: “Nações, povos, lutas, guerras e revoluções” e
“Cidadania e cultura no mundo contemporâneo”.56
Os subtemas acima citados se desdobram em conteúdos apresentados como su-
gestão de possibilidades a serem trabalhados, mas nenhum deles aborda diretamente a
História Regional. Além dos eixos temáticos, subtemas e conteúdos constam no PCN de
história sugestões quanto ao trabalho com os documentos em sala de aula, com os mate-
riais didáticos, visita a exposições, museus e sítios arqueológicos. No entanto, atribui a
responsabilidade ao professor pelas escolhas dos documentos e dos materiais didáticos.
Esse documento norteador aponta possibilidades de conteúdos, metodologias e
elementos conceituais da História, porém deixa a critério do professor a escolha. Entre-
tanto esbarram em alguns obstáculos que transcendem a sua formação e possibilidades
de escolhas, como é o caso da inexistência de material didático regional ou até a pouca
acessibilidade à produção acadêmica (dissertações e teses) que por ventura estão locali-
zadas em bibliotecas específicas, dificultando os serviços de fotocópias e microfilma-
gem. Esses problemas podem ser vistos também em arquivos públicos, local de concen-
tração de documentos e de livros que são fontes imprescindíveis para a pesquisa em
História.
Nesta perspectiva, objetivando mapear nas coleções de livros didáticos os con-
teúdos que possibilitem o ensino de história regional, como se pretende demonstrar nos
próximos capítulos, buscou-se verificar na legislação pertinente à educação e nos docu-
mentos orientadores dos conteúdos escolares e curriculares, a observância da legalidade

55
Idem, 1998, p. 57
56
Idem, 1998, p. 69 e 72.

30
e da exigência em inserir propostas de o ensino de história regional. Constatada a exis-
tência da prerrogativa legal que reitera a necessidade da inserção de conteúdos relativos
ao ensino de história regional nos conteúdos escolares, optou-se, na sequência, em exa-
minar a estrutura dos conteúdos dispostos no Referencial Curricular do Estado de Mato
Grosso do Sul, de modo a entender e dar visibilidade aos conteúdos que se remetem a
História regional.

[1.3] O ensino de História e seus conteúdos: um estudo acerca dos documentos ori-
entadores das propostas curriculares regionais

Documento orientador do ensino das disciplinas da matriz curricular sul mato-


grossense, o Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino de
Mato Grosso do Sul começou a ser elaborado no Estado a partir do ano de 1992. Até o
período a organização da estrutura curricular era balizada por Diretrizes Gerais para o
ensino (1989) e Diretrizes Curriculares (1992). No ano de 2007 a Secretaria Estadual de
Educação de Mato Grosso do Sul (SED-MS) enviou uma proposta preliminarmente de
Referencial Curricular aos professores da Rede Pública Estadual. Todos os professores
da Rede Pública Estadual foram convocados para analisarem a proposta preliminar da
SED-MS.
Segundo a sugestão de organização, os professores que ministrassem a mesma
disciplina teriam que fazer o exame do documento, segundo sua área de formação e
atuação. Foram encaminhadas para os professores fichas para as possíveis sugestões de
alteração, que chegaram a grande número, diga-se de passagem. O tempo dado aos pro-
fessores para examinar a proposta preliminar de referencial curricular do Estado foi de
um dia. Terminado os trabalhos de reelaboração e análises, as sugestões foram reenvia-
das a SED-MS.
O resultado dessa participação especial dos professores da Rede Estadual de
Ensino veio na versão de caderno espiral capa dura, a que foi entregue aos professores
em 2008, ano em que entrava em vigor a nova estrutura de conteúdos, condizente ao
novo Referencial Curricular do Estado de Mato Grosso do Sul.
A discussão que segue apresenta a sistematização do referencial curricular de
2008, norteador dos conteúdos até o ano 2011 e o Referencial de 2012, norteador dos

31
conteúdos atualmente. Justificando-se essa abordagem em virtude das fontes utilizadas
para o trabalho perfazerem as coleções de livros didáticos adotadas em 2011. Identifi-
camos um descompasso entre o referencial curricular e a escolha do livro didático de
História, para o ensino de história anos finais do Ensino Fundamental.

[1.3.1] Primeiros passos rumo à normatização dos conteúdos escolares: Referencial


Curricular do Estado de Mato Grosso do Sul - edição 2008

O processo de elaboração de documentos desta natureza demanda estudo à par-


te àquele que se pretende evidenciar neste texto. No entanto, importa ressaltar aspectos
gerais de encaminhamento e discussão no sentido de contextualizar a produção e o mo-
mento em que se inserem. Após a aprovação do Ensino Fundamental de nove anos, os
conteúdos escolares demandaram novo processo de distribuição e reordenamento, tendo
em vista as novas habilidades que se pretendiam enfatizar na ampliação do tempo de
escolaridade do Ensino Fundamental.
O Referencial Curricular de 2008 foi distribuído amplamente aos professores
em atividade em Mato Grosso do Sul, encadernado em formato de caderno espiral, con-
tendo as seguintes informações na capa: Referencial Curricular da Educação Básica da
Rede Estadual de Ensino/MS, na parte superior da capa. Na parte inferior ou rodapé da
capa está a bandeira do Estado com os dizeres: Governo de Mato Grosso do Sul, com o
slogan de campanha, ‘rumo ao desenvolvimento’. Em seguida a logomarca da SED-MS
com a frase: Educação para o Sucesso. Essa versão sofreu reformulações em 2012, con-
forme demonstrado no decorrer da discussão deste capítulo, e atualmente encontra-se
em estudos para novas alterações. Característica marcante neste documento consiste no
registro da participação dos professores para a sua elaboração “Participação Especial”.57
Os textos de abertura do documento são de autoria dos membros da equipe pe-
dagógica e administrativa da Secretaria de Estado, cujos nomes figuram nas primeiras
páginas: Equipe de Coordenação, Participação Especial e a Equipe de Colaboradores,
seguida da Apresentação, aos Educadores, Índice e Conversando com os Educadores.
O item Conversando com os Educadores subdivide-se em: Alfabetização e letramento;
Brincar, Estudar e Aprender; Rotina Escolar; As Diferentes Linguagens; As tecnologias;
57
MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensi-
no/MS – Ensino Fundamental. Campo Grande: SED-MS, 2008, p. 3.

32
Diversidade; Interdisciplinaridade; Transversalidade; Competências e Habilidades e, por
fim, Componentes Curriculares. Antecede a cada um desses itens um texto que elenca
comentários com propostas pedagógicas, observando a legislação e normativas de ensi-
no pertinentes (Diretrizes Curriculares Nacionais e os PCN).
O documento se propõe a estabelecer orientações acerca dos eixos temáticos a
serem ensinados no Ensino Fundamental. No entanto, é marcante a presença da proposta
pedagógica nos Componentes Curriculares quando esse documento aborda as discipli-
nas separadamente:

[...]orientações pedagógicas quanto ao desenvolvimento didático, que


se prestam à necessidade de trabalhar com o pensamento lógico, as re-
lações simbólicas, as representações, as expressões, a interpretação e a
construção de sentidos que veiculam em todas as áreas do conheci-
mento, e não apenas na construção de conteúdos.58

Essa forma de apresentar a estrutura dos componentes incorre numa contradi-


ção metodológica insuperável instituída pela LDB e pelos PCNs. Esse esforço é uma
orientação sugestiva que merece um olhar mais detido que, por ora não se faz possível
abranger nesse contexto.
Outras sugestões elencadas pelos Componentes Curriculares especificamente à
disciplina História, importantes para compreender as possibilidades que envolvem o
trabalho com o ensino de história e suas especificidades, como interessa a este trabalho
a perspectiva da história regional, orientam:

No processo do ensino e da aprendizagem de História é preciso que o


professor proporcione ao aluno o desenvolvimento de competências
de análise, interpretação e compreensão da realidade em que está in-
serido. [...] É importante reforçar que o ensino dos fatos relacionados
a uma data (temporalidade cronológica), o professor de História, en-
quanto mediador entre o aluno e a produção de conhecimento, enfo-
que noções que devem envolver o entendimento dos diferentes níveis
e ritmos de movimentos das sociedades. [...] O conteúdo histórico de-
ve ser enfocado do ponto de vista de que os seres humanos podem até
ser desiguais quanto à sua condição social, racial, étnica, cultural, mas
do ponto de das capacidades mentais, a lógica do desigual não proce-
de. [...] Dentre as possibilidades do trabalho pedagógico nas aulas de
História pode-se utilizar diferentes estratégias de ensino como: semi-

58
Idem, 2008, p. 26.

33
nários, debates, confecção de painéis, cruzadinhas, jornal histórico,
álbum ilustrado, quebra-cabeças [...].59

Na perspectiva que sustenta esse trabalho de dissertação, a História regional es-


taria amplamente contemplada na elaboração conceitual do Referencial, pois ao afirmar
que o aluno deve ter condições de realizar “análise, interpretação e compreensão da
realidade em que está inserido” o Referencial apresenta-se em consonância com a ori-
entação pedagógica, a qual se diz filiados, a saber, de influência sociointeracionista ba-
seada nas proposições teóricas de Lev Vygotsky e do materialismo-histórico de Karl
Marx.
Essas orientações são apresentadas de forma sugestiva, cabendo ao professor
exercer sua autonomia em sala de aula como o próprio Referencial Curricular do Ensino
Fundamental resguarda quando:

Nesse sentido, resultou num Referencial, linha mestra da rede, o qual


dará parâmetros ao trabalho pedagógico. Cabe à escola complementá-
lo de acordo com suas especificidades, com autonomia metodológica,
apropriando os conteúdos como meio para ampliar conhecimentos,
habilidades, competências e ainda, ao desenvolvimento de um proces-
so contextualizado com a realidade local. Para tanto, tais aspectos de-
vem ser garantidos no Projeto Político Pedagógico da escola.60

Ainda sobre a problemática da Historia regional, a ser tratada nos capítulos


posteriores, encontramos mais um indicativo da sua necessidade. No entanto, a respon-
sabilidade do seu ensino fica a cargo da escola, fazendo-se valer da “... autonomia me-
todológica, apropriando os conteúdos como meio para ampliar conhecimentos, habili-
dades, competências e ainda, ao desenvolvimento de um processo contextualizado com
a realidade local”.61
Quanto à organização dos componentes curriculares, o Referencial Curricular
do Ensino Fundamental do Estado de Mato Grosso do Sul está em conformidade com as
Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica e de acordo aos PCN’s, quanto
aos eixos temáticos, subtemas e conteúdos propostos a cada área.

59
MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensi-
no/MS – Ensino Fundamental. Campo Grande: SED-MS, 2008, p. 28.
60
Idem, 2008, p. 07.
61
Idem, 2008, P. 07.

34
No Referencial Curricular/MS, constam os eixos temáticos, subtemas e conte-
údos para serem ministrados durante o ano letivo e a sua organização está estruturada da
seguinte forma: a disciplina, sua estrutura de conteúdos - por bimestre -, as competên-
cias e habilidades que os alunos devem atingir e, por fim, as Referências Bibliográficas
para fundamentação teórica de cada disciplina. Estas se encontram ao final de cada dis-
ciplina, o que dá a entender que há uma concepção teórica que alicerça todo o referenci-
al, sem atender as especificidades das disciplinas nas suas particularidades.
Cabe registrar a importância do Referencial Curricular do Ensino Fundamental
do Estado de Mato Grosso do Sul, de 2008, por ser o primeiro de uma série, nesse for-
mato e características, e por se adequar as novas Leis objetivando atingir uma educação
de qualidade. Um dos elementos que serve de exemplo, quanto à busca de uma educa-
ção de qualidade por parte do estado, é a adesão ao Ensino Fundamental de nove (9)
anos já no ano de 2007, - mesmo que o prazo para implantação terminasse em 2010.
O Estado de Mato Grosso do Sul, de acordo com a “Lei n. 11.114 de 16 de
maio de 2005”62 , e respaldado na “Lei n. 11.274, de 06 de fevereiro de 200663 , e segun-
do a “medida sancionada pelo Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso Do Sul
(CEE/MS), por meio da Deliberação CEE/MS n. 8144, de 09 de outubro de 2006”, im-
planta o Ensino Fundamental de nove anos, a partir de 2007, na rede estadual de ensino,
com obrigatoriedade de matrícula pelos responsáveis das crianças de seis anos comple-
to, ou que completem seis anos até 28 de fevereiro 2007, no 1º ano do Ensino Funda-
mental. Essa ação da Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul, objetiva
a se inserir nas metas da Educação Fundamental do Plano Nacional de Educação (PNE),
Lei n. 10.172, 09 de janeiro de 2001, que estabelece “o Ensino Fundamental para nove
anos de duração [...] prazo de implantação, pelos sistemas, até 2010”.
Desse modo, o Referencial Curricular do Estado de Mato Grosso do Sul de
2008 encontrava-se alinhado às determinações em âmbito nacional, haja vista, a funda-
mentação em leis e diretrizes nacionais que regulamentam e fundamentam o Ensino
Fundamental. Portanto, tornam-se significativo para o pesquisador que busca conhecer
elementos do ensino referentes à especificidade regional seus processos e rupturas ou

62
Lei que estabelece a obrigação dos pais ou responsáveis à matrícula das crianças a partir dos seis anos
de idade no Ensino Fundamental de nove anos.
63
Lei que altera a redação dos arts. 29, 30, 32, e 87 da Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que est a-
belece as diretrizes e bases da educação nacional, e que regulamenta o ensino fundamental de nove anos.

35
continuidades que de certa forma podem ser visualizados na estrutura dos conteúdos
organizados. Utilizar essa documentação para identificar as matrizes sobre as quais,
ainda que de modo abrangente, se assentam as bases do ensino, mais especificamente
nos conteúdos da disciplina de História. Torna-se mais significativo ainda quando anali-
sado pelos pesquisadores sob a ótica das multiplicidades de conteúdos e de abordagens
que o construíram para ser um parâmetro norteador do fazer pedagógico dos docentes.
Como a presente pesquisa tem delimitada sua faixa de abrangência situada na
disciplina de História, ministrada nos anos finais do Ensino Fundamental, para uma me-
lhor visibilidade da análise desses conteúdos, o quadro que segue objetiva a disposição
dos conteúdos de História regional que no Referencial Curricular do Ensino Fundamen-
tal/MS, de 2008, devem ser trabalhados serialmente por anos, bimestres e conteúdos da
disciplina de História.

Quadro 1: Sistematização dos conteúdos de História do MT/MS para o Ensino Fundame n-


tal em 2008 64
ANOS BIMESTRES CONTEÚDOS BIMESTRAIS
6º 1º O mundo primitivo – evolução histórica
Ano Bimestre  Pré-história Geral, do Brasil e do Mato Grosso do Sul: grupos s o-
ciais, realizações e conquistas.

7º 4º O encontro de três mundos


Ano Bimestre  A presença dos espanhóis na região do atual Mato Grosso do Sul
no período colonial (relevâncias das Missões do Itatim no proces-
so de ocupação e povoamento do Mato Grosso).
 História dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul – formação
do povo, cultura, economia, sociedade e organização política.
3º O Brasil no contexto do império
8º Bimestre  Conflito com o Paraguai (causas e desdobramentos para a Améri-
Ano ca do Sul, para o Brasil e para o Mato Grosso do Sul).
4º O Mato Grosso do Sul no contexto imperialista
Bimestre  Mato Grosso do Sul – economia, o ciclo da erva mate – (Compa-
nhia Mate Laranjeira), importância política, econômica social e
cultural no contexto imperialista brasileiro.
9º 3º O Brasil república no contexto capitalista consolidado
Ano Bimestre  Movimento Divisionista de Mato Grosso (relações, composição
de poder e conflitos sociais).

Fonte: M ATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/M S –
Ensino Fundamental. Secretaria de Estado de M ato Grosso do Sul, 2008, p. 150-4.
Compilado por: DEBONA, Jackson James. M arço de 2013.

64
Neste quadro apresentamos os conteúdos que fazem menção à história regional de Mato Gro sso do Sul
e que foram compilados do referencial curricular estadual para fazer parte da análise documental desse
capítulo. Quadro completo dos conteúdos do Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul de 2008, ver
anexo I.

36
De acordo com o conteúdo de História compilado no quadro 1 e na observância
das leis e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica em sua “Resolução
n. 7, de 14 de dezembro de 2010, em seu art. 15. nos §2º e §3º”, o Referencial Curricu-
lar do Ensino Fundamental/ MS está em conformidade e amparado legalmente. Mesmo
que legalmente amparado, o Referencial Curricular Estadual traz os conteúdos de Histó-
ria Regional diluídos nos quatro anos seriais, o que limita a constituição de um saber
histórico regional, pois o esvaziamento se dá pela sobreposição de uma história quadri-
partite eurocêntrica o que relega a história regional ao segundo plano.
A discussão feita não pretende negar a importância do Referencial Curricular
do Estado de Mato Grosso do Sul, pois, ele é um documento norteador da execução de
um trabalho pedagógico desempenhado pelo professor, mas não deve ser visto como um
fim em si, pois extrapola a finalidade de organização de conteúdos para serem ministra-
dos em sala de aula. Como podemos notar é um ponto de partida e não um ponto de
chegada.

[1.3.2] Caminhando para a mudança: Referencial Curricular do Estado de Mato


Grosso do Sul edição 2012

Em 2012 o Referencial Curricular passou por seu primeiro processo de reestru-


turação. A alteração mais significativa, segundo a análise realizada refere-se à estrutura
organizacional interna: o referencial traz uma maior descrição dos componentes curricu-
lares, em observância as leis que regulamentam a Educação Básica no Brasil.
Ainda com relação aos componentes, observam-se alterações internas no que
se refere à reorganização e disposições dos comentários e sugestões dados a cada disci-
plina. No Referencial Curricular, de 2012, a posição dos comentários e sugestões, está
entre os conteúdos das disciplinas, diferente do Referencial Curricular de 2008 que es-
tavam nas primeiras páginas do referencial. Há ainda outra mudança quanto a esse item,
no caso da disciplina de História, essas sugestões fazem parte do mesmo texto da disci-
plina de Geografia nas páginas 303 e 304. Esse texto se apropria de uma linguagem
prescritiva já que os verbos não dão a tonalidade de sugestão, mas de dever.

37
Na parte introdutória do Referencial Curricular, de 2012, também pode ser ob-
servada citações com as referências anexadas, porém no item Referências, não são en-
contradas essas mesmas referências completas e menos ainda citadas.
Quanto à legislação pertinente ao ensino em Mato Grosso do Sul, diferente do
referencial curricular anterior, a edição de 2012 traz o embasamento legal nas primeiras
páginas:

[...] a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul pro-


põe um currículo em consonância com as Diretrizes Curriculares Na-
cionais Gerais para a Educação Básica (Resolução CNE/CEB n. 4, de
13/07/2010), que contempla todos os aspectos essenciais para a for-
mação dos estudantes.65

Em relação ao componente curricular História, “proposto” pelo Referencial


Curricular, de 2012, por ser elemento essencial para as análises que pretendemos de-
monstrar do livro didático de História, segue a transcrição dos conteúdos regulamenta-
dos para o ensino, em forma de quadro para dar visibilidade inicial aos momentos em
que a orientação apresenta conteúdos referentes à História regional.

Quadro 2: Sistematização dos conteúdos de História do MT/MS para o Ensino Fundame n-


tal Anos finais, em 2012 66 .
ANOS BIMESTRES CONTEÚDOS BIMESTRAIS
6º 1º O MUNDO PRIMITIVO
Ano  Pré-História no Mato Grosso do Sul.
Bimestre
2º O advento do mundo moderno
7º  A presença dos espanhóis, no período colonial, na região do atual
Bimestre
Ano Mato Grosso do Sul (relevâncias das Missões e do Itatim no pro-
cesso de ocupação e o povoamento do Mato Grosso).
4º  História dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul: economia,
organização política, processo de aculturação e contribuição cult u-
Bimestre
ral.

65
MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensi-
no/MS – Ensino Fundamental. Campo Grande: SED-MS, 2012, p. 11.
66
Neste quadro apresentamos os conteúdos que fazem menção à história regional de Mato Gro sso do Sul
e que foram compilados do referencial curricular estadual para fazer parte da análise documental desse
capítulo.Quadro completo dos conteúdos do Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul 2012 ver an e-
xo II.

38
O MATO GROSSO DO SUL NO CONTEXTO IMPERIALISTA
8º  Conflito com o Paraguai: causas e desdobramentos para a América

Ano do Sul, para o Brasil e para o Mato Grosso do Sul.
Bimestre  Os Afro-brasileiros e os povos indígenas Guaicurus na Guerra do
Paraguai.
 Mato Grosso do Sul (ainda Mato Grosso): economia, ciclo da erva
mate, influência política, econômica, social e cultural no contexto
imperialista brasileiro.
9º 3º O BRASIL REPÚBLICA NO CONTEXTO CAPITALISTA
Ano Bimestre  Movimento Divisionista de Mato Grosso: antecedentes, compos i-
ção de poder, governos e conflitos sociais.

Fonte: M ATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/M S –
Ensino Fundamental. Secretaria de Estado de M ato Grosso do Sul, 2012.
Compilado por: DEBONA, Jackson James. M arço de 2014.

Em relação ao quadro 2 apresentado, no que concerne ao 6º (sexto ano), pode-


mos observar que há somente um item indicativo de conteúdo que perfazem o ensino da
História Regional, diferentemente do Referencial Curricular de 2008, que faz uso de
uma abrangência maior ao se referir “Pré-história Geral, do Brasil e do Mato Grosso”
(MATO GROSSO DO SUL, Referencial Curricular, 2008, p. 150). Observa-se, no en-
tanto um posicionamento teórico e uma tensão quanto à escrita, pois no Referencial
Curricular, de 2008, a "Pré-história" é referente ao Estado de Mato Grosso. Enquanto o
Referencial Curricular, de 2012, traz a "Pré-história" como sendo de Mato Grosso do
Sul. Essa tensão está relacionada a quem pertence à pré-história dessa região, não so-
mente a isso, mas do lugar de onde nós pensamos e concebemos o “conceito” de região.
Voltaremos a essa discussão nos capítulos seguintes, quando do exame da historiografia
regional e dos livros didáticos utilizados para o ensino da disciplina.
No 7º (sétimo) ano observam-se a inserção de conteúdos sobre a região em dois
bimestres: no 2º e no 4º bimestre. Quando comparado ao Referencial Curricular, de
2008 identificam-se conteúdos que contemplam a história regional somente no 4º bi-
mestre. Assim, verifica-se a permanência do embate anterior, já que o conteúdo é refe-
rente há um tempo cronológico em que o Estado de Mato Grosso do Sul ainda não exis-
tia, aparecem também, abordagens referentes à história dos povos indígenas e quilom-
bolas e a presença dos espanhóis na região no período colonial. Oportunamente essas
abordagens serão problematizadas, nos capítulos seguintes.
No 8º (oitavo) ano identificam-se conteúdos de história regional a serem traba-
lhados no 3º e 4º bimestres, conforme no Referencial Curricular, de 2008. No referenci-

39
al curricular de 2012, todos os conteúdos se concentram no 4º bimestre. No entanto, os
temas são iguais.
No último ano do Ensino Fundamental observam-se a retomada dos conteúdos
e estrutura bimestral do Referencial Curricular, de 2008, tratando do "Movimento Divi-
sionista de Mato Grosso: antecedentes, composição de poder, governo e conflitos soci-
ais". Como podemos notar não há subtração do Mato Grosso do Sul nesse item, atribu-
indo valor heroico ao ato de sua criação. É a partir desse movimento que se constrói a
narrativa de uma “identidade” que segundo seus idealizadores já existia.67
O exame desses dois referenciais indicam elementos importantes para o enca-
minhamento da análise das fontes principais da escrita desta dissertação, tendo sua rele-
vância destacada, na hipótese de transmissão de conteúdos ligados à construção de uma
história regional, sem perder foco da história nacional e geral. Decorrem dessa percep-
ção, a inserção das duas edições como documentos basilares para as análises que serão
feitas nos capítulos seguintes.
Para entender a relação e importância apresentam-se na sequência, aspectos re-
ferentes ao processo de escolha do livro didático no estado de Mato Grosso do Sul. A
escolha do livro didático de história deveria demandar exercício de análise crítica com
um tempo suficiente para esse fim. No entanto, o que pode ser verificado é que para tal
empreendimento são disponibilizados aos professores um dia ou um período do dia o
que não é suficiente para fazerem uma análise a partir de uma postura crítica.
Diante do exposto, em exame preliminar, verificou-se que há casos em que o
livro didático não contempla todos os conteúdos que o Referencial Curricular/MS nor-
teia, sobretudo, no que se refere à história regional. As hipóteses que originaram essa
ausência serão examinadas ao longo deste trabalho. No entanto, é notória certa predile-
ção por temas e regiões, em virtude de acontecimentos considerados de maior valor na
formação da identidade nacional.
Esses desencontros de conteúdos, entre o referencial curricular e o livro didáti-
co de história, tornam-se um engodo difícil de ser solucionado pelos professores. Como
resultado desse problema, os discentes e docentes passam pelo Ensino Fundamental
com um déficit de aprendizagem de conteúdos regionais, desconhecendo sua própria

67
WEINGARTNER, Alisolete Antônia dos Santos. Movimento divisionista em Mato Grosso do Sul.
Porto Alegre: Edições EST. 1995.

40
história e tendo dificuldade de aprendizagem, pois não se veem inseridos no contexto
histórico.
Daí a importância do referencial curricular não só apontar conteúdos a ser mi-
nistrados pelos professores, mas indicar as referências bibliográficas utilizadas para a
elaboração e estudos que deram origem a formulação final do documento, tendo em
vista que caso as coleções de livros didáticos não abordem a história da região, o profes-
sor tenha um suporte através das referencias bibliográficas que contém no Referencial
Curricular/MS. Contrariamente a essa necessidade, observou-se nos Referencias a au-
sência dessas referencias bibliográficas de suporte, demandando esforço maior ao pro-
fessor para obter material relativo ao tema na preparação de suas aulas.
Partimos da hipótese de que há ausência de conteúdos que viabilizem o ensino
da história regional nos livros didáticos adotados nas escolas públicas da rede estadual
de ensino em Mato Grosso do Sul, o que não implica na perda do valor e que não possa
ser adotado pelos professores, pois eles atendem majoritariamente às abordagens pro-
postas nos documentos orientadores, apresentadas anteriormente, contudo se silenciam
sobre o ensino de outros conteúdos que “pertencem” a outro viés de abordagem. Trans-
fere-se ao professor a responsabilidade em analisar e entender esses processos de produ-
ção historiográfica, para além da inserção nos referenciais curriculares, buscando com-
plementar as ausências, quando houver, na produção do livro didático, no esforço de
intermediar os conhecimentos promovidos nas coleções adotadas entre a História regio-
nal e nacional aliado à sua concepção de ensino de história e formação discente.

[1.4] O processo de escolha do livro didático: implicações para o ensino

Ao buscar compreender as formas pelas quais os livros didáticos chegam aos


professores da rede pública de ensino para que estes efetivem o seu uso, identificou-se
que, desde 1985, este processo encontra-se institucionalizado, com regras impostas em
âmbito federal pelo Ministério da Educação (MEC) e, consubstanciadas através do Pro-
grama Nacional do Livro Didático (PNLD).
Ao estabelecer parâmetros para as análises deste material, partilhamos da con-
ceituação sobre o livro didático como importante ferramenta para o trabalho dos profes-

41
sores, configurada nas análises de Sonia Regina Miranda e Tania de Luca, que o enten-
dem como:

[...] um produto cultural dotado de alto grau de complexidade e que


não deve ser tomado unicamente em função do que contém sob o pon-
to de vista normativo, uma vez que não só a sua produção vincula-se a
múltiplas possibilidades de didatização do saber histórico, como tam-
bém sua utilização pode ensejar práticas de leitura muito diversas.68

Face ao exposto, considera-se pertinente apresentar e discutir os meandros que


envolvem o processo de escolha, cuja história remonta ao Estado Novo, com a instaura-
ção da Comissão Nacional de Livros Didáticos69 , conforme destacam Miranda e Luca
(2004), mobilizando formas de organização em todos os âmbitos do poder público (fe-
deral, estadual e municipal). As autoras indicam o ano de 1985 como marco na política
em relação ao processo de escolha e distribuição dos livros didáticos, com a criação do
PNLD.
À parte aos enfrentamentos ocasionados pela criação do Programa e sua efetiva
implantação nos estados brasileiros, em pleno regime autoritário, desde 1996 as práticas
de avaliação e recomendação dos livros didáticos vem sendo desenvolvidas em ampla
escala. Inicia-se neste momento um conjunto de negociações que envolvem o setor pú-
blico e interesses da iniciativa privada, representadas por editoras especializadas em
produção de livros, ao lado das empresas que seriam responsáveis pela distribuição dos
livros didáticos para as escolas. Ressalte-se que, para obter as concessões relativas aos
serviços as editoras precisaram inscrever seus livros em editais prévios de seleção, cuja
aprovação determinaria quais títulos seriam adquiridos com recursos públicos 70 .
Toda essa dinâmica é operacionalizada pelo MEC e Fundo Nacional de Desen-
volvimento da Educação (FNDE) em parceria com os Estados e Municípios. Sua execu-
ção segue os seguintes passos: adesão; editais; inscrição das editoras; triagem/avaliação;

68
MIRANDA, Sonia. LUCA, Tania Regina de. O livro didático de hoje: um panorama a partir do PNLD.
Revista Brasileira de História. São Paulo, vol. 24, n. 48, 2004, p. 124.
69
Em “O livro didático de história hoje: um panorama a partir do PNLD, (2004)” as autoras apresentam
um histórico mais detalhado das disputas inerentes ao período militar e Estado Novo, no que tange aos
processos de produção e circulação do livro didático no Brasil.
70
As autoras destacam que “O fato de uma obra não estar presente no Guia publicado pelo MEC traz
efeitos financeiros indesejáveis que, em alguns casos, culminaram no desaparecimento de editoras e/ou
em fusões de grupos editoriais. A instituição de uma cultura avaliativa, num contexto político democrát i-
co, acabou por desencadear poderosos mecanismos de reajustament o e adaptação do mercado editorial”.
Idem, 2004, p. 126.

42
guia do livro; escolha; pedido; aquisição; produção; análise de qualidade física; distri-
buição; recebimento71 . Todo esse percurso ou movimento se dá nos dois anos que ante-
cedem ao ano de entrega.
Quanto à organização para o processo de escolha, segue-se o seguinte roteiro:
É da alçada das escolas públicas fazer o censo escolar, indicando se pretende aderir ou
não ao PNLD, quanto também efetuar a escolha e os pedidos dos livros didáticos. Já o
processo de editais, triagem, avaliação, aquisição das coleções e distribuição são de res-
ponsabilidade do FNDE. A distribuição dos livros didáticos é feita pela Empresa Brasi-
leira de Correios e Telégrafos (ECT) segundo contrato firmado, sendo acompanhado por
técnicos do FNDE e das secretarias estaduais de educação.
A pesquisa em curso, como já citado anteriormente, adota o ano de 2011 como
marco inicial para as investigações que seguem ao processo de escolha e seleção dos
livros didáticos de História72 , em Mato Grosso do Sul (MS) alinhavado à reordenação
das políticas públicas para a educação no Estado, em virtude do Ensino Fundamental de
nove anos, no qual foram observadas mudanças significativas na organização do com-
ponente curricular de História.
Com relação ao ano de 200873 , de modo breve, as escolhas dos livros didáticos
de história ocorreram nas escolas, tradicionalmente, diante da apresentação das amostras
de coleções que enviadas em geral, no ano anterior à escolha, pelas editoras, juntamente
com exemplares do Guia de cada disciplina referente ao ano base, dando aos professores
de cada disciplina a oportunidade de optar por uma coleção.

71
Detalhamento pode ser encontrado no site do FNDE na parte de Funcionamento do PNLD e execução:
http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico. Acessado em 03 de março de
2014
72
No tocante ao processo de escolha de livros didáticos de História de 5ª a 8ª, as autoras mencionam,
“que foram três processos consecutivos de avaliação vinculad os, respectivamente, aos programas de
1999, 2002 e 2005. Cumpre destacar que houve variações de forma e substância em cada programa. Se,
em 1999, cada volume era avaliado de modo unitário e independente frente à coleção, o que gerava cir-
cunstâncias conflitivas com relação à variabilidade no processo de escolha e uso das obras, tal situação foi
alterada a partir do PNLD 2002, quando a unidade básica de avaliação e escolha passou a ser a coleção
didática. Além disso, caminhou-se de um procedimento classificatório e distintivo, baseado em estrelas e
menções discriminatórias, para um quadro meramente indicativo das obras aprovadas, o que modificou a
própria organização do guia do Livro Didático que, na versão de 2005, apresenta -se ao professor como
um catálogo organizado em ordem alfabética”. Idem, 2004, p. 126.
73
“O senso escolar para o PNLD de 2008 ocorreu no ano de 2006, a escolha dos livros didáticos no ano
de 2007 a entrega dos livros físicos para as escolas foi entre outubro de 2007 a fevereiro de 2008”. Co nfe-
rir site: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-historico. Acessado em 03 de
março de 2014.

43
O Guia de Livros Didáticos74 PNLD 2008 de História está estruturado de modo
a oferecer subsídios aos professores para a escolha do livro didático (coleção) de seu
interesse. Para uma melhor eficácia na consulta do material, apresenta-se uma resenha
geral contendo o exame das coleções e a avaliação por parte dos pareceristas. Encontra-
se estruturado conforme segue:

 Critérios e me todologia da avaliação. Esse item subdivide


em:
“I – Organização das coleções em Blocos”. As 19 coleções foram
agrupas em quatro blocos: “1. História Temática; 2. História Integra-
da; 3. História Intercalada; 4. História Convencional;”
A indicação é feita por um grupo de pareceristas que examinam as co-
leções submetidas ao edital. Das 26 coleções submetidas, somente 19
atingiram os critérios de avaliação conduzindo à sua aprovação.
“II – Critérios de Avaliação”. Os critérios de avaliação foram: “1.
Concepção; 2. Conhecimentos históricos; 3. Fontes históri-
cas/documentos; 4. Imagens; 5. Metodologia de ensino-aprendizagem;
6. Capacidade e habilidades; 7. Atividades e exercícios; 8. Construção
da cidadania; 9. Manual do Professor; 10. Editoração e aspectos visu-
ais;”
Esses critérios encontram-se dispostos, no guia, em um quadro síntese
que representa em escala de cores a posição das coleções, conforme
sua classificação na avaliação dos pareceristas.
“III – Metodologia da Avaliação”. Segundo esse critério a coleção
poderia ser avaliada como: “Ótima, Boa, Suficiente, Não ou inexisten-
te”.
 Análise das Coleções: Segundo esse critério é observada “a di-
versidade na organização dos conteúdos, nas propostas para o ensino
de História e para a formação da cidadania, na editoração e nos Manu-
ais do Professor”.75 (PNLD 2008, p. 21)

A equipe que elaborou o Guia de Livros Didáticos, dividiu as coleções em qua-


tros blocos classificando as coleções seguindo linhas gerais de concepções de história da
seguinte forma:

 História Temática: sua concepção de História não é clara, “há


indícios que apontam para uma mescla entre concepções históricas,
sem que haja suficientes discussões e esclarecimentos”. 76

74
Há que se registrar ainda que o Guia para escolha do Livro Didático é um material elaborado sobre
todas as matérias escolares, cujo conteúdo trata, de forma avaliativa de um grande conjunto de títulos, no
qual pesquisadores das respectivas matérias avaliam o conteúdo, a forma, a aplicabilidade e apre sentam
seus pareceres.
75
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos
PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007. p. 21.
76
Idem, 2007, p. 24.

