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Algoritmos como um devir:

uma entrevista com


Taina Bucher

Carlos d’Andréa
Universidade Federal de Minas Gerais.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Comunicação
Belos Hozironte, MG, Brasil

Amanda Jurno
Universidade Federal de Minas Gerais.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Comunicação
Belos Hozironte, MG, Brasil

§ Parágrafo São Paulo, Brasil, v. 6, n. 1, p. 165-170, jan./abr. 2018 165


CARLOS D’ANDRÉA E AMANDA JURNO

Perguntas, muitas perguntas instigantes. Pa- Eu sempre estive interessada na questão: Como
rece que é usando pontos de interrogação que você conhece algo que não pode acessar ou que
Taina Bucher olha para o “mundo empírico” e tenta você não vê? O que você precisa saber para co-
entendê-lo. Ao interrogar os algoritmos e as dife- nhecê-lo um pouco mais? Durante meu doutora-
rentes formas de conhecimentos a eles associa- do, havia muitos debates sobre a necessidade de
das, nesta entrevista a pesquisadora nos convida se saber, ou não, programar para dizer algo sobre
a olhar com profundidade para esses objetos so- uma tecnologia. Acho que não é a discussão mais
ciotécnicos contemporâneos. Jornalismo, a impor- proveitosa a longo prazo, e não acho que alguém
tância de programar (ou não) e a genealogia do ter- necessariamente precise saber programar para
mo “caixa-preta” são alguns tópicos abordados por poder dizer algo sobre o assunto. Definitivamen-
Taina Bucher em diálogo com autores como Ross te ajuda se você souber programar, mas essa não
Ashby, Alfred N. Whitehead e Annemarie Mol. Atra- é a única maneira de conhecer objetos computa-
vés desta agradável conversa que se deu na cida- cionais como os algoritmos. Eu também encontrei
de de Tartu, na Estônia, durante a Conferência da uma hierarquia intelectual entre “as pessoas que
Association of Internet Researchers - AoIR 2017, sabem” e “as pessoas que não sabem” programar.
somos convidados a assumir um modo de “devir” Eu realmente não gosto dessas afirmações sobre
ao pesquisar os algoritmos, as práticas e as polí- quem sabe mais, ou de forma mais autoritária. Para
ticas associadas a eles. Taina Bucher é professora mim, foi muito útil aprender a programar, mas isso
adjunta do Centre for Communication and Com- não significa que, por causa disso, eu necessaria-
puting, na University of Copenhagen (Dinamarca) e mente saiba como o Facebook funciona. Se real-
autora do livro “IF…THEN: Algorithmic power and mente quisermos seguir esse argumento, também
politics”, lançado em maio de 2018 pela Oxford precisamos saber como o hardware funciona. Nós
University Press. Sua tese de doutorado (Program- precisaríamos saber sobre estruturas de dados,
med Sociality: A Software Studies Perspective on sobre bancos de dados e sobre muitas outras coi-
Social Networking Sites) foi vencedora do prêmio sas. Meus interesses estão nas questões episte-
anual de teses da AoIR em 2013. Em sua pesqui- mológicas: “o que significa conhecer? O que po-
sa, Taina Bucher foca nas mídias sociais e no poder deríamos estar perdendo em nossas tentativas de
dos algoritmos na vida cotidiana, na interseção en- conhecer coisas específicas? Quais estão os limi-
tre os estudos de software, STS e as teorias das tes do conhecimento? Onde estão as fronteiras?”
novas mídias. Para mais informações, visite o site Em um capítulo do meu livro (“IF…THEN: Algorith-
tainabucher.com. mic power and politics”. Oxford University Press,
20181), tentei “desempacotar” a imagem da “caixa-
-preta”. Porque sempre que se entra em discussões
Parágrafo: O principal objetivo da pesquisa que sobre algoritmos ou afirmações semelhantes de
você apresentou aqui, na conferência da AoIR, é conhecimento, as pessoas dizem: “oh, os algorit-
a formulação de um sentido epistemológico dos mos são uma ‘caixa-preta’; portanto, não podemos
algoritmos. Como você está enfrentando os desa- conhecê-los; ou, portanto, é difícil conhecê-los”. É
fios teóricos deste projeto de pesquisa? claro que é difícil, mas para mim, novamente, o inte-
resse está em tentar desempacotá-los. O que real-
Bucher: Há uma questão que realmente me inte- mente significa dizer que algo “é uma caixa-preta”?
ressa: “o que significa conhecer algo que é ‘invisível’,
por definição distribuído, que não é uma ‘coisa’?” 1 Link para o livro: https://global.oup.com/academic/product/
ifthen-9780190493035?lang=en&cc=us

