Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
1. INTRODUÇÃO
“Um ato ou jogo sexual a que o adulto submete a criança ou o adolescente, com ou
sem consentimento da vítima, para estimular-se ou satisfazer-se, impondo-se pela
força física, pela ameaça ou pela sedução com palavras ou com a oferta de presentes.
Essa forma de violência pode ser intrafamiliar, extrafamiliar e institucional”.
2
O termo pedofilia teve origem na Grécia, podendo ser explicado como o “amor por
crianças”. Nas antigas civilizações gregas e romanas, a prática sexual envolvendo menores era
vista como normal, chegando muitas vezes a ser cultuada. Não existia o crime de estupro, no
entanto, com o crescimento do cristianismo e a forte influência da Igreja na sociedade,
passou-se a condenar e punir as práticas remetentes a pedofilia. Segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde), “a pedofilia pode também ser definida como sendo
simultaneamente uma doença, um distúrbio e um desvio sexual”.
Para Neto, Gauer e Furtado (2003, p.492), pode-se considerar pedófilos indivíduos que
tenham:
3
O comportamento pedófilo está inserido dentro das parafilias, sendo estas definidas
como fantasias sexuais incomuns capazes de causar dor e constrangimento. Este
comportamento dá seus primeiros sinais durante a adolescência dos indivíduos, prolongando-
se e crescendo gradativamente durante a vida adulta, sendo mais frequente em homens do que
em mulheres. Para a psiquiatria, a pedofilia é resultado de contextos psíquicos do indivíduo e
da sua história pessoal, podendo tornar-se pedófilo também o indivíduo que passou por
situações de constrangimento sexual ou que sofreu abusos quando criança.
Apesar de grande parte de a população, entender a prática da pedofilia como sendo
crime, esta interpretação mostra-se falha, uma vez que nem todo pedófilo abusa sexualmente
de crianças e adolescentes, crime este descrito como estupro de vulnerável no artigo 217-A do
Código Penal.Embora muitos sejam os estudos a respeito do tema, a origem do transtorno
ainda é desconhecida, visto que muitos são os fatores que podem colaborar para o diagnóstico
de um pedófilo. Segundo Spizzirri et al. (2010, p.43), ''pesquisas atuais apontam alterações
neurológicas, hormonais e psicodinâmicas envolvidas nessa gênese'', sendo elas:
a) Fatores neurológicos
Diminuição considerável do volume e da massa cinzenta da amídala
direita, do hipotálamo bilateral, das regiões septais, da substância
inominata e do núcleo da estria terminal foi observada em pedófilos e
4
Segundo Williams (2012, p.40), ‘’[...] não há um perfil psicológico para o ofensor
sexual. Trata-se de uma população heterogênea, que pode envolver indivíduos com pedofilia
ou sem pedofilia [...]’’. Dessa forma, entende-se que questões fisiológicas, como a etnia,
5
gênero, orientação sexual e a fisionomia de um indivíduo não definem se este virá ou não a
ser um abusador.
Por não haver possibilidade de identificá-los sem que antes tenham cometido crime,
torna-se mais fácil para os abusadores a prática do ato sexual, visto que estes geralmente estão
inseridos dentro da família de suas vítimas, podendo ser o pai, tio, avô, padrasto ou irmão das
mesmas. Este vínculo propicia os abusos, visto que a criança está próxima e nutre pelo
agressor um sentimento de confiança, além do fato de tornar-se mais fácil coagi-las para que
aceitem o abuso e não o relatem a outros adultos. Este abuso recebe o nome de intrafamiliar e
acontece quando há “estimulação sexual intencional por parte de algum dos membros do
grupo que possui um vínculo parental pelo qual lhe é proibido matrimônio.” (COHEN, 1993,
p. 212).
Como citado anteriormente, a crença popular é de que todo molestador de menores é
um pedófilo, o que não condiz com a realidade, visto que grande parte dos abusadores não são
portadores da parafilia mas sim, adultos que de alguma maneira exploram a sexualidade dos
menores, tanto para satisfazer-se sexualmente como para obtenção de lucros. Os indivíduos
portadores da pedofilia, diferentemente dos abusadores, podem jamais abusar sexualmente de
crianças, visto que:
“Se interessam pelos programas, filmes e vídeos dos quais as crianças gostam.
