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SEGURANÇA E CIDADANIA
NOVEMBRO 2015
19
“EL ES NOS DE TE STA M ”.
T R O P E ÇOS D O P O L IC IA M E N TO
DE P R OX I MIDA D E E M FAVE L AS
R E SULTA D OS DA P E S Q U I SA
UP P : O QUE P ENSA M OS P O L I C I A I S , 2 01 4
LEONA R DA M U SU M EC I
RESUMO
entrevistas com mulheres policiais não 4,9% em 2014). Isso talvez reflita um
prejudicaram a abrangência e aleato- ritmo menor de incorporação de poli-
riedade da amostra, nem alteraram a ciais recém-formados e/ou a entrada
margem de erro dos resultados (4%). de agentes mais velhos, oriundos de
Foram ouvidos ao todo 2.002 poli- outros setores da PM. De todo modo,
ciais (1.896 soldados e 106 cabos; 1.548 a faixa amplamente majoritária con-
homens e 454 mulheres) em amostra tinua sendo de 24 a 33 anos, com uma
aleatória representativa do universo pequena variação entre 2012 e 2014 (de
de 7.643 policiais de ponta alocados 81,7 para 78,6%), dentro da margem de
naquele momento em 36 UPPs da erro da pesquisa.
cidade.3 Embora extensa (cerca de ¼ O grau de instrução alterou-se pouco
do universo), essa amostra não repre- entre os dois últimos levantamentos,
senta estatisticamente as unidades com ligeira queda da proporção de poli-
individuais, apenas o conjunto delas e ciais que têm curso superior completo ou
alguns subconjuntos construídos por incompleto (de 47,5 para 42,6% do total),
agregação. Sacrifica-se assim a grande mas aumentou bastante o percentual dos
diversidade entre as favelas e perde-se que disseram estar estudando na época da
a possibilidade de captar variações nas pesquisa (de 30,2 para 41,2%).
experiências e percepções dos policiais Em 2014, como em 2012, os evan-
que possam estar associadas a dife- gélicos prevaleceram sobre os católicos
renças locais.4 Mas, para obter resul- (41,9 contra 37,3%); os autodeclarados
tados desagregáveis por unidade, seria pretos e pardos sobre os brancos (67,6
necessário um levantamento bem mais contra 30,8%), e os casados sobre os
amplo, quase um censo geral dos poli- solteiros (63,5 contra 36,5%). Quanto
ciais militares das UPPs, cujo custo tor- à renda pessoal, observa-se desde o
naria a pesquisa inviável. primeiro survey uma concentração na
faixa de três a cinco salários mínimos
por mês, variando de 63 a 65% nas três
PERFIL DOS ENTREVISTADOS
rodadas do levantamento. Entre 2010
Se os resultados dos dois surveys e 2014, contudo, dobrou a parcela de
anteriores sugeriam uma tendência policiais que disseram ter renda mensal
à crescente feminização da tropa das superior a cinco salários mínimos (de
UPPs, tendo a participação de mulheres 14,8 para 30,1%) – o que possivelmente
aumentado de 0,8% em 2010 para se deve à instituição dos programas
11,4% em 2012, os de 2014 contrariam Proeis e RAS, em 2011 e 2012, que
essa expectativa, pois mostram ligeiro permitiram aos funcionários de segu-
recuo (na margem de erro da pesquisa) rança pública prestar legalmente ser-
da parcela de policiais femininas que viços remunerados nos seus horários
trabalham em favelas “pacificadas”: de folga.6 Ainda assim, em 2014, uma
9,7%.5 Em relação ao perfil etário, parcela muito alta dos entrevistados
houve certo envelhecimento do efetivo, (83,2%) afirmou que o rendimento,
registrando-se acréscimo da parcela incluindo gratificações, era insuficiente
de policiais com mais de 33 anos (16,4 para sustentar a família.
contra 6,7% em 2012) e redução da A grande maioria (76,3%) do efetivo
faixa mais jovem, com idades entre de 2014 ingressara na corporação dois a
18 e 24 anos (de 11,5% em 2012 para cinco anos antes. Praticamente metade
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Novembro 2015 5
lado, o Gráfico 1.
25,8 INCLUÍDAS SÓ NO QUESTIONÁRIO DE 2014.
