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ISSN: 2359-2354
Vol. 3 | Nº. 2 | Ano 2017
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www.capoeirahumanidadeseletras.com.br
capoeira.revista@gmail.com
Editores deste número
Bas’Ilele Malomalo
e Carlos Henrique Lopes Pinheiro
Resenha de MALOMALO, Bas’Ilele; MARTINS, Elcimar Simão; FREIRE, Jacqueline C da S. (orgs.) África, migrações e suas diaspóras.
RESENHA
ÁFRICA, MIGRAÇÕES E SUAS DIÁSPORAS: UMA
OBRA MULTIDISCIPLINAR
O livro organizado por s Bas’Ilele Malomalo, Elcimar Simão Martins e Jacqueline Cunha
da Serra Freire, reúne quatorze artigos produzidos, conta com a contribuição de vinte e oito
autores, que unem neste livro as suas experiências de vida, profissão, militância e produção
intelectual sobre as temáticas: migrações, diásporas, cultura, identidade, refúgio, crise
internacional e a cooperação Sul-Sul em torno do Brasil e da África.
A obra é um criterioso estudo científico e de grande contribuição para pesquisadores,
professores, gestores e operadores das políticas públicas. A riqueza e o rigor metodológico dos
estudos dos(as)s autores(as) dão visibilidade ao panorama das dinâmicas de migrações e
diásporas africanas no Brasil, de modo especial na região nordeste do país. E leva-nos a perceber
a importância da intersetorialidade entre as políticas sociais para dar conta da complexidade
comportada na mobilidade humana, nas migrações. Sobretudo, apontam para a necessidade de
lidarmos com variações que possam estar despercebidas nas análises mais amplas sobre
processos migratórios e políticas sociais, tendo como foco as crises internacionais e locais, e as
diversas formas de lutas e resistências dos/as africanos/as e seus/suas descendentes
remanescentes e/ou (i)migrantes no Brasil. E, ainda, leva-nos a refletir sobre as ambiguidades,
dificuldades e possibilidades que caracterizam a cooperação sul brasileira, bem como a
complexidade das técnicas e sistemas políticos que “incluem-excluindo” aqueles que se colocam
em movimento entre fronteiras.
1
Mestranda em Política Social e Direitos Humanos na Universidade Católica de Pelotas – UCPEL. Bacharel em
Direito. Pesquisadora do grupo de pesquisa do CNPq: Laboratório de Estudos Psicossociais Cidades Seguras e
Direitos Humanos (LEPS/UCPEL). E-mail: emiliapineiro@gmail.com.
2
Ph.D em Sociologia pela UFRGS. Professora-Pesquisadora no PPG Política Social e Direitos Humanos na
Universidade Católica de Pelotas – UCPEL. Professora Colaboradora no PPG Politicas Sociais e Cidadania na
Universidade Católica do Salvador- UCSal. Coordenadora do Laboratório de Estudos Psicossociais Cidades Seguras
e Direitos Humanos (LEPS/CNPq/UCPEL). E-mail: marcia.calazans@ucpel.edu.br
Deste forma o leitor ao transitar pelos artigos da obra perceberá as diversas conexões
entre estes, conexões estas que jogam luzes sobre a sistematicidade dos deslocamentos humanos.
O tema está circunscrito às ciências sociais e, sem dúvida, articula esforços para que a
intersetorialidade faça-se presente e assim reconheça-se os resultados advindos da interlocução
produzida em rede de pesquisadores para o avanço e consolidação dos estudos nessa temática.
Nesse sentido, a publicação trata além das migrações e diásporas africanas para o Brasil,
também da crise internacional mundial, com o aumento de migrações forçadas que agravou-se
em 2016 e 2017 - no Brasil, com o processo de impeachment institucional sofrido pela então
presidente Dilma Rousseff, nos Estados Unidos com a vitória presidencial de Donald Trump
fechando as fronteiras para o mundo, e também a crise de refugiados na Europa. Entretanto, o
foco deste livro, é a forma particular como se dá a migração de africanos e suas relações, como a
crise humanitária que os atinge, sobretudo, os residentes no Brasil, onde a política migratória
após 2016 mostra-se vulnerável com o aumento dos movimentos e partidos de ultradireita, com
suas plataformas anti-imigrantes.
A obra está divida em três partes. A primeira parte, intitulada – África, cooperação,
refúgio e cultura – é composta por cinco artigos que versam sobre as relações internacionais de
solidariedade, cooperação e as políticas de migração, mais precisamente entre o Brasil e os
países Africanos. Ademais, esta primeira parte, traz estudos desenvolvidos por Bas’Ilele
Malomalo, Crise internacional: migrações africanas, cooperação e esperança que identifica a
crise humanitária que assola a atual sociedade mundial, identifica no Brasil a falta de uma
política pública eficiente para integrar os imigrantes e refugiados na sociedade brasileira e
também a falta de uma política de educação migratória, como fora determinado pela Lei nº
10.639/2003, a qual inclui o tema “História e Cultura Afro-Brasileira” na rede de ensino básica.
Já em Cooperação Sul-Sul e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira: Solidariedade ou Dominação, Osmaria Rosa Souza e Julie Sarah Lourau Alves
da Silva tecem reflexões acerca dos elementos que convergem na fundação da Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira(UNILAB), no contexto da política externa
(2003-2010). E, ponderam se a cooperação sul-sul e a Universidade da Integração Internacional
da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) é um projeto de cooperação solidaria entre o Brasil e os
países da África e Timor Leste, ou s uma relação de dominação entre estes países, onde a lógica
da exclusão impõe consequências assoladoras e campo fértil para o estabelecimento de relações
de dominação.