Também mostram muito interesse em jogos de computador e ficam sempre contentes
de jogá-los com a criança por horas a fio, ao contrário de muitos pais que não têm
muito interesse nem tempo ou disposição para isso. O pedófilo também procura
conhecer o vocabulário infantil, as gírias, a moda, os livros, as atividades comuns, os
alimentos e as bebidas. Portanto, ele fala a língua da criança com muito mais
desenvoltura do que os pais dela e mostra um interesse real pelo mundo dela”.
Para concretizar o abuso, após conquistar a confiança das crianças e dos adultos que as
cercam, a próxima etapa para os pedófilos é:
Quaisquer que sejam as razões pelas quais as pessoas desenvolvem tal fixação, ela
costuma ser crônica e resistente a mudanças, mesmo que corram o risco de serem
identificados, ou seja, ele irá repetir seus abusos como um vício, nenhuma promessa
de mudança deve ser aceita porque não irá ser cumprida. (SERAFIM et al., 2009)
Diferente dos pedófilos, os abusadores e agressores sexuais são sujeitos que muitas
vezes usam de violência e sadismo para conseguirem o que querem. Consideram-se
abusadores, não somente os que estupram menores, mas também cafetões e clientes de
crianças e adolescentes em situação de prostituição, seja está forçada ou consensual. Estes são
classificados como predadores, podendo ser divididos em dois grupos segundo Rodrigues
citando Azevedo et al. (n.59, 2008):
[...] Circunstanciais: Não apresentam uma preferência sexual pelas crianças, mas
praticam o sexo com elas por não possuírem limites morais e por satisfazer um desejo
de experimentar uma relação sexual com jovens. Alguns agressores também podem
seduzir-se por situações nas quais o sexo com crianças se apresenta como algo
extremamente acessível e normal, e contribui para incentivar o turista a deixar de lado
7
A exploração sexual da infância passa, então, a ser considerada pelo turista como um
estilo de vida na época das férias e pode desenvolver um padrão de conduta de personalidade
abusadora.
[...] Preferenciais: apresentam uma preferência definida e clara pelo sexo com
crianças. Este tipo de pessoa apresenta uma desordem de personalidade que lhe
motiva a busca por companheiros sexuais imaturos e vulneráveis. Os agressores
preferenciais constituem uma pequena minoria dentro do grupo de agressores
sexuais, mas podem abusar potencialmente de um grande número de menores.
Não são homogêneos em sua forma de agir, mas podem ser identificados em três
grandes tipos de conduta:
a) Os sedutores que utilizam o afeto, a atenção e os presentes para atrair
as vítimas. São capazes de esperar grandes períodos de tempo enquanto
seduzem as crianças até que estas aceitem o abuso e usam a ameaça e a
violência para evitar que revelem o acontecido.
b) Os introvertidos têm dificuldades para se relacionar com os menores.
Mantêm um nível mínimo de comunicação com eles e tendem a
procurar crianças desconhecidas e extremamente pequenas.
c) Os sádicos constituem o grupo mais numeroso. Conseguem a
satisfação sexual através do dano a suas vítimas. Este tipo de agressor
pode utilizar a força física para persuadir a criança, incluindo o
sequestro e, em alguns casos, o assassinato posterior.
De acordo com Rodrigues (p.59, 2008), esses indivíduos possuem uma constante de negação
sobre a culpabilidade de seus atos, que os conduz a deslegitimar a versão das vítimas,
culpando-as por uma suposta sedução, a negar os fatos ou simplesmente a seguir abusando
delas sem que exista reprovação ou censura. Essa é uma das características mais comuns
presentes nos autores de delitos sexuais contra as crianças. Alegam que os menores buscam
conscientemente a atividade sexual com o adulto e que consentem explicitamente nas relações
(o menor teria escolhido livremente essa forma de vida).
Por fim, de acordo com a ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria, em pesquisa feita
pela Rádio Criciúma (São Paulo, 2010), pode-se organizar-se as diferenças entre pedofilia e
abuso sexual como:
8
possibilitado a criação de leis a favor da causa, a grande pressão feita sobre os políticos faz
com que essas leis sejam votadas e aprovadas com mais facilidade. O estado tem a obrigação
de fazer com que essas leis sejam eficazes, também tem como obrigação criar e desenvolver
projetos sociais para aumentar a conscientização.
