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CAMPOS EM CONFRONTO: JORNALISMO E MOVIMENTOS SOCIAIS

AS RELAÇÕES ENTRE O MOVIMENTO SEM TERRA E A ZERO HORA

Tese de Doutorado na ECA, USP - Maio de 1996

Christa Liselote Berger Kuschick, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(​Índice​; ​Introdução​; ​Capítulo I​; ​Capítulo II;​ ​Capítulo III​; ​Capítulo IV​; ​Conclusão​)

RESUMO
Com este trabalho pretendo reconhecer as possibilidades de relação entre o popular e o
massivo através da observação do “encontro” entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra e o jornal ​Zero Hora​.
A intenção é, por um lado, refletir acerca da reestruturação do popular nestes tempos de
predomínio da mídia, a partir do estudo das ações de comunicação do MST. Por outro,
apreender a especificidade do discurso jornalístico que, ao noticiar os acontecimentos
produzi-dos pelo MST, os constrói como “eventos significativos” para a mediação com os
interlocutores do Movimento.
Ancorada em uma teoria dos campos e em uma teoria dos discursos, interpreto as
interrelações destas instâncias de produção de sentidos e, assim, os modos de dizer o MST
na ​Zero Hora​.

ABSTRACT
The present study aims to identify the possibilities of relation between popular movement
and the mass media by observing the instances involving both the Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (the Landless Rural Workers Movement) and the ​Zero
Hora​ newspaper.
On the one hand, the purpose is to consider the reestructuration of the popular in these
times of mass media predominance by analyzing the MST communication actions. On the
other hand, this study also intends to point the peculiarities of the journalistic text which,
when referring to the events produced by the MST, build them as “significant events” for the
mediation with the MST spokesmen
Based on both the “field theory” and the discourse theory, the interrelations between these
two instances producing meaning are analyzed, as well as the way ​Zero Hora refers to the
MST.

SUMÁRIO

0- DAS INDAGAÇÕES E DAS INTENÇÕES

1- DAS RELAÇÕES: REALIDADE & LINGUAGEM, POLÍTICA & COMUNICAÇÃO​;

2- DO JORNALISMO: TODA NOTÍCIA QUE COUBER, O LEITOR APRECIAR E O


ANUNCIANTE APROVAR, A GENTE PUBLICA
2.1- Como estudar um Jornal
2.2- Zero Hora: Cenário da Construção das Notícias
2.2.1- O Sujeito ZH
2.2.2- A Rotina de Trabalho
2.2.3- O Auto-Retrato
2.2.3.1- Os gráficos elogiam
2.2.3.2- As notícias enaltecem
2.2.3.3- Os prêmios confirmam
2.2.3.4- As coberturas ditas imparciais
2.2.3.5- Você (leitor) é quem manda

3- DO POPULAR: TODA TRANSGRESSÃO QUE COUBER E O POVO APROVAR, A


GENTE REIVINDICA
3.1- Como estudar um Movimento Popular
3.2- Movimento Sem Terra: Cenário dos Acontecimentos
3.2.1- Ecos das Lutas Passadas
3.2.2- Políticas de Comunicação
3.2.2.1- O Documento Propõe
3.2.2.2- O Setor Executa
3.2.2.3- Os Ocupantes Fazem
3.2.2.4- Você (cidadão) é quem luta

4- A CENA DISCURSIVA: O MST NA/DA ZERO HORA


4.1- Contando Outra Vez
4.2- Os Títulos das Invasões
4.3- O Acontecimento de Rotina
4.4- Um Acontecimento Singular
4.4.1- A Voz de Referência Gaúcha
4.4.2- As Vozes Cúmplices