44
 História Integrada: sua concepção de história está em conce-
ber “a História como construção e interpretação relacionada ao tempo
em que foi produzido o conhecimento histórico”. 77
 História Intercalada: nesse bloco de coleções podemos encon-
trar quatro concepções a seguir:
O conhecimento histórico não é o espelho fiel da realidade, mas uma
representação, uma construção que deve ser questionada; [...] a Histó-
ria estudada não é um produto pronto acabado, mas o resultado do tra-
balho dos historiadores, e sempre se modifica de acordo com seu tem-
po de produção; [...] apresenta situações pontuais em que os conteúdos
são abordados de forma factual, desfavorecendo a compreensão pro-
cessual e a possibilidade de pensar historicamente; [...] estimula o alu-
no a reconhecer-se como agente da História e como alguém que lute
por sua cidadania plena no tempo presente.78
 História Convencional: sua concepção histórica está vinculada
a “uma abordagem na qual a narrativa factual, cronológica, linear e in-
formativa prevalece sobre os procedimentos vinculados à produção do
conhecimento histórico e ao fazer do historiador”. 79

Face ao exposto, podemos notar que, mesmo dentro dos blocos formatados pe-
la equipe que elaborou o Guia de Livro Didático, aparenta existir, a presença de várias
concepções de história80 incluindo o bloco nos quais as coleções se utilizam de uma
“adequação” de concepções de história para abranger a proposta dos conteúdos a serem
ministrados.

 “Ficha de Avaliação:” nesse item que é o último do guia do li-


vro didático do PNLD de história de 2008 encontra-se uma ficha de
avaliação das coleções com 100 itens a ser observados e analisados.
Desse modo é importante a visualização da ficha para avaliar, pois
serve como mais um instrumento que pode ser utilizado em benefício
a uma avaliação mais rigorosa.81

Como podemos notar o Guia dos Livros Didáticos de História do PNLD 2008,
procede ao exame das coleções aprovadas no processo seletivo de acordo com seu méri-

77
Idem, 2007, p. 44.
78
Idem, 2007, p.76-77.
79
Idem, 2007, p. 108.
80
A aparente existência de diferentes concepções de história está ligada ao fato da continuidade do qu a-
dripartismo nas coleções de livro didático de História. Segundo Jean Chesneaux, “O quadripartismo tem
como resultado privilegiar o papel do Ocidente na história do mundo e reduzir quantitativamente o lugar
dos povos não-europeus na evolução universal. Por essa razão, faz parte do aparelho intelectual do imp e-
rialismo”. CHESNEAUX, Jean. Devemos fazer tabula rasa do passado? Sobre a História e os historiado-
res. São Paulo: Ática, 1995, p. 95. Desse modo, esse imperialismo, continua sendo disseminado pelas
coleções de livros didáticos no Brasil.
81
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos
PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007, p. 114-119.

45
to e estrutura didática e teórica. No entanto, não exime os professores de suas responsa-
bilidades de aprofundar o exame das mesmas coleções através de um olhar mais deta-
lhado82 . Essa possibilidade existe devido às editoras enviarem para as escolas e aos pro-
fessores as coleções físicas para apreciação, em período anterior ao pedido para as se-
cretarias de educação, com o já dito anteriormente. Todo esse processo de escolha é
sistematicamente elaborado com cronograma previsto para ser cumprido.83
Exemplo de cumprimento de prazo pode ser visto no site da “ABRELIVROS –
Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares”84 , no qual informa que escolas e
professores teriam prazo para efetuarem a escolha e os pedidos dos livros didáticos, para
o ano de 2008, até o dia 13 de julho de 2007. Excedida essa data, os pedidos somente
seriam atendidos no ano letivo seguinte.
Efetivada a escolha e formulação do pedido dos livros didáticos, cabe à escola
cadastrar e informar aos órgãos reguladores deste processo os títulos e coleções adota-
das, assumindo a responsabilidade do recebimento do material didático, sendo os meses
prováveis da entrega - feita pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) - no
caso do PNLD de 2008, entre outubro de 2007 até o início do ano letivo de 2008.
O Guia de Livros Didáticos PNLD 2011 de História diferente do Guia anterior,
de 2008, apresenta mudanças e continuidades. As novas orientações são objetivas e es-
clarecedoras, quanto à política do Estado e suas secretarias e comissões técnicas. Muito
antes dos livros didáticos e guias chegarem às escolas, há longas discussões a respeito a
sua produção, formatação e avaliação. A cada PLND há mudanças, mesmo que sejam
questões semânticas de termos que são dissonantes em alguns casos até as reformula-
ções de critérios, que inovam cada vez mais o PNLD.

82
Segundo Olinda Evangelista e Eneida Oto Shiroma, “[...] As providências concretas para o exercício do
controle político-ideológico sobre o magistério envolvem sua formação e sua atuação profissional. Ou
seja, a reforma dos anos de 1990, e seu prosseguimento no novo século, atingiu todas as esferas da docê n-
cia: currículo, livro didático, formação inicial e contínua, carreira, certificação, lócus de formação, uso
das tecnologias da informação e comunicação, avaliação e gestão”. EVANGELISTA, Olinda; SHIRO-
MA, Eneida Oto. Professor: protagonista e obstáculo. Educação e Pesquisa, São Paulo, vol. 33, n. 3,
set/dez. 2007, p. 537.
83
Para o PNLD de 2008, os livros das editoras chegaram às escolas de MS oito dias antes do término do
prazo para a escolha. Foram dados dois períodos (um dia) para os professores fazerem a escolha dos li-
vros didáticos. A de se acrescentar que o senso para PNLD 2008 tinha sido executado em 2006, o que
daria uma margem significativa de tempo para as editoras “reformularem” segundo a avaliação dos pare-
ceristas e enviar para os professores avaliarem com um maior tempo.
84
Maiores informações podem ser conferidas em: ABRELIVROS - Associação Brasileira de Editores de
Livros Escolares. http://www.abrelivros.org.br/home/index.php/pnld/5195-escolha-do-livro-didatico-vai-
ate-13-de-julho. Acessado em 7 de abril de 2014.

46
O Guia de Livro Didático de História insere-se no conjunto dessas inovações.
A elaboração para o ano de 2011 parte dos seguintes princípios e critérios:

A condição de o livro didático auxiliar a formação de cidadãos consci-


entes. [...] O respeito à legislação que rege o Ensino público nacional.
[...] A qualidade pedagógica e didática das coleções. [...] A qualidade
do Manual do Professor (MP). [...] A correção das informações apre-
sentadas aos estudantes. [...] A qualidade e adequação do projeto grá-
fico e estrutura editorial da coleção. 85

De acordo e observância desses critérios, das 25 coleções que chegaram para


ser avaliadas no PNLD de 2011, somente 16 foram aprovadas. Isso corresponde a 64%
de aprovação e 36% de reprovação, número inferior aos aprovados na edição anterior.
Essa avaliação se dá via a instituições universitárias parceiras do MEC. Neste ano, a
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) sediou o processo de avaliação das cole-
ções e elaboração dos Guias.
Em geral, o objeto de atenção das comissões de avaliação se dava em torno dos
conteúdos curriculares. Na edição de 2011, observa-se um acréscimo nas preocupações
estabelecidas pela comissão:

O edital do PNLD 2011 estabeleceu, pela primeira vez, que uma cole-
ção pode ser excluída caso seu manual do professor apresente proble-
mas em sua elaboração ou se apresente de modo excessivamente su-
perficial. Isso significa dizer que esse item tende a receber, daqui para
frente, uma atenção mais cuidadosa por parte das editoras.86

Resultante desse novo requisito a equipe responsável pela avaliação atribuiu


três categorias, visando orientar os professores na escolha do manual do professor: que
são “Formal”, “Contextualizado” e “Reflexivo”87 . Sinalizadas com estes critérios no
PNLD de 2011, foram: 44% formal, 37% contextualizado e 19% reflexivo.

85
BRASIL, Ministério da Educação. Guia de Livros didáticos PNLD 2011: série/Anos finais do Ensino
Fundamental - História. Brasília: MEC, 2010, p. 10-11.
86
Idem, 2011, p. 15.
87
As categorias do Manual do professor Formal, Contextualizado e Reflexivo são apresentadas no guia
do livro didático da seguinte forma: “Formal identificamos aquele cuja elaboração denota uma produção e
uma inserção na coleção que atende à obrigatoriedade do edital, sem que se verifique, con tudo, uma arti-
culação densa à obra”; “Contextualizado é aquele que se caracteriza pela presença de uma apresentação
efetiva dos princípios norteadores centrais da obra e é pautado por orientações claras quanto ao uso do
livro do aluno por parte do professor”; “Reflexivo é aquele caracterizado por densa explicação de princí-
pios conceituais, teóricos e curriculares, bem como por uma consistente reflexão acerca do campo da
história e seu ensino hoje”. Idem, 2011, p. 15.

47
Outro aspecto importante no Guia de 2011 consiste na diferenciação da Meto-
dologia de Ensino e a Metodologia da História. Compreende-se nesse momento a forma
pela qual a História é elaborada ou metodologicamente construída, diferenciando-se da
forma pela qual metodologicamente ela é ensinada ou abordada nas coleções.
Nesse sentido, o Guia de Livro Didático aponta para duas perspectivas curricu-
lares dominantes, a história integrada e história temática:

Por História Integrada identificamos as coleções cujo agrupamento


temático pauta-se pela evocação da cronologia de base europeia inte-
grando-a quando possível, à abordagem dos temas relativos à história
brasileira, africana e americana. [...] História temática ocorre quando
os volumes são apresentados não em função de uma cronologia linear,
mas por eixos temáticos que problematizam as permanências e trans-
formações temporais, sem, contudo, ignorar a orientação temporal as-
sentada na cronologia. 88

Para dar visibilidade ao processo resultante dessas duas tendências metodoló-


gicas, o gráfico que segue fornece indicativos percentuais das concepções predominan-
tes nas coleções de livros didáticos de história submetida no ano de 2011:

Gráfico 1: Perspectiva curricular dominante nas coleções de Livros de História do


PNLD 2011
Fonte: PNLD 2011, p. 17

Face o exposto, ao converter as porcentagens por números de coleções aprova-


das no PNLD de 2011, que são 16, teremos 15 delas fazendo parte da concepção de His-

88
Idem, 2011, p. 17.

48
tória Integrada89 e 01 de concepção de História Temática. Como podemos notar a con-
cepção histórica que mais disseminou nos Livros Didáticos de História do PNLD de
2011 é eurocêntrica, de valor social-econômico e cultural europeu que engendra em
nosso modo de conceber a História.
Quanto à metodologia de ensino/aprendizagem ou proposta pedagógica, o
Guia90 do Livro Didático de História, aponta para as coleções três perfis: informativo,
procedimental e complexificação de pensamento. O perfil Informativo, [...] aquele que
busca fornecer informações ao estudante, de modo a constituir uma referência de eru-
dição histórica. [...]. Já o perfil Procedimental [...] aquele conjunto de textos e estraté-
gias periféricas que se pautam pela valorização de aspectos de problematização de
fontes, de modo a priorizar a dimensão do procedimento histórico no processo de cons-
trução da narrativa e da explicação histórica apresentada aos alunos. [...]. Quanto ao
perfil Complexificação de Pensamento, [...] o diálogo entre textos e seções complemen-
tares gera uma relação harmônica, coerente, capaz de produzir uma educação que sen-
sibiliza o aluno no tocante ao procedimento histórico e que não se pauta por nenhum
tipo de divórcio entre as partes da obra. [...]. Com essas características as coleções se
apresentam em percentual da seguinte forma:

Gráfico 2: Perfil das coleções de Livros de História do PNLD 2011


(Fonte: PNLD 2011, p. 19)

89
De acordo com a concepção de História Integrada fornecida pelo Guia do livro didático, ela está asse n-
tada na cronologia de base europeia, ou seja, no quadripartismo eurocêntrico que segundo Jean Chesn e-
aux,” [...] fracassa, sobretudo pelo próprio movimento da história. Ele se configura incompatível com a
evolução do mundo de nosso tempo, com as exigências do presente”. CHESNEAUX, Jean. Devemos
fazer tabula rasa do passado? Sobre a História e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995, p. 97.
90
No Guia do Livro Didático de História não é mencionado em nenhum momento o ensino de História
Regional, salvo na Ficha de Avaliação no Bloco 4, p. 118, item “Princípios éticos e de cidadania”, seção
46 onde está como critério de avaliação da coleção: “Está isenta de preconceitos de condiç ão regional,
socioeconômica, étnico-racial, de gênero, linguística e de qualquer outra forma de descriminação,” o que
não sustenta o ensino de História Regional.

49
Quanto ao aspecto quantitativo temos: perfil de Complexificação de Pensamen-
to, 01 coleção, de perfil Procedimental 03 coleções e de perfil Informativo 12 coleções.
Desse modo podemos observar que a coleção de perfil Complexificação de Pensamento
é a coleção que adota a concepção de História Temática e as de perfil Informal e Proce-
dimental formam o grupo de 15 coleções que adotam a concepção de História Integrada,
ou seja, muda-se a metodologia, mas a concepção é a mesma, eurocêntrica.
Outro aspecto observado diz respeito à inserção dos conteúdos históricos sobre
as temáticas indígena e africana. De acordo com as Leis n. 10.639/2003 e n
11.645/2008, que dispõem sobre a obrigatoriedade das temáticas afro-brasileiras e indí-
genas no ensino de história, o que atribui maior responsabilidade aos autores de cole-
ções demandando atenção quanto às formas de tratamento dessas abordagens.

Gráfico 3: Abordagens temáticas nas coleções de Livros de História do PNLD 2011


(Fonte: PNLD 2011, p. 23)

Face ao exposto, os novos aspectos que fazem parte dos critérios de avaliação
das coleções são indicadores de que a comissão tem feito estudos e atualizado os proce-

50
dimentos em virtude das necessidades identificadas, apesar dessas temáticas 91 estarem
ainda vinculadas a conteúdos determinados, No entanto, essa adesão não garante que os
temas sejam trabalhados numa perspectiva crítico-reflexivo. Nessa perspectiva, o qua-
dro síntese das características gerais das coleções92 é um exemplo dos esforços dessa
equipe para oferecerem aos professores mais um instrumento de que possa ser útil no
processo da escolha do livro didático.
No ano de 2011, - quanto ao funcionamento e cronograma de entrega dos livros
didáticos -, foram efetuadas a distribuição integral de títulos para os anos finais do En-
sino Fundamental e reposição aos anos iniciais do Ensino Fundamental e Médio. A re-
posição é feita durante os dois anos que se seguem após a distribuição integral, justifi-
cando-se em virtude de efetivação de novas matrículas e abertura de novas turmas. Cabe
à escola encaminhar o pedido para a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal e
estas recorrerem à reserva técnica para proceder ao repasse às escolas.
Quanto à materialidade dos livros entregues pelo FNDE, é de boa qualidade,
pois são confeccionados com material físico resistente para que sejam utilizados por três
anos e por mais de um aluno, motivo esse que os estudantes ao final de cada ano letivo
são instruídos a devolverem os livros didáticos de língua portuguesa, matemática, ciên-
cias, história e geografia no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, incluindo na lista
de entrega os de biologia, física e química para a escola de origem. A exceção de devo-
lução são os livros consumíveis de alfabetização matemática e alfabetização linguística
(1º e 2º anos) e os de língua estrangeira no Ensino Fundamental. No Ensino Médio, os
livros de Sociologia e Filosofia são volume único, com objetivo de serem utilizados
durante os três anos pelo aluno.
O quadro abaixo nos possibilita maior visibilidade de quais livros didáticos por
ano ou série que os alunos recebem do PNLD e quais os que eles devem devolver (reuti-

91
A inserção das temáticas indígenas e africanas é essencial para nos reconhecermos historicamente, haja
vista a formação étnica do povo brasileiro. Não podemos evocar Von Martius para a discussão, pois aca-
baríamos privilegiando o desbravador dos mares, o Europeu (branco). No entanto, devemos perceber que
essas temáticas são inseridas no contexto escolar onde não há formação continuada para professores vo l-
tada para o ensino dessas temáticas, salvo exceções. Quanto ao livro didático, sofre a mesma carência de
elaboração de conteúdos significativamente produzidos por especialista da área de estudo da temática
indígena e da História da África. Em suma, tanto o ensino quanto o livro didático apresentam um déficit
quanto a essas temáticas que se tornaram por direito e lei obrigatórias.
92
BRASIL, Ministério da Educação. Guia de. Livros didáticos PNLD 2011: série/Anos finais do Ensino
Fundamental - História. Brasília: MEC, 2010, p. 25.

51
lizáveis) - quando finda o ano letivo, e os livros que eles não precisam devolver (con-
sumíveis).

Quadro 3 – Sistematização por ano/série de Livros Didáticos Consumíveis ou Reutilizá-


veis.
ETAPA DE ANO / SÉRIE COMPONENTES CURRICULA- TIPOS DE
ENSINO RES LIVROS
1º, 2º e 3º ano Alfabetização Matemática e Alfabeti- Consumíveis
Ensino Fundamen- zação Linguística
tal Anos Iniciais 2º ao 5º ano Ciências, História e Geografia Reutilizáveis
3º ao 5º ano Matemática e Língua Portuguesa Reutilizáveis
Ensino Fundamen- 6º ao 9º ano Matemática, Língua Portuguesa, Ci- Reutilizáveis
tal Anos finais ências, História e Geografia
6º ao 9º ano Língua Estrangeira Moderna Inglês Consumíveis
ou Língua Estrangeira Moderna Es-
panhol
1º à 3ª série Língua Portuguesa, Matemática, His- Reutilizáveis
Ensino Médio e tória, Geografia, Biologia, Química e
Educação de Jo- Física
vens e Adultos 1º à 3ª série Língua Estrangeira Moderna Inglês e Consumíveis
Língua Estrangeira Moderna Espa-
nhol
Volume Único Filosofia e Sociologia Consumíveis
Letramento e Alfabetização, Alfabeti- Consumíveis
zação Matemática, Língua Portugue-
1º ao 5º ano sa, Matemática, História, Geografia,
Educação de Jo- Artes, Ciências, História Regional e
vens e Adultos - Geografia Regional
Ensino Fundamen- Língua Portuguesa, Matemática, His- Consumíveis
tal 6º ao 9º ano tória, Geografia, Artes, Ciências,
Língua Estrangeira Moderna Inglês e
Língua Estrangeira Moderna Espa-
nhol.
Programa Brasil Letramento e Alfabetização, Alfabeti-
Alfabetizado – zação Matemática.
PBA
Fonte: site http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-apresentacao/item/4509-livros-por-ano-e-
serie Acessado em 14 de abril de 2014.
Compilado por: DEBONA, Jackson James. 2014

Dessa forma, todo ano letivo o governo redistribui livros, integralmente, há


uma das etapas de ensino e repõem nas outras fazendo assim uma redistribuição integral
a cada três anos a cada etapa de ensino e a reposição a cada ano. O FNDE possibilita
conferir e acompanhar números de alunos, escolas públicas e o montante de livros dis-
tribuídos. No PNLD de 2008, “foram atendidos 31,1 milhões de alunos de 139,8 mil

52
escolas públicas. Foram adquiridos, ainda, 18,2 milhões de livros para 7,1 milhões de
alunos de 15,2 mil escolas públicas de ensino médio”, número significativo, mas não o
suficiente, pois o PNLD está baseado no censo de alunos do ano de 2006, o que faz que
essa demanda de livros seja insuficiente para todos os alunos das Escolas Públicas do
Brasil.
O FNDE, com objetivo de sanar esse problema e proporcionar o acesso a todos
os alunos ao material didático, criou a reserva técnica e possibilitou o remanejamento
das escolas que estão excedendo materiais para as escolas onde ocorre a falta. A reserva
técnica, referente ao PNLD vigente, fica nas Secretarias Estaduais de Educação à dispo-
sição das escolas que necessitam atender a novas matrículas e turmas.
Devido a pouca visibilidade das reservas técnicas e para facilitar o remaneja-
mento dos livros didáticos, foi implantado em 2004 o Sistema de Controle de Remane-
jamento e Reserva Técnica (Siscort). O Siscort de 2004 teve como meta atender as tur-
mas de 1ª a 4ª série e, em 2005, foram então incluídas no sistema as turmas de 5ª a 8ª
série. No entanto, o Siscort apresentou falha técnica e por um período significativo ficou
indisponível. Porém, a equipe de tecnologia da informação do FNDE reformulou o Sis-
cort tornando-o mais acessível aos usuários.
De acordo com o site do FNDE, consta a proposta de um documento para “ins-
trução e orientação, passo a passo das operações do sistema.” Ainda no mesmo link po-
demos encontrar um subitem “Remanejamento Preciso e Necessário” no qual consta a
proposta do PNLD e direcionamento do uso individual do livro didático amparado con-
forme o “parágrafo 3º do artigo 1º da Resolução/CD/FNDE n. 42/2012, de 28 de agos-
to de 2001”. Essa resolução é o documento que estabelece as regras de funcionamento
do PNLD. No entanto, o Novo Siscort torna-se uma ferramenta importante e mais preci-
sa na distribuição dos livros didáticos e um meio para que o PNLD atinja seu objetivo
que é de disponibilizar e dar acesso aos materiais didáticos a todos os estudantes da rede
pública de ensino.
A partir de 2014, os materiais didáticos formaram um estoque nacional, obser-
vada ainda a reserva técnica de 3% das matrículas projetadas a cada ano de atendimen-
to. Isso será possível pelo contrato firmado entre o FNDE e ECT que se responsabilizará
pela guarda e a distribuição dos livros didáticos, sendo que após a solicitação das secre-

53
tarias de estados ou municipais, o ECT tem o prazo de 20 dias para a entrega dos livros
didáticos em caso de requererem a reserva técnica.
Ao apresentar o cenário referente aos processos de constituição legal do com-
ponente curricular de história, em âmbito federal, seus desdobramentos em âmbito esta-
dual, ao lado das orientações que dispõem sobre o seu ensino na rede pública sul-mato-
grossense, objetivou-se desenhar a trajetória para as discussões que seguem na sequên-
cia deste estudo, tendo em vista que se pretende examinar as discussões relacionadas ao
ensino de história regional nos materiais de ensino adotados pela rede escolar nos anos
2008 e 2011.
Esse cenário indicou constantes mudanças na configuração das orientações po-
líticas, mas não refletiu necessariamente, no exame inicial, na ampliação dos conteúdos
referentes à história de Mato Grosso do Sul e suas peculiaridades. Esses e outros ele-
mentos serão discutidos nos capítulos seguintes.

54
=== CAPITULO 2 ===

PERCURSOS HISTÓRICOS E FONTES:


um estudo sobre as coleções de livros didáticos adotadas em Mato
Grosso do Sul

Ao apresentar as diretrizes que balizam, em nível federal e estadual, o ensino


da disciplina de história, no capítulo 1, objetivamos traçar o cenário dos aspectos legais
que determinam e orientam as atribuições mínimas no que concernem ao seu ensino. O
exame da legislação de ensino, bem como dos dispositivos regionais que regulam, mí-
nima e obrigatoriamente, os conteúdos a serem ensinados em instituições de Ensino
Fundamental regular (anos finais), forneceram subsídios para vislumbrar algumas das
formas de organização e apropriação dos saberes históricos, por parte de professores,
tendo em vista o material didático que escolhem para conduzir sua prática de ensino
cotidiana.
Face ao exposto, o presente capítulo apresenta discussões pertinentes ao local
específico do qual trata a pesquisa em curso, o Estado de Mato Grosso do Sul93 , no es-
forço de compreender a necessidade e importância do ensino da história regional, os
encaminhamentos relativos aos processos que orientam e efetivam a adoção dos livros
didáticos para o ensino de História no Ensino Fundamental, ao lado do mapeamento das
coleções adotadas.
Ao realizar o mapeamento, levantamento e localização das coleções de livros
didáticos escolhidas, cujo processo demonstrou-se no capítulo anterior, por professores
e adotadas para o ensino de história em 2011, entendidas neste trabalho como fontes

93
Vale ressaltar que a pesquisa refere-se à adoção dos livros em Mato Grosso do Sul, mas a abordagem,
de acordo com o período histórico mencionado, tratar-se-á de Mato Grosso, em virtude do primeiro Esta-
do só existir oficialmente a partir do final da década de 1970 Cf. os trabalhos de SILVA, Jovam Vilela da.
A divisão do Estado de Mato Grosso: (uma visão histórica – 1892-1977). Cuiabá: EdUFMT, 1996. Cf.
WEINGARTNER, Alisolete Antônia dos Santos. Movimento divisionista em Mato Grosso do Sul. Porto
Alegre: Edições EST. 1995.

55
para demonstrar o problema de pesquisa que orienta a presente proposta de dissertação,
identificou-se a necessidade de retomar conceitos e definições que auxiliassem na com-
preensão da dimensão regional, possibilitando estabelecer parâmetros de análise para o
ensino. Ao lado dessa primeira necessidade considerou-se oportuno revisitar produção
sobre historiografia (sul) mato-grossense, na intenção de ter elementos que possibilitas-
sem entender as temáticas presentes nos livros didáticos de história utilizados no Esta-
do. Esse processo de revisão de literatura fornece condições, ainda, para elaborar hipó-
teses explicativas para a ausência do temário acerca das especificidades regionais nas
coleções em exame.
Partindo desse pressuposto, o capítulo que segue estrutura-se a partir de três ei-
xos predominantes, a saber: a discussão teórica metodológica da produção de uma histó-
ria tipicamente regional, sem, no entanto, estar desvinculada da história nacional, ao
lado de uma revisão da produção bibliográfica pertinentes à história de Mato Grosso e
da criação do estado de Mato Grosso do Sul, com ênfase na produção derivada de teses
e dissertações acadêmicas; a apresentação e discussão dos dados coletados a partir dos
sistemas de controle e distribuição dos livros didáticos em Mato Grosso do Sul nos anos
de PNLD 2011 e; por fim, a apresentação das coleções selecionadas para a análise rela-
tivas aos temas pertinentes à Mato Grosso e Mato Grosso do Sul identificados nos mate-
riais didáticos que circularam nas escolas no período em exame.

[2.1] A História regional: conceitos e componentes de ensino

Ao tratar do tema História regional encontramos uma relação paradoxal, que


ora evidencia a sua importância e necessidade, ora alerta para os possíveis riscos de se
escrever uma história unitária, desvinculada do contexto mais amplo de sua inserção,
sem estabelecer diálogos e relações com a totalidade da qual obrigatoriamente é parte
integrante. Na intenção de encaminhar possibilidades de compreensão do tema, ao
mesmo tempo em que elaborar categorias de análise para as fontes que perfazem a escri-
ta deste trabalho entendemos, a partir de Eric Hobsbawm:

[...] o problema para os historiadores profissionais é que seu objeto


tem importantes funções sociais e políticas. Essas funções dependem
do seu trabalho - quem mais descobre e registra o passado além dos

56
historiadores? -, mas ao mesmo tempo estão em conflito com seus pa-
drões profissionais. Essa dualidade está no cerne de nosso objeto.94

Ao trazer essa discussão Hobsbawm contribui com os interesses deste trabalho,


evidenciando possibilidades de se compreender a produção histórica a partir dos concei-
tos de nação e região, e assevera, a partir da leitura que fez de Ernest Renan, que "es-
quecer, ou mesmo interpretar mal a História, é um fator essencial na formação de uma
nação, motivo pelo qual o progresso dos estudos históricos muitas vezes é um risco para
a nacionalidade."95
Nesse sentido, a escrita da história é também um exercício de escolha/seleção:
sobre o que contar, sobre quem contar, o que escrever, ao mesmo tempo sobre o que não
contar. Porém, o mesmo autor adverte para a importância da escrita da história, e conse-
quentemente do seu ensino, quando afirma que "[...] convém nunca esquecer que a his-
tória - principalmente a história nacional - ocupa um lugar importante em todos os sis-
temas conhecidos de educação pública."96
Ao tratar da história das regionalidades, entendendo-as como elemento essen-
cial para a construção das identidades, mas também fruto da luta por representações que
se tornem dominantes, Pierre Bourdieu problematiza a noção de região como espaço de
interesse dos historiadores, tendo em vista que estes também lidam com espaços ainda
que em perspectivas diferentes de outros profissionais:

A região é o que está em jogo como objecto de lutas entre os cientis-


tas, não só os geógrafos é claro, que, por terem que ver com o espaço,
aspiram o monopólio da definição legítima, mas também historiado-
res, etnólogos e, sobretudo desde que existe uma política de 'regionali-
zação' e 'movimentos regionalistas' economistas e sociólogos. 97

Ainda no que concerne a problematização da produção de conhecimentos que


se digam regionais, Bourdieu acrescenta:

O efeito simbólico exercido pelo discurso científico ao consagrar um


estado das divisões e da visão das divisões, é inevitável na medida em

94
HOBSBAWM, Eric J. Sobre História: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 284-285.
95
Idem, 1998, p. 285.
96
Idem, 1998, p. 290.
97
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 4. ed. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001,
p. 108.

57
que os critérios ditos 'objetivos', precisamente os que os doutos conhe-
cem, são utilizados como armas nas lutas simbólicas pelo conheci-
mento e pelo reconhecimento [...] logo que a questão regional ou na-
cional é objectivamente posta na realidade social, embora seja por
uma minoria actuante [...] qualquer enunciado sobre a região funciona
como um argumento que contribui - tanto mais largamente quanto
mais largamente é reconhecido - para favorecer ou desfavorecer o
acesso da região ao reconhecimento e, por este meio, à existência. 98

Partilhando dessa preocupação, Marcos Lobato Martins conceitua a História


Regional como sendo aquela em que se

toma o espaço como terreno de estudo, que enxerga as dinâmicas his-


tóricas no espaço e através do espaço, obrigando o historiador a lidar
com processos de diferenciação de áreas. A História Regional é a que
vê o lugar, a região e o território como natureza da sociedade e da his-
tória, e não apenas como palco imóvel onde a vida acontece. Ela é
História Econômica, Social, Demográfica, Cultural, Política etc., refe-
rida ao conceito chave de região.99

Desse modo, o estudo do regional nos permite visualizar especificidades e sin-


gularidades de um dado recorte de realidade e estabelecer comparações com outros re-
cortes de realidades regionais. Diferente do estudo do nacional que aborda os aspectos
de semelhanças entre as regiões e da Micro-história, que faz uma redução de escala de
observação para perceber a realidade que poderiam não ser percebidas pela análise ma-
cro100 .
De posse dessa discussão preliminar, é possível afirmar que a produção sobre
História regional mato-grossense é permeada pelas mais diversas abordagens, em sua
maioria partindo de aspectos gerais relacionados à História nacional, em especial no que
se refere aos marcos cronológico, contudo abordando os acontecimentos locais101 . A
opção por acompanhar e apresentar os fatos históricos (cuja abordagem se faz relevante)
deve-se à observância da estrutura de conteúdos fixada nos referenciais curriculares

98
Idem, 2001, p. 119-120.
99
MARTINS, Marcos Lobato. História Regional, in: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas nas
aulas de história. São Paulo, Contexto, 2009, p. 143.
100
Cf. BARROS, José D’ Assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ:
Ed. Vozes, 2004. p. 153.
101
De acordo com Marcos Lobato Martins: O "lugar" e a "região" respondem a demandas individuais e
coletivas por segurança, continuidade histórica e pertencimento a algum tipo de comunidade de destino.
MARTINS, Marcos Lobato. História Regional, in: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas nas
aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009, p. 135-152.

58
para o ensino de história, a qual mesmo ao trabalhar com eixos temáticos, como é o caso
de algumas coleções, não deixa de "contar" a história através dos marcos cronológico.
Das abordagens que seguem resultou a indicação de temas, neste trabalho convertidos
em conteúdos os quais se procurará verificar se há tratamento nas coleções examinadas,
conforme demonstraremos no capítulo seguinte.

[2.1.1] Por dentro de Mato Grosso: aspectos históricos

Nesse primeiro enfoque trataremos de forma abrangente a ocupação do territó-


rio mato-grossense, quando ainda fazia parte da capitania de São Paulo. Seu início de
colonização é datado no começo do século XVIII, porém nos séculos XVI e XVII a re-
gião passava por disputas territoriais entre o Império Português e Espanhol.
De acordo com Lylia da Silva Guedes Galetti,

[...] a percepção do colonizador, até o início do século XVIII, grande


parte do que viria a ser o território da Capitania de Mato Grosso per-
manecia na condição de sertões, ínvios desertos, praticamente inde-
vassados. Contudo, ao longo dos séculos XVI e XVII sua região meri-
dional havia sido palco de intensa movimentação de súditos dos dois
Impérios ibéricos, em atividades comerciais, disputa pela ampliação
ou defesa de seus territórios, perseguição aos povos indígenas e na in-
cansável procura de um caminho para as fantásticas minas do Peru.
Em meados do século XVII, entretanto, com a destruição das reduções
guaranis, localizadas na Bacia do Rio Paraguai, e a expulsão dos jesuí-
tas (1648), os espanhóis, portugueses e luso-brasileiros praticamente
abandonaram a região. Sob o domínio dos índios Mbayá Guaikuru,
que ali se estabeleceram em seguida, a porção meridional da futura
capitania retomaria suas feições de sertão bruto e indevassado.102

Esse abandono foi temporário pelos luso-brasileiros, já que frequentemente os


mesmos investiam nesses espaços em busca de índios para escravizar. Porém, os indí-
genas Mbayá Guaikuru representaram um obstáculo quase intransponível para os ban-
deirantes, o que dificultou a movimentação destes nessa região, que viria ser a capitania
de Mato Grosso. Entretanto, as primeiras vilas e arraiais que apareceram nessas para-
gem surgiram a partir das monções vindas de São Paulo, a intensificação da circulação
dos Bandeirantes e a descoberta de ouro.

102
GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da
civilização. Cuiabá: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 61.

59
Segundo Nauk Maria de Jesus,

Mato Grosso teve seu espaço colonizado na primeira metade do século


XVIII, sendo o arraial e depois Vila Real do Senhor Bom Jesus do
Cuiabá (atual cidade de Cuiabá) o ponto mais avançado até 1734,
quando foram descobertas as minas na região do Guaporé. Essa vila
teve sua origem com a descoberta do ouro nas lavras do Coxipó-
Mirim, em 1719, tendo à frente da tal investida paulistas e reinóis. No
ano de 1727 o arraial do Senhor Bom Jesus do Cuiabá (1722) foi ele-
vado à condição de vila e, nesse momento, pertencia à jurisdição de
São Paulo. Em 1748 essa capitania teve sua circunscrição reduzida em
função das fundações das capitanias de Mato Grosso e de Goiás. [...] a
capitania de Mato Grosso era constituída por apenas dois distritos, o
do Cuiabá (1727) e Vila Bela da Santíssima Trindade (1752), esta úl-
tima fundada para ser sede de governo. Além delas, arraiais, povoados
e edificações militares foram criados ao longo da linha de fronteira no
decorrer do setecentos e somente em 1820 uma nova vila foi fundada:
a Vila de Diamantino.103

Face ao exposto, podemos notar que a Coroa portuguesa apressou-se em tomar


posse e povoar a região criando um antemural, a capitania de Mato Grosso, a qual os
limites territoriais externos se delimitavam “com terras espanholas representadas pelos
governos de Chiquitos, Mojos e Assunción”.104 Essa postura da Coroa portuguesa em
consolidar a posse das terras do extremo Oeste é verificada pela chegada de Antonio
Rolim de Moura, em 1751, à Capitania de Mato Grosso e pelas tentativas de tratados
estabelecidos com a coroa Espanhola. O primeiro deles foi o Tratado de Madri, em
1750, que buscava rever o tratado de Tordesilhas; o segundo o Tratado de El Pardo,
assinado em 1761. Este anularia o Tratado de Madri; o terceiro, o Tratado de Paris, de
1763, que anularia os dois anteriores; o quarto, Tratado de Santo Idelfonso, de 1777,
que revalidou o Tratado de Madri; o quinto, o Tratado de Badajós e Amiens, de 1801.
Esse foi o último tratado a ser assinado antes da crise que desagregou o império colonial
na América de Portugal e de Espanha.
Conforme sinaliza Galetti,

A Capitania de Mato Grosso configurou-se como um espaço de luta,


palco de conflitos com indígenas e, objeto de acirradas discussões di-

103
JESUS, Nauk Maria de. A Capitania de Mato Grosso: História, Historiografia e Fontes. Revista Terri-
tórios & Fronteiras. Cuiabá, vol. 5, n. 2, jul./dez. 2012, p. 94.
104
GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da
civilização. Cuiabá: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 78.

