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A CULTURA
EM PORTUGAL Teoria e História
2.» EdiçSo
Livro I
Introdução Geral à Cultura Portuguesa
BERTRAND EDITORA
VENDA NOVA
78 A CULTURA FM PORTUGAL
NOTAS
1 Pidal, Origcnes dei Espanol, tá. 1072, p. 632.
1 H. Meier, uA Formação da Língua Portuguesa» in Ensaios de Filo-
logia Romãnica. >
• Leif Sletsjõe, uA Regio portucalensis e os seus antigos documentos»
in Revisto de Portugal, XXV, 1960.
4 Ruy de Azevedo, iiúHistória da Expansão Portuguesa no Mundo, I,
p. 55.
9 Sobre a evolução dp português veja a breve mas muito clara sín-
tese de Paul Teyssier, em Histoire de la Langue Portugaise, 1.* ed., 1980
Icolecçio Que sais-je?).
4 Pidal, Ortgenes dei Espaãol.
' Pilar Vasquez Cuesta e Maria Albertina da Luz, Gramática Portu-
guesa, 3.* vol., II, p. 206.
4 W. D. Elcock, Romance Languages, London, 1971, p. 431.
' Pidal, op. cit., p. 518.
" Holger Sten, Les Particularités de la Langue Portugaise, 1944.
" W. D. Elcock, op. cit., p 435.
u Peter Rickard, Fernando Pessoa, Selected Poems, Edimburg Bilin-
gual Library, 1971, p. XI.
" Ver Holger Sten, op. cit.
14 Cit. poT Sten, op. cit.
3
ALGUMAS FEIÇÕES PERSISTENTES
DA PERSONALIDADE CULTURAL
PORTUGUESA
Partimos da hipótese de que uma cultura nacional
tem uma certa identidade e uma certa permanência no
tempo, qualquer que seja a razão disso.
Só são possíveis esta hipótese ou a contrária, isto é:
que não há particularidades nacionais, ou que todas as
nações oferecem as mesmas características. Esta segunda
hipótese aparece imediatamente como falsa a qualquer
pessoa que tenha viajado fora do seu país, ou que tenha
aprendido línguas, ou freqüentado as literaturas e as artes,
ou que conheça minimamente o comportamento de vários
países ao longo da história.
Não nos deteremos, porque não é aqui o lugar para
isso, em procurar uma teoria que explique as particulari-
dades nacionais. As razões podem ser intrínsecas ou extrín-
secas, históricas, geográficas, econômicas, culturais ou espi-
rituais; da combinação desses factores e de outros resulta
um número praticamente infinito de efeitos. Deve ser
possível classificá-los num certo número de tipos dentro
de critérios variados, mas não conhecemos uma tipologia
universalmente aceitável.
Reconhecemos que ao tentar caracterizar individual-
mente uma nação entramos num gênero de problemas
para o qual não há método científico estabelecido, e que
por isso é aqui grande o risco do impressionismo arbitrá-
rio, dos estereótipos e das generalizações sem fundamento,
de que aliás há vários exemplos. No entanto, algumas
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obras que não pretendem ser ccientíficas> contêm por
vezes juízos penetrantes. Citaremos entre elas o capí-
tulo consagrado a Portugal do conde Kaiserling cm
Das Spectrum Europas, 1920 (obra traduzida em francês
com o título Analyse Spectrale de VEurope), e o ensaio
de Eduardo Lourenço nO Labirinto da Saudade (1978).
Um perigo inevitável é o subjectivismo, porque para
definir os caracteres específicos de uma nação é indispen-
sável compará-la com outras; ora esta comparação só c
possível quando conhecemos outras nações tão bem e tão
interiormente como a nossa, o que raramente acontece.
Normalmente uma pessoa nasce e cria-se dentro de uma
cultura nacional, e é a partir dela que aprende, já numa
outra fase do seu próprio desenvolvimento, as culturas
alheias. Por isso a cultura própria e as alheias não são
comparáveis; a relação de uma e das outras com a nossa
subjectividade pessoal é diferente.
Todavia, o estudo de uma cultura nacional em que se
omitam as características específicas do povo que a produ-
ziu parece um trabalho sem sentido, visto que é o próprio
sujeito dela que fica em claro. Temos de procurar conhe-
cê-las, embora de uma maneira imperfeita e provisória.
