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Avaliação de Competências para a Diversidade Individual e Cultural:


Desenvolvimento de uma medida comportamental para profissionais de
saúde mental.

Chapter · January 2010

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6 authors, including:

Jaclin Freire Carla Moleiro


ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
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Diana Farcas Nuno Pinto


ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
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Multisectorial Academic Program to prevent and combat female Genital Mutilation (FGM/C) View project

Mental Health, Spirituality and Religiosity: Towards integration and development of religious/spiritual Competencies for Mental Health
Professionals. View project

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Avaliação de Competências para a Diversidade Individual e
Cultural: Desenvolvimento de uma medida comportamental
para profissionais de saúde mental 1
Individual and cultural competencies evaluation: Development of a behavioural analogue
measure for clinicians

Jaclin’ Freire, Carla Moleiro, Diana Farcas, Nuno Pinto, Sandra Roberto,
Catarina Pereira e Marta Gonçalves
ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa/ CIS (Centro de Investigação e Intervenção Social) (Portugal)

Palavras-chave: analogue study, métodos qualitativos, competências individuais e culturais.


Key words: analogue study, qualitative methods, multicultural competencies.

Os instrumentos de auto-relato tornaram-se num dos principais


métodos de recolha de dados no contexto da avaliação das
competências dos profissionais de saúde mental no trabalho com os
clientes/pacientes de grupos minoritários (Worthington, et al, 2000;
Constantine & Ladany, 2001; D’Andrea, Daniels & Noonam, 2003;
Ponterotto & Potere, 2003; Hays, 2008). Apesar das inúmeras
vantagens destes métodos de avaliação, as suas limitações são
também reconhecidas, tais como a ausência de associação entre
competências reais e percebidas, e a influência da desejabilidade
social no comportamento dos participantes (Neufeldt, Moleiro, Yang,
Pinterits, Lee, & Brodie, 2006).
Na expectativa de reduzir estas possíveis limitações, este estudo
pretende desenvolver uma medida comportamental (vídeos de curta-
metragem), utilizando um método qualitativo para avaliar o impacto na
relação psicoterapêutica e na conceptualização do caso/tratamento
com clientes de grupos minoritários (tais como imigrantes). Pretende-se
ainda avaliar a validade concorrente desta medida analógica,
examinando a sua relação com um instrumento de auto-relato breve
(CIDCI – Versão Psicoterapeutas, CIDCI-T), desenvolvido no contexto
do projecto “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo”.
Até à presente data, o questionário CIDCI-T foi administrado a 80
profissionais de saúde mental (psicólogos e psicoterapeutas) que
relataram moderadas competências multiculturais percebidas. Foram
exploradas as correlações com variáveis como: o número de anos de
experiência clínica, ter tido formação específica no contexto da
diversidade cultural e individual, e a própria pertença a grupos
minoritários. Os resultados preliminares são discutidos.

1
O presente estudo foi desenvolvido no âmbito do Projecto de Investigação financiado pela FCT:
PTDC/PSI/71893/2006 “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo: Para a integração de necessidades
específicas de grupos minoritários e competências multiculturais dos técnicos”, coordenado pela Professora Doutora
Carla Moleiro (CIS/ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa).

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

Self-report methodologies, in particular written self-repport


questionnaires, have been the primary method of data collection of
clinicians’ competencies in working with individually and culturally
different clients (Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001;
D’Andrea, Daniels & Noonam, 2003; Ponterotto & Potere, 2003; Hays,
2008). Despite the main advantages of these assessing methods, their
limitations are also recognized, such as the difference between
perceived and real competence, and the influence of the social
desirability in the participants’ behaviour (Neufeldt, Moleiro, Yang,
Pinterits, Lee, & Brodie, 2006).
In the expectation of reducing such limitations, we intent to develop an
analogue measure (i.e. video presentation of client complaint), using a
qualitative method to assess the impacts of cultural characteristics in
the therapeutic relationship and interventions with a possible minority
client, in a small sample of clinicians participants. We also aim to
evaluate the concurrent validity of this analogue measure by examining
its correlation with a brief self-report instrument (CIDCI –
Psychotherapists Version, CIDCI-T), developed in the context of a
larger project on Multicultural Competencies.
The data collection of the CIDCI-T is still ongoing at this time. To date,
the questionnaire CIDC-T was administered to 80 mental health
professionals (i.e. psychologists and psychotherapists) who reported
moderate to high multicultural competence. We explored the
correlations with some variables (i.e. the number of years of clinical
experience; training in cultural and individual diversity; perceive
themselves as belonging to minority groups). Preliminary results are
discussed.

- 241 -
MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

1 INTRODUÇÃO
À semelhança do que é o panorama Europeu, o fenómeno da imigração portuguesa tem
desempenhado um papel crescente na dinâmica demográfica, quer no contexto do
crescimento populacional, quer na atenuação do ritmo de envelhecimento demográfico
(Rosa, Seabra & Santos, 2004; Coelho, Magalhães, Peixoto & Bravo, 2008).
Até 1980, a imigração nunca atingiu valores superiores a 50 mil residentes. No entanto,
entre 1986 e 1997 o número de estrangeiros duplicou, passando de 87 mil para 175 mil,
segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Mais recentemente, em
2000, os registos referenciavam a existência de mais de 200 mil residentes estrangeiros
em Portugal (Falcão, 2002; Rosa, et al, 2004; INE, 2008). Os dados referentes à última
década, tal como são apresentados na Tabela 1, exemplificam o crescimento contínuo da
população imigrante/estrangeira em Portugal. Actualmente e de acordo com os dados do
INE (2008), o número de imigrantes/estrangeiros com estatuto legal de residente em
Portugal ascende os 435 mil.

