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RESUMO: o presente artigo teve como objetivo analisar a série de conflitos que vêm
ocorrendo na Síria desde 2011, levando em consideração seus antecedentes históricos,
características geográficas e políticas, a fim de compreender sua origem e
desenvolvimento e verificar questões relativas às relações internacionais. Foi realizado
um estudo dos quatro principais participantes do conflito: o governo de Bashar al-
Assad, os rebeldes sírios, o povo curdo e o grupo terrorista conhecido como Estado
Islâmico, no Iraque e na Síria, bem como a influência dos demais atores do cenário
internacional no apoio a cada uma destas partes. Buscou-se ainda identificar quais são
os possíveis reflexos deste cenário para o Brasil e, como resultado, verificou-se que
devem ser adotadas medidas em relação aos refugiados que, ao mesmo tempo em que
atendam aos direitos humanos, não coloquem em risco a segurança nacional brasileira.
1 INTRODUÇÃO
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Cadetes do 4º Ano da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), sob orientação do Ten Cel José
Ribamar Cândido de Sousa Neto, Assistente-Secretário do Comandante da AMAN e Coordenador de
Doutrina da AMAN até 25 abr 2017, o qual também fez parte do Estado-Maior da Brigada Espanhola da
Força Interina das Naçoes Unidas no Líbano (UNIFIL), no período de maio a novembro de 2015.
Os muçulmanos estão divididos entre dois grupos: os xiitas e os sunitas. Após a
morte do profeta Maomé, teve início um período de discussões sobre quem deveria ser o
seu sucessor. Neste contexto, o islamismo dividiu-se nestes dois grupos. Os sunitas
correspondem ao grupo islâmico que pregava que o sucessor de Maomé deveria ser do
mesmo clã de origem do profeta, enquanto os xiitas afirmavam que o sucessor deveria
ser alguém da família de Maomé. Desta forma, os xiitas seguiam Ali, primo de Maomé,
pois acreditavam que este havia sido escolhido por Deus para tal função e acusaram os
sunitas de terem omitido do Alcorão a parte que esclarecia que alguém de laço familiar
era o herdeiro legítimo do califado.
As Cruzadas foram a tentativa dos cristãos europeus de reaver estas terras. Por
fim, chegam os turcos, com Genghis Khan, conquistam a região e fundam o Império
Otomano, que ali permanece até a Primeira Guerra Mundial.
Para derrotar o Império Otomano, a França e o Reino Unido necessitavam de
ajuda e a conseguiram do lado de dentro, com o povo árabe. Este foi o Acordo Sykes-
Picot: em troca da ajuda para derrotar os otomanos, os ingleses e os franceses
prometeram aos árabes um país somente para eles, chamado de “Grande Arábia”. Isto
não ocorreu.
Após a Primeira Guerra Mundial, o que aconteceu foi o surgimento de vários
países na região que antes pertencia ao Império Otomano. Países estes, controlados por
governantes de confiança da França e do Reino Unido para que estes pudessem atuar
como quisessem na região, principalmente na extração do petróleo. Dentre estes países,
encontra-se a Síria.
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No entanto, a Síria, sob o comando francês, por não apresentar reservas
satisfatórias, foi vendida para companhias estrangeiras e mantida sob seu controle até a
Segunda Guerra Mundial. Terminada a Segunda Grande Guerra, os estrangeiros foram
expulsos de todos os novos pequenos países, inclusive da Síria. Porém, antes desta
retirada, criaram o Estado de Israel, o que passou a ser uma das causas de conflito na
região.
Enquanto todos estes conflitos ocorriam, a Síria passou por um grande período
de instabilidade, com golpes de Estado e o surgimento de uma nova ideologia, chamada
Baath. Esta ideologia une o antigo desejo de uma nação unicamente árabe, com ideais
socialistas e laicos. Desta forma, chega ao poder, Hafez al-Assad.
Com o início da Guerra Fria, e a divisão ideológica do mundo entre os Estados
Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, inicia-se um
período muito movimentado na Síria, em que também surge uma oposição ao governo
al-Assad, a chamada Irmandade Muçulmana.
Apesar de ser um Estado laico, al-Assad é alauíta, uma corrente, mais moderada,
derivada dos xiitas e, portanto, tem seu apoio. Porém, mais de 70% da população é
sunita, fato que a Irmandade Muçulmana aproveita para iniciar uma revolta armada
contra o governo. A reação do presidente foi uma resposta violenta, em que morreram
milhares de civis, e múltiplas prisões. No ano 2000, este morreu e seu filho, Bashar al-
Assad assume o governo.
