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Direcção-Geral da Saúde C a d e r n o s
A Vacinação Índice
Nota de Abertura 02
e a sua Em Foco
• A Vacinação e a sua História
• Nota sobre a Erradicação Europeia
03
História
da Poliomielite 08
• BCG – Programas de Vacinação
na Europa 09
Perspectivas
• Protecção Radiológica: Evolução
das Normas Básicas 13
• Cooperação em Imunoalergologia
na República de Cabo Verde 19
Foi Dito Por...
• Dr. Luís Filipe Pereira 21
• Dr. José Manuel Mendes Nunes 23
• Dr. Luís G. Sambo 25
• Dr. J. Alexandre Diniz 28
Notas Breves 31
Para Ler 35
Ficha Técnica
Direcção Director-Geral da Saúde
e Alto-Comissário da Saúde
Ministério da Saúde
Baixo-relevo da época de Amenophis III (Museu de Copenhaga) Direção-Geral da Saúde
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Nota de Abertura
A importância da
COLABORAÇÃO
O Coordenador
Prof. Doutor Valentino Viegas
valentinov@dgsaude.min-saude.pt
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
A Vacinação
e a sua História
Dr. João Feliciano
Assistente Graduado de Medicina Geral e Familiar
Mestre em Doenças Transmissíveis
Divisão de Cooperação Internacional
feliciano@dgsaude.min-saude.pt
A vacina (do lat. vaccina-, «de vaca»), no sentido estrito, etimológi- pele das pústulas e redução desta a pó, o
co, designava uma doença infecto-contagiosa que aparecia no gado qual era fornecido aos pacientes para ina-
vacum, sob a forma de pústulas. A sua transmissão acidental ao lação; num último, o pó obtido era inseri-
homem conferia-lhe protecção contra a varíola. do directamente numa das veias do indiví-
duo, com a ajuda de uma agulha.
A vacina é vulgarmente considerado um agente – microrganismo
ou substância – que, introduzido no corpo de um indivíduo, por Também na Turquia a variolização é prati-
via oral ou injectado, provoca a imunidade para determinadas do- cada. A sua introdução na Europa é reali-
enças. Assim, a vacina é um produto antigénico que leva ao apare- zada, em 1720, por Mary Wortley Montagu,
cimento de imunidade por mecanismos idênticos aos desencadea- esposa do embaixador Inglês na Turquia.
dos pelas próprias doenças, isto é, através da formação de anticor- Lady Montagu, tendo já sido vítima da varí-
pos específicos. ola, aprendeu a técnica da variolização, à
qual submeteu a sua filha de 3 anos. Pro-
Vacinação e imunização são termos usados quase como sinónimos.
move o princípio desta técnica e lança uma
Vacinação significa a aplicação de vacinas. Imunização tem um
campanha para inocular os Ingleses contra
sentido mais amplo e está conotada com o processo de aquisição de
a varíola.
imunidade após a administração de uma substância imunobiológi-
ca. Esta pode ser activa – pela produção de anticorpos através da
O método científico
vacina ou toxóide – ou passiva, pelo fornecimento de imunidade
temporária pela administração de anticorpos pré-formados. Apesar de os vários registos históricos que
evidenciam a tentativa de se proceder a
As primeiras vacinas uma vacinação, é a Edward Jenner que se
atribui o mérito da vacinação, dado o rigor
Os primeiros registos
científico com que este médico inglês apoi-
Confrontados, e decerto assombrados, com inúmeras epidemias ou as suas experiências. Em 1796 vacinou
que ocorreram ao longo dos tempos, os egípcios registam, cerca de uma criança com o pus da mão variólica
3000 a.C., relações entre a exposição à doença e o impedimento fu- duma mulher. Passadas 6 semanas, inocu-
turo de a contrair. lou o rapaz com a varíola e não verificou
qualquer reacção transmissível da doença.
O general grego Tucídides nota, no ano 430 a.C., o aparecimento
Um ano mais tarde, realizou nova inocula-
de uma imunidade natural nas vítimas da peste, que varre Atenas.
ção e esta contraprova revelou-se inofensi-
“Nem um foi atacado pela segunda vez”, deixa escrito na sua Histó-
va. Vinte e três vacinações são realizadas e
ria das Guerras do Peloponeso.
o resultado destas experiências publicado
Na China, é conhecida, pelo ano 1000, a prática de uma técnica num livro que marca a história da ciência,
denominada variolização, usada como tentativa de imunização em 1798: ”An Inquiry into the cause and
contra a doença conhecida actualmente como varíola. Três méto- effects of the Variolae Vaccinae, a disease
dos eram utilizados: no primeiro, retiravam pus e líquido de uma discovered in some of the western counties
lesão variólica que, com o uso de uma agulha, eram colocados na of England, particullary Gloucestershire,
região subcutânea; um segundo método consistia na remoção de and known by the name of «cow-pox»”.
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
Individual de Saúde, em que se registam as vacinas efectuadas. Oxford University Press; 1994: 274 p.
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
Em 21 de Junho, foi declarada, pela OMS, a erradicação da polio- ta-se do plano estratégico que visa eliminar
mielite aguda nos países da Grande Europa. O acontecimento foi para sempre a poliomielite aguda e que se
devidamente comemorado nos magníficos espaços interiores do desenvolve nas seis regiões da OMS. Nas
Museu de Copenhaga. Américas, no Pacífico Ocidental e agora na
Europa, a doença encontra-se já erradicada
E não foi por acaso que os representantes dos 51 estados membros,
(há pelo menos três anos que não se verifi-
que integram a Região Europeia da Organização Mundial da Saú-
cam casos novos de doença). Por outro
de, se encontraram neste local.
lado, nas restantes regiões (África, Ásia do
É que, precisamente na ala egípcia daquele mesmo museu, está Sudeste e Mediterrâneo Oriental) os traba-
exposto um baixo-relevo original, da época do reinado de Ameno- lhos prosseguem.
phis III (1403-1365 anos a. C.), que exibe as sequelas da paralisia
Em Portugal, o último caso foi registado
infantil num homem que apresenta típicas deformidades físicas no
em 1986. O Programa Nacional de Erradi-
membro inferior direito.
cação da Poliomielite, que contempla as
Se bem que a doença tenha sido descrita na literatura médica mun- componentes de vigilância clínica, epidemi-
dial, pela primeira vez, em 1789, por Underwood, todos reconhecem ológica e laboratorial da Paralisia Flácida
que a poliomielite era já conhecida desde tempos muito distantes. Aguda, assenta, naturalmente, na concreti-
As imagens gravadas pelos egípcios suscitam reflexão. Mas, antes zação do Plano Nacional de Vacinação.
de mais, atestam a importância da Moderna Saúde Pública no con- A certificação da erradicação da doença im-
trolo das doenças transmissíveis e aquilo que estas doenças teriam põe a demonstração da capacidade de diag-
representado ao longo dos séculos. nosticar clínica e laboratorialmente todos
os casos suspeitos de doença paralítica, pro-
Jonas Salk e Albert Sabin, ao possibilitarem a imunização activa,
vocada pelo vírus selvagem endógeno.
através, respectivamente, da vacina inactivada injectável (1955) e
da viva atenuada oral (1962), criaram as condições para prevenir Estes requisitos, ligados à dimensão labo-
a doença. Sublinhe-se que qualquer das vacinas é muito eficaz, ratorial do Programa, foram cumpridos
assegurando protecção efectiva em relação aos três tipos de vírus com assinalável sucesso no Laboratório de
da pólio. Referência da Pólio do Instituto Nacional
de Saúde Ricardo Jorge (obteve a classifi-
Uma vez que a vacina oral, para além de provocar a formação de
cação de 100% na certificação anual atri-
anticorpos séricos e de dificultar a multiplicação do vírus selvagem
buída pela OMS).
nos intestinos, torna possível a interrupção da circulação do vírus
(e, portanto, da infecção), possibilitando a erradicação da doença a Já o mesmo não aconteceu quanto ao in-
nível global. ventário dos laboratórios portugueses, no
quadro do plano de contenção do vírus,
Esta doença será, assim, depois da varíola, a segunda a ser erradica-
que visa impedir, no futuro, eventuais fu-
da no mundo.
gas de laboratórios não controlados, uma
Para isso, a Organização Mundial de Saúde lançou, em 1988, a vez que se tratou de um processo mais de-
maior iniciativa de saúde pública da história da Humanidade. Tra- morado.