Tabela 1. População estrangeira com estatuto legal de residente em Portugal (2000-2008).

Período de referência dos dados (2000-2008)


2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000
436.020 401.612 332.137 274.631 263.322 249.995 238.929 223.997 207.587
(Fonte: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001236&contexto=pi&selTab=tab0,
quadro extraído em 14 de Junho de 2010).

De acordo com os dados actuais, a imigração em Portugal é representada por: (1) uma
parte significativa de estrangeiros originários dos países europeus; (2) a manutenção dos
fluxos migratórios provenientes das antigas colónias portuguesas, nomeadamente dos
PALOP; (3) nos últimos anos, um aumento particularmente expressivo de imigrantes
provenientes da América do Sul, com uma maior representatividade brasileira e (4)
finalmente uma crescente procura de indivíduos provenientes do continente asiático
(Machado, 1997; INE, 2008).

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

Tabela 2. População estrangeira com estatuto legal de residente (local de residência e nacionalidade, 2008).
América do América Central
Local de residência (NUTS - 2002) Europa África Ásia Oceânia Apátrida
Norte e do Sul
Portugal 166025 125671 2944 112605 28425 264 31
Continente 160822 124291 2613 109244 27814 243 31
Região Autónoma dos Açores 1243 796 497 948 245 1 0
Região Autónoma da Madeira 3960 584 70 2177 366 20 0
(Fonte: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001236&contexto=pi&selTab=tab0,
quadro extraído em 14 de Junho de 2010).

No entanto e longe de ser uma questão exclusiva do campo demográfico, a imigração


contribui diariamente para as constantes mudanças ao nível populacional, social, étnico,
cultural e religioso, no seio da sociedade portuguesa. Não surpreende, por isso, que as
perspectivas de abordagem às questões das migrações se tenham multiplicado, sendo
tema de discussão e investigação da sociologia à demografia e à geografia humana, das
ciências políticas à psicologia, da história ao direito (Lages, Policarpo, Marques, et al.,
2006). Esta intensidade e o ritmo com que se diversificou, bem como o impacto que
teve nos diversos domínios da sociedade, atribuem-lhe um relevo que não passa
despercebido ao cidadão, às instituições privadas lucrativas, às instituições públicas, às
instituições privadas não lucrativas e à comunidade científica (Tomás, 2009).
O fenómeno do “multiculturalismo”, tal como referem D'Andreia et al, (2003),
representa, actualmente, uma poderosa força sociopolítica e teórica no seio das
sociedades, em geral, e nos contextos mais específicos como é a saúde, o mercado de
trabalho, a educação, a psicologia e a psicoterapia. Os mesmos autores reforçam que
grande parte do impulso para a emergência do multiculturalismo como uma nova força
sociopolítica e profissional deve-se essencialmente (1) às mudanças demográficas
anteriormente referidas e (2) ao crescimento da consciência de que os profissionais de
saúde física e mental, professores e assistentes sociais devem adquirir novas e melhores
competências, de modo a tornar o seu trabalho mais “cultural e etnicamente eficaz”.
Considerando a natureza essencialmente interpessoal do processo de psicoterapia e a
diversidade cultural os/as psicoterapeutas enfrentam, frequentemente, novos desafios na
gestão das semelhanças e diferenças na relação terapêutica (Moleiro & Pinto, 2009). É
de esperar que, de modo a aumentar a sua actividade profissional futura, relevância e

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MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

respeitabilidade, os profissionais de saúde mental, os/as psicoterapeutas em particular,


procurarem tornar-se “culturalmente” mais competentes no seu trabalho com indivíduos
dos diferentes grupos minoritários, quer seja étnico/cultural, sexual, religioso, ou outros
(D'Andreia, et al, 2003).
Hays (2008) refere que se torna imperativo que os clínicos explorem a maneira como a
diversidade afecta todo o processo psicoterapêutico, minorando o impacto que as
realidades sociopolíticas têm sobre o desenvolvimento identitário das minorias (ex.
experiências de opressão), que frequentemente são reflectidas e perpetuadas na relação
psicoterapêutica.
É de salientar que, de acordo com a Organização Internacional para a Migração, da
Organização Mundial de Saúde (IOM, 2009) e autores em vários países (Canadá -
Gushulak, Pottie, Roberts, et al, 2010; E.U.A - Alegria et al, 2009; Portugal - Moleiro,
Silva, Rodrigues & Borges, 2009), as pessoas de grupos minoritários enfrentam maiores
dificuldades no acesso aos serviços de saúde em geral, não sendo a saúde mental uma
excepção. A par das dificuldades no acesso, os serviços prestados são inadequados, a
procura é menor, mesmo admitindo que são um grupo com uma exposição elevada a
factores de risco no desenvolvimento de problemas de saúde, quer ao nível físico, quer
psicológico (como experiências de discriminação e preconceito; Zane, Hall, Sue, Young
& Nunez, 2004).
Cresce, deste modo, a necessidade de compreender, eficazmente, o que significa ser
“culturalmente competente” em termos clínicos, como avaliar as “competências
multiculturais” dos profissionais, como adquiri-las ou planear formação, e por último,
aplicá-las no contexto clínico. Tal como Sue (1998) refere, as diferenças “culturais”
existentes entre os psicoterapeutas e os seus clientes de grupos minoritários podem
afectar o processo terapêutico de diversas formas, desde a validade e fiabilidade dos
instrumentos de avaliação psicológica, à confiança na relação terapêutica e eficácia do
tratamento/intervenção.