60
plomáticas com o império espanhol. Área estratégica para a consoli-
dação do domínio português na América [...] ali deveria edificar-se
uma sólida barreira, capaz de estancar as investidas expansionistas do
Império vizinho.105

Durante esse espaço de tempo em que os dois impérios ibéricos buscaram um


acordo limítrofe de seus impérios nas colônias, a dinâmica da ocupação e exploração
por parte dos portugueses foi acontecendo. Quanto à ocupação podemos observar que o
ônus ficou em grande parte para a Capitania e sua população, escrava e não escrava.
Esta, no entanto, era a responsável pelo comércio, produção de seus viveres e pela ex-
ploração aurífera. Nota-se de passagem que:

Em 1796, existiam 79 engenhos nas vizinhanças de Cuiabá e o reba-


nho bovino chegava a 43 mil cabeças. O comércio, nesse período, se
manifestava bastante intenso, pois se processava, não só por via fluvi-
al, mas ainda por via terrestre, ligando Cuiabá a Minas Gerais, Goiás,
Rio de Janeiro e Bahia.106

Como podemos observar acima havia alta demanda por mão de obra braçal, es-
crava negra, indígena e de trabalhadores livres, que eram empregadas nas fazendas e
nos engenhos da nova capitania do extremo Oeste. Estes foram os grandes responsáveis
pela edificação das fronteiras da Capitania de Mato Grosso, haja vista a dificuldade cli-
mática e pelo trabalho brutal nas minas e lavouras de cana-de-açúcar e fazendas de gado
bovino. Concomitantemente à força de trabalho escrava, também existia a força de tra-
balho livre de negros, indígenas e de brancos.
No começo do século XIX, a Capitania de Mato Grosso passou por um período
político intenso, resultante de disputas entre a elite regional no que tange a possibilidade
de mudança de sua capital. A pergunta que se estabeleceu há época era em torno de on-
de seria a sede da capitania: Cuiabá ou Vila Bela? Esse pleito, para ser a capital da pro-
víncia, passava pelo foro do econômico-social e geográfico. Isso fica claro na passagem:

Em março de 1821, Magessi declarou Cuiabá como cabeça de provín-


cia e Vila Bela, como paróquia. Essas atitudes tomadas pelos capitães-
generais não estavam centradas apenas no que toca ao fator de insalu-
bridade de Vila Bela, mas foram determinadas muito mais por condi-

105
Idem, 2012, p. 83.
106
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira; COSTA, Lourença Alves da; CARVALHO, Cathia Maria Coelho.
O Processo Histórico de Mato Grosso. 3 ed. Cuiabá: EdUFMT, 1990, p. 92.

61
ções econômico-sociais, uma vez que Cuiabá se apresentava como lí-
der da capitania e porto estratégico do futuro comércio internacio-
nal.107

Podemos perceber que essa atitude de Francisco de Paula Magessi, tinha um


tom conciliatório, o que não fez a diferença para a elite de Cuiabá, já que no mesmo ano
(1821) com ausência do governador e “as notícias trazidas do Rio de Janeiro, por Anto-
nio Navarro de Abreu, as quais diziam que os governos da Bahia e São Paulo foram
depostos e em seus lugares foram instaladas Juntas Governativas”108 , a elite cuiabana
estruturou, estrategicamente, uma Junta Governativa amalgamando o clero e os milita-
res. Com essa, em 20 de agosto de 1821, depõem o governador, expedindo ofícios às
vilas de Norte a Sul, comunicando sobre a nova situação política em que se encontrava
o governo da província de Mato Grosso.
De outro lado formou-se uma Junta Governativa em Vila Bela tentando esbo-
çar uma reação. No entanto, as elites de Cuiabá tinham uma forte influência política a
nível nacional. Aproveitando esse elemento significativo a seu favor, articulam politi-
camente e recebem do príncipe regente a aprovação da Junta Governativa de Cuiabá.
De acordo com Jesus,

Nesse sentido, a rivalidade entre Vila Real do Cuiabá e Vila Bela du-
rante todo o período colonial teve sua origem no processo de organi-
zação administrativa metropolitano e estava inserida num quadro mais
amplo que marcou a formação histórica dessa capitania-fronteira-
mineira.109

Face ao exposto, essa rivalidade toma forma de solução quando D. Pedro apro-
va a segunda Junta Governativa de Cuiabá e concomitantemente reitera-a como sendo a
capital da Capitania de Mato Grosso.
Já no segundo quarto do século XIX, as populações descontentes com os polí-
ticos da ala conservadora organizaram uma revolta que ficou conhecida como Rusga.
Em 1834 esse movimento armado foi liderado pela Sociedade dos Zelosos da Indepen-
dência e comandada pela Guarda Nacional. Esses revoltosos manifestavam apoio ao

107
Idem, 1990, p. 92.
108
Idem, 1990, p. 97-98.
109
JESUS, Nauk Maria de. O governo local na fronteira oeste: a rivalidade entre Cuiabá e Vila Bela no
século XVIII. Dourados: Ed. UFGD, 2011, p. 176.

62
grupo político dos liberais, pois estavam desejosos de que os mesmos assumissem o
poder local e com isso mudariam a situação a qual a da província estava relegada.
No mesmo sentido Galetti escreve que,

Em 1834 explode o movimento armado conhecido como Rusga ou


Rebelião Cuiabana, no qual se enfrentaram setores da classe dominan-
te local. De um lado, a elite tradicional que se constituíra durante o pe-
ríodo colonial, organizada no interior da Sociedade Filantrópica e, do
outro, o setor integrado por comerciantes cuiabanos e profissionais li-
berais. Organizados na Sociedade dos Zelosos da Independência, que
se dividiam, entretanto, em liberais exaltados e moderados. Apoia-
vam-se no discurso nativista contra a restauração e reivindicavam o
comando político da região. Os liberais exaltados viam na expulsão
dos adotivos, se necessário pela luta armada, a estratégia correta para
conseguir as transformações almejadas.110

Essa revolta está inserida, cronologicamente, entre a renúncia ao trono Imperial


do Brasil por Dom Pedro I e o golpe da maioridade que levou Dom Pedro II ao trono.
Nesse período, vinham ocorrendo revoltas armadas e violentas em várias províncias
brasileiras. A busca por melhores condições político-sociais era a tônica das reivindica-
ções da população e dos políticos locais, que buscavam através das revoltas, serem ou-
vidos e atendidos pelo governo central, Rio de Janeiro.
Passado o turbulento período e com a ascensão ao trono de D. Pedro II, o Im-
pério passa por uma consolidação do regime monárquico no Brasil. No entanto, a insti-
tuição do estado imperial tomara novos rumos após a Guerra contra o Paraguai. Por
motivos geopolíticos, Brasil e Paraguai entram litígio. Esse conflito trouxe consequên-
cias substanciais para a província de Mato Grosso.
Esse conflito já teria sido previsto pelo Presidente da província, Herculano Pe-
na, cinco anos antes do acontecido: “Em resumo estou convencido de que presentemen-
te uma guerra com o Paraguai na fronteira desta Província há de ser desastrosa para o
Império.”111 Certo do que poderia acontecer, antevê a possibilidade de uma retração
populacional, perda territorial, navegabilidade do rio Paraguai – acesso fluvial ao co-
mércio internacional - e alteração nas relações econômicas.

110
GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da
civilização. Cuiabá: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 2017-218.
111
CORRÊA FILHO, Virgílio. História de Mato Grosso. Coleção Memórias Históricas. Vol. 4. Várzea
Grande: Fundação Júlio Campos, 1994, p. 539.

63
A Guerra do Paraguai (1864-1870) se concretizou a partir de alguns fatos pon-
tuais no que tange aos acontecimentos relacionados ao percurso ‘natural’ da província
de Mato Grosso. Elencaremos alguns desses acontecimentos, em ordem cronológica:

 o aprisionamento do Vapor Marquês de Olinda, onde o Coronel Frederico Car-


neiro de Campos, recém nomeado governador da província de Mato Grosso, es-
tava a bordo, em direção a província para tomar posse, em 1864;
 a invasão da província de Mato Grosso pelos Paraguaios de uma forma avassa-
ladora, em 1865;
 a resistência militar dos poucos núcleos existentes nas fronteiras da província de
Mato Grosso;
 o desamparo do governo central para com a capitania de Mato Grosso;
 o socorro tardio por terra, por uma coluna de combatentes. Essa coluna ficou co-
nhecida pelo nome Retirada da Laguna (1867);
 o fim da Guerra (1870) e a remarcação das fronteiras entre o Brasil (Mato Gros-
so) e Paraguai.

A Retirada da Laguna foi um retrato da debilidade defensiva que o governo


central tinha quanto a uma resposta rápida ao guarnecimento das fronteiras do extremo
Oeste brasileiro. De acordo com Galetti:

Depois de escorraçada da fazenda Laguna, pelo exército paraguaio,


local onde esperava recompor as forças e receber armas para um com-
bate decisivo contra o inimigo, a Coluna é obrigada a voltar ao territó-
rio nacional, aos desertos da pátria, faminta e esfarrapada. A salvação
acaba vindo do sertanejo José Francisco Lopes, o Guia Lopes [...].112

Com o fim da Guerra, a demarcação das fronteiras e a liberação do rio Paraguai


para a navegação, a província de Mato Grosso teve acesso livre a importação e exporta-
ção de produtos para os países da foz do Prata e da Europa. É nesse contexto que, nasce
a Companhia Mate Laranjeira, cujo seu idealizador o comerciante Tomás Laranjeira, ao
percorrer a região do Baixo Paraguai (região sul do Mato Grosso) observou a existência

112
Idem, 2012, p. 244.

64
abundante de ervais nativos. Este requereu licença ao governador da província de Mato
Grosso no ano de 1878, para a exploração e cultivo de ervais em território brasileiro.
A Companhia Mate Laranjeira, segundo Elizabeth Madureira Siqueira,

[...] cujo capital era composto por diversos acionistas, tornou-se uma
grande exportadora de erva mate. No entanto no começo do século
XX, Tomás Laranjeira compra as ações do Banco Rio e Mato Grosso
e associa-se ao argentino Francisco Mendes e alteram a razão social da
empresa para Laranjeira Mendes & Companhia. Os vultuosos lucros
dessa companhia e o pagamento antecipado dos arrendamentos para o
Estado, - que quase sempre estava com os cofres vazios- forçava o es-
tado a conceder novamente os arrendamentos sem controle da produ-
ção da referida companhia. Em outras palavras o estado ficou depen-
dente financeiramente da Laranjeira Mendes & Companhia, isso só
mudaria em 1930 quando Getúlio Vargas implanta uma política de
controle fiscal eficiente em todo o território nacional.113

Como podemos notar, ao final do Império brasileiro e no começo do período


republicano, desenham-se dois pontos políticos econômicos no Estado de Mato Grosso,
na parte sul com fazendeiros e a Laranjeira Mendes & Companhia e mais ao norte a
elite política cuiabana.
A situação política no Estado de Mato Grosso é tensa na Primeira República
como aponta Osvaldo Zorzato,

No Mato Grosso, as duas situações mencionadas estão presentes de


forma bastante evidente. No que se refere às disputas pelo poder, elas
eclodem, sobretudo durante a chamada Primeira república, na forma
de confrontos violentos, que os historiadores locais denominam de
“revoluções”. No plano das desigualdades regionais, elas são percebi-
das pelo menos por uma parte da população local, que de algum modo
já se encontra articulada com os chamados centros civilizatórios do
país.114

A chamada Revolução de 1906 foi um conflito entre as oligarquias que termi-


nou com a morte do Presidente do Estado. Deste conflito surgiram indícios de movi-
mentos separatistas no sul do Estado, haja vista o descaso que os 'sulistas' sentiam em
relação à oligarquia nortista. A imagem dessa violência se propagava pelos outros Esta-

113
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais . Cuiabá:
Entrelinhas, 2002, p. 105.
114
ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: Considerações sobre a historiografia de Mato Grosso
(1904-1983). Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São Paulo. São Pa ulo, 1998, p. 15.

65
dos do Brasil ocasionando leituras de que Mato Grosso vivia em constantes disputas
internas e armadas, beirando à barbárie115 . Nesse contexto os dirigentes do Estado parti-
cipam de exposições internacionais e no Brasil levando Álbuns e panfletos com o obje-
tivo de melhorar a imagem do Estado no Brasil e no exterior.
O Álbum Gráfico de 1914 se tornou o mais conhecido instrumento de propa-
ganda de imagens de Mato Grosso.

Nesse ponto, é importante frisar que a urgência e a constância com


que os mato-grossenses passaram a considerar o espectro de uma iden-
tidade estigmatizada pela barbárie, com evidente preocupação a partir
das primeiras décadas deste século, não se deviam apenas ao mal-estar
cultural provocado pela consciência das distâncias de todo tipo que
separavam Mato Grosso da tão sonhada civilização. Este mal-estar
tampouco atingia do mesmo modo a todos os mato-grossenses letra-
dos. Um aspecto fundamental a ser considerado quanto a estas ques-
tões era a consciência de alguns deles – sobretudo os cuiabanos- do fa-
to de que tais distâncias começam a se tornar uma realidade no interior
do próprio estado. De acordo com essa percepção, o futuro de pro-
gresso - que viria com a chegada de ferrovias, imigração e capitais es-
trangeiros investindo na exploração dos recursos naturais, entre outros
– parecia comprometido, uma vez que estes elementos tendiam a se
concentrarem na região Sul do estado [...].116

A ferrovia foi um elemento importante para o desenvolvimento do Mato Gros-


so, porém esse processo concentrou-se na parte Sul do estado. Cuiabá ficou fora do eixo
da ferrovia, dificultando ainda mais a vida econômica daquelas paragens. Contribuindo
para o enfraquecimento da economia, podemos citar o declínio da produção açucareira,
da exportação do látex (borracha) dentre outros produtos.
Com as frequentes disputas violentas entre o “Partido Republicano Mato-
grossense (PRMG), comandado pelo coronel Pedro Celestino Corrêa da Costa, e o Par-
tido Republicano Conservador (PRC), chefiado pelo deputado federal Aníbal de Tole-
do”, Mato Grosso sofre intervenção federal em janeiro de 1917. A intervenção federal
levou os dois partidos a um acordo que se concretizou em outubro do mesmo ano com

115
Cf. CORREA, Valmir Batista. Coronéis e bandidos em Mato Grosso. Campo Grande: Ed. UFMS,
1995. FANAIA, João Edson de Arruda. Elites e práticas políticas em Mato Grosso na Primeira Repúbl i-
ca (1889 – 1930). Cuiabá: EdUFMT, 2010. WEINGARTNER, Alisolete Antônia dos Santos. Movimento
divisionista em Mato Grosso do Sul. Porto Alegre: Edições EST. 1995, dentre outros.
116
GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da
civilização. Cuiabá: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 311-312.

66
indicação do bispo de Cuiabá, D. Francisco de Aquino Corrêa, para presidência do Es-
tado.
De acordo com Galetti,

A indicação do bispo de Cuiabá, D. Francisco de Aquino Corrêa, para


presidente do Estado foi o ponto principal desse acordo, do qual cons-
tava, ainda, a escolha, por D. Aquino, de quatro deputados “neutros”,
a divisão igualitária entre os dois partidos das demais vagas da As-
sembleia Legislativa Estadual e dos dois deputados à Câmara Federal,
e a indicação pelo PRMG do candidato que deveria disputar o Senado
por Mato Grosso nas próximas eleições a serem realizadas.117

O acordo político entre os dois partidos não significou o fim da oposição. Em


vários momentos, durante o governo de D. Aquino, a sublevação de ânimo e a contesta-
ção se fez presente, requerendo do bispo uma diplomacia adequada a cada situação. A
postura de D. Aquino frente ao governo traria ao Estado uma busca de afirmação de
uma identidade mato-grossense. Sua administração e participação no Instituto Histórico
Geográfico de Mato Grosso (IGHMT) conjuntamente com um grupo de “intelectuais”,
promoveriam através do registro e divulgação das memórias do Estado, a busca de um
povo aguerrido na figura dos Bandeirantes e a comemoração do bicentenário da funda-
ção de Cuiabá serviu como um ponto ímpar para tal empreita.
Segundo Zorzato,

Com o advento da república, a exemplo do que ocorre em outras regi-


ões do país, a parcela dominante da população que emerge como força
política regionalizada, busca criar a sua própria memória, atrelando-a,
dentro do possível, à ideia de nação em formação. [...] A criação do
IHGMT surge no mesmo contexto dos eventos organizados em 1919,
por ocasião das comemorações do bicentenário da fundação de Cuia-
bá. Segundo o Presidente do Estado e também do Instituto, Bispo
Dom Francisco De Aquino Correia (1885-1956), a importância dessas
comemorações está no fato de que se vive um momento de crise: [...]
A ênfase no fato de “que somos um povo só, uma mesma família”, re-
força a necessidade da definição de uma identidade de um povo, cujo
“grandioso destino” precisa ser garantido. Reage-se, também, à pecha
do estigma da barbárie que externamente é veiculada.118

117
Idem, 2012, p. 323.
118
ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: Considerações sobre a historiografia de Mato Grosso
(1904-1983). Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São Paulo. São Pa ulo, 1998, p. 27-
28.

67
Face ao exposto, Osvaldo Zorzato buscou pontuar a construção de discursos do
período que resgatam a partir dos escritores dessa época, a memória da construção de
identidade e de unidade referente ao povo mato-grossense e que pode ser observada
quando o mesmo autor cita e comenta as obras de Estevão de Mendonça (1869-1949) a
seguir:

[...] Quadro Corográfico de Mato Grosso norteia em boa medida a


confecção do Álbum Gráfico de Mato Grosso, verdadeira certidão de
identidade dos mato-grossenses, transformando simbolicamente em
objeto cuja posse significa garantia de pertencimento ao povo mato-
grossense. Sua principal obra, contudo, é Datas Mato-Grossenses,
onde registra as “efemérides” da história local, pontos de apoio sobre
os quais se constrói a memória que se quer divulgada.119

Essas obras configuraram-se em divisores de água quanto à construção de uma


identidade Mato-grossense. Um grupo de intelectuais tomou a seus ombros a responsa-
bilidade de elaborar uma nova leitura sobre seus conterrâneos. Diferente dos escritos
dos cronistas, a nova proposta era de engrandecimento de Mato Grosso pela produção
de suas memórias seja ela política, econômica, cultural e social. Os responsáveis pelo
alavancamento desse projeto faziam parte do Instituto Histórico e Geográfico de Mato
Grosso (IHGMT). Os principais colaboradores do IHGMT foram:

Antônio Fernandes de Souza, Firmino Rodrigues, Filogônio de Paula


Corrêa, João Barbosa de Faria, Estevão de Mendonça, José Barnabé
de Mesquita e Virgílio Corrêa Filho. De todos eles, os três últimos
são, sem dúvida, os de maior expressão para a memória historiográfica
mato-grossense.120

Nesse contexto, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e a implantação do


Estado Novo, este presidente lança, em 1938, o projeto de colonização chamado “Mar-
cha para Oeste” e Cuiabá recebe, pela primeira vez, a visita de um presidente, o que
segundo Lylia da Silva Guedes Galetti reforçou o “discurso do IHMT sobre as origens
bandeirantes do mato-grossense e a singularidade de seu território como baluarte da
nação, ainda que isolada dela.”121 Esse discurso funciona como propaganda chamativa,

119
Idem, 1998, p. 29.
120
Idem, 1998, p. 28
121
GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da
civilização. Cuiabá: Entrelinhas; EdUFMT, 2012, p. 365.

68
visando à imigração para as “áreas vazias”, mas resguardando o pioneirismo dos cuia-
banos autênticos122 , autodenominados de chapa e cruz.123
A imigração voltará a ser um tema saliente em Mato Grosso durante a ditadura
124
militar (1964-1985). Através do projeto “Plano de Integração Nacional” (PIN) fez-se
uso de imagens e de discursos que mostravam a abundância e as riquezas naturais, ao
lado do vazio populacional, como justificativa para promover a colonização e trazer a
região o progresso, a modernização e o desenvolvimento. No período de vigência do
projeto, registrou-se intenso fluxo de imigrantes vindos do Sul, Nordeste e Sudeste do
país, chegando ao estado de Mato Grosso. Um dos problemas herdados desse projeto
político-econômico resultou no conflito agrário que persiste até o começo do século
XXI, com a morte de muitos trabalhadores rurais125 .
Ainda entre os anos da ditadura militar, observa-se a movimentação relativa à
divisão do Estado de Mato Grosso em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Como já
havíamos pontuado neste texto, a intencionalidade divisionista, existente desde fins do
século XIX126 , viria a se concretizar em 1977 oficialmente.
Segundo Marisa Bittar,

O separatismo, desde as suas primeiras manifestações no século XIX,


finalmente deparava-se com a conjuntura nacional propícia, uma vez
que a ideologia do desenvolvimento defendida pelo regime instaurado
em 1964, no aspecto da ocupação de áreas “desintegradas”, encontrou
respaldo no histórico regionalismo pela criação de uma unidade fede-

122
Segundo Nathália da Costa Amedi, em sua dissertação de mestrado, ao se reportar as origens do cuia-
bano –chapa e cruz- estaria atrelada aos “bravos paulistas”, que nessas paragens encontraram o rico metal
dourado e formaram a vila que se transformaria em cidade e capital de Mato Grosso . AMEDI, Nathália da
Costa. A invenção da capital eterna: discursos sensíveis sobre a modernização de Cuiabá no período pós -
divisão do estado de Mato Grosso (1977-1985). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Fede-
ral de Mato Grosso. Cuiabá, 2014, p. 23.
123
GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da
civilização. Cuiabá: Entrelinhas; EdUFMT, 2012, p. 368.
124
O Plano de Integração Nacional, lançado em 1970 pelo governo Militar objetivando minimizar os
conflitos ocorridos nas diversas regiões brasileiras, planejou a abertura da Amazônia Legal, desencadea n-
do um vigoroso processo migratório na direção Oeste e Norte do Brasil. Abertura de grandes rodovias
interligando o Centro-Oeste à Amazônia, a exemplo da rodovia Transamazônica e da BR-163, “[...] O
projeto governamental objetivava, também, possibilitar a entrada de empresas particulares do ramo, capa-
zes de atrair maior volume de colonos”. SIQUEIRA, E. M. História de Mato Grosso: da ancestralidade
aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002, p. 236.
125
Cf. HARRES, Marluza Marques; NETO, Vitale Joanoni. (org.). História, terra e trabalho em Mato
Grosso: ensaios teóricos e resultados de pesquisas. São Leopoldo: Oikos; Unis inos; Cuiabá: EdUFMT,
2009.
126
Cf. Cronologia do processo histórico da divisão de Mato Grosso. SIQUEIRA, 2002, p. 209.

69
rativa no sul de Mato Grosso. Inclusive o fato de o país estar submeti-
do a uma ditadura facilitou os intentos estratégicos de Geisel, [...].127

A característica populacional da região, ao lado das intensas disputas políticas,


forneceram subsídios suficientes para a implantação da política de Integração Nacional.
O que pode ser visto é que não houve participação da população, em movimentos rei-
vindicatórios, tão pouco a elite Mato-Grossense do Sul foi responsável pela criação do
Estado de Mato Grosso do Sul, mas sim uma questão geopolítica que se desenhou du-
rante a ditadura militar.
Ainda de acordo com Marisa Bittar:

Decidida nos altos escalões do Exército e na Presidência da Repúbli-


ca, o ministro do Interior encarregou, então, a Superintendência do
Desenvolvimento do Centro–Oeste (SUDECO) de efetivar as medidas
para a divisão e esta, por sua vez, solicitou assessoria “a quatro pesso-
as de expressão de Campo Grande” Paulo Coelho Machado, Kerman
Machado, Cândido Rondon e José Fragelli, que procederam a minuci-
oso levantamento sobre a situação socioeconômica de Mato Grosso,
enfrentando, segundo Paulo Coelho Machado, a resistência do gover-
nador José Garcia Neto que “não dava qualquer informação”. Ainda
de acordo com ele, esse trabalho, que durou três meses, foi grande e
realizado também em “sigilo absoluto.”128

Como podemos notar, houve um mal estar entre a elite do sul e do norte de
Mato Grosso. Conhecedor desse desconforto político, Paulo Coelho Machado reativa a
Liga Sul-Mato-Grossense, desativada desde 1934, para dar apoio à política do governo
militar. Buscando instigar o processo de divisão do estado de Mato Grosso, a Liga se
utilizava de provocações aos cuiabanos para que eles reagissem, criando falsos atritos
que eram levados ao presidente Geisel para convencê-lo pela divisão do estado.

127
BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul, a construção de um estado, volume I: regionalismo e divisio-
nismo no sul de Mato Grosso. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009, p. 299.
128
Idem, 2009, p. 305.

70
[2.1.2] A Divisão do Estado de Mato Grosso

A divisão do estado, longe de ser mérito político do Sul ou do Movimento Di-


visionista, foram antes, “diversos fatores levaram a divisão”129 , dentre eles o Plano de
Integração Nacional (PIN) do governo da Ditadura Militar.
De acordo com Pierre Bourdieu:

A reivindicação regionalista, por muito longínqua que pareça deste


nacionalismo sem território, é também uma resposta à estigmatização
que produz o território de que, aparentemente, ela é produto. E, de fac-
to, se a região não existisse como espaço estigmatizado, como <<pro-
víncia>> definida pela distância econômica e social (e não geográfica)
em relação ao <<centro>>, quer dizer, pela privação do capital (mate-
rial e simbólico) que a capital concentra, não teria que reivindicar a
existência130 .

Face ao exposto, e como já elencado anteriormente a reivindicação de divisão


do Estado de Mato Grosso é oriunda das lutas entre a elite do sul e a elite nortista. Des-
de o fim do século XIX e começo do século XX, mais especificamente 1932 quando o
Sul do estado de Mato Grosso luta ao lado de São Paulo na Revolução Constitucionalis-
ta. Esse apoio a São Paulo deixou explícito as diferenças e as intenções políticas do Sul.
No entanto, o norte acolhe o interventor calorosamente mostrando, desse modo, apoia a
Getúlio Vargas. Porém, esses acontecimentos tornaram-se elementos significativos para
uma avaliação positiva à divisão do estado de Mato Grosso por parte dos estudos feitos
pela equipe governamental.
A divisão do Estado, segundo Elizabeth Madureira Siqueira131 e em conformi-
dade com Marisa Bittar132 (2009), surpreendeu o povo e uma grande parcela de políti-
cos, quanto à decisão de Ernesto Geisel, em sancionar a divisão do Estado. Bittar acres-
centa que, “concluídos os estudos pela equipe governamental, e votado o projeto de Lei,

129
Cf.: AMEDI, Nathália da Costa. A invenção da capital eterna: discursos sensíveis sobre a moderniza-
ção de Cuiabá no período pós-divisão do estado de Mato Grosso (1977-1985). Dissertação (Mestrado em
História). Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá, 2014, p. 82.
130
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 4. ed. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2001, p.126.
131
Cf. SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais .
Cuiabá: Entrelinhas, 2002.
132
Cf. BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul, a construção de um estado , volume I: regionalismo e divi-
sionismo no sul de Mato Grosso. Campo Grande: Ed. UFMS, 2009.

71
em setembro de 1977, pelo Congresso Nacional, o presidente Geisel sancionou, no dia
11 de outubro de 1977, a Lei Complementar n. 31 que criou Mato Grosso do Sul.”133
Sancionada a criação do Estado, dava-se como necessário o momento de insta-
lação do governo local. Os políticos sul-mato-grossenses começaram a articulação em
torno do nome que iria ocupar o cargo de governador e em 01 de Janeiro de 1979 insta-
lava-se o primeiro governo do Estado, nomeado pelo então presidente Ernesto Geisel,
Harry Amorim Costa.
O Estado de Mato Grosso do Sul compõe-se, no ato de sua criação, de 55 mu-
nicípios, com uma densidade demográfica 2,85 habitantes por quilômetros quadrados.
Segundo dados de 1970, a população Sul-Mato-Grossense era de um milhão de habitan-
tes sendo que a maioria residia na zona rural 547.000 e na zona urbana 453.000. Seu
território perfazia 350.549 quilômetros quadrados134 .
Após a divisão em 1977, o “Estado de Mato Grosso passa a ter 38 municípios e
135
uma área de 901.420 quilômetros quadrados.” Sua densidade demográfica é de 0,68
habitantes por quilômetro quadrado, com ocorrência de grandes áreas de mata virgem a
ser explorada, o que demandavam, por parte do poder público, grandes somas de inves-
timentos na infraestrutura para garantir a fixação e abertura dessas áreas, diferente da
parte sul que quase na sua totalidade já estava povoada.
Essa diferença entre o sul e o norte do Estado de Mato Grosso, pode ser notada
historicamente pelas características de ocupação do espaço geográfico dessa região. De
acordo com Jovam Vilela da Silva, a parte centro-norte, ainda no século XVIII, foi po-
voada por bandeirantes em consequência da descoberta de ouro. Paralelamente se de-
senvolveu a agropecuária de subsistência pelo vale do rio Cuiabá. No entanto, ao exau-
rir o ouro e mesmo havendo na região o estímulo para o desenvolvimento da agricultu-
ra, muitos migrantes retornaram para o seus lugares de origem, ocorrendo um êxodo
significativo do contingente populacional da região.
Já a parte Sul dessa região, pela proximidade com São Paulo e Paraná e tendo
como meio de escoamento da produção os rios Paraná e Paraguai e, mais tarde, a Estra-
da de Ferro Noroeste Brasil, teve sua ocupação oportunizada e estímulo ao desenvolvi-

133
Idem, 2009, p. 315.
134
Idem, 2009, p. 352.
135
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais . Cuiabá:
Entrelinhas, 2002, p. 211.

72
mento da produção agropecuária, com a criação de gado no pantanal, que a baixo custo
era exportado, tendo acesso ao oceano Atlântico pelo estuário do Prata136 .
Face ao exposto, a divisão do Estado de Mato Grosso em 1977, em Mato Gros-
so e Mato Grosso do Sul trouxe à tona as necessidades de investimentos pelo governo
federal nesses dois Estados confederados137 . Mesmo dividido para melhor administrar, o
governo federal teve que dar condições de estruturas básicas como a abertura de rodovi-
as, melhoria dos portos e financiamento para o desenvolvimento e coloniza-
ção/ocupação dos espaços vazios nessas regiões. Esses projetos que se desenvolveram
após a divisão, principalmente na parte norte do Estado de Mato Grosso, foram tensos e
violentos quanto à questão agrária, até no começo do século XXI. Nos últimos anos essa
região se tornou grande produtora de grão e de gado o que vem atraindo interesses das
indústrias e do comércio.
Em síntese, buscaram-se apresentar o cenário histórico do território mato-
grossense reforçando o interesse em perceber quais desses aspectos são registrados na
história que se pretende ensinar nos livros didáticos adotados no Estado. Cumpre ressal-
tar que, embora tenhamos estabelecido parâmetros da História Regional (Sul) Mato-
Grossense como elementos da historiografia destacados para realizar as análises que se
pretendem, temos a clareza de realizar o esforço de não incorrer no que alerta Hobs-
bawm: "O perigo reside na tentação de isolar a história de uma parte da humanidade - a
do próprio historiador, por nascimento ou escolha - de seu contexto mais amplo.”138
Esse mesmo autor, em outro momento reitera a preocupação:

Os historiadores, conquanto microcósmicos, devem se posicionar em


favor do universalismo, não por fidelidade a um ideal ao qual muitos
de nós permanecemos vinculados, mas porque essa é a condição ne-
cessária para o entendimento da história da humanidade, inclusive de
qualquer fração específica da humanidade. Pois todas as coletividades

136
Cf. SILVA, Jovam Vilela da. A divisão do Estado de Mato Grosso: (uma visão histórica – 1892-
1977). Cuiabá: EdUFMT, 1996, p. 203
137
Segundo a análise de Nathália da Costa Amedi: “[...] Defendemos que a divisão foi boa para os dois
Estados, principalmente, para Mato Grosso que, a partir de 1979, foi amparado com fortes investimentos
do governo federal, estimuladores da migração e abertura de estradas e cidades. O norte, neste caso, como
que se libertou do sul, embora não sem mágoas, em decorrência de acusações e revanchismos. O sul, até
então mais rico e com a maior receita, continuaria tendo os investimentos que já tinha, agora sem precisar
dividi-los com a região norte”. AMEDI, Nathália da Costa. A invenção da capital eterna: discursos sensí-
veis sobre a modernização de Cuiabá no período pós -divisão do estado de Mato Grosso (1977-1985).
Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2014, p. 77.
138
HOBSBAWM, Eric J. Sobre História: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 291.

73
humanas são e foram parte de um mundo mais amplo e mais comple-
xo.139

Desse modo, as análises que seguem não tem a pretensão de hierarquizar posi-
ções. Ao contrário busca identificar aspectos da História regional, inseridas no processo
de constituição da história nacional.

[2.2] A História regional a partir das coleções de ensino: mapeamento e localização


em Mato Grosso do Sul

Como já apresentado no primeiro capítulo, a escolha dos livros didáticos que


integram o ensino das disciplinas escolares a que se destinam ocorre a cada três anos,
conforme normativas estabelecidas pelo MEC, através do PNLD. Esta parte é resultado
do mapeamento realizado com base em informações obtidas na Secretaria de Educação
do Estado de Mato Grosso do Sul (SED-MS), no que se refere aos processos finais de
escolha e indicação dos livros didáticos para o ensino de História nos anos finais do
Ensino Fundamental. Por se tratar de um trabalho, em primeira instância, extremamente
estatístico, partimos do princípio conceitual fornecido pelo aporte da perspectiva da
história quantitativa, por entender que a história também se faz com números.
O Estado de Mato Grosso do Sul possui, atualmente, 79 municípios, os quais
somam um total de 334 escolas que pertencem à rede pública estadual de ensino, aten-
dendo ao Ensino Fundamental (anos finais) de 6º ao 9º ano. A SED-MS é o órgão res-
ponsável pela administração e regulamentação da Educação Básica do Estado de Mato
Grosso do Sul. Devido ao alto grau de responsabilidade que passa por esse setor da edu-
cação estadual, tornou-se local de pesquisa por meio do qual obtivemos informações
iniciais e essenciais sobre o processo de levantamento quantitativo em relação às fontes
das quais se servem este trabalho.
Para obter as informações sobre as coleções de livros didáticos adotados pelo
Estado de Mato Grosso do Sul, no ano de 2011, nos dirigimos à SED-MS no departa-
mento de Coordenadoria de Tecnologia Educacional (COTEC), onde fomos orientados
para captarmos informações que perfazem a constituição do banco de dados do Sistema

139
Idem, 1998, p. 292.

74
do Material Didático (SIMAD)140 . Este sistema congrega informações de todas as esco-
las que aderiram ao PNLD. Dentre essas informações, encontra-se a listagem de escolas
que aderiram ao PNLD, o registro da escolha do livro didático por disciplina e anos,
dentre outras. Através do banco de dados do SIMAD, podemos mapear todas as escolas
da rede pública de ensino do Brasil, em funcionamento nos Estados e municípios.
O trabalho de busca e mapeamento das coleções foi realizado a partir da trans-
posição integral dos dados do SIMAD para um banco de dados elaborado para registrar
as coleções adotadas no Estado, entre os anos de 2008 e 2011. A partir do instrumento
de pesquisa derivado desse exercício técnico metodológico, foi feito, dos 79 municípios,
o mapeamento, a seleção das escolas e análises preliminares com vistas a perceber e
identificar as coleções que tiveram maior entrada e abrangência no Estado.
A compilação dos dados resultou em diversos quadros e gráficos que ajudaram
nos procedimentos de análise, tonalizando qualitativamente a pesquisa. De acordo com
Uwe Flick:

Nesse contexto, a redação adquire relevância na pesquisa qualitativa


sob três aspectos: para a apresentação das descobertas de um projeto;
como base para avaliar os procedimentos que levaram a essas desco-
bertas, e, dessa forma, aos resultados propriamente ditos; e, por últi-
mo, como ponto de partida para considerações reflexivas sobre a con-
dição geral da pesquisa como um todo141 .

