DISCIPLINA: HISTÓRIA DE ALAGOAS – 4º PERÍODO PROFESSORA: SIMONE ARESTIDES DE LIMA
ALUNO: Lucas Brito Santana Da Silva DATA:
VALE 8,0 PONTOS
Segunda Avaliação Bimestral de História Medieval
1- Em História do medo no ocidente Jean Delumeau apresenta o processo de
demonização pelo qual alguns grupos específicos passaram, a partir de concepções religiosas cristãs. As mulheres, é um destes grupos. Na Idade Média é tomada de forma dúbia, oscilando entre a valorização e inferiorização. No sentido de inferiorização, Delumeau expõe os motivos para tal e os principais argumentos que envolvem a demonização da mulher. Disserte sobre eles. (3,0)
Antes de prosseguirmos, é importante fazermos uma pequena incursão sobre o
tipo de história que Jean Delumeau faz: uma história das mentalidades, com pitada ou outra do que poderíamos chamar de Psico-História, em especial quando o autor utiliza de alguns conceitos psicanalíticos. O que o enfoque da história das mentalidades? O mundo mental e as formas de sentir. No livro em questão, História do medo no ocidente, Delumeau propõe-se estudar o medo na mentalidade ocidental, e um dos pontos principais para tornar a sua leitura mais compreensível é sobre o ritmo temporal nos estudos sobre mentalidades: a longa duração. A extensão temporal na qual o autor coloca o medo que os homens sentem das mulheres remonta a épocas imemoráveis, mas o que nos cabe aqui é entender a antiguidade dessa estrutura mental do medo, que em sua configuração essencial encontra-se, num primeiro momento, inacessível aos homens porque inconsciente. Por conta de ser algo que está nas profundezas da mente humana, por estar abissalmente enraizada, é que uma estrutura mental transformasse muito lentamente, podendo a estrutura mental apresentar várias roupagens conforme as mudanças históricas nas diversas dimensões da realidade humana. Simploriamente, este é o respaldo teórico para uma história das mentalidades como a produzida por Jean Delumeau, que no presente capítulo analisa a estrutura mental do medo (configurada como o medo que os tem) que vem desde os primórdios da humanidade e que guarda muito do seu essencial até a Idade Moderna. Mas qual é a motivação mais profunda na formação do medo que os homens sentem das mulheres? Delumeau aponta para o desconhecimento que sofrem os homens sobre o que seja a mulher, possuidora de mistérios insondáveis para aqueles, principiando pela maternidade. Mas essa mesma maternidade, o dom da fertilidade, foi comumente exaltado na “pré-história”. Então ao mesmo em que temos uma parte da existência da mulher enaltecida, temos as suas partes incompressíveis aos homens renegadas, uma contradição a se alastrar pela história e que tem um acentuamento na renegação quando se trata de sociedades de ordem patriarcal. A mulher é o ser que dá a vida, mas também condena à morte, posto neste mundo esse é um destino que nenhum existente pode evadir. Elas parem os seus filhos e em seguida os matam, pululam vermes em seus ventres pútridos, suas vulvas podem mutilar o genital masculino, elas são insaciáveis e os homens temem essa insaciabilidade, foi uma mulher que fez a humanidade perder o paraíso; essas são apenas algumas das centenas de representações sobre a mulher que revelam o medo que os homens delas sentem. Jean Delumeau faz uma incursão sobre a história do medo que vem da antiguidade até a idade moderna, sendo a passagem da idade média para esta última a parte principal do seu estudo. Daqui para frente nos focaremos no respeitante especificamente à idade média. Um dos motivos para o autor percorrer a antiguidade é para mostrar que o medo da mulher não foi uma invenção cristã. Entretanto, o cristianismo teria integrado esse medo a si e desenvolvido, se podemos usar estes termos, suas práticas e representações a revestir a estrutura mental do medo – especificamente a roupagem vai ser tecida a partir da demonização da mulher, ainda que esta não seja o único sujeito histórico a ser demonizado nessa época. O cristianismo integrou esse medo, mas concomitante introduziu uma profunda contradição em seu seio, pois a figura histórica a partir da qual foi desenvolvida essa religião, ela aceitava as mulheres, Jesus pregava igualdade total entre homens e mulheres. Segundo Delumeau, é a pena de São Paulo a primeira a produzir concepções que legitimem a submissão da mulher, a partir dele serão vários os autores clericais, na Idade Média, que chegarão ao extremo que permite o autor classifica-los como antifeministas, misóginos de fato. O argumento teológico de São Paulo é: o homem não foi criado para a