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05/09/2012.
Evicção (continuação)
Exemplo: Eu adquiro um imóvel hipotecado com valor inferior ao de marcado. Nesse caso, é
evidente que o alienante responde pela evicção. Em geral a doutrina não faz essa ressalva. De
qualquer maneira, existem algumas regras especiais que permitem a evicção para além dos
contratos onerosos: art. 447 – art. 359 – 552, parte final - 845 – 1005 – 1939, III – 2024 – 2026.
Esses três últimos dispositivos destacam a evicção no direito sucessório.
É, no mínimo, sustentável que sim. É possível invocar por analogia o artigo 441, p. único,
combinado com o artigo 562. A doação remuneratória está prevista no artigo 540.
Art. 447, parte final: a evicção se aplica em hasta pública. Essa é uma novidade em relação ao
CC de 1916.
O CC diz que a evicção se aplica em hasta pública. Para que haja evicção é preciso que haja a
perda do bem ou a privação de alguma utilidade. O caso típico de evicção é a alienação a non
domino.
O art. 447 parte final merece ser interpretado sistematicamente com o artigo 1268, caput, que se
restringe a bens móveis. Esse artigo 1268 traz uma regra anômala no que se refere a alienação a
non domino de bem móvel: Se há uma aquisição a non domino em leilão, o arrematante fica
com a coisa, ele não perde a coisa. É uma exceção ao princípio geral, segundo o qual ninguém
pode transferir mais direitos do que tem. Essa exceção a regra geral vem em sintonia com a
teoria da aparência, princípio da boa-fé objetiva.
Se houver hasta pública de bem móvel, há uma regra especial do artigo 1268.
Outra questão importante que o legislador não enfrentou é a seguinte: quem responde pela
evicção em hasta pública? Se a responsabilidade se concentrasse na figura do executado, a
garantia pela evicção se esvaziaria. A primeira corrente, que é predominante na doutrina (Carlos
Roberto Gonçalves e Sílvio Venosa): reponde o devedor executado, se receber o saldo
remanescente, ou o credor beneficiado. O credor é o exequente. 2ª corrente: Araken de Assis –
Defende o regime de solidariedade passiva entre o devedor executado, o credor exequente e o
Poder Público. A justificativa é que é o Poder Judiciário que impõe a hasta pública. A hasta
pública não depende de manifestação de vontade do executado, é ato coativo. Posição
minoritaríssima. Tem uma terceira corrente interessante: Liebman, HT JR. A princípio, a
responsabilidade recai sobre o devedor executado e, subsidiariamente sobre o credor exequente.
A responsabilidade subsidiária do exequente não viria da alienação, ma,s da vedação ao
enriquecimento sem causa: art. 886.
Tem uma quarta corrente, isolada, do Alexandre Câmara: a aplicação da parte final do art. 447
não deve se separar da primeira parte do dispositivo. A primeira parte fala em contratos
onerosos. Ele defende que essa hasta pública não é a da fase de execução, do cumprimento de
sentença. Na verdade, para ele, a expressão hasta pública há de ser entendida como contratos
onerosos que pressupõem intervenção judicial. Exemplo: CC, art. 1112, III a V. Alienação de
imóvel de incapaz.
Objeto da evicção
Cessão a non domino do crédito – dentro dessa perspectiva mais ampla da evicção, é
possível aplicar a evicção nesse caso.
O que é evicção invertida? Na evicção invertida não há a perda do bem, mas a sua
aquisição através de título diverso. Exemplo: A vende um imóvel para B, por cem mil
reais. Só que o imóvel era de C. C falece e B era seu único herdeiro. Há evicção nesse
caso.
Cuidado para não confundir a evicção invertida com outra coisa: o A transfere para o B
um bem que pertence ao C, pai do A. O C falece e o único herdeiro é o A. Nesse caso,
aplicável o parágrafo 1º do art. 1268, pós eficacização da tradição. A aquisição
superveniente pelo alienante gera uma regularização superveniente da compra e venda a
non domino.