Face ao exposto, a interpretação dos dados torna-se um fator decisivo na esco-


lha dos enunciados quanto a base do material empírico, ou seja, os quadros e os gráficos
são fundamentais para elaboração de uma análise qualitativa, já que os mesmo possibili-
tam a verificar as hipóteses levantadas no princípio da pesquisa.
O quadro 4 refere-se à escolha do livro didático de História no PNLD 2008,
feita pelas escolas e professores da rede pública do Estado de Mato Grosso do Sul. Re-
sulta do mapeamento do processo de escolha em 339 escolas que aderiram ao PNLD
daquele ano, situando-se no momento de transição do Ensino Fundamental para nove
anos. Foram considerados os títulos do 5/6 a 8/9 série/ano do Ensino Fundamental sé-
rie/anos finais.

140
O banco de dados encontra-se disponível em http://www.fnde.gov.br - Link: para consulta à Distribui-
ção de Livros. Acessado em 3 de março de 2014.
141
FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Trad. Sandra Netz. - 2. ed. – Porto Alegre:
Bookman, 2004. p. 247.

75
Quadro 4 – Coleções aprovadas para o PNLD de 2008 em escolas da rede pública de ens i-
no de Mato Grosso do Sul
Título da Autor (es) Editora Classificação Coleções ado-
Coleção de conteúdo tadas em 2008,
por escolas.
Série Link no Denise Mattos Mariano; Léo Edições Esca- História Te- 00
tempo Stampacchio la Educacional mática
História por eixos Antônio Pedro Editora FTD História Te- 00
Temáticos Lizânias de Souza Lima mática
História Temática Andréa Rodrigues Dias Mon- Editora Scipi- História Te- 01
tellato one mática
Conceição Aparecida Cabrini
Roberto Catelli Jr.
Historiar: fazen- Dora Schmidt Editora Scipi- História Te- 00
do, contando e one mática
narrando a Histó-
ria
Por dentro da Célia Regina Cerqueira Vicen- Edições Esca- História Inte- 02
História tino la Educacional grada
Maria Aparecida Cosomano
Cotrim
Pedro Santiago
História em Proje- Andréa Paula Editora Ática História Inte- 13
tos Carla Miucci Ferraresi grada
Conceição de Oliveira
Projeto Araribá – Não consta identificação de Editora Mo- História Inte- 175
História autores derna grada
História – Das Myrian Becho Mota Editora Mo- História Inte- 30
cavernas ao ter- Patrícia Ramos Braick derna grada
ceiro Milênio
Diálogos com a Kátia Corrêia Peixoto Alves Editora Positi- História Inte- 01
História Regina Célia de Moura Gomi- vo grada
de Belisário
Navegando pela Maria Luíza Vaz Quinteto Edi- História Inte- 00
História Silvia Panazzo torial grada
História: concei- Eliete Toledo Saraiva Li- História Inte- 01
tos e procedimen- Ricardo Dreguer vreitos e Edi- grada
tos tores
História e Vida Claudino Piletti Editora Ática História Inter- 28
Integrada Nelson Piletti calada
História Hoje Oldimar Pontes Cardoso Editora Ática História Inter- 03
calada
História em Do- Joelza Ester Rodrigue Editora FTD História Inter- 05
cumento: imagem calada
e texto
História, Socieda- Alfredo Boulos Junior Editora FTD História Inter- 20
de & Cidadania calada
Encontros com a Carla Maria Junho Anastasia Editora Positi- História Inter- 11
História Vanise Maria Ribeiro vo calada
Construindo Leonel Itaussu de Almeida Editora Scipi- História Inter- 05
Consciências – Mello one calada
História Luís César Amad Costa
Saber e fazer Gilberto Cotrim Saraiva Li- História Inter- 43
História vreiros Edito- calada
res

76
Descobrindo a Sônia Maria Mozer Editora Ática História Con- 01
História Vera Lucia Pereira Telles vencional
Nunes
Fonte: PNLD 2008 – História.
Elaborado por DEBONA, Jackson James. 2013.

O quadro possibilita diferentes leituras e formas de abordagens sobre o objeto


de estudo/fonte livro didático de História, porém, em primeira análise podemos notar
que das 19 (dezenove) coleções aprovadas pelo MEC, 15 delas foram adotadas mini-
mamente pelas escolas do Estado de Mato Grosso do Sul, haja vista que certas coleções
foram requisitadas por apenas uma ou mais escolas.
Tamanha quantidade de coleções, mas quanto à variedade metodológica, po-
dem ser percebida três em 2008: a Convencional, a Temática e a Intercalada/Integrada.
Quanto à concepção de história podem ser visualizados dois blocos a seguir, Convenci-
onal/Intercalada/Integrada e o outro bloco somente a Temática, que em 2011 permanece
como uma alternativa, frente ao bloco da Integrada. No entanto, essa demanda necessita
de um estudo mais aprofundado, ainda que se leve em consideração a possibilida-
de/liberdade de escolha por parte dos professores. O processo de escolha dos títulos
parece não levar em consideração os conhecimentos teórico/metodológicos dos profes-
sores142 e do perfil de seus alunos, apontando para um norte complexo, quando compa-
rado ao quadro síntese do Guia de Livros Didáticos PNLD 2008 143 de História. O qua-
dro apresenta a relação das coleções, seguida dos critérios de avaliação e a menção re-
cebida pela coleção. No caso daquelas adotadas em Mato Grosso do Sul, em alguns ou
na maioria dos critérios, boa parte das coleções alcançaram a menção “Suficiente”, que
representa um dos desempenhos mais baixos nos critérios de avaliação.
Outro aspecto que nos chamou atenção foi à adesão maciça em alguns municí-
pios, a uma única coleção. Essa postura também é passível de um exame mais atento
aos critérios adotados pelos professores, pois indica a possibilidade de haver a influên-

142
Segundo Rita de Cássia Gonçalves Pacheco dos Santos, “Entendendo -se que o professor também é
sujeito histórico, é possível afirmar que as ideias do professor sobre o passado, além de serem influencia-
das por fatores externos [...] também sofrem influências e interferências advindas de sua formação, de seu
trabalho cotidiano e da interação com os alunos e com o ambiente escolar”. SANTOS, Rita de Cássia
Gonçalves Pacheco. A significância do passado para professores de História. Tese (Doutorado em Edu-
cação). Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2013, p. 58-59.
143
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos
PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007, p. 15.

77
cia das editoras, via seus escritórios regionais e representantes, o que foge à regra dos
acordos éticos e comprometimento com a educação e o ensino de História.
Uma segunda hipótese para essa adesão maciça pode estar relacionada a orien-
tações indiretas das Secretarias de Educação 144 aos professores para escolherem a mes-
ma coleção, pensando na alta incidência de transferência de alunos entre escolas do
mesmo município.
Com base no extrato geral apresentado no quadro 4, estreitamos a análise bus-
cando visualizar cinco coleções, que em termos percentuais se diferenciaram na adesão
das escolas do Estado no PNLD de 2008. O quadro que segue evidencia essa elabora-
ção:

Quadro 5. – Demonstrativo das cinco coleções de Livro Didático mais adotadas pelas Esco-
las do Mato Grosso do Sul no PNLD de 2008.
Título da Autores Editora Classificação Nº de % total de esco-
Coleção de conteúdo escolas las que adota-
ram a coleção
Projeto Araribá Não consta iden- Editora História Integrada 175 50,72%
– História tificação de Moderna
autores
Saber e fazer Gilberto Cotrim Saraiva História Interca- 43 12,46%
História Livreiros lada
Editores
História – Das Myrian Becho Editora História Integrada 30 8,69%
cavernas ao Mota Moderna
terceiro Milênio Patrícia Ramos
Braick
História e Vida Claudino Piletti Editora História Interca- 28 8,11%
Integrada Nelson Piletti Ática lada
História, Socie- Alfredo Boulos Editora História Interca- 20 5,79%
dade & Cidada- Junior FTD lada
nia
Fonte: Fonte: PNLD 2008 – História.
Elaborado por DEBONA, Jackson James. 2013.

O quadro 5 nos permite visualizar as cinco coleções mais adotadas pelas esco-
las públicas do estado de Mato Grosso do Sul. Sendo possível observar que três das co-
leções fazem parte do bloco classificatório “História Intercalada” e as outras duas do
bloco a “História Integrada”. De acordo com o Guia de Livros Didáticos de História de

144
Cf. Entrevista concedida por Holien Gonçalves Bezerra GOMES, Angela de Castro e LUCA, Tania
Regina de. Entrevista de Holien Gonçalves Bezerra. Revista História Hoje. São Paulo, vol. 2, n. 4, 2013,
p. 177-210.

78
2008, as características de tratamento da História nas coleções que congregam o primei-
ro blocos são assim descritas:

O conjunto de obras que trabalha com a História Intercalada ordena a


História do Brasil e da América junto com a História Geral, normal-
mente em ordem cronológica crescente, mas os conteúdos não são re-
lacionados entre essas histórias; apenas os assuntos são alternados nos
espaços em que ocorrem, isto é, nas sociedades, conforme a sequência
temporal.145

Quanto às coleções que se inserem no bloco História Integrada:

O tratamento proposto pelas coleções que adotaram a História Inte-


grada oferece concomitantemente a História do Brasil, a da América e
a da História Geral, podendo seguir ou não a ordem cronológica do es-
tabelecimento das sociedades. Contudo, para que haja integração des-
sas histórias, é imprescindível que se estabeleçam relações contextua-
lizadas entre os conteúdos tratados, considerando a simultaneidade
dos acontecimentos no tempo e no espaço. 146

As diferenças significativas entre esses dois blocos residem no tratamento tem-


poral e espacial entre as sociedades no que tange ao integrar os conteúdos em uma di-
mensão contextualizada, ou de privilegiar o tratamento separado dessas sociedades
apoiado no aspecto cronológico. Desse modo podemos perceber que na metodologia de
apresentação de conteúdos dos dois blocos há variantes, porém se igualam quanto à
concepção histórica, que, diga-se de passagem, é eurocêntrica e quadripartite.147
Referente ao enquadramento nos critérios de avaliação, as cinco coleções, em
alguns critérios, foram avaliadas com a menção “suficiente” e uma das coleções, no
quesito de editoração e aspectos visuais foi reprovada, porém isso não invalidou o bom
desempenho nos outros, não implicando na sua reprovação. Outro aspecto que deve ser
levado em conta é que das cinco coleções mais escolhidas pelos professores nenhuma
delas foi produzida no Estado Mato Grosso do Sul, tanto no que se refere ao aspecto
editorial (materialidade), sendo veiculadas majoritariamente por editoras sediadas no
145
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Guia de. Livros didáticos
PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007, p. 10.
146
Idem, 2007, p. 10.
147
Segundo Jean Chesneaux, “O quadripartismo ainda dificulta o estudo dos fenômenos específico no
tempo longo: a comunidade rústica, a utopia, a guerra não -convencional e os marginais. E, finalmente,
chega-se a uma verdadeira doutrinação. Um historiador acaba por se convencer de que só é competente
nas sacrossantas categorias de base: será proibida toda reflexão geral e comparada”. CHESNEAUX, Jean.
Devemos fazer tabula rasa do passado? Sobre a História e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995.

79
Estado de São Paulo, quanto autoral, observado na procedência acadêmica dos autores
dos livros didáticos na sua maioria proveniente do Estado de São Paulo.
Ainda no aspecto que tange as editoras, Tatiana Feitosa de Britto aborda sobre
dados significativos que estão ligados a aquisição de livros didáticos e o mercado edito-
rial.148 A indústria dos didáticos é vultosa que chega a dominar 54% da indústria nacio-
nal. Ainda podem ser notada a presença ou parcerias com o MEC desde o início do pro-
grama a editora Ática, Brasil, IBEP, FTD, Nacional, Saraiva e Scipione, e mais recen-
temente a editora Moderna que passou a fazer parte dessa fatia de mercado.
Outro ponto abordado pela autora é a nova conjuntura das editoras no Brasil,
que passaram de concentração familiar a grande oligopólio. Fruto desse contexto de
mercado, o FNDE acaba concentrando as compras de livros didáticos nesses grupos de
editoras. Exemplo dessa nova estratégia de mercado pode ser visto com a Editora Abril,
que controla a Ática, a Scipione e a Fundação Victor Civita; a Santillana, que controla a
Moderna e a Objetiva; a IBEP, comprou a Nacional; a FTD, que comprou a Quinteto e a
Ediouro, que comprou a Nova Fronteira e a Geração Editorial. Nessa perspectiva de
mercado, além da concentração, emerge a complicada negociação entre o FNDE e as
editoras. Em citação de nota de rodapé a autora elenca um estudo de Soares, de 2007
onde mostra que entre os anos de 1994 e 2005, o preço do livro didático adquirido pelo
FNDE tinha subido 217%.149
A variedade de coleções escolhidas pelas escolas públicas do Mato Grosso do
Sul indicam que adotam concepções distintas150 para o ensino de história, o que não é
uma característica negativa. No entanto, nenhuma delas ao menos no que se refere à
escolha do material didático privilegia as discussões relativas à história regional.
Ao observarmos a avaliação das coleções apresentadas, notaremos a maior in-
cidência de coleções que receberam menções, “Suficiente” e “Bom”, porém a coleção
que recebeu avaliação “Ótima” aparece com um percentual de escolha pouco expressi-

148
O quadro no anexo III evidencia a fala de Tatiana Feitosa de Britto quanto ao volume de produção de
didáticos e os valores pagos por livro didático pelo MEC, no ano de PNLD de 2011.
149
BRITTO, Tatiana Feitosa de. O Livro Didático, o Mercado Editorial e os Sistemas de Ensino Apost i-
lado. Junho/2011. http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos -legislativos/tipos-de-estudos/textos-
para-discussao/td-92-o-livro-didatico-o-mercado-editorial-e-os-sistemas-de-ensino-apostilados. Acessado
em 19 de janeiro de 2015.
150
Forçosamente tenho que elencar “diversidades de concepções histórica” nas escolhas das coleções do
PNLD 2008 por se verificar no mapeamento feito no Estado de Mato Grosso, a existência de uma adesão
à coleção História Temática, dos autores André Rodrigues Dias Montelho, Conceição Aparecida Cabrini
e Roberto Catelli Jr.

80
vo, em apenas 3,76% das escolas da rede pública do Estado de Mato Grosso Sul foram
utilizadas.
Buscando observar as permanências e rupturas no processo de escolha e ado-
ção dos livros didáticos no Estado de Mato Grosso do Sul, realizamos o mesmo exercí-
cio de sistematização de dados com as coleções recomendadas pelo PNLD de 2011,
conforme demonstrado no quadro que segue.

Quadro 6 - Coleções aprovadas para o PNLD de 2011 em escolas da rede pública de ensino
de Mato Grosso do Sul
Título da Autor(es) Editora Coleções Porcentagem
Coleção adotadas das Coleções
em 2011, adotadas pelas
por escolas. escolas do MS
Para viver juntos histó- Débora Yumi Motooka Edições 04 1,19%
ria Ana Lucia Lana Nemi SM Ltda
Muryatan Barbosa
Anderson Roberti dos Reis
História e vida integra- Nelson Piletti Ática S/A 22 6,58%
da Claudino Piletti
Thiago Tremonte de Lemos
História em projetos Carla Miucci Ferraresi Ática S/A 00 0%
Andrea Paula
Conceição Oliveira
Tudo é história Oldimar Pontes Cardoso Ática S/A 00 0%
História em documento Joelza Ester Domingues FTD S/A 04 1,19%
imagem e texto
História sociedade & Alfredo Boulos Júnior FTD S/A 61 18,26%
cidadania- nova edição
Navegando pela história Silvia Panazzo FTD S/A 00 0%
– nova edição. Maria Luísa Vaz
Vontade de saber histó- Marco Pellegrini FTD S/A 12 3,59%
ria Adriana Machado Dias
Keila Grinberg
História- das cavernas Patrícia Ramos Braick Moderna 52 15,56%
ao terceiro milenio Myriam Becho Mota S/A
Projeto araribá - histó- Maria Raquel Apolinário Moderna 118 35,32%
ria S/A
História Leonel Itaussu de Almeida Scipione 01 0,29%
Mello S/A
Luis César Amad Costa
História temática Conceição Aparecida Cabrini Scipione 04 1,19%
Roberto Catelli Júnior S/A
Andrea Rodrigues Dias Mon-
tellato
Projeto radix- história Cláudio Roberto Vicentino Scipione 33 9,88%
S/A
Novo história conceitos Ricardo Dreguer Saraiva 02 0,59%
e procedimentos Eliete Toledo Livreiros
Editores
Para entender história Divalte Garcia Figueira Saraiva 03 0,89%
João Tristan Vargas Livreiros

81
Editores
Saber e fazer história – Gilberto Cotrim Saraiva 18 5,38%
História Geral e do Jaime Rodrigues Livreiros
Brasil Editores
Fonte: PNLD 2011 – História. Compilado por DEBONA, Jackson James. 2013.

O quadro 6 está baseado nas escolhas das 334 escolas estaduais de Mato Gros-
so do Sul que possuem o Ensino Fundamental de nove anos, perfazendo do 6º ao 9º.
Em relação à quantidade de coleções que entraram no Estado de Mato Grosso
do Sul entre o PNLD de 2008 e o PNLD de 2011, podemos notar um número menor de
coleções aprovadas. Observou-se ainda que os percentuais relativos às coleções mais
adotadas no Estado apresentaram-se, mas equilibrados que o PNLD de 2008, quando
neste se verificou que a coleção “Projeto Araribá – História” dominou 50,72% da prefe-
rência das escolas estaduais, caindo para 35,32% em 2011. Esses dados podem ser ob-
servados nas duas tabelas que tratam as cinco coleções mais adotadas pelas escolas pú-
blicas do Estado de Mato Grosso do Sul nos PNLD’s de 2008 e 2011.
A seguir apresentamos a compilação dos dados referentes às cinco coleções de
História mais utilizadas no PNLD de 2011 nas escolas estaduais dos anos finais do En-
sino Fundamental de Mato Grosso do Sul.

Quadro 7 - Demonstrativo das cinco coleções de Livro Didático mais adotado pelas Escolas
do Mato Grosso do Sul no PNLD de 2011, p. 106.
Quantidade Título da Co- Autor(es) Editora Nº de Escolas Porcentagem
de Coleções leção Estaduais do das Coleções
PNLD 2011 MS que ado- adotadas pelas
História taram as cole- escolas do MS
ções de 2011
01 Projeto araribá Maria Raquel Moderna 118 35,32%
– história Apolinário S/A
02 História socie- Alfredo Boulos FTD S/A 61 18,26%
dade & cidada- Júnior
nia- nova edi-
ção
03 História- das Patrícia Ramos Moderna 52 15,56%
cavernas ao Braick S/A
terceiro milenio Myriam Becho
Mota
04 Projeto radix- Cláudio Roberto Scipione S/A 33 9,88%
história Vicentino
05 História e vida Nelson Piletti Ática S/A 22 6,58%
integrada Claudino Piletti
Thiago Tremon-
te de Lemos
Fonte: PNLD 2011 – História. Compilado por DEBONA, Jackson James. 2013.

82
Na escolha do PNLD de História de 2011, uma nova coleção teve destaque
quanto sua aprovação e aceitação no Estado Mato Grosso do Sul. A coleção "Projeto
Radix – História" despontou com um percentual significativo, ocupando a quarta posi-
ção nas preferências do professorado das escolas estaduais. As outras quatro coleções
são as mesmas que estiveram entre as cinco mais bem aceitas no PNLD de 2008, a dife-
rença é que algumas, como pode ser observado nos quadros 2 e 4, mudaram em percen-
tuais de preferência pelas escolas.
Quanto à autoria das coleções integrantes do PNLD de 2011, podemos verificar
novos autores inserindo-se no cenário da produção dos livros didáticos. A coleção “His-
tória e vida integrada” inclui Tiago Tremonte de Lemos no conjunto de autores; A cole-
ção "Projeto Araribá – História" a autoria é de Maria Raquel Apolinário. Ressalte-se
que esta coleção, no PNLD de 2008, não trazia indicativos de autores e sim se apresen-
tava como obra coletiva: “Organizadora: Editora Moderna. Obra coletiva concebida,
desenvolvida e produzida pela Editora Moderna.”151
Outro ponto importante de ser observado refere-se ao rol de editoras que parti-
ciparam do edital de seleção das obras. O rol é composto por Editoras que se mantém,
predominantemente, no mercado editorial de coleções dos livros didáticos. Ao compa-
rarmos os quadros 2 e 4 podemos notar a permanência de três Editoras: Moderna S/A,
Ática S/A e a FTD S/A, sendo que a Editora Moderna S/A se mantém com duas cole-
ções nos dois quadros dos PNLD de 2008 e 2011. Esses dados tornam-se relevantes,
pois possibilitam mapear o perfil ou política editorial da Editora visando à aceitação e
dos projetos de autores franquiados de livros didáticos de História.
A título de análise preliminar quanto à autoria e editoração, o quadro acima
fornece indicativos férteis para discussão: Conceição Cabrini, por exemplo, é autora do
primeiro exemplar de livro que se propõe a discutir o ensino de história. Retomar a co-
laboração desta autora para a produção de livros didáticos indica no mínimo a necessi-
dade de legitimidade intelectual na produção, o que confere, pretensamente à coleção,
autoridade em discutir o temário proposto.
Nesse aspecto, o livro didático não é um fim em si como mercadoria, mas um
produto culturalmente elaborado e que carrega na sua concepção a responsabilidade de
um bem intelectual para o ensino de História e que merece respeito.
151
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fund amental. Guia de. Livros didáticos
PNLD 2008: série/anos finais do Ensino Fundamental - História. Brasília: MEC, 2007, p. 60.

83
O gráfico que segue apresenta a relação entre as coleções que tiveram maior
adesão no Estado, seguida de seus índices percentuais.

Gráfico 04 – Coleções do PNLD de História de 2011 que foram escolhidas pelas escolas
públicas do Mato Grosso do Sul.

Elaborado por DEBONA, Jackson James. 2014.

O gráfico 04 representa, percentualmente, as 13 coleções de Livros Didáticos


que integraram o PNLD de 2011. Quando comparado ao quadro 01 das coleções de
2008, verifica-se a diminuição do número de coleções com percentual abaixo de 1% de
adoção, e também uma maior proximidade percentual entre as coleções escolhidas.
Esse gráfico fornece indicativos para tecer considerações a respeito das perma-
nências das editoras no cenário da produção de livros didáticos. Como já mencionado a
pouco, o mercado do livro didático é de cifras vultosas o que propicia a aproximação
das editoras ao programa de aquisição de livro didático vinculado ao FNDE. As editoras
são parceiras do FNDE por ser rentável esse mercado e a configuração desse oligopólio
não está ligado com o aperfeiçoamento das obras para o ensino de história, pois seria
menos lucrativo se cada PNLD houvesse grandes mudanças na editoração das coleções

84
vinculadas às editoras. Nesse mesmo viés podemos observar no quadro 8, a permanên-
cia de algumas coleções, aprovadas em edições anteriores do PNLD.

Quadro 8 – Coleções de livros didáticos de História presentes no PNLD de 2008 que pe r-


maneceram do PNLD de 2011.
Título da Coleção Autor(es) Editora

História temática Conceição Aparecida Cabrini Scipione S/A


Roberto Catelli Júnior
Andrea Rodrigues Dias Montellato
História em projetos Carla Miucci Ferraresi Ática S/A
Andrea Paula
Conceição Oliveira
Projeto Araribá - história Maria Raquel Apolinário Moderna S/A
História- das cavernas ao terceiro milê- Patrícia Ramos Braick Moderna S/A
nio Myriam Becho Mota
Navegando pela história – nova edição. Silvia Panazzo FTD S/A
Maria Luísa Vaz
História e vida integrada Nelson Piletti Ática S/A
Claudino Piletti
Thiago Tremonte de Lemos
História em documento imagem e texto Joelza Ester Domingues FTD S/A
História sociedade & cidadania- nova Alfredo Boulos Júnior FTD S/A
edição
Saber e fazer história – história Geral e Gilberto Cotrim Saraiva Livreiros
do Brasil Jaime Rodrigues Editores
Fonte: PNLD de 2008 e PNLD de 2011. Elaborado por DEBONA, Jackson James. 2014.

Podemos pontuar, com base no quadro 8, a possibilidade de visualizar as mu-


danças que ocorrem nas coleções, entre um edital e outro do PNLD, quanto à aborda-
gem dos conteúdos como também se há uma continuidade quanto à concepção de Histó-
ria nessas coleções ao longo dos PNLD. Nesse mesmo sentido podemos observar as
Editoras que permanecem no mercado editorial disputando os editais para a produção
dos Livros Didáticos e os tipos de coleções elaboradas de acordo com a seu perfil edito-
rial.
Face ao exposto, podemos visualizar das nove coleções que: três são da Editora
FTD S/A; duas da Editora Moderna S/A; duas da Editora Ática S/A; uma da Editora
Scipione S/A e uma da Saraiva Livreiros Editora.
Ao dar visibilidade numérica das coleções nesse item, buscamos enfatizar as
coleções que durante os PNLD de 2008 e 2011 foram escolhidas para auxiliar o ensino
de História nas escolas públicas estaduais de Mato Grosso do Sul. Observada a conti-
nuidade da grande maioria das coleções nos PNLD de 2008 e 2011 não é de tamanha

85
pretensão trabalhar com todas as coleções e nem com os dois PNLD. O próximo mo-
mento do trabalho intenciona buscar na fonte, o livro didático de História do PNLD de
2011, indicativos da discussão do ensino de História Regional.
Nessa perspectiva e como já mencionado no primeiro capítulo, devemos lem-
brar que o Referencial Curricular de Mato Grosso Sul tem como componentes curricula-
res conteúdos que requisitam a abordagem da história regional nos anos finais do Ensi-
no Fundamental. Desse modo, buscaremos dentro da fonte (livro didático de História
PNLD 2011) esses conteúdos resguardados pelo Referencial Estadual.

86
=== CAPÍTULO 3 ===

LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: indicativos para uma discussão


do ensino de história regional

O presente capítulo busca apresentar, por meio do exercício analítico das fontes
destacadas nos capítulos anteriores, a saber, cinco coleções152 de livros didáticos de His-
tória, para o ensino Fundamental, que circularam no Estado de Mato Grosso do Sul,
integrando o PNLD do ano de 2011 em uso até o ano de 2013, as inserções de elemen-
tos históricos pertinentes à região Centro Oeste, especificamente sobre os Estados de
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tendo em vista as peculiaridades que envolvem o
Estado de Mato Grosso, o qual em 11 de outubro de 1977, por desmembramento, foi
criado o estado de Mato Grosso do Sul153 . Trata-se, nesse sentido, de uma abordagem
que privilegia o exame da história regional a partir de fontes utilizadas para o seu ensi-
no.
Já evidenciamos, em momentos anteriores deste trabalho, o processo histórico
de Mato Grosso, sua história, empreendimentos políticos, culturais e, sobretudo econô-
micos que, conforme observado em diversas publicações, passa despercebido da produ-
ção da historiografia nacional, polarizada nos acontecimentos localizados na região sul-
sudeste, particularmente no eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, com desta-
que ainda para outras localidades, como Rio Grande do Sul, a Bahia, Pernambuco e o
Pará, identificadas por suas revoltas e lutas sociais que imprimiram um padrão de histó-
ria no livro didático de história.
Esse padrão ou modelo tomado pelos autores das coleções parece naturalizar
um discurso, no qual o "fazer história" consiste em compilar acontecimentos históricos

152
Coleção: Conjunto ou reunião de objetos da mesma natureza ou que têm qualquer relação entre si.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O minidicionário da Língua Portuguesa. 5 ed. Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira S. A., 2004, p. 172.
153
Lei nº 31, aprovada pelo congresso e sancionada pelo então presidente da República Ernesto Geisel,
que cria o Estado de Mato Grosso do Sul, por desmembramento de Mato Grosso. Conferir site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp31.htm. Acessado em 14 de novembro de 2014.

87
resultando em uma editoração com matriz de conhecimentos única, inviabilizando a
relação dialógica, que é inerente à História. Revela, ainda, posicionamento autoral e de
editoração que deixa a desejar quanto à possibilidade de discussão e o ensino de Histó-
ria regional nas escolas estaduais de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental de Mato Gros-
so do Sul, com base no uso exclusivo daquele material.
Tal preocupação justifica-se, ainda, no exame dos documentos norteadores de
conteúdos para o ensino, apresentado no Capítulo 2, e na constatação a partir dos refe-
renciais curriculares de 2008 e, atualmente, no referencial de 2012 154 , de conteúdos re-
lacionados à história de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a serem ministrados nos
anos finais do Ensino Fundamental155 .
Desse modo, buscou-se nos livros didáticos, por ser material primordial para o
ensino e ter sua distribuição financiada pelo Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD 2011), por todo território Nacional, conteúdos que viabilizem o ensino de histó-
ria regional, entendendo que a história de Mato Grosso relaciona-se a um espaço geo-
gráfico temporal, que perpassa da capitania de São Paulo à criação de Mato Grosso,
chegando à sua divisão, em 1977, até eventos recentes.
Em relação aos títulos que estão à disposição dos professores para auxiliar no
ensino da História regional, de modo geral no ensino fundamental (Anos Iniciais), Laura
Antunes Maciel faz algumas ressalvas:

Em geral, essas obras didáticas abordam a constituição histórica de


uma porção do território nacional, e apresentam uma narrativa sobre o
local ou região conduzida pelas etapas de "formação" do território da
nação, ou pela "ocupação humana" de uma porção do território, silen-
ciando ou minimizando a violência, os conflitos e diferentes tempora-
lidades que marcaram o processo de "integração nacional". Segundo
avaliações dos próprios avaliadores/autores do Guia de Livros Didáti-

154
Importante ressaltar que consta dos Referenciais Curriculares de Mato Grosso do Sul, edições de 2008
e 2012 a "participação especial dos Educadores da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul"
(RCMS, 2008 e 2012), na elaboração das competências e habilidades e sistematização dos conteúdos no
dos Referenciais. No entanto, não são relatadas em que medida as contribuições dos educadores foram
integradas à redação final dos documentos.
155
De acordo com Laura Antunes Maciel, “o ensino de História local pretende que a observação da cria n-
ça ultrapasse sua realidade imediata ou mais próxima para atingir um referencial mais amplo no tempo e
no espaço, transpondo o diretamente conhecido por ela para ampliar e diversificar sua compreensão da
sua cidade e do seu estado. O referencial local dos alunos servirá como ponto de partida para o afastamen-
to rumo a outros espaços, retomando o objetivo geral do ensino fundamental, visando aprofundar a sist e-
matização e desenvolvimento das noções de tempo social, norma e diferença, permanência e mudança e,
sobretudo, a da constituição das relações sociais”. MACIEL, L. A. História Regional e Ensino: Diálogos
com Professores e Alunos. Revista Eletrônica Documento/Monumento, vol. 9, n. 1, outubro/2013, p. 84.

88
cos, em sua versão 2010, algumas obras regionais organizam os con-
teúdos "em ordem cronológica de acontecimentos sobre um estado da
federação, ou município, seguindo a periodização político-
administrativa em relação à História do Brasil". (MEC, 2009, p. 16-
17). Ou seja, é a história institucional e política do país que orienta e
pauta a seleção de momentos e experiências locais consideradas histo-
ricamente relevantes para os diversos autores. Logo, nem sempre as
obras didáticas regionais - produzidas conforme a lógica [ou "tradição
editorial"] do mercado editorial e do processo de regionalização dos
currículos - se constituem como instrumentos para a reflexão crítica
sobre especificidades socioculturais, que diferenciam e aproximam os
brasileiros em diferentes territórios, nem tampouco contribuem para
problematizar as ênfases, momentos e personagens consagrados na
história do Brasil em sua versão tradicional. 156

Não obstante, a mesma autora, ao analisar alguns títulos constata que nem
sempre essas obras fogem ao apelo de uma história factual, baseada em aspectos políti-
cos e econômicos:

Poucos autores se propõem a oferecer elementos que permitam a pro-


fessores/alunos refletir sobre as diversidades regionais locais ou sobre
as muitas vozes expropriadas e silenciadas- mulheres, afrodescenden-
tes, indígenas -, numa narrativa oficial da história regional, orienta-
ções expressas nos editais do Plano Nacional de Livro Didático, em
suas versões mais recentes. (PNLD, 2013, p. 25) É grande, portanto, o
risco de que a história ensinada sirva ao reforço de especificidades ge-
ográfico territoriais, ou de características culturais, étnicas e sociais
hegemônicas, e supostamente harmônicas, reforçando ideologias iden-
titárias que servem de base aos preconceitos e xenofobia. 157

Em síntese, as obras didáticas analisadas por Laura Maciel, não contemplavam


questões essenciais para a constituição dos saberes históricos da região em que se inse-
riam:

Para isso, o ensino de história regional deveria ser orientado pelo re-
conhecimento de processos históricos socialmente compartilhados -
sem, no entanto, silenciar sobre alternativas e possibilidades históricas
em cada conjuntura analisada e nem perder de vista as articulações
mais amplas -, assim como pela evidenciação de aproximações cultu-
rais e linguísticas, mas atentos às diferenças e contraposições de ou-
tras culturas que também fazem parte da região. 158

156
MACIEL, Laura Antunes. História Regional e Ensino: Diálogos com Professores e Alunos. Revista
Eletrônica Documento/Monumento, vol. 9, n. 1, outubro/2013, p. 85.
157
Idem, 2013, p.85.
158
Idem, 2013, p.86.

89
Em consonância com a preocupação identificada pela autora, as coleções que
subsidiam este estudo são apresentadas privilegiando sua descrição e análise, cujo crivo
de seleção deu-se quantitativamente, como já justificado no Capítulo 2, ou seja, as cole-
ções aqui analisadas foram aquelas que tiveram maior adesão por parte dos professores,
no Estado de Mato Grosso do Sul.

[3.1] O livro didático e suas contribuições para o ensino da história de Mato Gros-
so e Mato Grosso do Sul

Ao escolher o livro didático como fonte, partiu-se do princípio que tal material
não poderia ser analisado apenas pelos conteúdos que traz, a exemplo do que postula
Roger Chartier:

[...] os textos que se prestam para escrever a história são tomados co-
mo portadores de um sentido que é indiferente à materialidade do ob-
jeto manuscrito ou impresso através do qual ele se dá, constituído de
uma vez por todas e identificável graças ao trabalho crítico. 159

Entendendo que os textos trazem, em princípio, a proposição intencional das


obras, a abordagem que segue apresenta o mapeamento, seleção e escolha das coleções
analisadas, ao lado do exame da sua materialidade, pois ainda conforme a orientação
metodológica de Chartier “deve-se lembrar de que não há texto fora do suporte que o dá
a ler (ou a ouvir), e sublinhar o fato de que não existe a compreensão de um texto, qual-
quer que seja ele, que não dependa das formas através das quais ele atinge o seu lei-
tor."160
Partindo dessas premissas, a realização do mapeamento das coleções de livros
didáticos adotadas no Estado de Mato Grosso do Sul, para vigência no período entre os
anos de 2011-2013, forneceu dados quantitativos acerca do número de coleções, dentre
as aprovadas no PNLD, adotadas pelas 334 escolas que aderiram ao Programa. Soma-
ram-se, portanto, 13 (treze) coleções, dentre as quais cinco se destacaram na preferência
dos professores, cujos índices de aceitação perfazem os 85,6%. Esse dado justifica a
opção pelas cinco coleções que seguem apresentadas e analisadas à luz da proposição
159
CHARTIER, Roger. Práticas de Leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996, p. 78.
160
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV
e XVIII. 2 ed. Brasília: Ed. UnB, 1998, p. 17.