A convenção mundial sobre os direitos da criança promulgada pela assembleia geral da
ONU (Organização das Nações Unidas) em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil em
setembro de 1990, veio assegurar uma serie de diretrizes para a defesa das crianças e
adolescentes de todos os países, através do reconhecimento da criança como um sujeito de
direitos, elas obtiveram o direito de terem condições dignas de desenvolvimento sobre todos
os aspectos.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227 afirma que:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à educação, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
Devido a isso, conclui-se, que a sociedade através da educação e o estado através de leis
rígidas, devem combater os crimes contra as crianças e os adolescentes, no tocante as leis
brasileiras, a pedofilia ganhou uma atenção especial com a criação do ECA (Lei 8069/90),
Estatuto da Criança e do Adolescente, que foi a ferramenta garantidora de todos esses direitos
adquiridos. Atualmente a proteção frente aos abusos sexuais contra menores prevista no ECA
é a que consta nos artigos 240 e 241:
Os artigos 240 e 241 abrangem o tópico pornografia infantil, já a violência sexual ficou
a cargo do código penal, os artigos 213 (estupro) e 214 (atentado violento ao pudor) são
usados para definir condutas relacionadas à pedofilia e a qualificação destas condutas em
decorrência da presunção de violência. Vale lembrar que todos os crimes relacionados à
pedofilia são considerados hediondos conforme a lei 8.072/90. Também ficou a cargo do
Código Penal a responsabilidade de punir crimes relacionados à prostituição infantil e o
tráfico de menores com fins sexuais.
O Projeto de Lei do Senado n° 250, de 2008 Altera o Estatuto da Criança e do
Adolescente, para aprimorar o combate à produção, venda e distribuição de pornografia
infantil, bem como criminalizar a aquisição e a posse de tal material e outras condutas
relacionadas à pedofilia na internet, esse projeto preenche lacunas referente aos crimes de
pedofilia na internet.
Mesmo com a grande quantidade de normas, que visam proteger as crianças vítimas de
abuso sexual, muitos dos casos não chegam até o judiciário, fato este, que se explica tanto
pelo desconhecimento das vítimas que estão sofrendo de abuso quanto dos pais das mesmas,
da situação que ocorre com seus filhos, bem como, pelo fato da justiça brasileira no que
refere-se aos casos de violência sexual, ser lenta e excessivamente burocrática, dificultando
assim a prisão imediata dos acusados do crime.
Além das inúmeras fases processuais enfrentadas pelas vítimas de abuso e seus
responsáveis, que devem encarregar-se de acompanhar os procedimentos já que o mesmo não
pode ser feito pelos menores, o despreparo dos agentes públicos é evidente. Para a advogada
Xênia Melo, em entrevista feita pelo jornal Gazeta do Povo (2016), “hoje só tramitam com
celeridade os inquéritos com réu preso”. Ainda segundo a mesma “a maioria dos inquéritos
caduca, porque precisa colher depoimento, chamar testemunhas, fazer perícias e não tem
equipe suficiente para fazer tudo isso dentro do prazo”.
Segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), havia em
junho de 2014 pouco mais de 12.800 pessoas presas por crimes contra a dignidade sexual. Em
um cálculo conservador, pode-se considerar que uma pessoa condenada por estupro cumprirá,
11
5 METODOLOGIA
Ao realizar pesquisas, é necessário buscar dados e referências sobre o assunto que será
abordado e apresentado, utiliza-se alguns métodos para expor as informações encontradas
nesta pesquisa, então, ao utilizar o método será possível confirmar determinada hipótese,
sobre um determinado fato, se é falso ou verdadeiro por exemplo (AZEVEDO, 2009).Logo,
método é o conjunto de processos que são utilizados na investigação, e na demonstração da
verdade, ou seja, é a maneira que o investigador pesquisa ou as formas de pesquisa utilizadas
por ele, no que se refere ao assunto que está sendo pesquisado (AZEVEDO, 2009).
O método de pesquisa utilizado no artigo é a pesquisa exploratória. Seu planejamento
tende a ser flexível, pois interessa considerar os mais variados aspectos relativos ao fato ou
fenômeno estudado (GIL, 2010). O tema abordado exige entendimento e compreensão.
Através deste tipo de pesquisa é possível obter uma visão geral sobre determinado assunto,
avaliando ideias que podem agregar valor à pesquisa realizada. Siena (2007, p.34) demonstra
que “o objetivo é obter maior familiaridade com o problema para torná-lo explícito ou a
construir hipóteses. Assumindo a forma de pesquisa bibliográfica ou estudo de caso, pode
conter entrevistas, questionários, análise de exemplos, etc.”.
