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Introdução
Este ensaio examina o dom do Espírito Santo conhecido como "falar em línguas", com
referência particular ao seu propósito e se ele ainda continua sendo distribuído aos fiéis
cristãos.
A Bíblia tem regras rígidas para falar em línguas, porém poucos cristãos parecem
conhecê-las. Como o Espírito Santo nunca age de forma contrária a qualquer coisa nas
Escrituras, essas regras precisam ser observadas sempre que alguém fala em línguas, ou
presume fazer isso. Qualquer manifestação de línguas que deixe de seguir essas regras
— regras definidas pelo Espírito Santo — é, portanto, uma falsificação.
Pano de Fundo
"Entre as grandes ilusões que estão se propagando hoje, não existe nada que seja mais
sutil ou perigoso do que o moderno movimento das línguas. Em minha experiência ao
longo dos muitos anos, observei que, das massas de pessoas que caem sob a influência
do fenômeno das línguas, pouquíssimas escapam sem prejuízos emocionais e espirituais
para si mesmas e para suas famílias..."
Se o pastor Hartin estiver correto, então essa afirmação dele a respeito do fenômeno das
línguas deve causar calafrios e ser de grande preocupação para todos os cristãos
bíblicos.
Qualquer um que acredite que exerça o dom das línguas precisa olhar com muita
atenção para o propósito bíblico desse dom. Como alguém pode exercer um dom sem
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primeiro saber qual é seu propósito e o papel que ele exerce — ou exercia — no plano
de Deus para a redenção da humanidade?
É deprimente observar que a maioria dos cristãos deriva sua compreensão desse
fenômeno totalmente a partir do Novo Testamento e deixa de levar em conta algumas
referências fundamentais no Velho Testamento.
Antes de examinarmos essas referências, precisamos ver a própria palavra "língua". Ela
é traduzida para o português a partir da palavra hebraica lâshôwn e das palavras
gregas diálektos e glõssa. Todas as três significam "linguagem" — uma língua humana
compreensível, não apenas sons e sílabas arbitrárias. Os seguintes exemplo mostram
claramente como cada uma dessas palavras denota uma linguagem humana existente:
Hebraico: lâshôwn:
"Estes são os filhos de Cão segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas
terras, em suas nações." [Gênesis 10:20].
"... e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as
letras e a língua dos caldeus." [Daniel 1:4].
Grego: diálektos:
"... de maneira que na sua própria língua esse campo se chama Aceldama, isto é, Campo
de Sangue." [Atos 1:19].
"E, havendo-lho permitido, Paulo, pondo-se em pé nas escadas, fez sinal com a mão ao
povo; e, feito grande silêncio, falou-lhes em língua hebraica, dizendo." [Atos 21:40].
Grego: glõssa:
"Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade." [1 João
3:18].
"E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e
reis." [Apocalipse 10:11].
É óbvio que esses termos indicam uma língua falada. Não podemos forçar o significado
aceito das palavras em hebraico ou grego para se adequarem ao nosso propósito. Se elas
claramente denotam um conceito padrão, então não se pode e nem se deve fazer com
que signifiquem alguma coisa diferente.
Alguns pentecostais tentam contornar isso, citando 1 Coríntios 13:1 como evidência que
línguas (glõssa] também pode significar uma língua que não é normalmente inteligível
para a humanidade, isto é, a língua falada pelos anjos:
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como
o metal que soa ou como o sino que tine." [1 Coríntios 13:1].
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Os pentecostais consideram que esse verso signifique (a) que existe uma língua angélica
e (b) que Paulo estava afirmando poder falar essa língua (por meio sobrenatural). Mas,
esta é uma interpretação totalmente errônea daquilo que o verso está realmente dizendo.
Mesmo que os anjos falem um língua própria deles, Paulo não está afirmando ser capaz
de falar essa língua. Ao contrário, ele está usando um recurso literário comum
conhecido como hipérbole, em que um aspecto é exagerado ou postulado para o
propósito de ênfase.