Para diminuir os perigos do subjectivismo — já que não
é possível evitá-los completamente — procuraremos fun-
damentar-nos em certos índices relativamente consisten-
tes. São eles: os factos averiguados da nossa história que
nos permitam traçar uma figura que ao longo deles
se manifeste com certa persistência; ajíngua, em que se
manifesta sempre um espírito próprio sob variadas formas,
nem sempre apreensíveis; certas instituições e tendências
sociais também averiguadas; as observações de estrangei-
ros a nosso respeito, e as de Portugueses relativamente
a países estrangeiros onde estiveram; documentos de con-
trastes de costumes e mentalidades; a litejatura e as artes,_
onde se exprimFmTsõnEõs e tendências subjectivas, que
nem sempre chegam a ter expressão material e social.
É sobre tais índices que procuraremos fundamentar o que
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dissermos sobre as feições da figura da nação portuguesa,
que na medida do possível gostaríamos de retratar.
Em primeiro lugar, há que considerar a (língua) que
tentámos caracterizar no capítulo anterior, sobretudo em
relação ao castelhano. Foi dentro da área linguístiça-galcgo-
-portuguesa, como num"lefóTnãternal i que se constituiu
o EStã3o _ português. NuricàlT3ê~mãís lembrílo. Se a área
da língua, finalmente, não coincidiu com a do Estado,
isso deve-se a factores externos e portanto não essenciais.
O território lingüístico galego-português foi amputado
em conseqüência da relação de forças, sobretudo militar,
entre Portugal e Castela. Essa amputação política, aliás,
não teve correspondência cultural: a Galiza não se tor-
nou castelhana e ainda hoje há uma cultura de base
comum nos dois lados do Minho.
Esta relação entre língua e Estado não se deu com
outros países. Em certos casos vemos que uma determi-
nada língua coloniza territórios linguisticamente diferen-
tes, havendo uma imposição da língua nacional contra
as línguas regionais. Em Portugal os falares do Noroeste
eram estreitamente aparentados e não se deu a coloni-
zação lingüística, salvo no apêndice ao sul do Tejo, mal
povoado; e mesmo assim a assimilação dessa escassa popu-
lação é tão antiga que não restam vestígios, a não ser na
toponímia, da língua que aí se falou. Por isso se pode
dizer com muita verdade que Portugal é umestado-nação,
isto é, um Estado implantado_njini_xa2Ít(irjíL com uma
cultura própria ê rnãttVSmçnt£homQgénea.
Este aspecto deu,Hêsde o início, à cultura da orla atlân-
tica uma coesão espontânea, isto é, que não teve de ser
imposta, contrariamente ao que sucedeu, por exemplo, na
Espanha, França e Itália, por um grupo regional domi-
nante. Do ponto de vista cultural, as diferenças regionais
entre o norte e o sul do Tejo e entre o litoral e o interior,
ou entre as microculturas existentes em territórios muito
limitados, só têm significado se as considerarmos unica-
mente dentro do espaço nacional. Não são nem remo-
tamente comparáveis às que existem entre as várias
84 A CULTURA EM PORTUGAL
regiões culturais dos três países mencionados, para só dar
exemplos no mundo latino. Esta coesão ref.ectiu-se no
ultramar: é dela exemplo a impressionante homogenei-
dade cultural de um país imenso como o Brasil.
Poderíamos dizer que Portugal, culturalmente, é um
país monolítico no sentido de que não se podem separar
nele blocos de composição diferente, embora os grãos
sejam muito variados. A existência da nação nunca peri-
gou por oposiçõeS das regiões entre si. Já no tempo de Fer-
não Lopes se dizia que para onde vai Lisboa vai todo
o Teino. E isto apesar de, sob o ponto de vista econômico
e climático, as diferenças não serem para desprezar. Já foi
notada a diferença entre o Portugal atlântico e o Portu-
gal mediterrânico, entre a montanha e a planície, entre
o minifúndio do Norte e o latifúndio do Sul, etc. Mas
estas diferenças nunca foram bastante acentuadas para
criarem pólos de poder ou de irradiação cultural. A cen-
tralização jio Estado, que foi muito precoce em Portugal,
nunca foi contrariada por problemas regionais. O poder
cerilral fòi todo-poderoso, não por ser capaz de reprimir
resistências, mas por não as encontrar, salvo acidente. As
resistências políticas e sociais ao poder de Lisboa nunca
encontraram apoio em culturas regionais diferenciadas.