Bashar, com as diversas pressões existentes no momento, traz uma onda de
esperança para o povo sírio, com a libertação de presos e com a internet. Ressurge a
Irmandade Muçulmana e após anos de debates políticos, a oposição é presa, fazendo
com que o presidente americano George W. Bush considere a Síria um país do “eixo do
mal”.
Com o advento da Primavera Árabe, em 2011, os povos do Oriente Médio
começam a protestar por melhores condições de vida, exigindo seus direitos políticos e
um regime democrático, repudiando o desemprego e a corrupção.
2 DESENVOLVIMENTO
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como um todo, para desencorajar a comunidade internacional de apoiá-los contra o seu
governo.
A rebelião toma outras dimensões. Os rebeldes se nomeiam Exército Livre da
Síria, formado, dentre outros cidadãos, por desertores do Exército da Síria. Surge uma
ramificação da Al-Qaeda, chamada de Frente Al-Nusra, mais radical. Os curdos, povo
que ocupa uma região que se expande por vários países ao norte da Síria, também
rompem relações com o Governo Assad. Surge também no cenário, o Estado Islâmico,
braço da Al-Qaeda no Iraque que tem intenção de dominar um território e fundar um
Estado próprio, usando de terrorismo. Este grupo atua na Síria, também, confrontando o
Governo Assad. Declarou um dos integrantes do ELS:
Trabalho para o mesmo objetivo: libertar a Síria da ditadura Assad e da Al-
Qaeda (…) o nosso problema não é com os alauítas, mas com a gente do
regime e seus assassinos. Tenho muitos inimigos. Hoje na Síria, não sabemos
quem é quem. A contra-revolução liderada pelo Estado Islâmico e Nusra
baralhou as cartas.
Para falar da influência que Bashar al-Assad tem sobre a guerra civil na Síria,
primeiro deve-se falar da influência que seu pai teve no país, e o porquê de ele ter sido
seu sucessor.
Desde 1971, a família al-Assad detém o controle na Síria, tendo Hafez al-Assad,
pai de Bashar al-Assad, sendo o governante à frente do Estado Sírio por mais de 25
anos. Tendo chegado ao poder através de um golpe de Estado, Hafez era descrito como
um “Chefe Autoritário”, termo muito apropriado visto seus métodos para mitigar
qualquer forma de oposição ou qualquer um que quisesse se opor ao seu governo que
era visto como instável pelo restante do mundo. Internamente havia complicações para
manter a harmonia de interesses – geográficas e religiosas – algumas vezes, essas
complicações eram lidadas de forma diplomática, outras vezes se fazia necessário o uso
da força para garantir a estabilidade do governo sírio, não importando o nível da força
que era empregado, sempre cuidando para garantir que a oposição interna fosse
controlada.
O uso da força de forma descontrolada por sua parte pode ser percebido no
ataque violento provocado pelo seu governo no ano de 1982 contra os próprios cidadãos
sírios protestando na cidade de Hama. Atos como esses fizeram crescer o nível de
descontentamento populacional contra o governo de Hafez, fazendo com que o mesmo
sofresse várias tentativas de ser deposto e, até mesmo, sofrendo ataques contra sua vida.
Com isso, viu-se a necessidade de garantir para que seu filho mais velho, Bassel,
prepara-se para assumir o cargo que por direito era seu, caso algo viesse à acontecer
com seu pai. Mas, tais planos foram frustrados quando seu primogênito, Bassel al-
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Assad, não viria mais a assumir a liderança na Síria por conta de um falecimento
prematuro por causa de um acidente de carro sofrido em 1994. Esse fato acabou
forçando o então jovem Bashar a ser chamado de Londres, onde estava estudando, para
se preparar para o cargo de futuro líder na Síria, sendo referenciado publicamente na
Síria como a “Esperança”.
