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NOÇÕES DE ECONOMIA
PARTE I
POLÍTICAS ECONÔMICAS
POLÍTICA MONETÁRIA
Emissão de moeda
Open Market
Redesconto
Compulsório
Crédito
POLÍTICA FISCAL
Tributação
Gastos do Governo
Orçamento:
Equilibrado
Superavitário
Deficitário
Déficit operacional (D.O.):
INFLAÇÃO
Demanda
Custos
Inercial
Curva de Phillips
HORA DE EXERCITAR:
Base monetária
Corresponde à soma de dois tipos específicos de moeda: por um lado, as notas e moedas em
circulação fora das instituições financeiras e, por outro, as reservas obrigatórias dos bancos,
impostas normalmente pelo Banco Central do país em causa. Tendo em conta a forma de
contabilização da política monetária, pode assim dizer-se que a base monetária corresponde ao
passivo (responsabilidades) do Banco Central da economia.
MODELO IS-LM
Curva IS
Qualquer ponto sobre a curva IS representa o equilíbrio no mercado de produto: oferta
agregada igual a demanda agregada de bens e serviços.
Y = C (Yd) + I (r) + G
Inclinação da curva IS
A sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros.
A propensão marginal a consumir (ou multiplicador de gastos).
Curva LM
O equilíbrio no mercado de ativos.
Inclinação da curva LM
A elasticidade da demanda de moeda em relação à renda.
A elasticidade da demanda de moeda em relação à taxa de juros.
EQUILÍBRIO
NOÇÕES DE ECONOMIA
PARTE II
INTRODUÇÃO
A parte dois do nosso material analisa os problemas econômicos dos últimos 20 anos
(1986-2006) e a conjuntura econômica recente. Dividimos esse período em duas grandes partes:
de 1986 a 1999 e de 1999 a 2008, sendo esses os anos mais importantes para nossa análise,
tendo como precaução, visto em vídeo, os períodos anteriores. A primeira parte foi marcada pela
preocupação com o problema da inflação, de modo que o tema central do debate foram os
planos de estabilização econômica, nomeadamente o Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano
Verão, Plano Collor I e II e finalmente o Plano Real. A segunda parte, caracterizada pelo alcance
da estabilidade de preços, passa a se preocupar com a consolidação da estabilidade e com o
crescimento econômico, tendo como destaque o Regime de Metas de Inflação e o Plano de
Aceleração do Crescimento.
Com base neste contexto, esta seção será conduzida a partir destas duas grandes
preocupações: estabilidade de preços, dívida externa e crescimento econômico.
1.1. DESEMPREGO
O que é desemprego?
PIA – População em Idade Ativa (IBGE: dez. 2002 > 15 anos, a partir de 2003 > 10 anos).
A PIA divide-se em duas partes:
PEA – População Economicamente ativa: que está de alguma forma ligada ao mercado de
trabalho. Divide-se em PEA empregada e PEA desempregada;
População em idade ativa desligada do mercado de trabalho, pois não buscam e não
desejam trabalhar: incapacitados, estudantes, donas de casa, aposentados, pensionistas;
Desemprego (D) = PEA– PEA empregada
1.2. INFLAÇÃO
O que é inflação? Aumento generalizado e contínuo dos preços. Deflação é o inverso.
Tipos de inflação: diagnóstico
Inflação de demanda:
O que é: aumento generalizado e contínuo de preços decorrente do excesso de demanda
em relação à produção disponível;
Quando ocorre: em situações de alto grau de utilização da capacidade produtiva (próximo
ao pleno emprego dos fatores);
Causa: em geral, expansão monetária sistemática decorrente de déficit público contínuo
não financiado por dívida pública;
Como combater: eliminação do déficit público (metas de superávit);
Política econômica, duas visões:
Monetaristas: enfatizam a política monetária restritiva de redução da emissão de moeda.
Fiscalistas: enfatizam a política fiscal restritiva de redução de gastos e a política de renda,
como o congelamento de preços e salários.
o Inflação de custos (ou de oferta): é o aumento generalizado e contínuo dos preços
decorrente de aumentos nos custos de produção das empresas, como por
exemplo:
Aumento no preço das matérias-primas produzidas internamente (aumento
de preços de insumos básicos agrícolas decorrentes de quebra de safra) ou
importadas (decorrente da desvalorização cambial que encarece a
importação de matérias-primas).
Aumentos salariais (via negociações sindicais ou políticas governamentais)
sem estarem ancorados em aumentos de produtividade.
Elevações nas taxas de juros que afetam os empréstimos tomados pelas
empresas aumentando seus custos.
