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Esse trabalho consiste em uma articulação propiciada pelo curso de Residência

Multiprofissional em Saúde Mental pela UERJ.


A Reforma Psiquiátrica Brasileira não se produz sem uma incontestável heterogeneidade
discursiva. O campo de sua práxis tem um estatuto por excelência multideterminado e complexo.
E, por isso mesmo, supõe um paradigma de transversalidade e, de reflexividade (AMARANTE,
2011). Consequentemente, para nos pronunciarmos a respeito da lógica do tratamento na Atenção
Psicossocial, que é o interesse principal deste texto, colocamo-nos em diálogo com diferentes
tradições e posicionamentos. Entendemos que conforme variam os operadores manejados
teoricamente, também varia a forma de estruturar as posições distribuídas no que convencionou-
se chamar de cuidado. Costa-Rosa ( ) sustenta que ao abordarmos as coordenadas das posições
dos atores na clínica tratamos de uma questão ética.
Outros interlocutores, como Costa (1996), em um breve texto provocativo, identificam
tipos ideais de éticas que considera pregnantes na prática psiquiátrica. O que interessa para que
percebamos a radicalidade que o remanejamento de concepções introduz na clínica. Costa elenca
os seguintes paradigmas éticos da psiquiatria: Ética tutelar, Ética da interlocução e Ética da ação-
social. As três são consideradas por Costa-Rosa (2011) um conjunto reunido em torno do que
chama éticas disciplinares. Varia-se entre elas a definição daquele que é o “sujeito tratado”: como
objeto;, indivíduo privado ou como ser político, respectivamente. Para cada qual, uma tese do que
seria o sofrimento tratado e uma ideia de causalidade.
Na ética tutelar a causalidade fisiológica – o sofrimento é um produto de reações físico-
químicas – imprime suas consequências. O indivíduo é destituído de razão/saber e, por isso,
irresponsabilizável juridicamente. A ética da interlocução formula um indivíduo de moral
privada, objeto maior do que Costa (ibid) chama vocabulário psicológico –, em no que estamos
em concordância. Acrescentamos que trata-se aí de uma lógica da intersubjetividade e de uma
ideia em conformidade com o indivíduo do neoliberalismo, em que se acentua a autodeterminação
e a vontade própria. O último tipo definiria um sujeito de direitos, que suporia supõe um campo
de intervenção em que os agentes e objetos da ação são “companheiros de [uma] viagem” (Costa,
1996) que consistiria na ação sobre o instituído. Formatted: Font: 11 pt, Font color: Black

Com o pretexto de “estar o mais próximo da Terra”, o autor parece advogar um manejo
pragmático dos diferentes paradigmas. Entende que o critério sensível que nos daria uma “ética
mais geral” (p.32) – a ética dos cuidados – é assim formulável: “Nada do que você faça pode
atentar contra a integridade física e moral de seu semelhante”. Não seria preciso considerar a
delicadeza da definição de semelhante em sua relação com a de próximo, como o faz Julien
(1996), bastaria recorrer à história do exercício do poder psiquiátrico para ter ideia dos riscos
desse pragmatismo.
Costa-Rosa encontra em Ferreira (2000) uma tentativa de aproximação da discussão ética
à Saúde Mental, com sua proposição nomeada ética do cuidado. Esta é, para seu autor, uma busca
de superação do modelo médico. A pedra angular da superação seria a compaixão, como base do
“inclinar-se” sobre alguém em sofrimento. Para Costa-Rosa o recurso a que apela Ferreira
reafirma o princípio dos paradigmas que visa criticar: a colocação do outro como objeto e a não
instauração de um lugar para o advento do sujeito.

“É inequívoco que, nesse modo de Atenção, se continua no registro do gozo


excessivo e angustioso; pois, para ser ético, o tratamento deve repetir
especularmente a angústia do sujeito no terapeuta. Um gozo excessivo por
identificação para a promoção moral do cuidador.” (COSTA-ROSA, 2014)

Costa-Rosa continua, aproximando sua análise de um problema estrutural:

“Parece que essa lógica compassiva é colocada como ética na medida em que
também falta a crítica aos modos de produção da Atenção e falta ver que essa
“degradação” dos agentes profissionais tem fatores estruturais, decorrentes de
sua própria formação como trabalhadores de um campo específico, que se
somam aos eventuais fatores pessoais, resultando na soma de cinismo,
displicência e mesmo indiferença com que vários deles tratam pessoal e
eticamente os sujeitos do sofrimento que se dirigem a eles em busca de ajuda.”
(COSTA-ROSA, 2014)

