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RESUMO
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¹ Jacqueline Lima de Almeida, Enfermeira (Centro Universitário de Belo Horizonte- UNIBH, Belo
Horizonte MG, e aluna do curso de Especialização em Urgência e Emergência Grupo Uninter).
² Elaine Rossi Ribeiro, Enfermeira Doutora em medicina, docente e orientador de TCC do Grupo
Uninter.
INTRODUÇÃO
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O Enfermeiro se tornou um dos principais profissionais responsáveis pela
introdução do atendimento humanizado na assistência ao portador de transtornos
psiquiátricos, direcionando a assistência e orientando os familiares quanto à forma
de lidar com a doença (CARRARA, et al; 2015).
O presente estudo vem responder à seguinte questão: qual a importância do
atendimento humanizado ao paciente portador de transtornos mentais em crises
psiquiátricas?
Este estudo vem trazer uma nova reflexão sobre a necessidade de mudanças
no processo de trabalho do profissional Enfermeiro, sendo ele o responsável pelo
treinamento e capacitação dos técnicos em enfermagem que atuam diretamente na
assistência das urgências psiquiátricas. Compreendendo a importância do
atendimento humanizado e qualificado da assistência de enfermagem em
atendimentos de urgências e emergências psiquiátricas, reconhecendo que o ser
humano é especial e singular, não se esquecendo de que o atendimento
humanizado está ligado aos valores, à ética, e ao respeito aos direitos dos usuários
e seus familiares, que recorrem aos serviços de urgências.
Mesmo com a sobrecarga de trabalho vivenciada pelos profissionais de
saúde, o atendimento deve ser acolhedor e humanizado, respeitando a integridade
do ser humano, ampliando o conceito de saúde e trazendo uma nova conquista no
processo do cuidar. Este artigo tem como objetivo geral mostrar a importância da
humanização nos cuidados prestados ao indivíduo que necessita de atendimento de
urgências e emergências psiquiátricas, quebrando o paradigma e o preconceito
vivenciados no momento do atendimento do portador de transtornos psiquiátricos. A
fim de contribuir com a transformação do modelo assistencial oferecido nos
atendimentos de urgências e emergências psiquiátricas.
METODOLOGIA
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Foram encontrados 35 artigos sendo utilizados 11, os artigos utilizados foram
publicados entre os anos de 2002 a 2015. Foram também pesquisados capítulos de
livros de acordo com o tema apresentando, sendo utilizados onze artigos e três
livros todos em português.
A revisão da literatura auxilia para o aprofundamento e conhecimento do tema
a ser explorado, com isso fundamentou-se metodologicamente esta pesquisa.
De acordo Gil (1991), as pesquisas descritivas vão além da simples
identificação da existência de relações entre as variáveis, pretendendo determinar a
natureza dessa relação. E mesmo com a existência de pesquisas definidas como
descritivas a partir de seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma
nova visão do problema, levando a uma aproximação das pesquisas exploratórias.
REFERENCIAL TEÓRICO
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indivíduos apresentam TM graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas e
12% necessitam de atendimento especializado (SANTOS e SIQUEIRA, 2009).
REFORMA PSIQUIÁTRICA
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visto como perigoso e incontrolável e que não podia viver inserido na sociedade
(RANDEMARK et al; 2003).
Na historia tradicional da psiquiatria a loucura descrita nos apresenta
supostas origens de uma loucura imemorial (grega, quiçá egípcia.), Foucault nos
apresenta uma loucura ocidental posterior ao Renascimento. No período da
antiguidade clássica, até a era cristã, a loucura era vista sob os olhares: para
Eurípedes a loucura era tida como uma concepção passional ou psicológica,
segundo Homero a loucura tinha influencias mitológico-religiosa, já para Hipócrates
e Galeno com as disfunções somáticas (RAMMINGER, 2002).
Na idade média o motivo da loucura passou a ser de origem de possessão
diabólica, na qual o diabo se apossava do corpo da pessoa por vontade própria ou a
pedido de alguma bruxa através de rituais espirituais, fazendo com que o demônio
alterasse a percepção e emoções das pessoas (RAMMINGER, 2002).
Em 6 de abril de 2001 foi sancionada a Lei de Saúde Mental Lei 10.216,
sendo aprovada pelo Congresso Nacional, se torando uma grande vitória no âmbito
da saúde no Brasil. Com a promulgação da Lei 10.216 de 2001, que dispõe sobre a
proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, o modelo
assistencial passa a sofrer uma nova transformação na assistência que estabelece
uma gama de direitos às pessoas portadoras de transtornos mentais (BRASIL,
2011).
A Lei estabelece que todo tratamento tenha a finalidade de reinserção social
do paciente ao seu meio. E que todo tratamento em regime de internação seja feito
de forma integral, com atividades de lazer e ocupacionais. Proíbe a internação em
instituições que tenham características asilares e desprovidas de recursos para
oferecer atendimento de qualidade (BRASIL, 2011).