PARA CONCLUIR: DA TERRA E DO TEXTO

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

Introdução
Das indagações e das intenções

Tento (re)fazer o caminho de volta e localizar a indagação primeira: por que escolhi o
Movimento Sem Terra e o jornal ​Zero Hora para expor o que procurei com tanto empenho
nestes últimos cinco anos?
Quisera passar para o texto escrito a emoção que a fala evidenciaria ao elencar o conjunto
de razões que mobilizou a busca. Se as filiações teóricas esclarecem o ponto de vista, a
escolha do tema mostra o ponto de partida. Os fenômenos transformados em objeto de
estudo contam sobre o tempo vivido, a história das idéias e, também, expõem uma história
pessoal. A História molda o tratamento científico pois as pesquisas inserem-se em um modo
coletivo de pensar e cada trabalho é único, porque também conta a história de alguém. Esta
conjunção assemelha a reflexão, imprimindo nela interpretações e orientações, ao mesmo
tempo que a diferencia pelo tom e nuances que são pessoais e intransferíveis.
O tempo histórico é de crise: fracassaram os projetos políticos dos dois lados e os
paradigmas legitimados já não dão conta dos fragmentos sociais em sua totalidade.
Categorias prontas são conclamadas a se flexibilizarem para esclarecer as
descontinuidades e as novidades.
As classes que insistem em se manter antagônicas já não se explicam exclusivamente pela
luta de classes, os conflitos no interior da luta transcendem às desigualdades econômicas,
fundando diferenças outras que solicitam novas explicações, sem poder, no entanto,
prescindir das antigas.
Paradigmas em xeque, projetos políticos em falta, instituições acadêmicas em
descompasso. É neste panorama que as pesquisas se movem e o meu projeto busca fazer
sentido.
Hannah Arendt ensina que no tempo histórico, às vezes, se insere um “estranho período
intermediário determinado por coisas que não são mais e por coisas que não são ainda”. E,
o mais importante, ela afirma que “na História, esses intervalos mais de uma vez mostraram
poder conter o momento da verdade.” (1979, p.35)
Confesso que me aproprio desta idéia para argumentar que talvez o tempo que nos cabe
viver seja “deste intervalo” e que busquei encontrar um ponto de paragem nele que
contivesse um “sinal de verdade”, ancorando a utopia de que fala Boaventura de Souza
Santos. (1995)
Para mim, os Movimentos Sociais Populares permitem imaginar uma utopia possível: são o
lugar da vivência e da construção dos desejos e mesclam projetos de libertação e de
emancipação. E, assim, o ponto de partida do trabalho fica anunciado: ele se inscreve entre
aqueles que sonham “um mundo melhor”.
A pretensão teórica e metodológica é compreender o encontro do Popular e do Massivo,
através do estudo da relação entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) e a ​Zero Hora (ZH)​. Os movimentos sociais, bem como o jornalismo,
transformaram-se em lugares de destaque do desenvolvimento capitalista. A imprensa,
porque plasma em discurso o projeto burguês, e os movimentos sociais, porque conduzem
a sua crítica mais radical. Conseqüentemente, são, também, objetos de estudo
privilegiados, estando legitimados como tema para a Sociologia e a Teoria da
Comunicação.
Juntos, eles vão ao encontro dos desafios temáticos atuais, quando vigoram idéias de que o
processo de conhecimento é relacional (Bachelard), complexo e interdisciplinar (Morin) e de
que a contradição faz parte da ordem.
A lição aprendida de ​que o conflito compõe a existência, reorienta, assim, o olhar sobre as
dinâmicas sociais. A pergunta persistente é pelo social que a conflitualidade instaura. No
caso do Movimento Sem Terra e da ​Zero Hora​, das relações conflitivas que os regem
internamente e das relações ​- evidentes, invisíveis, de enfrentamento e de convivência ​-
que marcam seu encontro. Estes espaços serão, pois, analisados através “da relação entre
as posições sociais, as disposições e as tomadas de posição e, as ‘escolhas’ que os
agentes sociais fazem nos domínios da sua prática.” (Bourdieu, 1996, p.18)
Da mesma forma que o popular e o massivo vão sendo reestudados, quando se trata da
dimensão cultural (com novas abordagens, como é o caso de Canclini com o conceito de
hibridização), o subalterno e o hegemônico também são redimensionados na esfera política,
onde os movimentos sociais intercalam questões políticas e culturais, massivas e
populares, de classe e gênero.
Assim como a mídia absorve o universo cultural dos subalternos, evocando, por exemplo, o
melodrama para a sua dramaturgia, os movimentos sociais consideram a dinâmica da
imprensa na elaboração de suas estratégias políticas. E isto é novo no panorama da ação e
da reflexão sobre o popular na América Latina.
Na tentativa de referendar teoricamente a observação desta modalidade de relação é que
cheguei a Pierre Bourdieu. Primeiro, porque ele não separa a teoria da interpretação.
Conceitos, diz ele, servem para explicar resultados de pesquisa, já que o trabalho empírico
é lugar de revelação teórica. Depois, porque enfatiza que os fenômenos contemporâneos
existem em relação e propõe a noção de Campo para examinar situações concretas. Minha
proposta é compreender a relação entre o Movimento Sem Terra e a ​Zero Hora apoiada,
primeiro, na noção de Campo.
Por isso, estudo a ​Zero Hora ​- pertencente ao Campo do Jornalismo ​- e o Movimento Sem
Terra ​- ao Campo Político ​- analisando um e outro na luta específica em torno do seu
capital: do Jornalismo pela credibilidade; da Política pelo poder, confluindo, ambos, na luta
pelo poder simbólico. O capítulo dois dialoga com o capítulo três, pois tem a mesma
estrutura para propiciar o reconhecimento das sociabilidades que os conflitos inerentes à
constituição dos campos ​- do Jornalismo e do Popular ​- produzem. Apresento um ponto de
vista sobre o jornalismo, assim como um ponto de vista sobre o popular e um modo de
estudar jornais, bem como um modo de estudar os movimentos sociais.
Para, só então, dar a conhecer o rosto da ​Zero Hora e o rosto do MST: ambos refletem o
desenvolvimento do capitalismo no Rio Grande do Sul. A ​Zero Hora​, ao centralizar e
concentrar o capital dos meios de comunicação de massa, conta a história do monopólio da
informação, e o MST conta a história da concentração da propriedade da terra ao revés.
São os excluídos pela riqueza concentrada que organizam e formam o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra.
O objetivo deste trabalho é observar as razões e os modos de relacionamento de um
Movimento Social com a Imprensa mas, também, da Imprensa com um Movimento Social.
O MST percebe a mediação da informação na sua interlocução com o poder político. E a
mídia sabe que seu poder está na sua condição de mediação. Nesta interação (sinuosa,
sutil, não dita) ambas se vinculam mediante um “jogo de usos”. O MST precisa encenar
suas reivindicações, torná-las fotografáveis e oferecer à imprensa os elementos que
confirmarão sua natureza. A ela cabe contar o presente e quanto mais “expedientes de real”
tiver, maior será sua credibilidade.
No capítulo quatro o MST e a ​ZH encontram-se no texto jornalístico. E, assim, como a
noção de ​Campo quer esclarecer o Movimento Social e o Jornal em seus contextos, a
noção de ​Discurso​ deve explicar a encenação dos signos em seu contexto.
Não sou semioticista nem lingüista para tratar como especialista as questões de linguagem,
que reconheço complexas. No entanto, o desafio do trabalho passa pelo capítulo da Análise
de Discursos​1 pois, para compreender os Campos em ação, o processo de “ver” (o
jornalismo) versus “ser visto” (o movimento social) e poder acompanhar o percurso do
acontecimento acontecendo até a notícia publicada, a natureza da linguagem deve ser
elucidada.
Só assim, posso averiguar a hipótese de que a notícia (produção de acontecimentos pela
linguagem) cria sentidos e media as diferentes instâncias do social.
Fausto Neto​2 e Eni Orlandi​3 abriram-me, ao mesmo tempo, a porta dos estudos dos
discursos. Vali-me, livremente, de suas indicações conceituais e bibliográficas para compor
o meu roteiro de observações.
De certa forma, sou autorizada por Bourdieu e por Landowski. O primeiro afirma que:
[...] não existe ciência do discurso considerado em si mesmo e por si mesmo; as
propriedades formais das obras desvelam seu sentido somente quando referidas às
condições sociais de produção ​- e, por outro lado, às posições ocupadas por seus autores
no campo da produção ​-​ e ao mercado para o qual foram produzidas. (1996, p.129)
De fato, minha intenção é pôr em contexto a notícia sobre os sem terra,​4 observando as
condições de produção do discurso do Movimento e as condições de produção do discurso
do jornal, considerando os sujeitos dos campos da produção e seus destinatários.
Landowski diz que os discursos enquanto “totalidades significantes” são “apreensíveis em
diferentes níveis de profundidade”. (1992, p.206) Estudei o jornal ​Zero Hora e o Movimento
Sem Terra, buscando a especificidade do discurso jornalístico (sua vocação a informar) e
do discurso popular (sua vocação a reivindicar), enquanto expressão de ​sujeitos complexos
na dinâmica da produção social de sentidos na profundidade compatível com minha
formação de jornalista.
Resumindo minha intenção: com este trabalho, busco captar as interações efetuadas com a
ajuda do discurso, entre o MST e a ​ZH e os agentes que compõem os seus campos. No
primeiro capítulo esclareço o ponto de vista teórico do trabalho, enfatizando as relações
conceituais entre Campo, Capital e Discurso, oferecendo as pistas para ingressar no
capítulo dois e, com as referências sobre o jornalismo, compreender a ​Zero Hora​. Da
mesma forma, a partir das inferências sobre o Popular, decifrar o Movimento Sem Terra, no
capítulo três.
A ​Cena Discursiva de que trato no último capítulo, recolhe as informações publicadas sobre
o MST ​na ​ZH entre 1990 e 1993, na expectativa de encontrar, pela repetição dos
enunciados, o sentido para os sem-terra ​da ​Zero Hora​. Das 1.227 matérias publicadas
neste período, selecionei: a) os títulos das 18 ocupações para identificar os dispositivos de
impacto; b) as matérias sobre a cobertura da ​Ocupação da Fazenda Bom Retiro​, de nove a
23 de março de 1993, como exemplo de caso rotineiro de noticiabilidade do Movimento; e,
c) a cobertura da ​Morte do soldado Valdeci de Abreu Lopes​, no dia 8 de agosto de 1990,
como um caso excepcional (pelo acontecimento e pela sua repercussão).
Estas seqüências discursivas, juntamente com a observação de suas condições de
produção, poderão dar a conhecer o MST ​na e ​da ​Zero Hora e, assim, um exemplo da
construção simbólica de um movimento social pela grande imprensa.
Registro as frases que me acompanharam enquanto escrevi a tese ​- rondando, zumbindo,
amedrontando ​- para contar um pouco, da minha condição de produção. Afinal, este é um
trabalho que considera, na produção dos discursos, o sujeito da enunciação e os contextos
(objetivos e subjetivos) que se instalam, qual tatuagem, no discurso verbal.
- Quanto mais a gente se expõe, mais possibilidade existe de tirar proveito da discussão​.
Bourdieu
- Falar (escrever) me dá medo pois, sem dizer nunca o suficiente, falo, também, sempre em
demasia. ​Derrida
1 Uso Análise de Discursos no plural, ao invés de Análise do Discurso, considerando a
observação de Milton José Pinto, de que “esta escolha reflete uma maior proximidade com a base
empírica da análise”. (1995, p.2) Por outro, com este cuidado, o estudo não se restringe à tradição
francesa da A.D. Também Bourdieu refere-se à Análise de Discursos (1996, p.129), quando reflete
sobre a consituição de uma ciência do discurso.
2 A leitura de ​Mortes em Derrapagem (1991) e ​A Sentença dos Media: O Discurso
Antecipatório do Impeachment de Collor (1994), remeteram a Eliseo Verón e, assim, às questões
da enunciação e dos sujeitos do discurso.
3 A leitura de ​A Linguagem e seu Funcionamento (1987) e ​Discurso & Leitura (1988)
remeteram a Michel Pêcheux e, assim, às questões do funcionamento dos discursos e das condições
de produção.
4 O MST não usa hífen na expressão “sem terra”, e, na ​Zero Hora​, a encontramos algumas
vezes ​- principalmente em títulos ​- também grafada assim. Por isso, o uso neste trabalho é irregular,
pois respeita a forma da citação. Quando o texto é nosso, escrevemos “sem terra”, com hífen,
seguindo a norma gramatical: “O hífen em palavras compostas tem o objetivo de alertar para a
mudança de sentido que ocorre”. (LEDUR, Paulo. ​Os pecados da língua​. Porto Alegre : AGE
Editora, 1993.)