Este verso abre o famoso capítulo sobre o amor (ágape) em 1 Coríntios. Nele, Paulo
salienta a centralidade do amor na vida cristã e mostra como até os dons mais exaltados
não são nada se o amor não estiver presente. Ele não está falando de si mesmo, mas
sobre qualquer pessoa que tenha entregue seu coração a Cristo. Aqui está como dois
comentaristas cristãos expuseram o texto. Ambos viveram antes da prática moderna de
falar em línguas se estabelecer, de modo que não estavam enviesados para interpretar o
verso de um modo ou de outro:
"Um homem poderia falar todas línguas no mundo e com a máxima propriedade,
elegância e fluência; ele poderia falar como um anjo. Porém, sem amor, isto tudo seria
ruído vazio, um som sem harmonia e inútil, que não seria proveitoso nem agradável.
Não é falar livremente, elegantemente, ou doutamente das coisas de Deus, que nos
salvará ou que trará proveito aos outros, se estivermos destituídos do santo amor." —
Matthew Henry (nasceu em 1662), comentário sobre 1 Coríntios 13:1.
Em resumo, Paulo está nos dizendo que, mesmo que alguém fale a língua dos anjos, se
não tiver amor, não soará melhor do que um instrumento metálico de percussão.
A palavra glõssa tem exatamente o mesmo significado neste verso que tinha nos outros
versos já citados. Paulo não está se referindo a uma linguagem angélica ou celestial que
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somente Deus pode compreender. Ao revés, ele está dizendo que um fiel cristão que fala
em uma língua estrangeira será compreendido somente por Deus, se não houver alguém
presente na assembleia para interpretar aquilo que está sendo dito, mesmo que ele esteja
compartilhando verdades espirituais profundas. A interpretação das línguas poderia ser
dada para alguém que conhece a língua estrangeira em questão, ou que seja
sobrenaturalmente capacitado pelo Espírito Santo naquele momento para interpretar ou
expor aquilo que foi dito. Em resumo, sem interpretação, ninguém será edificado, nem
mesmo a pessoa que fala em línguas.
Os pontos que apresentamos até aqui são uma forte indicação que a prática moderna de
falar em línguas é uma falsificação. Uma torrente de sílabas sem significado
repetidas ad nauseaumnão é um idioma, mas meramente um ruído.
"O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra, que voa
como a águia, nação cuja língua [lâshôwn] não entenderás." [Deuteronômio 28:49].
"Assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará a este povo." [Isaías 28:11].
"Não verás mais aquele povo atrevido, povo de fala [sâphâh] obscura, que não se pode
compreender e de língua [lâshôwn] tão estranha que não se pode entender." [Isaías
33:19].
Em Deuteronômio 28 e
Isaías 33 o Senhor está se
referindo à conquista de
Israel por um exército
estrangeiro, um povo
pagão cujo idioma os
hebreus não
compreenderiam. Se
continuassem em sua
desobediência, então eles
caíriam sob o julgamento
de Deus e seriam
expulsos de sua terra
natal.
"Está escrito na lei: Por gente de outras línguas [heteroglõssos], e por outros lábios,
falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o SENHOR." [1 Coríntios 14:21].
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O significado aqui é muito claro. Deus tinha falado muitas vezes ao povo escolhido por
meio de Seus profetas, na língua hebraica, e registrado Sua mensagem para eles nas
Escrituras, também no idioma hebraico, mas eles não deram ouvidos. Isaías está
dizendo ao povo que viria um tempo em que eles ouviriam suas próprias Escrituras
citadas por gentios, falando em idiomas estrangeiros ("outros lábios", "língua
estranha"), mas mesmo assim, eles não dariam ouvidos à mensagem!
Os eventos profetizados neste verso (Isaías 28:11) tinham se cumprido, como Paulo
confirmou, com o advento do dom espiritual das línguas. Esse dom foi dado pela
primeira vez no dia de Pentecostes, quando os apóstolos recitaram de forma
sobrenatural "as obras maravilhosas de Deus" em línguas estrangeiras faladas, ou
conhecidas, pelos muitos milhares de judeus que estavam visitando Jerusalém por
ocasião da festa."
"Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua [diálektos] em que somos
nascidos?" [Atos 2:8].
Em conjunção com o sermão de Pedro, isto teve um impacto poderoso sobre eles, de
forma que 3.000 almas foram adicionadas à igreja naquele mesmo dia. Se
considerarmos que a igreja naquele tempo provavelmente consistia de pouco mais de
500 almas, essas poucas horas viram um aumento impressionante de cinco vezes no
número de membros.
O Pentecostes foi um grande ponto de virada na história para os judeus que creram. Da
mesma forma, foi também um dia altamente significativo para os judeus descrentes. O
mesmo Evangelho que trouxe salvação àqueles que creram traria julgamento contra
aqueles que não creram.
É por isto que Paulo declara especificamente que Deus quis que o dom das línguas fosse
um sinal para os judeus descrentes:
"De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia
não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis." [1 Coríntios 14:22].
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Mesmo após o Senhor o forçar a ir a Nínive para entregar a mensagem, Jonas sentou-se
fora da cidade, aguardando diariamente pela sua destruição — algo que ele desejava
ver. Mas, quando a destruição não ocorreu, ele ficou muito irado!
Isto pode parecer como uma atitude incomumente dura para nós hoje, mas salienta o
direito exclusivo de posse que o povo judeu acreditava que exercia sobre o Senhor Deus
de Israel. Ele era o Deus deles, somente deles.
Devemos lembrar que Paulo precisou publicamente repreender Pedro, talvez o decano
entre os apóstolos, porque ele ainda se prendia às práticas que distinguiam os judeus dos
gentios: "E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era
repreensível." [Gálatas 2:11].
Paulo teve muito trabalho para convencer os judeus. Ele teria feito um progresso muito
lento se, quando apresentou sua posição, os cristãos primitivos (todos os quais eram
judeus) não tivessem ainda observado algo que os tinha surpreendido, isto é, o dom
espiritual das línguas — o mesmo sinal que Moisés e Isaías tinham profetizado. Eles
tinham testemunhado o Espírito Santo proferir a Palavra de Deus na língua das nações
estrangeiras. Isto somente poderia significar que Deus estava convidando os gentios
para virem ao Seu aprisco.
As referências no Velho Testamento às "línguas" nos dizem (a) que elas eram
consideradas pelos judeus como línguas reais e (b) que elas estavam associadas de perto
com o julgamento de Israel por Deus.
Examinaremos agora cada uma das cinco referências às línguas no Novo Testamento:
Marcos 16:17
Atos 10:46
Atos 19:6
Atos 2:1-12
1 Coríntios 12-14.
1. Marcos 16:15-17:
mundo. A palavra grega original para "línguas" é glõssa, que significa idiomas. Essas
são línguas reais, não línguas inventadas, línguas celestiais, os línguas místicas. O
contexto torna bem claro que Cristo quis que seus discípulos pregassem o Evangelho
para as outras nações e garantissem que ele fosse compreendido. É impossível dar um
novo significado à palavra glõssa neste contexto e fazer com que ela signifique
balbuciar palavras sem sentido, como se vê entre os praticantes modernos das línguas.
2. Atos 10:46-47:
"E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam
a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro,
maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os
gentios. Porque os ouviam falar línguas [glõssa], e magnificar a Deus. Respondeu,
então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados
estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?" [Atos 10:44-47].
É vital compreender o significado desse evento. Por quase 2.000 anos os judeus como
uma nação tinham sido os representantes exclusivos do único Deus verdadeiro. Agora,
uma mudança realmente dramática tinha acontecido, algo que os judeus nunca
esperaram (embora devessem ter discernido a possibilidade a partir de suas Escrituras).
Daquele dia em diante o Senhor Deus ativamente escolheria representantes dentre todas
as nações.