Com efeito, Para Costa-Rosa, portanto, Ferreira tenta argumentar em favor de uma
alteração dos paradigmas éticos disciplinares incidindo sua crítica nos agentes e, com isso, Formatted: Font: Italic

desconsiderando a estrutura que distribui os lugares a serem ocupados nos modos de Atenção.
O outro problema aberto por Ferreira reside na proposição de identificação do trabalhador
com o outro.
Ao Para nós o problema consiste em que
ao propor a própria castração e a superação da indiferença pelo outro como direção para a Atenção
toca-se no que para nós é o cerne do problema, mas a solução proposta só faz reatualizá-lo.ar o
problema Costa-Rosa (2011) o percebe quando diz: “por não poder se
separar da ideia de um Outro infalível, pode-se aca-
bar posando de grande Outro cuidador.” (p.749)
O problema não é o outro senão a transferência e suas implicações com relação à estrutura
de um tratamento. Costa-Rosa dá um importante passo no entendimento dos processos de
produção de cuidado na APs ao mostrar como a teoria dos discursos de Lacan permite elucidar o
funcionamento do cuidado de acordo com a disposição desses lugares e articulações aí
envolvidos.
Continuando seu argumento diríamos que o problema não é qual modelo ético adotar
conforme as circunstâncias – como parece sugerir Costa – senão que a orientação ética que
imprimimos produzirá um campo determinado de possibilidades no qual ocorre o tratamento, ou
mais acertadamente, que é o tratamento. Isto é, deve-se considerar o quanto a oferta (de um
dispositivo de tratamento) é tributária de uma articulação prévia – dos agentes, de sua relação
com o outro e, principalmente, dos modos possíveis de subjetivação – e que, por isso, condiciona
de tal maneira as demandas possíveis e sua elaboração que a aposta nesse tipo de pragmatismo
fica envolvida por uma trama inconciliável.
A discussão introduzida por Costa-Rosa fornece o que entendemos como o eixo de uma
proposição ética para a Atenção Psicossocial: a colocação do sujeito como orientador da clínica.
Essa colocação, conforme seus termos, exige: a situação do “sujeito do sofrimento” na posição
de principal produtor de subjetividade e “a negação da identificação como solução”. Nosso
propósito é contribuir com essa articulação, assim como Costa-Rosa, recorrendo à psicanálise
para estabelecer uma lógica que habilite operar essa proposição.
A interlocução com o autor acima referido será produtiva para traçarmos outras questões.
Para ele o eixo da lógica do tratamento na APs reside em que o intercessor – que é como nomeia
o trabalhador da APs – opere com a suposição de saber, dentro do discurso do analista. Vejamos,
aqui:
Esse saber, inicialmente vislumbrado pelo indivíduo como pertencente ao
outro que escuta, é, entretanto, o único que pode operar a cura. Mas para que
isso ocorra é necessário que o intercessor, que é colocado no lugar do mestre
supridor, seja capaz de aceitar que a suposição de seu poder-saber é
consequência da posição de alienação daquele que sofre” (Costa-Rosa)
E aqui:
A instituição e seus agentes devem apresentar-se e funcionar como espaço de
interlocução e instância de 'suposto-saber'; sustentar desde o primeiro
encontro com a clientela, a oferta de um tipo de possibilidade transferencial
compatível com a ética da singularização. (Outro texto)