Para a prova dissertativa, boa parte da doutrina sustenta que é preciso diferenciar a
exoneração genérica da exoneração específica. A exoneração genérica é a cláusula que
exclui a evicção sem se referir a qualquer situação fática. Já a exoneração específica é
aquela que exclui a evicção diante de determinada situação fática pré-acordada entre as
partes.
No caso de exoneração genérica, aplicável o artigo 449, que diz: não obstante a cláusula
que exclui a garantia contra a evicção, tem direito o evicto ao preço que pagou. Os
efeitos típicos da evicção são muito mais abrangentes; art. 550. Aplicável a parte final
do art. 449 e ainda o artigo 457, na cláusula específica ( o adquirente assume o risco da
perda jurídica).
CC, art. 448 – prevê a possibilidade de reforço da garantia contratual pela evicção. Em
tese, o contrato pode dizer que o alienante responde pelo valor do bem duas vezes.
Tem uma interpretação interessante desse artigo defendida pelo Sílvio Rodrigues e
Carlos Roberto Gonçalves. Esses autores defendem que esse reforço não pode gerar
lucro para o adquirente. Esse reforço não pode propiciar um efetivo ganho ao
adquirente, sob pena de enriquecimento sem causa. O objetivo contratual é reparação de
danos, jamais proporcionar lucros ao adquirente. Esses autores advogam, ainda, a
aplicação por analogia do art. 778.
Outro ponto importante são as consequências gerais da evicção: art. 450. O artigo 450
traz a liquidação do dano da evicção. Lembrar que a evicção se aplica a contratos
onerosos. Quando a evicção se aplica no direito sucessório, não há restituição do preço.
Outro ponto importante, é em relação ao parágrafo único: o preço será o do valor da
coisa na época em que evenceu, mas, o caput fala em restituição integral, não há
contradição? Duas correntes. A 1ª corrente defende que o p. único tem que ser
interpretado em harmonia com o caput. A desvalorização do preço não afasta a
desvalorização integral. (Carlos Roberto Gonçalves e Araken de Assis). 2ª corrente:
Tepedino e STJ, no RESP 748477 – valor da época em que evenceu com correção
monetária, seria o p. único uma exceção, uma regra especial em relação ao caput.
Para o professor, dá para sustentar que aquele que pratica uma alienação a non domino,
pratica um ato ilícito. Ao professor não parece razoável que aquele que pratica
alienação a non domino deva se beneficiar com eventual desvalorização do bem. É caso
de tu quoque.
O evicto responde pelo evictor pela indenização do preço. Cabe ao evicto promover a
restituição in natura do bem? Pode o alienante promover a restituição in natura do bem,
em favor do evicto? O Araken de Assis defende a literalidade do Código. Por uma
interpretação literal art. 450, o alienante não poderia impor ao evicto a restituição in
natura, porque o legislador prevê pretensão ressarcitória. O Pontes de Miranda já
defendia o contrário: é possível sustentar abuso do direito. O que propicia a recusa do
evicto, se injustificada, seria abuso do direito.
A evicção pode ser total ou parcial. Evicção parcial: art. 455. Quando há apenas
a privação de alguma utilidade sobre a coisa.
Art. 456 – Essa expressão “ou qualquer dos anteriores” é uma exceção ao
princípio da relatividade, que se inspira na função social do contrato. Enunciado
29 do CJF.
O CC diz que para poder exercitar a evicção, o adquirente tem que fazer a
denunciação da lide. CPC, art. 70, I. A leitura do artigo 70 do CPC parece
sugerir que todas as hipóteses do artigo 70 seriam obrigatórias. Os próprios
processualistas reconhecem que não: como o CPC é uma norma instrumental,
ele não seria a sede adequada para trazer normas que gerariam a perda do
direito.
Na hipótese específica da evicção tem uma regra: art. 456 do CC. Para muitos,
a denunciação da lide só seria obrigatória no caso da evicção por conta do CC,
não do CPC.
Tem um enunciado do CJF que é mais abrangente do que isso: Enunciado 434.
Para esse enunciado, há a possibilidade de reparação por via autônoma.