mulher, mas esta para aquele. Na Idade Média, um evento em particular será catalizador das representações misóginas da mulher: a obrigatoriedade do celibato para os clérigos. Fazendo uma interpretação psicanalítica, Delumeau diz que a acidez dos clérigos ao falarem das mulheres tem contrapartida justamente na repressão de suas libidos. Outro fator a inflamar ainda mais o “antifeminismo virulento” teriam sido as ordens mendicantes ao se depararem com um corpo clerical concupiscente. Os argumentos contra as mulheres, neste período histórico, chegam ao nível da estereotipia, por conta disso o historiador acusa muitos autores medievais de não terem criado algo novo. Vamos listar alguns desses argumentos, pouco convincentes muitas vezes, principalmente aqueles que não possuem um teor teológico: a mulher é apenas aparência, não possui nada de essencial e a sua principal motivação é desvirtuar o homem; a mulher está a serviço do diabo, quer trazer a desordem; a mulher é um macho deficiente, representação que vem desde Aristóteles e foi reafirmada por Thomas de Aquino; Agostinho de Hipona dirá que somente a alma do homem reflete a imagem de Deus; por conta de sua natureza corrompida, a mulher deve ser mantida sempre ocupada, para que não trame nada contra seu marido; e um dos argumentos mais poderosos – foi uma mulher, Eva, em si inferior ao homem, quem fez a humanidade decair. Interessantemente, ao mesmo tempo em que temos o denegrimento da mulher comum, nesse período tem-se um grande exaltamento da Virgem Maria, acrescente-se ainda a invenção do amor cortês e a “reabilitação da atração física” pela mulher.
2- Tomando como base o livro Sexo, Desvio e Danação Jefrey Richards,
responda as seguintes questões:
a) Judeus, prostitutas e leprosos são grupos desviantes com características
comuns, mas também com traços específicos. Caracterize cada um deles e apresente os pontos comuns entre eles. (3,0)
Um dos traços principais, e a partir do qual se montará toda série de
representações que expressam a iminência do perigo judaico, encontra-se no seio do próprio judaísmo, uma religião com uma forte tendência ao proselitismo, assim como viria a ser o cristianismo. Na Idade Média, os judeus vivem com os cristãos, partilhavam da mesmas línguas vernáculas e indumentárias, entretanto mantinham suas particularidades quanto a praticas religiosas, alimentação, e educação de suas crianças, educadas em âmbito diferente das crianças dos demais grupos sociais. Para Jefrey Richards, enquanto minoria, as particularidades dos judeus eram suficientes para que eles fossem utilizados como bodes expiatórios nos momentos de tensões e crises sociais, como ocorrerá na explosão da peste negra. Se na antiguidade clássica, especificamente durante o Império Romano, os judeus tenham liberdade o suficiente para praticarem sua religião, e mesmo desfrutavam de privilégios enquanto cidadãos romanos, com a dissolução do Império no século IV e a posterior oficialização do cristianismo como religião de estado, os judeus passaram por um cerceamento cada vez maior. A primeira grande acusação que os cristãos faziam à minoria judaica era a de deicídio: seriam eles os responsáveis pelo assassinato do deus filho. Acusação onde se fundará toda a onda antissemítica dos séculos posteriores. Listemos as condições que caracterizaram a existência dos judeus na Idade Média: assassinos de deus; usurários; praticantes de feitiçaria; infanticidas e matadores de cristãos em geral; mercadores; infiéis, hereges. Sobre a marca dos judeus como usurários, aqueles que ganham dinheiro através de juros altos sobre empréstimos, ela parte de uma configuração histórica particular: as dinastias merovíngia e carolíngia receberão os judeus mais ou menos bem, pois os grupos sociais que formam essas duas dinastias provem parte deles de uma cultura distinta, a ser cristianizada posteriormente. Neste momento, os judeus são tornados mercadores, posição a ser perdida conforme os cristãos vão tornando-se eles mesmos mercadores, acabando pelos judeus migarem para a função de usurários. Mas nisso tudo, uma das questões mais importantes era o papel que os judeus desempenhavam com os monarcas, príncipes: eles faziam empréstimos, pagavam impostos variados, sendo explorados de diversas formas. A hostilidade cristã crescia, os monarcas e príncipes e os clérigos prometiam segurança aos judeus, algo que não ocorreu muitas vezes. Um marco para a disseminação da violência contras os judeus de forma definitiva foram as cruzadas, a partir dai os judeus passaram a ser massacrados em massa. Os judeus passaram a sofrer