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Projeto Gráfico:
Fabricio Gustavo Dillenburg - Núcleo de Estudos de História Militar Vae Victis
nucleomilitar@gmail.com
Capa:
Guarda prussiana em revista, Dom Pedro II e águia prussiana, ao fundo.
O Núcleo de Estudos de História Militar Vae Victis tem grande orgulho em participar da elaboração
do informativo O Tuiuti, marco da formação histórica militar brasileira. Com o objetivo de divulgar
a História, sobretudo em seu viés militar, o Núcleo de Estudos de História Militar Vae Victis trabalha
tendo em vista a clareza de informação, a amplitude das análises, a relevância do material audiovisual,
a atualização das hipóteses e a consistência na argumentação.
Nossa Missão: é levar ao máximo possível de pessoas o conhecimento da História Militar, divulgando
sua importância, resgatando os seus valores e as suas memórias, preservando documentos e
fornecendo subsídios para uma educação integral e de qualidade.
Nossa Postura: é independente, livre de qualquer posição política ou religiosa, voltada unicamente
para a preservação e divulgação do conhecimento histórico, sem qualquer conexão com entidades
que não tenham cunho explicitamente cultural, visando fornecer informação e compreensão com
acessibilidade.
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O Tuiuti - 2
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Os Primeiros Pontoneiros
,
do Exercito Brasileiro
Cel Cláudio Moreira Bento
Historiador Militar e Jornalista,
Presidente da FAHIMTB e AHIMTB/Resende
E
m 1851, na iminência da guerra contra Oribe e Rosas, o Brasil decidiu
contratar na Alemanha tropas mercenárias e adquirir o equipamento
respectivo, para empregá-los especificamente na fronteira sul.
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Essa Legião era constituída de um lanchões, sobre o rio Pardo, junto da
Batalhão de Infantaria, um Grupo atual cidade de mesmo nome, para
de Artilharia e duas Companhias permitir a passagem do Exército
de Sapadores, com armamento e Demarcador de Gomes Freire de
equipamento respectivos.
Andrade, rumo ao passo do São
Esses legionários alemães passaram Lourenço no rio Jacuí.
à História do Brasil com o nome
de “Brummer’’ . Em sua grande Durante os próximos 103 anos,
maioria aqui permaneceram após a naquela região, somente foram
guerra, integrando-se na corrente usados meios descontínuos para
imigratória alemã do Rio Grande do transpor rios que não oferecessem
Sul, valorizando-a sobremaneira no vau (pelotas, canoas e balsas) para a
aspecto qualitativo. A contribuição
travessia de pessoal, cargas, carretas
militar por eles prestada se
constituiu em transferência, ao desmontadas, e o processo a nado,
Exército Brasileiro, de 1851/70, de para o gado vacum e cavalar.
“know-how” militar prussiano, que
foi decisivo no campo militar para a Em 1777, Rego Monteiro registra
unificação da Alemanha e importante a ida do General Henrique Böhm,
para o Brasil na Guerra do Paraguai. comandante do Exército do Sul, a
A história desses valorosos
imigrantes alemães poderá ser
obtida nas fontes consultadas ao
final deste artigo.
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descontínuo de travessia mais usado Ângelo Blasco em suas célebres
no Rio Grande Sul. Elas emprestaram cartas panorâmicas, as quais localizei
o nome aos rios afluentes do rio no Arquivo Histórico do Exército
Uruguai e do Canal de São Gonçalo quando fui seu Diretor de 1985/90.
e à cidade de Pelotas, à margem do
citado canal. Em 1774, na época da invasão do
RS pelo espanhol mexicano Vértiz
A principal característica de uma y Salcedo, a história registrou a
pelota era a facilidade de transporte construção de uma balsa militar sobre
flutuante desmontada do lombo de o rio Mampituba, sobre a orientação
um animal-cargueiro, de um local do Major Engenheiro Francisco João
de passagem a outro; comparável Róscio. Ela se destinava a apoiar o
isto, hoje, aos modernos botes deslocamento do Exército do Sul
pneumáticos. com destino à margem norte do
sangradouro da Lagoa dos Patos.