Muitas escrituras, como Zacarias 12-14, confirmam que o remanescente justo entre os
judeus será restaurado, como uma nação, à sua posição sacerdotal quando Cristo
retornar, no início do Milênio, para reinar em Jerusalém.
O julgamento implicado por esse sinal veio de forma devastadora sobre a nação de
Israel no ano 70, quando o Templo foi destruído.
Atos 19:6:
"Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo
ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que
ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos,
veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas [glõssa], e profetizavam. E estes
eram, ao todo, uns doze homens." [Atos 19:4-7].
Esta foi a ocasião em que, em uma visita a Éfeso, Paulo encontrou cerca de 12 homens,
possivelmente gentios, que tinham sido batizados muitos anos antes por João Batista.
Como aquele não era o batismo cristão, Paulo os batizou outra vez. Quando o Espírito
Santo veio sobre eles, eles também começaram a falar em línguas. Os judeus que
estavam presentes (ou que ouviram relatos desse evento) foram novamente deixados
com a certeza que o Espírito Santo tinha entrado naqueles homens. Além disso, eles
podiam ouvir aqueles conversos falarem palavras inspiradas de verdade (eles
"profetizavam") em uma língua estrangeira. Esta era uma clara confirmação que o
Senhor Deus de Israel estava dizendo ao mundo que Ele não era apenas o Deus dos
judeus, mas o Deus de todas as etnias, povos e nações.
Atos 2:1-12:
judeus que tinham vindo a Jerusalém de diferentes partes do Império para participarem
do Festival de Pentecostes (também chamado de Festa das Semanas, ou Shavuot). Como
judeus, eles falavam um dos idiomas comuns entre os judeus daquele tempo —
aramaico, grego ou hebraico. Assim, é correto dizer que os apóstolos não precisariam
falar em "línguas" para se comunicarem com a maioria deles. Apesar disso, o Espírito
Santo falou palavras de verdade pela boca dos apóstolos, na língua da província ou
região geográfica de onde cada visitante tinha vindo. Aqueles judeus estavam ouvindo
louvores ao Senhor Deus de Israel, nas línguas dos povos pagãos. Nada similar a isto
tinha acontecido antes.
Este foi o sinal sobre o qual Paulo falou em Atos, que ele confirmou como o sinal exato
que o profeta Isaías tinha predito mais de 700 anos antes (Isaías 28:11). Este também foi
um dos sinais que Jesus citou em Marcos 16.
Antes de continuarmos a examinar a doutrina das línguas, conforme explicada por Paulo
em 1 Coríntios, vamos resumir o que descobrimos até aqui:
Passaremos agora a examinar as passagens relevantes, verso por verso, e ver exatamente
o que Paulo estava ensinando aos coríntios. Isto deve permitir que estabeçamos a
doutrina bíblica das línguas.
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Observação 1:
No capítulo 12, Paulo explica que existe uma diversidade de dons espirituais e que eles
são distribuídos dentro da igreja conforme a necessidade. Assim, precisamos concluir
que somente alguns membros da igreja possuíam o dom de falar em línguas.
Observação 2:
É difícil dizer se
quem falava em
línguas
necessariamente
compreendia em
todas as ocasiões o
significado literal
daquilo que estava
dizendo. Entretanto,
se uma pessoa tinha
dominado um idioma
por estudo paciente,
ela obviamente
compreendia o
significado das
palavras faladas
naquele idioma. Da
mesma forma, se falar em línguas de forma sobrenatural é realmente um dom do
Espírito Santo, então podemos esperar que o dom tenha as mesmas características e,
assim, seja inteligível a quem fala.
Há muito tempo que é assumido que quem falava em línguas estranhas não
compreendia o significado real daquilo que dizia, porque Paulo fala de outro dom
espiritual relacionado, isto é, o dom de interpretar línguas. A palavra grega
é diermeneuõ, o que significa interpretar, ou expor. Os pentecostais (e outros)
consideram que esse dom envolve a tradução das palavras proferidas por aquele que fala
em línguas sobrenaturais, presumivelmente para a edificação dos membros da
assembleia que não compreendiam o idioma estrangeiro que estava sendo falado.