Estruturalismo: corrente de pensamento que concebia a inflação brasileira como inflação
de custos. Segundo esta concepção, a inflação era vista como decorrente de problemas
associados ao processo de industrialização dos países latino-americanos. O crescimento
industrial pressionava a demanda por produtos agrícolas sem que a oferta dos mesmos
respondesse adequadamente. Isso gerava pontos de estrangulamento que elevavam os
preços dos produtos primários e eram repassados aos produtos finais. As taxas de inflação
tenderiam a se perpetuar devidos aos mecanismos de propagação:
o Política protecionista do governo: permitia o repasse da elevação de custos
agrícolas aos salários e aos produtos industriais;
o Estrutura oligopólica do mercado: facilita o repasse de qualquer aumento nos
custos para os preços finais.
o Inflação inercial: diante de um processo inflacionário originado na demanda ou na
oferta, a inflação pode se manter permanentemente no mesmo patamar, sem
aceleração inflacionária devido aos mecanismos de indexação. A disseminação
destes mecanismos pela economia dificulta o combate da inflação. Os mecanismos
de indexação atrelam os preços do presente à inflação passada e podem ser:
Formais: consistem em cláusulas de indexação prevista por lei em contratos de aluguéis,
financiamento etc.
Informais: os agentes aumentam os preços por que outros também o fizeram ou por que
acreditam que os demais também o farão.
Conseqüências da inflação:
o Distorção na alocação de recursos: perda de capacidade de utilizar preços relativos
para tomada de decisão e de prever o retorno de investimentos;
o Balanço de pagamentos: obscurece o valor da moeda e da taxa de câmbio,
provocando preferência pela moeda estrangeira e causando fuga de capitais;
o Distribuição de renda: salários geralmente não são os preços que mais sobem,
portanto, os trabalhadores perdem poder aquisitivo e a renda se concentra na fatia
da sociedade que beneficia com a elevação dos preços;
o Finanças públicas: efeito Oliveira-Tanzi: corrosão do valor da arrecadação fiscal
pela defasagem entre o fato gerador e o recolhimento dos impostos.
o Aumento nos custos de transação: agentes gastam muito mais tempo e recursos
para identificar as melhores oportunidades produtivas e alocativas.
econômica. Importante observar que não há um consenso entre os teóricos acerca da eficiência
da política econômica. Para keynesianos políticas econômicas expansionistas, em geral, tem
efeito positivo sobre a economia, pois afeta a demanda agregada, o emprego e o PIB. Já para
alguns teóricos neoclássicos, uma política monetária expansionista só gera inflação e não tem
efeito sobre as variáveis reais do sistema.
SELIC estava em 11,18% aa. Esta taxa é definida mensalmente pelo COPOM (Comitê de
Política Monetária).
Balanço de pagamentos
o A - Balança de transações correntes
Balança comercial
Balança de serviços e rendas
Transferências unilaterais
o B - Conta capital e financeira
Conta capital
Conta financeira
o C - Erro e omissões
o Resultado do balanço = A + B + C (déficit ou superávit)
o D – Variação de reservas (divisas = moeda estrangeira e ouro)
Se o resultado do balanço de pagamentos for positivo (superavitário), então
D é negativo, indicando entrada de divisas;
Se o resultado do balanço de pagamentos for negativo (deficitário), então D
é positivo, indicando saída de divisas.
o Dívida externa: se o país não tiver divisas (moeda estrangeira) para bancar o déficit
em transações correntes (em geral a conta mais problemática é a balança de
serviços), ele terá de emprestar dinheiro de algum organismo internacional e isso
gera uma dívida externa.
Taxas de câmbio: é o valor que uma moeda nacional possui em termos de outra moeda
nacional; é a taxa pela qual duas moedas de países diferentes podem ser trocadas.
o ATENÇÃO: no Brasil costumamos expressar a quantidade de moeda nacional
necessária para comprar uma unidade de moeda estrangeira, isto é: xR$/1US$
(R$/US$ = 2,90, significa que são necessários 2,9 reais para comprar 1 dólar). Em
outros países, ela é expressa como a quantidade de moeda estrangeira necessária
para comprar uma unidade de moeda nacional, isto é: xUS$/1R$ (US$/R$ = 0,35)
significa que são necessário 35 centavos de dólar para comprar 1 real)
o Determinação da taxa de câmbio: envolve diversas variáveis que afetam a oferta e
demanda das moedas em questão: competitividade,
o Valorização: aumento do poder de compra de uma moeda em relação à outra.
o Desvalorização: diminuição do poder de compra de uma moeda em relação à outra.
Regimes cambiais:
o Fixo: o governo define uma taxa e intervém no mercado de câmbio, vendendo ou
comprando divisas, para sustentar a taxa definida;
o Flutuante: o governo não intervém no mercado de câmbio e a taxa flutua de acordo
com oferta e demanda de divisas.