(*) OPÇÕES
Vê-sePRÁTICAS
que pouco mais de ¼ dos poli-
DE APROXIMAÇÃO
COM OS MORADORES*
35,3
ciais realizava com frequência, em 2014, 33,2
“
algum tipo (não especificado) de prática 30,3
19,8
LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS 24,8
25,7
de aproximação com moradores; menos e só 5,3% participavam frequentemente
27,9
22,4
de 20% buscavam levantar problemas da de reuniões
14,1
com moradores. Observa-se,
18,3 17,9 18,1
comunidade; cerca DE
MEDIAÇÃO deCONFLITOS*
14% realizavam além disso, no Gráfico 2, um progressivo 16,4 OS RESULTADOS
frequentemente mediação de conflitos; declínio dos percentuais de agentes que 13,8
8,1
APONTAM
10,2 9,9
pouco mais de 8% participavam de ati- dizem manter algum contato com insti- 8,1
ATIVIDADES COM CRIANÇAS, 13,7 UMA FRACA
vidades voltadasJOVENS
para crianças ou jovens
OU IDOSOS tuições12,8
locais. 4,5 4,5
PRESENÇA,
5,3
REUNIÕES COM MORADORES 5,0 QUANDO NÃO UM
5,0 ASSOCIAÇÃO IGREJAS GRUPOS ONG S IMPRENSA
GRÁFICO 2_INSTITUIÇÕES COM QUE DEPOLICIAIS
OS MORADORES MANTÊM CULTURAIS ENCOLHIMENTO, COMUNITÁRIA
56,4
22,4
18,3 17,9 18,1
16,4 BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA • 19
13,8 Novembro 2015 8
10,2 9,9
8,1
4,5 4,5
56,4
ABORDAGEM E REVISTA
DE SUSPEITOS
74,5
79,4
32,3
REGISTRO DE OCORRÊNCIAS
NA DELEGACIA
49,3
45,5
29,3
RECEBIMENTO DE QUEIXAS 52,9
59,9
37,6 37,6
29,3
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Novembro 2015 9
RECEBIMENTO DE QUEIXAS 52,9
59,9
37,6 37,6
29,8
22,2 23,7
18,9
14,4 15,1
13,3
7,5 7,7 7,2
500
46,1
ASSOCIAÇÃO IGREJAS GRUPOS ONG S IMPRENSA
DE MORADORES CULTURAIS COMUNITÁRIA
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Novembro 2015 10
2010 2012 2014
ABORDAGEM E REVISTA
DE SUSPEITOS
do velho paradigma de policiamento,
centrado em prisões e apreensões de
REGISTRO DE OCORRÊNCIAS
drogas. Como mostra o Gráfico 5, à
estado no32,3
56,4
74,5
79,4
o fato de elas terem crescido em todo o
mesmo período indica que a
“caça” às drogas49,3e aos traficantes con-
“
A “CAÇA” ÀS
DROGAS E AOS
NA DELEGACIA
45,5 TRAFICANTES
medida que a “pacificação” se estende tinuou sendo foco privilegiado da ação
CONTINUOU
a um número maior de favelas, cresce policial29,3
dentro e fora das UPPs.16
52,9 SENDO FOCO
o volumeRECEBIMENTO DE QUEIXAS
de ocorrências tradicional- Voltando aos resultados
59,9
do survey,
mente usadas para aferir a “produção nota-se que o percentual de entrevis- PRIVILEGIADO
policial”, exceto
PRISOESno caso das armas
E APREENSÕES* tados em29,0
2014 que disseram trabalhar a DA AÇÃO
apreendidas, cujo número diminui no maior parte do tempo em GTPP (22,2%) POLICIAL
período. Vale sublinhar que o aumento
15
é apenas um pouco inferior ao dos que DENTRO E FORA
dos outros registros não reflete necessa-2010 afirmaram 2012
realizar 2014
com frequência DAS UPPs”
riamente um aumento da criminalidade alguma espécie de atividade de apro-
ou da quantidade de drogas em circu- ximação com os moradores (25,8%).