Entretanto, isso pode não ter sido o caso. A palavra diermeneuõ também significa
"expor". Por exemplo, quando Jesus encontrou os dois discípulos no caminho para
Emaús, Ele expôs para eles as Escrituras (diermeneuõ) para o benefício deles. Como as
línguas sobrenaturais transmitiam mistérios ("Porque o que fala em língua desconhecida
não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala
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mistérios." [1 Coríntios 14:2]), o conteúdo espiritual daquilo que estava sendo dito pode
não ter sido plenamente compreendido, até por aquele que falava. Assim, de modo a ser
edificada, a assembleia precisaria de outra pessoa com o dom de interpretar línguas,
para explicar o que as palavras inspiradas proferidas significavam em um sentido
espiritual ou teológico.
Observação 3:
"O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos, e em parte
profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será
aniquilado." [1 Coríntios 13:8-10].
Em 1 Coríntios 12, Paulo lista nove dons do Espírito Santo — sabedoria, conhecimento,
fé, curas, operação de milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas e a
interpretação de línguas. Mas, nos versos 8-9 ele revela que três deles passarão quando
"vier o que é perfeito".
Muitos eruditos bíblicos acreditam que Paulo estava se referindo à finalização da Bíblia.
No tempo em que ele estava escrevendo, a Bíblia ainda estava incompleta. Os três dons
revelatórios que ele diz que passarão são os três que eram necessários para completar a
Bíblia — conhecimento e profecia divinamente revelados e as revelações dadas por
meio do dom das línguas.
Mesmo se alguém não estiver convencido que Paulo estava se referindo à finalização da
Bíblia no verso 13:10, ele estava claramente definindo uma estrutura de tempo para o
uso continuado de três dos nove dons espirituais — profecias, línguas e a palavra
revelada de conhecimento. Dado que os
registros deixados pelos cristãos da era pós-
apostólica não fazem praticamente referência à
manifestação continuada das línguas após o ano
96, quando João escreveu o último livro da
Bíblia, na ilha de Patmos, é razoável concluir
que o Espírito Santo não estava mais
concedendo esse dom. De fato, o dom
provavelmente cessou no ano 70, com a
culminação do julgamento implicado pelo sinal
das línguas, isto é, a queda de Jerusalém e a
destruição do templo.
Observação 4:
Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque
ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens,
para edificação, exortação e consolação. O que fala em língua desconhecida edifica-se a
si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja." [1 Coríntios 14:1-4].
Já discutimos esta passagem. Devemos nos lembrar que Paulo estava escrevendo para
os coríntios para corrigir diversos erros e mal-entendidos que havia entre eles. Um
desses erros estava relacionado com a prática que eles faziam das línguas, sem ter
alguém presente para expor ou interpretar aquilo que estava sendo dito. A passagem se
refere, não a uma língua angelical, que somente Deus pode compreender, mas a uma
língua humana estrangeira, que aparentemente nenhum dos presentes poderia
compreender. Assim, enquanto o membro da igreja estava falando em línguas,
compartilhando conhecimento divino em uma língua estrangeira, ele não estava
realmente fazendo coisa alguma que pudesse beneficiar os presentes. Os demais
membros presentes não recebiam edificação, nem exortação, nem consolação alguma.
Observação 5:
"E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o
que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete
para que a igreja receba edificação. E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em
línguas, que vos aproveitaria, se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da
ciência, ou da profecia, ou da doutrina? Da mesma sorte, se as coisas inanimadas, que
fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o
que se toca com a flauta ou com a cítara? Porque, se a trombeta der sonido incerto,
quem se preparará para a batalha? Assim também vós, se com a língua não
pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque
estareis como que falando ao ar. Há, por exemplo, tanta espécie de vozes no mundo, e
nenhuma delas é sem significação. Mas, se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro
para aquele a quem falo, e o que fala será bárbaro para mim. Assim também vós, como
desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja." [1 Coríntios
14:5-12].