Primeiro Capítulo
Das Relações: Realidade & Linguagem, Política & Comunicação
​Mi relato será fiel a la realidad o, en todo caso,
a mi recuerdo personal de la realidad, lo cual es lo mismo.
Jorge Luis Borges
Toda linguagem é politicamente contaminada.
Hayden White

A pertinência de perguntar acerca das relações entre a realidade e a linguagem, no caso


do jornalismo, encontra argumentos e antecedentes num conjunto de disciplinas ​- História,
Semiologia, Teorias do Discurso e na Literatura ​- que se pautam por esta questão,
legitimando-a, assim, para os produtores e estudiosos da Imprensa.
À primeira vista, à Imprensa cabe noticiar os acontecimentos do passado imediato, não só
para informar aos cidadãos do que acontece ao seu redor (do bairro ao planeta) mas,
também, para registrar o que no futuro servirá de matéria-prima aos historiadores na tarefa
de escrever a história do passado. É evidente, nesta passagem, que os fatos acontecidos
chegam aos interessados através da descrição que se faz pela linguagem.
Por muito tempo, acreditou-se que a linguagem era um instrumento capaz de ser fiel ao
acontecido. Lembramos que nas redações de jornal, nos anos 70, era comum identificar na
censura o único obstáculo para a expressão integral da realidade, com a crença de que a
liberdade de imprensa garantiria o desvendamento do mundo tal qual ele era. Os
impedimentos ao conhecimento do que se passava no país, portanto, estavam tão somente
no poder político e a superação de tais impedimentos era uma questão de tempo ​- a
História se encarregaria de fazer transparecer a realidade.
Os primeiros passos na tentativa de complexificar esta relação de causa/efeito
(acontecimento/linguagem) vieram da Semiologia, que ensinou a ver os fatos como relatos,
e da História, que chamou a atenção para a natureza textual do passado. Logo, as notícias
eram relatos de alguém sobre o acontecimento que, por sua vez, só era acessível a este
alguém porque era relatável. E a História só se fazia História através de relatos a partir de
relatos sobre os acontecimentos passados.
Da linguagem instrumento do real ao real, como texto, há um abismo de incompreensões.
Problematizar a existência do real, se faz sentido para a filosofia ou a semiologia, é
inacessível à compreensão de um jornalista. Pois, para o jornalismo a construção
discursiva que preenche espaços nos jornais, e tempos no rádio e na televisão tem sempre
uma referência efetivamente acontecida.
Também para a História isto é verdadeiro, pois, ainda que se abandone a ênfase em datas
e nomes, para reivindicar a determinação da interpretação, há situações que confirmam o
factual como determinante. É o caso do exemplo de Robert Darnton em ​O Beijo de
Lamourette quando explica a diferença, para a história dos poloneses, se o massacre de
Katyn aconteceu em 1940 ou 1941. De acordo com a história polonesa oficial, o corpo de
oficiais poloneses foi destruído num gigantesco massacre executado pelos alemães,
quando o exército germânico alcançou a floresta de Katyn, durante a invasão do território
soviético em 1941. De acordo com os alemães, o massacre ocorreu pelo menos um ano
antes, e eles não encontraram em Katyn nada além de uma vala comum. Por outro lado,
uma placa em homenagem a um soldado morto numa igreja de Varsóvia não traz nenhum
comentário além de um local e uma data: “Katyn, 1940”. Se o fato ocorreu em 1940, foi
obra dos soviéticos; se foi em 1941, a obra foi dos alemães.
Por isso podemos falar do Jornalismo, da História e da Ficção pela sua condição fundante:
nos três casos, estamos nos referindo à produção de sentidos através da linguagem. E é a
realidade quem “cutuca” o Jornalismo, a História e a Ficção e estas existem como
linguagem. Mas há, também, um fio ​-​ ainda que tênue ​-​ que as separa.
A cena da escrita, bem como a cena da leitura, diferenciam as três instâncias de construção
simbólica. O lugar social da produção do discurso jornalístico (a empresa), do histórico (a
academia) e do ficcional (a produção individual/privada); a rotina de trabalho que organiza
as narrativas bem como as expectativas dos leitores demarcam as diferenças. O
sujeito-leitor-modelo posiciona seu corpo e sua atenção diferentemente se recebe uma
informação, estuda História ou lê um conto. O contrato que afirma a relação da escrita é
confirmado pelo contrato de leitura. “Cada sistema só conhece a fundo suas próprias
formas primitivas e não saberia falar de outra coisa”, diz Bourdieu (1996, p.134) citando J.
Nicot.​[1]
A característica que identifica o Jornalismo, a História e a Ficção, ou seja, a expressão
verbalizada de uma realidade, também marca a sua diferença. A intenção do olhar dos
narradores/autores serve de metáfora para explicar as diferenças. O jornalista ​olha o
acontecimento acontecendo por todos os lados. Busca pessoas e cenas. Seu movimento é
de aproximação distanciada. O tempo é o presente, ele trabalha com o aqui e o agora e
seu texto repercute instantaneamente.
O historiador ​olha o acontecimento acontecido através de outros olhares. Busca nos
documentos, depoimentos e arquivos os elementos para refazer o trajeto do fato,
reconstruindo-o na distância do tempo, contando com isto para a garantia do
distanciamento.
O ficcionista ​olha o acontecimento acontecendo dentro dele sem ordem ou hierarquia. É a
repercussão subjetiva que ancora seu relato do mundo que prescinde do distanciamento
pois, justamente, reivindica o envolvimento e a entrega.
Assim, o Jornalismo, tal qual a História, a Sociologia e a Ciência Política, enuncia
fenômenos sociais. Mas o Jornalismo, diferente destas disciplinas, não tem o rigor científico
como premissa para elaborar seus enunciados. A sua é uma premissa ética e estética. E o
Jornalismo, assim como a Ficção, tem a linguagem como cúmplice de sua produção. Mas
enquanto a Literatura inventa o mundo, o Jornalismo deve descrevê-lo.
Nesta pequena associação, reconhecemos o Jornalismo entre duas instâncias de saber: a
Ciência e a Ficção. E podemos perguntar sobre sua relação com o saber do senso comum,
com quem dialoga privilegiadamente pois o jornal fala do trivial, do banal, do cotidiano.
A compreensão do jornalismo passa, portanto, no nosso ponto de vista, pela
problematização da referencialidade pois, assim como a historiografia reconhece que o
passado ​foi real mas o acesso a ele só se dá pelos relatos textualizados e interpretados,
também ​para o jornalismo o presente/real existe, só sendo acessível, no entanto, ao ser
editado.
Fica claro que para esta perspectiva a noção de linguagem deve ser revista. A análise de
discursos oferece um ponto de vista conveniente, pois a ​“entende não como um simples
suporte para a transmissão de informações, mas como o que permite construir e modificar
as relações entre os interlocutores, seus enunciados e seus referentes”. (Maingueneau,
1989, p.20) Nesta medida, a linguagem constitui e não descreve aquilo que é por ela
representado. Esta concepção abala a prática jornalística pois, se é assimilada, deixa de
reivindicar a imparcialidade ou a neutralidade na passagem do acontecido para o editado e
reconhece a notícia como construção de um acontecimento pela linguagem. Ao mesmo
tempo, esta perspectiva enfatiza a tensão inerente ao fazer jornalístico, pois é na “crença”
da superposição entre o real e o texto que reside a credibilidade da imprensa, que foi
sofisticando os artifícios pa​ra comprovar a existência do real/verdade com a foto​, o rádio e a