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
Outra questão a ter em consideração é a possibilidade de importa- Para que, em 2005, o vírus deixe de circu-
ção de casos, enquanto a poliomielite não for erradicada nas res- lar no Mundo e de infectar crianças, há um
tantes regiões do Globo. imenso trabalho a concretizar, de ora em
diante, quer nas regiões onde a pólio já foi
Para além do Paquistão e do Norte da Índia, há países em África
erradicada, quer nas que ainda não se li-
onde o vírus selvagem continua a circular e a sobrepor-se ao vírus
bertaram da doença. Só, assim, a evitabili-
vacinal. A este propósito, e uma vez que são estreitas as relações com
dade da poliomielite será demonstrada e
este Continente (em particular a situação endémica em Angola exi-
dará lugar à sua erradicação.
ge redobrada atenção), Portugal deve participar activamente no es-
forço acrescido que tem por objectivo apoiar as operações do Pro-
grama na Região Africana.
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Em Foco
Trnka L, Dankova D.
Unidade de Vigilância da Tuberculose
Hospital Universitário de Bulovka-República Checa
Referências
1. Global Tuberculosis Programme
and Global Programme on Vaccines.
Statement on BCG revaccination for
the prevention of tuberculosis.
Weekly epidemiological record 1995;
70 (32): 229-236
Agradecimentos
Os relatores agradecem a todos
os que participaram na resposta
ao questionário pela sua cooperação.
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Perspectivas
Protecção Radiológica
Evolução das Normas Básicas
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Perspectivas
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Perspectivas
Quadro
Cronologia da Evolução da Protecção Radiológica
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Perspectivas
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Perspectivas
No âmbito da protecção radiológica, das interacções possíveis en- • Salvaguardas Euratom e da AIEA;
tre as radiações ionizantes e a matéria, apenas interessam os efei- • Agência Aprovisionamento Europeu;
tos em que há cedência progressiva de energia aos materiais atra-
• Agência de Energia Nuclear da Organi-
vessados.
zação de Cooperação e Desenvolvimento
Neste estudo há que ter em conta tanto o feixe incidente como o Económico (AEN/OCDE).
alvo atingido.
Estão ainda incluídas neste âmbito as ma-
O estudo quantitativo destes efeitos obrigou à introdução de novas térias relativas a incidentes que originam
unidades de energia, extremamente pequenas quando comparadas dois níveis de intervenção:
com as da Mecânica Clássica.
1. Troca rápida de informação através de:
Há muitos exemplos sugestivos que podem ilustrar estas ordens de
• Constituição de sistemas de alerta, de que
grandeza, demonstrando que as radiações ionizantes, devido ao seu
é exemplo o “Sistema Ecurie“, na Comu-
carácter corpuscular, produzem impactos extremamente localiza-
nidade Europeia;
dos de onde advém a eficácia deletéria dos seus efeitos.
• Ponto de Contacto Nacional Emissor
No âmbito da Radiobiologia, a medição da interacção destas radia-
(Focal Point);
ções com um organismo vivo, pode ser interpretada em termos de
energia depositada no organismo. 2. Assistência mútua em caso de acidente
nuclear, através de:
Surgiram assim grandezas e unidades dosimétricas: dose absorvida
(D), factor de qualidade (Q), equivalente de dose (H), factor de pon- • Acordos multilaterais de responsabilida-
deração para o tecido ou orgão T (Wt), dose eficaz (He). de civil;
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Perspectivas
• Convenções Internacionais de notificação e de ajuda mútua. A listagem dos diplomas legais que atribuem
competências à Direcção-Geral da Saúde em
Generaliza-se o termo “Questões nucleares” como dizendo respeito breve será alterada, devido à publicação de
especificamente às aplicações da cisão nuclear. cinco diplomas que efectuam a transposição
das Directivas n.ºs 96/29 e 97/43/ EURA-
As técnicas que utilizam isótopos radioactivos e as técnicas de pro-
TOM para o direito interno do nosso País.
dução e utilização de radiação X, amplamente usadas na indústria
e em medicina, chamam-se simplesmente “Técnicas produtoras de Os diplomas legais em vigor que atribuem
radiações ionizantes“. competências à Direcção-Geral da Saúde são:
1. Decreto-Regulamentar n.º 9/90, de 19 de Abril, que, dando execução ao Decreto-Lei n.º 348/89 de 12 de Outubro e tendo
em conta as Directivas (EURATOM) n.º 838/80 de 15 de Julho, 466/84 e 467/84, de 3 de Setembro, estabelece os princípios e
normas por que devem reger-se as acções a desenvolver na área da protecção contra as radiações ionizantes, bem como as
medidas fundamentais relativas à protecção radiológica das pessoas submetidas a exames e tratamentos médicos.
2. Decreto Regulamentar n.º 3/92, de 6 de Março, que, clarificando o DR n.º 9/90, estabelece, de forma mais abrangente, o
regime de isenção de autorização prévia de práticas que impliquem a utilização de radiações ionizantes.
3. Despacho do Secretário de Estado da Saúde, de 93-7-15, que fixa os critérios de aceitabilidade do equipamento médico de
radiodiagnóstico.
4. Despacho da Ministra da Saúde, de 95-11-20, que, na sequência do diploma anteriormente citado, proíbe o funcionamen-
to de equipamento de radioscopia sem intensificador de imagem.
5. Decreto-Lei n.º 95/95, de 9 de Maio, que estabelece as regras a que deve obedecer a instalação de equipamento médico
pesado, definindo critérios de programação e de distribuição territorial.
6. Resolução do Conselho de Ministros n.º 61/95, de 28 de Junho, que estabelece os rácios a que deve obedecer a distribuição
referida anteriormente.
7. Decreto-Lei n.º 36/95, de 14 de Fevereiro, que transpõe para o direito interno a Directiva n.º 89/618/EURATOM do Conselho,
de 27 de Novembro, relativa à informação da população sobre as medidas de protecção sanitária aplicáveis e sobre o com-
portamento a adoptar em caso de acidente nuclear ou emergência radiológica.
8. Despacho Conjunto, de 94-6-27, dos Ministérios da Administração Interna, da Agricultura, da Saúde e do Ambiente e Re-
cursos Naturais, que cria o Conselho para Acidentes Nucleares e Emergências Radiológicas (CANER) e define as atribuições
e competências deste.
9. Despacho Conjunto, de 94-02-18, dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Indústria e Energia, da Saúde e do Am-
biente e Recursos Naturais, que redefine a composição da Comissão Técnica Permanente (CTP), estabelecida para zelar pelo
cumprimento do Acordo Luso-Espanhol em Matéria de Cooperação sobre Segurança das Instalações Nucleares de Fronteira,
assinado em Lisboa, em 80-3-31.
10. Decreto Regulamentar n.º 29/97, de 29 de Julho, que transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 90/641/EURATOM
do Conselho, de 4 de Dezembro, fixando as disposições de protecção operacional dos trabalhadores externos sujeitos ao
risco de radiações ionizantes durante uma intervenção numa zona controlada.