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ALGORITMOS COMO UM DEVIR: UMA ENTREVISTA COM TAINA BUCHER

Parágrafo: Você está fazendo uma espécie de ge- Parágrafo: Como você está articulando autores
nealogia do conceito de caixa-preta, talvez “desen- como Annemarie Mol e Whitehead para estudar os
caixapretando a caixa-preta”? Quais seriam os prin- algoritmos?
cipais autores que já discutiram isso anteriormente?
Bucher: O que é útil para mim está, novamente,
Bucher: Este conceito vem da Cibernética, do início amarrado à noção de uma “caixa-preta”. Porque se
da Ciência da Computação. As pessoas tinham que você olhar para algo por uma perspectiva relacio-
tornar suas tecnologias “caixas-pretas”, caso con- nal, não há caixa e ela não é nunca só preta. Assim,
trário seus inimigos na Segunda Guerra Mundial se- torna-se um pouco difícil ou impossível operar com
riam capazes de decodificar seus sistemas. Então, a afirmação de que “algoritmos são ‘caixas-pretas’”.
a tecnologia crucial era na verdade “encaixapretada” Com Whitehead5, acho útil pensar em um algoritmo
para não se perder a guerra. Como muitas outras nunca como uma ‘coisa’, mas como uma fotogra-
tecnologias computacionais, o termo tem uma ge- fia temporária da “coisa” naquele momento. Então,
nealogia militar. Na Ciência da Computação, tornar ele diria que, seja lá o que for a “coisa”, ela está “se
a complexidade mais palpável é uma necessida- tornando”. Eu estive pensando sobre o porquê de,
de. Mas então esta se torna uma metáfora para agora, tantas pessoas estarem interessadas em
tudo, tudo é uma “caixa-preta”... atualmente, “cai- Whitehead de novo, e acho que é porque a filosofia
xa-preta” é apenas um sinônimo para tudo que é do processo ressoa com coisas que estão tão mu-
desconhecido, tudo que pode ser ou deveria ser dando o tempo todo. Um algoritmo ou sistema de
escondido, como segredos comerciais. Para mim aprendizado de máquina é, por definição, não uma
foi muito útil ler o artigo do Peter Galison “The “coisa”, é sempre um devir (em inglês, ‘a becoming’).
ontology of the enemy: Norbert Wiener and the Para mim, essa noção de devir é bastante útil, por-
cybernetic vision2”. E, quanto à cibernética, W. que é também um ponto metodológico que, seja o
Ross Ashby escreve diretamente sobre a “caixa- que for que estudemos, trata-se de algo em seu de-
-preta”3... E então, claro, Bruno Latour escreve vir. Então, não estamos fazendo afirmações sobre o
sobre “caixa-preta” e “encaixapretamento” como algoritmo do Facebook ou o algoritmo do YouTube
um conceito. Para Latour, tudo é uma espécie de porque, seja para o que for que estivermos olhando,
“caixa-preta”, porque tudo esconde a sua própria será uma atualização de diferentes tipos de rela-
fabricação, sua ontologia em rede4. Ele usa uma ções que se juntam ali para então moldar essa rea-
antiga visão heideggeriana sobre “se a tecnologia lidade. Para mim, em termos de ontologia, essa tem
quebra, então você vê como ela funciona”. Para sido uma maneira útil de pensar sobre o que são
ele, é aí que o conceito de “caixa-preta” é útil. Ale- os algoritmos. E então, é claro, isso se encaixa em
xander Galloway também escreveu sobre a his- questões epistemológicas. Sobre Annemarie Mol,
tória e a epistemologia da “caixa-preta” de uma fiquei bastante fascinada pelo seu livro “The Body
maneira muito útil. Assim, Galison, Ashby, Latour e Multiple”6. Há milhões de coisas para se dizer sobre
Galloway seriam um bom começo para se pensar ele... Ela escreve de uma forma muito interessante,
sobre a genealogia do conceito. o livro tenta romper com limites acadêmicos muito
2 Artigo disponível em www.jstor.org/stable/1343893. 5 Alfred North Whitehead (1861-1947) foi um matemático,
Accessed 9 mar. 2018. lógico e filósofo britânico mais conhecido pelo seu trabalho
3 Por exemplo, ver o capítulo 6 do seu livro “An Introduction to sobre lógica matemática e filosofia da ciência.
cybernetics”, publicado pela primeira vez em 1956. 6 Annemarie Mol é professora de Antropologia do Corpo na
4 Entre outros, ver o livro do Latour “Ciência em Ação”, Universidade de Amsterdã e uma importante pesquisadora no
publicado pela primeira vez em 1987 pela Harvard University campo de TAR/STS. Seu livro “The Body Multiple: Ontology in
Press, em inglês. Medical Practice” foi lançado em 2003 (Duke University Press).