90
deste estudo. Cada coleção é composta por quatro volumes que correspondem aos qua-
tro anos do Ensino Fundamental Anos Finais (6º ao 9º ano). A escolha dessas coleções
está assentada na representatividade e importância que o livro didático de história pode
desempenhar como instrumento para o ensino de história regional. De acordo com Elí-
cio Gomes Lima:

O livro didático constitui a principal fonte de informação impressa e


utilizada por grande parte dos professores e dos alunos brasileiros, so-
bretudo daqueles que tem menor acesso aos bens econômicos e cultu-
rais. Nesse sentido, o livro didático tem papel fundamental no proces-
so de escolarização e letramento em nosso país, ocupando na pratica
muitas vezes o papel de principal referência para a formação e inser-
ção no mundo da escrita. 161

Quanto às análises das coleções, estas foram feitas através da leitura e mapea-
mento integral de cada um dos volumes, cuja observância incidiu na localização de
quaisquer menções ao temário referente à Mato Grosso e/ou Mato Grosso do Sul, lem-
brando que, como já destacado anteriormente, os documentos emanados da Secretaria
de Estado da Educação, com orientações para o ensino de história no Estado, trazem na
sua grade de conteúdos o ensino de aspectos da história de Mato Grosso do Sul.
Desse modo optamos em descrever as cinco coleções, mapear os conteúdos de
cada volume que menciona a História regional, elaborar quadros de conteúdos sobre a
descrição da abordagem nas seções e sobre o enfoque para a história regional de cada
volume da coleção. A partir desse movimento, foram elaborados quadros que nos per-
mitiram fazer o confrontamento de ano/volume de conteúdos de História regional nos
livros didático com ano/conteúdo História regional do referencial curricular, do qual,
resultou em alguns apontamentos dos descompassos de conteúdos entre os dois docu-
mentos e até mesmo o silenciamento de conteúdos de História regional.
As coleções selecionadas, seguidas de uma breve apresentação, conforme os
critérios acima explicitados foram:

1. Projeto Araribá – História: Por se tratar de um Projeto, os créditos de autoria


são atribuídos à Maria Raquel Apolinário, no entanto, no interior da obra é pos-

161
LIMA, Elício Gomes. Para Compreender o Livro Didático como objeto de Pesquisa. Revista Educação
e Fronteiras On-Line, Dourados, vol. 2, n. 4, jan./abr. 2012, p. 144.

91
sível identificar uma série de colaboradores. Publicada pela Editora Moderna,
representa 35,32% das escolhas dos professores sul mato-grossenses, ou seja,
das 334 escolas estaduais de Ensino Fundamental, 118 escolas adotaram essa co-
leção. Outro dado importante é que na capital do estado, Campo Grande, das 76
escolas estaduais 28 escolheram essa coleção, o que corresponde 36,84% somen-
te das escolas da capital.
2. História Sociedade & Cidadania – nova edição: De autoria Alfredo Boulos
Júnior, editada pela Editora FTD, essa coleção foi adotada por 61 escolas esta-
duais, o que equivale a 18,26% do total de escolas do estado. Se observada a
adesão dessa coleção pelas escolas de Campo Grande, seu número foi pouco ex-
pressivo: 76 escolas da Capital somente 10 adotaram essa coleção perfazendo
um percentual de 13,15%.
3. História – das cavernas ao terceiro milênio: Em dupla autoria, Patrícia Ramos
Braick e Myriam Becho Mota produziram essa coleção, que veio a público sob a
editoração da Editora Moderna S/A. A adesão a essa coleção foi de 52 escolas
estaduais o que equivale a 15,56% das escolas de Ensino Fundamental. A adesão
dessa coleção pelas escolas de Campo Grande foi de número semelhante, em
termos percentuais, à coleção anterior, representando um percentual de 13,15%.
4. Projeto Radix – História: de Cláudio Roberto Vicentino, publicada pela Edito-
ra Scipione, essa coleção foi adotada em 33 escolas estaduais o que equivale a
9,88% das escolas de Ensino Fundamental do estado. Em Campo Grande a ade-
são é pouco expressiva, com somente 04 escolas utilizando essa coleção, o que
garante um percentual de 5,26%. No entanto, se efetivamente estiverem traba-
lhando com esse material, é possível afirmar que as escolhas, ainda que com to-
dos os problemas relativos ao processo, são respeitadas.
5. História e Vida Integrada: De autores de notada expressão no campo da pro-
dução e material didático, Nelson Piletti, Claudino Piletti e Tiago Tremonte de
Lemos, tem sua adesão em 22 escolas estaduais, o que equivale a 6,58% das es-
colas de Ensino Fundamental do estado. Em relação à adesão dessa coleção pe-
las escolas estaduais de Campo Grande, observa-se uma mudança no perfil em
relação à coleção anterior, tendo em vista que 10 adotaram escolas essa coleção,

92
o que garante um percentual de 13,15%, ainda que no estado, de modo geral, o
percentual de adoção seja maior que na capital.

Portanto, trataremos as coleções em subitens descrevendo e mapeando conteú-


dos e indicativos e/ou conteúdos referentes à história de Mato Grosso e/ou Mato Grosso
do Sul, observando a articulação com o contexto nacional.

[3.1.1] Coleção Projeto Araribá – História

A Coleção Projeto Araribá – História, em seus quatro volumes traz em suas ca-
pas as seguintes informações: nome da coleção; organizadora: Editora Moderna; Editora
responsável: Maria Raquel Apolinário; o ano (escolar) que se refere o volume 6º, 7º, 8º
e 9º anos; Código da Coleção do PNLD de 2011.
A capa de cada volume é ilustrada com fotos diferentes:
 6º ano com a foto da Muralha da China;
 7º ano com a foto Vista da cidade inca de Machu Picchu,
no Peru;
 8º ano com a foto do Taj Mahal, monumento da Índia;
 9º ano com a foto da Catedral de São Basílio, em Moscou.
As fotos de capa dos volumes da coleção estão vinculadas às chamadas de con-
teúdos/textos didáticos internos em cada volume.
A folha de rosto apresenta algumas informações complementares: formação
acadêmica da editora responsável e sua experiência no campo da educação, Bacharel e
licenciada em História pela Universidade de São Paulo. Professora da rede estadual e
municipal de ensino por 12 anos. Editora. Consta a informação: Organizadora: Editora
Moderna. Obra coletiva, concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna.
Ainda podemos elencar: 2ª edição, Cidade de origem e ano em que foi impresso o livro:
São Paulo, 2007.
No verso da folha estão citados todos os responsáveis pela coordenação e ela-
boração dos volumes, a ficha catalográfica da coleção e cita ainda os nomes, o vínculo
profissional e a formação acadêmica dos elaboradores dos originais do Projeto Araribá

93
- História162 . Ou seja, essa forma de estruturar a coleção indica que os direitos autorais
foram todos cedidos (vendidos) à empresa Editora Moderna LTDA, o que torna a obra
um produto comercial.
A organização interna dos quatro volumes segue o mesmo padrão, com 8 uni-
dades de conteúdo, dispostos nas seguintes seções163 :
 Temas;
 Atividades organizadas;
 As monografias e a análise de fontes históricas;
 Compreender um texto; e
 Trabalho em equipe.
Esses itens encontram-se nas páginas de apresentação com explicações de seus
objetivos dentro de cada volume. Com exceção do primeiro volume que contém um
item de abertura da coleção, intitulado Introdução aos Estudos Históricos, subdivido em
dois temas: O trabalho do historiador e O tempo e a história.
O primeiro tema aborda o conceito de fonte histórica apontando a possibilidade
de existirem versões históricas, sua dinamicidade com o surgimento de novos persona-
gens e, por fim, a necessidade de diálogo do historiador com outros pesquisadores de
áreas como a antropologia, geografia, sociologia, economia e arqueologia. Embora ex-
presse certa concepção de história, não identifica escola de pensamento na historiografia
tradicional que orienta esse pressuposto.
Quanto à relação estreita entre O tempo e a história, esta é descrita como pro-
cesso natural, ou seja, as estações do ano, o dia e a noite, os animais, plantas nascem,
crescem e morrem. Ou seja, só existe história em virtude do tempo, que é cíclico, e nes-
se aspecto destaca a criação de instrumentos para medir o tempo e organizá-los em ca-
lendários. Dentro desse subitem, a obra faz a comparação de três calendários: Calendá-
rio Judaico, Calendário Cristão e Calendário Islâmico.

162
Elaboração dos originais por: Fábio Duarte Joly (USP), Maria Raquel Apolinário (USP), Eduardo
Augusto Guimarães (USP), Rosane Cristina Thahira (USP), João Carlos Angostini (USP), Cesar da Costa
Júnior (USP), João Luiz Maximo da Silva (USP), Ricardo Vianna Van Acker (USP), Thelma Cadermatori
Figueiredo de Oliveira (UFRGS/USP), Vivien Christina Botelho de Souza Morgato (Unicamp). Nomes e
vínculos de formação dos participantes do Projeto Araribá- História. Todos os integrantes tem formação
em história.
163
A terminologia “seção” é adotada pelo pesquisador para efeito de organização dos temas e análises dos
conteúdos apresentados.

94
Dado significativo que indicaria a concepção de história que embasa a Coleção,
cita no subitem sobre As Dimensões do Tempo que "o historiador francês Fernand Brau-
del (1902-1985) afirmou que era possível dividir os acontecimentos históricos em três
dimensões: a curta, a média e a longa duração", p. 18. Contudo, a periodização da His-
tória, segundo o que consta na página 20 da obra, não foge à história quadripartite: Pré-
história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
Ainda quanto à organização interna dos quatros volumes, podem ser observa-
das algumas seções que não são fixas, mas que ao longo da coleção trazem textos com
perspectivas de ajudar no aprofundamento e/ou problematização dos conteúdos, são
elas: Mapas históricos, Personagens, Ontem e hoje, Edifícios daquele tempo. Somente
nos volumes do 8º e 9º anos aparecem as seções de Arte e História, Conceitos históricos
e Ciência e tecnologia. Outro dado importante dessa coleção está na quantidade de tex-
tos para leitura oferecidos na seção de monografias e a análise de fontes históricas. Esse
aspecto está vinculado ao desenvolvimento do hábito da leitura e, concomitantemente, à
competência leitora, que deve ser estimulada.
As páginas que abrem as unidades dos quatros volumes apresentam imagens,
fotos, gravuras e/ou desenhos informativos referentes a conteúdos em cada seção. Ob-
servou-se que o uso de imagens infográficas164 é frequente em toda a coleção, sobretudo
as imagens posicionadas no meio de páginas espelhadas, as quais diminuem a visibili-
dade e inserção dos elementos textuais, interferindo na organização da competência
leitora, antes destacada.
No tocante às abordagens sobre História regional, com o objetivo de dar visibi-
lidade e organicidade aos dados mapeados nesta e nas outras coleções, objetos de anali-
se deste capítulo, foram elaborados quadros que contêm a sistematização dos conteúdos
nos quatros volumes de 6º ao 9º ano. A opção por esta forma de organização, a nosso
ver, tornou possível demonstrar conteúdos referentes à História regional localizado, ou
não, nos quatro volumes. Indica-se o ano, a Unidade, a seção, capítulo e página onde
foram encontradas referências diretas (conteúdo) e/ou indiretas (notas, boxes, ilustra-
ções sem contextualização ou discussão) que mencionam ou estão relacionados à Histó-
ria regional, conforme segue.

164
Segundo FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O minidicionário da Língua Portuguesa. 5 ed. Rio
de Janeiro: Editora Nova Fronteira S. A., 2004. Técnica de combinar desenhos, fotos, etc. para a aprese n-
tação dramatizada de dados. § in-fo-grá-fi-co adj.

95
Quadro 9 – Coleção Projeto Araribá – História
Volume Unidade de Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque para a história regional
Conteúdo
Unidade 1 Seção Em foco: Figura de seres humanos e animais
As Origens Aborda a Arte Rupestre (p. 46-7), "Uma encontrados em Santa Elina, muni-
6º ano do ser hu- cronologia da arte pré-histórica". cípio de Jangada, Mato Grosso.
mano Descrição: É uma abordagem histórica Data em 5 mil anos.
que se assenta nos estudos arqueológicos
para construir uma linha do tempo em que
cita alguns dos principais sítios arqueoló-
gicos do mundo.
Unidade 8 Seção Ontem e hoje: Comunidades Remanescentes de
7º ano O Nordeste Descrição: Os textos trazem informações Quilombos (2008) no Mato Grosso
colonial sobre os Quilombos e as comunidades do Sul.
remanescentes de quilombos (p. 233).
Unidade 1 Tema 2: Bandeirantes que adentraram em
A expansão Texto didático que narra à captura de território de Mato Grosso a captura
da América índios no sertão dentre eles onde se situa de índios (1660).
portuguesa Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. (p. As monções eram expedições flu-
16) viais paulistas com destino às áreas
Texto didático que narra Entradas e Mon- de mineração em Mato Grosso.
ções que levam mantimentos, armas e
munições para área de mineração de Mato
Grosso (p. 17)
8º ano Unidade 2- Seção Compreender um texto:
A época do Descrição: Texto que narra à descoberta O ouro em Goiás e Mato Grosso.
ouro no de ouro onde hoje se localizam os estados A Região das Minas
Brasil de Mato Grosso e Goiás e seu rápido esgo-
tamento. (p. 39) Traz ainda um mapa com
o título "A Região das Minas", onde po-
dem ser visualizadas as minas de Mato
Grosso e Goiás e outras. (p. 39)
Tema 3:
Texto didático que narra os caminhos Monções
para as minas. (p. 48). Apresenta o modo
como se dava o abastecimento de Mato
Grosso, através das monções. Navegando
em comboios de 300 a 400 canoas, os
paulistas transportavam para Cuiabá sal,
roupas, farinha de mandioca e outros pro-
dutos.
Unidade 8 Tema 3:
Brasil: da Texto didático que narra a Guerra do Pa- A Guerra do Paraguai
Regência ao raguai (1864-1870) (p. 225). Neste texto
Segundo temos duas menções à Província de Mato
Reinado Grosso: o Rio Paraguai como única via
para chegar à província; e os ataques do
Paraguai a Mato Grosso.
9º ano Unidade 8 Seção Conceitos históricos: A Universidade Estadual do Mato
A Nova Descrição: Apresenta texto intitulado "A Grosso do Sul UEMS aderiu ao
Ordem reserva de cotas nas universidades" sistema de cotas, A Universidade
Mundial (p.257) e anexo ao texto está o mapa do Federal de Mato Grosso (UFMT) e
Brasil, que traz todos os estados que aderi- a Universidade Estadual de Mato
ram ao sistema de cotas. Grosso (Unemat) (2009).
Fonte: Coleção de Livros Didáticos Projeto Araribá - História. Elaborado por: Jackson James Debona

96
Face ao exposto, nota-se a escassez de abordagens e conteúdos sobre a História
Regional de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul na Coleção Projeto Araribá – História, o
que possibilita inferir certo silenciamento quanto ao tratamento de temas desta natureza
ocasionando problemas para o ensino de História regional, pois o instrumento de ensino
de maior alcance, o Livro Didático de História, apresenta de modo restrito a historiogra-
fia daquela região.
Importa ressaltar que conteúdos referentes à História regional fazem parte dos
Referenciais Curriculares do Estado, como já apontado no Capitulo 2. Nesse sentido, o
presente estudo entende ser relevante comparar o mapeamento das coleções seleciona-
das com as prerrogativas curriculares do documento oficial, conforme segue.

Quadro 10 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 6º ano


Ano Enfoque para a história regional Conteúdo norteador do Referencial
Curricular de Mato Grosso do Sul
Seção Em foco: O mundo primitivo
Figura de seres humanos e animais encontrados em 1º Bimestre:
6º Santa Elina, município de Jangada, Mato Grosso. Data  Pré-história no Mato Grosso
Ano em 5 mil anos. do Sul.

Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-
cos Projeto Araribá - História.
Elaborado por: Jackson James Debona

De acordo com o quadro acima podemos notar que o Referencial Curricular do


Estado de Mato Grosso do Sul tem como objetivo, na sua formulação, conteúdos para
inserção do aluno como partícipe da história, mas o que o Livro Didático traz de conte-
údo é irrisório e muito distante das necessidades da região. Tendo em vista que a seção
Em Foco é uma seção a qual, segundo a coleção, deve apresentar uma espécie de mono-
grafia, por meio da qual se estuda, com mais detalhes, um tema relevante para o estudo
da unidade, relacionando melhor o passado e o presente, não foi observada a explicita-
ção detalhada do conteúdo abordado.
Um ponto positivo entre o volume do 6º ano e o Referencial Curricular de MS
é a correspondência temporal histórica, pois ambos contemplam o conteúdo sobre a pré-
história. Outro ponto considerado positivo, neste volume, refere-se aos conteúdos de
Introdução à disciplina de História, que são trabalhados no livro didático de História

97
em consonância com o Referencial, destacando conceitos como: A Temporalidade;
Fontes históricas; Os sujeitos da História.

Quadro 11 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 7º ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático Conteúdo norteador do Referencial Cur-
de História. ricular de Mato Grosso do Sul
Seção Ontem e hoje: O encontro de três mundos
Descrição: Os textos trazem informações sobre 2º Bimestre:
os Quilombos e as comunidades remanescentes  A presença dos espanhóis, no perí-
7º de quilombos (p. 233). odo colonial, na região do atual
Ano Mato Grosso do Sul (relevâncias
das Missões do Itatim no processo
de ocupação e o povoamento do
Mato Grosso).
4º Bimestre:
 História dos povos indígenas do
Mato Grosso do Sul: economia, or-
ganização política, processo de
aculturação e contribuição cultural.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-
cos Projeto Araribá - História.
Elaborado por: Jackson James Debona

Neste quadro podemos perceber que o conteúdo encontrado no livro didático


de História não possibilita subsidiar os conteúdos norteadores do Referencial Curricular
de MS, ou seja, os conteúdos do livro didático de história não conferem com os conteú-
dos do referencial curricular estadual. A seção Ontem e Hoje é uma proposta de amplia-
ção de atividades resultante do conteúdo trabalhado pelo Tema (texto didático), e o que
podemos observar é a ausência de conteúdo de História regional no Tema.

Quadro 12 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 8º Ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático de His- Conteúdo norteador do Refe-
tória. rencial Curricular de Mato
Grosso do Sul
Tema 2: O Mato Grosso do Sul no Con-
Texto didático que narra a captura de índios no sertão texto Imperialista
dentre eles onde se situa Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul. (p. 16) 4º Bimestre:
Texto didático que narra Entradas e Monções que levam
mantimentos, armas e munições para área de mineração  Conflito com o Para-
de Mato Grosso (p. 17) guai: causas e desdo-
Seção Compreender um texto: bramentos para a Amé-
Descrição: Texto que narra à descoberta de ouro onde rica do Sul, para o Bra-
8º hoje se localizam os estados de Mato Grosso e Goiás e sil e para o Mato Gros-
Ano seu rápido esgotamento. (p. 39) Traz ainda um mapa so do Sul.
com o título "A Região das Minas", onde podem ser
visualizadas as minas de Mato Grosso e Goiás e outras.  Os Afro-brasileiros e os
(p. 39) povos indígenas Guai-
curus na Guerra do Pa-

98
Tema 3: raguai.
Texto didático que narra os caminhos para as minas. (p.
48). Apresenta o modo como se dava o abastecimento de  Mato Grosso do Sul
Mato Grosso, através das monções. Navegando em (ainda Mato Grosso):
comboios de 300 a 400 canoas, os paulistas transporta- economia, ciclo da erva
vam para Cuiabá sal, roupas, farinha de mandioca e mate, influência políti-
outros produtos. ca, econômica, social e
Tema 3: cultural no contexto
Texto didático que narra a Guerra do Paraguai (1864- imperialista brasileiro.
1870) (p. 225). Neste texto temos duas menções à Pro-
víncia de Mato Grosso: o Rio Paraguai como única via
para chegar à província; e os ataques do Paraguai a Mato
Grosso.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-
cos Projeto Araribá - História.
Elaborado por: Jackson James Debona

No quadro do 8º ano, quanto à descrição da abordagem no livro didático de


História sobre História regional, podemos encontrar um volume de conteúdo maior que
os outros volumes da coleção. Quanto ao tratamento dos conteúdos sobre a região,
mesmo nos textos didáticos, é lacônico no que se limita à menção da região. O conteúdo
mais frequente nos livros didáticos, A Guerra do Paraguai, que ocorre em terras mato-
grossenses, é citado apenas pela invasão do inimigo às terras do território e pela não
permissão dos navios brasileiros para navegarem pela única via que ligava Mato Grosso
à capital do Império do Brasil, o Rio Paraguai. Como podemos notar o conteúdo que
está concomitantemente contemplado no Referencial Curricular do estado e no livro
didático de história, não trata dos acontecimentos históricos da região de uma forma
mais profícua.
Os conteúdos sobre a Captura de índios, Monções, Mineração e Caminhos para
as minas, que constam ainda no quarto bimestre, estão vinculado a conteúdos propostos
pelo Referencial Curricular estadual para o sétimo ano. Em suma, os conteúdos do séti-
mo ano foram deslocados para o oitavo ano nessa coleção.

Quadro 13 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º Ano


Ano Descrição da Abordage m no Livro Didático Conteúdo norteador do Referencial
de História. Curricular de Mato Grosso do Sul
9º Seção Conceitos históricos: O Brasil República no Contexto Capi-
Descrição: Apresenta texto intitulado "A reser- talista
Ano
va de cotas nas universidades" (p.257) e anexo 3º Bimestre:
ao texto está o mapa do Brasil, que traz todos os  Movimento Divisionista de Ma-
estados que aderiram ao sistema de cotas. A to Grosso: antecedentes, compo-
Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul sição de poder, governos e con-
UEMS aderiu ao sistema de cotas, A Univers i- flitos sociais.

99
dade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a Uni-
versidade Estadual de Mato Grosso (Unemat)
(2009).
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didáti-
cos Projeto Araribá - História.
Elaborado por: Jackson James Debona

A ausência de tratamento da História regional persiste também no volume do


9º ano. A informação que podemos visualizar no quadro acima é tratada de uma forma
mais pontual, em relação ao conteúdo do Tema (texto didático) que é Um balanço do
Brasil contemporâneo, mas é desconexa em relação ao conteúdo do Referencial Curri-
cular e deslocada temporalmente, pois enquanto a informação do livro didático está re-
lacionada à região no século XXI, o referencial está contemplando todo século XX com
o Movimento Divisionista de Mato Grosso.
A coleção Projeto Araribá – História, com maior percentual de adesão pelas
escolas estaduais e professores, nos proporciona uma profunda reflexão no que tange à
escolha do livro didático em relação ao ensino de História regional. Essa reflexão está
ancorada no diálogo entre o livro didático e o referencial curricular estadual, pois o que
foi possível evidenciar em nossa análise é um descompasso entre estes materiais basila-
res para então aferir um legado valoroso na construção de um pensar histórico sobre um
ensino de História de qualidade.

[3.1.2] História Sociedade & Cidadania - nova edição

A Coleção História Sociedade & Cidadania - nova edição-, em seus quatro vo-
lumes, traz em suas capas as seguintes informações: título da Coleção; nome do autor -
Alfredo Boulos Júnior-; código da coleção do PNLD de 2011; logomarca da Editora
FTD; o ano (escolar) que se refere o volume 6º, 7º, 8º e 9º anos.
A capa de cada volume é ilustrada com fotos diferentes:
 6º ano com a foto dos Guerreiros de Xian, em Terracota,
cerca de 246 a.C.;
 7º ano com a foto da Festa da Carvalhada em Pirenópolis,
Goiás;
 8º ano com a foto da Cena do filme Tempos modernos, de
Charles Chaplin, 1936;

100
 9º ano com a foto de Angolanos segurando fotografia de
Antonio Agostinho Neto, presidente de Angola, durante uma
passeata em Kikolo, 2008.
As fotos de capa dos volumes da coleção estão vinculadas à chamada de conte-
údos/textos didáticos internos de cada volume.
A folha de rosto apresenta algumas informações complementares, como a
formação do autor responsável e sua experiência no campo da educação: Mestre em
História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Doutor em Educação pela
PUC-SP. Lecionou no ensino fundamental da rede pública e particular e em cursinhos
pré-vestibulares. É autor das coleções Construindo Nossa Memória e O Sabor da His-
tória. Assessorou a Diretoria Técnica da Fundação para o Desenvolvimento da Educa-
ção – São Paulo. Ainda podemos elencar a edição: 1ª edição, Cidade de origem e ano
em que foi impresso o livro: São Paulo, 2009. Em seu verso estão citados todos os res-
ponsáveis pela coordenação e elaboração dos volumes e a ficha catalográfica da cole-
ção. Nas páginas seguintes o autor escreve Caro aluno e Agradecimentos.
A organização interna dos quatro volumes segue um mesmo padrão, com estru-
tura que varia entre 4 a 6 unidades, subdivididas em capítulos. Quanto à estrutura inter-
na de cada volume, tem-se:
 O volume do 6º ano contém 304 páginas, 5 unidades que
congregam no total 15 capítulos e suas seções.
 O volume do 7º ano tem 288 páginas, 4 unidades que
agregam 15 capítulos e suas seções.
 O volume do 8º ano contém 320 páginas, 4 unidades entre
elas distribuídas 16 capítulos e suas seções.
 O volume do 9º ano possui 320 páginas, 6 unidades que
agregam 19 capítulos e suas seções.
Fazem parte de cada capítulo as seções:
 Atividades;
 Atividades de aprofundamento;
 Discutindo o presente;
 A imagem como fonte,
 O texto como fonte;

101
 Para saber mais;
 Dialogando, e
 Livros, Sites e filmes.
Essas seções aparecem alternadas nos capítulos de cada volume, no entanto,
elas podem ser encontradas nos quatro volumes da coleção. Existe grande quantidade de
imagens nos quatro volumes da coleção, mas carecem de legendas com maiores infor-
mações ou detalhamentos. Muitas imagens são somente ilustrativas já que no texto didá-
tico o conteúdo foi desenvolvido, o que significa uma repetição exaustiva e desmotiva-
dora.
No tocante às abordagens sobre história regional, com o objetivo de dar visibi-
lidade ao mapeamento, foi elaborado um quadro que contém os quatro volumes de 6º ao
9º ano do Ensino Fundamental anos finais, por meio do qual seja possível identificar os
conteúdos localizados, ou não, acerca do temário em análise, envolvendo os quatro vo-
lumes. Indica-se o ano, a Unidade, a seção, capítulo e página onde foram encontradas
referências diretas (conteúdo) e/ou indiretas (notas, boxes, ilustrações sem contextuali-
zação ou discussão) que mencionam ou estão relacionados à História regional.

Quadro 14 – Coleção História Sociedade & Cidadania – Nova Edição


Volume Unidade de Con- Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque
teúdo
Unidade 2 Capítulo 5: A Pré-História brasileira. (p.70). Pré-História. Sítio Arqueo-
Pré-História Tam- Texto didático que traz o mapa dos estados lógico mais antigo do Mato
bém É História brasileiros em que os sítios arqueológicos Grosso nº 6 Lapa do Sol.
6º ano mais antigos do Brasil são destacados. Mato
Grosso nº 6, Lapa do Sol.
Unidade 3 Capítulo 8: A Nubia e o Reino de Kush. Civilizações Africanas, seu
Civilização da Seção: Para Saber Mais (p. 128). florescimento, desenvolvi-
África e do Orien- Texto que trata da origem da planta sorgo e mento e sua contribuição
te seus usos, sendo de origem dos países Afri- para a humanidade.
canos, o sorgo também é plantado nos esta-
dos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e
dentre outros estados.
Unidade 4 Capítulo 12: Povos indígenas no Brasil. (p. Indígenas em Mato Grosso
América e Euro- 212) do Sul: luta pela Cultura e
7º ano pa: encontros e Traz o mapa do Brasil com a localização das pela terra.
desencontros terras indígenas na atualidade. Apresenta Leis que regulamentam
legenda de cores para identificar áreas onde seus direitos a terra.
a Funai confirma a presença de indígenas,
áreas já demarcadas e áreas identificadas
para marcação.
Capítulo 1: Africanos no Brasil (p. 20) Quilombos na época Colo-
Traz o Mapa que identifica os principais nial em Mato Grosso.
Quilombos no Brasil Colonial, e em Mato
Grosso: Pindaituba, Moluca e Joaquim Teles

102
(1795) da Carlota ou do Piolho (1770-95).
Capítulo 1: Africanos no Brasil. (p. 24) 6 – número de áreas identi-
Traz o mapa que identifica os principais ficadas como remanescen-
Quilombos no Brasil atualmente. tes de quilombos no estado
de Mato Grosso do Sul.
Unidade 1 Capítulo 2: A Marcha da colonização na Paulistas caçam os índios
8º ano Povos, Movimen- América portuguesa. (p. 36 e 39). em territórios das missões
tos e Territórios na Texto didático que narra a caça aos índios espanholas, onde hoje é
América Portu- nas missões Itatim (Mato Grosso do Sul)165 . território do estado de Mato
guesa Grosso do Sul.
Capítulo 2: A Marcha da colonização na Bandeirantes a busca de
América portuguesa.(p. 38) ouro e diamantes nas minas
Texto didático que narra a descoberta de de Cuiabá.
ouro em 1719, por Pascoal Moreira Cabral,
em Cuiabá, Mato Grosso.
Capítulo 2: A Marcha da colonização na Caminhos do Gado criação
América portuguesa (p. 41) de gado em terras Mato-
Traz o mapa que dá a visibilidade de áreas grossenses, no século XVII-
de criação de gado na região. XVIII.
Capítulo 3: A sociedade mineradora. (p. 53) A exploração do ouro no
Texto didático que narra à guerra dos Embo- século XVIII nas minas de
abas. Cita que os Paulistas derrotados nesse Cuiabá e Vila Bela da San-
conflito vão explorar outros territórios na tíssima Trindade. Mato
qual chegam até a região de Mato Grosso e Grosso.
encontram ouro. Nessa mesma página en-
contramos um mapa para a visualização de
exploração dos metais preciosos.
Unidade 4 Capítulo 14: O reinado de D. Pedro II: mo- A Guerra do Paraguai na
Brasil e Estados dernização e imigração. (p. 239-240) região de Mato Grosso.
Unidos no século Texto didático que narra a Guerra do Para-
XIX guai. Conflito que se estendeu por mais de
cinco anos em território Mato-Grossenses,
afetando o comércio e a navegação pelos rios
da região.
9º ano Unidade 3 Capítulo 8: O primeiro governo Vargas. (p. Política e movimentos soci-
Capitalismo, 118) ais que tiveram passagem
Totalitarismo e Traz mapa que trata da marcha da Coluna pelo território de Mato
Guerra Prestes. Segundo a legenda e a visualização Grosso.
no mapa podemos identificar a passagem por
duas vezes da coluna em território de Mato
Grosso, na década de 1920.
Fonte: Coleção de Livros Didáticos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição.
Elaborado por: Jackson James Debona

Quanto ao mapeamento dos conteúdos/informações sobre a História regional


de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, a coleção concentrou em um único volume os
dados que se referem, historicamente, à região de Mato Grosso. Para manter a estrutura
analítico-comparativa, seguem os quadros comparativos entre os conteúdos, que são
requisitados pelo referencial curricular do estado de Mato Grosso do Sul e os conteúdos
mapeados nesta coleção.
165
O livro didático registra o fato no Estado de Mato Grosso do Sul, em um período em que o Estado
ainda não havia sido criado.

103
Quadro 15 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 6º Ano
Ano Descrição da Abordagem no Livro Di- Conteúdo norteador do Refe-
dático de História. rencial Curricular de Mato
Grosso do Sul
Capítulo 5: A Pré-História brasileira. (p.70). O mundo primitivo
Texto didático que traz o mapa dos estados bras i- 1º Bimestre:
leiros em que os sítios arqueológicos mais antigos  Pré-história no Mato Grosso do
6º do Brasil são destacados. Mato Grosso nº 6, Lapa Sul.
Ano do Sol.
Capítulo 8: A Nubia e o Reino de Kush.
Seção: Para Saber Mais (p. 128).
Texto que trata da origem da planta sorgo e seus
usos, sendo de origem dos países Africanos, o
sorgo também é plantado nos estados de Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul e dentre outros
estados.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-
cos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição
Elaborado por: Jackson James Debona

O quadro 15 nos possibilita uma leitura mais direta da proposta de conteúdo do


referencial curricular, demonstrando que o livro do sexto ano em exame não oferece
elementos históricos para a inserção do temário regional. Nessa perspectiva, segundo o
referencial, o que pode ser visualizado quando se fala da Pré-História brasileira é um
mapa que traz a vigente divisão dos estados brasileiros, pontuando os sítios arqueológi-
cos nesses estados. Não há textos que possibilitam uma caracterização e conceituação,
respeitando o nível de ensino em questão, desses sítios identificados no mapa do estado
de Mato Grosso, dificultando a compreensão de sua importância.
O conteúdo referente à origem da planta sorgo e seus usos está ligado à seção
Para saber Mais, na qual encontramos a informação sobre a planta, de origem Africana,
cultivada em terras Mato-grossenses. Essa seção não apresenta relação direta com o
conteúdo sugerido pelo referencial curricular, mas é bastante rica, visto que trabalha
numa perspectiva de aproximação e inclusão de conteúdos culturais de outros continen-
tes, os quais forneceram grande contingente de seres humanos, utilizados como mão de
obra importante para a construção dessa Nação chamada Brasil. Portanto, Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul é citado circunstancialmente no texto, sendo a abordagem históri-
ca principal a origem do sorgo que é cultivado atualmente nos estado de MS e MT. O
que podemos observar é que essa abordagem histórica é desconexa a do referencial cur-
ricular do estado do Mato Grosso do Sul.

104
Quadro 16 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 7º Ano
Ano Descrição da Abordagem no Li- Conteúdo norteador do Referencial Curricu-
vro Didático de História lar de Mato Grosso do Sul
Capítulo 12: Povos indígenas no Brasil. O encontro de três mundos
(p. 212) 2º Bimestre:
Traz o mapa do Brasil com a localiza-  A presença dos espanhóis, no período colo-
7º ção das terras indígenas na atualidade. nial, na região do atual Mato Grosso do Sul
Ano Apresenta legenda de cores para identi- (relevâncias das Missões do Itatim no pro-
ficar áreas onde a Funai confirma a cesso de ocupação e o povoamento do Mato
presença de indígenas, áreas já demar- Grosso).
cadas e áreas identificadas para marca- 4º Bimestre:
ção.  História dos povos indígenas do Mato
Grosso do Sul: economia, organização polí-
tica, processo de aculturação e contribuição
cultural.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didát i-
cos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição.
Elaborado por: Jackson James Debona

No 7º ano os conteúdos referentes à História regional no referencial curricular


são distribuídos em dois bimestres. Cada bimestre trabalha conteúdos diferentes. Como
podem ser observados, ambos os conteúdos retratam um período recuado historicamente
agregando a esse tempo histórico o Estado de Mato Grosso do Sul. Existe um anacro-
nismo temporal que dificulta fazer essa leitura já que o estado é recente em sua consti-
tuição política/administrativa e cultural.
Quanto a fazer uma história do tempo presente, o livro didático de história traz
informações que podem ser visualizadas no mapa e em sua legenda, sobre a existência e
presença de indígenas em áreas já demarcadas. O contexto de utilização desse mapa está
alinhavado ao texto didático As lutas indígenas e A luta pela terra. Nesses dois textos
são trabalhados as organizações indígenas e artigos da Constituição brasileira, porém
essas informações estão, geograficamente, ligadas aos indígenas da Região Norte do
Brasil.