Os versos 1-12 transmitiram uma forte mensagem aos coríntios. Paulo estava tentando
inculcar neles que toda palavra falada na igreja deve ter o objetivo de edificar os
presentes. Elas devem promover conhecimento, fé e santidade. Elas devem exortar,
consolar e fortalecer os fiéis em suas vidas cristãs. Os coríntios estavam violando esse
princípio, ao usarem o dom das línguas para falar verdades que ninguém podia
compreender. Aquilo tinha de parar.
Observação 6:
"Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar. Porque,
se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento
fica sem fruto. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o
entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento. De
outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de
indouto, o Amém, sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes? Porque
realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado." [1 Coríntios 14:13-17].
Por que uma pessoa que está falando em uma língua estranha tem de orar "para que a
possa interpretar"? Isto é facilmente explicado se compreendermos que a "língua
desconhecida" é desconhecida somente para a audiência e não para aquele que está
falando. O desafio para quem fala é encontrar as palavras certas no idioma local para
que ele possa ser compreendido pelos seus ouvintes. Paulo está orientando que, nesses
casos, ele deveria orar (talvez antecipadamente) e pedir que o Espírito Santo lhe dê a
capacidade de encontrar essas palavras.
Esses versos chamam a atenção para a diversidade das línguas que eram faladas em
Corinto, uma agitada cidade cosmopolita com residentes e visitantes de muitas partes do
Império Romano. Dentro do espaço de alguns poucos quilômetros quadrados, era
possível encontrar de dez a quinze idiomas sendo falados, cada um dos quais era um
"idioma estrangeiro" para qualquer um que não o compreendesse. Assim, em uma igreja
formada por membros de origem judaica e gentia, com níveis mistos de educação
formal, era absolutamente vital que qualquer um recebesse exatamente a mesma
instrução religiosa. Paulo estava perfeitamente ciente que a confusão apareceria se a
igreja em Corinto não solucionasse esse problema.
O conselho dele foi tipicamente prático — seja por dons espirituais ou por estudo
convencional, seja por meio de recursos próprios ou com a ajuda de terceiros, eles
sempre deveriam garantir que tudo o que dissessem fosse compreendido por todos os
presentes na assembleia.
Isto é consistente com a epístola como um todo, em que o objetivo principal de Paulo
era o de solucionar os problemas práticos entre os coríntios e edificar a igreja.
"Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes
quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa
também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. Irmãos, não
sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no
entendimento." [1 Coríntios 14:18-20].
Ele continua na mesma veia nos versos 18-20, onde exorta os coríntios a abrir mão do
hábito infantil de pregar em uma língua que a assembleia não poderia compreender.
Observação 7:
"Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo;
e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas são um sinal, não
para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os
fiéis." [1 Coríntios 14:21-22].
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Paulo está se referindo aqui a Isaías 28:11-12, que já discutimos. Ele está confirmando
que falar em línguas (de forma sobrenatural) é um sinal aos judeus ("este povo"). Como
Isaías refere-se especificamente aos descrentes do povo judeu ("e ainda assim não
ouvirão"), esta é a descrença sobre a qual Paulo está falando.
Observação 8:
"Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem
indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos? Mas, se todos profetizarem,
e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. Portanto, os
segredos do seu coração ficarão manifestos, e assim, lançando-se sobre o seu rosto,
adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós." [1 Coríntios
14:22-25].
Esta passagem conecta os "infiéis com os "indoutos". Paulo diz que quando esses
indivíduos compareciam a um serviço da igreja e ouviam os membros da congregação
falar em línguas, eles naturalmente pensariam que os "cristãos estão loucos". Os
coríntios estavam fazendo mau uso do dom das línguas e causando confusão. Os
incrédulos, sejam judeus ou gentios, doutos ou indoutos, vinham à igreja para ouvir o
Evangelho e queriam ser edificados por uma pregação sólida. Como eles seriam
convencidos pela verdade daquilo que ouviam se as palavras não fossem inteligíveis?