Objetivos:
Qual a origem da inflação que o Plano Cruzado pretendia combater?
Quais os elementos constitutivos do plano?
Quais os resultados do plano?
1970-1980
PIB mundial, 1973: Crescimento de cerca de 7%, puxado pelo aquecimento da demanda
mundial decorrente do aumento dos gastos americanos com a guerra do Vietnã (principalmente
entre 1961 a 1974).
Aumento da liquidez mundial: expansão do mercado de euro-dólares (depósitos em dólares
efetuados em bancos localizados fora do território dos EUA, em geral na Europa), o que permitiu
a expansão do crédito bancário para o financiamento do crescimento dos países em
desenvolvimento e para o comércio internacional.
Crescente inflação dos países industrializados: explicada, sobretudo, como fruto dos regimes de
câmbio fixo e fruto do crescimento (curva de Philips).
1973 – 1º choque do petróleo: após a Guerra do Yom Kipur, em outubro de 1973, os países
árabes decretam completo bloqueio do fornecimento de petróleo aos aliados de Israel, atingindo
principalmente Estados Unidos, Holanda e Portugal. O preço do barril passa de US$ 10 (dólares
de 2003) para US$ 42.
1979 – 2º choque do petróleo: surge inicialmente em decorrência da Revolução Islâmica no Irã,
quando o aiatolá Khomeini obriga a uma ampla renegociação dos contratos de exploração das
companhias estrangeiras - em especial a BP - residentes no país. No ano seguinte eclode a
Guerra Irã-Iraque, desencadeada em 1980 (durará até 1988) por Saddam Hussein contra o novo
regime xiita do Irã (com o apoio dos Estados Unidos, que armam o Iraque, inclusive com armas
de destruição em massa). O preço do barril chega a US$ 80, cai a US$ 30 em 2000 e hoje está
em torno de US$ 70. (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
Início dos anos 80: aperto da política monetária americana com a elevação da taxa de juros
EUA.
Conseqüência final deste cenário mundial no início da década de 80: restrição do crédito
internacional para os países em desenvolvimento.
Conseqüências:
Endividamento externo
Trajetória ascendente da inflação
Mecanismos de indexação permitiam postergar depois a implantação de medidas restritivas.
O crescimento da dívida externa, mais a alta dos juros internacionais, associadas à alta dos
preços do petróleo, somaram-se e desequilibraram o balanço de pagamentos brasileiro e,
conseqüentemente, houve o aumento da inflação e da dívida interna e o fim do milagre de
crescimento, em 1983 o PIB cai 5,2%.
Meados de 1980 sente-se as conseqüências do cenário econômico mundial pela escassez de
financiamento externo com a dificuldade de renovar empréstimos.
Ajustamento externo (1981-1984): desvalorizações cambiais para ajustar o Balanço de
Pagamentos e acordos com FMI para conseguir vinculando a obtenção de mais recursos com o
ajuste das contas fiscais do Estado.
A inflação foi colocada em segundo plano. As medidas ortodoxas para combatê-la (restrição ao
crédito, contração monetária) com conseqüente queda da demanda, do PIB e a rigidez da
inflação em 1981, reforçava o diagnóstico da inflação inercial.
A inflação brasileira entre 1979 e 1986 apresentava propriedades específicas e dinâmica própria
que a faziam resistir aos antídotos deflacionistas recessivos.
Dois pontos principais:
1979: de 50% a.a. para 100% a.a
1983: 200% a.a.
O diagnóstico heterodoxo baseava-se na noção de inflação inercial. A inércia inflacionária resulta
do conflito distributivo, típico das economias capitalistas, qual seja: Ela é propagada pelos
mecanismos de indexação para a correção monetária dos preços, salários, taxa de câmbio e
ativos financeiros que repassam aos preços futuros a inflação passada (essa é a definição de
Bresser Pereira que acha incorreto definir inflação inercial como uma situação de inflação alta e
estável, isto por que ele enfatiza a existência de fatores aceleradores e mantenedores da
inflação inercial). Na ausência de choques, a taxa de inflação permaneceria no patamar vigente.
Um choque de oferta, como uma desvalorização da taxa de câmbio, causaria uma elevação
permanente na taxa de inflação, resultando numa inconsistência na distribuição de renda (esta
parte é do livro A ordem do progresso).
Logo, o principal ingrediente para a eliminação da inflação inercial seria a fixação dos preços
relativos nos valores médios e a supressão dos mecanismos de indexação que atrelavam a
inflação futura à passada.
Administrar o nível de preços é o motivo que justifica o congelamento enquanto medida para
acabar com a inflação inercial.