Quadro 17 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 8º Ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático Conteúdo norteador do Referenci-
de História. al Curricular de Mato Grosso do
Sul
Capítulo 1: Africanos no Brasil (p. 20) O Mato Grosso Do Sul No Contexto
Traz o Mapa que identifica os principais Quilombos Imperialista
no Brasil Colonial, e em Mato Grosso: Pindaituba,
Moluca e Joaquim Teles (1795) da Carlota ou do 4º Bimestre:
Piolho (1770-95).
 Conflito com o Paraguai: cau-

105
Capítulo 1: Africanos no Brasil. (p. 24) sas e desdobramentos para a
Traz o mapa que identifica os principais Quilombos América do Sul, para o Brasil e
no Brasil atualmente. para o Mato Grosso do Sul.
Capítulo 2: A Marcha da colonização na América
8º portuguesa. (p. 36 e 39).  Os Afro-brasileiros e os povos
Ano Texto didático que narra a caça aos índios nas mis- indígenas Guaicurus na Guerra
sões Itatim (Mato Grosso do Sul)166 . do Paraguai.
Capítulo 2: A Marcha da colonização na América
portuguesa. (p. 38)  Mato Grosso do Sul (ainda Ma-
Texto didático que narra a descoberta de ouro em to Grosso): economia, ciclo da
1719, por Pascoal Moreira Cabral, em Cuiabá, Mato erva mate, influência política,
Grosso. econômica, social e cultural no
Capítulo 2: A Marcha da colonização na América contexto imperialista brasileiro.
portuguesa (p. 41)
Traz o mapa que dá a visibilidade de áreas de criação
de gado na região.
Capítulo 3: A sociedade mineradora. (p. 53)
Texto didático que narra à guerra dos Emboabas.
Cita que os Paulistas derrotados nesse conflito vão
explorar outros territórios na qual chegam até a regi-
ão de Mato Grosso e encontram ouro. Nessa mesma
página encontramos um mapa para a visualização de
exploração dos metais preciosos.
Capítulo 14: O reinado de D. Pedro II: modernização
e imigração. (p. 239-240)
Texto didático que narra a Guerra do Paraguai. Con-
flito que se estendeu por mais de cinco anos em
território Mato-Grossenses, afetando o comércio e a
navegação pelos rios da região.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didáti-
cos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição.
Elaborado por: Jackson James Debona

O quadro acima nos potencializa historicamente quanto ao conteú-


do/informação em relação à História regional. O ponto crucial que vem se desenhando é
que os conteúdos dos livros didáticos e do referencial curricular do estado de Mato
Grosso do Sul não estão em conformidade com volume e ano serial do Referencial do
estado. Isso fica claro ao fazer a relação dos conteúdos do volume do 8º ano com os
conteúdos do referencial curricular do 7º ano. Esse impasse existente entre o referencial
curricular e o livro didático diz respeito à periodização temporal dos conteúdos. Esse
descompasso gera um grau de incompatibilidade entre livro e referencial curricular, no
que tange aos conteúdos de História regional.
Face ao exposto do montante de conteúdos que podem ser visualizado no qua-
dro do 8º ano, A Guerra do Paraguai é o conteúdo que faz jus entre o livro didático e o
referencial, porém o texto didático é informativo, pois a narrativa relacionando a região

166
O livro didático registra o fato no Estado de Mato Grosso do Sul, em um período em que o Estado
ainda não havia sido criado.

106
em questão é feita de uma forma evasiva, sem detalhes, nem registro de resistência ao
agressor (Paraguai). Dessa forma, o volume do 8º ano do livro didático não oferta con-
teúdo de história regional suficiente, nem mesmo tomando o referencial curricular como
referência.

Quadro 18 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 9º Ano


Ano Descrição da Abordagem no Conteúdo norteador do Referencial Curricular
Livro Didático de História. de Mato Grosso do Sul
Capítulo 8: O primeiro governo O Brasil República no Contexto Capitalista
9º Vargas. (p. 118) 3º Bimestre:
Ano Traz mapa que trata da marcha da  Movimento Divisionista de Mato Grosso: ante-
Coluna Prestes. Segundo a legenda cedentes, composição de poder, governos e con-
e a visualização no mapa podemos flitos sociais.
identificar a passagem por duas
vezes da coluna em território de
Mato Grosso, na década de 1920.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção de Livros Didáti-
cos História, Sociedade e Cidadania - Nova Edição.
Elaborado por: Jackson James Debona

O volume do 9º ano da coleção faz alusão à região de Mato Grosso, ao tratar da


Marcha da Coluna Prestes, na década de 1920. Essa informação está delineada no mapa
por onde a Coluna Prestes passou e não faz menção narrativa textual sobre a região.
Desse modo, o livro não trata de conteúdos de História regional, haja vista, que no 3º
bimestre o referencial curricular requer um conteúdo específico da região que se refere
ao movimento de personagens sociais que defendiam a divisão do estado.
Portanto, a Coleção História Sociedade & Cidadania – Nova Edição, não aten-
de a demanda de ensino de História regional requerida pelo documento norteador, o
referencial curricular da rede estadual de ensino de Mato Grosso do Sul Ensino Funda-
mental anos finais.

[3.1.3] Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio

A Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio, em seus quatro vo-


lumes, traz em suas capas as seguintes informações: título da Coleção; nome das autoras
Patrícia Ramos Braick e Myriam Becho Mota; código da coleção do PNLD de 2011,
logomarca da Editora Moderna e o ano (escolar) que se refere o volume 6º, 7º, 8º e 9º
anos.
A capa de cada volume é ilustrada com fotos diferentes:

107
 6º ano com a foto de capa do soldado de terracota do mausoléu
do rei Chi Huang-Ti, cerca de 221 a.C.
 7º ano com a foto de capa de Detalhe da pintura Negra da Costa
do Ouro, de Albert Eckhout, 1641.
 8º ano com a foto de capa de uma Representação de um sans-
cullotes, pintura do final do século XVII, de autor não identificado.
 9º ano com a foto de capa um Astronauta e sua roupa espacial.
Foto do Centro de Informação e Documentação da Editora Moderna.
A folha de rosto apresenta as seguintes informações sobre as autoras: Patrícia
Ramos Braick é Mestre em História (área de concentração: História das Sociedades
Ibéricas e Americanas) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Professora do Ensino Médio em Belo Horizonte. Myriam Becho Mota é Licenciada em
História pela Faculdade de Ciências Humanas de Itabira, MG. Mestre em Relações
Internacionais pela The Ohio University, EUA. Professora do Ensino Médio e Superior
em Itabira, MG.
Diferente das coleções examinadas anteriormente, as autoras não atuam no en-
sino superior, e sim no ensino médio. No entanto, a coordenação editorial permanece
sob a responsabilidade de Maria Raquel Apolinário.
Os volumes examinados encontram-se na sua 2ª edição, tendo como cidade de
origem e impressão São Paulo, no ano de 2006. Em seu verso estão citados todos os
responsáveis pela coordenação, elaboração dos volumes e a ficha catalográfica da cole-
ção. Nas páginas seguintes, as autoras escreveram a apresentação Ao aluno e à aluna e,
nas duas páginas subsequentes Conheça seu livro, contendo textos que informam como
são distribuídas as seções nesta coleção de livro didático.
Os conteúdos estão estruturados em 4 unidades que subdividem em 15 capítu-
los, em cada volume da coleção. As seções se alternam conforme o conteúdo tratado,
mas em todos os quatro volumes podem ser encontrados:
 Texto expositivo;
 Leitura complementar;
 Atividades;
 Oficina de trabalho;
 Páginas temáticas;

108
 Documento;
 Para saber mais, e
 Vamos treinar.
As imagens são nítidas, legendadas e bem articuladas com os textos didáticos e
as atividades.
A exemplo das outras coleções segue o quadro que contém conteúdos dos qua-
tro volumes de 6º ao 9º ano, do Ensino Fundamental anos finais, que abordam sobre a
História Regional de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Quadro 19 - Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio.


Volume Unidade de Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque
Conteúdo
6º ano Não consta Não consta Não consta
Unidade 3 Capítulo 9: A América dos povos pré- Indígenas encontrados no
O Mundo colombianos (p. 155). “Brasil” de 1500 na regi-
que os Euro- Os povos indígenas do Brasil. Mapa atual ão onde hoje é Mato
peus Encon- do Brasil que mostra a distribuição dos Grosso do Sul.
traram principais povos indígenas em 1500.
Capítulo 9: A América dos povos pré- Demarcação de terras
colombianos (p. 156). indígenas no Brasil sécu-
Direito às terras tradicionais. Mapa: Terras lo XXI.
7º ano indígenas no Brasil (2008). Este mapa traz
as informações de terras aprovadas e que
estão em estudo pontuando a existências
dessas áreas em MT e MS.
Unidade 4 Capítulo 14: A mineração (p. 226). As bandeiras e o aprisio-
A Coloniza- As grandes bandeiras. Mapa que trata das namento de indígenas no
ção da Amé- missões e da bandeira de Raposo Tavares século XVII.
rica Portu- nas regiões das missões com intuito de apri-
guesa sionar indígenas para trabalho escravo.
Dentre as missões a Itatim que fica na regi-
ão, onde hoje é Mato Grosso do Sul.
Capítulo 14: A mineração (p. 227). A região das minas (sécu-
Mapa que dá visibilidades das jazidas de lo XVIII).
ouro. Conhecida como “A região das minas”
(século XVII), dentre elas estão a Vila Real
(Cuiabá) e Vila Bela.

Capítulo 15: Sociedade e religião na colônia Mapa de localização dos


(p. 251). Quilombos.
Resistência contra a escravidão. Mapa que
localiza os principais quilombos do Brasil,
dentre eles o quilombo da Carlota (ou Pio-
lho), no atual estado de Mato Grosso.
Capítulo 14: D. Pedro II e a crise do Império Regiões de produção de
(p. 225). café nos séculos XVIII,
Mapa que localiza a região produtora de XIX e XX.
8º ano Unidade 4 café nos séculos XVIII, XIX e XX dentre
A Consoli- elas onde Hoje é o município de Nova An-

109
dação dos dradina no estado de Mato Grosso do Sul.
Estados Capítulo 14: D. Pedro II e a crise do Impé- Guerra do Paraguai 1865-
Americanos rio. (p. 232 e 233). 1870.
Guerra do Paraguai: o Exército nacional
volta fortalecido. Apresenta o mapa sobre
territórios pretendido pelo Paraguai ao sul
de Mato Grosso (p. 232).
Texto expositivo afirma que era importante
garantir o acesso via Rio Paraguai ao estado
de Mato Grosso (p. 233).
Unidade 1 Capítulo 1: A Coluna Prestes (p. 40-41). Os movimentos Sociais.
Brasil: a Quadro que contém mapa do Brasil com
República legenda da Marcha da Coluna Prestes (1924-
9º ano das Oligar- 1927). Esse mapa possibilita visualizar que
quias a Coluna Prestes passou em território mato-
grossense por duas vezes.
Unidade 4 Capítulo 15: Impasses e conflitos no século Geração de energia e
A Nova XXI (p. 293). desenvolvimento susten-
ordem mun- Desenvolvimento sustentável. Imagem aérea tável.
dial. de um trecho do Pantanal mato-grossense no
município de Poconé em 2008. Essa ima-
gem é utilizada para informar a existência
de projetos de desenvolvimento sustentável,
como a prática do ecoturismo, sem agredir o
ecossistema da região do Pantanal.
Fonte: Coleção História – Das Cavernas ao terceiro milênio.
Elaborado por: Jackson James Debona

No quadro 19, do mapeamento da coleção, pode ser observada a ausência da


abordagem regional em um dos volumes e uma significativa diminuição de chamadas de
História regional, em relação às abordagens identificadas nas coleções anteriores.

Quadro 20 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º Ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Conteúdo norteador do Referencial Curricular de
Didático de História. Mato Grosso do Sul
6º O mundo primitivo
Ano X 1º Bimestre:
 Pré-história no Mato Grosso do Sul.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História – Das
Cavernas ao terceiro milênio.
Elaborado por: Jackson James Debona

As autoras, ao se reportarem à Pré-história no Brasil, no volume do 6º ano, op-


taram por uma escrita generalizante e dedicada às primeiras descobertas arqueológicas
no Brasil. No litoral brasileiro os Sambaquis, no estado de Minas Gerais o Sítio arqueo-
lógico de Lagoa Santa e no Piauí no Parque Nacional da Capivara. Essa abordagem Pré-
histórica apresentada nesse volume passa a impressão de um vazio no restante do terri-
tório brasileiro e, como podemos observar nas coleções examinadas anteriormente, há

110
registros e vestígios pré-históricos nas regiões não pontuadas pelas autoras, inclusive em
Mato Grosso/Mato Grosso do Sul.

Quadro 21 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º Ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático de His- Conteúdo norteador do
tória. Referencial Curricular de
Mato Grosso do Sul
Capítulo 9: A América dos povos pré-colombianos (p. 155).
Os povos indígenas do Brasil. Mapa atual do Brasil que mos- O encontro de três mundos
tra a distribuição dos principais povos indígenas em 1500.
Capítulo 9: A América dos povos pré-colombianos (p. 156). 2º Bimestre:
Direito às terras tradicionais. Mapa: Terras indígenas no Bra-  A presença dos espa-
sil (2008). Este mapa traz as informações de terras aprovadas nhóis, no período co-
e que estão em estudo pontuando a existências dessas áreas lonial, na região do
em MT e MS. atual Mato Grosso do
7º Capítulo 14: A mineração (p. 226). Sul (relevâncias das
Ano As grandes bandeiras. Mapa que trata das missões e da ban- Missões do Itatim no
deira de Raposo Tavares nas regiões das missões com intuito processo de ocupação
de aprisionar indígenas para trabalho escravo. Dentre as mis- e o povoamento do
sões a Itatim que fica na região, onde hoje é Mato Grosso do Mato Grosso).
Sul.
Capítulo 14: A mineração (p. 227). 4º Bimestre:
Mapa que dá visibilidades das jazidas de ouro. Conhecida  História dos povos in-
como “A região das minas” (século XVII), dentre elas estão a dígenas do Mato
Vila Real (Cuiabá) e Vila Bela. Grosso do Sul: eco-
Capítulo 15: Sociedade e religião na colônia (p. 251). nomia, organização
Resistência contra a escravidão. Mapa que localiza os princi- política, processo de
pais quilombos do Brasil, dentre eles o quilombo da Carlota aculturação e contri-
(ou Piolho), no atual estado de Mato Grosso. buição cultural.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História – Das
Cavernas ao terceiro milênio. Elaborado por: Jackson James Debona

Segundo o Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul os conteúdos perti-


nentes à História Regional são articulados em dois bimestres no 7º ano. O volume da
coleção, referente ao 7º ano, apresenta maior adequação dos conteúdos em relação ao
proposto no Referencial curricular. O conteúdo do 2º bimestre do Referencial Curricular
requisita abordar sobre a presença dos Espanhóis no período colonial, na região "do
atual Mato Grosso do Sul."167 O livro didático de história, como pode se observar acima
no quadro, tangencia essa abordagem quando trata do conteúdo sobre Entradas e Ban-
deiras, que tinham como objetivo o apresamento de indígenas. Os bandeirantes, conhe-
cedores da existência das missões jesuíticas espanholas, investiram seus esforços para
atacar e apresar índios dessas missões. Dentre as missões o livro didático menciona as

167
MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensi-
no/MS – Ensino Fundamental. Campo Grande: SED-MS, 2012, p. 318.

111
missões do Itatim (Mato Grosso do Sul)168 , igualmente referenciada nas coleções exa-
minadas anteriormente.
No 4º bimestre, o Referencial Curricular aponta como conteúdo norteador a
História dos povos indígenas. Sobre esse conteúdo o livro traz o tema de uma forma
diluída e informativa, apenas no formato de mapas.169
Outros dois conteúdos aparecem no mapeamento do livro didático do 7º ano: A
Mineração e os Quilombos. A mineração é abordada de forma abrangente, associando
as jazidas de Goiás e Mato Grosso a uma grande região mineradora, representada no
mapa que pode ser visualizado à página 227. A demarcação dos Quilombos pode ser
visualizada na página 251, no formato de mapa. Esse mapa, relacionado ao período
colonial, está ligado ao texto didático Resistências contra a escravidão que representa a
organização dos negros nos quilombos e a resistência contra as investidas da “sociedade
luso-brasileira” e apresenta o quilombo da Carlota (ou Piolho), no atual estado de Mato
Grosso.

Quadro 22 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático de Conteúdo norteador do Referencial
História. Curricular de Mato Grosso do Sul
Capítulo 14: D. Pedro II e a crise do Império (p. O Mato Grosso Do Sul No Contexto
225). Imperialista
Mapa que localiza a região produtora de café nos 4º Bimestre:
séculos XVIII, XIX e XX dentre elas onde Hoje é  Conflito com o Paraguai: cau-
8º o município de Nova Andradina no estado de sas e desdobramentos para a
Ano Mato Grosso do Sul. América do Sul, para o Brasil
Capítulo 14: D. Pedro II e a crise do Império. (p. e para o Mato Grosso do Sul.
232 e 233).  Os Afro-brasileiros e os povos
Guerra do Paraguai: o Exército nacional volta indígenas Guaicurus na Guerra
fortalecido. Apresenta o mapa sobre territórios do Paraguai.
pretendido pelo Paraguai ao sul de Mato Grosso  Mato Grosso do Sul (ainda
(p. 232). Mato Grosso): economia, ciclo
Texto expositivo afirma que era importante garan- da erva mate, influência políti-
tir o acesso via Rio Paraguai ao estado de Mato ca, econômica, social e cultu-
Grosso (p. 233). ral no contexto imperialista
brasileiro.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História – Das
Cavernas ao terceiro milênio.
Elaborado por: Jackson James Debona

168
Conforme o Livro Didático do 7º ano, cf. "No mesmo ano começaram os ataques às missões do Itatim
(Mato Grosso do Sul), que desapareceram em 1648." (p. 226)
169
O conteúdo refere-se à chegada dos europeus em 1500 no Bras il, ao século XXI como: mapa da dis-
tribuição dos principais povos indígenas em 1500 (p. 155) e mapa de Terras indígenas no Brasil (2008),
(p. 156).

112
Para o 8º ano, a Coleção, em relação às outras coleções examinadas, apresenta
os conteúdos sobre História regional em menor quantidade. No entanto, mantém o texto
didático sobre A Guerra do Paraguai, este que podemos afirmar ser o único texto didá-
tico que faz referência direta à região de Mato Grosso em consonância com o referencial
curricular.170 O texto didático sobre A Guerra do Paraguai menciona a região Sul do
estado de Mato Grosso como pretendida pelo governo paraguaio e relata, ainda, a im-
portância da livre navegabilidade do Rio Paraguai, como via mais rápida para chegar à
província de Mato Grosso. Quanto às especificidades deste evento histórico, que ocor-
reu em solo Mato-grossense, são inexistentes no livro didático de História.
Este volume traz, ainda, um mapa que apresenta locais na região, onde se pro-
duzia café, no começo do século XX. Na configuração geopolítica atual do Estado de
Mato Grosso do Sul, essa região é a cidade Nova Andradina.
Sobre os conteúdos não contemplados pelo volume, podemos elencar: Os
Afro-brasileiros e os povos indígenas Guaicurus na Guerra do Paraguai, Economia e o
ciclo da erva mate- o que gera um déficit significativo para o ensino de História e para o
conhecimento da história de sua região.

Quadro 23 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano


Ano Descrição da Abordagem no Conteúdo norteador do Referencial Curricular de
Livro Didático de História. Mato Grosso do Sul
Capítulo 1: A Coluna Prestes (p. O Brasil República No Contexto Capitalista
40-41).
Quadro que contém mapa do Bra- 3º Bimestre:
sil com legenda da Marcha da Co-  Movimento Divisionista de Mato Grosso: ante-
luna Prestes (1924-1927). Esse cedentes, composição de poder, governos e con-
9º mapa possibilita visualizar que a flitos sociais.
Ano Coluna Prestes passou em território
mato-grossense por duas vezes.
Capítulo 15: Impasses e conflitos
no século XXI (p. 293).
Desenvolvimento sustentável. Ima-
gem aérea de um trecho do Panta-
nal mato-grossense no município
de Poconé em 2008. Essa imagem é
utilizada para informar a existência
de projetos de desenvolvimento
sustentável, como a prática do
ecoturismo, sem agredir o ecossis-
tema da região do Pantanal.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História – Das
Cavernas ao terceiro milênio.
Elaborado por: Jackson James Debona

170
Grifos meus.

113
O 4º volume, referente ao 9º ano, aborda dois conteúdos vinculados à região de
Mato Grosso. O primeiro relaciona-se à passagem da Coluna Prestes pelo Estado, entre
os anos de 1924-1927. Essa visualização é possível por meio de um mapa que faz parte
do texto e que mostra o percurso feito pela Coluna Prestes, em território brasileiro. O
segundo aborda o Eco Turismo como desenvolvimento sustentável na região do Panta-
nal, este já em 2008 com a preocupação voltada para o meio ambiente e produção de
divisas econômicas para a região. Esses conteúdos não atendem ao Referencial Curricu-
lar do estado, que por sua vez, prescreve o estudo do Movimento Divisionista de Mato
Grosso que está vinculado temporalmente ao século XX.
Portanto, a Coleção História - das cavernas ao terceiro milênio, quanto ao ensi-
no de História regional, mantém um padrão de história nacional vinculadas a certas re-
giões do Brasil. Desse modo, os conteúdos regionais de Mato Grosso estão diluídos e
agregados a conteúdos consolidados, entendidos como mais importantes.

[3.1.4] Projeto Radix – História

A Coleção Projeto Radix171 – História, em seus quatro volumes traz em suas


capas as seguintes informações: título da Coleção, nome do autor Cláudio Vicentino,
código da coleção do PNLD de 2011, logomarca da Editora Scipione e o ano (escolar)
que se refere o volume 6º, 7º, 8º e 9º anos.
A capa de cada volume é ilustrada com fotos diferentes:
 6º ano com a foto de capa Relevo persa do século VI a.C., Museu
do Louvre, Paris;
 7º ano com a foto de capa Escultura em pedra-sabão da porta da
Igreja de São Francisco de Assis, atribuída a Aleijadinho. São João
Del Rei [MG], 2006;
 8º ano com a foto de capa Torre Eiffel, Paris, e

171
Como consta na página de rosto da Coleção o termo Radix "é uma palavra latina que significa raiz. Em
latim, o substantivo radix era empregado tanto em sentido próprio (raiz de uma planta) como em sentido
figurado. Dependendo do contexto, radix podia significar, como raiz em português, base, fonte, fund a-
mento, origem.

114
 9º ano com a foto de capa Teatro Nacional Cláudio Santoro, Bra-
sília (DF).
Na folha de rosto apresenta as seguintes informações sobre o autor: Claudio
Vicentino que é bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade de São
Paulo. Professor de cursos Pré-vestibulares e de Ensino Médio, autor de obras didáticas
e paradidáticas para o Ensino Fundamental e Médio. Ressalte-se a formação do autor
na área de Ciências Sociais. Traz também informações sobre a 1ª edição; Cidade e ano
em que foi impressa: São Paulo, 2011. Em seu verso estão citados todos os responsáveis
pela coordenação e editoração dos volumes e a ficha catalográfica da coleção.
Nas páginas seguintes o autor escreve a apresentação Seja bem-vindo e, nas
duas páginas seguintes nos apresenta Como a obra está organizada, páginas que infor-
mam como são distribuídas as unidades (Módulos), os capítulos e as seções do livro
didático de História.
Os conteúdos estão estruturados em 8 módulos, distribuídos nos quatro volu-
mes da coleção que subdividem-se entre 14 e 16 capítulos em média, a cada volume da
coleção. Os volumes de 6º e 7º ano apresentam 14 capítulos e, os volumes de 8º e 9º
anos apresentam 16 capítulos.
As seções se alternam conforme o ano escolar, e são assim caracterizadas:
 Texto Didático;
 Para Começar,
 Atividades,
 Vocabulário,
 Fique Ligado,
 Algo a Mais,
 Aprendendo a Fazer,
 Lendo Textos,
 Oficina de trabalho,
 Páginas temáticas,
 Trabalhando com Documentos,
 Para Saber Mais e
 Caderno de Atividades Complementares, com indicações de li-
vros, sítios, filmes, músicas e bibliografia relativa aos assuntos tratados.

115
A exemplo das outras coleções segue o quadro que contém os quatro vo-
lumes de 6º ao 9º ano, do Ensino Fundamental, anos finais:

Quadro 24 - Coleção Projeto Radix - História


Volume Unidade Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque
de Conte-
údo
Capítulo 3: A origem dos primeiros povos A Pré-história no Conti-
americanos (p. 49). nente Americano.
Unidade 2 Mapa dos Principais sítios arqueológicos da
6º ano O homem América. Sítio de Santa Eliana de Mato Grosso
chega à de (11.000/12000 anos)
América Capítulo 4: Os indígenas no Brasil. A classifi- Povos indígenas no final
cação dos grupos indígenas (p. 65). do século XX no Brasil.
Mapa do Brasil com sua divisão política inte-
restadual com legenda de cores para designar o
tronco, família ou grupo indígena no final do
século XX.
Capítulo 13: Bandeiras de caça ao índio (p. Bandeiras de Caça aos
255). Índios a missões espanho-
Texto Central, fala que muitas bandeiras ataca- las.
ram as missões jesuíticas em vários pontos da
Unidade 8 América do Sul em especial aqui a de Itatim
7º ano As fronteiras hoje território Mato Grosso do Sul.
na América Capítulo 13: Bandeiras em busca de ouro e Bandeirantes e Monções
portuguesa diamantes (p. 258). rumo as minhas de outro
Texto Central que consta que os bandeirantes no extremo Oeste.
paulistas passaram a procurar ouro e diamante
nas regiões onde hoje é o estado de Mato Gros-
so e Goiás na década de 1720. Na mesma pá-
gina ainda consta um mapa que mostra o cami-
nho percorrido pelas monções para a região das
minas em Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá.
Capítulo 14: Luxo e pobreza nas Minas Gerais As novas vilas e cidades
(p. 266 e 267). da época da economia
Povoamento e mercado interno. Mapas que mineradora.
trazem as novas vilas e cidades do começo do
século XVIII principalmente das regiões mine-
radoras como Vila Bela e Cuiabá na Capitania
de Mato Grosso.
Unidade 2 Capítulo 4: A Guerra dos Emboabas (Minas Guerra dos Emboabas.
As rebeliões Gerais, 1707-1709) (p. 61).
na América Texto central que narra a Guerra dos emboabas
ibérica da qual foram vencedores restando aos paulis-
8º ano tas aventurar em outras conquistas de lavras de
ouro o que aconteceu então na região onde
atualmente é o estado de Mato Grosso.
Unidade 7 Capítulo 13: Para começar. (p. 195). Diferencias regionais.
O período Imagens de uma boiada sendo tocada nos cor-
regencial. redor das estradas do Pantanal de Mato Grosso
do Sul.
Capítulo 15: As tensões internacionais - a Bacia Bacia do Prata e as guer-
Unidade 8 do Rio da Prata (p. 237). ras platinas (século XIX)
A Política Texto central que é acompanhado de mapa e
do Segundo que narra os conflitos nessa região devido ao

116
Reinado. acesso a província de Mato Grosso.
Capítulo 15: A Guerra do Paraguai (p. 239). A Guerra do Paraguai.
Texto central que narra a ofensiva do Paraguai
em território da província de Mato Grosso.
9º ano Unidade 4 Capítulo 7: O tenentismo e a Coluna Prestes (p. A Coluna Prestes.
Brasil: a 117).
crise da Mapa do Brasil que contém o percurso da
República Coluna Prestes. Segundo esse percurso a Colu-
Oligárquica. na Prestes passou pelo então estado de Mato
Grosso entre 1925 a 1927.
Fonte: Coleção Projeto Radix – História.
Elaborado por: Jackson James Debona

A coleção Projeto Radix – História é uma das cinco coleções citadas nesse tra-
balho e que integra pela primeira vez o grupo de coleções aprovadas pelo PNLD. Quan-
to a sua adesão pelos professores do estado de Mato Grosso do Sul, representou a 4ª
coleção mais utilizada pelas escolas do Ensino Fundamental anos finais para o ensino de
história, o que justifica sua seleção nesta pesquisa. Portanto, sua importância é elemen-
tar para entender como os livros didáticos, instrumento de grande potencial no ensino de
história, vêm trabalhando quantitativamente e qualitativamente os conteúdos da região
de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul.
A tabela acima nos proporciona a visualizar os conteúdos sobre a região de
Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, e de posse desse mapeamento, estabelecer relações
com os conteúdos do Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul o qual, por sua vez,
estabelece conteúdos mínimos de História regional para serem tratados durante o ensino
fundamental.

Quadro 25 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano


Ano Descrição da Abordagem no Li- Conteúdo norteador do Referencial Curri-
vro Didático de História. cular de Mato Grosso do Sul
Capítulo 3: A origem dos primeiros O mundo primitivo
povos americanos (p. 49).
6º Mapa dos Principais sítios arqueológi- 1º Bimestre:
Ano cos da América. Sítio de Santa Eliana  Pré-história no Mato Grosso do Sul.
de Mato Grosso de (11.000/12000
anos)
Capítulo 4: Os indígenas no Brasil. A
classificação dos grupos indígenas (p.
65).
Mapa do Brasil com sua divisão políti-
ca interestadual com legenda de cores
para designar o tronco, família ou gru-
po indígena no final do século XX.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção Projeto Radix.
Elaborado por: Jackson James Debona

117
Os conteúdos apresentados no volume do 6º ano são esparsos e representados
apenas em mapas. O primeiro aborda no Texto Didático a origem dos povos america-
nos, incluindo ao final um mapa dos principais sítios arqueológico da América (Radix,
p. 49). Nesse mapa é destacado um sítio arqueológico situado em Mato Grosso e data
em torno de 11.000/12.000 anos e é conhecido por Sítio de Santa Eliana, no atual muni-
cípio de Jangada, mas essa informação não consta do livro, porém não cita mais nenhu-
ma informação ou conteúdo sobre a região.
No segundo mapa, o autor, após fazer uma abordagem sobre os grupos indíge-
nas, utiliza o mapa para dar visibilidade dos povos indígenas que ainda sobrevivem no
Brasil no final do século XX (Radix, p. 65). Desse modo, podemos visualizar, segundo
a legenda do mapa na região de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, o Tronco Tupi; Fa-
mília Aruak; Família Bororo; Tronco Jê; Família Karib e outros grupos não nomeados
pelo autor.
Quanto ao conteúdo que o referencial curricular do estado sugere - a Pré-
história no Mato Grosso do Sul -, essa especificidade não é contemplada por essa cole-
ção, tratando o tema de forma abrangente.

Quadro 26 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático de Conteúdo norteador do Referencial
História. Curricular de Mato Grosso do Sul
Capítulo 13: Bandeiras de caça ao índio (p. 255).
Texto Didático que relata as bandeiras que ataca- O encontro de três mundos
ram as missões jesuíticas em vários pontos da Amé-
rica do Sul em especial aqui a de Itatim, região de 2º Bimestre:
Mato Grosso 172 .  A presença dos espanhóis, no
Capítulo 13: Bandeiras em busca de ouro e diaman- período colonial, na região
tes (p. 258). do atual Mato Grosso do Sul
Texto Didático que consta que os bandeirantes (relevâncias das Missões do
paulistas passaram a procurar ouro e diamante nas Itatim no processo de ocupa-
7º regiões onde hoje é o estado de Mato Grosso e ção e o povoamento do Mato
Ano Goiás na década de 1720. Na mesma página ainda Grosso).
consta um mapa que mostra o caminho percorrido
pelas monções para a região das minas em Vila 4º Bimestre:
Real do Bom Jesus de Cuiabá.  História dos povos indígenas
Capítulo 14: Luxo e pobreza nas Minas Gerais (p. do Mato Grosso do Sul: eco-
266 e 267). nomia, organização política,
Povoamento e mercado interno. Mapas que trazem processo de aculturação e
contribuição cultural.

172
O livro didático traz a informação "muitas bandeiras chegaram a atacar as missões jesuíticas, do Mato
Grosso ao Rio Grande do Sul, capturando mais de 100 mil indígenas, a maioria deles já catequizada."
(Radix, p. 255)

118
as novas vilas e cidades do começo do século XVIII
principalmente das regiões mineradoras como Vila
Bela e Cuiabá na Capitania de Mato Grosso.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção Projeto Radix.
Elaborado por: Jackson James Debona

O tema elencado no quadro 26 é abordado de modo abrangente: partindo dos


aspectos relacionados à história, dita oficial, apresenta inconsistência em relação aos
conteúdos propostos para o 2º e 4º bimestres no Referencial Curricular e negligência
quanto as especificidades regionais (p. 255). Quanto ao conteúdo sobre os bandeirantes,
é retratada a busca de ouro e diamantes em outras regiões que atualmente compõem os
Estados de Mato Grosso e Goiás (p. 258). Há também o registro dos caminhos que as
monções percorreram para abastecer, com mantimentos e armas, as minas em Vila Real
do Bom Jesus de Cuiabá. Mais adiante, aborda dois mapas que dão visibilidade do mer-
cado interno de víveres e as grandes regiões mineradoras incluindo Vila Bela e Cuiabá
(p. 266-7).

Quadro 27 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental - 8º ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático Conteúdo norteador do Referencial
de História. Curricular de Mato Grosso do Sul
Capítulo 4: A Guerra dos Emboabas (Minas O Mato Grosso do Sul no contexto Im-
Gerais, 1707-1709) (p. 61). perialista
Texto central que narra a Guerra dos emboabas
da qual foram vencedores restando aos paulistas 4º Bimestre:
aventurar em outras conquistas de lavras de  Conflito com o Paraguai: causas e
ouro o que aconteceu então na região onde atu- desdobramentos para a América
8º almente é o estado de Mato Grosso. do Sul, para o Brasil e para o Ma-
Ano Capítulo 13: Para começar. (p. 195). to Grosso do Sul.
Imagens de uma boiada sendo tocada nos corre-  Os Afro-brasileiros e os povos in-
dor das estradas do Pantanal de Mato Grosso do dígenas Guaicurus na Guerra do
Sul. Paraguai.
Capítulo 15: As tensões internacionais - a Bacia  Mato Grosso do Sul (ainda Mato
do Rio da Prata (p. 237). Grosso): economia, ciclo da erva
Texto central que é acompanhado de mapa e mate, influência política, econô-
que narra os conflitos nessa região devido ao mica, social e cultural no contexto
acesso a província de Mato Grosso. imperialista brasileiro.
Capítulo 15: A Guerra do Paraguai (p. 239).
Texto central que narra a ofensiva do Paraguai
em território da província de Mato Grosso.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção Projeto Radix.
Elaborado por: Jackson James Debona

No volume do 8º ano a História regional aparece relacionada a acontecimentos


históricos de âmbito nacional, cujo teor de relevância fica atrelado ao de informação.
Essa constatação pode ser feita nas chamadas de títulos e dos textos didáticos e, das

119
seções, por exemplo: A Guerra dos Emboabas, O período regencial, As tensões interna-
cionais – Bacia do Rio da Prata e na A Guerra do Paraguai.