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

2 COMPETÊNCIAS MULTICULTURAIS
Ao longo das últimas décadas, o interesse pela compreensão das competências
multiculturais tornou-se um tema central e constante nas investigações e estudos
desenvolvidos no âmbito do apoio clínico nos Estados Unidos da América (Sue, 1998;
Constantine & Ladany, 2001; Sue, Zane, Hall & Berger, 2009). Esses trabalhos têm
abrangido essencialmente a definição/conceptualização, operacionalização e avaliação
do constructo (D'Andreia, et al, 2003).
Em primeiro lugar, convém salientar, que o termo “cultura” representado no conceito
multicultural foi, inicialmente, utilizado com referência às questões étnicas e raciais do
contexto americano, tendo sido posteriormente alargado e associado ao termo
diversidade, de modo a abranger outros grupos minoritários e discriminados, tendo em
conta características como a religião, género, deficiência, orientação sexual (Arredondo,
Toporek, Brown, Jones, Locke, Sanchez & Stadler, 1996; Constantine & Ladany, 2001;
Sommers-Flanagan & Sommers-Flanagan, 2004; Gonçalves & Moleiro, submetido).
Apesar dos inúmeros estudos, investigações e orientações da APA (1993; 2000; 2002;
2003) publicados em resultado do crescente interesse pela diversidade cultural na
prática clínica da psicoterapia nos E.U.A., esta área é relativamente nova, tendo sido
necessário a estruturação de todo um corpo teórico, que abrange questões como a
conceptualização, operacionalização e avaliação do constructo (D'Andreia, et al,
2003).

2.1 CONCEPTUALIZAÇÃO
Os primeiros passos para a conceptualização das competências multiculturais foram
dados pela AMCD-ACA2, bem como na diferenciação de outros conceitos como
“transculturalidade”, e “interculturalidade” (Sommers-Flanagan & Sommers-Flanagan,
2004). Por agora, o nosso principal foco reside na compreensão e conceptualização das
“competências multiculturais”.

2
Association for Multicultural Counseling and Development – American Counseling Association

- 245 -
MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

Em relação ao constructo em si, convém referir que este pode ser definido tendo em
conta três níveis de análise (Sue, et al, 2009): (1) relação “profissional/cliente” e do
tratamento/intervenção; (2) institucional/serviços; (3) ao nível sistémico ou comunitário.
É de salientar, igualmente, que o desenvolvimento conceptual deste conceito ainda se
encontra em expansão, acompanhando o curso dos resultados obtidos em diversos
estudos e investigações levados a cabo no âmbito da saúde mental (D'Andreia, et al,
2003; Hays, 2008; La Roche & Christopher, 2010, citados por Gonçalves & Moleiro,
submetido).
No entanto, e apesar dos inúmeros esforços, nenhuma das definições de competência
multicultural apresentadas até agora é universalmente aceite (Johnson, Saha, Arbelaez,
Beach & Cooper, 2004). Não obstante, e tendo em conta as diversas definições em uso
actualmente, parece ser comum que o ponto fulcral para a conceptualização do termo
reside na capacidade dos profissionais de saúde (física e mental) (1) compreenderem e
reconhecerem a sua própria cultura, examinar as suas crenças e atitudes em relação às
outras culturas, (2) entender como as diversas formas de opressão influenciam a relação
terapêutica, (3) compreender e aceitar genuinamente outras normas culturais e sistemas
de valores, e (4) habilmente utilizar competências para proceder a avaliações e
intervenções culturalmente apropriadas (Constantine & Ladany, 2001; Burckhardt &
Sánchez, 2006; Hays, 2008; Sue, et al, 2009). Desta forma, tal como Sue e Sue (2003,
citado por Hays, 2008) referem, “psicoterapeutas culturalmente competentes são
aqueles que têm consciência dos seus valores e preconceitos, compreendem e aceitam
genuinamente as perspectivas dos clientes e intervêm de uma maneira culturalmente
apropriada” (p. 95).
No entanto, alguns autores (como Neufeldt et al, 2006) salientam que o interesse pelas
questões multiculturais não significa que “os psicoterapeutas devam prestar tanta
atenção às questões da diversidade, ao ponto de perderem de vista as questões
essenciais da prática clínica” (p. 465). Pelo contrário, o papel das competências
multiculturais, que pode ser conceptualizado em termos organizacionais, estruturais
e/ou clínicos (Johnson, et al, 2004) deve ser visto como um “meio para ultrapassar as

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

barreiras que impedem o acesso aos serviços de saúde pública” (Burckhardt &
Sánchez, 2006, p. 52), sem prejuízo da qualidade clínica.