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O que se sucedeu nos próximos meses foi um aumento no número de ataques
rebeldes, cada vez mais emprenhados em derrubar o governo de Assad, que aos poucos
ganha cada vez mais características de um regime autoritário, os rebeldes focam em se
apossar de terras ao norte e ao leste do país, lançando ofensivas contra Damasco e
Aleppo. O regime de Assad utilizou-se de artilharia, poder aéreo e misseis balísticos
para diminuir o número de áreas mantidas pelos insurgentes, forçando assim a
população a não se manter nessas áreas e diminuir o apoio que os rebeldes estejam
recebendo da população. Apesar do aumento na força usada pelo regime de Assad para,
cada vez mais, tentar acabar com a guerra civil que se instaurou em solo sírio, em 2015
o governo sofreu varias derrotas novamente para os rebeldes, que com o passar do
tempo, foram recebendo auxilio de nações estrangeiras.
Aleppo, a maior cidade na Síria, foi palco de um grande confronto militar entre o
Exército Livre da Síria, outros grupos sunitas tais como Al-Qaeda ( ligada ao Al-Nusra )
e o regime de Assad. Tal conflito teve grande proporção internacional, a batalha foi
marcada por inúmeros atos de violência contra os civis, um número estimado de 21,500
civis mortos desde o início do conflito, escolas e hospitais eram indiscriminadamente
atacados em bombardeios aéreos. Alega-se que os crimes de guerra cometidos, como o
lançamento de bombas de barril em áreas populosas, foram feitos livremente pela Força
Aérea Síria e outros membros das forças armadas, tais artefatos explosivos continuam
sendo usados na luta contra os rebeldes.
A tomada de Aleppo significou um ponto de inflexão na Guerra Civil da Síria, e
a vitória do Regime de Assad era essencial. Assad alegou em uma conferência de
impressa que esse é o “preço” às vezes, mas que no fim todos serão liberados dos
terroristas.
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Nações Unidas. Nós apoiamos exclusivamente estruturas governamentais
legítimas.
Estes são alguns fatores relacionados à história da Síria, de como seu território e
seu povo foram constituídos, como os atuais conflitos se iniciaram e como os rebeldes e
quem os apoia integram o cenário como um todo. Desta forma, com esta breve análise, é
possível entender, pela complexidade dos fatos, porque esta verdadeira Guerra está
longe de ter um fim.
2.4 OS CURDOS
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que: “Meu pais não irá aceitar que grupos terroristas estabelecessem campos na parte
mais ao norte da síria para ameaçar a Turquia”
Os entraves entre os curdos e a Turquia tendem a se intensificar desde o
rompimento do acordo de cessar fogo em 2015, quando um atentado supostamente
realizado pelo ISIS matou 33 ativistas na cidade de Suruq, principal cidade curda,
próxima a fronteira da Síria.
2.5.1 Antecedentes
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Laden. Após sua morte em 2006, dois novos sucessores aparecem, são eles: Al-Masri e
Omar al-Baghdadi; que formaram um grupo alternativo, o Estado Islâmico do Iraque
(ISI).
Em 2010, com o advento da Primavera Árabe – série de revoluções populares e
protestos contra as ditaduras no Oriente Médio e Norte da África – é que o grupo
terrorista começa a ganhar força. É nesse contexto que, já em 2011, os rebeldes
contrários ao governo de Bashar al-Assad inserem a Síria numa grave guerra civil.
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2.5.4 Forma de Expansão
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Atualmente, o Governo Federal realiza a triagem dos sírios por meio do
CONARE – Comitê Nacional para os Refugiados, vinculado ao Ministério da Justiça,
que também reúne segmentos representativos da sociedade civil e das Nações Unidas
(ACNUR). Tem por finalidade analisar e decidir todos os pedidos de refúgio no Brasil,
além de criar normas que esclareçam os termos da lei de refúgio (Lei nº 9.474/97).
Após decisão positiva pelo CONARE, o refugiado levará uma copia do Diário
Oficial para ser registrado junto ao Departamento de Policia Federal e solicitar a Cédula
de Identidade de Estrangeiro (CIE) e o Registro Nacional de Estrangeiros (RNE). Além
disso, o refugiado terá direito a uma carteira de trabalho provisória e adquire os mesmos
direitos de qualquer outro estrangeiro em situação regular no Brasil.
Direitos garantidos aos refugiados devem ser ampliados. Segundo o Deputado
Leonardo Quintão (PMDB-MG) – Coordenador da frente parlamentar para refugiados e
ajuda humanitária, devem-se inserir os sírios nos programas sociais como Bolsa
Família, Minha Casa Minha Vida, SUS entre outros.