tevê. A instantaneidade, o “ao vivo”, ratificam a aparência do acontecimento acontecendo,
logo, fato e relato indistingüíveis.
Em segundo lugar, a apropriação da análise de discursos para o estudo do jornalismo
justifica-se pela compreensão da linguagem como ​processo produtivo​. A linguagem é
trabalho (simbólico) e “tomar a palavra é um ato social com todas as suas implicações:
conflitos, reconhecimentos, relações de poder, constituição de identidades, etc​.” (Orlandi,
1988, p.17)
Novamente a interpretação do discurso jornalístico beneficia-se desta concepção, pois, ao
inscrever o modo de produção da linguagem na produção social geral permite situar a
notícia no interior de uma complexa rede produtiva. E, então, as notícias passam a ser
produtos produzidos por jornalistas assalariados, mais ou menos bem pagos, trabalhando
num mercado mais ou menos saturado e competitivo, em redações com determinadas
definições hierárquicas. Estas condições de produção do discurso jornalístico marcam as
relações entre os jornalistas e suas fontes, e o jornal e seus leitores. Ou seja, os estudos
dos discursos permitem introduzir na reflexão sobre o jornalismo, o sujeito e a História.
A noção de Sujeito​[2] é fundamental para o estudo do jornalismo que na sua constituição
prevê a interação entre vários sujeitos. Na produção do texto jornalístico convivem o
enunciador e o emissor, compondo o sujeito da enunciação. A notícia, por outro lado, ao
contar uma história, conta a história de alguém, sujeito do enunciado. E, como não há
processo de comunicação que não considere o destinatário, este é constituído no plano
semântico para assegurar um determinado contrato de leitura. Ou, como diz Umberto Eco
“além de supor competência de seu leitor-modelo, o texto a institui, não somente prevendo
um leitor, senão também construindo-o.” (1979, p.55)
Autor e leitor não precisam ter presença explícita no texto para existir, ainda assim, cada
um recobre entidades diferentes, como veremos no capítulo quatro.
A matéria-prima do discurso jornalístico se encontra em algum lugar do social e se torna
notícia por apontar para alguma conseqüência (um futuro discurso), produzindo, assim, a
história e, portanto, a nossa primeira inquietação encontra guarida pois, de fato, se faz
necessário observar as maneiras de a linguagem vincular-se à realidade o que, da nossa
perspectiva, somente se realiza com a pesquisa empírica.
Por enquanto, deixamos em suspenso a pesquisa e seguimos a construção conceitual. A
noção de Campo,​[3] emprestada de Bourdieu (1983, 1987, 1989, 1990), vem ao encontro
da necessidade de relacionar o lugar da produção social com o lugar da produção
simbólica. O Campo Político e o Campo do Jornalismo, o Campo Jurídico e o Campo do
Jornalismo, por exemplo.
Se nas sociedades modernas a vida social se reproduz em campos, que funcionam com
relativa independência mas, ao mesmo tempo, atuam combinados, a questão é estudar a
dinâmica interna de cada campo e suas interdependências. Um dos aspectos mais
instigantes deste conceito é a utilidade para relacionar as diferentes esferas da vida social e
deduzir, do caráter geral da luta de classes, o sentido particular que adquire o
enfrentamento no interior de um determinado campo.
O território de um Campo constitui-se a partir da existência de um capital e se organiza na
medida em que seus componentes têm um interesse irredutível e lutam por ele. Capital,
conceito-chave neste modelo, só é definível a partir do Campo. O Capital do Campo
Acadêmico, por exemplo, é a titulação, e a luta que se trava na academia gira em torno do
título, que elevado a valor máximo confere autoridade a quem o possui. O título, no
entanto, não vale enquanto capital para ingressar no Campo Religioso ou Artístico. O que
não significa que o capital de um campo não funcione como “mérito” em outro.
Infelizmente, Bourdieu não trabalhou o Campo do Jornalismo como fez com a cultura, a
política, a academia e a religião. Conhecemos apenas o texto ​L’emprise du Journalisme
(1994) em que ele trata especificamente da influência que o jornalismo exerce sobre os
diferentes campos da produção cultural. Ao identificar leis gerais de constituição e
relacionar campo e capital (artístico/prestígio; político/poder; religioso/fé), oferece a
possibilidade de se ampliar esta noção para outras esferas, como as referentes à
comunicação e ao jornalismo.
Na descrição de Bourdieu acerca dos capitais, aparece um ​- o simbólico ​- como superior
aos demais, por dar sentido ao mundo e transitar por todos os campos. A este capital cabe
o poder de fazer crer e é nisto que consiste sua superioridade.
A nossa hipótese é que o Campo do Jornalismo detém, privilegiadamente, o Capital
Simbólico, pois é da natureza do Jornalismo fazer crer. O Capital do Campo do Jornalismo
é, justamente, a credibilidade​. É ela quem está constantemente em disputa entre os jornais
e entre estes e os demais campos sociais. E está constantemente sendo testada, através
de pesquisas, junto aos leitores. A credibilidade é construída no interior do jornal assim
como um rótulo ou uma marca que deve se afirmar, sem, no entanto, nomear-se como tal.
Credibilidade tem a ver com persuasão pois, no diálogo com o leitor, valem os “efeitos de
verdade”, que são cuidadosamente construídos para servirem de comprovação, através de
argumentos de autoridade, testemunhas e provas.
A luta que é travada no interior do Campo do Jornalismo gira em torno do ato de nomear,
pois, nele, se encontra o poder de incluir ou de excluir, de qualificar ou desqualificar, de
legitimar ou não, de dar voz, publicizar e tornar público. ​Este poder se concentra em quem
escolhe a manchete, a foto, a notícia de primeira página, o espaço ocupado, o texto
assinado ou não. É esta a luta que os jornalistas travam no interior do Campo do
Jornalismo em suas concretas e históricas relações de trabalho.
Algumas passagens em que Bourdieu descreve o poder simbólico poderiam ser a descrição
do poder atual da comunicação.
O poder simbólico como o poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer crer e fazer
ver, de confirmar ou de transformar a visão de mundo e, deste modo, a ação sobre o
mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força
(física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for
reconhecido, quer dizer ignorado como arbitrário. (1989, p.14)
Em outro texto, ele diz:
O poder simbólico é um poder de fazer coisas com palavras. E somente na medida em que
é verdadeira, isto é, adequada às coisas, que a descrição faz as coisas. Nesse sentido, o
poder simbólico é um poder de consagração ou de revelação, um poder de consagrar ou de
revelar coisas que já existem. Isso significa que ele não faz nada? De fato, como uma
constelação que começa a existir somente quando é selecionada e designada como tal, um
grupo ​- classe, sexo, religião, nação ​- só começa a existir enquanto tal, para os que fazem
parte dele e para os outros, quando é distinguido, segundo um princípio qualquer dos outros
grupos, isto é, através do conhecimento e do reconhecimento. (1990, p.167)
A partir do olhar da comunicação, quem constitui o dado pela enunciação, legitimando-o
publicamente, na contemporaneidade, é o jornalista, já que a definição social do ​jornalismo
está na passagem do acontecido para seu relato que, para Bourdieu, pertence ao poder
simbólico (poder de consagrar pessoas e instituições​) e faz parte da função mediadora da
imprensa, não encontrando-se em nenhuma outra instituição, social ou cultural, a mesma