O que para ele confere a possibilidade de singularização é, com efeito, que haja suposição
de saber do lado daquele que demanda. E o que chama mais atenção é que não só a suposição de
saber é suposta àquele que demanda, como há uma proposta em Costa-Rosa de que a instituição
se organize e funcione, desde o princípio, como uma instância da suposição de saber. Tendo
estabelecido as coisas nesses termos, o autor recorre a uma leitura da teoria dos discursos de Lacan
para estruturar sua proposição. A chave de sua proposição reside na operação de passagens do
discurso da histeria ao discurso do analista. Eis a operação lógica que instaura o sujeito no lugar
daquele que trabalha, ou, aquele que “produz subjetividade” (Costa-Rosa) na APs: a -> $.
Consideramos que antes dessa proposição é preciso realizar outro trabalho preliminar. É
possível que trabalhemos segundo essa lógica, conquanto nosso ato esteja em função de uma
distinção clínica.
Em Alfredo Zenoni (Clinique Psychanalytique???) também encontramos o esforço por
definir uma prática institucional orientada pelo sujeito. Segundo o autor há uma completa
reorientação da discussão quando efetivamente a pergunta por “quem são eles [os sujeitos da
clínica]” se coloca antes daquela “quem somos nós”. Suas contribuições sublinham algumas
diferenças que servirão de parâmetro para nós. Primeiro, estabelece o risco em que consiste um
projeto terapêutico ocupar o lugar de centralidade da clínica do sujeito, fazendo com que a
discussão acerca da nossa identidade ocupe e suprima o lugar da construção em torno do sujeito.
São os ideais e propósitos terapêuticos que guiam a práxis. É basicamente o que vimos dizendo
acima.
O segundo problema é que nos acrescenta algo. Concerne à mudança que, ao colocar o
sujeito em posição central na atenção, é exigida pelas diferenças estruturais clínicas. Isto é, as
diferenças quanto à relação do sujeito com o Outro determinam modos completamente diferentes
de conceber o trabalho. Que haja diferença radical entre modalidades de demanda e histórias
subjetivas não permite, portanto, realizar uma exposição genérica do método e da finalidade da
instituição (Zenoni). Portanto, seguir uma orientação psicanalítica tem como pressuposto que
estabeleçamos a interrogação quanto às estruturas clínicas na base mesma de nossa práxis. Do
contrário podemos incorrer no uso de uma noção de sujeito genérico ou, como diz Zenoni, um
“sujeito psiquiátrico médio”.
A consequência de uma orientação pelas diferenças estruturais é o estabelecimento de um
trabalho preliminar, não só para a abertura do tratamento, mas teórico, para nós. Para situar o
modo de produção do sujeito é preciso considerar a estruturação da resposta ao Outro. Mas o que
isso implica com relação ao problema da produção do sujeito? Quando falamos em estrutura em
quê estamos abordando o problema do sujeito? Essa questão requer algumas distinções quanto à
concepção de estrutura, de sujeito e de transferência para a orientação psicanalítica que adotamos.
Estrutura, seguindo os aportes da teoria lacaniana, quer dizer estrutura significante. Trata-
se de um campo a não se perder de vista: a proposição de qualquer um desses termos refere-se à
linguagem e o lugar que Lacan lhe designou na teoria psicanalítica. Estrutura corresponde,
portanto, a um conjunto co-variante de elementos significantes, que funciona como um todo, mas
que inclui a função do não-todo (Eidelsztein, 2009). Isto é, trabalha-se com a ideia de um conjunto
de significantes que se articulam sincronicamente e que é fundamentalmente incompleto. A
estrutura de linguagem e o Outro determinam o campo de possibilidades e articulações em que
qualquer fenômeno pode ocorrer.
Ora, o sujeito, assim como os outros termos envolvidos, é aquilo que se pode definir pela
articulação dos lugares em uma bateria significante e na cadeia do discurso. É o que faz Costa-
Rosa para delinear a ética da APs. Por efeito disso, acerca do sujeito para a psicanálise lacaniana
é delicado postular um sujeito individual ou mesmo singular; um sujeito não pode ser causa de si
mesmo, é sempre articulado a um Outro e à estrutura de linguagem. Propor um lugar de
centralidade ao sujeito exige que os termos sejam bem definidos para que não se produza um
paradoxo. Pode-se considerar que dar centralidade ao sujeito quer dizer colocá-lo em posição de
agência, considerando-o dotado de alguma essência autêntica. Advogamos uma direção
razoavelmente oposta a essa, em que considerar o sujeito em centralidade quer dizer mais habilitar
uma lógica em que se considera as operações de linguagem das quais o sujeito é efeito, que pode
permitir, conquanto se precise o estatuto ético de sua formulação, tratar do sujeito enquanto
produção nova.
Consideremos algumas formulações capitais de Lacan a esse respeito ao lado do modo
como nosso interlocutor inicial, Costa-Rosa, concebe o sujeito. Para o último o sujeito deve ser