11. Despacho do Gabinete da Ministra da Saúde nº. 8934/97, de 97-10-09, que estabelece as disposições relativas ao documen-
to individual de controlo radiológico referido no diploma anterior.
12. Despacho do Gabinete da Ministra da Saúde, de 97-09-05, que, tendo em conta os riscos de exposição a radiações ioni-
zantes, provenientes das actividades nas áreas de radioterapia, de medicina nuclear e de radiodiagnóstico, estabelece crité-
rios de aceitabilidade relativos às instalações desta mesma área e ainda os relativos às instalações e equipamentos nas áreas
de radioterapia e de medicina nuclear.
13. Decreto-Lei n.º 492/99, de 17-11-99, que aprova o regime jurídico do licenciamento e da fiscalização do exercício das activi-
dades desenvolvidas em unidades de saúde privadas que utilizem, com fins de diagnóstico, de terapêutica e prevenção,
radiações ionizantes.
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Perspectivas
Cooperação em Imunoalergologia na
República de Cabo Verde
Um Projecto com 13 anos
Prof. Doutor J. Rosado Pinto
Director do Serviço de Imunoalergologia do Hospital de D. Estefânia
Professor Auxiliar Convidado da FCML
hde.imunoalergo@mail.telepac.pt
1. Assistencial
Foi a primeira a ser desenvolvida, através da instalação de áreas da
especialidade, sobretudo vocacionadas para as doenças alérgicas
mais prevalentes (respiratórias, de expressão cutânea, ocular e diges-
tiva), com a criação de 2 consultas de referência nos Hospitais Cen-
trais Dr. Agostinho Neto, na Cidade da Praia, e Dr. Batista de Sousa,
no Mindelo. Além disso, deu-se um apoio particular na ilha do Sal,
porta de entrada do país, através do seu aeroporto internacional.
Complementarmente, as consultas foram sendo dotadas de equipa-
mentos fundamentais para o seu funcionamento, tais como, medi-
camentos, baterias de testes cutâneos, aparelhos de avaliação funci-
onal respiratória, adequados à prevenção e ao tratamento de situa-
ções clínicas agudas, e nebulizadores, para dar resposta apropriada a
estas situações. Actualmente, encontram-se referenciados em fichei-
ros mais de 6000 doentes, crianças e adultos, oriundos de todo o
país. Em cada deslocação de técnicos portugueses a Cabo Verde, são
discutidos os casos clínicos mais relevantes e observam-se, em média,
200 doentes. Para além de assegurar a instalação do equipamento e
a actualização terapêutica, cada Missão portuguesa é portadora, em
mala diplomática, de livros e cerca de 100kg de medicamentos, ofer-
ta dos grupos de indústria farmacêutica mais ligados ao diagnóstico
e terapêutica das doenças alérgicas e que se disponibilizam a apoiar
gratuitamente este projecto. Mais: ao longo dos anos, tem sido pres-
tado um contributo de consultadoria na actualização do Formulário
Nacional de Medicamentos de Cabo Verde.
2. Formação
A formação tem sido um objectivo prioritário na actualização dos
responsáveis pelas consultas dos Hospitais Centrais, quer através de
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Perspectivas
estágios feitos no Serviço de Imunoalergologia do Hospital de çado numa maior consistência, podendo
Dona Estefânia, quer através da participação em reuniões científi- apresentar, no futuro, uma dimensão ainda
cas realizadas em Portugal. mais alargada se o convite do responsável
da área respiratória da Organização Mun-
A deslocação de cada Missão é precedida do levantamento das
dial de Saúde, feito ao coordenador das Mis-
necessidades formativas dos médicos hospitalares do país. Assim,
sões, para uma reunião de trabalho duran-
até hoje, mais de 50 temas teóricos de alergologia e imunologia
te o mês de Julho, em Montpellier, der os
foram apresentados em reuniões, bastante participadas, por médi-
resultados pretendidos. O facto de uma or-
cos, enfermeiros e psicólogos dos hospitalares e das Delegacias da
ganização de prestígio da OMS conhecer o
Saúde. Recentemente, foram equipados com nebulizadores os Hos-
projecto e pretender implementá-lo numa
pitais e Delegacias de Saúde de todo o país, iniciativa que foi, em
mais ampla dimensão é significativo.
grande parte, apoiada pelo Ministério da Saúde de Portugal. A últi-
ma entrega de material, concretizada em Janeiro de 2002, em ceri-
mónia pública, amplamente divulgada pela comunicação social, foi Conclusões
seguida da necessária formação de técnicos (médicos e enfermei- O sucesso, que tem sido este trabalho, deve-
ros) em actividade complementar, durante o seu horário de traba- -se, sobretudo, ao apoio dos Ministérios da
lho, de forma a ser garantida a boa utilização do equipamento. Saúde de ambos os países e à grande ami-
Em Setembro de 2002, será efectuado o exame da primeira médica zade que se estabeleceu ao longo de vários
especialista de Imunoalergologia, no Ministério da Saúde de Cabo anos de trabalho. 18 Missões de curta dura-
Verde, por um júri misto, composto por médicos portugueses, do ção (7-15 dias), envolvendo dezenas de médi-
Serviço de formação (Imunoalergologia do HDE), e de Cabo Verde. A cos, técnicos (de laboratório e cardiopneu-
candidata fez um internato de 3 anos e meio como bolseira do Institu- mografia) e psicólogos, só foram possíveis
to da Cooperação, com curriculum adaptado às necessidades do país. de manter, nas actuais condições de traba-
lho, devido ao espírito de missão instituído
no Serviço. Há 13 anos, juntamente com o
3. Investigação
Prof. Nuno Neuparth, deu-se início a este
Em 1993, em complemento das vertentes do projecto inicialmente projecto; há 9 anos, o Dr. Mário Almeida
desenvolvido, foi principiado um trabalho de investigação, incidindo implementou e desenvolveu projectos com-
sobre a epidemiologia das doenças alérgicas, sobretudo nas escolas plementares de formação e investigação, e
das ilhas do Sal e de S. Vicente, de que resultaram publicações em agora a Drª. Maria do Céu Teixeira, há 4
revistas, apresentações em congressos nacionais e internacionais e, anos a fazer a especialidade de Imunoaler-
inclusivamente, a obtenção de prémios científicos, nomeadamente da gologia em Portugal, termina um ciclo de
Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) e formação.
da European Academy of Allergology and Clinical Immunology
A ponte deste projecto está lançada para a
(EAACI). Todo o trabalho científico nesta área, que envolveu milhares
sua continuação.
de jovens, dezenas de médicos e de professores portugueses e cabo ver-
dianos, contou com a colaboração exemplar dos Ministérios da Saúde
e da Educação da República de Cabo Verde.
Em 2002, foi atribuído ao Projecto de Cooperação do Serviço de
Imunoalergologia do Hospital de Dona Estefânia, na República de
Cabo Verde, o Prémio Especial do Anuário do Hospital de Dona
Estefânia.
Um estudo comparativo sobre o impacto da asma na criança e sua
família está a ser preparado, conjuntamente com o Serviço de Psi-
quiatria do Hospital Dr. Agostinho Neto, com vista a ser iniciado
ainda este ano.
