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“a danca dos orixas" de Francisco Sparta $.J. Em sintese: O P. Francisco Sparta considera os cultos religlosos afro- -vrasileiros com benevoléncia, procurando “compreender néles tudo que possa ser compreendido”; exalta, pols, 0 senso religioso do homem negro 6 a Indole espontanea (ou mesmo artistica) de suas manifestagées religiosas. Julga que os “pals e filhos de santos” s&o cristéos sincretistas ou adeptos de um monotefsmo diluido: Em conseqiiéncla, pensa que a teologia catélica poderla encarar com nova compreensdo de valéres os cultos afro-brasilelros. Na verdads, o P. Sparta tem razfo ao realgar o profundo senso religloso do homem negro. Parece, porém, Jue nfo se pode dizer que o candomblé e © xangd sejam formas monotelstas de religifo; nem os adeptos dessas erengas podem ser tidos como cristéos (multas vézes mesmo, éles n&o fazem questo disto). Devem-se reconhecer os vaeléres artisticos africanos que se exprimem no candomblé @ no xangé (poderlam talvez alguns ser aprovelta- dos em certas assembidias IItargicas catdlicas). Mas nfo se pode esquecer, como nota © préprio Padre Sparta, que os cultos afro-brasileiros so fonte de allenagfo @ obscurantlsmo Intelectual, fomento de doengas psiquicas e freqientemente cllma de perversées sexuals. A medicina e o bem comum estdo Interessados em que os “pals de santos” sejam esclaracidos 6 delxem de ceder as suas praticas, as quals representam uma rellgiosidade Inierlor, “éplo do povo”, e nfo a auténtica Rellgifio. © Ilvro do P. Sparta 6 bam documentado e de Ieitura multo agradavel, mas parece ambiguo em suas posigées e conclusées. Oomentirio: O P. Francisco Sparta, da Companhia de Je- sus, 6 um grande estudioso das manifestacdes religiosas das populacGes africanas e afro-brasileiras, De origem italiana, estéve dez anos na Africa e j4 se encontra no Brasil ha cinco anos, Entre nds, tem realizado pesquisas sébre os cultos afro- brasileiros (C.A.B.), principalmente na Bahia (onde se pratica o candomblé) e em Pernambuco (regio do xang6). De posse de rica documentacao, escreveu o livro acima, em que procura — 319 — ub «PERGUNTE E RESPONDEREMOS»_139/1971 estudar 0 senso religioso e as atitudes que caracterizam tais cultos; compara-os com elementos religiosos atestados pela Bi- blia e pelos pensadores gregos antigos (Esquilo, Euripedes, Pla- tao, Aristételes, Plotino. ..}. Termina seu estudo, deixando al- gumas interrogacdes abertas: nao poderia a Igreja Catdlica no Brasil aproveitar em sua Liturgia as expressées dos cultos afro-brasileiros? Nao poderia mesmo reformular seu classico modo de considerar tais cultos, nealcando néles uma série de pontos positivos? Como procederia hoje o Apdstolo Sao Paulo, caso realizasse sua missao em meio aog afro-brasileiros? Ao lancar tais perguntas, o autor é movido principalmente por intengdes pastorais, ou seja, pelo desejo de aproximar da verdadeira f6 os freqiientadores d2 terreiros. Nas paginas seguintes, procuraremos pér em realce os principais tracos do livro de Sparta, a fim de ponderar melhor as suas interrogacées. 1. «A Danger dos Orixdés» Merscem especial atenc&o quatro tépicos do livro: 1.1. Metivacae do culto afro-brasileiro O autor propée com mintcias as observa¢ées que concebeu ao freqiientar celebracées de candomblé e xang6; descreve par- tes do respectivo ritual e a mentalidade dos adeptos. Relata também o teor de entrevistas que teve com pais e mies dc. santo: “A minha pergunta: ‘Por que o Sr. (a Sra.) entrou nesta culto?7’, 90% des mals de duzentes entrevistedos responderam: ‘Estava doente’... Multes comegaram a consullar um pal-de-santo sdmente depols do Insucesso da medicina clentifica em curd-los. Os demals 10% tinham ottras respostas, geraimente ligadas a doencas de parentes ou a outro tipo de desgracga. Pouquissimos responderam ‘Fol veca¢go' ou ‘Foi destino’, sorrindo para mim com um ofhar que nao saberla definlr bem se Inganuo, se malicioso. As vézes, slmpatico, As vézes, cruel” (p. 19s). Comenta mais adiante o autor do livro: “Para éles, a rallgiio no 6 euforla transformadora, alagria de construlr um mundo mais humano, e, por Isto, mals divino. A refiglaa déles 6, sobre- tudo, for¢a conservadora, ajuda para sobreviver, nfo obstante a falta de higlens™ (pp. 22s). — 320 — «A _DANCA DOS ORIXAS> 35 Sendo assim, pergunta o autor se, num pais em que a assisténcia médica ainda é insufictente para todos os cidadaos, se deve refrear e impugnar tal tipo de psiquiatria que é 0 curandeirismo. Para encaminhar a resposta (em. sentido, alias, positivo), lembra o P, Sparta que (p. 207). Em particular, o autor realca a notavel inclinagao religiosa dos negros do mundo inteiro, «que conservam a fé mais do que os outros homens, ainda em época de cetismo> (p. 5). 