competência. Basta ver que o discurso político hoje é realizado pela mídia, que não só
enuncia os fatos e apresenta os políticos, como antecipa causas e anuncia conseqüências,
moldando o Campo Político a partir de seus interesses.
Assim como cada campo caracteriza-se por deter um determinado capital, a cada capital
corresponde um determinado discurso. ​O Campo Religioso, por exemplo, cujo capital é a
fé, produz um tipo específico de discurso, que pode ser identificado nos textos bíblicos, na
fala e nos rituais dos religiosos e num conjunto de “palavras de ordem” que orientam os
leigos. Eni Orlandi, ao trabalhar uma tipologia dos discursos, identifica três tipos ​- o
autoritário, o polêmico e o lúdico ​- tendo como critério “a interação (a reversibilidade, a troca
de papéis ou de estatutos entre interlocutores) e a relação entre polissemia e paráfrase (a
possibilidade, ou não, de múltiplos sentidos)”. O discurso religioso, por exemplo, é situado
por ela na tendência ao tipo autoritário, “pois é o que tende para a paráfrase (o mesmo) e
em que se procura conter a reversibilidade (há um agente único: a reversibilidade tende a
zero), em que a polissemia é contida (procura-se impor um só sentido) e em que o objeto do
discurso (seu referente) fica dominado pelo próprio dizer (o objeto praticamente
desaparece).” (1988, p.24)
Seguindo as pistas de Orlandi, consideramos o Discurso Jornalístico o objeto teórico,
enquanto a Notícia é o objeto empírico/analítico. E a noção de Tipo operacionaliza esta
relação, pois:
[...] dada a institucionalização da linguagem, os tipos se estabelecem como produto dessa
institucionalização e se fixam como padrões, como modelos. Esses produtos, os tipos vão
entrar nas condições de produção do discurso, em seu funcionamento que, por sua vez,
determina aquilo que pode vir a constituir um novo tipo ou a reproduzir uma forma já
estabelecida. (ibidem, p.23)
Um campo tem um padrão, um modelo discursivo que entra nas condições de produção de
cada novo discurso. O Tipo-Padrão ou o consensual do Discurso Jornalístico é, sem
dúvida, o ​informativo​, pois é da vocação da imprensa cobrir todas as dimensões da vida
social, mas, seguindo a tipologia indicada acima, podemos enquadrá-lo na tendência ao tipo
autoritário​.​[4] Depois, cada jornal acrescentará um terceiro tipo de diferenciação interna no
campo e que se encontra na combinação da construção discursiva da notícia com a forma
como o jornal se apresenta e seus jornalistas se representam. Sabemos, intuitivamente,
que a natureza informativa se expressa de modo diferente em o ​Jornal do Brasil​, ​O ​Globo​,
Folha de São Paulo​ e ​Zero Hora​.
O primeiro tipo é o do consenso, o discurso jornalístico é, acima de tudo, informativo. Para
localizar o segundo tipo, o pesquisador deve buscar as marcas da notícia, considerando sua
propriedade para, assim, descrever o tipo de discurso enquanto fixação do funcionamento
da instituição jornalística específica que está a estudar. As marcas do Discurso
Jornalístico estão na organização (gramatical, textual, da disposição espacial ​- títulos,
ilustrações) da notícia que remetem à sua propriedade (a notícia em relação à exterioridade,
à situação ​- institucional, social) que, por sua vez, permite transcender para o Tipo, que
permitirá compor o capital do Campo do Jornalismo. Para reconhecer a especificidade do
discurso do jornal em análise, o pesquisador deve partir do reconhecimento dos dois
primeiros tipos, observando ainda as formas pelas quais o jornal se enuncia, enuncia seus
profissionais e seu destinatário. Aqui perseguimos a subjetividade do jornal que, como tal,
encontra-se nos intervalos das notícias e nas margens dos acontecimentos.
Se o capital gira em torno do discurso e de quem possui as condições de elaboração do
mesmo, é, também, fundamental reconhecer que a Imprensa não produz apenas um tipo de
discurso mas que convivem nela diferentes tendências e que as condições sociais e
institucionais no interior de onde ele é produzido contribuem na definição do contorno ou na
ênfase em um tipo. Por exemplo, h​á o discurso informativo autoritário persuasivo, o
informativo autoritário polêmico, o informativo autoritário opinativo, o informativo autoritário
irônico. Por isso, o Discurso Jornalístico é ​híbrido e somente a observação do
funcionamento do discurso de um jornal em suas condições de produção permitirá
descrever o tipo informativo deste jornal e seu capital que, no entanto, estará inscrito nas
características do discurso midiático​: ele é público, institucionalizado e legitimado para as
transmissões do saber cotidiano. É o discurso da atualidade com recursos estetizantes.
Esta idéia está resumida na Figura 1.
Ainda no plano dos conceitos para refletir o jornalismo, há que se ter presente:
que a relação de sentido, ou seja, a “semiose ininterrupta” (Verón, 1980) é o princípio
básico dos fatos da linguagem: ​todo discurso nasce em outro (sua matéria-prima) e aponta
para outro (seu futuro discursivo);
que todo processo de produção discursiva é, ao mesmo tempo, um processo de recepção​,
e que todo processo de recepção implica, por sua vez, o começo de uma nova cadeia de
construção de significantes ou de semiose.
Com isto, reforçamos a idéia de que a matéria-prima do discurso jornalístico está em algum
Campo Social, produzida com a intenção de se tornar notícia (os acontecimentos previstos)
ou irrompendo com a força do imprevisível e, assim, ganhando notoriedade. De qualquer
forma, será notícia se apontar para uma conseqüência ​- um futuro discurso de confirmação
ou transformação da visão de mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo​.
Nesta perspectiva, Bourdieu contribui novamente: agora com seu conceito de Homologia​[5]
E, novamente, se torna necessário adaptá-lo, pois ele o aplicou para falar da “esfera de
bens restritos” ​- a arte, a ciência, a literatura ​- e nestes há uma autonomia (ainda que entre
aspas) de criação, inexistente na Cultura de Massa, onde o mercado ​- dos anunciantes e
dos leitores ​- delimita a produção final. Por isso, a homologia entre a produção e o
consumo no campo da Cultura de Massa é tão total. A garantia de aceitação dos
programas, se dá pela presença do receptor no texto dramático, no humor, no ritmo musical
e no discurso jornalístico. O novo, para ser aceitável, precisa apoiar-se no já aceito. Por
isso, o vínculo produtor/receptor transcende as feições sociológicas da relação e ingressa
na própria discursividade. Esta relação é tão imbrincada que a análise de discursos
reconhece, por exemplo, as marcas do leitor nos Manuais de Redação. O receptor é
“capturado” através de operações de linguagem que, na verdade, o contêm, diz Fausto Neto
e acrescenta:
[...] o receptor dos suportes de comunicação é alguém construído na própria economia
enunciativa [...] Ou seja, o outro, que compôs a cadeia interativa da atividade linguajeira
jornalística, não é apenas um personagem revestido com certas matizes de indicadores
sociais, mas alguém que é construído na própria produção imaginária dos organizadores e
enunciadores do discurso. (1991, p.37)
Afirmar a presença do receptor no discurso é reconhecer as estratégias do Campo da
Produção para garantir o seu êxito, pois o que circula no mercado lingüístico não é a língua,
mas, como diz Bourdieu:
[...] discursos estilisticamente caracterizados, ao mesmo tempo do lado da produção, na
medida em que cada locutor transforma a língua comum num idioleto, e do lado da