considerado como “ser de sentido” (entre significantes) e “um indivíduo com inconsciente”. A
noção de sujeito mobilizada permite concluir que
“(...) é preciso reconhecer a posição do sujeito como produção de sentido,
como corte no instituído, como sujeito que aparece em forma de significante
no Outro (Lacan, 1982), ou seja, sujeito como enunciação de sentidos novos
concretizados em significantes novos, produzidos na própria intercessão
significante, e que podem permitir ao indivíduo remanejar o sofrimento
subjetivo e sua posição nos laços sociais que o atravessam e nos quais é
atravessador”. (Costa-Rosa)
No aporte acima pode-se encontrar uma definição de sujeito que abarca dois momentos
de sua constituição que são elaborados por Lacan através dos conceitos de alienação e separação
(Lacan, Sem XI). O primeiro versa justamente sobre a divisão do sujeito por ser constituído pelo
significante e ter em sua constituição a marca de uma perda. Requer para elucidar isso a
mobilização da lógica dos conjuntos e da operação de união. O outro termo trata da articulação
de duas faltas: da falta do $ e da falta do Outro; e para se articular logicamente recorre à operação
de interseção. A articulação dessas noções é fundamental para compreendermos a proposta de
sujeito do inconsciente de Lacan e, também, para extrair o sentido do manejo da transferência.
O sujeito considerado no movimento de sua constituição pela alienação é marcado pelo
que Lacan chama de sua divisão. É o que corresponde ao $, o sujeito desparece no mesmo
movimento pelo qual advém, identificando-se a um significante – fading. Quando nos referimos
a uma falta do sujeito, nesse momento da alienação referimo-nos à perda, que se compreende pela
estrutura do vel, de um si mesmo, da possibilidade de identidade consigo. O efeito primordial da
causa significante se estrutura no vel que coloca o sujeito entre o ser ou o sentido. “Igualmente
nuestro sujeto está puesto en el vel de cierto sentido a recibir o de la petrificación.”. (LACAN,
p.36 Posicion) Petrificação ou sentido. Quando há petrificação? Quando o sujeito permanece do
lado do ser. Do outro lado, se fica com o sentido, Lacan diz, o sujeito morde o sem-sentido. E eis
o ponto em que se pode articular a separação e, isso é muito importante, o lugar do Outro. Na
alienação há um Outro não localizado, há uma determinação pela linguagem, mas sem a
implicação do Outro.
A separação, segundo Eidelsztein (2000, deseo del analista), consiste na separação do $.
Deste $ que corresponde ao efeito letal do significante. Aqui se pode perceber a densidade da
questão acerca do sujeito para nossa orientação. Qual sujeito, enfim? É preciso considerar um
segundo tempo da causação do sujeito que é a separação. Instaura-se a questão de poder ser
perdido na relação com o Outro. E é por essa via que o sujeito se instaura na via diacrônica do
desejo. Articulando sua falta, como $, à falta do Outro. Lacan, jogando com variações do latim
separare, fornece essa direção para a operação:
“Separare, se parare: para protegerse del significante bajo el cual sucumbe, el
sujeto ataca a la cadena, que hemos reducido a lo más justo de una binaridad,
en su punto de intervalo. El intervalo que se repite, la estructura más radical
de la cadena significante, es el lugar que frecuenta la metonimia, vehículo, al
menos lo enseñamos nosotros, del deseo.” (Lacan, ibid, p.42)
Com isso, intentamos sustentar que há nuances na relação do sujeito com a linguagem e
com o Outro. Há que se realçar esse ponto de distinção em que o sujeito é sucumbido e pode restar
petrificado ou bem pode advir pela relação com o sentido a uma relação com a falta do Outro.
Desde aí se pode pensar em um advento de um outro sujeito. O que se explora aí é a noção de
intervalo, a constituição do lugar do Outro.
Seguindo a lógica de nos referimos à relação sujeito-estrutura, o que há nesse ponto é a
habilitação de um significante específico, o significante da falta do Outro S(A/). É essa operação
que realiza o que Lacan definiu como extração do objeto a. Conforme demonstramos, o sujeito
ingressa em uma relação com o lugar do Outro pela questão “pode perder-me?”. É como objeto
– mais precisamente pela via da extração do objeto a – que o sujeito põe-se em relação com o
desejo do Outro. Aclaremos, no intervalo do discurso do Outro o $ instaura a pergunta pelo desejo
do Outro e o que se perde refere-se à “una hendidura no del sujeto, sino del objeto (fálico
concretamente). (LACAN, Posicion. p.38). Há separação de uma parte do corpo, para Freud,
extração do objeto a para Lacan.
Não avançamos sobre a estrutura do fantasma porque as distinções que esboçamos já
parecem suficientes. Se dissemos acima que estrutura é essencialmente incompleta agora temos
o operador lacaniano dessa condição. S(A/) é o que designa propriamente a incompletude da
estrutura – não há Outro do Outro – para qualquer sujeito, que assim se deve escrever como $.
Ademais, deve-se situar a questão do sujeito como particularidade – no caso em que admite-se