Na mesma linha, nesta primeira parte, Daniela Florêncio da Silva em Um olhar
geográfico sobre os processos de contenção e precarização territorial no campo de refugiados
negros e brancos no Brasil, este racismo e preconceito é ainda maior, quando se trata de
imigrantes. Para os autores, o racismo, o preconceito e a xenofobia devem ser enfrentados por
todos, por ser uma questão social, política e cultural de toda a sociedade atualmente. Por isto, é
fundamental o movimento de estudantes africanos no Ceará, para enfrentar e resistir a estas
ondas racistas, xenófobas e preconceituosas.
Nesta mesma perspectiva, Organização para empoderamento dos estudantes africanos
no estado do Ceará, artigo de e Gino Pereira, Wilma João Nancassa Quade e Antonio Correia
Junior entende que com o aumento da presenta de estudantes oriundos do continente africano no
Brasil, é preciso uma organização para empoderar estes estudantes para o enfrentamento das
adversidades de ordem social, como: segurança, saúde, documentação, racismo nas ruas e dentro
da universidade. Ressalta-se aqui, a questão da segurança pública na cidade pesquisada –
Fortaleza/CE –no qual as mortes violentas atentadas contra estudantes africanos, não tratadas
com pouco interesse por parte das autoridades do estado, têm o exemplo no texto, de quatro
mortes, no qual a investigação fora arquivada.
No artigo – Trajetórias e permanência dos estudantes guineenses na “terra da luz”,
Fortaleza-Ceará – Renata Maria Franco Ribeiro e Ricardino Jacinto Dumas Teixeira, fazem
alusão a trajetória e ao processo de permanência de guineenses em Fortaleza. Retratam as
dificuldades enfrentadas por estes no processo de adaptação, uma vez que uma falsa propaganda
de faculdades privadas de Fortaleza fez com que muitos guineenses migrassem para o Brasil com
a finalidade de estudo, mas acabaram em condições de vulnerabilidade e subordinação perante
os empresários responsáveis destas faculdades. Outra questão apontada neste texto, é a
permanência destes estudantes, que após formados, hesitam entre continuar no Brasil e
estabelecer-se no mercado de trabalho, ou voltar para a Guiné-Bissau com o título de grau
superior, entretanto, sabe-se que a Guiné-Bissau não se encontra em uma situação política
favorável para o seu retorno e as chances no mercado de trabalho ou então na continuidade
acadêmica.
Em se tratando da vida acadêmica o artigo Filhos da África na “terra da luz”: estudo de
caso sobre a inserção e a adaptação na vida acadêmica de estudantes africanos do PEC-G em
Fortaleza-CE, de Carmosina Sibélia Silva Alencar e de Paulo Henrique Barbosa Sousa é
vinculado a pesquisa com alunos do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G),
com estudantes africanos matriculados na Universidade Federal do Ceará (UFC), sobre o seu
processo de inserção e adaptação destes na capital do Ceará, além das motivações para migrarem
para o Brasil. Foi constatado que um dos motivos, é a facilidade com a língua, uma vez em que
há um predomínio da língua portuguesa em diversos países do continente africano.
E, compõe também esta terceira parte, Capoeira, cidades e cultura: reflexões sobre
histórias e novas possibilidades de intervenções urbanas, autoria de Ricardo Nascimento e Igor
Monteiro, retrata os modos de ocupação da cidade e a cultura popular com ênfase na capoeira. A
rua como um espaço de todos e para todos, a partir de um diálogo construtivo entre a cultura e a
política sendo protagonista, a população. Ademais, este texto faz menção as formas de
ocupação, ao protagonismo local e comunitário de toda a sociedade.
As três partes do livro fornecem um cenário das migrações, diásporas e as dificuldades
enfrentadas por africanos que migram para o Brasil, fixando residência neste caso, na região
nordeste do país demonstrando os abusos e o universo de preconceitos raciais, econômicos,
sociais e culturais que atinge a todos no Brasil, mas aqui retratados pelos estudantes africanos
sofrem ao ingressar nas universidades brasileiras. Ademais, este livro também menciona as
estratégias internacionais de sociabilidades, integração e de cooperação solidária construídas
entre o Brasil e a África.
Nesse sentido a obra produz inquietações, reflexões, informações de pesquisa
importantes visando subsidiar a intersetorialidade na política de acolhimento de imigrantes
Africanos no Brasil, ainda faz-nos refletir que estratégia e articulação os grupos de pesquisa, que
vem debruçando-se sobre a temática, devem adotar no sentido de pensar a pesquisa-militante
para o enfrentamento de uma conjuntura de que vem resultando em grande dano a humanidade,
momento em que observamos o esfacelamento de políticas sócias voltadas as causas
humanitárias. Fecha-se o cenário democrático brasileiro, sobretudo ao que diz respeito às
garantias de direitos, e assim também para a mobilidade planetária e o acolhimento de pessoas
que se colocam em situação de migrante. Em que pese este cenário, a obra faz-se necessária ao
abordar dificuldades, possibilidades e à lógica que está em jogo e seu complexo sistema,
colocando-se como importante referência para a construção de estratégias de (re)existência.