1.8.1. Características
Reforma monetária substituindo o cruzeiro pelo cruzado, a uma taxa de conversão de Cr$
1.000,00 (mil cruzeiros) por Cz$ 1,00 (um cruzado);
Choque neutro: regras específicas de conversão visando evitar uma redistribuição de renda
perversa para os trabalhadores que poderia ocorrer em decorrência das diferentes
periodicidades dos reajustes:
Salários: foram convertidos tomando como base o poder de compra médio dos últimos seis
meses. Concessão de abono de 8% para todos os assalariados para garantir a aceitação da
conversão pela média. O salário mínimo foi fixado em Cz$ 804,00, equivalente a um abono de
16%.
Aluguéis: foram convertidos pela média dos picos (relação média-pico), com reajustes
semestrais e anuais;
Congelamento de preços:
Salários: não foram congelados e os dissídios anuais prevalecentes até 1979 foram
reestabelecidos. Na ocasião dos dissídios os salários seriam corrigidos em com base em 60%
da variação acumulada do custo de vida. Além disso, criou-se o “gatilho” que consistia na
correção automática dos salários, de acordo com uma escala móvel, sempre que a inflação
chegasse a 20%;
Todos os preços, exceto as tarifas industriais de energia elétrica, foram congelados, por tempo
indeterminado, nos níveis ao consumidor (na ponta) prevalecentes em 27 de fevereiro de 1986.
Não houve qualquer compensação pela inflação passada (desde o último reajuste) nem pela
perda futura (durante a vigência do congelamento);
Tarifas industriais de energia elétrica: foram congeladas com aumento de 20%;
Índice de preços ao consumidor: deslocou-se a base do índice IPCA (índice de preços ao
consumidor ampliado) para 28 de fevereiro de 1986, denominando o novo índice de IPC (índice
de preços ao consumidor). O objetivo era evitar que o índice registrasse inflação positiva no
primeiro mês, mesmo que os preços permanecessem estáveis ao longo do mês.
Taxa de câmbio: fixada em cruzeiros no nível vigente em 27 de fevereiro de 1986, sem
necessidade de maxidesvalorização compensatória ou defensiva do cruzado.
À política monetária e fiscal não foi aplicada nenhuma regra ou meta, o que tornava difícil a
administração destas políticas:
Taxa de juros alta: poderiam desincentivar os investimento e aumentar os encargos da dívida
pública.
Taxas de juros baixas: poderiam estimular a especulação com estoques e moedas estrangeiras
ameaçando a estabilidade.
Política fiscal: cancelamento do “pacote fiscal” anunciado em 1985, que visava alcançar
superávit primário, em razão da perda de arrecadação decorrente da não concretização dos
ganhos nominais de capital e da perda do imposto inflacionário.
1.8.2. Resultados
Fim do congelamento
Corte na demanda agregada: opção implantada via pacote de ajuste fiscal (cruzadinho).
Julho de 1986 – outubro de 1986
Cruzadinho: pacote de ajuste fiscal elaborado para desaquecer o consumo via empréstimos
compulsórios, como novo imposto na aquisição de gasolina e compra de automóveis que seriam
restituídos após 3 anos, entre outros;
O aumento da arrecadação financiaria o Plano de Metas que visava crescimento de 7%;
Escassez de produtos: com a atenção do governo voltada para as eleições de governadores e
da Assembléia Constituinte, o Cruzadinho teve pouca eficácia e o Pib industrial alcançava um
pico de crescimento de 12,2% que ainda assim não foi suficiente para atender a demanda o que
causou escassez de produtos;
A inflação se manteve baixa, mas com tendência ascendente.
Deterioração das contas externas: queda das exportações, em razão da necessidade de atender
a demanda interna, gerou a necessidade de desvalorizar o cruzado e, portanto, descongelar a
taxa de câmbio. Com a expectativa de que o câmbio ainda estava sobrevalorizado em pelo
menos 10%, isto adiava as exportações o que gerou a deterioração do balanço de Pagamentos.
Novembro de 1986 a junho de 1987
Após a vitória do partido do governo nas eleições, anuncia-se o Cruzado II;
Cruzado II: pacote fiscal que objetivava aumentar a arrecadação do governo em 4% do PIB
através de reajustes de tarifas públicas (gasolina energia elétrica, telefone, etc) e aumento de
impostos indiretos (automóveis cigarros e bebidas);
Resultado do cruzado II: forte choque inflacionário;
O cruzado II previa que os preços dos automóveis, cigarros e bebidas deveriam ser expurgados
do IPC para retardar o primeiro “gatilho” salarial, mas a reação da população fez o governo voltar
atrás. O “gatilho” reajustou os salários em 20%.