um significante da falta e há extração do objeto a – ou, diria, como singularidade no caso em que
como se refere Eidelsztein (Estructuras) S(A/) não é legalizado. Registra-se com isso a diferença
clínica que buscávamos como: clínica do intervalo e clínica da holofrase. Uma vez que o efeito
estrutural da operação a que nos referimos recai no modo de encadeamentos significantes.
Parece-me a essa altura que Costa-Rosa exacerba dois eixos da constituição do sujeito e
da estrutura do tratamento. A saber, a suposição de saber e o sentido, de certo modo preterindo as
considerações acerca do objeto. Quanto ao Sujeito Suposto Saber podemos partir das reservas que
Lacan, no próprio seminário base para o autor referido (Sem XVII), dá com relação ao SSS. Para
nada o SSS é um dado primeiro dos encontros clínicos; antes, são uma função provocada pelo
discurso do psicanalista (CITAÇÃO). E, de fato, como quer demonstrar Costa-Rosa, demonstram
uma relação bem peculiar entre o discurso histérico e o discurso analítico. A rigor, a operação de
suposição de saber ao Outro vigorará no caso em que o sujeito situa o objeto como perdido no
campo do Outro, em que desejo e saber se articulam. Se considerarmos a clínica de diferenças
estruturais entendo que é possível traçar linhas diferentes para o campo. Em conformidade com a
experiência da Residência que instiga esse trabalho gostaria de avançar algumas considerações
acerca da psicose e, por fim, fornecer uma proposta de um operador psicanalítico para a APS.
Situamos a psicose como uma das modalidades de não extração do objeto. Isso exige
traçar algumas coordenadas diferentes com relação à operação dos discursos. Isto é, mais
fundamentalmente com relação às posições do analista e do sujeito. Consideraremos a psicose
como um fora-do-discurso. Há, sim, $, além de que, o psicótico está imerso no mundo humano e
lida com seus fenômenos, que são determinados pela linguagem. Mas não quer dizer que se possa
localizar em um discurso, pois a cadeia significante na psicose não opera o intervalo que lhe
permitiria operar certas paragens, digamos. Sobre isso em Lacan encontramos algumas
abordagens que situam-se em torno da função do ponto de capitonê, ponto de basta, e na definição,
da holofrase. O essencial, de acordo com o que tentamos demonstrar, é que não se instauram
limites ao encadeamento significantes de modo a estabelecer o efeito retroativo S2-S1. José Pedro,
no CAPS UERJ, diz: o meu sonho sempre foi trabalhar na embaixada. O que em seguida torna-
se fazer embaixidinha e dispara um encadeamento sem fim aparente.
Encontra-se em di Ciaccia uma distinção bastante útil entre lugar e posto simbólico, em
que o primeiro é considerado como marco que pode permitir alguma pacificação, enquanto o
posto confronta o $ com certa letalidade a que o autor se refere como coalescência do Outro da
linguagem com o gozo. Podemos pensar em termos de injunção simbólica vs estabilizações.
Poderíamos extrair daí alguns apontamentos acerca do acolhimento, do encaminhamento
e do estar em tratamento. Acerca das relações entre a exclusão e a inclusão, poderíamos enriquecer
o debate com a noção de lugar simbólico. Tratar-se-ia de permitir que o sujeito se aloje aí, para
servir-se da linguagem a fim de produzir modos de estabilização ou laços; com a reserva de não
convocá-lo a assumir um posto simbólico, que é aquilo que pode ser desencadeador de uma crise.
Ademais, temos que pensar que quando questionamo-nos acerca do acolhimento ou permanência
de algum usuário – perguntando se ele é para estar ali ou não – , referimo-nos a critérios do
discurso ao qual muitas das vezes os usuários não se referem. Isto é, a leitura clínica submete-se
a uma regulação da estrutura que é justamente o que está ausente no usuário e que é o motivo do
nosso encontro. Eis um trabalho paradoxal que se nos impõe: o fora-do-discurso exige que nossos
critérios sejam estabelecidos não por um caso a caso que suporia um discurso prévio em que o
caso teria vigor, senão pela radicalidade do caso singular. É como pensar que a disposição das
peças do xadrez – metáfora para a abertura e fim do tratamento para Freud – nesse caso teria que
partir de da consideração de que o tabuleiro e os movimentos de cada peça não estão previamente
definidos.
Sobre isso esta passagem de Laurent é exemplar:
En primer lugar, constatamos que el psicótico trata de sostener un nuevo orden
de discurso. Lo hace poniéndose él mismo en la posición de poder garantizar
este nuevo orden. En segundo lugar, se observa también que el sujeto psicótico
impone al analista esta posición de testimonio, desde la cual ambos
agarantizarián un nuevo orden del universo fuera de discurso. La exigência
psicótica se apoya en la inexistência del discurso como tal, en la inexistência
de uma inscripción en el discurso, pero se sostiene instertándose em la
oposición entre el funcionamento de lalengua y el funcionamento de un
lenguaje.