37,6 37,6
lação, assim como a queda do número Isso poderia indicar à primeira vista
de armas apreendidas não significa uma especialização dual e contradi- 29,8
necessariamente que haja menos armas tória nas UPPs: de um lado, “articu-22,2 23,7
ilegais nas favelas. O que essas ocor- 18,9 comunitários”,
ladores mediadores
rências informam, sobretudo,
13,3 de conflitos e “policiais 15,1
é o dire- 14,4 sociais”, que
cionamento
7,5 dado
7,7 ao trabalho policial.15
E buscam desenvolver7,2atividades capazes
500
400
300
200
100
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
100%
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Novembro 2015 11
OUTROS TIPOS
GTPP
DE TRABALHO
OUTROS TIPOS
GTPP
DE TRABALHO
29,8
“
22,2 23,7
18,9
14,4 15,1
13,3
pensam. 7,7ainda um levantamen-
7,5 Falta com que foram verbalizados
7,2 os senti- HÁ UMA
to-espelho, com perguntas aos resi- mentos hostis na última rodada da pes- PROGRESSIVA
dentes análogas às respondidas pelos quisa. A pergunta do questionário trazia E EXPRESSIVA
ADMINISTRATIVO
policiais, capazes de identificar con- PONTO FIXO
sete opções fechadas, entreGAT/GTPP
elas “raiva”, RONDA A PÉ
QUEDA DA
vergências e divergências entre essas 2010 e um campo 2012aberto para “outros senti-
2014
PERCEPÇÃO
percepções, que são, por definição, afe- mentos”. Mais de ¼ (27,3%) das res-
27
100%
25,1
43,7
75%
66,5
POSITIVOS
NEGATIVOS
50%
60,1
NEUTROS
46,1
25%
28,5
14,9
10,3
5,0
0%
SIMPATIA 10,5
NEGATIVOS
50% BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA • 19
60,1 Novembro 2015
NEUTROS
15
46,1
25%
28,5
14,9
10,3
5,0
GRÁFICO 7_SENTIMENTOS QUE, SEGUNDO OS POLICIAIS,
0%
A MAIORIA DA POPULAÇÃO DEMONSTRA EM RELAÇÃO A ELES
(% DE RESPOSTAS)
2010 2012 2014
SIMPATIA 10,5
ACEITAÇÃO 6,1
RESPEITO 3,0
ADMIRAÇÃO 2,7
INDIFERENÇA 14,9
MEDO 7,1
78,9
75,1 2010
72,3 68,8 68,8 2012
66,1
65,1
2014
motivos de insatisfação 62,6 61,6
com o trabalho55,1 mencionava relação ruim com os
52,1
em UPP, que será comentada mais 48,5 moradores,46,5enquanto só 9,2% referi-
42,6
adiante, outro policial disse que, além ram-se a boas relações 35,3com moradores
de “intruso”,24,2sentia-se “maltratado e como a melhor coisa do trabalho em
odiado” pela maioria da população. UPP.28 Além de percepções e opiniões, 18,4 17,5
TABELA 3_FREQUÊNCIA COM QUE OS POLICIAIS DIZEM TER SOFRIDO, NOS TRÊS MESES
ANTES DA PESQUISA, MANIFESTAÇÕES DE HOSTILIDADE POR PARTE DE MORADORES
(% DE ENTREVISTADOS)
MORADORES DERAM QUEIXA CONTRA O(A) POLICIAL 96,3 2,0 0,9 0,8
“
Reações análogas por parte de quanto algumas das mais antigas.
habitantes das favelas – arremesso de Temerosos com as consequências do
objetos e insultos – foram relatadas em reempoderamento dos traficantes e pre- OS CONFLITOS
pesquisas qualitativas no começo da ocupados em não se identificar como ENTRE POLÍCIA
instalação das UPPs e associadas à resis- “amigos da polícia”, os moradores
E POPULAÇÃO
tência ou desconfiança inicial dos mora- teriam passado com mais frequência
a evitar o contato ou mesmo a mani-
DESPONTAM
dores em relação à presença contínua
da polícia nas comunidades (Cano, festar desapreço e hostilidade contra EM CONTEXTOS
Borges e Ribeiro 2014: 181; Menezes os policiais. Discutiremos mais à frente E POR MOTIVOS
2014: 671).29 Esperava-se que, com o o tema do “retorno” e a interpretação DIVERSOS,
correr do tempo, à medida que a con- que tende a creditar-lhe inteiramente NÃO REDUTÍVEIS
vivência e a proximidade produzisssem os tropeços do policiamento de pro- À EQUAÇÃO
seus efeitos humanizadores, essas mani- ximidade. Cabe ressaltar por ora que,
SIMPLISTA
festações hostis tendessem a decrescer segundo observações etnográficas feitas
HOSTILIDADE
– o que, de fato, parece ter acontecido em 2013 e 2014, os conflitos entre
polícia e população despontam em con- À POLÍCIA =
em algumas UPPs mais antigas, pelo
menos até poucos anos atrás.30 Mas não textos e por motivos diversos, não redu- VÍNCULOS COM
só a tensão se manteve alta em outras tíveis à equação simplista hostilidade à O TRÁFICO”
localidades como, recentemente, parte polícia = vínculos com o tráfico:
das favelas onde a “pacificação” parecia
Quando os policiais recorriam ao capi-
razoavelmente consolidada voltou a