A economia se desaquece;
Suspensão por tempo indeterminado do pagamento de juros da dívida externa, com o objetivo
de estancar a perda de reservas cambiais e iniciar uma nova fase de renegociações da dívida;
A confirmação do fracasso do plano vem com o retorno da indexação, das altas taxas de inflação
e do fim do congelamento em fevereiro de 1987.
Causas do fracasso do Plano cruzado:
Descaso com as contas externas (dívida externa);
Déficit público;
Duração excessiva do congelamento;
Superaquecimento da economia (excesso de demanda);
A experiência adquirida com o fracasso dos planos de estabilização anteriores faz emergir
um novo diagnóstico para inflação brasileira, baseado em:
Descontrole monetário e fiscal (que já era tido com causa pelos outros planos);
Elevada e crescente liquidez dos haveres financeiros não monetários, isto é, a
possibilidade de alterar rapidamente os portfólios de investimento e de monetizá-los
(transformar em dinheiro) rapidamente;
Consequência da alta liquidez: inviabilizava a política econômica:
Levava ao aumento da demanda de bens de consumo, de ativos reais e de risco e,
portanto, gerava pressões inflacionárias diretas;
Tornava a política cambial ineficaz, gerando pressões para desvalorização cambial e,
portanto, pressões inflacionárias indiretas, pela combinação de duas situações:
Exportador líquido permite o retardamento dos negócios e, portanto, o retardamento da
entrada de divisas, isto, redução da oferta de divisas;
Aumento da demanda por ativos dolarizados, isto é, aumento da demanda por divisas;
Tornava a política monetária passiva: a alta liquidez ao permitir a fuga dos ativos
financeiros, nos momentos de queda da taxa de juros, exigia a manutenção de altas taxas
de juros. Isto impede o controle da oferta de moeda, pois modificações na oferta monetária
afetariam a taxa de juros. Deste modo, a oferta de moeda torna-se endógena e suas
variações, impossíveis de serem controladas pelo governo, geram pressões inflacionárias.
Operações de mercado aberto: era o único instrumento disponível para controlar a oferta
de moeda, mas dada a incerteza do ambiente econômico o BC precisava fixar taxas
diárias no overnight para que os agentes aceitassem realizar operações com títulos
(moeda indexada). Estas taxas eram baseadas na expectativa de inflação o que tornava a
indexação sem limites.
Profª. Françoise Iatski de Lima www.aprovaconcursos.com.br Página 25 de 43
Profª. Françoise Iatski de Lima
Noções de Economia p/ PF: Agente de Polícia Federal
Resultado:
O plano fracassa por conta do fato de que as políticas de abertura comercial (incentivos às
importações e desincentivos às exportações) causaram a deterioração da Balança
Comercial que associada à ausência de fluxos de capitais provocou forte desvalorização
do cruzeiro, contribuindo para alimentar o processo inflacionário.
1.13. HISTÓRICO
Do Estado Liberal ao Estado Neoliberal
Impeachment de Collor
Denúncias de corrupção envolvendo Collor e o “esquema PC Farias”, entre as quais a
comprovação de que as contas de Collor e PC não tinham sido afetadas pelo confisco.
02/10/1992: Collor é afastado do cargo e assume seu vice Itamar Franco.
29/12/1992: Collor renuncia, mas seu julgamento é levado a cabo (embora sob a
controvérsia acerca da legalidade jurídica) e culmina com a condenação de perda do cargo
de presidente e dos direitos políticos por 8 anos.
Itamar Franco assume em 02/10/1992 como presidente e FHC em maio de 1993 como
ministro da fazenda.
Aumento da indexação
Estabilidade da taxa de câmbio
Altas taxas de juros
Apesar de que desde 1990 as contas públicas vinham melhorando acreditava-se que esta
melhora se dava por um Efeito Tanzi1 ao contrário, por isso, medidas reais de ajuste fiscal
eram tidas como necessárias.
Medidas:
Corte de despesas: implantação do PAI (Plano de Ação Imediata) com meta de redução
dos gastos da ordem de US$ 7 bilhões.
Aumento dos impostos: criação do IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentação
Financeira) que durou de janeiro a dezembro de 1994 (imposto do cheque):
Vantagens: facilidade de recolhimento, ampla base tributária (inclusive para atividades
informais), não compartilhada com outras esferas de governo.
Desvantagens: imposto em cascata, desestimula à intermediação financeira e aumento
das taxas de juros.
Diminuição das transferências do governo federal: criação do FSE (Fundo Social de
Emergência) que se constituía de 15% da arrecadação de todos os impostos sem que
estes recursos atendessem as determinações da Constituição de 1988, isto é, sem que
tivessem de ser repassados à Estados e Municípios.