O uso delas pelo Exército de Gomes
Freire de Andrade, acima citado, em Em 1858, Avé-Lallemant, em sua
1754, no passo de São Lourenço do viagem, registrou a existência uma
Jacuí, foi registrado pelo Coronel ponte em Rio Pardo e duas em
Ponte de equipagem Birago de fabricação prussiana. Foi o primeiro modelo a ser adquirido pelo
Exército Imperial do Brasil. Duas delas equiparam duas Companhias de Pontoneiros alemães
(“Brummer”) contratadas pelo Brasil para a Guerra contra Oribe e Rosas 1851-1852.
(Ilustração de Carl Röchling, História Universal dos Exércitos v. 3, p. 290)
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construção, respectivamente sobre comandar as duas companhias como
os passos de Vigário e do Jacuí. major graduado. Faleceu em Santa
Catarina em 24 de maio de 1852,
Em 1863, sobre o rio dos Sinos, foi vítima de febre amarela.
construída uma passadeira tendo
como suportes diversos barcos. - Capitão Friedrich Pickart.
A finalidade era permitir a livre Contratado em 22 de março de 1851.
passagem de sociedades de cantores. Demitido em 3 de março de 1852.
Acreditamos tenha sido técnica de
inspiração de algum pontoneiro - 1° Ten Wilhelm Anton Malschitzke.
“Brummer”. Transferido para a Artilharia.
Desertou para o inimigo em Colônia
do Sacramento.
Condições de Contrato
- 1° Ten Hugo von Uckermann.
Ao final de quatro anos de contrato, Demitido em 20 de julho de 1854.
cada legionário “Brummer” optaria
entre receber um lote de terras de
- 1° Ten Adolf von Reisswitz.
22,5 braças quadradas ou um prêmio
Demitido em 16 de maio de 1856.
em dinheiro e passagem de volta
Radicou-se no Brasil e prestou
para a Europa.
serviços na Guerra do Paraguai na
Artilharia Alemã.
Os legionários foram comandados na
língua alemã, submetidos ao regime
disciplinar prussiano e usaram o - 1° Ten Maximiliano Emmerich.
uniforme das tropas do Schleswig- Permaneceu no Exercito Brasileiro
Holstein com o gorro de borla ou onde prestaria relevantes serviços,
capacete prussiano. conforme será mostrado.
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Organização e Material
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Decepção de Caxias prancha, obrigando a que as peças
fossem desembarcadas e colocadas
Qual não foi a surpresa de Caxias em posição ao braço.
ao saber que o comandante dos
pontoneiros recusara cumprir sua
ordem por absoluta impossibilidade Dissolução dos Pontoneiros
material de fazê-lo, pelas seguintes
razões: Desde a Europa houve tentativas
inimigas de anular a contratação e
• Os sapadores alemães haviam mesmo a atuação dos mercenários
recebido cavalos e mulas xucras alemães, principalmente após o
para tracionar as carretas austríacas fracasso das gestões de Rosas em
e exigiriam algum tempo para serem contratar mercenários sicilianos. Na
amansadas. viagem, uma fração da Artilharia a
bordo do “Heinrich” amotinou- se e
• Não estavam habituados a montar tentou apresentar-se ao inimigo com
cavalos xucros e amansá-los, coisa navio, tripulação e mercenários, no
que foram frustrados. Da concentração
comum e normal na vida militar na
em Colônia, dois oficiais de Artilharia
Bacia do Prata.
e de Pontoneiros desertaram para
apresentar-se a Rosas, como foi o caso
• Dúvida se as carretas austríacas
do tenente pontoneiro Malschitzke.
pudessem, mesmo com cavalos
À distância, a recusa de Riesenfels de
mansos, deslocar-se pelas cumprir ordens foi interpretada como
campanhas uruguaias, através sabotagem rosista.
do campo. Em tais circunstâncias
a tração indicada era a bovina,
conforme a usou Mallet para
tracionar uma artilharia para a
Colônia de Sacramento, ocasião em
que sua unidade ganhou o apelido
de “Boi de Botas”.