A consciência nacional formou-se por oposição a dois
inimigos fronteiriços: os Mouros e Castela. A primeira
termina pouco mais de um século á seguir à fundação
do reino, mas deixou uma raiz funda que vem outra vez
à superfície em 1415, com a conquista de Ceuta, origi-
nando uma guerra de quase dois séculos em Marrocos,
chamado o «Algarve de além-mar», cujas motivações nos
são hoje difíceis de compreender. Provavelmente nunca
foram bem estudadas e pensadas as conseqüências deste
contacto três vezes secular com os Muçulmanos. Mas é um
facto que salta à vista que o império português e o impé-
rio muçulmano, ambos marítimos e de tipo semelhante,
rivalizaram de Ceuta até Malaca, sendo os Portugueses
os herdeiros do comércio de certos gêneros, como o ouro,
as especiarias, os escravos, que durante muito tempo
PERSONALIDADE CULTURAL PORTUGUESA 85
tinham sido monopólios sobretudo dos Árabes. É como
se a expressão comercial árabe tivesse sido o modelo da
nossa. De ambos os lados a justificação declarada era a
expansão da Fé, e a guerra por isso mesmo era «santa».
Isto permite a João de Barros legitimar pela cruzada
as conquistas portuguesas no Oriente. Trata-se de um
assunto a esclarecer.
Quanto à oposição em relação a Castela, é já visível
nos primeiros anos da nacionalidade e intensifica-se no
século xiv com as invasões castelhanas e permanece desde
então. É o prolongamento natural da resistência da Galiza,
que chegou a ser um reino autônomo no século xi, refor-
çada pela tendência autonomista em relação à própria
Galiza dos guerreiros da fronteira, os Portugalenses, como
já vimos. Alguns autores, para quem a independência
doJPaís nas condições geográficas e cultufairtla Ibéria se
afigura enigmáticiL procuram explicar a independência
põrtüguesa~pêlã existência de um império com sede em
Lisboa, desde o século xv; mas é mais lógica a suposição
inversa: o império é que é a conseqüência da indepen-
dência.
Foi poucos anos depois do fim da guerra com Cas-
tela (1411) que se deu a conquista de Ceuta (1415). A con-
clusão que os factos históricos nos permitem tirar é que
em fins do século xiv e princípios do xv se põe radical-
mente e se resolve a grandeogção nacionah ou a inter
gração em Castela, òu a aventura fora da Península. Alju-
barrota acarretou Ceuta, porque, uma vez escolhida a J.
independência como situação irreversível, foi preciso bus-
car fora, para fazer face à nova situação nacional criada, o» <;õ
os meios de a sustentar. E Ceuta era, entre outras coisas,
o términus mítico. De modo que tudo nasceu de uma " 3 ^
escolha inicial, a escolha da independência em rela- o t^HAí^f.
ção a Castela, escolha que aliás já se manifestara na „.> LC *Í ')
fundação do reino, mas que no século xiv, quando Cas-
tela inicia o processo de unificação da Península, se põe
pela raiz.
86 A CULTURA EM PORTUGAL
Como já notou Oliveira Martins, trata-se de um acto
de vontade, que as circunstâncias dificilmente justificam.
Da perduração da independência resulta uma situação,
não só política, mas também cultural e psicológica que se
tem mantido e aprofundado ao longo dos séculos. Alguns
aspectos dessa situação e suas conseqüências serão discuti-
dos no decorrer deste capítulo.
Uma delas é um certo sentimento de isolamento, por-
que, entre a Europa e Portugal, Castela tem funcionado
como um deserto isolador, mais do que como um espaço
de ressonância e comunicação. Portugal é um oásis ou uma
ilha, conforme o ponto de vista, porque de um lado o
rodeia o deserto, do outro o mar. E a gente aqui prisio-
neira adquiriu um complexo de ilhéu, oscilando entre
a aventura fora e a passividade dentro, ou ainda vivendo a
aventura pela imaginação, sem sair do mesmo lugar.