Quadro 28 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didá- Conteúdo norteador do Referencial Curricular
tico de História. de Mato Grosso do Sul
9º Capítulo 7: O tenentismo e a Coluna Prestes O Brasil República no Contexto Capitalista
Ano (p. 117).
Mapa do Brasil que contém o percurso da 3º Bimestre:
Coluna Prestes. Segundo esse percurso a  Movimento Divisionista de Mato Gros-
Coluna Prestes passou por Mato Grosso so: antecedentes, composição de poder,
entre os anos de 1925 a 1927. governos e conflitos sociais.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção Projeto Radix.
Elaborado por: Jackson James Debona

No volume do 9º ano da coleção, Mato Grosso é apresentado no mapa (p. 117)


que mostra o percurso da Coluna Prestes, entre os anos de 1925-1927. Quanto ao conte-
údo do Referencial Curricular, não há nenhuma aproximação com a abordagem feita
pelo livro de história do 9º ano. No entanto, embora o contexto trate do inicio do século
XX, o mapa utilizado traz o Estado de Mato Grosso após a divisão do Estado, já com
Mato Grosso do Sul como unidade federativa.
Portanto, a coleção Projeto Radix - História, do PNLD de 2011, quanto ao en-
sino de história regional, veicula o padrão de história Nacional, assentada em aconteci-
mentos de certas regiões do Brasil mais expressivas.

[3.1.5] História e Vida Integrada

A Coleção História e Vida Integrada (em seus quatro volumes) traz em suas
capas as seguintes informações: título da Coleção, nomes dos autores - Nelson Piletti,
Claudino Piletti e Thiago Tremonte-, código da coleção do PNLD de 2011, logomarca
da Editora Ática e o ano (escolar) que se refere o volume 6º, 7º, 8º e 9º anos.
A capa de cada volume é ilustrada com imagens diferentes:
 A imagem da capa do 6º ano é o Alto-relevo, tumba de Kagemi, em Saqa-
ra (sítio arqueológico a 30 km do Cairo, Egito), século XXIV a.C.;
 A imagem da capa do 7º ano é de Homem indígena da aldeia Rouxinol
(Igarapé Tarumã-Açu, Manaus, AM) fazendo artesanato[...] Foto de
2008;

120
 A imagem da capa do 8º ano é de St. Just Tin Miner, obra de Harold
Harvey produzida em 1935.
 A imagem da capa do 9º ano é de Dançarino abraça o globo terrestre em
ato contra o desflorestamento realizado em dezembro de 2007 em Nusa
Dua, na ilha de Bali.
A folha de rosto apresenta as informações, formação dos autores renomados
por suas experiências no campo da educação: Nelson Piletti possui graduação em Filo-
sofia, Pedagogia e Jornalismo é Mestre, doutor e livre-docente em História da Educação
Brasileira pela USP, ex-professor de História na rede pública de ensino do estado de
São Paulo. Claudino Piletti é graduado em Filosofia e Pedagogia, professor de História,
doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Thiago Tremonte é graduado
em História pela PUC-SP, mestre em História Social pela PUC-SP, graduado em Filo-
sofia pela USP e professor de História e de Filosofia.
Os volumes analisados são da 4ª edição, editados em São Paulo no ano de
2010. Em seu verso estão citados todos os responsáveis pela coordenação elaboração
dos volumes e a ficha catalográfica da coleção. Nas páginas os autores apresentam o
livro aos alunos no texto Caro aluno, e em Este é seu livro de História, os autores mos-
tram como a obra foi organizada internamente.
Os conteúdos estão organizados em unidades compostas por capítulos. O vo-
lume do 6º ano contém 208 páginas, contendo 4 unidades e 19 capítulos. O volume do
7º ano tem 224 páginas, 4 unidades que contêm 20 capítulos. O volume do 8º ano con-
tém 272 páginas, 6 unidades e16 capítulos. O volume do 9º ano possui 320 páginas, 6
unidades e 25 capítulos.
Segue após o capítulo as seções:
 Abertura de Unidade;
 Abertura de Capítulo;
 Boxes: A história em cena; Dialogando; Janelas da história; Discutindo a
história;
 Radar: questionários pontuais sobre o tema do capítulo;
 Seção “Mundo Cultural”;
 Proposta de atividades;
 Vocabulário;

121
 As Atividades;
 Estudar & organizar;
 Leitura & reflexão;
 Concluir & aprender;
 Seção “Conhecendo e descobrindo” e
 Glossário.
Essas seções aparecem alternadas nos capítulos que se seguem, no entanto elas
podem ser encontradas nos quatros volumes.
A exemplo das outras coleções, vejamos o quadro que contém os quatro volu-
mes de 6º ao 9º anos, do Ensino Fundamental, anos finais.

Quadro 29 - Coleção História e Vida Integrada


Volume Unidade de Descrição da Abordagem nas Seções Enfoque
Conteúdo
6º ano Unidade 1 Capítulo 4: O povoamento da América. (p. 40) Pré-história e
As Origens da Mapa que mostra o percurso do povoamento Povoamento das
Humanidade das Américas e sítios arqueológicos mais anti- Américas.
gos. No Brasil entre eles encontramos o de
Santa Eliana (Mato Grosso) que contém vestí-
gios da presença humana em torno de 11-12 mil
anos.
Unidade 4 Capítulo 19: A escravidão (p.194) Escravidão e
O empreendi- Brasil: comunidades quilombolas na atualidade. Quilombos
7º ano mento colonial Mapa que identifica os estados que tem o regis-
Português na tro de comunidades quilombolas. Segundo o
América mapa o estado de Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul possuem 23 comunidades quilombolas
identificadas atualmente.
Capítulo 1: A colônia em expansão (p.18) Principais Bandei-
A ampliação do território. Mapa que informa as ras
Bandeiras de apresamento de indígenas e Ban-
deiras que procuravam ouro e pedras preciosas
no começo do século XVIII na região onde hoje
é Mato Grosso.
Unidade 1 Capítulo 2: O ouro das Gerais (p. 25). Mineração no
8º ano A consolidação Regiões de mineração no século XVIII. Mapa Brasil do século
da presença que mostra as regiões de mineração entre elas XVIII.
europeia na pode visualizar Vila Bela e Cuiabá em Mato
América Grosso.
Capítulo 3: A consolidação do território colonial Criação de gado
português (p. 36). no século XVIII.
Duas regiões pecuaristas. Mapa que informa
como estava distribuída a criação de gado no
século XVIII. Entre as regiões pode ser visuali-
zada a região sul da capitania de Mato Grosso.
Capítulo 4: A Igreja na América portuguesa (p. Evangelização e
49). expansão da igre-
Expansão da religião católica na colônia. Mapa ja católica

122
que dá a visibilidade da atuação da religião
católica na Vila Bela da S. Trindade e Vila Real
do Senhor onde hoje é Mato Grosso.
Unidade 3 Capítulo 10: Revoltas e conflitos na colônia
O processo de portuguesa (p. 110). Guerra dos Em-
independência Uma revolta no Maranhão. Guerras dos Embo- boabas
das colônias das abas desencadeou uma nova procura por minas,
Américas Por- pelos paulistas, em outras regiões. Uma delas as
tuguesa e Espa- minas em Mato Grosso.
nhola.
Unidade 4 Capítulo 15: Dom Pedro II no poder: transfor-
O Brasil Mo- mações e conflitos (p. 178 e 179). A Guerra do Pa-
nárquico A Guerra do Paraguai. Textos que informam a raguai
invasão do território brasileiro pelos paraguaios
na região onde hoje é o estado de Mato Grosso
do Sul e a indignação que causou no povo brasi-
leiro.

Unidade 2 Capítulo 6: O tenentismo e a Revolução de 1930 A grande marcha


A república no (p. 75). dos tenentes
Brasil entre Mapa que mostra a longa marcha da Coluna
9º ano 1889 e 1930. Prestes pelos estados brasileiro dentre estes o de
Mato Grosso.
Capítulo 7: Quinze anos no poder (p. 85).
Guerra em São Paulo. Texto que trata da insur- Guerra em São
reição dos paulistas em 1932 e a ajuda da região Paulo
sul de Mato Grosso, sob o comando do general
Bertoldo Kliger que acompanhou São Paulo na
Revolução Constitucionalista.
Capítulo 25: Movimentos Sociais no Brasil (p. Parques e terras
Unidade 6 304). indígenas no
Consolidação da Parques e terras indígenas no Brasil. Mapa que Brasil.
democracia no informa através de legenda os parques e terras
Brasil. indígenas nos estados do Brasil. Entre eles Mato
Grosso do Sul.
Capítulo 25: Movimentos Sociais no Brasil (p. Qualidade de vida
310). das crianças indí-
Leitura & Reflexão. Texto que trata atualmente genas no Mato
a qualidade de vida das crianças indígenas no Grosso do Sul.
estado de Mato Grosso do Sul.
Fonte: Coleção História e Vida Integrada.
Elaborado por: Jackson James Debona

Diferente das anteriores, a coleção História e vida integrada agrupou em seus


dois últimos volumes (8º e 9º anos) maior inserção de conteúdos sobre a região de Mato
Grosso/Mato Grosso do Sul. No entanto, sua relação de conteúdos é distinta àquela pro-
posta no Referencial Curricular do estado de Mato Grosso do Sul.
Abaixo seguem quadros elaborados com a finalidade de comparar os conteúdos
dos livros didáticos de história com o referencial curricular e de esboçar uma análise
específica com os conteúdos mapeados dos quatro volumes da coleção História e vida
integrada.

123
Quadro 30 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 6º ano
Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático Conteúdo norteador do Referencial
de História. Curricular de Mato Grosso do Sul
6º Capítulo 4: O povoamento da América. (p. 40) O mundo primitivo
Ano Mapa que mostra o percurso do povoamento
das Américas e sítios arqueológicos mais anti- 1º Bimestre:
gos. No Brasil entre eles encontramos o de  Pré-história no Mato Grosso do
Santa Eliana (Mato Grosso) que contém vestí- Sul.
gios da presença humana em torno de 11-12 mil
anos.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História e Vida
Integrada.
Elaborado por: Jackson James Debona

O referencial curricular de história de Mato Grosso do Sul indica como conteú-


do norteador a Pré-história no Mato Grosso do Sul para o 6º ano. Porém o que temos
mapeado na respectiva Coleção consiste apenas em um mapa que dá visualidade a sítios
arqueológicos existentes no Continente Americano, dentre eles podemos encontrar cita-
do o sítio arqueológico de Santa Eliana (Mato Grosso), com vestígios da presença hu-
mana em torno de 11-12 mil anos. Contudo, a informação da existência do sítio arqueo-
lógico e de vestígios humanos, a nosso ver, não possibilita estabelecer um significativo
conteúdo da Pré-história da região e, segundo Elizabeth Madureira Siqueira (2002),
estão desatualizados.173

Quadro 31 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 7º ano


Ano Descrição da Abordagem no Li- Conteúdo norteador do Referencial Curricular de
vro Didático de História. Mato Grosso do Sul
Capítulo 19: A escravidão (p.194) O encontro de três mundos
Brasil: comunidades quilombolas 2º Bimestre:
na atualidade. Mapa que identificas  A presença dos espanhóis, no período colonial,
7º os estados que tem o registro de na região do atual Mato Grosso do Sul (rele-
Ano comunidades quilombolas. Segundo vâncias das Missões do Itatim no processo de
o mapa o estado de Mato Grosso e ocupação e o povoamento do Mato Grosso).
Mato Grosso do Sul possuem 23 4º Bimestre:
comunidades quilombolas identifi-  História dos povos indígenas do Mato Grosso
cadas atualmente. do Sul: economia, organização política, pro-
cesso de aculturação e contribuição cultural.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História e Vida
Integrada
Elaborado por: Jackson James Debona

173
Cf. SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais.
Cuiabá: Entrelinhas, 2002.

124
A seção Hoje, do livro didático de história 7º ano, apresenta um texto que trata
das comunidades remanescentes de quilombos da região de Ivaporunduva, no estado de
São Paulo e que lutam pela regularização das terras ocupadas por eles, desde o começo
do século XVII. Esse exemplo do texto levou os autores a incluir um mapa dos Quilom-
bos já identificados no país, resultando na menção da região de Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, onde foram identificadas 23 comunidades. Em relação ao conteúdo nor-
teador proposto no Referencial Curricular nenhum conteúdo é abordado nesse volume.

Quadro 32 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 8º ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático de Histó- Conteúdo norteador do Refe-
ria. rencial Curricular de Mato
Grosso do Sul
Capítulo 1: A colônia em expansão (p.18) O Mato Grosso do Sul no Con-
A ampliação do território. Mapa que informa as Bandei- texto Imperialista
ras de apresamento de indígenas e Bandeiras que procu-
ravam ouro e pedras preciosas no começo do século 4º Bimestre:
XVIII na região onde hoje é Mato Grosso.  Conflito com o Paraguai:
Capítulo 2: O ouro das Gerais (p. 25). causas e desdobramentos
Regiões de mineração no século XVIII. Mapa que mos- para a América do Sul,
tra as regiões de mineração entre elas pode visualizar para o Brasil e para o
Vila Bela e Cuiabá em Mato Grosso. Mato Grosso do Sul.
Capítulo 3: A consolidação do território colonial portu-
guês (p. 36).  Os Afro-brasileiros e os
8º Duas regiões pecuaristas. Mapa que informa como esta- povos indígenas Guaicu-
Ano va distribuída a criação de gado no século XVIII. Entre rus na Guerra do Para-
as regiões pode ser visualizada a região sul da capitania guai.
de Mato Grosso.
Capítulo 4: A Igreja na América portuguesa (p. 49).  Mato Grosso do Sul (ain-
Expansão da religião católica na colônia. Mapa que dá a da Mato Grosso): eco-
visibilidade da atuação da religião católica na Vila Bela nomia, ciclo da erva ma-
da S. Trindade e Vila Real do Senhor onde hoje é Mato te, influência política,
Grosso. econômica, social e cul-
Capítulo 10: Revoltas e conflitos na colônia portuguesa tural no contexto imperi-
(p. 110). alista brasileiro.
Uma revolta no Maranhão. Guerras dos Emboabas de-
sencadeou uma nova procura por minas, pelos paulistas,
em outras regiões. Uma delas as minas em Mato Grosso.
Capítulo 15: Dom Pedro II no poder: transformações e
conflitos (p. 178 e 179).
A Guerra do Paraguai. Textos que informam a invasão
do território brasileiro pelos paraguaios na região onde
hoje é o estado de Mato Grosso do Sul e a indignação
que causou no povo brasileiro.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História e Vida
Integrada.
Elaborado por: Jackson James Debona

No 8º ano do ensino fundamental o Referencial Curricular do estado de Mato


Grosso do Sul aponta dois conteúdos de história regional para serem trabalhados: Con-

125
flito com Paraguai e Ciclo da erva mate. Neste volume, em conformidade do Referenci-
al Curricular somente o Conflito com o Paraguai (Guerra do Paraguai) é tratado, ainda
que de modo superficial. No entanto, podem ser visualizadas menções de conteúdos de
história regional no livro didático do 8º ano. Esses conteúdos, no entanto, estão em de-
sacordo com o Referencial Curricular estadual quanto a volume/ano. A maior parte dos
conteúdos que estão no volume do livro didático do 8º ano, para o referencial curricular,
pertence ao conteúdo do 7º ano. Há um impasse temporal entre o referencial curricular
do estado de Mato Grosso do Sul e o livro didático da coleção História e vida integrada
gerada pela periodização da coleção de História ou ano/serial do referencial curricular, o
que é um problema se tomado o livro didático como um instrumento único no ensino de
história.
Com base nas análises realizadas até o momento consideramos extremamente
necessárias a formação e preparo dos professores para o processo de escolha de cole-
ções que tratem, ainda que minimamente, sobre conteúdos que permitam o ensino da
História regional, tendo em vista que as coleções abordadas nesse trabalho não dão res-
paldo suficiente a essa demanda.

Quadro 33 - Conteúdos para o Ensino de História no Ensino Fundamental 9º ano


Ano Descrição da Abordagem no Livro Didático de Histó- Conteúdo norteador do Refe-
ria. rencial Curricular de Mato
Grosso do Sul
Capítulo 6: O tenentismo e a Revolução de 1930 (p. 75).
Mapa que mostra a longa marcha da Coluna Prestes O Brasil República no Contexto
pelos estados brasileiro dentre estes o de Mato Grosso. Capitalista
Capítulo 7: Quinze anos no poder (p. 85).
Guerra em São Paulo. Texto que trata da insurreição dos 3º Bimestre:
9º paulistas em 1932 e a ajuda da região sul de Mato Gros-  Movimento Divisionista
Ano so, sob o comando do general Bertoldo Kliger que de Mato Grosso: antece-
acompanhou São Paulo na Revolução Constitucionalista. dentes, composição de
Capítulo 25: Movimentos Sociais no Brasil (p. 304). poder, governos e confli-
Parques e terras indígenas no Brasil. Mapa que informa tos sociais.
através de legenda os parques e terras indígenas nos
estados do Brasil. Entre eles Mato Grosso do Sul.
Capítulo 25: Movimentos Sociais no Brasil (p. 310).
Leitura & Reflexão. Texto que trata atualmente a quali-
dade de vida das crianças indígenas no estado de Mato
Grosso do Sul.
Fonte: Referencial Curricular para o Ensino Fundamental de M ato Grosso do Sul, 2012 e Coleção História e Vida
Integrada.
Elaborado por: Jackson James Debona

126
Para o 9º ano, o livro didático de história da coleção História e vida integrada
reservou conteúdos que, temporalmente (século XX), atendem à proposta de conteúdos
do Referencial Curricular, no entanto, nenhum dos conteúdos do livro didático aborda o
tema do referencial curricular sobre Movimento Divisionista de Mato Grosso: antece-
dentes, composição de poder, governos e conflitos sociais.
Os conteúdos que fazem referência à região de Mato Grosso/ Mato Grosso do
Sul, a maior parte, estão mencionados no texto didático174 o que não ocorre com fre-
quência nos volumes das outras coleções acima analisadas, que geralmente tratam nas
seções.
À exceção dos outros textos e que está na seção Leitura & Reflexão (p.310), e
que traz uma abordagem sobre as condições de vida das crianças indígenas do municí-
pio de Dourados MS. Esse texto foi extraído do jornal O Estado de S. Paulo, 27.2.2005,
segundo o livro didático da coleção História e vida integrada, é composto por dados
estatísticos e entrevistas com pais das crianças indígenas, no entanto, a fonte dos dados
não foi informada pelo jornal.
Após a leitura intensiva que resultou no mapeamento dos 20 volumes das cole-
ções de livros didáticos, do PNLD 2011, adotadas como fontes para a análise proposta
neste estudo de dissertação, ao lado do diálogo com o Referencial Curricular do Estado
de Mato Grosso do Sul, entende-se que a incidência de conteúdos contidos nos livros
didáticos, que se referem à História regional, restringe-se às menções e informações
esparsas e pontuais, evidenciando um resultado discreto, mais de ausências do que con-
teúdos específicos incorporados nos livros didáticos de história. Dado este que silencia e
inibe a possibilidade de representatividade da história regional integrar o cenário da
história Nacional.

[3.2] História regional: conteúdos recorrentes nos livros didáticos de História do


PNLD 2011

O presente trabalho de pesquisa constatou conteúdos diversos de História regi-


onal sendo tratados de modo disperso nas coleções de livros didáticos de história do

174
Dentre eles o texto que trata da Guerra em São Paulo 1932 e a ajuda da região Sul de Mato Grosso,
sob o comando do general Bertoldo Kliger que acompanhou São Paulo na Revolução Constitucionalist a
de 1932.

127
Ensino Fundamental anos finais. Isso foi possível verificar a partir de mapeamento de
conteúdos feito em cinco coleções que tiveram mais adesão no estado de Mato Grosso
do Sul. Por tanto, o objetivo desse texto é retomar o mapeamento das coleções de livros
didáticos de história para verificar as recorrências de temas ou conteúdos de História
regional nas coleções de livro didático de história. Esse exercício de cruzamentos de
dados é importante para dar visibilidade aos conteúdos que são entendidos como repre-
sentativos de uma História de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul e que veiculam nos
livros didáticos de História.
Face ao exposto, quatro Temas de História regional foram identificados como
recorrentes nas cinco coleções de livro didático de história do Ensino Fundamental anos
finais do PNLD 2011, a saber:
I. A Pré-história;
II. Bandeirantes e apresamento de indígenas em Mato Grosso;
III. Mineração;
IV. Guerra do Paraguai.
Partindo da premissa de que esses temas são importantes quando se diz respeito
ao Mato Grosso, ou ao que é importante e minimamente necessário de ser ensinado na
disciplina de história, serão tecidas algumas considerações:
I. A Pré-história: é tratada nas coleções referindo-se aos sítios arqueológicos
mais conhecidos da Europa, da América e África. Concomitantemente, as coleções tra-
balham a Pré-história no Brasil em textos didáticos, que, observado a localização geo-
gráfica dos vestígios dessa pré-história apresentada nos textos que permitem identificar
e acompanhar sua história, por meio da apresentação dos sítios arqueológicos litorâneos
e de Lagoa Santa em Minas Gerais. Quanto à Pré-história na região de Mato Grosso só é
possível visualizar seus indicativos por meio de mapas, recurso utilizado em todas as
coleções para dar visibilidade aos sítios arqueológicos mais antigos e conhecidos em
todas as regiões, já identificados e estudados. Desse modo, identificamos a ausência de
fundamentação nesses livros para tratar de um conteúdo que aborda a caracterização da
localidade e vestígios nos sítios arqueológicos na região, mas somente uma informação
da existência do mesmo em um mapa.
No livro didático ou paradidático escrito por Elizabeth Madureira Siqueira em
2002, ao que se refere à Pré-História em Mato Grosso, consta em seu primeiro capítulo,

128
sobre a origem do homem americano e os vestígios de sua existência ou passagem por
territórios onde hoje é Mato Grosso. A autora ainda aborda características dos vestígios
e localização dos mesmos seguidos de fotos e gravuras ou imagens das pinturas, instru-
mentos e cerâmicas feitas por povos denominados caçadores-coletores, agricultores e
ceramistas. Quanto à quantidade de sítios arqueológicos registrados são “636 em Mato
Grosso segundo dados de 2002 do site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), sendo os municípios de Poconé e Rondonópolis os que contam com
maior número de registros”175 . Tamanha é a relevância quantitativa desse conteúdo que
não pode ser tratado somente como um ponto no mapa do Brasil. O estudo da Pré-
História regional faz parte de um contexto histórico não menor que outros lugares privi-
legiados nos livros didáticos. “O mundo social é também representação e vontade, e
existir socialmente é também ser percebido como distinto”.176
II. Bandeirantes e apresamento de indígenas em Mato Grosso: esse também é
tema recorrente em todas as cinco coleções estudadas nesse trabalho.
Apresentam os Bandeirantes, representantes europeus, como superiores em
termos de raça e etnia, o que revela uma escrita da história de matriz eurocêntrica, he-
róis que foram predestinados a adentrar rumo às regiões longínquas no interior da colô-
nia para apresamento de indígenas177 para serem escravizados servindo de mão-obra nas
fazendas em São Paulo, Rio de Janeiro e Nordeste em outros afazeres em regiões litorâ-
neas do Brasil Colônia.178

175
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais . Cuiabá:
Entrelinhas, 2002.
176
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 4 ed. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001,
p. 118.
177
Segundo Diniz, os textos dos livros didáticos que tratam a questão indígena, da colônia à república
contemporânea no Brasil, são poucos elucidativos. Cf. DINIZ, Waldson Luciano Corrêa. Uma Contribu i-
ção à discussão sobre a problemática do índio no livro Didático.
https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=WALDSON+LUCIANO+CORR%C3%8AA+DINIZ+%2C+
livro+did%C3%A1tico+e+indio. Acessado em 23 de outubro de 2014.
178
Segundo Manuel Pacheco Neto, “Após o prorromper deste novo século, imagens novas sobre os ba n-
deirantes passaram a predominar nos livros didáticos de história. Porém, tais imagens são resultantes de
um processo ainda muito recente, que levará ainda um certo tempo – difícil de ser precisado – para come-
çar a suplantar as imagens antigas que, durante tanto tempo, foram disseminadas sobre a figura do sert a-
nista paulista. [...] podemos afirmar, com segurança, que a figura do bandeirante herói ainda continua
pairando como um paradigma histórico, exceto no restrito círculo acadêmico dos estudiosos do bande i-
rismo. Os conteúdos dos arcaicos livros didáticos de capa dura, cujas páginas amarelecidas estão corro í-
das por traças e cupins, continuam actuais, parece que de facto, para a grande maioria dos brasileiros”.
PACHECO NETO, Manuel. Heróis nos livros didáticos: bandeirantes paulistas. Dourados: Ed. UFGD,
2011.

129
Outro aspecto que pode ser elencado nesses textos, e recorrente nas coleções é
que se referem a Mato Grosso quando ainda a capitania de Mato Grosso não existia,
essas terras erram pertencentes à capitania de São Paulo. A Capitania de Mato Grosso
foi criada “através da Carta Régia de 9 de março de 1748, nomeando, para governá-la,
um nobre lusitano, D. Antônio Rolim de Moura”.179
III. Mineração: Em geral são os textos didáticos, ou seja, aqueles que abrem a
chamada principal de discussão do capítulo ou unidade Tema, que tratam sobre as regi-
ões de mineração no Brasil Colônia, ressaltando sua importância para a economia da
Colônia e a manutenção das relações que dependiam dos processos de exploração das
riquezas minerais. Descobertas, exploração, povoamento e cobrança de impostos por
parte da coroa e conflitos entre os garimpeiros foram assuntos que emergiram do mape-
amento das coleções de livro didático de história. Nessa forma de "contar" a história, a
maior parte das descobertas de jazidas de ouro e pedras preciosas está ligada aos Ban-
deirantes. Na região, onde atualmente é o Estado de Mato Grosso, os bandeirantes fo-
ram os primeiros a explorarem o ouro de aluvião. A abordagem desse conteúdo é abran-
gente e, em algumas das coleções, só pode ser visualizada de modo indireto, ou seja, a
partir de mapas que mencionam a informação das regiões mineradoras e que trazem
indicado, por meio de legendas, a região de Mato Grosso.
IV. Guerra do Paraguai: Tema que integra, em geral, os Textos didáticos das
coleções examinadas, com discussão mais extensa, ocupando várias páginas. No entan-
to, a forma como é abordado A Guerra do Paraguai180 nas coleções está vinculado às
ações dos chefes de estados, dos generais e das célebres batalhas. Quanto à região de
Mato Grosso, invadida pelo exército paraguaio foram identificadas simples menções
pontuais: O ataque do Paraguai a Mato Grosso; importante garantir o acesso via Rio
Paraguai ao estado de Mato Grosso. Em nenhum momento as coleções tratam da resis-
tência articulada pelos mato-grossenses, nem da coluna de soldados que chegou a região
para defender e dar combate aos paraguaios, conhecida como a "Retirada da Laguna",

179
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais . Cuiabá:
Entrelinhas, 2002, p. 40.
180
Ao analisar os textos sobre A Guerra do Paraguai nos livros didático PNLD 2011, Ana Paula Squinelo,
conclui que o “conteúdo é tendencioso e alçado de uma visão já ultrapassada pela academia. Fica o des a-
fio de encarar as renovações historiográficas pela qual passou os estudos da Guerra em suas diferenciadas
facetas e, tornar para o educando ao entendimento e à incorporação desse saber como algo significativo
para o entendimento de uma parte importante da história de nosso país e de no ssos países vizinhos”.
SQUINELO, Ana Paula. Revisões Historiográficas: A Guerra do Paraguai nos Livros Didáticos Brasilei-
ros – PNLD 2011. Diálogos, vol. 15, n. 1, 2011, p. 19-39.

130
que é considerada heroica não por suas batalhas, mas por ter conseguido minimamente
sobreviver.
Além dos temas identificados com maior incidência nas coleções examinadas,
observam-se outros que configuram certa representatividade ao tratar da história de Ma-
to Grosso. Temas como: Quilombos e Comunidades remanescentes de Quilombos, Co-
luna Prestes, Missões no Itatim aparecem com frequência, ainda que menor, em boa
parte das cinco coleções:
 Quilombos e Comunidades remanescentes de Quilombos
aparecem em quatro coleções, exceto na coleção Projeto Radix – His-
tória. Este tema aparece de modo indireto, em mapas, por meio do qual
pode ser visualizada a identificação de 23 comunidades Quilombolas
nos estados de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul.
 Coluna Prestes181 aparecem em quatro coleções, exceto na
coleção Projeto Araribá – História. Este tema aparece de modo indireto
em mapas e a abordagem está ligada a rota da marcha que a Coluna
Preste efetuou entre os anos de 1924-1927 passando por território da
região de Mato Grosso. No entanto não é enunciada nenhuma relação
com acontecimentos históricos que possa ter ligação com fatos de His-
tória Regional.
 Missões no Itatim aparece em três coleções, exceto no
Projeto Araribá – História e História e vida integrada. A abordagem do
conteúdo Missões no Itatim está relacionada às missões espanholas que
sofriam os ataques dos bandeirantes portugueses que faziam incursões
à região onde seria Mato Grosso para apresamento de índios.
Destarte, os conteúdos de História regional de Mato Grosso/ Mato Grosso do
Sul, recorrentes nas coleções de livro didático de história, são tratados em segundo pla-
no já que as recorrências de informações históricas da região estão atreladas a aconte-

181
Segundo Alisolete Antônia dos Santos Weingartner, “Em 30 de abril de 1925, “a vanguarda da Coluna
Prestes ocupa o Patrimônio de Dourados e depois Porto Felicidade e Campanário”. Ela confronta -se com
as forças do exército nas proximidades de Amambai, do qual sai vitoriosa e se apodera de caminhões que
permite o seu deslocamento até Ponta Porã, onde estabelece a sede do Comando”. WEINGARTNER,
Alisolete Antônia dos Santos. Movimento divisionista em Mato Grosso do Sul. Porto Alegre: Edições
EST. 1995, p. 66.

131
cimentos históricos naturalizados de maior importância para a abordagem Nacional. De
acordo com Michel de Certeau:

Mostrou-se que toda interpretação histórica depende de um sistema de


referência; que este sistema permanece uma “filosofia” implícita par-
ticular; que infiltrando-se no trabalho de análise, organizando-o à sua
revelia, remete à “subjetividade” do autor.182

Nessa perspectiva, elemento que pode ser destacado, e em certa medida, ter in-
fluenciado o recorte da historiografia sobre a qual se assentam a produção dos textos
que compõem as coleções é o local onde os autores das coleções de livro didático reali-
zaram sua formação acadêmica, ao lado da sede das editoras que detém o capital cultu-
ral e financeiro para a composição de materiais didáticos, o que em nossa análise, inter-
fere na perspectiva histórica que orienta a escrita da coleção.
As coleções que tiveram adesão pelos professores do estado de Mato Grosso do
Sul foram elaboradas por historiadores e Educadores que não têm sua formação na regi-
ão e, a empresa que as financia tem sua matriz em região onde a história dessas se natu-
ralizou como uma história Nacional. Aqui me refiro à encomenda de coleções que são
feitas pelas editoras. A procedência do autor e sua formação acadêmica podem ser signi-
ficativas para análises como a em curso, haja vista que a bagagem histórica de sua for-
mação, que tem seu início escolar no Ensino Fundamental e que perpassa a graduação e
pós-graduação, se torna referência ao escrever história, pois o local é que deixa as pri-
meiras impressões na constituição dos saberes históricos.
Ressalte-se, por fim, de acordo com Certeau: Toda pesquisa historiográfica se
articula com um lugar de produção sócio-econômico, político e cultural.183 Desse mo-
do, as coleções de livros didáticos do PNLD de 2011 têm dois componentes que defi-
nem a escrita de seus conteúdos, a saber: os autores e as editoras ligadas aos editais ofi-
ciais elaborados pelo MEC.
Para não concluir, o silenciamento histórico da região é promovido por forças
historicamente não suplantadas pela construção histórico-historiográfica e da pouca
representatividade política, econômica e cultural da região que se faz frente à produção
de outras regiões privilegiadas. Esses indícios podem ser pautados nas pesquisas no

182
CERTEAU, Michel de. A escrita da História. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 67.
183
Idem, 2010, p. 66.

132
campo da História regional184 e na produção historiográfica185 que são poucas e a ine-
xistência de autores de livro didático de História que fazem parte do grupo seleto dos
aprovados no Programa Nacional de Livro Didático, componente curricular – História,
tornando mais árduo o ensino de História regional.

184
Paulo Roberto Cimó Queiroz fez um balanço sobre a produção historiográfica Sul-Mato-Grossense a
partir de 1968-2010. Em seu artigo constatou que a constituição da Historiografia acadêmica está ligada
diretamente a criação dos cursos de graduação em História em várias cidades ainda na década de 1960.
QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. A historiografia sul-mato-grossense, 1968-2010: Notas para um balan-
ço, in: GLEZER, Raquel (org.). Do Passado para o Futuro. Edição comemorativa dos 50 anos da Anpuh.
São Paulo: Contexto, 2011, p. 167-185.
185
Na edição comemorativa de 50 anos de Anpuh, Maria Adenir Peraro, Fernando Tadeu de Miranda
Borges, Otavio Canavarros e Vitale Joanoni Neto escreveram um artigo que trata da produção historiográ-
fica acadêmica de Mato Grosso a partir da criação da Universidade Federal de Mato Grosso em 1970,
“marco divisor na arte da escrita historiográfica e da pesquisa cientifica na região”. PERRARO, Maria
Adenir; BORGES, Fernando Tadeu de Miranda; CANAVARROS, Otavio; JOANONI NETO, Vitale.
Notas Sobre a Produção Historiográfica Acadêmica de Mato Grosso, in: GLEZER, Raquel (org.). Do
Passado para o Futuro. Edição comemorativa dos 50 anos da Anpuh. São Paulo: Contexto, 2011, p. 145-
166.

133
=== CONSIDERAÇÕES FINAIS ===

Quem percorre Mato Grosso do Sul nota que nos falta ainda
este sentimento de integração, ou seja, somos um – um estado, uma
unidade da federação, pela qual somos todos igualmente responsá-
veis. Como construir esta identidade? O primeiro passo é conhecer o
estado. Não só sua história, mas sua geografia, suas potencialidades,
seu todo, enfim.186

Nas palavras do escritor Sul-Mato-Grossense Hildebrando Campestrini187 , co-


nhecer o Estado é o primeiro passo para conhecer sua história. Nesse sentido, ao esco-
lher o livro didático como objeto para o estudo evidenciado nesta pesquisa, partiu-se do
pressuposto de que o mesmo, tendo em vista sua grande circulação e uso por parte de
professores e alunos da rede pública de ensino, seria instrumento de grande potenciali-
dade para o ensino de História e, como interessa a essa pesquisa, do ensino de História
regional. Assim, alçou-se o trabalho de pesquisa com a finalidade de entender em que
medida as coleções de Livro Didático adotadas no Estado nos anos do PNLD de 2011,
atendem às propostas dos Referenciais Curriculares do estado de Mato Grosso do Sul,
utilizados como orientadores do trabalho docente em sala de aula, quanto à disponibili-
zação de conteúdos para o ensino de História regional.
Tornou-se impactante, quando do mapeamento das fontes, a quantidade de con-
teúdos sobre História regional. Podemos observar que a história de Mato Grosso encon-
tra-se presente em grande parte das coleções examinadas, no entanto, o que se conta

186
CAMPESTRINI, Hildebrando. Conhecer para ser: Eis aí a nossa questão. Publicado em sete de julho
de 2013. Disponível em http://www.ihgms.org.br/arquivos/author/campestrini. Acessado em 20 de de-
zembro de 2014.
187
Hildebrando Campestrini ocupa atualmente a cadeira nº 31 da Academia Sul-Mato-Grossense de Le-
tras. É graduado em Filosofia, Pedagogia, Letras com Francês e especialista em Língua Portuguesa. Exe r-
ce o magistério desde 1961. Foi professor do ensino básico e superior. Seus escritos abrangem as áreas
de: didática, linguagem jurídica, história e literatura. E autor do Livro intitulado : HISTÓRIA DE MATO
GROSSO DO SUL, 6. ed., Campo Grande, IHGMS, 2009, 368 p. CAMPESTRINI, Hildebrando. Mem-
bro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Disponível em
http://acletrasms.com.br/membro.asp?IDMCad=54. Acessado em 20 de dezembro de 2014.