recepção, na medida em que cada receptor contribui para ​produzir a mensagem que ele
percebe e aprecia, importando para ela tudo que constitui sua experiência singular e
coletiva. (1996, p.25) (grifo do autor)
No mercado das trocas simbólicas, a lei da aceitabilidade é determinante, pois “de fato, as
condições de recepção antecipadas fazem parte das condições de produção, e a
antecipação das sanções do mercado contribui para determinar a produção do discurso.”
(ibidem, p.64)
A matéria-prima do Campo do Jornalismo encontra-se, privilegiadamente, no Campo
Político. Este é entendido, na perspectiva de Bourdieu, como campo de forças e campo de
luta, onde os agentes dos subgrupos estão em constante disputa para transformar a relação
de forças, já que o capital que está em jogo é o poder. Como em todos os Campos Sociais,
o Campo Político tem seus dominantes e seus dominados, seus conservadores e suas
vanguardas, suas lutas subversivas e seus mecanismos de reprodução. Os agentes deste
campo concorrem produzindo produtos políticos, tais como: problemas, programas,
análises, comentários, conceitos e acontecimentos para sensibilizar seus “consumidores”
que devem estar aptos a votar, escolher e ter opinião. Ou seja, também o Campo Político
está para um mercado ​- o mercado da opinião pública ​- e, por isso, a luta dos agentes
(individuais ou coletivos) gira em torno do capital simbólico acumulado no transcorrer das
lutas e no acúmulo de trabalho e de estratégias investidas, que se consubstanciam no
reconhecimento e na consagração.
O reconhecimento e a consagração dos agentes políticos, passam, no entanto, pela
legitimação dos jornalistas. Esta relação ​- sutil, invisível, de enfrentamento e de convivência
-​ entre o Campo Político e o Campo do Jornalismo é o que nos importa saber ver.
A homologia entre o Campo Político e o Campo do Jornalismo se faz através da
correspondência entre os acontecimentos produzidos por um subgrupo do Campo Político ​-
os ​Movimentos Sociais, por exemplo ​-p ​ ara, pela “espetacularização”, constarem da pauta
do jornal e, assim, dialogar com os agentes do seu próprio campo, no caso o subgrupo
Governo. O poder simbólico dos políticos é fazer crer, pois o seu capital é também a
credibilidade. Mas esta credibilidade necessita do aval da imprensa, pois, informando, ela
está reconhecendo uns em detrimento de outros e, assim, consagrando-os.
Bourdieu ensinou a observar o movimento de luta em torno do Capital de um Campo. No
caso que estamos estudando, a luta se dá entre o Movimento Sem Terra, cuja intenção é
fazer crer que as suas reivindicações são justas e devem ser atendidas e os detentores do
poder do Campo Político (governo e proprietários da terra) que devem fazer crer que as
terras são produtivas, que a reforma agrária um dia irá acontecer e que os sem-terra, na
verdade, representam interesses políticos de oposição a eles.
Mas a luta do Campo Político só se efetivará através de uma “segunda relação”, entre o
MST e a imprensa, entre os ruralistas e a imprensa e entre o governo e a imprensa,
confirmando a natureza mediadora do Campo da Comunicação​, que faz falar entre si os
agentes do próprio Campo ​- governo, ruralistas e colonos sem-terra. ​Eles travam, através
da imprensa, a luta própria do seu Campo que é fazer crer a todos acerca da sua verdade.
E a imprensa, ao buscar a sua credibilidade, constrói a credibilidade “na verdade” de uns ou
outros.
Por isso, a “sala de redação” do jornal pode ser apreciada como uma metáfora da luta do
Campo do Jornalismo, cujos agentes têm por ofício produzir sentidos, ou seja, veracidades
que dizem respeito a outros Campos. Neste caso, a interação se dá entre jornalistas e
MST, jornalistas e ruralistas, jornalistas e governo, numa nova dinâmica que relaciona como
cúmplices sujeitos de Campos opostos e, como opositores, sujeitos do mesmo Campo,
tendo a ​linguagem como um artifício de luta​, confirmando-a como um ato social que produz
sentidos e constitui poderes. Esquematizamos esta idéia na Figura 2, na próxima página.
Neste momento, aflora uma nova questão: quem é o sujeito que faz crer, que constrói
sentidos, que media os agentes do Campo Político e faz interagir os diferentes Campos
Sociais? Vale a pena perguntar-se pelo jornalista, profissional acusado de especialista em
generalidades, leitor assíduo de orelhas de livros e porta-voz do poder. Buscamos pistas
conceituais para acercar-nos dele.
A primeira encontramos em Roland Barthes (1970, p.31) quando, identificando na palavra
um poder, refaz a história humana descobrindo em cada tempo histórico o detentor do
monopólio da linguagem. Os proprietários incontestáveis durante toda a era capitalista
clássica, do século XVI ao XIX, foram os escritores. Na Revolução Francesa apareceram
os primeiros a se apropriar da língua com fins políticos. E ao lado dos escritores
desenvolveu-se um outro grupo, produtor da linguagem pública. Barthes os chama de
escreventes opondo-os aos escritores. “O escritor realiza uma função, o escrevente uma
atividade.” O escritor escreve e ponto final, como diz Leyla Perrone Moisés (in Barthes,
1970, p.9), a linguagem é meio e fim e escrever um verbo intransitivo. Já os escreventes,
escrevem sobre alguma coisa, a linguagem é instrumento, eles põem um fim (testemunhar,
explicar, ensinar) para a qual a palavra é apenas um meio. Barthes encontra o escrevente
na universidade, na pesquisa, na política; o escritor, na literatura.
E, reconhece, mais contemporaneamente, devido à produção mercantil da palavra, um tipo
“bastardo” ​- o escritor-escrevente. Ele não dá exemplos, mas descreve-o como aquele que
tem uma relação ambígua com o público.
Em resumo, [diz Barthes] de um ponto de vista antropológico, o escritor-escrevente é um
excluído integrado por sua própria exclusão, um herdeiro longínquo do Maldito: sua função
na sociedade global não está talvez muito longe daquela que Claude Levi-Strauss atribui ao
Feiticeiro: função de complementaridade, já que o feiticeiro e o intelectual fixam de certo
modo uma doença necessária à economia coletiva da saúde. E naturalmente não é
espantoso que tal conflito (tal contrato, se se quiser) se trave no nível da linguagem; pois a
linguagem é este paradoxo: a institucionalização da subjetividade. (1970, p.38)
O jornalista pode ser um exemplo de escritor-escrevente. Como escritor realiza uma
função, como escrevente uma atividade, pois ao escrever sobre o mundo, testemunha-o e o
explica mas, também, o faz de forma única e pessoal. Reafirmando a doxa​[6]​na atividade e
rompendo com ela na função, quando alcança a produção da escritura.
E este escritor/escrevente (sacerdote assalariado) que mercantiliza as palavras do poder
não deixa de ser o herdeiro do Maldito, no sentido do feiticeiro de Levi-Strauss. Um
feiticeiro da linguagem e do poder.
A segunda pista encontramos em Walter Benjamin (1986, p.195) também no confronto com
o ficcionista. Ele explica a figura do narrador e, com nostalgia, aponta a arte de narrar em
vias de extinção. O primeiro narrador foi o contador de histórias que, partindo da
experiência, estava autorizado a dar conselhos, suscitar perplexidades e propor reflexões.
Há, para Benjamin, duas famílias de narradores apoiadas na seguinte hipótese: a) quem
viaja tem muito que contar e b) quem conhece profundamente seu lugar, por nunca o
abandonar, sabe de sua história, sua gente, sua tradição e por isso, tem muito que contar.
O representante primitivo do primeiro é o marinheiro comerciante e do segundo, o