Observação 9:
"Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem
doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. E,
se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e
por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e
fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.
Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro.
Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e
todos sejam consolados." [1 Coríntios 14:26-31].
Paulo censura os coríntios por serem tão ansiosos em expressarem suas aptidões
evangélicas que negligenciavam aquilo que era realmente importante — a edificação
dos ouvintes. Ele pede que eles limitem o número dos que falam ou pregam a dois ou
três. Se um deles estiver falando em uma língua que parte da audiência não compreende,
então que outra pessoa interprete aquilo que está sendo dito, para que todos os presentes
sejam edificados. Se não houver alguém que possa interpretar, então aquele indivíduo
deve permanecer calado e orar a Deus.
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Ele os faz lembrar também que, se o Espírito Santo motivar outra pessoa a falar, pode
fazer isso para o benefício de todos, mas não de forma a criar confusão. Cada um deve
falar, um de cada vez, de forma ordeira.
Observação 10:
"E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de
confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos." [1 Coríntios 14:32-33].
Observação 11:
"As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é
permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E,
se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus
próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na
igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela
somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual,
reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do
Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que ignore. Portanto, irmãos,
procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-
se tudo decentemente e com ordem." [1 Coríntios 14:34-41].
Paulo está impondo uma disciplina rígida aqui. Ele diz que,
independente do que alguém em Corinto possa pensar — não importa
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quem seja — aquilo que ele, Paulo, diz aqui é para ser seguido por
todos, exatamente como definido. Ele não os proíbe de falar em
línguas, mas somente podem fazer isso da forma como ele os
instruiu. A palavra traduzida como "decentemente" (euschemonos)
também significa "honestamente". Ele deseja que eles ajam de forma
honesta nesta questão e que mantenham os preceitos de ordem que
ele definiu.
Sem dúvidas, muitas outras questões desse tipo poderiam ser feitas.
O simples fato que esse fenômeno dê origem a tantas questões sem
resposta é uma forte evidência que a prática tenha desaparecido
antes mesmo de a Bíblia ser finalizada. Aquele dom não precisaria ser
totalmente compreendido pelas gerações seguintes de cristãos.
Em junho
de 2014, o
papa
Francisco
se
encontrou
publicamen
te com
Carol e
John Arnott
(no lado
esquerdo da
foto), dois
dos mais
ativos
divulgadore
s da
"Bênção"
de Toronto. À direita do papa está Kenneth Copeland, outro televangelista que
frequentemente fala em línguas em suas apresentações. Brian Stiller (ao lado de
Copeland) é o "Embaixador Global" da Aliança Evangélica Mundial, com sede em
Nova York, EUA, uma influente organização que está trabalhando de perto com Roma
para fazer avançar a causa do ecumenismo.
A "Bênção" de Toronto
Hipnose e Auto-Hipnose
Para que ninguém conclua que a Bênção de Toronto seja apenas uma
aberração, gostaríamos de observar que grande parte dos mesmos
tipos de fenômenos há muito tempo são reportados entre grupos de
cristãos professos que praticavam as línguas. Em seu livro Speaking
in Tongues: A Cross-Cultural Study of Glossolalia [Falar em Línguas:
Um Estudo Transcultural da Glossolalia], Felicitas Goodman — que
examinou o fenômeno da glossolalia em diversas igrejas — refere-se
às inúmeras ocorrências de dissociação, transe, possessão e
estranhos comportamentos cinéticos entre aqueles que falam em
línguas e afirmam serem cristãos. Ela comenta também sobre a
natureza altamente repetitiva das línguas faladas:
Comentários Finais
Vou encerrar com uma severa advertência feita pelo pastor Bryce Hartin:
Bibliografia Selecionada:
Acesso em 18.6.18.