tal da força física para realizar prisões
apresentar níveis elevados de tensão e
e apreensões, os moradores, muitas
desconfiança – situação que o Gráfico 6, vezes, praticavam atos de agressão aos
acima, em certa medida traduz e que se policiais, estimulados por conflitos
confirma em pesquisas qualitativas rea- decorrentes de abordagens policiais,
lizadas nos últimos dois anos (Menezes tentativas de prisões, interrupções de
2014; Esperança 2014; Soares 2015). festas. Foram incontáveis os relatos
O discurso de alguns policiais e às de policiais que receberam pedradas
vezes também de moradores tende a e até gavetadas [sic] de moradores re-
voltados. Na favela da zona Norte, um
associar esse aumento de tensões ao
policial retornou à base com a cabeça
“retorno do tráfico” e à volta dos con- aberta atingida pelas pedras. Na favela
frontos armados em várias favelas com da zona Sul, até crianças se engajavam
UPP, tanto as de ocupação recente nas ações: “Eu fiquei muito surpreso,
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para não dizer bem apavorado, no dia ou pelo menos da redução das práticas
que eu vi um policial fazendo uma pri- repressivas, frequentemente abusivas
são por tráfico de drogas, e crianças e violentas, no trato com a população
jogando pedras no policial que esta-
das favelas. Não deve ser por acaso que,
va na ocorrência.” (Representante da
no último survey do CESeC, os poli-
UPP 3, Favela da zona Sul). (Soares
2015: 165)
ciais dos GTPPs disseram-se vítimas
de agressões em proporção significati-
Outra pesquisa, realizada na UPP vamente mais alta que as dos agentes
Nova Brasília em 2013 – antes do recru- ocupados em outros tipos de serviços
descimento dos tiroteios no local –, (embora estas também sejam altas – ver
identificou nexos entre manifestações Tabela 4, abaixo).31 Tampouco deve
de hostilidade e ocorrência de abusos ser por acaso que os policiais-me-
policiais, especialmente durante abor- diadores identificados na amostra
dagens e prisões. Segundo o autor, registraram muito menos agressões
um “acordo de cavalheiros” estipulava e muito menos percepções de senti-
que ninguém atiraria nos policiais, mentos hostis do que o conjunto dos
caso contrário o temido Bope seria policiais entrevistados (cf. Mourão
acionado; em contrapartida, os agentes 2015a). Ainda que de forma esque-
da UPP não “esculachariam” as pessoas mática, pode-se dizer que esses
revistadas ou presas. À quebra dessa dois grupos encarnam, respecti-
contrapartida seguiam-se pichações vamente, o mínimo e o máximo
contra os policiais “esculachadores” de uma postura de aproximação e
e, por vezes, tumultos, pedradas, gar- diálogo com os moradores. Se isso é
rafadas ou até revides armados (Espe- verdade, a fórmula mais proximidade
rança 2014:137, 142). Um terceiro = menos conflito parece fazer sentido
estudo etnográfico, feito nas duas UPPs na prática, não apenas na teoria
mais antigas (Santa Marta e Cidade inspiradora do projeto original das
de Deus), captou um adensamento UPPs. Mas, ao que tudo indica, é a
desde 2012 e sobretudo em 2014 dos fórmula inversa que está prevale-
“rumores” quanto à volta não só da cir- cendo nas áreas ditas “pacificadas”,
culação de traficantes armados, mas como reconhece um membro da
também da violência e da corrupção cúpula da PMERJ ao tentar explicar
policiais (Menezes 2014: 676-7). a crise atual do programa:
Tudo indica, assim, que – para além
Vários fatores começaram a ser des-
da presença do tráfico e suas possíveis
virtuados na hora de desenvolver es-
influências nas atitudes dos moradores tratégia no resgate da confiança da
– há fontes de conflitos desencadeadas população. Foram criados Grupos de
por modos tradicionais de atuação da Apoio Tático, de cunho repressivo.
polícia que contrariam a promessa de Repressão e aproximação, como que-
um “policiamento de proximidade”, remos na UPP, são incompatíveis.32
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OUTROS TIPOS
GTPP
DE TRABALHO
“
CONDIÇÕES DE (IN)SEGURANÇA: recorde, com 49 “confrontos”, seguida
REVANCHE DO TRÁFICO por Alemão (41), Rocinha (31), Vila
OU RETOMADA DA GUERRA
Cruzeiro (31) e Cidade de Deus (26). AUMENTOU
PARTICULAR?