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
Saúde Mental
Nova Compreensão, Nova Esperança
...Foi com muito apreço que registei a iniciativa da Organização lância e determinação, em conjugação com
Mundial de Saúde de, pela primeira vez, em 2001, ter dedicado o outras estruturas institucionais – designa-
Dia Mundial da Saúde à Saúde Mental. damente nos sectores da Saúde, Acção So-
Para além das importantes mensagens de alerta e solidariedade cial, Educação, Emprego, Justiça, Cultura,
que procurou transmitir ao mundo e às suas comunidades sociais Desporto, do poder autárquico, nas institu-
e profissionais, incluindo naturalmente os prestadores de cuidados ições não-governamentais e de solidarieda-
de saúde, os utentes e as famílias, os poderes autárquicos e gover- de social, etc –, de modo a que todos possa-
namentais, bem como todas as entidades públicas e privadas, de mos convergir na criação e fortalecimento
solidariedade social e de voluntariado, este Dia Mundial da Saúde de parcerias interinstitucionais e intersec-
constituiu um marco de iniludível valor no combate aos múltiplos toriais, susceptíveis de melhor contribuir
estigmas, que hoje ainda, infelizmente, perduram na sociedade, para o sucesso das recomendações, hoje
quanto à melhor forma de organizar e melhor tratar todos aqueles aqui tão eloquentemente reveladas.
malogrados pela deficiência mental. A par da observação de que as doenças
Do mesmo modo, me apraz registar e felicitar a realização desta mentais podem afectar pessoas de todas as
Sessão Solene no nosso País, destinada à apresentação do Relatório faixas etárias, devemos destacar a impor-
Mundial da Saúde 2001, e cujo título – “Saúde Mental: Nova Com- tância da patologia psiquiátrica grave e po-
preensão, Nova Esperança” – resume com toda a clareza, a neces- tencialmente incapacitante, tantas vezes
sidade hoje cada vez mais sentida em todo o mundo, de empreen- associada à exclusão social, pelo facto de po-
der uma nova atitude e um novo estilo de actuação, no que respei- der atingir jovens e adultos na fase mais
ta à compreensão da saúde mental, não apenas no âmbito desta activa da vida, exigindo de todos nós a máxi-
poder constituir uma área problemática de saúde pública, mas ma atenção e prioridade. Assim como a sus-
numa perspectiva muito mais vasta e integrada de prevenção e pro- ceptibilidade de grupos específicos, parti-
moção da saúde dos cidadãos, de uma melhor integração social de cularmente frágeis e vulneráveis, tais como
todos, sem exclusão, nomeadamente dos que se encontram com as crianças, os adolescentes e os idosos.
este tipo de problemas. Igualmente preocupantes são os problemas
O relatório hoje apresentado pelo mui ilustre especialista Dr. ligados ao álcool, não só o alcoolismo per si
Benedetto Saraceno, Director do Departamento de Saúde Mental e como também o consumo excessivo de ál-
Dependência de Substâncias da OMS, que aproveito para saudar cool, nomeadamente nas camadas mais
com particular estima e consideração, resume no essencial o esta- jovens, bem como a problemática da sinis-
do da arte da saúde mental em todo o mundo, e emite importantes tralidade, dos comportamentos de risco e
recomendações que o nosso país não deixará certamente de tomar todos os problemas de saúde e sociolabo-
em linha de conta nas acções a desenvolver no futuro. rais associados.
Na minha qualidade de titular da pasta da Saúde, e não obstante o O consumo de drogas ilícitas, muito liga-
reconhecimento do muito que já foi feito nesta área, posso assegu- das à delinquência e à marginalidade, bem
rar-vos que, no longo caminho que ainda há para percorrer, o como às doenças infecciosas, é outra área
Ministério da Saúde vai continuar a manter uma postura de vigi- que deve merecer toda a nossa atenção. Ao
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
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CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
...Felicito o Instituto de Apoio à Criança pela realização deste En- relatório sobre o tema da American Me-
contro sobre a Criança, a Saúde e o Direito, não só pela importân- dical Association (AMA).
cia do tema em si, mas também pelo programa científico, nomea-
Mas também há exemplos em que a inter-
damente, no seu aspecto multidisciplinar, que reflecte a forma mais venção dos media complicou os problemas:
adequada como os problemas da criança devem ser abordados, inte-
grando as múltiplas dimensões para o seu desenvolvimento feliz. • O caso conhecido por “Child B”, em que
a mediatização da leucemia de Jaymee
Gostava de salientar o significado desta sessão de trabalho (A Bowen dificultou consideravelmente a op-
Criança e a Comunicação Social – o Direito à Privacidade). Ela ção terapêutica, contribuindo para uma
reflecte a tomada de consciência da importância da comunidade falsa esperança dos pais, aumentando-
social e dos seus profissionais como determinantes de saúde das -lhes o sofrimento.
populações.
• O da mediatização da suspeita de associ-
Com efeito, todos os profissionais de saúde devem ter a consciência ação da vacina tríplice com o autismo,
de que os mass media podem ser importantes aliados na luta pela induzindo nos pais de muitas crianças
melhoria do estado de saúde das populações e, como tal, devem vê- britânicas o receio da vacinação, aliás um
-los como seus parceiros e não como opositores, na tarefa de dar efeito diametralmente oposto ao verifica-
informação e instrumentos cognitivos que contribuam para o em- do em Portugal, com a mediatização dos
poderamento dos indivíduos. casos de meningite, que gerou igualmen-
Por sua vez, os jornalistas, como “construtores da realidade social”, te ansiedade nos pais, mas cujo resultado
têm uma enorme responsabilidade na formação e na manutenção foi a procura da vacinação contra a Me-
das crenças em saúde e, como tal, também devem ter a preocupa- ningite C, determinada pela emoção.
ção ética de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das • O ocorrido quando o ginecologista bri-
populações. tânico, Phillip Bennet, confessou ter fei-
Os mass media devem assumir que têm um instrumento que, de- to um aborto numa mulher grávida de
pendendo do modo como o utilizam, tem consequências para a saú- gémeos, com 26 semanas. O motivo do
de da comunidade, tanto mais que a comunicação obedece à lei da aborto era atribuído ao facto de a mãe
“irreversibilidade”, ou seja, qualquer mensagem, uma vez dita, não ter péssimas condições sociais. Na pers-
pode deixar de existir. pectiva da grávida e do obstetra, seria
melhor abortar um dos fetos para mini-
Neste contexto, podemos apresentar, entre outros, dois exemplos:
mizar o problema. Claro que este “desa-
• A enorme importância que os media tiveram na conscienciali- bafo” teve, como consequência, uma enor-
zação das populações para os problemas da SIDA, aliás, a pri- me repercussão pública nos mass media,
meira doença mediática por excelência, e que obrigou os deci- desencadeando fortes reacções das orga-
sores políticos a investir nesta área. nizações antiaborto.
• A sua importância no combate ao tabagismo, desde que a rela- • A notícia que surge, passados alguns dias
ção entre o tabagismo e cancro recebeu, pela primeira vez, tra- sobre o caso anterior. Desta vez, uma mu-
tamento jornalístico, em 1954, na sequência da divulgação do lher grávida de oito gémeos insistia em
23
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
levar a termo todos os fetos. Neste contexto, o movimento de Por sua vez, os profissionais da comunica-
apoio à grávida entra em acção, ao ponto de surgirem patroci- ção social, que são peritos da comunica-
nadores, com um montante de um milhão de libras, para se levar ção, devem tentar saber mais sobre saúde.
a gravidez octogemelar até ao fim, apesar de a opinião médica, Esta sessão de trabalho é o produto dessa
generalizada, ser a de que o aborto selectivo era imprescindível vontade.
para que alguns dos 8 gémeos, pelo menos, sobrevivessem. Na
Comunicar é um bem tão importante como
realidade, a probalidade de todos os oito gémeos vingarem era
o ar que respiramos, mas, tal como o ar, só
infinitamente pequena, a escolha era difícil e a mediatização da
reconhecemos a sua importância quando
situação dificultou extraordinariamente a decisão.
nos falta ou é de má qualidade.