Indexação completa da economia (1º março de 1994)
A (hiper) inflação destrói as funções da moeda sequencialmente:
Primeiro debilitando sua capacidade de servir como reserva de valor. Ninguém mais
guardava cruzeiros no bolso ou no banco;
Segundo, prejudicando sua utilidade como unidade de conta: à medida que se dissemina a
indexação, ninguém mais usava cruzeiros para dar o valor de uma casa, um carro. As
coisas passaram a ser contadas em dólar, em UFIR etc.;
Terceiro, reduzindo sua capacidade de servir como meio de pagamento. Isso não chegou
a ocorrer inteiramente no Brasil, especialmente entre a população mais pobre, que
continuava pagando suas pequenas contas em cruzeiro. Mas os mais ricos já usavam
dólar ou papéis indexados.
Objetivo: recuperar as funções da moeda, sobretudo as funções de unidade de conta e
reserva de valor, por meio da simulação dos efeitos de uma hiperinflação com indexações
diárias e mantendo-se simultaneamente duas moedas (ou uma quase moeda e uma
moeda) de modo a eliminar a memória inflacionária da moeda “boa”, cuja função unidade
1
Efeito Tanzi: é o efeito de deterioração das receitas públicas pela inflação decorrente da defasagem entre o fato
gerador e o recolhimento. Efeito Tanzi ao contrário seria a ampliação das receita públicas pela inflação decorrente da
política de controle na “boca do caixa”.
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Profª. Françoise Iatski de Lima
Noções de Economia p/ PF: Agente de Polícia Federal
“Âncora cambial”: paridade R$ 1,00 = US$ 1,00 e controle cambial na forma de flutuação
para baixo com teto na paridade.
1.15. INFLAÇÃO
Redução lenta, mas estável;
IGP: junho = 46,58%
IGP em julho = 24,71%, devido a tentativas de se aproveitar da confusão da troca de moeda;
IGP em agosto = 3,34%
Em 1995 IGP = 14,8% e 1996 = 9,3%
Ver gráfico.
1.16. DEMANDA
Política monetária restritiva, com taxas de juros reais elevadas, não impediu a explosão da
demanda.
Motivos:
Aumento do poder aquisitivo: fim do imposto inflacionário
Recomposição dos mecanismos de crédito como efeito do fim da inflação
Taxa de juros e prestações fixas
Demanda reprimida
Previsibilidade da renda futura
Ilusão monetária: despoupança
1.17. CÂMBIO
Valorização cambial: estratégia do plano de estabilização, pois a possibilidade de importação
dada à valorização do câmbio força os preços internos a acomodarem-se aos internacionais, ou
seja, a valorização cambial serviu para aprofundar a ancoragem dos preços.
Funciona para bens tradeables, mas não funciona para bens não tradeables, por isso observou-
se aumento de preços para esses bens, ver tabela 18.1.
Enquanto continuava a entrada de recursos externos o governo permitiu a valorização, assim a
combinação entre a valorização cambial, a abertura comercial e o grande volume de reservas
manteve os preços internos controlados (superâncora cambial).
A partir de 1995, para controlar a apreciação do câmbio, o governo recorre a esterilização (entra
divisas transformam-se em reservas no lugar entram reais venda de títulos para captar
os reais em excesso) com conseqüente aumento da dívida pública.
MUDANÇA CAMBIAL
Outros (Gustavo Franco) achavam que era possível manter a mesma política cambial, pois o
país, no final de 1998, já dava sinais de recuperação da crise russa. Para estes os
determinantes da crise cambial eram outros:
Queda nos termos de troca
Não aprovação de medidas importantes para o ajuste fiscal
Moratória mineira em 1999
Apesar da controvérsia acadêmica, a desvalorização cambial já estava definida em meados de
1998 em decorrência da crise russa, mas foi adiada, por dois motivos:
Eleições presidenciais no final de 1998 (2º mandato FHC)
Transferência do risco cambial para o setor público:
Transferência do risco cambial para o setor público:
Característica do endividamento externo brasileiro em meados da década de 90: predomínio de
captações privadas:
Setor público: 1994 60% da dívida externa total; 1997: 38%
Setor privado: 1994 40% da dívida externa total; 1997: 62%
Do setor privado 30% eram dívidas de instituições financeiras que possuíam ativos externos
capazes de fazer face ao passivo interno
Problema desta característica: uma desvalorização cambial geraria uma deterioração patrimonial
do setor privado que poderia gerar crises econômicas (efeito riqueza: queda do consumo e
investimento em decorrência da queda na riqueza dos agentes) e financeiras (falências e
quebras bancárias)
Solução: transferência do risco cambial para o setor público via operações de hedge cambial
(proteção cambial):
Hedgear: estratégias de proteção para diminuir o risco
Exemplos de oprações de hedge:
Viagem ao exterior: como qualquer gasto no exterior é calculado em dólar pela administradora, o
valor das contas virão indexadas à variação da cotação dessa moeda. Para se proteger de
qualquer crise cambial, o investidor calcula em média quanto gastará em sua viagem e compra o
mesmo valor em dólar ou simplesmente aplica o dinheiro num fundo cambial (atrelado ao dólar).