O tipo de pesquisa utilizada é a pesquisa qualitativa, uma vez que permite atingir um
público alvo pequeno e as informações podem ser obtidas através de entrevistas e
questionários. A pesquisa qualitativa tem como objetivo focar no objeto em estudo e
descrevê-lo ou analisá-lo, e distanciar um pouco menos a teoria de dados. Segundo
14
Deslauriers (1991, p. 58), “na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o
objeto de suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O conhecimento do
pesquisador é parcial e limitado”. Para complementar, Flick (2004, p. 18) afirma que “a
psicologia e as ciências sociais têm adotado como modelo as ciências naturais e de exatidão,
direcionando uma atenção especial para os métodos quantitativos e padronizados”.
A técnica de coleta de dados para quaisquer que for o assunto pode ter diversas
maneiras de identificação.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ante o esclarecido, concluiu-se que apesar da existência das punições previstas em lei
aos crimes de estupro de vulnerável, já que a pedofilia não é tipificada como crime, as
mesmas não possuem o efeito desejado pelos legisladores e pela população, uma vez que os
números envolvendo este tipo de caso só aumentam a cada ano. Não se buscou fazer uma
crítica a atual legislação penal, mas sim,de demonstrar novos meios de aplicação da lei e de
tratamento aos abusadores e as vítimas de abuso, uma vez que a facilidade com que estes
criminosos adquirem sua liberdade em poucos anos e sem ter cumprido pelo menos metade da
pena, assusta a todos que possuem menores na família.
Ainda que a pedofilia seja considerada como uma doença pela psiquiatria, a maioria dos
pedófilos detém consciência de que seus atos são errados e condenáveis, sendo importante a
prisão destes indivíduos independente da condição mental. Entretanto, pode-se concluir que
apenas a junção da prisão com um tratamento psiquiátrico especializado é capaz de diminuir a
reincidência dos crimes de abuso sexual. Hoje o que ocorre é a exclusão destes indivíduos
completamente da sociedade, onde são tratados como monstros que segundo a opinião
15
popular, merecem nada além da morte, tortura, ou em casos extremos, o estupro como
punição.
Colocá-los dentro do péssimo sistema carcerário brasileiro, onde virão a sofrer
ameaças de outros detentos, além de não receber acompanhamento médico, para que os
mesmos entendam a gravidade de seus atos, de forma que através deste atendimento médico
possam controlar seus impulsos, não é a solução ideal e deixa de atender seus direitos básicos,
como ser humano, independe da gravidade do crime que o mesmo cometeu.
De forma que é extremamente importante, que as denúncias sejam acolhidas e julgadas
com mais rapidez, visto que enquanto solto e sem acompanhamento o abusador pode fazer
novas vítimas e seguir importunando a parte autora da denúncia. No que se trata aos menores
afetados pelo crime, pode-se afirmar que merecem toda a proteção e atenção, tanto por parte
da lei como de seus familiares, amigos e educadores, uma vez que são severamente atingidos
em sua formação como pessoa após o abuso, que muitas vezes serve de gatilho para doenças
mentais graves. A realização de campanhas publicitárias e as conversas em família e no
ambiente educacional são importantíssimas e devem abordar a temática do abuso, buscando
encorajar as crianças a fazer denúncias e ajudá-las a compreender quando estão passando por
situações invasivas.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, N.; MARQUES, E.; VASCONCELOS, C.; MEDEIROS, G.; VIANA, C. Abuso e
exploração sexual de crianças e adolescentes. Manual de orientação para educadores.
Manaus: Agência Uga-Uga de Comunicação, 2004.
AZEVEDO, B.C. Metodologia Científica ao alcance de todos.2 ed. Barueri, São Paulo,
Manole, 2009.
CERVO, L.A; BERVIAN, A.P; SILVA, D.R. Metodologia Científica.6 ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2007.
GAZETA DO POVO. Vida e cidadania. Por que mulheres vítimas de violência não
conseguem denunciar seus agressores? Disponível em:
<https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/por-que-mulheres-vitimas-de-violencia-
nao-conseguem-denunciar-seus-agressores-aafcqnepzvzcx8zfbc9id42fw>. Acesso em: 15 abr.
2018.