processos distintivos e proibições, como utilizar símbolos que os identificasse como judeus, não podem comer e menos ainda casar com cristãos. Os livros sagrados dos judeus começaram o sofrer investidas da ordem dos clérigos cristãos, pois estes acusavam os escritos daqueles de ser não mais que um compilado de blasfêmias, de heresias, tendo essa situação seu ápice na queima dos livros dos judeus, em especial o Talmude. Por algum tempo a atitude dos cristãos eram a de reabilitação dos judeus, dada a contribuição deles disseminação da palavra de deus, ainda que recusassem Jesus como o cristo. Seria essa recusa o que permitiria que os judeus fossem acusados de estar esperando pelo anticristo, já que recusavam a Jesus. O anticristo nasceria da relação sexual de uma prostituta judia com o demônio. A segregação dos judeus ia do isolamento desse grupo a uma localidade especifica das cidades, ondem não pudessem macular os cristãos, ao desterramento dessas cidades: povo sem terra, imundície a ser varrida. Eis aí uma parte do retrato dos judeus na Idade Média. Richards, ao tratar da prostituição aponta para certa generalização dessa atividade na Idade Média, existindo casas de prostituição na maioria das cidades medievais. As zonas de onde atuavam as prostitutas eram chamadas de zonas vermelhas, em alguns lugares mais específicos de rua da rosa. Os motivos que levavam as mulheres a adentrar ao mundo da prostituição em muitas casos são os mesmo que levam as mulheres em nosso tempo: situação familiar insustentável, a violência na família; a pobreza, seja por a família já se encontrar nessa situação, seja por questão de morte, entrando em cena as viúvas e suas filhas; ou ainda índole libidinosa da mulher, sento esta ultima uma das mais condenadas na Idade Média, visto o fruição da sexualidade em nome apenas do prazer ser algo inadmissível. As prostitutas eram levadas a se identificaram, a usarem adereços que possibilitasse que elas fossem reconhecidas enquanto tais: um chapéu de cor vermelho em algumas cidades, um lenço amarrado ao pescoço em outras, ainda poderia ser a vestimenta por completa, pois em nada uma prostituta deveria se assemelhar com uma mulher honesta. Por muito tempo as punições aos crimes cometidos contra as prostitutas ficavam impunes, ou apenas a nível de multas. Ainda que as prostitutas sofressem vários processos de segregação, é interessante ressaltar um momento na idade média onde se pretender a reabilitação dessas mulheres, sendo oferecidas recompensas espirituais aos homens que removessem da vida licenciosa. Os usuários de serviços sexuais eram em sua maior parte homens solteiros, sendo proibidos aos religiosos e aos homens casados, ainda que não se submetessem a essas proibições – Richards nos fala que 20% dos frequentadores de bordeis eram clérigos, o que gerou algumas imagens burlescas sobre esses religiosos concupiscentes. A prostituição cumprias funções específicas na ordem das sociedades medievais cristãs, uma delas era que uma vez que os homens solteiros se dirigiam a prostitutas para saciar seus desejos sexuais, ficava-se fora de risco as mulheres honradas e as mulheres casadas. Isso era tão fundamental que Santo Agostinho e Thomas de Aquino reconhecem que a prostituição é mal necessário para impedir uma mal ainda maior! Na interpretação de Jefrey, longe da prostituição na idade media refletir uma permissividade moral, ela refletia uma rigidez moral, justamente porque o reconhecimento da prostituição está em seu papel que a ordem moral desejada pelos grupos sociais dominantes se tornasse possível, evitando nela perturbações. Entretanto, foram inúmeras as regulamentações que a prostituição sofreu ao logo da idade média, indo da oficialização de uma zona vermelha na cidade, à expulsão das prostitutas para fora dos muros das cidades. Mas ao final o que se fixará será a regulamentação da prostituição em muitas cidades, sua municipalização, seja pela tutela das monarquias ou das próprias cidades. Os leprosos foram uma minoria um pouco distinta, pois o seu mal, a lepra, não era passível de erradicação. Tal doença tem registros desde a antiguidade, e na bíblia aparecem cerceamentos contra os leprosos e também o a ressureição do leproso Lázaro, apesar de Richards comentar que nada nas escrituras apontem a morte desse personagem histórico por conta da lepra. A representação fundamental da lepra era como a manifestação da corrupção da alma, principalmente por conta de pecados sexuais. Os leprosos foram em sua maioria segregados para lugares específicos, normalmente fora das cidades, as colônias de