camponês sedentário. Mas, a extensão da narrativa só é assimilável quando se observa a
inter-relação entre estes dois tipos.
No sistema corporativo medieval trabalhavam juntos o mestre sedentário e os aprendizes
migrantes, ensinando os artífices a arte de narrar. Estes foram aperfeiçoando-a ao associar
o saber que veio de longe com o saber do passado. O narrador entrelaçava, então, espaço
e tempo ancorando a existência dos que o ouviam e passando uma sabedoria ​- o lado épico
da verdade ​- em uma forma artesanal de comunicação. Trabalhando artesanalmente a
matéria-prima da existência ​- a sua e a dos outros ​- transformava-a num exemplo ou
conselho, relacionando a sua existência com aquilo que sabia por ouvir contar. O narrador
é narrador primeiro porque sabe ouvir, depois porque sabe contar o que ouviu a partir da
sua experiência/sabedoria.
Esta narrativa tecida junto à existência cotidiana foi se extinguindo, conforme Benjamin,
com a evolução das forças produtivas. O romance surgido no início da modernidade é o
primeiro indício do fim da narrativa ​- ele se vincula ao livro e à invenção da imprensa e não
provém da tradição oral. Por outro lado, a consolidação da burguesia, se foi favorável ao
romance, acelerou também outra forma de comunicação já conhecida mas que não se
desenvolvia ​-​ a informação.
Narrativa de um lado, romance e informação de outro, pois enquanto os “relatos recorriam
ao miraculoso é indispensável que a informação seja plausível.” Diz Benjamin:
Cada manhã recebemos notícias de todo mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias
surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em
outras palavras: quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está
a serviço da informação. Metade da arte narrativa está em evitar explicações. O
extraordinário e o miraculoso são narrados com a maior exatidão, mas o contexto
psicológico da ação não é imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar a história como
quiser, e com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação.
(p.203)
A questão é: não será o jornalista o artífice do tempo presente? Não terá ele atualizado
junto com o desenvolvimento das forças produtivas o narrador do passado? Não é ele
quem viaja e traz a experiência de longe ao mesmo tempo que observa o cotidiano
próximo? Não é a ele que cabe narrar o passado e o longínquo, sensível aos ouvidos que o
ouvem, estimulando a perplexidade?
Ele não tem a sabedoria do narrador do passado, mas detém uma sabedoria condizente
com o seu tempo que não é individual mas, fruto do trabalho coletivo, é composta pela
intervenção de diferentes sujeitos (repórter, editor, fotógrafo) ensinando, outra vez, que o
desenvolvimento das forças produtivas marca relações de trabalho e oferece pontos de
vista.
Por outro lado, Benjamin chama a atenção para a correspondência da voz com a mão no
ato de narrar, pois os gestos intervêm na narração, expondo a essência do narrador (a sua
substância mais íntima) com aquilo que sabe por ouvir dizer. No rádio também temos a voz
que empresta o som às palavras e na televisão o gesto se faz presente, anunciando
também seu enunciador. Mas isto não substitui nem aproxima o narrador/jornalista do
narrador primeiro, porque, conforme Benjamin, ele não escreve para narrar a ação da
própria experiência, mas o que aconteceu com x ou y em tal lugar e a tal hora.
Ecléa Bosi busca compreender os diferentes narradores em seu tempo (como Benjamin fez
com a obra de arte), mas também é nostálgica do narrador arcaico.
A narrativa exemplar foi substituída pela informação de imprensa, que não é pesada e
medida pelo bom senso do leitor. Assim, a união de uma cantora com um esportista ocupa
mais espaço que uma revolução. A informação pretende ser diferente das narrações dos
antigos: atribui-se foros de verdade quando é tão inverificável quanto a lenda. Ela não toca
no maravilhoso, sequer plausível. A arte de narrar vai decaindo com o triunfo da
informação... A informação só nos interessa enquanto novidade e só tem valor no instante
que surge. Ela se esgota no instante em que se dá e se deteriora. Que diferença a
narração. Não se consuma, pois sua força está concentrada em limites como a da semente
e se expandirá por tempo indefinido. O receptor da comunicação de massa é um ser
desmemoriado. Recebe um excesso de informações que saturam sua fome de conhecer,
incham sem nutrir, pois não há lenta mastigação e assimilação. A comunicação em
mosaico reúne contrastes, episódios díspares sem síntese, é a-histórica, por isso é que seu
espectador perde o sentido da História. (1994, p.86)
O desvirtuamento da narrativa de que Ecléa Bosi sente saudade é conseqüência da
Indústria Cultural que tem pressa em reproduzir a realidade, pois ela se transformará em
mercadoria. Deixa de ser narrativa, portanto, para ser divulgação comercial.
Lá está o maldito feiticeiro espreitando o narrador pós-moderno e nos convidando a tentar
outra designação. A mais corrente e que encontra maior consenso é a de mediador ​- o
jornalista está entre dois pólos: o público e o poder e os faz falar. Este conceito está
imbricado da conotação corriqueira de “relação entre", mas Jesus Martin Barbero (21-26,
set/nov.1989, ​p.19), ao trabalhar as mediações, problematizou a figura do mediador
cultural. Primeiro, distinguindo o comunicador intermediário do comunicador mediador.
Enquanto o intermediário se instala na divisão social, reforçando-a, o mediador explicita a
relação entre diferença cultural e desigualdade social, mostrando a impossibilidade de
pensá-las em separado. Diferente do intermediário, o mediador se sabe socialmente
necessário, ainda que culturalmente problemático, pois lhe cabe pensar a comunicação
desde a cultura, lugar de reconhecimento e confronto.
O jornalista, quando mediador/cultural, não reivindica a objetividade pois, por reconhecer-se
sujeito da História, sabe que ao olhar o mundo o faz desde um lugar social e que ao
descrevê-lo o produz na mesma dimensão de uma ação social ​- de referendamento ou
transformação. Além do mais, ao mediar o mundo a seu leitor, o jornalista o conclama a
elevar-se, também, à condição de sujeito-leitor.
Independente do rótulo mais apropriado ​- escritor/escrevente, narrador, mediador ​- o
jornalista, sujeito da história contemporânea, sintetiza estas figuras, as perpassa e as
transforma​. É um sedutor, pela palavra, do poder e do leitor, um sacerdote assalariado;
conta estórias do mundo e da tradição e dá conselhos; provoca o encontro da diferença,
fazendo interesses divergentes se confrontarem. O jornalista ouve, observa, interpreta e
tece seu texto, no computador da empresa jornalística, produzindo a comunicação própria
do nosso tempo, assim como escritores e narradores teceram os seus textos e produziram a
comunicação do seu tempo.
Importante é não esquecer que o jornalista, como todos os produtores da Indústria
Cultural, é um trabalhador, cuja produção específica o qualifica como um intelectual, pois a
mercadoria que produz são idéias, valores, imagens e sons que explicam o mundo, lhe dão
sentido e substrato para sonhá-lo.
A História contemporânea é a História das relações e das mediações. “O real é relacional”,
na feliz expressão de Bourdieu e a “comunicação é uma questão de mediações, isto é de
cultura”, como ensina Barbero. Foi esta a idéia mestra que buscamos ordenar e que nos
propomos a compreender, examinando a fatia da História que nos toca viver.