134
sobre essa história merece exame mais detalhado. Haja vista, que além de serem poucas
inserções de conteúdos de história regional, se comparado aos conteúdos requeridos no
Referencial Curricular de Mato Grosso do Sul, os existentes estão dispersos nos livros
didáticos a ponto de, historicamente, não atenderem a demanda de ensino e nem dar a
visibilidade histórica de pertencimento da região (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul)
aos Estados Federativos do Brasil.
Tendo como fonte as cinco coleções de Livros Didáticos do PNLD 2011 com
índice total de 85,6% das adesões das escolas estaduais, de Ensino Fundamental, anos
finais, de Mato Grosso do Sul, a História regional pode ser visualizada como meras
menções, sendo que, somente quatro conteúdos são recorrentes nas coleções, a saber: A
Pré-História; Bandeirantes e apresamento de indígenas em Mato Grosso; Mineração e
Guerra do Paraguai. Essas menções são apresentadas pelos Livros Didáticos de Histó-
ria de duas formas: mapas e textos didáticos.
Os Mapas aparecem vinculados, na sua grande maioria, ao conteúdo da Pré-
História. Os conteúdos apresentados pelas coleções nos textos didáticos seguem uma
ordem aparente, a qual se inicia pelos sítios arqueológicos da Europa, América e Brasil.
Sendo a Pré-História no Brasil associada ao litoral (estudos dos Sambaquis), ao Piauí
(Sítio Boqueirão da Pedra Furada, no Parque Nacional da Serra da Capivara, em São
Francisco Nonato) e a Minas Gerais (sítio da Lapa Vermelha, na região de Lagoa San-
ta). Esses foram os sítios com maior incidência que aparecem nas cinco coleções anali-
sadas, em forma de texto didático. As outras regiões e ou estados estão representados no
mapa do Brasil (que contempla a divisão geográfica atual) de forma legendada com
pequenos pontos inseridos no mapa, através dos quais é possível observar o nome (indi-
cativo) dos sítios arqueológicos. É nesse formato que, na região, pode ser observada a
existência do sítio arqueológico de “Santa Elina”, atual município de Jangada- MT.
Face ao exposto, os mapas se tornaram um recurso usado para visualizações
que, em nossa análise, tem uma função mais informativa do que formativa. Percebemos
que a estrutura dos conteúdos da Pré-história está hierarquizada transparecendo a con-
cepção histórica eurocêntrica. Desse modo, a importância de sítios que estão na “zona
periférica” é silenciada por “grandes achados arqueológicos” feitos por pesquisadores
renomados (europeus ou ligados a eles).

135
Os Textos Didáticos, recorrentes nas coleções, privilegiam temas sobre os
Bandeirantes e apresamento de indígenas em Mato Grosso, Mineração e a Guerra do
Paraguai. Esses conteúdos são apresentados nas cinco coleções de História, atendendo
em nossa análise, a veiculação de um ensino de história com perspectiva eurocêntrica: O
europeu desbravador dos “sertões”, o aguerrido caçador de índios que trouxe desenvol-
vimento e civilização ao território brasileiro.
Quanto à menção de conteúdos sobre a região enquanto unidade territorial é
percebida como um lugar onde se apresa índios para o trabalho escravo. Diferentemente
do modo pelo qual essa história é representada nos livros didáticos, a região era um lu-
gar de disputas territoriais entre o Império Espanhol e Português e, ainda terras onde
residiam milhares de indígenas e não territórios “vazios”, como os estudos citados ao
longo do trabalho dão conta de demonstrar, sem contar o forte potencial minerador, nos
séculos XVII e XVIII.
Nesse aspecto, os textos didáticos que tratam sobre mineração, indicam a regi-
ão de minas (Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá) como um ponto pertencente às
Minas Gerais encobrindo a importância histórica que a região de Mato Grosso teve em
relação à exploração e envio de metal precioso (impostos) para Portugal no século
XVIII. A menção da região não é trabalhada quanto aos fatos de garimpagem, fundação
de Arraiais e Vilas, o que indica certo silenciamento persistente sobre a História regio-
nal.
O tema Guerra do Paraguai, nas coleções de livro didático, é o texto que apre-
senta maior abordagem nas coleções examinadas se comparados aos temas já citados.
No entanto, os aspectos destacados no corpo dos textos referem-se à invasão do Para-
guai ao território de Mato Grosso, cujo motivo incidia na importância de manter aberta
a navegação pelo Rio Paraguai, caminho este mais rápido para chegar até a província de
Mato Grosso. Essa representação perpetua um estigma herdado por parte da escrita que
toma como fonte a história registrada por cronistas que passaram e registraram suas
impressões sobre a região. Como podemos perceber a menção feita à região silencia
quanto à abordagem acerca das batalhas de resistência empreendidas pelos oficiais que
guarneciam a região (Fortes, pontos que representavam limite territorial entre os Esta-
dos) ou mesmo a famosa “Retirada da Laguna” da qual o sertanejo José Francisco Lo-
pes, considerado guia e herói, e outras questões que levaram àquele evento histórico.

136
Outros conteúdos relacionados à região aparecem nas cinco coleções, embora
de modo não recorrente e frequente. Dentre estes se registram: os Quilombos e Comu-
nidades remanescentes de Quilombos; Coluna Prestes e as Missões no Itatim, porém
abordados e possíveis de ser visualizados na sua maioria por meio de mapas. Quanto à
representatividade da região, fica no plano de citação, pois a História regional está rele-
gada a parte que é atingida pela ação dos grandes feitos, pois a citação da região está
atrelada a um tema específico que é desenvolvido como abordagem principal. Exemplo
dessa perspectiva são os Quilombos, Escravidão, Indígenas, Política e Bandeirantes.
A forma de construção histórica que se observa ainda passa pelo registro de
uma historiografia baseada nos grandes acontecimentos, encadeamentos de fatos e per-
sonalidades que por diversos motivos levaram seu nome na História, muito embora todo
o temário da historiografia ensinada ainda siga essa tradição, ao contrário do que indi-
cam os pressupostos teóricos metodológicos expressos na apresentação de cada coleção.
Esse padrão ou modelo tomado pelos autores estão explícitos nos textos didáti-
cos, nos quais se observa a mesma forma de tratamento dos fatos históricos e estrutura
dos acontecimentos históricos em todas as coleções examinadas, evidenciando uma
compilação de acontecimentos históricos, ou indicando a existência de uma editoração
com matriz única de conhecimentos históricos a serem veiculados, independente da Edi-
tora que faz a coleção circular. Para atenuar problemas dessa natureza, Leandro Karnal,
na apresentação de obra significativamente utilizada pelos historiadores que se preocu-
pam com o ensino desta área, sugere: “Uma aula pode ser muito dinâmica e inovadora
utilizando, giz, professor e aluno. Em outras palavras, podemos usar meios novos, mas é
a própria concepção de História que deve ser repensada. O recorte que o professor faz é
uma opção política.’188
Professores, escolas estaduais e Secretarias Estaduais de Educação são coadju-
vantes na escolha dos Livros Didáticos de História aprovados pelo PNLD para o triênio.
No entanto, as responsabilidades a eles legadas são de ordem operacional, como apre-
sentados nos capítulo 1 e 2, dentre elas: fazer adesão ao Programa; escolher as coleções
de livros didáticos e efetuar os pedidos das coleções junto a Secretaria Estadual de Edu-
cação (SED). A SED-MS estabelece o dia ou período para que os professores escolham

188
KARNAL, Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto,
2013, p. 9 (introdução).

137
e repassem os títulos das coleções, cabendo a SED repassar para o MEC as coleções
escolhidas.
Ao ressaltar a responsabilidade das partes, quanto às escolhas das coleções, não
se pode eximir também os problemas que tais escolhas gerem quanto ao ensino, pois
dada a relevância às coleções, aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático,
por um formato hegemônico de se “contar” a história, e constatada a lacuna de conteú-
dos regionais, cuja exigência é efetivada por meio dos parâmetros orientadores para o
ensino da disciplina, como demonstrado no capítulo 3 e Anexo 1, é de responsabilidade
do sistema educacional, e não apenas do professor, estabelecer correções quanto as dis-
torções, discutir estratégias para sanar ou amenizar esses déficits de conteúdos na edu-
cação escolar.
Existe um impasse quanto à elaboração de um material didático que assegure o
ensino de História regional, no entanto, o problema já foi identificado e registrado por
órgãos competentes, tendo em vista o esforço da Editora Base Editorial, sediada no Pa-
raná, em chancelar a linha editorial “História regional”, contatando diversos autores
para atender a essa pretensa demanda reprimida, muito embora os livros estejam direci-
onados para o Ensino fundamental anos iniciais – especificamente para o 5º ano - a qual
já conta com títulos aprovados nos PNLD de 2013, 2014, 2015.
Ainda assim, a nosso ver, o problema está longe de ser resolvido, pois como
podemos observar no percurso da pesquisa, as editoras teriam que operacionalizar mu-
danças significativas para atender às regiões. Tais mudanças gerariam investimentos
vultosos, os quais para essas empresas representariam, possivelmente, aumento de gas-
tos e diminuição de lucros, inviabilizando os projetos já existentes, o que demandaria
operacionalização de novos projetos de edição e editoração por região. Para as editoras
se torna inconcebível, para os professores da área de história, uma ferramenta a menos
para o ensino.
Dentro do contexto da produção de livro didático sobre História regional em
Mato Grosso do Sul, localizamos dois títulos para o ensino de 5º ano séries iniciais do
Ensino Fundamental Estado de Mato Grosso do Sul:
 GRESSLER, Lori Alice; VASCONCELOS, Luiza Mello;
KRUGER, Zelia Peres de Souza. História do Mato Grosso do Sul. São
Paulo: FTD, 2008. (aprovado pelo PNLD de 2010) e das autoras

138
 VALDEZ, Diana; AMARAL, Miriam Bianca do. História
do Mato Grosso do Sul. Curitiba, PR: Base Editorial, 2011. (aprovado
pelo PNLD de 2013).

Quanto ao material de apoio, segundo observado em diálogos com professores
que atuam na rede pública de ensino, é uma apostila para a EJA e um livro comemorati-
vo dos 30 anos de criação e instalação do Estado de Mato Grosso do Sul. A apostila de
autoria de Paulo Marcos Esselin e Lourimar Terezinha Moreira Brandão foi elaborada
para a Educação de Jovens e Adultos 3ª e 4ª fase do Ensino Fundamental EJA 189 em
parceria com a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul e FADEMS. É
importante salientar que os direitos autorais dessa obra pertencem a Secretaria de Estado
de Educação de Mato Grosso do Sul e que a mesma é proibida sua reprodução em parte
ou integral sem a autorização expressa da mesma. O livro comemorativo dos trinta anos
de Instalação do Mato Grosso do Sul – Mato Grosso do Sul: criação e instalação - 30
anos - no qual foram transcritos depoimentos de pessoas que participaram direta ou in-
diretamente da instalação do novo estado, além de textos de duas historiadoras que es-
crevem sobre a História de Mato Grosso, sua gênese e sua divisão.
Em Mato Grosso a lista de livros didáticos e paradidáticos conta com número
maior de títulos. Conforme pesquisas realizadas por Elizabeth Madureira Siqueira 190
foram postos em circulação onze livros didáticos versando sobre a História de Mato
Grosso e quatro sobre a Geografia de Mato Grosso.
Livros de História:
 MENDONÇA, Estevão de. Quadro Chorographico de
Mato Grosso. Cuiabá, 1906.
 MENDONÇA, Rubens de. História de Mato Grosso. 1ª.
ed. Cuiabá, 1979.

189
A abordagem desse material é econômica. Segue uma cronologia baseada na s mudanças econômicas
que foi se processando na região. Evita a fazer referencia a Província de Mato Grosso e salienta o Sul de
Mato Grosso como região prospera silenciando os violentos atritos políticos que ocorreram no fim do
século XIX e no século XX. Material rico em mapas, porem mal configurado ao conteúdo histórico. Cf.
ESSELIN, Paulo Marcos; BRANDÃO, Lourimar Teresinha Moreira. História. 3ª e 4ª. Fases do ensino
fundamental - EJA. Campo Grande, MS: Ed. Oeste, 2005.
190
Palestra proferida com o título de Livros Didáticos de Mato Grosso: retrospectiva histórica de sua
produção, cedido, gentilmente, pela autora, para compor as discussões desta pesquisa.

139
 SILVA, Octayde Jorge. Extratos da História de Mato
Grosso. Cuiabá, 1980.
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 PÓVOAS, Lenine de Campos. História Geral de Mato
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Mato Grosso. (Ensino de Jovens e Adultos), Cuiabá, 1997.
 CAVALCANTE, Else. História de Mato Grosso. (para
concursos e exames vestibulares). Cuiabá, 2006.
 MENDES, Marcos Amaral. História e Geografia de Mato
Grosso. Jaciara, MT, 2007.
 SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Gros-
so: da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002.
Livros de Geografia:
 AMORIM, Lenice; MIRANDA, Leodete. Mato Grosso
Atlas Geográfico.
 PIAIA, Ivane Inêz. Geografia de Mato Grosso. 1999.
 MORENO, Gislaine; HIGA, Tereza Cristina de Souza;
MAITELLI, Gilda Tomazini. Geografia de Mato Grosso: território, soci-
edade e ambiente. 2005.
 MIRANDA, Leodete. Cartografia Geoambiental do Par-
que Nacional de Chapada dos Guimarães – MT. 2013.
São livros considerados didáticos pela forma de sua organização interna, mate-
rialidade e organização de informações, sendo utilizados para complementação de estu-
dos no Ensino Fundamental e Médio, como indicação bibliográfica para concursos pú-

140
blicos, no entanto, não integram, até o momento, a lista de livros recomendados para o
ensino de história do PNLD.
Outrossim, entendemos que a produção didática não tem como função precí-
pua, atender integralmente às necessidades didáticas dos professores, que ao nosso ver,
devem ser amenizadas por formação continuada para os mesmos, pois se observado os
autores dos originais e a editoração dos livros didáticos, perceberemos que eles escre-
vem e projetam uma leitura histórica de um lugar e que é diferente da região em ques-
tão. A propósito da necessidade de formação continuada, e na carência de conteúdos de
História regional nas coleções de livros didáticos, podemos ao longo da pesquisa perce-
ber uma quantidade significativa de dissertações, teses e livros que abordam a história
da região de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, o que atenderia a demanda de elabora-
ção de material didático de História regional para os anos finais do Ensino Fundamental.
A existência de uma História e de uma Historiografia regional nos leva à con-
clusão de que não há a falta de pesquisas para fomentação de materiais didáticos de His-
tória regional, mas sim o compromisso de reescrever a história nacional com um olhar
mais abrangente sobre as regiões que constituem a nação deixando de fora o “privilé-
gio” de algumas localidades específicas de construírem a história nacional segundo seus
próprios desígnios.
As leis e as normas e o referencial curricular que amparam o ensino das especi-
ficidades regionais existem, o que não existiu no PNLD de 2011, foi um livro didático
de História que desse conta de incluir a História regional de Mato Grosso/Mato Grosso
do Sul.
Constatamos, por meio deste estudo, que o posicionamento autoral e de edito-
ração das coleções examinadas deixa a desejar quanto à possibilidade de utilizar o livro
didático de História para discussão e ensino de História regional, ou seja, o livro didáti-
co no que se refere ao ensino de História regional, ainda não pode ser considerado um
instrumento que ajuda no ensino de História regional nas escolas estaduais de 6º ao 9º
ano do Ensino Fundamental de Mato Grosso do Sul.
A pesquisa realizada oportunizou perceber e analisar, por fim, que essa forma
de abordagem tem se naturalizado no livro didático de História. Questionamentos que
originaram a proposição de pesquisa, desenvolvida e apresentada no decorrer desta dis-
sertação ainda persistem, pois ao deparar-se com a ausência de conteúdos de História

141
regional nos livros didático de História. Emergem questionamentos, possivelmente
compartilhados por profissionais do campo do ensino de história: Onde encontrar mate-
rial didático ou paradidático sobre História regional? Quais parâmetros tomar para ana-
lisar as coleções de livros didáticos de História? De que forma irei trabalhar essas au-
sências com os estudantes? Essas são algumas questões pertinentes levantadas que sina-
lizam, a nosso ver, a possibilidade de continuidade de estudos nesse sentido, buscando
investigar as práticas dos docentes em sala de aula.

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dução. Educação e Pesquisa. São Paulo, vol. 30, n. 3, p. 513-529, set./dez. 2004.

________. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. Tese (Doutorado em História e


Filosofia da Educação). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo,
1997.

OLIVA, Anderson Ribeiro. Lições sobre a África: abordagens da história africana nos
livros didáticos brasileiro. Revista de História. São Paulo, n. 161, p. 213-244, 2009.

PERRARO, Maria Adenir; BORGES, Fernando Tadeu de Miranda; CANAVARROS,


Otavio; JOANONI NETO, Vitale. Notas Sobre a Produção Historiográfica Acadêmica
de Mato Grosso, in: GLEZER, Raquel (org.). Do Passado para o Futuro. Edição co-
memorativa dos 50 anos da Anpuh. São Paulo: Contexto, 2011, p. 145-166.

PACHECO NETO, Manuel. Heróis nos livros didáticos: bandeirantes paulistas. Doura-
dos: Ed. UFGD, 2011.

151
QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. A historiografia sul-mato-grossense, 1968-2010: No-
tas para um balanço, in: GLEZER, Raquel (org.) Do Passado para o Futuro. Edição
comemorativa dos 50 anos da Anpuh. São Paulo: Contexto, 2011, p. 167-185.

RIBEIRO, Renilson Rosa. Livros didáticos de história: trajetórias em movimentos, in:


JESUS, Nauk Maria de; CEREZER, Osvaldo Mariotto e RIBEIRO, Renilson Rosa
(org.). Ensino de História: trajetórias em movimento. Cáceres: Ed UNEMAT, 2007, p.
41-53.

ROCCO, Maria Thereza Fraga. Leitura e escrita na escola algumas propostas. Brasília.
Em aberto. Brasília, ano 16, n. 69, p. 116-123, jan./mar. 1996.

SANTOS, Rita de Cássia Gonçalves Pacheco. A significância do passado para profes-


sores de História. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Paraná.
Curitiba, 2013.

SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 8 ed.


ver. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2003.

SILVA, Aparecido Borges da. Mato Grosso nos livros didáticos de História (1889-
1930): imaginários e representações. Dissertação (Mestrado em Educação). Universida-
de Federal de Mato Grosso. Cuiabá, 2013.

SILVA, Jovam Vilela da. A divisão do Estado de Mato Grosso: (uma visão histórica –
1892-1977). Cuiabá: EdUFMT, 1996.

SQUINELO, Ana Paula. Revisões Historiográficas: A Guerra do Paraguai nos Livros


Didáticos Brasileiros – PNLD 2011. Diálogos, vol. 15, n. 1, p. 19-39, 2011.

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira; COSTA, Lourença Alves da; CARVALHO, Cathia


Maria Coelho. O Processo Histórico de Mato Grosso. 3 ed. Cuiabá: EdUFMT, 1990.

152
_____. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas,
2002.

STEPHANOU, Maria, Instaurando maneiras de ser, conhecer e interpretar. Revista Bra-


sileira de História. São Paulo, vol. 18, n. 36, p. 15-38, 1998.

WEINGARTNER, Alisolete Antônia dos Santos. Movimento divisionista em Mato


Grosso do Sul. Porto Alegre: Edições EST. 1995.

VALDEMARIN, Vera Teresa; PINTO, Adriana Aparecida. Das formas de ensinar e


conhecer o mundo: lições de coisas e método de ensino intuitivo na imprensa periódica
educacional do século XIX. Revista Educação em Questão. Natal, vol. 39, n. 25, p. 163-
187, set./dez., 2010.

ZILBERMANN, Regina. No começo, a leitura. Em Aberto. Brasília, ano 16, n. 69, p.


16-29, jan./mar. 1996.

ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: Considerações sobre a historiografia


de Mato Grosso (1904-1983). Tese (Doutorado em História Social). Universidade de
São Paulo. São Paulo, 1998.

153
===SITES/DOCUMENTOS===

ABRELIVROS
http://www.abrelivros.org.br

FNDE
http://www.fnde.gov.br

MEC
http://www.mec.gov.br

SED-MS
http://www.sed.ms.gov.br

154
=== ANEXOS ===

155
ANEXO I

Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS – Ensino Fundamental.


Ano 2008.
Quadros 01
Anos Bimestres Conteúdos Bimestrais
O mundo primitivo – evolução histórica
 Introdução aos estudos históricos.
 A temporalidade (tempo histórico, tempo cronológico e tempo geológico).
1º Bimes-  Fontes históricas (relevância, tipos, ciências auxiliares da História).
 Os sujeitos da História: origem, aspectos culturais, econômicos e sociais.
tre  Pré-história Geral, do Brasil e do Mato Grosso do Sul: grupos sociais, realizações e conquistas.
O mundo antigo oriental
 Mesopotâmia: localização, cultura, sociedade, economia, relações de poder, religião, artes, outros ele-
2º Bimes- mentos.
tre  Egito: localização, cultura, sociedade, economia, relações de poder, religião, artes, outros elementos.
 Hebreus, Fenícios e Persas: localização, cultura, sociedade, economia, relações de poder, religião, artes,
6º Ano outros elementos.
Do mundo antigo oriental ao mundo clássico ocidental
 Índia e China: localização, cultura, sociedade, economia, relações de poder, religião, artes, outros ele-
3º Bimes- mentos.
tre  Antiguidade clássica da Grécia: localização, economia, sociedade, relações de poder, política, religião e
educação.
 O legado cultural grego.
O mundo clássico ocidental
 Antiguidade clássica em Roma: monarquia, república e império.
4º Bimes-  Roma: localização, economia, sociedade, política, relações de poder, educação e religião.
tre  O legado cultural romano.
 A crise do mundo romano.
A consolidação e a crise do mundo feudal
 Feudalismo: economia, sociedade, cultura e poder.

156
1º Bimes-  A crise feudal.
 A formação dos estados nacionais.
tre  Grupo social ascendente – burguesia.
O advento do mundo moderno
 Tratado de Tordesilhas.
 Expansão marítima (desenvolvimento do comércio).
2º Bimes-  Mercantilismo e acumulação primitiva do capital.
 Renascimento (conceito, características, humanistas).
tre  Reformas religiosas e Contra Reforma (Calvinismo, Luteranismo, Anglicanismo).
O encontro de três mundos
 História da América e dos povos indígenas (conquista relações sociais, de poder e cultura).
 Brasil colônia: conquista administração colonial portuguesa, expansão territorial e economia e socieda-
3º Bimes- de colonial (pau-brasil, ciclo açucareiro, comércio, monopólio, português).
 As revoltas anti-coloniais.
7º Ano tre  Brasil Holandês.
 Mineração (formação da urbanização – cidades).
 História da África e dos povos africanos (a formação do povo, organização política, a condição de es-
cravo, impacto e contribuição cultural, econômica e social).
O encontro de três mundos
 Negros no Brasil colônia (lutas e resistências).
 A presença dos espanhóis na região do atual Mato Grosso do Sul no período colonial (relevâncias das
4º Bimes- Missões do Itatim no processo de ocupação e povoamento do Mato Grosso).
 História dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul – formação do povo, cultura, economia, sociedade
tre e organização política.
1º Bimes- A era de revoluções
 Processo revolucionário inglês (Guerra Civil, República, restauração Monárquica, Revolução Gloriosa).
tre  Iluminismo, principais ideias, seus pensadores e influências.
 Revolução Industrial – hegemonia inglesa, etapas, consequências econômicas e sociais.
 A independência das Treze Colônias.
A era de revoluções
 Revolução Francesa (Revolta Aristocrática, Assembleia Nacional Constituinte, Monarquia, República,
Convenção Nacional, Diretório).
2º Bimes-  Era napoleônica: consulado e império.
 Congresso de Viena; Santa Aliança.

157
tre  Influência iluminista no processo de Independência do Brasil.
O Brasil no contexto do império
 Brasil Império (Primeiro Reinado, Regência e segundo Reinado): conflitos e avanços políticos, econô-
micos, sociais, culturais.
8º Ano 3º Bimes-  Mudanças políticas e sociais no final do Império (1840 – 1889).
 Conflito com o Paraguai (causas e desdobramentos para a América do Sul, para o Brasil e para o Mato
tre Grosso do Sul).
 O Mato Grosso do Sul no contexto imperialista
 Segunda revolução industrial: o imperialismo e liberalismo econômico.
4º Bimes-  Mato Grosso do Sul – economia, o ciclo da erva mate – (Companhia Mate Laranjeira), importância po-
tre lítica, econômica social e cultural no contexto imperialista brasileiro.
O Brasil no contexto capitalista mundial
 A instalação da República.
 República Velha.
1º Bimes-  Disputas capitalistas: Primeira Guerra Mundial.
 Revolução Russa: a implantação do socialismo.
tre  Crise de 1929.
O Brasil república e o mundo no contexto capitalista consolidado
 Nazi-fascismo: governos totalitários, militarista, o princípio do arianismo e o racismo.
9º Ano  A era Vargas: democracia, ditadura e a reabertura.
2º Bimes-  Segunda Guerra Mundial: países totalitários e países capitalistas.
 Guerra Fria.
tre  Discriminação a grupos sociais e étnicos (negros, judeus, ciganos, mulheres, homossexual, outros).
3º Bimes- O Brasil república no contexto capitalista consolidado
 Democracia brasileira – pós-guerra, era JK (1945-1964).
tre  Ditadura Brasileira.
 Brasil: reabertura política – 1985 aos dias atuais.
 Movimento Divisionista de Mato Grosso (relações, composição de poder e conflitos sociais).

158
Crises e avanços no mundo e no Brasil atual
 A descolonização da África e da Ásia.
 Oriente Médio: Guerras (Vietnã).
4º Bimes-  Apartheid.
 Revolução Cubana.
tre  Blocos econômicos, terrorismo, crises.
 Sustentabilidade planetária.
 Avanços sociais no planeta.

Quadro 1: Sistematização dos conteúdos para o ensino fundamental em 2008.


Fonte: MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS – Ensino Fundamental. Secretaria de
Estado de Mato Grosso do Sul, 2008, p. 150-4.
Compilado por: DEBONA, Jackson James. Março de 2013.

159
ANEXO II

Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS – Ensino Fundamental.


Ano 2012.
Quadro 02

Anos Bimestres Conteúdos Bimestrais


O MUNDO PRIMITIVO
 O mundo primitivo.
 O surgimento do Universo.
1º Bimes-  A temporalidade: tempo histórico, tempo cronológico, tempo geológico e século.
 A evolução do ser Humano.
tre  A divisão da Pré-História.
 Pré-História no Mato Grosso do Sul.
 Os sujeitos da história: origem, aspectos culturais, econômicos, sociais e biológicos.
O MUNDO ANTIGO ORIENTAL
 Mesopotâmia.
2º Bimes-  Egito.
6º Ano  Hebreus, Fenícios e Persas: localização, cultura, economia sociedade, relações de poder, religião, artes
tre
e relação com o ambiente.
 Índia e China: localização, cultura, economia sociedade, relações de poder, religião, artes e relação com
o ambiente.
3º Bimes-  Antiguidade clássica da Grécia: localização, economia, sociedade, relações de poder, política, religião e
tre educação e relação com o ambiente.
O MUNDO CLÁSSICO OCIDENTAL
 Antiguidade clássica em Roma.
4º Bimes-  Monarquia, República e Império.
tre  Roma: localização, cultura, economia sociedade, relações de poder, religião, artes e relação com o am-
biente.
 O legado cultural romano.
 A crise do mundo romano.

160
O MUNDO FEUDAL DA CONSOLIDAÇÃO AO ADVENTO DO MUNDO MODERNO
 Mundo Árabe.
1º Bimes-  Feudalismo: localização, cultura, economia sociedade, relações de poder, religião, artes e relação com o
tre ambiente.
 Crise feudal.
 A formação dos Estados Nacionais e Absolutismo.
7º Ano  Desenvolvimento do comércio (grupo social ascendente - burguesia).
 Expansão marítima (Tratado de Tordesilhas).

2º Bimes- O advento do mundo moderno


 Práticas mercantilistas e acumulação primitiva do capital.
tre  Renascimento: conceito e características humanistas.
 Reformas religiosas e Contra Reforma (Calvinismo, Luteranismo, Anglicanismo).
 A Consolidação do mundo moderno.
 Conquista da América, Brasil e Espanha (o contato com as nações indígenas, relações sociais, de poder
e a acumulação.
 A presença dos espanhóis, no período colonial, na região do atual Mato Grosso do Sul (relevâncias das
Missões do Itatim no processo de ocupação e o povoamento do Mato Grosso).
O ENCONTRO DE TRÊS MUNDOS
 Brasil Colônia: processo de colonização, expansão territorial, economia, sociedade, cultura, monopólio
3º Bimes- português.
tre  As revoltas coloniais.
 Brasil Holandês.
 Mineração x urbanização x desenvolvimento das cidades
7º Ano 4º Bimes-  História da África e dos povos africanos no Brasil: economia, organização política e contribuição cultu-
ral.
tre  História dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul: economia, organização política, processo de acul-
turação e contribuição cultural.
AS REVOLUÇÕES
 O Iluminismo.
 Processo revolucionário inglês
1º Bimes-  Guerra civil pública.
 Restauração monárquica.
tre  Revolução gloriosa.

161
 Revolução industrial (hegemonia inglesa).
 As mudanças econômicas (sociais e culturais e tecnológicas).
A ERA DAS REVOLUÇÕES
 Revolução Francesa (Revolta Aristocrática, Assembleia Nacional Constituinte, Monarquia, República,
Convenção Nacional, Diretório e Crise).
2º Bimes-  Era Napoleônica: consulado e império.
 Congresso de Viena; Santa Aliança.
tre  Processo de independência das Treze Colônias e Formação dos EUA: organização social, econômica e
8º Ano cultural.
 Os escravos no processo de independência dos EUA.
O BRASIL NO CONTEXTO DO IMPÉRIO
 O processo emancipatório das Colônias espanholas na América.
 Brasil Império: processo de independência: Primeiro Reinado, Regência e Segundo Reinado - conflitos
3º Bimes- e avanços na área política, econômica, social, cultural.
 Mudanças políticas e sociais no final do Império (1840 – 1889).
tre  Conflito com o Paraguai (causas e desdobramentos para a América do Sul, para o Brasil e para o Mato
Grosso do Sul).
O MATO GROSSO DO SUL NO CONTEXTO IMPERIALISTA
 Guerra do Paraguai.
4º Bimes-  Conflito com o Paraguai: causas e desdobramentos para a América do Sul, para o Brasil e para o Mato
tre Grosso do Sul.
 Os Afro-brasileiros e os povos indígenas Guaicurus na Guerra do Paraguai.
 Segunda Revolução Industrial: o imperialismo e liberalismo econômico.
 Mato Grosso do Sul (ainda Mato Grosso): economia, ciclo da erva mate, influência política, econômica,
social e cultural no contexto imperialista brasileiro.
O BRASIL NO CONTEXTO CAPITALISTA MUNDIAL
 O processo de implantação da República Brasileira.
 República Velha.
1º Bimes-  Primeira Guerra Mundial.
 Revolução Russa: a implantação do socialismo.
tre  Crise de 1929.
O BRASIL REPÚBLICA E O MUNDO NO CONTEXTO CAPITALISTA
 Ascensão dos governos totalitários, militaristas, princípios e outros elementos constitutivos.
 A era Vargas: democracia, ditadura e a reabertura.

162
2º Bimes-  Segunda Guerra Mundial: países totalitários e países capitalistas (avanços científicos).
 Guerra Fria.
tre  Discriminação a grupos sociais e étnicos: negros, judeus, ciganos, mulheres e outros.
3º Bimes- O BRASIL REPÚBLICA NO CONTEXTO CAPITALISTA
 Democracia brasileira – pós-guerra, era JK (1945-1964).
tre  Ditadura Brasileira.
9º Ano  Brasil: reabertura política – 1985 aos dias atuais.
 Movimento Divisionista de Mato Grosso: antecedentes, composição de poder, governos e conflitos so-
ciais.
CRISES E AVANÇOS NO MUNDO E NO BRASIL ATUAL
 A descolonização da África e da Ásia e os conflitos árabe-israelenses.
 Apartheid.
4º Bimes-  Processos revolucionários na América Latina: Revolução Cubana, Revolução Mexicana e movimentos
sociais: (Brasil, Bolívia, Argentina e Chile).
tre  Globalização: blocos econômicos, terrorismo, crises (saúde, educação e segurança).
 Sustentabilidade planetária e avanços sociais e tecnológicos.
Quadro 2: Sistematização dos conteúdos para o ensino fundamental Anos Finais, em 2012.
Fonte: MATO GROSSO DO SUL. Referencial Curricular da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino/MS – Ensino Fundamental. Secretaria de Es-
tado de Mato Grosso do Sul, 2012.
Compilado por: DEBONA, Jackson James. Março de 2014.

163
ANEXO III

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação


Programa Nacional do Livro Didático - PNLD 2011
Ensino Fundamental e Médio - Valores Negociados
EDIT ORA T IRAGEM T ÍT ULOS T IRAGEM CADERNOS RS/ RS/ VALOR T OT AL
T OT AL ADQUIRIDOS MÉDIA T IPOGRÁFICOS CADERNO EXEMPLAR
MODERNA 27.466.376 222 123.722 483.017.540 0,3344 5,88 161.366.197,83
FTD 26.028.717 288 90.377 482.657.871 0,3378 6,26 162.933.319,18
ÁTICA 25.728.190 306 84.079 442.273.340 0,3355 5,76 148.288.428,80
SARAIVA 21.085.672 254 83.014 403.935.684 0,3478 6,66 140.390.289,36
SCIPIONE 19.555.764 252 77.602 349.364.170 0,3444 6,15 120.230.592,21
POSITIVO 3.736.902 114 32.780 53.710.805 0,5066 7,28 27.187.572,29
SM 3.612.642 46 78.536 62.019.192 0,4577 7,85 28.367.191,80
ESCALA 2.830.595 74 38.251 50.153.367 0,5266 9,32 26.393.247,01
DO BRASIL 1.890.855 88 21.487 29.380.742 0,6033 9,37 17.715.145,37
AJS 1.222.250 8 152.781 19.998.123 0,5011 8,19 10.011.524,51
IBEP 731.261 60 12.188 13.615.872 0,6633 12,35 9.027.821,46
BASE 507.718 38 13.361 6.905.557 0,6988 9,50 4.822.912,98
NOVA 506.417 6 84.403 24.336.342 0,6211 29,84 15.112.199,38
GERAÇÃO
NACIONAL 458.951 38 12.078 5.265.257 0,6633 7,60 3.489.460,69
COMPANHIA DA ES- 92.786 2 46.393 3.459.010 0,6733 25,10 2.328.906,02
COLA
CASA 68.909 8 8.614 1.371.735 0,6988 13,90 958.147,23
PUBLICADORA
SARANDI 67.642 10 6.764 1.150.524 0,8322 14,15 956.997,45
DIMENSÃO 66.815 24 2.784 647.828 0,8411 8,15 544.583,97
FAPI 8.862 2 4.431 84.516 1,0700 10,20 90.432,12
AYMARÁ 1.878 6 313 27.728 1,7422 25,72 48.296,49
TOTAL 135.669.202 1.846 73.494 2.433.375.200 0,3617 6,49 880.263.266,15
Fonte: http://www.fnde.gov.br
Compilado por: DEBONA, Jackson James. Março de 2014.

164

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