Ao retornar da viagem, pode vender os dólares comprados e, com o equivalente em reais, pagar
sua fatura.
Produtor agrícola faz para “hedgiar” sua safra: Vamos dizer que um produtor de milho esteja
planejando sua colheita para daqui a quatro meses. No entanto, ele não sabe a que preço vai
estar o produto naquela época. Para evitar que perca muito, caso haja uma queda brusca de
preço, ele compra uma opção de venda. Com isso, garante que vai vender o produto a
determinado preço, em determinada data. Essa opção de venda protege o produtor contra as
fortes oscilações do preço do produto no mercado. Mas, caso o preço do milho ultrapasse o
preço fixado na opção de venda, o produtor não é obrigado a exercer a operação. Isso é uma
forma de hedge.
Venda de moeda estrangeira tanto no Mercado de Swaps (Swap significa troca. No caso dos
contratos de swaps, pode-se trocar moedas, taxa de juro ou commodities. Um swap de taxas de
juros pode ser utilizado para transformar uma taxa flutuante numa taxa fixa, e vice-versa. Um
swap de moedas pode ser usado para transformar um empréstimo numa moeda estrangeira em
outra moeda. É uma operação mais sofisticada. Por isso, as tesourarias de bancos e os gestores
de fundos de investimento são os que mais usam o mercado de swaps. A idéia é que dois
investidores façam aplicações "casadas" que, no dia do vencimento, servirão como proteção do
dinheiro ou até mesmo como especulação para aumentar o capital) quanto no mercado futuro,
que implicou em perda de US$ 30 bi de reservas estrangeiras;
Alteração na composição da dívida pública por indexador:
Retração nos títulos pré-fixados: participação em 05/1998 = 55% e 12/1998 = 3%
Aumento dos títulos indexados ao over/SELIC
Aumento dos títulos indexados ao câmbio: participação em 1997 = 10% e 1998 = 21%.
Assim, em janeiro de 1999, com a deterioração dos “fundamentos macroeconômicos” e com a
crise política gerada pelos Estados que queriam rediscutir as dívidas estaduais (moratória
mineira) o governo promove uma desvalorização de 70% da taxa de câmbio, mantendo
inicialmente o regime de bandas e posteriormente adotando o câmbio flutuante: de R$/US$ = 1,2
em 1998 para R$/US$ 2,00 em 1999.
Resultado:
Prejuízo para o Tesouro Nacional: só em janeiro de 1999 o aumento da dívida pública pelos
títulos indexados ao câmbio foi de R$ 50 bi.
As perdas concentraram-se no setor público, pois apenas uma pequena parcela da dívida
externa do setor privado não estava protegida.
Para conter a aceleração inflacionária, decorrente da perda da âncora cambial, e a saída de
reservas o governo aumenta a taxa de juros selic para 45% em mar/1999.
Inflação: IGP
1998 = 1,7% aa (dez/1998 = 0,98%)
1999 = 20% aa (fev/1999 = 4,4%)
2000 = 9,8%
Taxa de câmbio se estabiliza em abril/1999 em R$/US$ = 1,7
Regime de Metas de Inflação: a partir de julho de 1999 o governo adota formalmente o regime
de metas de inflação como âncora dos preços em substituição da âncora cambial.
Para concluir, remos a seguir um pequeno quadro com as principais características de cada um
dos períodos envolvidos no texto acima.
prazo
30% poupança
Reforma Substituição do cruzeiro Não houve. Substituição do Substituição do Substituição do Cruzeiro pelo
Monetária pelo cruzado: Cr$ cruzado pelo cruzado Cruzado Novo pelo Cruzeiro real: CR$ 1,00 = Cr$
1.000,00 = Cz$ 1,00 novo: Cz$ 1.000,00 = Cruzeiro: Cr$ 1.00 = 1.000,00
NCz$ 1,00 NCZ$ 1.00 Substituição do cruzeiro real e da
URV pelo Real: 1 URV = CR$
2.750,00 = R$ 1,00 = US$ 1,00
Política Salários convertidos à Congelamento seguindo as Congelamento por Congelamento por Não houve congelamento de
Salarial nova moeda pela média fases acima. tempo indeterminado. tempo indeterminado. salários.
dos últimos 6 meses. Não houve abonos ou Salários convertidos
Abono salarial de 8% gatilho. pela média dos
para todos os salários e últimos 12 meses
16% para o mínimo. mais a aplicação da
Dissídios anuais URP de janeiro.
prevalecentes até 1979
foram restabelecidos.