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CARLOS D’ANDRÉA E AMANDA JURNO

rígidos e se envolver com o mundo através, também, importante. Quando falamos sobre accounta-
da escrita. Por ela ser uma antropóloga, tem essa bility algorítmica, transparência, discriminação,
inserção a longo prazo em um espaço onde pode parcialidade, etc., nós estamos muito obceca-
contar aquela história de uma maneira muito con- dos em encontrar a origem certa de culpa, a ori-
vincente. Sobre seu pensamento, tem sido muito gem da ação. Nós ainda precisamos compreen-
útil pensar no corpo, e especificamente nas doen- der as responsabilidades. Ao perguntar “quando”
ças, como tendo diferentes realidades, múltiplas alguma coisa acontece ou “quando” uma agência
realidades. O que estou achando inspirador é essa é tornada mais ou menos disponível, não é para
ideia do múltiplo; até que ponto nós estamos estu- nos livrar de responsabilidades, mas para reco-
dando a mesma “coisa”, os mesmos fenômenos? En- nhecer que nem sempre importa “onde” a agên-
tão, eu também estou pensando no algoritmo como cia está, certo? Porque eu não acho que pode-
múltiplo. O que é o algoritmo do Facebook? É uma mos necessariamente chegar à origem certa.
“coisa” ou é apenas um nome? Isso significa coisas O que importa é o tipo de trabalho envolvido
diferentes? Na verdade, o algoritmo é tecnicamente para fazer com que essas origens certas apa-
bastante distribuído, mas também é muito distribuí- reçam como tais em primeiro lugar. Com carros
do socialmente. Ele vive diferentes tipos de vidas. E autônomos, por exemplo, não tenho certeza se
nós precisamos ser bem específicos sobre qual tipo estamos realmente resolvendo o problema ao
de vida em contexto que estamos falando. É aí que insistir em ir ao carro, ao fabricante do carro, à
o trabalho dela está sendo bastante inspirador, mas pessoa ou a um sistema… Pode ser mais cons-
também os estudos de John Law, especialmente o trutivo e, na verdade, mais prático olhar para
livro sobre as histórias das aeronaves7. Ele constrói “quando” alguém ou alguma coisa é tida como
o mesmo tipo de argumento, ele conta histórias di- mais ou menos provável como origem da ação.
ferentes sobre esse único objeto e teoriza de uma O tipo de trabalho que disponibiliza a origem
forma muito semelhante como sendo, na verdade, das ações é político, assim, acho que podemos
múltiplos objetos. aprender muito a partir dessas práticas. Quem
quer colocar a culpa em alguém? Por exemplo,
Parágrafo: Você fala que seu foco não está olhe para o Facebook ou o Google: sempre que
em “onde” a agência está localizada, mas em algo dá errado, o seu discurso é muito estra-
“quando”. Isso está relacionado à abordagem tegicamente construído... Mas o que está em
que enfatiza a performance dos algoritmos, jogo quando o Facebook ou o Google, em uma
certo? E parece ter algo a ver com a neces- dada situação, dizem “é apenas culpa dos al-
sidade de descobrir onde ou quem é o res- goritmos, nós não fizemos nada”? E, às vezes,
ponsável quando algo errado acontece. Se a é como: “Sim, você sabe, foi isso… Não culpem
agência dos algoritmos é distribuída, talvez os nossos programadores”. Há uma ignorância
seja impossível descobrir quem fez o quê em formal estratégica envolvida, usa-se o não-co-
relação a alguma coisa... nhecimento de forma muito estratégica. Isso
que está em jogo, então, para mim, é bastante
Bucher: Certamente, e essa é a razão pela qual interessante perguntar “quando” essas origens
eu acho a questão do “quando” particularmente ou esses elementos são mobilizados, e “para
7 Referência ao sociólogo John Law, um dos principais
quem”. Eu também acho interessante pensar-
proponentes da Teoria Ator-Rede, e seu livro “Aircraft Stories: mos por que estamos incomodados em deter-
Decentering the Object in Technoscience”, publicado em 2002 minados momentos, quando não estamos em
pela Duke University Press.