Direi, então, que a palavra, escrita ou falada, pode ser indutora, no
receptor, de sofrimento e, no limite, de doença e incapacidade ou
mesmo de morte. Como tal, os mass media também devem assimi- Dr. José Manuel Mendes Nunes
lar no seu código deontológico o princípio do primum non nocere. Subdirector-Geral da Saúde
josemnunes@dgsaude.min-saude.pt
A este propósito, recordo os princípios básicos das “guidelines para
os jornalistas de saúde profissionais”, que foram o produto final de
uma reunião de peritos, realizada em Moscovo, em Maio de 1998,
sob os auspícios da OMS-Europa (Norris, 1999, p. 59):
1. Não cause dano;
2. Seja directo. Confirme os seus factos, mesmo que os prazos sejam
colocados em causa;
3. Não levante falsas esperanças. Seja especialmente cuidadoso ao
noticiar “curas miraculosas”;
4. Esteja atento aos interesses camuflados. Interrogue-se sobre
quem beneficia com a “estória”;
5. Nunca divulgue a fonte de informação, traindo a confiança, a
não ser que a isso esteja obrigado por força da lei nacional;
6. Quando lida com doentes ou incapacitados e, em especial, cri-
anças, lembre-se das consequências que a sua “estória” pode ter.
Eles terão que continuar a viver com elas muito para além da
sua divulgação;
7. Nunca se intrometa no desgosto privado;
8. Respeite a privacidade do doente, do incapacitado e das suas
famílias, em qualquer momento;
9. Respeite os sentimentos de luto, especialmente quando lida com
desastres. Grandes planos (close-up), fotografias ou imagens de
televisão das vítimas ou das suas famílias devem ser evitadas,
sempre que possível;
10. Na dúvida, deixe-a” (a estória e dúvida).
De qualquer modo, os media são importantes determinantes de
saúde das populações, mas as suas potencialidades dependem de
um diálogo permanente entre os técnicos de saúde e os da infor-
mação, de modo a que cada um contribua para um capital de co-
nhecimento comum nesta arte de bem comunicar.
Nós, profissionais de saúde, temos de assumir que não sabemos
comunicar com as populações e que temos de procurar aprender.
24
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
...Foi-me solicitado que falasse sobre a OMS e a SIDA. Como o tema A epidemia da SIDA na Região Africana
é vasto, vou concentrar-me sobre o papel da OMS a nível interna- não constitui apenas um problema de saú-
cional. Em primeiro lugar, queria reconhecer que a escolha da de, mas também uma crise de desenvolvi-
SIDA, como tema central deste seminário, é pertinente e oportuna, mento, pois:
pois a doença continua a propagar-se, de forma preocupante, nos
• Destrói o capital social de sectores de
países da África Subsahariana. No final de 2001, cerca de 70% do
produção importantes, tais como a agri-
total de pessoas infectadas com o VIH/SIDA viviam nesta Região.
cultura e a indústria;
Anualmente, milhões de homens, mulheres e crianças morrem de
SIDA. Os aumentos significativos na mortalidade das crianças e dos • Enfraquece as instituições nacionais (de
adultos resultaram na diminuição da esperança de vida em diver- governo, serviços públicos, educação, saú-
sos países e na redução da população das faixas etárias economica- de, polícia, forças armadas, etc.);
mente activas. • Contribui para o agravamento da pobre-
A epidemia da SIDA reflectiu-se negativamente nos recursos eco- za, numa região onde mais de 50% da
nómicos das famílias, pois ela reduziu grandemente a capacidade população vive abaixo do limiar da po-
funcional de trabalho, aumentou as despesas médicas e baixou os breza, com rendimento inferior a um dó-
rendimentos das pessoas infectadas, agravando a pobreza dos indi- lar americano por dia.
víduos e famílias afectados. No total, não hesito em dizer que a epi-
Por causa desta epidemia, cerca de 12 milhões de crianças ficaram demia da SIDA deteriora o estado geral
órfãs, necessitando de amor, carinho e apoio material. O número de saúde das populações, agrava a po-
crescente de órfãos representa uma geração potencialmente perdi- breza, inibe o crescimento económico e
da, com pouco ou nenhum grau de escolaridade e um fraco senti- tem um impacto francamente negativo
do de socialização. Se não for prestada a devida atenção, nesta altu- sobre o desenvolvimento humano. Na
ra, este grupo poderá ser problemático na sociedade futura. África Subsahariana, a situação e a ten-
dência actuais são graves, constituindo
É de salientar que algumas comunidades africanas estão a ser com- motivo de preocupação política, econó-
pletamente derrotadas pelo desespero e fatalismo, aceitando a in- mica e sanitária.
fecção pelo VIH e a morte prematura como um destino inevitável
de todos os jovens adultos. O VIH/SIDA fez estremecer os sistemas
Evolução a nível internacional
nacionais de saúde. Tem havido uma procura muito maior de cui-
dados médicos, medicamentosos e de enfermagem; o índice de ocu- O VIH/SIDA é visto como um problema
pação hospitalar é muio elevado, chegando a atingir, em alguns complexo e multifacetado. É reconhecida,
casos, 90% das camas. Ao mesmo tempo, o pessoal de saúde vê-se internacionalmente, a necessidade de ac-
também infectado e afectado pela epidemia. Os sistemas nacionais ções multi-sectoriais para fornecer res-
de saúde, dos países mais atingidos, estão a enfrentar a difícil esco- postas adequadas a esta problemática. Na
lha entre atribuir elevadas percentagens, dos seus magros orça- África Subsahariana, devido à gravidade
mentos, ao VIH/SIDA, ou a outros problemas de saúde, igualmen- da situação, fez-se apelo às lideranças polí-
te importantes, tais como a saúde materna e algumas doenças não ticas e à responsabilização e envolvimento
transmissíveis. de todos os segmentos da sociedade.
25
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
Para além da declaração do VIH/SIDA como um desastre, ou como tados a reforçar o contributo do sector da
uma prioridade nacional ou mundial, a responsabilidade política saúde para a resposta mundial contra o
deve ser demonstrada através das acções. Esta responsabilidade re- VIH/SIDA.
vela-se ainda através da atribuição de recursos adequados à dimen-
Através dos seus esforços de advocacia, a
são do problema, da garantia de uma política adequada, do plano
OMS trabalhou, conjuntamente com a
de acção ou programa nacional e do enquadramento jurídico que
ONUSIDA, de forma a mobilizar os líderes
apoiem as acções necessárias e mobilizem a sociedade no desem-
políticos a nível mundial. Em África, levou
penho activo do seu papel. Isto significa garantir que as institui-
os Chefes de Estado e de Governo da
ções, que têm um papel importante a desenvolver, tenham também
Organização de Unidade Africana a reco-
a necessária autoridade e capacidade de execução e controlo em
nhecer a necessidade e urgência de uma
relação à realização de resultados.
intensificação da resposta à epidemia por
Desde que o VIH/SIDA se tornou do conhecimento público, a VIH/SIDA. Os Chefes de Estado Africanos
OMS tem acentuado a sua responsabilidade a nível internacional e demonstraram o seu papel de liderança
o apoio técnico aos países. Todos se recordarão do Programa Espe- através da adopção da Declaração e do
cial da OMS para a SIDA, em 1998, que deu lugar ao Programa Plano de Acção de Abuja, em Abril de
Mundial da SIDA (GPA); esta foi uma resposta organizacional sem 2001. Esta declaração solicita um aumento
precedentes na história da saúde pública internacional. A dimen- da responsabilização política, com atribui-
são mundial da epidemia, a sua complexidade sob os pontos de ção de maiores recursos na luta contra a
vista biomédico e epidemiológico, os seus efeitos políticos, demo- SIDA, e recomenda o estabelecimento de
gráficos, socioeconómicos e culturais não poderiam ser previstos Conselhos Nacionais para a SIDA na alta
por aqueles que, nos meados da década 80, pretendiam controlar hierarquia do aparelho de Estado.
esta epidemia.