“gatilho” = 20%).
Indexação Indexação proibida por 1 Novo indexador URP para Extinção da OTN e Desindexação dos Indexação da economia pela URV
ano, fim a ORTN e criação os salários. URP. Na prática o salários.
da OTN (congelada por 1 indexador passava a
ano) ser o IPC ou o
overnight.
Política Fiscal Cruzado I: proposta Contracionista. Proposta: corte de Contracionista. Contracionista.
acomodatícia, mas na Pacote fiscal que visava despesas e aumento Ajuste fiscal: visava Corte de despesas: Plano de
prática foi expansionista reduzir o déficit público de de tributos. reduzir o déficit de Ação Imediata (PAI)
com cancelamento do 6,7% para 3,5%. Prática: o Congresso 8% para 2%. Aumento de Impostos (IPMF)
“pacote fiscal” anunciado não aprova o ajuste Plano Nacional de Fundo Social Emergencial (FSE)
em 1995. fiscal. Desestatização diminuição das transferências do
Cruzadinho (10/86): (PND): privatizações governo federal (15%).
pacote fiscal Continuidade do PND:
Cruzado II (07/87): privatizações.
pacote fiscal
Política Proposta: acomodatícia Contracionista: Contracionista: Redução da liquidez Contracionista:
Monetária Prática: expansionista Proibição de emissão de Aumento na taxa de pelo confisco dos Restrição da expansão
moeda para financiar juros real de curto ativos financeiros. monetária.
déficit público. prazo. Elevação da taxa de juros.
Limite de crédito. Redução prazos de
Redução prazos de financiamento.
financiamento. Aumento compulsório de 40%
Aumento para 100%.
compulsório. Suspensão leilão dívida.
Suspensão leilão
dívida.
Política Câmbio fixo ao valor de Desvalorização de 9,5% da Adoção de câmbio fixo Adoção de taxas de Âncora cambial: regime de bandas
Cambial 28 de fevereiro de 1986, taxa. NCz$ 1,00 = US$ 1,00, câmbio flutuantes. cambiais, era permitido flutuar
sem desvalorização Minidesvalorizações. o que equivale a uma para baixo com teto na paridade.
compensatória ou desvalorização do
defensiva. cruzado de 18%.
Balança comercial
equilibrada.
Política Nada especial. Nada especial. Nada especial. Inicio do processo de Continuidade de políticas de
comercial: liberalização abertura comercial.
comercial:
Eliminação de tarifas
de importação.
Eliminação de
incentivos à
exportação.
Resultados: Ampla participação da Taxa de inflação cai nos Subindexação de Queda inexpressiva Redução da inflação de 46,5%
população na primeiros meses (jun = salários e contratos: da inflação. em junho para 3,34% em agosto,
fiscalização do 26,1%, jul = 3,1% e ago = descontentamento Denúncias de mantendo-se neste patamar nos
congelamento. 6,4%); dos agentes. corrupção: crise de anos seguintes.
Explosão da demanda. Desequilíbrio de preços Sem ajuste fiscal confiança dos .Aumento da demanda.
Inflação próxima de zero relativos: empresários (ano eleitoral) agentes. Sobrevalorização do câmbio
nos primeiros meses. pressionavam para manteve-se elevados Substituição da Déficits em TC mantido por
Descaso com as contas remarcar preços; e crescentes déficits Ministra Zélia e capitais voláteis e direcionado
externas: elevação da Governo reduz leque de públicos tornando a posterior para o consumo.
dívida; preços controlados: perda política econômica Impeachment de Deterioração das contas públicas
Descontrole do déficit de credibilidade do plano; prisioneira da Collor. apesar das privatizações e da
público; Em dezembro a inflação já rolagem da dívida Volta da aceleração elevação da carga tributária.
Duração excessiva do alcançava 14%. interna. inflacionária. Baixas taxas de crescimento do
congelamento: Juros elevados. PIB.
desequilíbrio nos preços Flexibilização do Elevação do desemprego.
relativos; congelamento, Deterioração das reservas
Volta da inflação. associada ao fim da internacionais:
OTN e URP leva a Crise mexicana: US$ 12 bi
remarcação de Crise asiática: US$ 20 bi
preços e aceleração Crise russa US$ 30 bi
inflacionária. Desvalorização cambial em
1999.