Para Bezerra (2007), a reforma psiquiátrica é um processo muito mais
complexo que desfazer uma cultura manicomial. Consiste em construir novas
práticas do cuidado, além de compreender que o ser humano mesmo com suas
limitações é aquele que pensa, sonha, sofre e deseja permanecer inserido na
sociedade. Segundo o autor, é necessário reinventar a própria sociedade em que
vivemos a fim de que as mudanças sejam alcançadas, configurando um novo tempo
e uma nova maneira de vida para aqueles que sofrem desse mal.
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Através da reforma psiquiátrica surgiu um novo conceito de saúde mental,
estreitamente associada a um processo de adaptação social, esse conceito veio a
construir um novo significado para a psiquiatria. Essa nova concepção esta ligada a
dois aspectos importantes: afastar a figura medica da doença e demarcar o campo
das praticas e saberes que não se restringem a medicina e aos saberes psicológicos
tradicionais (TENÓRIO, 2002).
A desinstitucionalização propõe o resgate da cidadania, respeito aos direitos
humanos e liberdade sem opressões, reduzindo a longa permanência em hospitais
psiquiátricos, direcionando os tratamentos para redes de atenção especializadas. A
reestruturação da assistência é tida como um processo complexo dependendo muito
da mudança de cultura e valores hoje inseridos após a reforma psiquiátrica.
Essas conquistas foram garantidas através de muitas lutas e reinvindicações
dos trabalhadores da saúde mental, bem como os grupos sociais organizados em
busca de melhorias da qualidade de vida dessas pessoas, baseado na reabilitação e
reinserção social (FRAGA; SOUZA; BRAGA; 2006).
CRISES PSIQUIÁTRICAS
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O TM é uma doença que acarreta prejuízos globais afetando o desempenho
pessoal, social e familiar. É de dimensão universal, atinge pessoas de todas as
idades, causando incapacitação grave e definitiva que aumenta a demanda nos
serviços de saúde, além do alto custo social e econômico (SANTOS e SIQUEIRA,
2009).
Os serviços de urgência e emergência psiquiátricas são destinados ao
atendimento em que os indivíduos apresentam situações de atendimento imediato,
podendo ser em unidades hospitalares ou pré-hospitalares. O atendimento é
realizado por profissionais treinados que realizam procedimentos de estabilização do
quadro clinico do individuo.
Para Santos (2011), o atendimento pré-hospitalar proporciona ao portador de
TM a reabilitação psicossocial e sua reinserção a sociedade, de maneira que ele
possa receber um atendimento integral incluindo uma equipe multidisciplinar
preparada para prestar atendimento individual de acordo com sua necessidade,
além do apoio dos familiares e sociedade.
Os pacientes com crises psiquiátricas são atendidos em unidades
especializadas, que incluem desde os ambulatórios de saúde mental a centros de
atenção psicossocial (CAPS), hospital dia, serviços de urgências e emergências
psiquiátricas e serviços de residências terapêuticas (MIELKE et al., 2009).
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O autor também afirma que com a modernidade em que vivemos hoje, as
relações humanas se perderam, pois a perda da ética e valores sociais interage para
isso, tornando as pessoas individualistas, pensando somente em si próprias e não
no coletivo. Assim, a humanização é desenvolvida pelos próprios trabalhadores em
saúde.
O grande desafio talvez esteja na necessidade de desenvolver profissionais
que tenham interesse legitimo pelo paciente, se tornando uma tarefa nada fácil nos
dias atuais, prevalecendo o individualismo e o jeito narcísico de ser das pessoas,
inclusive na própria formação acadêmica dos profissionais de saúde (RIOS, 2009).
O enfermeiro tem papel fundamental na assistência humanizada já que ele é
responsável pelo comando de sua equipe, sendo o principal observador e avaliador
da assistência prestada, direcionando sua equipe aos caminhos que levam ao
respeito, ética e cuidado ao próximo com amor e dignidade (RIOS, 2009).
Muitas vezes o profissional de enfermagem não esta habilitado para oferecer
um atendimento satisfatório e de qualidade, porém, mesmo diante destas
dificuldades, a equipe de enfermagem está sempre ao lado do paciente para ouvi-lo
e atendê-lo (RIOS, 2009).
A enfermagem deve ter conhecimento da importância da humanização
inserida no momento da assistência prestada ao cliente portador de transtornos
mentais, tendo uma visão mais ampla de suas necessidades a fim de promover uma
assistência integral e que promova a sua reabilitação à vida social (RIOS, 2009).
Para Rocha e Carvalho (2007), os profissionais de enfermagem devem estar
em processo contínuo de educação, por ser uma profissão que está constantemente
ligada na promoção, proteção e recuperação do individuo enquanto doente.
É importante que o enfermeiro possa ter a consciência de uma nova história
em que o paciente psiquiátrico não é mais visto com preconceitos ou estigmas,
contribuindo para que o paciente possa continuar lutando por uma vida mais digna,
promovendo a cidadania e a inserção social (CANABRAVA et al., 2011).