Entretanto, deve-se levar em conta que o Brasil passa por um momento de
recessão orçamentária, no qual o Governo Federal, por meio da PEC 241, propõe limitar
o crescimento dos gastos públicos apenas ao aumento da inflação durante 20 anos, a
partir de 2017. Somado a isso, está em andamento no Congresso Nacional a reforma da
previdência pública, visando manter a operacionalidade do INSS. Sobre o ponto de vista
económico, a inserção dos refugiados nos programas sociais tornar-se-ia um paradoxo, a
partir do momento que existem famílias brasileiras que não possuem a correta
assistência do Estado, como um atendimento médico satisfatório pelo SUS ou o
funcionamento básico da rede de ensino pública. Além disso, deve-se considerar o
inchaço da oferta de mão-de-obra qualificada no mercado brasileiro, pois muitos sírios
possuem ensino superior e alguns até pós-graduação. Tais fatores tendem a levar certa
insatisfação à população brasileira. Soma-se a isso, o risco de segurança pública que o
Brasil corre, uma vez que, não há efetiva fiscalização no controle de entrada dos
refugiados, pois não existe um cruzamento de dados de informação da Polícia Federal,
da Interpol e do Itamaraty para a verificação dos antecedentes dessas pessoas. Nesse
ponto, o Deputado Jair Bolsonaro (PSC) posiciona-se contra a entrada dos refugiados no
país, pois proporciona uma porta de entrada aos terroristas. Deve-se ressaltar que não se
pode importar, na nossa cultura, um outro olhar de como se constitui o poder de um
Estado, e a comunidade Islâmica tem feito isso com muita velocidade no mundo.
Nesse sentido, o Governo Federal deve rever as prioridades de atendimento às
necessidades dos refugiados em detrimento da população brasileira, além de intensificar
a fiscalização da entrada de refugiados no país, afim de proporcionar maior segurança
nacional contra o terrorismo.
3 CONCLUSÃO
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provenientes da guerra. Entretanto, a ação desses atores esbarra no entrave da discussão
sobre a soberania dos Estados e, na esmagadora maioria das vezes, o intervencionismo
perde essa guerra para o domínio reservado do Estado, tendo como única via de atuação
a indireta - exceto quando interesses econômicos estratégicos estão em jogo.
Infelizmente, a interferência de países externos tem complicado gradualmente a
situação na região. A ainda existente “Guerra Fria” continua a ocorrer no apoio que
Estados Unidos e Rússia têm demonstrado na Síria e no Oriente Médio como um todo.
A coexistência pacífica entre esses dois pólos de poder sempre esteve como primeira
opção, em especial por ambas possuírem as chamadas armas de destruição em massa.
Nesse sentido a disputa da região sempre se deu por jogo de influência e financiamento
indireto. Vale destacar que o fator geopolítico historicamente mais importante dessa
região é o fato dela ser possuidora de petróleo suficiente para abastecer os países aliados
dessas superpotências, revelando o aspecto econômico por trás da luta pela supremacia
global.
No que diz respeito aos grupos terroristas que se consolidaram na região ao
longo do conflito, é de extrema necessidade salientar que suas ações de horror precisam
parar. Ao deturpar uma crença e preceitos religiosos, muitas pessoas são levadas a esse
tipo de conduta acreditando ser o melhor para si e para a comunidade em que está
inserida. Os meios de articulação de disseminação do pensamento do Estado Islâmico
ultrapassa fronteiras nacionais através das redes de comunicação e, em diversos casos,
diferentes nacionalidades se juntam à essa causa trazendo vulnerabilidade a todos os
países-alvos do grupo. A guerra foi transferida para um novo tabuleiro: as tecnologias
de informação. De fato, o terrorismo agora possui um caráter transnacional.
Com relação ao papel do Brasil, este vem atuando de forma discreta, tendo em
vista a distância geográfica do conflito, mas, principalmente, devido ao posicionamento
pacifista da nossa Constituição Federal. Conforme exposto, vale relembrar que o Brasil
possui um histórico acolhedor de refugiados, o que contribui para a construção de uma
imagem nacional positiva dentro do tabuleiro internacional; identificamos como ponto
de atenção, nesse sentido, o controle de fronteiras e o combate à possíveis ações
terroristas. Por fim, este ensaio acadêmico tratou, em linhas gerais, de fazer uma grande
explanação e revisão sobre a dinâmica das relações políticas, sociais e conflituosas pelas
quais o Oriente Médio e, em particular, a Síria vem passando.
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