2.2 MODELO TRIDIMENSIONAL


A par dos esforços para a conceptualização das competências multiculturais, foram
dados também os primeiros passos para a operacionalização deste constructo. Sue,
Arredondo e McDavis em 1992, propuseram as 10 competências transculturais,
recomendadas pela APA como critérios para a acreditação dos programas de formação
de psicólogos, em 31 competências multiculturais, que se traduzem na capacidade dos
psicoterapeutas para trabalharem com clientes culturalmente diferentes, sustentada num
modelo tridimensional: (1) Consciência; (2) Conhecimento; (3) Competências
específicas, apresentada a seguir na Tabela 3:

Tabela 3. Modelo Tridimensional das Competências Multiculturais (Sue, Arredondo & McDavis, 1992)
Consciência Conhecimento Competências específicas

Esta primeira dimensão faz A dimensão “Conhecimento” retrata Por último, a terceira dimensão
referência à auto e hetero- a informação e compreensão que o refere-se à capacidade de um
consciência que o profissional de profissional tem acerca dos grupos profissional (de saúde) em traduzir a
saúde tem das suas próprias minoritários (a sua historia, valores, sua consciência e o conhecimento
atitudes, comportamentos, crenças, práticas, processos de discriminação cultural adquirido em intervenções
valores e preconceitos. Isto é, “ter e estigmatização, bem como dos sensíveis à diversidade, com a qual
esta consciência” significa e modelos de aculturação e/ou se depara em contexto clínico.
implica explorar o self enquanto desenvolvimento da identidade, Significa, em termos práticos,
ser cultural e avaliar o impacto que entre outros) e o impacto destas avaliar e intervir ética e eficazmente
os seus próprios valores e variáveis no bem-estar físico e com clientes minoritários, tendo
preconceitos podem ter na relação psicológico dos mesmos. No que se presente os possíveis efeitos das
terapêutica com clientes refere à saúde mental, torna-se características “culturalmente”
culturalmente diferentes. também importante ter diferentes, nos processos de
conhecimento sobre possíveis diagnóstico e elaboração de um
síndromes e intervenções específicos plano terapêutico.
da cultura de origem dos clientes.

Fontes: Sue, et al, (1992); Arredondo, et al, (1996); Arredondo (1999); Worthington, Mobley, Franks e Tan (2000); Sue (2001);
D'Andreia, et al, (2003); Ponterotto e Potere (2003). Sommers-Flanagan e Sommers-Flanagan (2004); Burckhardt e Sánchez
(2006); Maxie, Arnold & Stephenson (2006); Neufeldt, et al, (2006); Hays (2008); Moleiro, et al, (2009); Sue, et al, (2009).

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MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

Posteriormente, considerou-se importante desenvolver um quadro conceptual mais


amplo destas competências, com objectivo de se fornecer orientação para à prática,
educação, formação e investigação. Neste sentido, Sue (2001) expandiu este modelo,
organizando-o da seguinte forma:
• Dimensão 1 – Características raciais e culturais específicas dos grupos
minoritários.
• Dimensão 2 – Componentes da competência cultural;
• Dimensão 3 – Níveis da competência cultural.
Com base num design 3x4x5, o modelo (Figura 1) permite a identificação sistemática
de competência cultural numa série de combinações, sendo que cada célula representa
uma confluência das três principais dimensões.

Figura 1: Modelo Multi-dimensional das competências culturais.

Fonte: Sue (2001:792).

Por outro lado, mas no mesmo ano, Trujillo (2001, citado por Gonçalves & Moleiro,
submetido) complementou o modelo original, ao propor a extensão da perspectiva
individual do modelo tridimensional para um nível mais organizacional (serviços de
saúde, e em particular os de saúde mental e suas equipas). De acordo com este modelo
os serviços de saúde ou organizações podem ser caracterizados tendo em conta 4

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

estádios de desenvolvimento de competências interculturais, apresentados a seguir na


Tabela 4:

Tabela 4. Competências Interculturais em Serviços de Saúde Mental (Trujllo, 2001).


Equipas e
Crença de Atitude & Conhecimento Competências
Recursos
Base Consciência Básico Clínicas
Humanos
Inexistência Universalidade Modelos de Competências de Generalistas
Cegueira
Nível de Desenvolvimento de Competências Interculturais

de diferenças da intervenção intervenção intervenção


Cultural
generalista generalista generalista
Reconhecime Curiosidades e Conhecimento Atenção mínima Manifestação de
Pré-
nto de experiencia de cultural básico a aspectos esforços para
Competênci
diferenças diferenças diagnósticos e treinar a equipa
a Cultural
clínicos
Reconhecime Expansão da Adaptação a Desenvolvimento Integração de
Competênci nto de consciência da necessidades contínuo de membros
a Cultural diferenças diversidade específicas competências minoritários e
bilingues
Reconhecime Procura de Desenvolvimento Desenvolvimento Participação no
nto de novas de novo de novas desenvolviment
Proficiência
diferenças contribuições conhecimento competências o de políticas
Cultural
à literatura sensíveis à
diversidade
(Adaptado de Gonçalves & Moleiro, submetido).