Até a década de 60, o processo de trabalho da enfermagem na saúde mental
visava à contenção do comportamento dos pacientes psiquiátricos. Sua assistência
esteve marcada pelo modelo controlador e repressor, oferecendo um atendimento
sem qualidade focado na doença e não no doente (OLIVEIRA e ALESSI, 2003).
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A psiquiatria hoje vive um novo momento, com a incorporação de novos
princípios e um novo modelo de atendimento clinico assistencial e interdisciplinar,
superando as perspectivas disciplinares de suas ações, direcionando a assistência
de enfermagem para novas práticas do cuidar (OLIVEIRA e ALESSI, 2003).
Muitas vezes os profissionais de saúde prestam um atendimento frio e sem
empatia, favorecendo assim o distanciamento do paciente ao tratamento oferecido,
esquecendo-se de que a enfermagem tem papel fundamental na reabilitação
psicossocial destes indivíduos, assim como proporcionar sua reinserção a
sociedade. (REIS; MARAZINA; GALLO, 2004).
Com a reforma psiquiátrica, o atendimento de enfermagem modificou a forma
de atender os pacientes, atuando com atitudes de respeito e dignidade, conhecendo
o sujeito e sua singularidade. Assim a enfermagem encontrou um novo caminho de
expressar o seu real objetivo, transformando o modelo assistencial já existente em
um modelo que reabilita e prepara o ser humano para uma nova vida.
A enfermagem contribui para que as pessoas busquem um caminho que lhes
dêem sentido do cuidado de si mesmas, resgatando a essência do cuidado com o
ser humano, contribuído para que a ciência e arte de enfermagem imperem através
da compreensão de que a vida é repleta de sentidos, e que a partir dessa
compreensão possam transcender dentro de si a sua importância no meio em que
vivem (SILVA et al.,2005).
Segundo Boff (1999), “O Cuidado somente surge quando a existência de
alguém tem importância para mim. Desta forma passo meus dias a dedicar-me a ele;
disponho-me a participar de seu destino, suas buscas, seus sofrimentos, seus
sucessos, enfim de sua vida”. A compaixão pelo próximo nos garante a humanidade
ao ser humano tornando a existência do outro muito mais importante para nos como
pessoas e profissionais.
Ao analisar a reflexão de Foucault, (2004), pude entender que só a
curiosidade nos permite novos conhecimentos, nos permite olhar a vida com um
olhar diferente do que somos acostumados a enxergar, suas palavras nos faz
refletirmos sobre a forma de pensarmos nos fazendo donos das nossas ações.
O exercício do pensamento nos leva a caminhos desconhecidos, jamais
vivenciados, nos permitindo escolher qual a melhor forma de conduzirmos a vida.
Assim a reflexão se faz presente em nosso meio profissional, se estamos
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preparados para o desconhecido se nossas praticas assistenciais tem sido efetivas,
se devemos estar mais preparados buscando o conhecimento daquilo que é
diferente aos nossos olhos.
“O motivo que me impulsionou é muito simples. Para alguns, espero que ele
baste por si só. É a curiosidade; o único tipo de curiosidade que, de
qualquer forma, vale a pena ser praticada com um pouco de obstinação:
não aquela que busca se assimilar ao que convém conhecer, mas a que
permite desprender-se de si mesmo. De que valeria a obstinação do saber
se ela apenas garantisse a aquisição de conhecimento, e não, de certa
maneira e tanto quanto possível, o extravio daquele que conhece? Há
momentos na vida em que a questão de saber se é possível pensar de
forma diferente da que se pensa e perceber de forma diferente da que se vê
é indispensável para continuar a ver ou a refletir” (FOUCAULT, 2004a, p.
196-7).
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A inclusão da família e sociedade no tratamento dos portadores de
transtornos mentais constitui um novo problema que necessita ser acompanhado
pelos agentes institucionais de saúde, devido à sobrecarga emocional vivenciadas
pelos familiares, que muitas vezes não dispõe de condições para lidar com a
responsabilidade imposta, além da carência de suportes institucionais que não
oferecem amparo para o enfrentamento do problema. (RANDEMARK; JORGE;
QUEIROZ, 2004).
A falta de capacitação dos familiares e profissionais de saúde trouxe
dificuldades no processo de cuidar, sobrecarregando os setores de especialidades
psiquiátricas, que não estavam preparados para a grande demanda gerada com
inicio da reforma psiquiátrica (CARRARA, et al; 2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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DELGADO, P. G.; SCHECHTMAN, A.; WEBER, R.; AMSTALDEN, A. F.;
BONAVIGO, E.; CORDEIRO, F. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no
Brasil. In: MELLO, M. F.; MELLO, A. A. F.; KOHN, R. (Orgs). Epidemiologia da
Saúde Mental no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 39-83.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991.
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RANDEMARK, N. F. R.; JORGE, M. S. B. J.; QUEIROZ, M. V. O. A Reforma
psiquiátrica no olhar das famílias. Texto & Contexto Enfermagem. Santa Catarina, v.
13, n. 4, p. 543-550, out. dez. 2004.
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