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ALGORITMOS COMO UM DEVIR: UMA ENTREVISTA COM TAINA BUCHER

outros. Há coisas que talvez nós não estamos a ter informações mais personalizadas, mais
discutindo. Nós tendemos a falar sobre algu- em tempo real, elas se acostumaram a mais
mas das mesmas coisas. Então, para mim, é curadorias de informações e assim por dian-
interessante perguntar “quando” falamos delas te. E, é claro, também há o dinheiro de pu-
e “de que forma” elas tendem a emergir. Porque blicidade para as organizações jornalísticas.
elas só importam às vezes. Eu estou interessa- Plataformas de mídia como o Google, o Fa-
da nesses “às vezes”. cebook e o Twitter se tornaram concorren-
tes. As organizações jornalísticas não estão
Parágrafo: Você tem alguns trabalhos recentes mais competindo com outros jornais nacio-
sobre jornalismo e algoritmos. Hoje, é realmen- nais, seus principais concorrentes são agora
te desafiador para as instituições jornalísticas as empresas de tecnologia. Esta nova reali-
lidar com todos os tipos de mediações algo- dade existe há pelo menos cinco anos, mas
rítmicas, porque elas enfrentam as mediações esses tipos de preocupações e discussões
tradicionais de jornalismo. Como essas pes- estão apenas se intensificando. Eu achei
quisas empíricas dialogam com suas questões que esse seria um momento oportuno para
mais amplas? estudar a espécie de “impacto” desses novos
tipos de sistemas sociotécnicos. Talvez em
Bucher: Eu estava pensando: “onde os al- cinco anos isso seja esquecido ou as pesso-
goritmos são importantes? Em que tipo de as não consigam chegar ao centro da contro-
contextos eles desafiam organizações de vérsia. Mas agora ela está acontecendo, en-
trabalho existentes, seus modos de pensar, tão é um excelente momento para ver quais
seus sistemas de valores?” Há, naturalmen- são as preocupações. Eu visitei algumas or-
te, o setor financeiro onde os algoritmos são ganizações jornalísticas e conversei com jor-
imensamente importantes, e há também o nalistas e editores, observei a sua rotina de
comércio, a biotecnologia e as ciências du- trabalho. Falei com os programadores sobre
ras. Mas, vindo do campo de mídias e comu- essas mudanças e sobre o que eles acham
nicação, eu também estava vendo que os al- que está acontecendo. Muitas dessas orga-
goritmos importam para o jornalismo e para nizações também estão desenvolvendo seus
as organizações jornalísticas. E, então, eu próprios sistemas. Assim você não precisa
me interessei em olhar para como a tecnolo- necessariamente ir ao Facebook e estudar
gia funciona. Qual é o papel dos algoritmos? como o código é feito, mas você pode ir às
Qual tipo de trabalho os algoritmos fazem? organizações jornalísticas. Estou falando
Eu queria olhar para a materialidade, para os apenas sobre o contexto escandinavo, e eu
usuários, para as práticas de trabalho e ver me concentrei um pouco mais em olhar o de-
como eles importam. É bastante útil entrar senvolvimento interno dos algoritmos e dos
em contextos muito concretos, sobre como sistemas. A maior preocupação é realmente
as organizações jornalísticas lidam com al- em como concorrer sem perder sua integri-
goritmos, métricas e análise de dados. Os dade jornalística. Como você pode se orien-
leitores têm novas demandas e expectativas. tar por uma lógica algorítmica no Facebook,
As organizações jornalísticas tiveram que sem perder a credibilidade, os valores jor-
lidar com o fato de que as pessoas apenas nalísticos? Existe um equilíbrio entre o que
usam as redes sociais. Elas se acostumaram realmente funciona e como isso é negocia-

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CARLOS D’ANDRÉA E AMANDA JURNO

do no dia a dia. Eu encontrei muitas pesso-


as debatendo-se com a melhor forma de se
orientar estrategicamente pela lógica de ou-
tros e em como ser mais esperto para usá-la
em benefício próprio, mantendo aquele valor
jornalístico. Isso é muito interessante para
mim. Como isso é negociado? Isso é possí-
vel? Que tipo de compromissos as organi-
zações jornalísticas assumem nesse jogo?
Elas perdem? Elas encontram novas formas
mais inteligentes e bastante produtivas para
lidar com isso?

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