Resumidamente, o autor explica o desenvolvimento das competências interculturais nos


serviços de saúde da seguinte forma:
(1) “Cegueira cultural”: este estádio é caracterizado pela crença básica de que
a cultura não tem qualquer importância nos processos de estabelecimento da
relação terapêutica, avaliação, diagnóstico e intervenção com clientes de
grupos minoritários;
(2) “Pré-competência cultural”: neste estádio começam a ser reconhecidas as
diferenças culturais, procura-se conhecer a cultura dos clientes que utilizam
os serviços e desenvolvem-se competências básicas dirigidas a essas

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MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

populações, através de formações, muitas vezes denominadas de “acções de


sensibilização”;
(3) “Competência cultural”: há um maior envolvimento na formação contínua
sobre diversidade cultural neste estádio, em que as intervenções são
adaptadas às necessidades e especificidades dos grupos minoritários e em
que os próprios serviços são constituídos por indivíduos pertencentes aos
grupos minoritários, mediadores culturais ou interpretes;
(4) “Proficiência cultural”: os serviços neste estádio são caracterizados pela
constante procura e motivação para o desenvolvimento de conhecimento,
práticas e políticas que sejam sensíveis à diversidade cultural, bem como
investem na promoção e divulgação de boas práticas para outros serviços e
comunidades abrangentes (adaptado de Gonçalves & Moleiro, submetido).
Finalmente, convém referir que, apesar de o modelo ter sido desenvolvido
especificamente para serviços de saúde mental, este poderá ser também útil a qualquer
serviço/instituição que trabalhe em contexto de diversidade cultural e individual
Gonçalves & Moleiro, submetido).

2.3 AVALIAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS MULTICULTURAIS


Tendo, sumariamente, abordado às questões “o que significa competência
multicultural?” e “o que significa ser culturalmente competente”, torna-se necessário
avançar para questões relacionadas com a avaliação dessas mesmas competências.
Tal como salientado anteriormente, perante um crescimento tão rápido da diversidade
individual e cultural no contexto clínico da psicoterapia, os profissionais necessitam
adquirir novas e melhores competências para trabalhar ética e eficazmente com grupos
minoritários, tornando-se igualmente importante compreender: (1) como avaliar a
competência multicultural (avaliação qualitativa ou quantitativa; individual ou em
grupo; instrumentos de auto-relato ou observação); (2) quais os instrumentos
disponíveis para avaliar este constructo e, mais importante, (3) conhecer e confiar nas
características dos instrumentos (adaptabilidade; precisão ou fidedignidade nos valores

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

quanto à homogeneidade e estabilidade dos resultados; validade) (Dunn, Smith &


Montoya, 2006).
Pelas razões acima descritas compreende-se a razão pela qual a pesquisa no âmbito da
avaliação de competências multiculturais se tornou num “marco da literatura de
aconselhamento multicultural” (Reynolds 2001, citado por Dunn, et al, 2006;
Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; Ponterotto & Potere, 2003;
Hays, 2008).
Sendo assim, e no seguimento do crescente interesse pela avaliação das competências
multiculturais, vários investigadores desenvolveram um conjunto de instrumentos com
o propósito de avaliar a competência multicultural, quer dos profissionais de saúde
mental em prática clínica, quer dos que ainda se encontram em formação (D'Andreia, et
al, 2003).
Dentre os instrumentos desenvolvidos, incluem-se metodologias de auto-relato que, ao
longo das últimas décadas, se tornaram no principal método para avaliar a competência
multicultural (Constantine & Ladany, 2001; Neufeldt et al, 2006; Hays, 2008), muito
por causa das suas inúmeras vantagens (ex. facilidade na administração; baixo custo;
rapidez; possibilidade de quantificação relativamente precisa; acesso à perspectiva do
próprio participante; utilização em situações em que a observação não é possível)
(Barker, Pistrang & Elliott, 2002).
No entanto, e apesar das inúmeras vantagens destes métodos de avaliação, as suas
limitações também são reconhecidas (D'Andrea, Daniels & Noon, 2003, Ponterotto &
Potere, 2003; Hays, 2008), tais como a falta de informações referentes às propriedades
psicométricas dos questionários; a influência da desejabilidade social no
comportamento dos participantes, facto destas medidas de auto-relato poderem reflectir
o comportamento “ideal/antecipado” ao invés de comportamentos e atitudes reais.
(Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; Neufeldt et al, 2006).

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MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E OBJECTIVOS DO ESTUDO


De um modo global, pretende-se com o presente estudo contribuir para a discussão
sobre a psicoterapia com clientes de grupos minoritários em Portugal, na tentativa de
estimular uma linha de investigação, que esperamos, vir a resultar em práticas mais
sensíveis à diversidade individual e cultural. No que se refere aos objectivos específicos
pretende-se:
Estudo 1: Desenvolver uma primeira versão de um instrumento de auto-relato (CIDCI-
T), explorar as suas propriedades psicométricas e avaliar preliminarmente as suas
dimensões e sensibilidade.
Estudo 2: Desenvolver uma medida comportamental (analogue study), através da
utilização de um método qualitativo (apresentação de vídeos) para avaliar os possíveis
impactos das características culturais na relação e intervenção psicoterapêuticas com um
possível cliente e avaliar a validade concorrente desta medida, examinando a sua
relação com um instrumento de auto-relato breve (CIDCI-T), desenvolvido no contexto
do Projecto: “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo”.

4 METODOLOGIA
Tal como foi referido no ponto anterior, este estudo apresenta o desenvolvimento de 2
investigações diferentes, sendo a metodologia respectiva a cada uma apresentada
separadamente e de seguida:

4.1 ESTUDO 1: ESTUDO PILOTO DO CIDCI (VERSÃO


PSICOTERAPEUTAS)
Participantes: No presente estudo participaram 80 profissionais de saúde mental (entre
eles psicólogos e psicoterapeutas) caracterizados por serem maioritariamente do sexo
feminino (85%), com idades compreendidas entre os 23 e os 58 anos (idade média de
30.95 anos, dp = 6.99). Quando questionados acerca da sua prática de trabalho em
psicologia/psicoterapia (anos de experiência clínica), os resultados variaram desde os 0

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

aos 29 anos, com uma média de 4.45 anos (dp = 4.87), sendo que 80% dos inquiridos
revelam não ter tido qualquer formação específica sobre a diversidade cultural e
individual ao longo da sua carreira académica e ou profissional, tal como indicado na
Tabela 5.