1.3. Negro brasileiro e negro africano E muito interessante o confronto que o P. Sparta estabe- leo2 entre o negro da Africa e o do Brasil no tocante aos cultos religiosos. O folelore e os ritos tém raizes antigas nos povos africanos. Nota-se, porém, que, postos em contato com a civilizacdo e a cultura ocidentais mediante escola, imprensa, igreja, os povos da Africa se tornam rapidamente independentes de seus mitos; recusam a veneracdo de seus orixdés, como os italianos de hoje yecusariam 0 culto dos deuses sabinos e etruscos. — Algo de dliverso se dé com os afro-brasileiros; postos em contato com os costumes civis e religiosos dos ocidentais, persistem no culto — 321 — 36_ «PERGUNTE E RESPONDEREMOS>_139/1971 de seus mitos ancestrais, mesmo quando éstes entram em contradicéio com as praticas da civilizacio ocidental por éles adotadas. Por que to estranho fenédmeno de incoeréncia e apégo ao passado arcaico? O P, Sparta apela para os trés séculos de escravidaio a que foram submetidos os negros do Brasil. Sendo éste regime uma inibicio antinatural, compreende-se que tenha provocado fendmenos desnaturais, entre os quais o enfraquecimento da faculdade critica e da capacidade de revoltar-se contra as con- dicgdes, 0 embotamento do instinto de olhar para a frente... Voltados para o passado e fossilizados sob certos aspectos, os afro-brasileiros estariam fechados as exigéncias da logica e da plena aculturacio.t Alids, Joaquim Nabuco ja denunciara a causado pela escravidao, e nado hesitara em apontar o perigo: «A obra desta ira por diante mesmo quando nao haja mais eseravos» («OQ Abolicionismo». Sao Paulo, p. 7). Nao ha divida, tais consideragdes merecem atencfo. 1.4. Problemas morais O P. Sparta aponta, em seu livro, uma série de problemas causados pelos cultos afro-brasileiros. a) Desvios psicolégicos Nao ha divida de que a procura do transe, do sugestiona- mento, os estados hipnéticos ou pré-hipndéticos, habituais nos terreiros, sfo prejudiciais 4 satide dos respectivos adeptos; sus- citam fenémenos de personalidade dissociada, com reacées con- traditérias e aberrantes. Assim dao origem ou persisténcia, no Brasil, a uma sociedade civil e religiosa de segunda ordem. Podem-se mencionar também inéreia intelectual e esmo- recimento do dinamismo de trabalho entre os adeptos do can- domblé e do xangé: “© espétho da alma 6 o rosto. Ofhal nos terrelros @ no mercado aquéles restos multas vézes desdentados. Pode-se néles fer a presenga de uma 1 Aculturag#o é a adaptagdo de uma pessoa ou Instituigéo & cultura da ragiio onde se encontra. — 322 — «A DANCA DOS ORIXAS> 3? conscléncla moral de fazer o bem e evitar o mal, ou também uma grande férga de conformidade e resignagio. Mas esté quase de todo ausente a sontate- de transformagao, pacifica ou violenta, da sociedade na qual 08. Jamais Carlos Marx poderia ter falado melhor de ‘éplo do povo’ do que assistindo a um candomblé ou a um xangé, @ redeado, para usarmos uma dag expressdes Irreverentes de Gilberto Freyre, de tal detriio humana. Nada poderiam fazer de melhor do que estimular a difusdo do culto alro-brasilelro os que querem conservar 0 povo adormecido e com os carat> teres geralmente atribuidos aos negros, Quem procurar atralr a mocidade a éste cullo, atrasa a sua marchi e adormece a sua inteligéncia, como faziam os avés de nossos pretos com as ervas ‘amansa-senhores’. E os policiais que toleram, apesar da prolbiggo da lei, a presenga de menores durante estas festas, se tornam réus do en- venenamento das ralzes humanas da nagéo. Nao 6 mistério o que psiquiatras @ psicanalistas gallentam: og delirios dos cullos de possessiio sao psiqui- camente contaglosos” ("A Danga dos Orixds", p. 1683). b) Desvios morais O autor do livro enuncia também um bom nimero de perversées sexuais, vingancas, homicidios e crimes inspirados pelas praticas do orixismo 