A tentativa de verificar possíveis DE FORMA
nexos entre alguns dados do nosso survey
EXPRESSIVA A
Em 23/07/2012, morria a policial e a incidência desses episódios nas UPPs,
militar Fabiana Aparecida de Souza, PARCELA DE
por meio de cruzamentos com os grupos
de 30 anos, vítima de um ataque POLICIAIS QUE
que a PM classifica de “vermelho”,
armado à UPP Nova Brasília, no Com- “amarelo” e “verde”, produziu corre-
CONSIDERA
plexo do Alemão. Foi a primeira morte lações estatisticamente significantes, SEREM MUITO
de policial em serviço nos territórios mas quase sempre fracas. Talvez a defa- FREQUENTES
“pacificados”. De lá para cá, mais de NAS UPPs AS
sagem temporal entre as informações da
150 policiais de UPP foram baleados e
PM e as do CESeC, considerando-se as OCORRÊNCIAS
mais de 20, mortos em serviço.33 Essa
rápidas mudanças na geografia dos “con- DE TRÁFICO DE
vitimização é geralmente atribuída a
frontos”, tenha influenciado negativa- DROGAS E DE
confrontos com traficantes de drogas.
mente a robustez desses cruzamentos.38 PORTE ILEGAL
De janeiro a maio de 2015, segundo
Outro problema talvez tenha sido a agre-
a PMERJ, ocorreram nas UPPs quase DE ARMAS”
gação das UPPs por intervalos muito
500 episódios definidos como “con-
desiguais. De qualquer modo, se utili-
frontos”, em média cerca de cem por
mês.34 Só duas unidades – Fé/Sereno e zados com cautela, apenas como indi-
Santa Marta – não registraram nenhum cações, não como evidência estatística,
episódio e apenas outras nove foram alguns resultados podem servir de sub-
classificadas como “verdes” por regis- sídios ao debate sobre a crise atual da
trarem, cada uma, menos de cinco chamada “pacificação”.
episódios nesse período.35 As demais Note-se inicialmente que, entre os
24 incluídas na nossa pesquisa teriam surveys de 2012 e 2014, aumentou de
sido palco de um número maior de forma expressiva a parcela de policiais
ocorrências do gênero, variando de 7 que considera serem muito frequentes
a 13 nas “amarelas”36 e de 14 a 49 nas nas UPPs as ocorrências de tráfico
“vermelhas”.37 Nova Brasília deteria o de drogas e de porte ilegal de armas
INDIFERENÇA 14,9
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RAIVA / ÓDIO / HOSTILIDADE /
REJEIÇÃO / AVERSÃO
36,3
MEDO 7,1
GRÁFICO 8_OCORRÊNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES NAS UPPs
(% DE ENTREVISTADOS)
78,9
75,1 2010
72,3 68,8 68,8 2012
66,1
65,1
62,6 61,6 2014
55,1
52,1 48,5
46,5
42,6
35,3
24,2
18,4 17,5
PERTURBAÇÃO TRÁFICO DESACATO RIXAS, VIOLÊNCIA PORTE FURTOS ROUBOS HOMICÍDIOS VIOLÊNCIA
DO SOSSEGO DE VIAS DE DOMÉSTICA ILEGAL DE SEXUAL
DROGAS FATO ARMAS
(Gráfico
100% 8).
39
A percepção de que há a apresentar percentuais menores de
roubos e furtos frequentes também policiais que consideram muito fre-
cresceu, ao passo que a de violência quentes as ocorrências
28,3 listadas, com
doméstica decresceu
40,6 e a de outras especial destaque para o porte ilegal
46,2
ocorrências
75% – perturbação do sossego, de armas e o tráfico de drogas, em que
desacato e rixas – teve pequenas as diferenças entre aquelas unidades
variações para mais ou para menos e as “vermelhas” são particularmente
entre as duas últimas pesquisas. grandes e os 35,5coeficientes de corre-
50%
Algumas dessas percepções apre- lação são superiores aos obtidos para as
31,4
sentam correlação estatisticamente 26,4 demais ocorrências.