Tabela 5: Dados Demográficos da amostra (N =80).


Total % Total %
Idade Sexo
23-32 anos 56 70% Masculino 11 14%
33-42 anos 17 21% Feminino 68 85%
43-52 anos 6 8% Não identificado 1 1%
<53 anos 1 1% Total 80 100%
Total 80 100%
Estado civil ou relacional Nível de escolaridade obtido
Solteiro(a) 48 60% Licenciatura Pré-Bolonha 32 40%
União de Facto 14 18% Mestrado Pós-Bolonha 30 38%
Casado(a) 15 19% Mestrado Pré-Bolonha 11 14%
Divorciado(a) 2 3% Doutoramento 4 5%
Não identificado 1 1% Pós-graduação em Psicoterapia 3 4%
Total 80 100% Total 80 100%
País de origem Nacionalidade
Portugal 73 91% Portuguesa 78 98%
África do Sul 1 1% Suíça 1 1%
Angola 1 1% Não identificado 1 1%
Brasil 1 1% Total 80 100%
Moçambique 3 4% Anos de experiência clínica
Não identificado 1 1% 0-3 anos 43 54%
Total 80 100% 4-7 anos 20 25%
Orientação teórica 8-11 anos 7 9%
Cognitivo Comportamental 26 33% 12-15 anos 6 8%
Dinâmica e Psicanálise 22 28% (+) de 16 anos 1 1%
Integrativa 9 11% Não identificado 3 4%
Outras 8 10% Total 80 100%
2 ou mais orientações 7 9% Orientação Sexual
Sistémica 3 4% Heterossexual 70 88%
Não identificado 5 6% LGBT
Total 80 100% Lésbica 1 1%
Gay 2 3%
Formação específica sobre DCI*
Nunca teve formação 64 80% Bissexual 1 1%
Teve formação 16 20% Não identificado 6 8%
Total 80 100% Total 80 100%
Identificação Religiosa Identificação Étnica
Agnóstico/Ateísta 20 25% Caucasiano 42 53%
Budismo 1 1% Branca 3 4%

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MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

Católico 26 33% Europeu 3 4%


Católico (não praticante) 4 5% Africana e Caucasiana 1 1%
Cristão 4 5% Latina 1 1%
Espiritismo 2 3% Mestiça 1 1%
Espiritual 2 3% Nenhuma/Não tem 2 3%
Sem religião 12 15% Não sei 1 1%
Não identificado 9 11% Não identificado 26 33%
Total 80 100% Total 80 100%
*Diversidade Cultural e Individual

Instrumento: O questionário utilizado neste estudo, CIDCI-T (versão papel e online),


em desenvolvimento no Projecto “Saúde Mental, Diversidade e Multiculturalismo”, é
uma medida de auto-relato elaborado com o principal objectivo de avaliar a
competência multicultural percebida dos clínicos da saúde mental (em especial
psicólogos clínicos, psicoterapeutas e psiquiatras), bem como para aceder às suas
experiências e práticas. Trata-se de um inventário constituído por 48 itens pontuados
numa escala tipo Likert de 5 pontos, que varia desde 1 (“Discordo Totalmente”) a 5
(“Concordo Totalmente”).
Os itens que constituem este instrumento foram organizados (recolhidos e traduzidos) a
partir de um conjunto de outros questionários e inventários, específicos para a avaliação
das competências multiculturais, desenvolvidos sobretudo nos EUA, tais como: Cross-
Cultural Counseling Inventory – Revised (CCCI – R, LaFromboise et al, 1991); Multicultural
Awareness – Knowledge – Skills Survey (MAKSS, D’Andrea et al, 1991); Multicultural
Counseling Inventory (MCI, Sodowsky et al, 1994); Multicultural Counseling Knowledge and
Awareness Scale (MCKAS, Ponterotto, et al, 2000); The California Brief Multicultural
Competence Scale (CBMCS, Gamst et al, 2004).
Procedimentos: Os dados obtidos foram recolhidos em 2 momentos: (1) através da
participação de 20 psicoterapeutas em formação pós-graduada, tendo o questionário
sido administrado em grupo; (2) após a adaptação do questionário a um formato online,
este foi enviado a cerca de 400 psicólogos e psicoterapeutas, por correio electrónico,
sendo que, até ao momento, foram recolhidos 59 questionários-resposta. É de referir
ainda, que esta primeira fase de recolha de dados continuará, dando continuidade ao
processo de desenvolvimento e validação do CIDCI à população portuguesa (estudo
piloto).