1: transcreve noticias de jornais que publicam a imolacio de criancas, o seviciamento de mocas, a tragédia de familias envolvidas em praticas de terreiro (pp. 139-155). E conclui: “No quero levar em conta uma ou outra figura superior que se destaca no melo da balxeza dos terrelros. Mas 6 para se ravoltar querer confrontar sérlamente as personalidades colossals que a eublimag&o cristi do instinto — sexual produziu e produz na histéria da Igreja com essa massa de homens (quase sempre flacidos, sem dorsos ou com dorsos feminis), com estas mulheres de rosto masculinc, com esta cenfrarla que, multas vézes, care- cende da férga para viver segundo os costumes humanos morals, se margl- naliza em comportamentos Irrefutavelmente imorals” (pp. 1548). O autor leva em conta também a inocéncia que ha em muitas dancas e praticas dos cultos afro-brasileiros. Menciona outrossim o fato de que os negros escravizados foram nao raro vitimas de outros homens. Lembra que os cultos africanos eram como que uma compensacéo que os negros escravos en- contravam para suas amarguras e humilhacoes Julga, porém, que & necessdrio esclarecer o publico ¢, de modo especial, a juventude a respeito das aberracées provocadas pelos cultos afro-brasileiros: «prostituigfo sagrada, sacrificios humanos, ex- Ploragho de feiticeiros, atraso intelectual» (p. 183). 1 Orixismo: culto dos orlxas. 38. «PERGUNTE_E_RESPONDEREMOS» 139/1971 1.5. Mas...«compreendamos o que pode ser compreendido» Embora descreva uma série de males causados pelos ritos supersticiosos, o P, Francisco Sparta nao occulta benevoléncia para com seus adeptos. De principio a fim, em seu livro, éle manifesta o desejo de compreender a psicologia dos afro-bra- sileiros, realcando o que nela haja de positivo e aproveitavel. Podem-se resumir os principais tépicos do seu pensamento nos seguintes itens: — As expresses religiosas dos cultos afro-brasileiros sio erréneas. Todavia as intencdes dos seus adeptos naéo s&o sempre mas. Fregiientemente* revelam profundo senso religioso, infe- lizmente mal orientado. — Os orixistas sfio até certo ponto cristfios. N&o poucos fazem questéo de mandar batizar seus filhos na Igreja e fre- qiientar a S. Missa. Os seus orixds podem ser identificados com os Santos. Se a Igreja reconhece a legitimidade do culto dos Santos, nfo poderia aprovar também o dos orixis? Candomblé- zeiros e xangézeiros seriam adeptos de um monotefsmo diluido, isto 6, seriam cultores de um sé Deus, encoberto, porém, pela veneracio de muitos espiritos intermedidrios entre Deus e o homem. Assim as concepcées dos tedlogos catélicos a respeito dos cultos afro-brasileiros se deveriam transformar, de modo a procurar ver néles auténticos valéres a ser aproveltados para que haja integragdo das populactes afro-brasileiras no Catoli- cismo. — A arte traduzida nas cancées e nas dancas de tais cultos é valor humano capaz de caracterizar a populacio do Brasil, merecendo a estima dos estudiosos e dirigentes da nacao. As posicdes do P. Sparta incitam naturalmente a refletir. E o que faremos na seccdo abaixo. 2. Ponderasses sébre «A Danga...» O autor deixa o leitor um pouco perplexo, pois, ao encarar os fenémenos dos terreiros, passa de severas criticas a expres- sdes benévolas: 39 Tentando penetrar fielmente no pensamento de Sparta, sugerimos as seguintes observacdes: - 1) & inegavelmente simpAtica a atitude do autor que pro- cura entender a psicologia.dos adeptos dos terreiros. Estamos numa época em que a tendéncia dominante 6 aproximar e unir os homens, tentando compreender os valéres latentes em cada personalidade, mesmo que esta se exprima errdneamente. | O P. Sparta dé um passo nesse sentido; procura chamar a atencio para quanto ha de positive no fundo da alma dos sfilhos-de-santos». Esses elementos positives podem ser consi- derados «cabecas-de-ponte» para se comunicar a plenitude da verdade religiosa aos nossos irma&os afro-brasileiros. Todavia certas afirmacGées do autor inspiradas por tal orientagéo sao discutiveis. Com ‘efeito.. . 