leprosos. As proibições e imposições sofridas por estes foram inúmeras, algumas delas são: devem raspar a cabeça, a barba e usar vestimenta distinta; devem usar sinos ou algo similar que possa anunciar suas presenças ao restante das pessoas; não devem frequentar nenhum espaço público, seja o mercado, a igreja ou o prostibulo; não devem tocar alimentos que serão consumidos por outros, não devem andar descalços por onde andam pessoas sadias. Quando um leproso era enviado para o local onde viveria com seus iguais em doença, passava por um ritual particular, esse ritual declarava a morte do sujeito para o mundo dos vivos saudáveis e a abertura de um caminho para o outro mundo. Ainda que a lepra fosse resultado do pecado, em alguns momentos o sofrimento pelo qual havia de passar o leproso era visto como uma recompensa divina, sofrer neste mundo para desfrutar do outro. Um dos momentos mais críticos para existência dos leprosos na idade média, século XIV, foi quando começaram a se difundir discursos sobre planos dos leprosos para contaminaram as pessoas saudáveis. Informado desses assuntos, o rei Felipe V de França, que seria uma daqueles a ser infectados, ordenou a prisão de todos os leprosos no seu território. A partir daí iniciasse um massacre geral dos contagiados com a lepra, massacre a se espalhar por toda Europa: são torturados, queimados, isolados perpetuamente, além de terem seus bens confiscados. A onda de violência contra os leprosos só diminui conforme vai desaparecendo a doença, desparecendo também as colônias de leprosos, algo nitidamente visto a partir do século XV. Entre essas minorias, judeus, prostitutas, leprosos, o essencial compartilhado por eles são certamente os processos de segregação porque passaram. São forçados a utilizar de vestimentas, símbolos, objetos que os diferencie claramente do restante dos sujeitos na sociedade. Sofrem diversas proibições em relação ao espaço público dos grupos sociais dominantes, aliás um espaço que foi proibido a essas três minorias foi o dos banhos públicos. Um outro espaço, envolvendo os três grupos, o da prostituição era proibido aos judeus e leprosos. Os três grupos sofrem intervenções das duas grandes fosses forças repressoras da idade média, advindas da Igreja e das monarquias – e o principal, conforme vão se acumulando representações negativas sobre essas minorias, mais vemos os surtos de violências praticados pelas pessoas comuns contra elas.
b) Mais um grupo desviante são os homossexuais. A homossexualidade na
Idade Média era condenada sob o ponto de vista moral e religioso. Por quê? Explique (2,0)
O argumento essencial que está nos fundamentos do cristianismo e que
permitirá posteriores argumentações sobre a homossexualidade é: o sexo deve visar unicamente a procriação, a fruição da sexualidade em termos de prazer próprio de concupiscência é altamente condenável, é pecaminoso, é o caminho do pecado. Se por um lado podemos encontrar isso nos textos sagrados, quando se trata especificamente dos textos escritos sobre Jesus e que virão a formar o novo testamento, não se encontra o posicionamento de Jesus quanto à homossexualidade, nem os procedimentos que devem ser tomados contra as práticas homossexuais. A sistematização das representações sobre a homossexualidade e as punições e penas que devem ser atribuídas aos seus praticas ficou a cargo do clero, e com a ascensão da Igreja essas representações também foram adotadas por algumas monarquias. A homossexualidade era vista como uma prática que atraia as diversas mazelas que atingiam a sociedade. Sodomia como foi chamada durante a idade média, não se referindo apenas a sexo anal mas também a outras práticas como a bestialidade, era um dos maiores pecados, violação da natureza por excelência e por consequência mácula da relação com deus. Na visão popular o “problema” homossexual era encarado como fruto da ausência de parceiras do sexo feminino, em relação a homens solteiros, como indiscrição dos jovens. Apesar de toda o imaginário repressivo em relação às práticas homoeróticas, elas tiveram seus momentos de florescimento durante a idade média. Vício de parte da aristocracia, grassada até entre reis. As ordens medicantes eram dos maiores perseguidores de homossexuais, e quando da deflagração da inquisição o cerceamento da homossexualidade foi total, pois era dito que esta a ordem social, a moral, a estrutura da família.
OLIVEIRA, Marcela Bruna De. Lesbofobia, Homofobia, Bifobia e Transfobia No Contexto Escolar de Crateús e Sertão Dos Inhamuns Relatos de Violência, Resistência e Construção de Identidades LGBTI+, 2018.