O ilhéu é um exilado, ou da sua terra ou do mundo.
Deforma subjectivamentc a realidade ausente; faltam-lhe
as ocasiões para se medir com vizinhos, isto é, com reali-
dades humanas diferentes da sua, o que traz como conse-
qüência que ignora também as dimensões e limites da sua
própria Tealidadc. Isto vê-se em Portugal pela mitifica-
ção que geralmente aqui se faz do estrangeiro, designado
freqüentemente pela expressão «lá fora» (que sugere um
sentimento de claustrofobia): lugar de delícias ou de per-
dição, conforme a inclinação do espelho deformador do
vsonho.
!' J Exemplo recente disto é a oscilação pendular entre
o «orgulhosamente sós» e o «a Europa connosco» (este
último revela claramente que a «Europa» é sentida como
exterior). Daqui também a atitude quanto ao «estran-
geirado», atitude misturada de admiração e de repulsa,
acompanhada sempre de inveja mais ou menos secreta.
Claro que nesta situação o Português avalia de ma-
neira pouco realista as suas verdadeiras possibilidades no
conjunto das nações: ora se inferioriza, considerando-se
ínfimo, sem poder e sem cultura própria, refugiando-se
numa auto-ironia perfurante, como a de Eça de Queirós,
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ou numa autocrítica flageladora da sua própria história,
como em Oliveira Martins; ora incha o peito para desa-
fiar o mundo ou para o conduzir, umas vezes como ver-
dadeiro apóstolo da cristandade, outras como autêntico
representante do Ocidente, outras ainda como portador
do «socialismo-português», esperança do mundo.
O messianismo, filosofia de exilados e de infelizes,
mas lambem afirmação de forte personalidade espiritual,
tem-se revelado uma das persistentes expressões do espí-
rito português, desde Os Lusíadas até ao «25 de Abril»
inclusive, assumindo várias formas, uma das quais foi
o sebastianismo propriamente dito. Deu lugar à crença
de que ^ortugal é uma nação escolhida por Deus, crença
que se exprime no mito do milagre de Ourique, senti-
mento messiânico que é comum a Portugueses e Israelitas,
e também à teologia do reino consumado de Cristo na
Terra, elaborada pelo padre Antônio Vieira. O sebastia-
nismo ocultista de Fernando Pessoa é uma nova versão
do destino providencial de Portugal.
Estas manifestações estão relacionadas com o complexo
de ilhéu, mas não quero com isto dizer que o espírito
português seja um resultado da geografia, mas sim que
reagiu de determinada maneira aos limites geográficos.
Por outro lado, ele é um ilhéu que olha pouco para o mar,
porque, embora o mar tenha muita importância na nossa
história, tem comparativamente pouca na nossa literatura
e na nossa imaginação, como veremos.
Ainda dentro desta problemática psicológica não se
pode deixar de assinalar a importância desse complexo
a que se chama «saudade», embora o portuguesismo desta
palavra seja um lugar-comum que tem vários séculos.
É improvável que se trate_.de um. sentimento exclusk
vãmente português; mas é certo que tem na nossa lín-
gua eiiã nossa literatura uma presença saliente e quase
obsessiva.