Mais uma vez, e em sintonia com a ONU-
O Programa Mundial sobre a SIDA obteve inúmeros sucessos, tais SIDA, trabalhámos para a mobilização dos
como o alerta e maior consciencialização sobre a ameaça da epi- Chefes de Estado, no sentido de partipa-
demia, a identificação e prossecução de uma estratégia coerente rem activamente na Sessão Especial da As-
para a acção mundial e a provisão atempada de cooperação técni- sembleia Geral das Nações Unidas sobre
ca aos países no estabelecimento e reforço dos seus Programas SIDA, em Junho de 2001. Esta Sessão visa-
Nacionais de Luta contra o SIDA. va colocar em prática um quadro de res-
Em 1992, a Assembleia Mundial de Saúde adoptou a estratégia de ponsabilização nacional e internacional na
prevenção e controlo do VIH/SIDA, fornecendo orientações úteis e luta contra esta epidemia. Como parte de
práticas, sublinhando os aspectos-chave para a prevenção e cuida- uma resposta mais abrangente, cada gover-
dos e recomendando aos países a sua implementação. no assumiu o compromisso solene de efec-
tuar uma série de campanhas tendo como
Reconhecendo a necessidade de uma resposta, alargada e multi-sec- alvo a prevenção, o apoio e tratamento de
torial, e um sistema de acção unificado por parte das Nações Uni- doentes e a situação das crianças órfãs e
das, a OMS foi um dos co-financiadores e fundadores do Programa vulneráveis.
Conjunto das Nações Unidas para o VIH/SIDA (ONUSIDA), lança-
do em 1996. A ONUSIDA, instituída como um líder na advocacia Em Abril de 2001, o Secretário-Geral das
contra o VIH/SIDA, tem efectivamente assumido a liderança no Nações Unidas propôs a criação do Fundo
apoio e no reforço da resposta à epidemia. Mundial de Luta contra a SIDA, a tubercu-
lose e o paludismo. O Fundo representa
Na Região Africana da OMS, os países adoptaram, em 1996, uma uma cooperação internacional inovadora e
resolução em que reafirmam o papel dos Ministérios da Saúde, no sem precedentes, um mecanismo de orien-
quadro de uma estratégia regional, visando a prevenção e o contro- tação de recursos financeiros, que envolve
lo da doença, numa aborgagem multi-sectorial, e que implique uma de igual forma os governos e as organiza-
acção mais enérgica do sector da saúde de acordo com as suas com- ções não governamentais. A OMS garantiu
petências técnicas. o apoio técnico aos países, e apraz-me dizer
Como co-patrocinador da ONUSIDA, a maior responsabilidade que, há cerca de poucos dias, mais de 500
da OMS é reforçar o sector da saúde na luta contra esta epide- milhões de dólares americanos foram ca-
mia. Através de uma Resolução emanada da Assembleia Mundial nalizados para 10 países da África Subsaha-
da Saúde, do ano 2000, os Estados-Membros da OMS foram ins- riana.
26
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
A OMS continua a desempenhar um papel de liderança na advoca- as experiências dos países onde as taxas de
cia do princípio de que a saúde, como um factor de desenvolvi- infecção estão a diminuir. Estes países de-
mento, merece mais atenção e maiores recursos. A luta contra a monstraram como uma forte liderança e
SIDA será mais consequente no contexto de sistemas de saúde com responsabilização colectiva podem inverter
mais recursos, bem geridos e com maior desempenho. Reconhe- a tendência.
cemos que o forte investimento na saúde é uma das formas mais
A missão da OMS nestes esforços é clara:
eficazes de promoção do desenvolvimento. A OMS continua a for-
contribuir para o mais elevado nível de
necer apoio técnico e financeiro, fundamental aos países, permi-
saúde para todos. O VIH/SIDA representa
tindo-lhes assim articular e implementar uma resposta dos sistemas
uma grande ameaça para a saúde de todas
de saúde a esta epidemia, o que constitui um componente crítico
as pessoas. Vamos todos cumprir com as
do multi-sectorialismo contra o VIH/SIDA.
nossas responsabilidades políticas, técnicas
Os aspectos-chave da acção da OMS incluem a advocacia, o apoio à e científicas, lutando contra a SIDA, que
formulação de programas nacionais de luta, a elaboração de nor- ameaça as nossa vidas e o nosso futuro.
mas técnicas, a vigilância epidemiológica e a recomendação de in-
Que as Resoluções mundiais se traduzam
tervenções, a diferentes níveis dos sistemas de saúde, baseadas em
em acções locais, que as políticas e progra-
evidências concretas.
mas se materializem. Que todos e cada um
de nós reflicta como melhor poder agir no
Desafios futuro para fazer a diferença junto das
É de todos nós a responsabilidade da prestação de cuidados a mais populações e indivíduos mais directamente
de 28 milhões de pessoas que vivem actualmente com VIH/SIDA na afectados1.
África Subsahariana. Alguns países fizeram grandes progressos na
melhoria da qualidade e no aumento da esperança de vida, mas a
Dr. Luís G. Sambo
maioria não o fez. Não podemos aceitar o argumento de que, pelo
Director para Gestão dos Programas
facto de a maioria das pessoas com SIDA poder vir a morrer nos
da OMS para a África
próximos 10 anos, as suas necessidades devam ser negligenciadas.
sambolg@yahoo.com
Não podemos apenas observar, enquanto os frágeis sistemas de
saúde se desmoronam com o peso de solicitações massivas e adicio-
nais. Sabemos quais são as necessidades das pessoas com SIDA. A
prevenção é uma medida fundamental que está ao nosso alcance! O
desafio está na forma como unirmos esforços e assumirmos as res-
ponsabilidades políticas e sociais para a prestação destes serviços.
Conclusão e Apelos
Está comprovado que, sempre que as estratégias de prevenção efi-
cazes foram bem implementadas, a incidência das infecções por
VIH foram reduzidas. Nas situações em que isso não sucedeu, o
VIH, continua a propagar-se de forma extremamemtne rápida. O
maior desafio actual é aplicar aquilo que se sabe ser garantida-
mente eficaz. Em muitos países, isto requer um elevado nível de
compromisso, de modo a encarar o VIH/SIDA como um problema
de desenvolvimento e a reforçar os sistemas de saúde com recursos
apropriados, para que as intervenções já comprovadas possam ser
aplicadas de forma segura e eficaz.
O VIH/SIDA pede respostas sem precedentes por parte de todos os
intervenientes no processo. Nunca antes foi tão prioritário nas
agendas internacionais, como tema de desenvolvimento. Devemos 1 Comunicação proferida por ocasião
centrar-nos no momento, devido à renovada atenção internacional do centenário do Instituto de Higiene
que é atribuída a este assunto, e não desesperar. Apesar da gravi- e Medicina Tropical de Portugal,
dade da situação, não estamos impotentes. Devemos aprender com em 8 de Maio de 2002.