[1] Para os três discursos o problema da linguagem é central. As palavras emprestadas da


linguagem comum são apropriadas para o jornalismo e a ficção, mas são redefinidas quando
compõem o discurso científico. A tradição de tratar a ciência como discurso é apresentada por
Maria Immacolata Vassallo de Lopes em ​A Pesquisa em Comunicação​ (1990).
[2] Para os estudos dos discursos, a noção de sujeito é necessária para dar conta da
transformação da língua em discurso. O sujeito, aqui, só é conhecido através do discurso.
Dependendo do ponto de vista teórico, mudam as nomeações dos sujeitos. Para o nosso estudo
estas precisões não são consideradas.
[3] Para Bourdieu, “com a noção de campo obtêm-se o meio de apreender a particularidade na
generalidade, a generalidade na particularidade. Pode-se exigir da monografia mais idiográfica
proposições gerais sobre o funcionamento dos campos e pode-se levantar, a partir de uma teoria
geral do funcionamento dos campos, hipóteses muito poderosas sobre o funcionamento de um
estágio particular de um campo particular.” (1990, p.171) É esta concepção que justifica a
apropriação para o nosso estudo da relação entre o Campo Político e o Campo do Jornalismo.
[4] De acordo com o método proposto por Eni Orlandi, (considerando que a tipologia é uma
tentativa de descrição e deve ser interpretada e não aplicada mecanicamente), observamos as
marcas e a propriedade do discurso jornalístico e o incluímos na tendência ao tipo autoritário.
Usando como critério de observação a interação ​- troca de papéis entre os interlocutores ​-
constatamos que estes interagem pelo discurso mas não trocam de papel: a fonte, os jornalistas e o
leitor ocupam papéis fixos. E, pelo segundo critério, de predominância entre polissemia ou paráfrase,
avaliamos que, apesar da composição polifônica, como veremos adiante, o sentido do conjunto do
discurso jornalístico tende para o mesmo, para a paráfrase. Além disso, ao acrescentar as condições
de produção (industrial e lucrativa) do discurso da imprensa, o confirmamos na tendência ao tipo
autoritário. (1988, p.25; 1987, p.152)
[5] Bourdieu propõe o conceito de homologia para explicar “a economia das práticas”, ou seja,
as relações hierárquicas entre os capitais e as similitudes e as subordinações entre os campos. Ele
diferencia homologia estrutural e funcional para observar as relações entre os campos,
concebendo-as para aplicação em diversas situações. (1989, 1990) Para nós, são as relações entre
o Campo dos Movimentos Sociais e o Campo do Jornalismo, bem como as relações entre o Campo
da Produção da notícia (enunciação) e o Campo do Consumo (recepção) que importa saber
observar.
[6] Doxa, conforme Roland Barthees, é a “Opinião Pública, o Espírito majoritário, o Consensus
pequeno-burguês, a Voz do Natural, a Violência do Preconceito. Pode-se chamar de doxologia
(palavra de Leibnitz) toda maneira de falar adaptada à aparência, à opinião ou à prática.” (1975, p.53)

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