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Foi determinado que as equipagens Cristóvam Werner, ferimento leve de
fossem armazenadas em Montevidéu e bala de canhão”.
que os pontoneiros, em número de 180,
seguissem por água até Colônia. Nesse
local foram separados em grupos de Reorganização e
cerca de 30 homens e incorporados Transferência de
aos 5°, 6°, 11°, 13°, 7° e 8° batalhões de “Know-How”
Infantaria brasileiros e armados com
seus fuzis orgânicos, ficando metade Após o término da guerra os
na Infantaria e metade nas tropas de pontoneiros retornaram ao Rio
serviços. Grande do Sul como infantes, indo
estacionar em Rio Pardo integrando
o 15° Batalhão de Infantaria
Participação na (prussiana). Neste local, foram ter as
Batalha de Monte Caseros célebres equipagens BIRAGO. Em 20
2 Fevereiro 1852 Jan 1853 o Batalhão foi reorganizado
ao comando do capitão Friedrich
Integrando essas unidades, Pickart, assim permanecendo até 2
remontaram o rio Paraná até Out 1854, data da demissão deste.
Diamante, a bordo da Esquadra
Brasileira ao Comando de Greenfel, Conforme livro existente no Arquivo
após aquela forçar com êxito a Histórico do Exército sob o título:
passagem de Tonelero. O 7° e o 8° BI Assentamentos de praças do Rio
eram comandados, respectivamente, Grande do Sul – 1851, que trata
por dois oficiais de sangue europeu, das alterações dos 65 praças dessa
Companhia de Pontoneiros, há
o coronel Bruce, de origem sueca
o registro dos seguintes oficiais:
e o major Resin de origem suíça. O
Capitão Friedrich Pickart, 1° Ten
8° BI era integrado por 80 infantes
Maximiliano Emmerich, 1° Ten Ugo
“Brummer”, hábeis no uso do fuzil
Uchermann e 2° Ten Carlos (Barão
Dreyse de agulha (a tigé, a alfinete), von Kahlden).
grande inovação introduzida nessa
guerra, arma individual básica da Passou a servir nos sapadores, para
unificação alemã e que teve atuação transferência de ‘know-how’, o 2°
decisiva no rompimento da posição tenente do Corpo de Engenheiros
rosista em Caseros. Isto ilustra um do Exército Imperial Brasileiro
exemplo de transferência de ‘know- Antônio Dias Carneiro, junto com 40
how’ militar pelos “Brummer”. soldados brasileiros justapostos aos
25 pontoneiros alemães “Brummer”.
Um desses sapadores, o Sgt Cristóvam Esta Companhia realizou exercícios
Werner, tornou-se herói e foi citado em Rio Pardo, por cerca de dois
na Ordem do Dia n° 40 de Caxias de anos, até o final de 1854 quando,
5 Fev 1852: “1° Sargento Prussiano presumimos, tenha sido extinta ao
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final do contrato dos “Brummer” prosseguiu no Exército Brasileiro,
e o seu material tomado destino onde prestou valiosos serviços, como
ignorado. se verá.
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onde durante quatro anos vinha O major Emmerich esteve pouco
transmitindo tecnologia prussiana de mais de 6 meses à frente do Batalhão
Topografia, Obras e Fortificações em de Pontoneiros. Foi exonerado em
Campanha e Serviços de Pontes e de 6 de abril de 1866 do comando,
Sapa, à mocidade militar brasileira. continuando na condição de instrutor
O corpo foi organizado a três da unidade e membro da Comissão de
companhias e integrado pelos Engenheiros do 2° Corpo de Exército,
seguintes oficiais:
junto com o capitão Conrado Jacob
• 1a Cia. De Pontoneiros: 2° tenente Niemeyer. O major Emmerich foi
Antônio da Rocha Bezerra Cavalcanti citado por sua bravura nas ações de
e Carlos Eduardo Saulnier de Pierre- Curuzu e Curupaiti.
Levee.
• •
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