A suposição de saber é um modo de resposta ao desejo do Outro, à falta no campo do


Outro. A relação com o Outro em que saber e gozo coincidem comporta outras respostas. Como
podemos nos posicionar segundo esse arranjo? A posição de testemunho é uma proposição
clássica. A proposta de Di Ciaccia e outros (habitar el discurso) é de uma prática entre muitos.
Para nós cabe menos entrar nas nuances desse esquema teórico que extrair o seu fundamento, que
reside na formulação do tratamento do Outro. O tratamento do Outro é um direcionador do
tratamento. Mas, antes, é uma lógica aprendida das variadas formas de se posicionar frente ao
Outro que o psicótico, ou a criança autista muito notavelmente, põe em ação para tratar a presença
invasiva do Outro. Manifestações como as que vemos p.ex em S.L., usuária do CAPS UERJ, em
que punha-se à cata de inúmeros objetos para colocar em suas também inúmeras e proliferantes
sacolas, ou a recusa ao olhar, ou os distúrbios alimentares, ou as agressões quando há proximidade
demais, são exemplos gritantes do esforço de tratamento que o psicótico realiza. Portanto, temos
um deslocamento considerável se levamos em conta que o sujeito psicótico, quando o
encontramos, está em trabalho de tratamento (regulação, fragmentação, afastamento) do Outro e
não mais que dirige-nos uma demanda que supõe o saber em uma relação específica com o objeto.
Nessa orientação o lugar a ser ocupado pelo ‘educador’ na estrutura do tratamento seria
o de S(Abarrado). Com base em que é possível essa articulação? Para Baio, o discurso do analista
não é aplicável ao tratamento do sujeito psicótico, porque o objeto não está localizado no Outro,
enquanto objeto perdido. A viabilização do advento do sujeito se submete nesse caso à condição
de não ocupar o lugar de semblante do objeto. Com efeito, um manejo que não parte da
sustentação da posição de suposição de saber; diferentemente, propõe-se fazer com que os
dispositivos se orientem por saber não-saber.
Manejando a teoria dos discursos, para repensar a posição do analista, Baio propõe um
forçamento do discurso histérico, inspirada por uma operação que Miller realiza conjugando o
esquema L e o discurso do mestre. Resulta disso a substituição do saber, S2, por “um outro saber,
um saber que não é mais orientado pelo objeto (a)” (p.60 Curinga) e que o educar ocupe o lugar
de S(A/) em vez de a. O educador funciona como obstáculo, marca de um não à qualquer
aparecimento de uma posição de saber ou de desejar em direção ao sujeito. É sob essas condições,
nesse lugar, que poderemos nos colocar como parceiros do sujeito, dizendo sim à construção
sintomática do sujeito (Baio, ). Notemos, a posição é de parceiro, querendo dizer que nos pomos,
na medida do possível, juntos ao psicótico, parceiros da lógica do sujeito. $ S(A) S1 ∑
Concluamos, o sujeito é um assunto a ser produzido. Se o discurso é anterior ao sujeito é
preciso considerar, diagnosticar, o discurso antes mesmo que se possa operar no discurso. A
psicose faz-nos pensar mesmo na constituição de um discurso como trabalho anterior. Nossa
postura de não-saber é mais radical na medida em que operamos com uma estrutura de
significantes incompleta e em que os elementos não significam nada em si mesmos (Eidelsztein,
2008) A dimensão do não-todo da estrutura se situa ao nível do sujeito. A estrutura admite
determinar um campo limitado de operações, trocas e variações, entretanto tem por fundamento
a lógica do não-todo. Lógica que para nós exige que se diga não-todo sujeito é psicótico, neurótico
ou perverso. Ou seja, não-todo sujeito se inscreve em alguma estrutura clínica é uma condição da
estrutura como dominada pela incompletude.

Referências

COSTA-ROSA, Abílio. Ética e clínica na atenção psicossocial: contribuições da psicanálise de


Freud e Lacan. Saude soc., São Paulo , v. 20, n. 3, p. 743-757, Set. 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902011000300018&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 10 Jun, 2018.

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