27
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
Intervenção em Situações de
Diminuição de Autonomia
...Apesar de a maioria das pessoas idosas não ser doente nem apre- Ao abordar a diminuição da autonomia te-
sentar diminuição de autonomia, com o aumento progressivo da es- mos, assim, que ter em conta a perspectiva
perança de vida e o aumento do número de pessoas, de qualquer tridimensional: do órgão ou órgãos lesados,
idade, com patologias de evolução prolongada potencialmente inca- da pessoa enquanto indivíduo e da pessoa
pacitantes, surge, na sociedade onde vivemos, o enorme desafio de enquanto ser social, tendo por base quer as
promovermos a possibilidade dessas pessoas viverem da forma mais estruturas e funções orgânicas da pessoa,
autónoma possível. quer as suas capacidades para executar acti-
vidades e exercer a participação.
A Organização Mundial de Saúde estima que, nos próximos vinte
anos, aumentem substancialmente as necessidades em cuidados de
saúde da população mais idosa, paralelamente a um aumento acen-
tuado da prevalência de doenças não transmissíveis e de evolução
prolongada.
Se é verdade que o humanismo de uma sociedade se mede pela for-
ma como cuida as pessoas mais vulneráveis, parece-nos claro que,
se queremos honrar a sociedade onde vivemos, que se pretende
equitativa, justa e humanista, temos que encontrar respostas, em
termos de intervenção de qualidade, que satisfaçam as necessida-
des globais das pessoas com risco acrescido ou em situação de
diminuição de autonomia.
O conceito de deficiência1 tem-se baseado tradicionalmente na li-
mitação ou impossibilidade que certas pessoas têm em executar
actos e tarefas correntes da vida quotidiana, quer na manutenção
da higiene pessoal e doméstica, quer na mobilidade física e na ca-
pacidade de participação na vida social e de relação.
O conceito de deficiência evoluiu, hoje, no sentido de deixar de es-
tar centrado, apenas, nas consequências da doença, para se centrar
na saúde e nos domínios com ela relacionados, caracterizando si-
multaneamente tanto as incapacidades e o handicap dos indivídu- 1 Deficiência representa, no domínio
os como a sua funcionalidade. Ou seja, a nossa atenção deve estar da saúde, qualquer perda
principalmente dirigida para as potencialidades da pessoa e não ou anomalia de estrutura ou função
exclusivamente para o seu handicap, estimulando, o mais possível, psicológica, fisiológica ou anatómica
o que ela pode fazer. (WHO; International classification of
A própria Assembleia Mundial de Saúde aprovou, em Maio do ano Impairments, Disabilities and
passado, uma nova classificação internacional da funcionalidade do Handicaps. A Manual of Classification
handicap e da saúde, definindo os componentes da saúde e certos ele- Relating to the Consequences of
mentos do bem-estar relativos à saúde, como a educação e o trabalho. disease. 1980).
28
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
Ao abordar uma pessoa em situação de deficiência ou em risco ele- Precisamos, assim, em termos organizaci-
vado de perda de autonomia, temos que avaliar os seus diferentes onais, de um sistema de respostas baseado
domínios – e aqui devemos entender por domínio o conjunto, prá- na continuidade de cuidados, com respeito
tico e significativo, das suas funções neuropsicológicas, das estrutu- pelos princípios da plena participação, da
ras anatómicas e das acções inerentes à vida – de forma a inferir a não discriminação e do direito à compen-
sua capacidade para fazer e ser. sação.
Digamos, assim, que funcionalidade releva, de uma maneira glo- Deve entender-se por continuidade de cui-
bal, de todas as funções orgânicas ou actividades da pessoa, assim dados o processo organizacional que coor-
como da sua capacidade de participação no seio da sociedade, dena a transição das pessoas em situação
enquanto o handicap releva das suas deficiências, das suas limi- de diminuição de autonomia entre dife-
tações de actividade e restrições de participação. Torna-se, por- rentes tipos de respostas e os níveis de
tanto, claro que existem factores contextuais, de natureza ambi- prestação de cuidados de saúde e de apoio
ental e social, que exercem influência directa, como obstáculos social, tendo em conta que a continuidade
ou como agentes facilitadores, sobre a funcionalidade e o handi- deve ser:
cap do indivíduo, com repercussão sobre o seu perfil de deficiên-
1. Centrada na pessoa – caracterizando-se
cia. Ou seja, o estado de funcionalidade ou de handicap de deter-
pelo acompanhamento da pessoa com di-
minada pessoa é o resultado da interacção dinâmica entre o seu
minuição de autonomia ao longo do tem-
estado de saúde (doenças, perturbações, etc.) e os factores contex-
po, com especial atenção ao impacto cau-
tuais onde ela se situa.
sado por esta nas suas condições de vida;
A deficiência analisada na óptica da saúde, ou seja, analisada na
2. Transepisódica – baseando-se na valori-
inter-relação entre a funcionalidade e o handicap, resulta, assim,
zação, ao longo do tempo e na mesma
do somatório das funções orgânicas (designadamente das funções
pessoa, da frequente associação de doen-
fisiológicas dos sistemas orgânico e psicológico), das estruturas ana-
ças com a diminuição de autonomia;
tómicas (designadamente das partes anatómicas do corpo, como os
órgãos e os membros), das incapacidades (designadamente dos pro- 3. Centrada no sistema de cuidados – tra-
blemas na função orgânica), da actividade (designadamente da sua duzindo-se na necessidade de participa-
execução) e da participação (designadamente na capacidade de ção sem hiatos, ao longo do tempo e na
implicação numa situação da vida real). mesma pessoa, dos intervenientes dos
diferentes níveis e tipos integrados de
Neste contexto, a deficiência, ou seja, a correlação funcionalida-
respostas, com as suas capacidades e os
de/handicap, pode ser quantificada e escalonada desde as formas
seus recursos colocados ao serviço de
mais ligeiras, às formas moderadas e graves, as quais, naturalmen-
objectivos comuns.
te, requerem respostas diversificadas e adequadas.
A continuidade de cuidados, requerida para
Perante este quadro, a deficiência apela às políticas transversais de
a abordagem das pessoas em situação de di-
apoio, nomeadamente dirigidas às pessoas idosas que, pelo seu nú-
minuição de autonomia, obriga, como refe-
mero e possibilidade acrescida de sofrerem patologia crónica múl-
rimos, ao rigoroso cumprimento dos seguin-
tipla, representam uma população com risco acrescido, obrigando
tes princípios:
à preocupação pela sua readaptação ao mundo envolvente, pela sua
reabilitação e pela sua integração familiar e social. 1. Respeito pela dignidade humana – que
pressupõe, designadamente, o direito à
Estima-se que, em Portugal, o índice de envelhecimento seja de
completa privacidade e à preservação da
cerca de 92% (Instituto Nacional de Estatística, 1999). Esta situa-
identidade;
ção mostra como tem aumentado o número de pessoas em risco
acrescido ou em situação instalada, ou transitória, de deficiência 2. Respeito pela manutenção ou recupera-
que necessitarão de cuidados adequados. ção permanentes da autonomia – que
pressupõe a prestação de cuidados per-
Por tudo isto, estas pessoas requerem qualificação de intervenção em
manentes, de modo a melhorar os níveis
termos da organização de serviços e de práticas, através de respostas
de autonomia, participação e bem-estar
integradas a elas dirigidas, baseadas num paradigma de actuação
da pessoa;
diferente do habitualmente usado tanto na abordagem curativa dos
serviços de saúde, nomeadamente da alta especialização e tecnologia 3. Respeito pela proximidade dos cuida-
hospitalares, como nas formas de prestação de apoio social. dos – que pressupõe a manutenção do
29
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Foi Dito Por...
contexto relacional social e a promoção da inserção social da passando as fronteiras das ciências da saú-
pessoa; de, não deve ser considerada tecnicamente
menor por dispensar a alta tecnologia hos-
4. Respeito pelo incentivo ao exercício de cidadania – que pressu-
pitalar mas, antes, humanamente sofistica-
põe a promoção da capacidade, da pessoa com diminuição de
da e diferenciada.
autonomia, para tomar decisões sobre a sua própria vida.