2) Nao se pode dizer que os candomblézeiros e xangézeiros sejam cristios. Através de suas concepcdes religiosas (por mais simples e primitivas que sejam), percebe-se que estio longe de professar as grandes verdades do Cristianismo: a SS. Trindade, a Encarnacao do Filho, a Redencdo pela Cruz, 0 Sa- cramento da Igreja... Nem se pode afirmar com seguranca que sejam monoteistas; a religiao dos terreiros se dirige aos espiritos bons e maus, deixando Deus em plano muito elevado ou distante. O préprio P. Sparta o reconhece: «Um filho-de- -santo gente-se numa relacio muito mais viva com o espifrito que o livra da doenca... com o Exu que o ajuda a enganar o préximo. Deus é esquecido... Deus fica para ld> (p. 167s)... «A religiaéo (do candomblé e do xang6) nunca se eleva acima do primeiro degrau do egoismo terreno: a busca de protegao e satide> (p. 168). Se alguns pais-de-santos enviam seus seguidores 4 igreja para ser batizados ou fazer suas devogées, isto ocorre por sin- cretismo ou tradicionalismo, mas esta longe de significar ade- sao ao Cristianismo. — Principalmente nos ultimos decénios se moveram campanhas de esclarecimento no Brasil (como no Haiti também) a fim de mostrar ao povo interessado que nao é possivel ser catélico e ser ). Mas é necess4rio que esta conserve sempre seu carater préprio e reverente; ela é sempre culto prestado a Deus e, como tal, deve sempre ser dis- tinta de qualquer outra manifestacao humana. Dai nao se aceitar que gestos e ritmos ja marcados por uso profano ou pagio nela sejam introduzidos sem reserva; poderiam evocar recordagdes profanas e fiteis, em vez de levar a Deus em ora- cao profunda. 5) A existéncia dos anjos e, em particular, dos anjos que pecaram ou deménios, é deixada sob interrogacéo as pp. 218- +222 do livro em foco. Ora tal posicao ndo condiz com a doutri- na da Igreja, que inclui a existéncia dos anjos e deménios entre os artigos da fé. O «Catecismo Holandés» em seu corpo (edicado brasileira, pp. 553s) levantou e deixou aberta a questio. Todavia em seu Apéndice (ed. brasileira, pp. 3s) propée as seguintes obser- vacées: “A Escritura fala multas vézes de semelhantes criaturas: os anjos, Sfo mansagolros ou virtudes que provém de Deus, ‘espiritos servidores’ (Hebr 1, 14), traqitentemente representadog na Bliblla em forma humana. Os anjos manifestam a vontade de Deus. Foram por Ele criados como espiritos benta- zejos, que colaboram conosco... A exlsténcla dos anjos — coma também a dos dem&nios — 6 também uma verdade que faz parte da doutrina caldlica, existéncla essa que 6 mencionada, por exemplo, no 4° Concillo do Latrdo. séres misterlosos sempre aparecem como totalmente relacionados & nossa histéria da salvagéo”. — 326 — «A DANCA DOS ORIXAS> 41 Este testemunho é altamente significativo, pois resulta de TeflexGes realizadas por tedlogos peritos em conseqiléncia da divida lancada pelo «Catecismo Holandés». 6) Em suma, nao padece divida que se devem olhar com o maximo de carinho humano e cristao os adeptos dos terreiros; leve-se em conta o ardor religioso que éles manifestam. Mas parece que a benevoléncia mesma para com tais pessoas leva a esclarecé-las a respeite nao sdmente dos seus erros religiosos, mas também dos males psiquicos e morais que os cultos afro- -brasileiros acarretam: quem assiste a uma celebracéo déste tipo, nfo pode deixar de se sentir confrangido ao observar que as safides, em consegiiéncia, se deterioram e o dinheiro é mal aplicado ou injustamente explorado; as autoridades responsa- veis pela satide publica teriam ampla tarefa a desenvolver nesse setor. Os cultos afro-brasileiros exibem uma imagem de religiosi- dade primitiva, amedrontada, coisa de se defender ou assegurar mediante intercAmbio com fércas protetoras invisiveis. Ora tal nao é a face auténtica da Religiao: esta excita o amor e & confianca para com um s6 Deus, que é Pal; 6 fator de magna- nimidade e dinamismo que pode chegar ao herofsmo; esté longe de ser épio do povo, Por isto & que, dlém de considerar os pontos positivos da alma religiosa africana, é absolutamente necessario levar em conta tudo que de aberrante ha em suas manifestacdes primitivas; é o proprio bem dos afro-brasileiros e da nac&o brasileira que leva o cristéo a evitar confusao reli- giosa. O cristéo hé de ser arauto do, Cristo junto aos seus con- cidadaos orixistas com todo o amor fraterno, mas também com a devida clareza de atitudes. oo * & “Eu dormla e sonhava Que a vida era alegria. Acordel e verifiquei Que a vida era sorvir. Servi e descobri Que servir era alegria” (Tagore) — 327 —

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