Já o autor da Crônica da Tomada de Ceuta chama
a atenção para esta palavra, então «soidade». Encontra-se
nos cancioneiros dos séculos xm e xiv. O rei D. Duarte,
88 A CULTURA EM PORTUGAL
AS ÉPOCAS
DA C U L T U R A P O R T U G U E S A
§ / . INTRÓITO
§ 2 . OS M I T O S
§ i . O T O P O E A BASE
/.//1\ i Q , - _
O Brasil dá oportunidades para fortunas rápidas, de L 7 L<r'
que uma pequena parte procura investir-se na terra, ^
em prédios mais ou menos luxuosos, ou inclusivamente em
indústrias que era preciso i n v e n t a r . _ M e r ç a d o r e s e a y e n -
tureiros ingressam aceleradamente n õ s ~ q u a 3 r o s d a fídàEl
guia, desnatürãp3o-a. ~ ' ' . ~
E o marquês de Pombal, um dos tais fidalgos ilus- fiOo/,úJi*
trados. e para mais ((estrangeirado»..quem dá ao merca- u i / J V / q *
dor, como classe, uma posição dominante. Ele faz dizer ( V o ,
_ • -1 1—- — • 1 i 1 , , . \\il'i/""Jtl/y
aos seus letrados que a classe dos mercadores e a mais
útil e a mais nobre da nação. Com a expulsão dos Jesuítas A ^ ^
amputa gravemente a influência clerical e destrói um ^
c
tipo de educação de que eles eram os principais artífices. ^r'"
A reforma da Inquisição consistiu sobretudo em levantar $1*0* , J
o labéu de «cristãos-novos» que pesava sobre a classe dos " S G ^ C ^ Y J
mercadores. -—' "
Com o ministério Pombal podemos dizer que os mer-
cadores, grupo j á muito importante economicamente, pelo
menos desde o século x v , mas culturalmente confinado
a uma espécie de clandestinidade, ocupa finalmente a
boca da cena. .——
Com que sucesso? Temos de reconhecer, em primeiro
lugar, que esta palavra ((mercadores» abrange ou esconde
diversas realidades. H á o «mercador» propriamente dito,
que se desenvolveu no transporte de mercadorias (pimenta,
escravos, açúcar, café, ouro...); há o brasileiro, ou «mi-
neiro» (como se dizia no século X V I I I ) , que em certos casos
era u m golpista da fortuna, u m novo-rico; há o empresá-
rio dos engenhos de açúcar, da captura de escravos, etc; h á
a burocracia de Estado oriunda de famílias burguesas;
há o «capitalista», isto é, o homem que faz empréstimos
a juro. Entre estes grupos, que se tornavam privilegiados,
e os trabalhadores manuais ou braçais não existia prova-
velmente uma classe média cujo peso cultural fosse sen-
v
sível. "
Este mundo dos mercadores não parece ter sido bem
acolhido n u m país em que a economia rural de subsistên-
cia continuava a ser dominante, e em que o clérigo conti-
138 A CULTURA E M PORTUCAL
§ 4. D E N T R O E FORA
das relações entre os dois Estados ibéricos deu lugar à apa- \j,ji'rL
rentemente lógica conclusão que era a união dos dois /
Estados sob a forma inicial de um trono com duas coroas: [ty^Cè -
a monarquia dual de Filipe I I . Portugal conserva, a par-
tir de 1580, o seu estatuto de autonomia, o uso oficial
da sua língua e o seu império separado.
Mas o Tesultado talvez não procurado nem esperado
foi a subalternização cultural do reino. Deixou de haver
corte em Lisboa, e já vimos as conseqüências disso. Muitos
dos principais homens de espírito e de letras emigraram
para a capital das Espanhas. Numerosos escritores adop-
taram o castelhano para aumentar o seu público, inclu-
sive aqueles que exalçavam as glórias portuguesas, como
Faria e Sousa. Ijsboa, reduzida a cidade provinciana,
como já notámos, deixou de ser únTtoco intelectualmente
criador. Acentuou-sé q jalingüísmo, jEín.^pr£jjuíza.do~pQrr
tuguês. Era por intermédiq de Wãjrid. que. se reali^axam
os coritactos com as culturas não ibéricas.
O nacionalismo persistente tendia a-agarrar-se à tra-
dição, fundamentalmente camoniana, e a encarar descon- y " , ' / - o
fiadamente_as novidades, o que contribuía panTacentüãr " a " ' - i ^
"ha çu!tora,_portuguesà._um_arcaismo provinciano. Por
outro lado, a política prudente de Filipe I I não foi se-
guida pelos seus sucessores. Principalmente sob o governo
de Olivares, tende a afirmar-se o centralismo castelhano.
Com tudo isto, Portugal ia a caminho de conhecer uma tx>A~. a
sorte parecida com a da Galiza. Assim, em lugar de con- c í v ^ ^ j
/rv
tribuir com a sua voz para o coro hispânico, como acon- ^
f
tecera na época de Gil Vicente e Camões, Portugal emu- • ' Xin*j*
deceu. ! '^'k,
O único notável escritor português que contribuiu no e„y ^.,
v
§ 5. P A L A V R A S E COISAS
A S É P O C A S DA C U L T U R A P O R T U G U E S A 157