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

4.2 ESTUDO 2: ANALOGUE STUDY


Participantes: Para este estudo foram recrutados, através de LAPSO (Laboratório de
Psicologia Social e Organizacional), 8 (oito) participantes, caracterizados por ser todos
do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 20-25 anos, alunas do 3 º ano de
Psicologia no ISCTE-IUL e oriundas de quatro países diferentes (Brasil, Cabo Verde,
Portugal e São Tomé e Príncipe).
Instrumento: Nesta 1ª fase de elaboração deste estudo, foram gravados 20 vídeos, à
qual se seguirá uma 2 ª fase (avaliação de conteúdo), em que os vídeos serão avaliados
tendo em conta critérios como a credibilidade da representação do cliente, apresentação
realista dos sintomas, qualidade dos vídeos (som e imagem). De referir que os vídeos
têm uma duração que varia entre 2 a 5 minutos.
As clientes representadas nos vídeos descrevem um conjunto idêntico de sintomas (ex.
problemas de ansiedade, dificuldades de adaptação ao ambiente universitário), mas
apresentam características individuais diferentes como: etnia/raça (ex. cor da pele),
língua (ex. Português, Brasileiro ou Português com sotaque são-tomense), orientação
sexual (heterossexual ou homossexual), religião (católicos, muçulmanos ou
protestantes) e incapacidade física (deficiência visual).

Ilustração 1 – Exemplos de vídeos gravados (Analogue Study).

Personagem 2: “Letícia” (Cliente Personagem 4: “Sofia” (Cliente Personagem 5: “Andreia” (Cliente


brasileira, Igreja Evangélica Cristã. portuguesa, lésbica. (00:03:25) Angolana, lésbica. (00:03:25)
(00:03:42)

- 255 -
MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO3
Em primeiro lugar, importa enfatizar que os resultados recolhidos e a seguir
apresentados são preliminares, dado que o processo de recolha de dados ainda se
encontra em desenvolvimento. Nesse sentido, os resultados devem ser considerados
com precaução. É de salientar, ainda, que para a análise dos dados foi utilizado o
programa SPSS Statistics 17.0 (Statistical Package for Social Science, 2008), sendo que
o nível de significância foi estabelecido em 0.05 (sempre que oportuno será apresentado
o valor p). Os resultados serão apresentados tendo em conta a análise psicométrica do
instrumento (1) análise da fiabilidade; (2) análise das categorias do instrumento; (3)
análise dos valores da escala e (4) diferenças estatísticas entre grupos.

ANÁLISE PSICOMÉTRICA DO CIDCI – VERSÃO PSICOTERAPEUTAS


Fiabilidade: para medir a fiabilidade do CIDCI-T foi utilizado o coeficiente Alfa de
Cronbach. De acordo com os dados recolhidos, o coeficiente Alfa de Cronbach geral foi
de 0.89, valor que varia apenas de 0.89 a 0.90, com a eliminação de alguns dos itens.
Esses valores indicam uma elevada consistência interna do CIDCI-T e a similaridade
entre os coeficientes mostra a sua estabilidade com relação à contribuição dos itens.
Ao assumir-se o modelo tridimensional das competências multiculturais de Sue,
Arredondo e McDavis (1992), verificou-se que as dimensões representadas no CIDCI-T
(Conhecimento/Consciência/Competências) revelam igualmente uma boa consistência
interna (Tabela 6).

Tabela 6. Valores do Alfa de Cronbach das 3 dimensões e as respectivas correlações.

Conhecimento Consciência Competências Total


Conhecimento α .72 .55** .70** .83**
Consciência α .77 .75** .87**
Competências α .80 .94**
Total α .89
**p < .01

3
Os resultados do estudo 2 não se encontram ainda disponíveis, tendo sido apenas construído o material para a
recolha de entrevistas com clínicos. Deste modo, não é possível apresentar neste artigo a análise convergente.

- 256 -
AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

Análise dos valores da escala: A média dos valores do CICDI-T foi de 3.9 numa
escala de 1-5, demonstrando que os participantes tenderam a situar-se entre os valores 3
(Não concordo, nem discordo) e 4 (Concordo). Esta tendência manteve-se na
comparação entre os grupos, destacando-se as comparações quanto ao género (em que a
média dos participantes do sexo masculino é 4.04), à escolaridade obtida (média dos
participantes doutorados é 4.17) e à experiência de formação específica anterior (o
grupo que respondeu “Sim” apresenta uma média de 4.01).

Tabela 7: Média total dos resultados do questionário.

Média N dp Mínimo Máximo


Sexo
• Masculino 4.04 9 .44 3.35 4.71
• Feminino 3.88 62 .33 3.00 4.69

Escolaridade
• Licenciatura Pré-B. 3.87 27 .29 3.19 4.40
• Mestrado Pós-B. 3.88 28 .38 3.00 4.69
• Mestrado Pré-B. 3.92 10 .34 3.50 4.71
• Doutoramento 4.17 4 .43 3.54 4.48
• Pós-graduação
Formação específica
• Não teve. 3.87 56 .33 3.00 4.56
• Teve. 4.01 16 .37 3.35 4.71

Minoria
• Não pertence 3.80 20 .29 3.19 4.56
• Pertence 3.93 33 .38 3.00 4.71

Diferenças estatísticas entre grupos (test t student): A comparação da média total dos
resultados obtidos no CIDCI-T para as seguintes variáveis indica não existirem
diferenças estatisticamente significativas nesta amostra: “Teve/não formação” (t = -
1.473, ns), “Pertença/não a uma minoria” (t = -1.266, ns). Foi possível verificar ainda,
que ao correlacionar a média total dos resultados obtidos no CIDCI-T e a variável
“Anos de experiência clínica”, os resultados não apresentam diferenças estatisticamente
significativas, (r =. 040, ns), não havendo, portanto, uma relação linear entre as duas
variáveis.