Consideramos que a intervenção baseada no conceito de continui-
dade de cuidados, que acabámos de expor, deve ser baseada num Dr. J. Alexandre Diniz
modelo de intervenção integrado, que preveja diferentes tipos e Médico. Mestre em Ética da Saúde
níveis de respostas, de acordo com os diversos níveis de neces- Chefe de Divisão de Doenças Genéticas,
sidades dos seus potenciais utilizadores, o que exige não apenas a Crónicas e Geriátricas, da Direcção-Geral
reengenharia dos serviços de saúde e de apoio social, mas também da Saúde
a criação de novas respostas. adiniz@dgsaude.min-saude.pt
Este modelo deve assentar na promoção:
1. Da flexibilidade – garantindo fluidez na utilização dos vários ní-
veis e tipos de respostas;
2. Da complementaridade – garantindo continuidade entre as ac-
ções preventivas e terapêuticas, de acordo com um plano indivi-
dual de intervenção, que integra a caracterização interdisciplinar
da situação da pessoa com diminuição de autonomia, a identifi-
cação das suas necessidades e a natureza dos cuidados a prestar;
3. Da integração de serviços – garantindo a intersectorialidade tra-
duzida na promoção de sinergias protocoladas com base em par-
cerias, potenciadoras das actuações individuais.
Este modelo deve assentar numa tipologia de respostas que satisfa-
çam as necessidades globais da pessoa com diminuição de autono-
mia, e que passa por equipas móveis de apoio domiciliário, hospi-
tais-de-dia e internamentos, em estruturas específicas, de carácter
transitório, prolongado e permanente, prestadores de cuidados pro-
motores da autonomia, qualquer que seja o nível de deficiência da
pessoa, centrados na sua readaptação, reabilitação e manutenção.
Este modelo obriga, inevitavelmente, à existência de profissionais
vocacionados, formados e treinados para abordar a diminuição de
autonomia de uma forma personalizada, através da inter-relação
entre a funcionalidade e a desvantagem no contexto ambiental e so-
cial em que a pessoa habitualmente vive.
Prestar cuidados em continuidade à pessoa em situação de dimi-
nuição de autonomia requer, ainda, profissionais que saibam lidar
com o sofrimento global da pessoa a quem prestam cuidados, base-
ando a sua actuação não exclusivamente no paradigma curativo,
mas também no paradigma do cuidado e do acompanhamento.
Prestar cuidados em continuidade à pessoa em situação de dimi- Comunicação apresentada no
nuição de autonomia requer, assim, aptidões técnicas não apenas Seminário “A Formação em
no campo biomédico, como nos campos psicológico, espiritual, Gerontologia Social – uma exigência
antropológico, sociológico e ético, o que representa um enorme para a qualidade”, em 26 de Março
desafio para as escolas de saúde e de acção social que têm a res- de 2002.
ponsabilidade de formar e actualizar profissionais que pretendam ISSS – Cooperativa de Ensino Superior
trabalhar ou trabalhem nesta área das ciências humanas que, ultra- de Intervenção Social.
30
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Notas Breves
31
CADERNOS DA DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE Notas Breves
cido no estrangeiro, concretamente na Bélgica, pelo facto de não ter a quem erradamente se recusou uma autori-
sido concedida autorização prévia. zação para ser hospitalizado num outro Esta-
do Membro, tem, todavia, direito ao reembol-
Posição do TJCE:
so das despesas que teve de suportar, caso essa
• O Tribunal decretou que ”os artigos 30º e 36º – actualmente 28º autorização seja concedida após a hospitali-
e 30º – do Tratado (CE) opõem-se a uma legislação nacional por zação, eventualmente por via jurisdicional.
força da qual um organismo de segurança social de um Estado
Membro recusa a um beneficiário o reembolso de um montante No segundo caso, o Tribunal, embora decla-
fixo para óculos com lentes de correcção comprados num oculis- rando que o sistema de autorização prévia
ta estabelecido noutro Estado Membro, com fundamento no facto constitui um obstáculo à livre prestação de
de que a compra de qualquer produto médico no estrangeiro deve serviços médico-hospitalares, reconhece,
ser previamente autorizada.” no entanto, que razões imperativas decor-
rentes da necessidade do equilíbrio finan-
• O Tribunal rejeita o argumento segundo o qual a segurança social ceiro dos sistemas de segurança social e da
enquanto tal não está abrangida pelo âmbito de aplicação das dis- manutenção de um serviço hospitalar acessí-
posições do Tratado relativas à livre circulação de mercadorias. vel a todos podem justificar essa restrição.
• Embora o Tribunal reafirme que os Estados Membros perma-
necem competentes para organizar os seus sistemas de seguran- 2.1. Pontos essenciais do caso
ça social e que, na falta de harmonização comunitária, compe- ”Vanbraekel” (hospitalização
te à legislação de cada Estado Membro determinar as condições noutro Estado Membro)
de inscrição num regime de segurança social e as condições de
Matéria de facto:
concessão de prestações, o Tribunal recorda que, no exercício
das suas competências, os Estados Membros devem respeitar o • A caixa de segurança social belga re-
direito comunitário. cusou à Senhora Descamps, belga, um
pedido de autorização para receber uma
• Uma legislação nacional, que faça depender de autorização pré-
intervenção cirúrgica ortopédica em
via o reembolso das despesas efectuadas noutro Estado Membro
França. Contudo, em 1990, a operação
e o recuse aos beneficiários que não a tenham, constitui um en-
foi realizada neste país, intentando-se
trave à livre circulação de mercadorias, uma vez que incita os
uma acção na Bélgica para obter o reem-
beneficiários a adquirirem esses produtos só no país de filiação
bolso das despesas que teve de suportar,
em vez de o fazerem também noutros Estados Membros, podendo
tomando por base as tarifas da Bélgica
assim ser susceptível de entravar a importação de óculos montados.
(49 935,44 FRF) e não as praticadas em
• A recusa de reembolso de um montante fixo não se justifica, já França (38 608,89 FRF).
que não tem qualquer incidência real no financiamento ou no
• Em 1994, o relatório de um perito desig-
equilíbrio do sistema de segurança social.
nado pela caixa confirma que a operação
• Além disso, as condições de acesso e de exercício das profissões em causa não era correntemente feita
regulamentadas foram objecto de directivas comunitárias, abran- na Bélgica e que o estado de saúde da
gendo um sistema geral de reconhecimento das formações pro- doente obrigava a uma hospitalização
fissionais. no estrangeiro.
• Por conseguinte, a legislação nacional, neste caso, não pode ser jus- • A Sra. Descamps morreu na pendência
tificada por razões de saúde pública ligadas à protecção da quali- do processo, mas os herdeiros, Vanbrae-
dade dos produtos médicos fornecidos noutros Estados Membros. kel, prosseguiram o processo.
Posição do TJCE:
2. Acórdãos ”Vanbraekel” e ”Peerbooms”,
de 12 de Julho de 2001 • ”O artigo 59º do Tratado (CE) – actual-
mente artigo 49º (CE) – deve ser inter-
Os recentes Acórdãos ”Vanbraekel” e ”Peerbooms” vêm completar
pretado no sentido de que, se o reembolso
a jurisprudência do TJCE.
das despesas suportadas com os serviços
O primeiro destes casos tem por objecto a autorização prévia para os hospitalares no Estado Membro de esta-
tratamentos médicos recebidos noutro Estado Membro. O Tribunal da, que resulta da aplicação das regras
pronuncia-se no sentido de que um beneficiário da segurança social, em vigor nesse Estado, for inferior ao que
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Notícias
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