- 257 -
MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

Ao efectuarem-se as comparações para cada uma das dimensões do CIDCI-T e a


variável “Teve/não formação específica” verifica-se que não existem diferenças
estatisticamente significativas para as dimensões Consciência e Competências,
denotando-se no entanto que a dimensão Conhecimento apresenta valores que indicam
uma ligeira diferença estatisticamente significativa (t = -1.266, p < .05).

Tabela 8: Média e dp da comparação entre *Dimensões do CIDCI e “Teve ou não formação específica?”

Teve formação Não teve formação


T
Média dp Média dp
Conhecimento 3.96 .38 3.70 .47 -1.99*
Consciência 4.14 .45 4.01 .35 -1.25
Competências 3.96 .35 3.88 .36 -.84
Total 4.01 .09 3.87 .04 -1.47
*p < .05

É de referir ainda que, quando analisamos a variável “Pertencer/não a uma minoria” os


resultados indicam não existir diferenças estatisticamente significativas.

Tabela 9: Média e dp da comparação entre *Dimensões do CIDCI e “Pertencer a um grupo minoritário”.


Não pertence. Pertence.
Média dp Média dp T

Conhecimento 3.60 .47 3.77 .46 -1.32


Consciência 3.97 .31 4.08 .44 -1.03
Competências 3.79 .30 3.92 .38 -1.27
Total 3.80 .29 3.93 .93 -1.27

6 CONCLUSÕES
Pretendeu-se com este estudo contribuir para o desenvolvimento de dois instrumentos –
um quantitativo de auto-relato e um qualitativo de resposta a casos apresentados em
vídeo – para a avaliação de competências multiculturais de clínicos (psicólogos e
psicoterapeutas). Estas medidas surgem em resposta à necessidade actual de avaliar as
competências multiculturais recorrendo à utilização de instrumentos psicométricos
adicionais às ferramentas de avaliação já existentes (Hays, 2008). Foi possível
- 258 -
AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

apresentar, ao longo do estudo, os procedimentos para o desenvolvimento de um novo


questionário de auto-relato para a avaliação das competências multiculturais, bem como
de uma medida comportamental de validação dos resultados obtidos através deste
instrumento.
Através da análise preliminar dos resultados deste estudo pode-se verificar que, em
geral, os psicólogos e psicoterapeutas percepcionam-se como tendo um bom nível de
competências culturais e individuais para trabalhar com populações minoritárias, apesar
de a maioria não ter tido qualquer formação específica neste sentido. Estes resultados
são consistentes com a literatura, no quanto podem reflectir o facto de as medidas de
auto-relato poderem ser indicadores pouco fiáveis da real competência dos profissionais
(Worthington, et al, 2000; Constantine & Ladany, 2001; D'Andrea, et al, 2003;
Ponterotto & Potere, 2003; Neufeldt et al, 2006; Hays, 2008). Tendo em conta as
limitações dos instrumentos de auto-relato acima referidos, pensamos que a ausência de
consciência poderá ser também um factor limitador para a auto-avaliação. Sugerimos,
assim, que a utilização das medidas de auto-relato poderá ser mais útil e eficaz nos
profissionais que já têm alguma consciência e formação iniciais, mas não o serão para
aqueles com nenhuma ou pouca. Isto reforça a necessidade de desenvolver medidas para
validar questionários de auto-relatos e minimizar o impacto das limitações dos mesmos
nos resultados.
É importante salientar também, que a literatura reconhece que, no que toca à formação
dos profissionais de saúde mental, as instituições não se têm mostrado eficazes na
abordagem das relações entre a cultura, questões sociopolíticas e prática clínica da
psicoterapia (Sue, et al, 1992; Arredondo, 1999; Hays, 2008), sendo essa também uma
realidade em Portugal, em que a oferta para a formação específica sobre a diversidade
cultural e individual é ainda é reduzida. Este facto foi evidente na nossa amostra, em
que a maioria revela não ter tido qualquer formação sobre a diversidade, podendo ser
essa uma das explicações para as diferenças encontradas ao nível da dimensão
“conhecimento” do CIDCI-T. Convém referir ainda que a mera acumulação de anos de
experiência clínica não parece ser suficiente para a promoção das competências

- 259 -
MIGRAÇÕES (ACTAS DO II CONGRESSO INTERNACIONAL)

multiculturais, sendo esse facto consistente com os nossos resultados, que demonstram
uma ausência de correlações significativas com o nº de anos de experiência clínica.
Outra questão pertinente a salientar, prende-se com o facto de, na nossa amostra, os
resultados apontarem para a não existência de diferenças significativas entre pertencer
ou não a um grupo minoritário e competências multiculturais, o que pode ser explicado
pela dimensão da amostra, podendo ser um factor limitante dos resultados. Sendo assim,
reconhecemos algumas limitações no presente estudo, principalmente, no que se refere à
dimensão da amostra e ao facto de ainda estar em curso, o que limita a apresentação dos
resultados disponíveis. Ainda assim, esperamos ter contribuído para a reflexão sobre a
importância das competências multiculturais e dos esforços para a sua conceptualização,
operacionalização e avaliação.

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AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS PARA A DIVERSIDADE INDIVIDUAL E CULTURAL:
DESENVOLVIMENTO DE UMA MEDIDA COMPORTAMENTAL PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL

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