significante, ainda que fraca, com as A sensação de segurança dos poli-
faixas de incidência de confrontos ciais, como seria de esperar, também
25%
armados definidas pela PM, como se vê varia nesses três conjuntos de unidades,
36,2
na Tabela 5. As UPPs
28,0 “verdes” tendem
27,4 sendo significativamente mais alta nas
0%
TABELA 5_OCORRÊNCIAS QUE OS POLICIAIS CONSIDERAM MUITO FREQUENTES,
SEGUNDO CLASSIFICAÇÃO
2010 DAS2012
UPPs POR QUANTIDADE
2014 DE CONFRONTOS REGISTRADOS
PELA PM DE JANEIRO A MAIO DE 2015 (% DE ENTREVISTADOS)
SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE
VERMELHAS AMARELAS VERDES TODAS
(14 A 49) (7 A 13) (0 A 6) AS UPPs
19,9
25%
19,9 22,8
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UPPs “verdes” do que nas demais (Tabela portando armas na comunidade (Tabela
6). Já a diferença entre “vermelhas” e 7).41 Esses resultados, apenas indica-
“amarelas” não é expressiva, levando-se tivos, mostram parcelas mais baixas nas
em conta a margem de erro da pesquisa. unidades “verdes” de agentes que dizem
Observe-se que, no conjunto, uma pro- ter visto armas em outras mãos que
porção bastante alta (42,4%) dos entre- não as da polícia. E também apontam
vistados de 2014 sentia-se insegura ou para alguma relação, embora tênue,
muito insegura trabalhando em UPP.40 entre menor incidência de confrontos
Verificaram-se também relações sig- e menos manifestações de hostilidade
nificantes entre os agrupamentos de dos moradores contra os policiais, rei-
UPPs segundo número de confrontos e terada pela percepção de sentimentos
algumas experiências dos entrevistados negativos da população numa faixa
no nosso survey; em particular, a de ter bem maior das unidades “vermelhas”
visto pelo menos uma vez, nos últimos (70,1%) do que nas dos agentes alo-
três meses, indivíduo(s) não policial(is) cados em unidades “verdes” (44%).
TABELA 7_EXPERIÊNCIAS VIVIDAS PELOS POLICIAIS AO MENOS UMA VEZ NOS ÚLTIMOS
TRÊS MESES ANTES DA PESQUISA, SEGUNDO CLASSIFICAÇÃO DAS UPPs POR QUANTIDADE
DE CONFRONTOS REGISTRADOS DE JANEIRO A MAIO DE 2015 (% DE ENTREVISTADOS)
PARTICIPOU DE OCORRÊNCIA COM DISPARO DE ARMA DE FOGO 44,1 28,0 11,9 31,2
MORADORES ARREMESSARAM OBJETO CONTRA O(A) POLICIAL 56,7 63,5 44,7 55,8
MORADORES NÃO RESPONDERAM AO CUMPRIMENTO DO(A) POLICIAL 64,9 65,2 52,2 61,8
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Tais indicações, contudo, não per- de quatro anos em queda. E que, apesar
mitem endossar o discurso que rela- de um recuo em 2013, eles sobem nova-
ciona univocamente a presença de tra- mente em 2014, a uma taxa maior nos
ficantes armados e a rejeição de parte territórios “pacificados” (17,6%) do que
dos moradores à UPP, como sugerem no resto da cidade do Rio (9,2%).43
algumas respostas de policiais a per- Estudos etnográficos recentes com
guntas abertas do nosso questionário policiais e/ou moradores dão conta de
e entrevistas colhidas em outras pes- uma presença mais ostensiva do tráfico
quisas. Trata-se de estratégia argumen- armado nesses territórios, mas enfa-
tativa posta em jogo para tentar explicar tizam que, mesmo nos de ocupação
a crise da “pacificação” com base numa mais antiga, nunca deixou de existir
lógica maniqueísta, reforçadora ao domínio dos traficantes sobre determi-
mesmo tempo da retórica da “guerra” e nadas regiões, geralmente as mais altas
dos clássicos estereótipos sobre a popu- ou mais afastadas do centro das comu-
lação de favelas.42 Como realça Soares nidades. Ainda que enfraquecido pela
(2015: 135), em estudo sobre duas presença da UPP, manteve-se, assim, em
comunidades com UPP, várias favelas, o poder desses grupos de
controlar porções do território, de impor
Seus argumentos [dos policiais entre-
certas regras aos moradores e de puní-los
vistados] revelam um posicionamen-
pela proximidade com os policiais.44
to da UPP como a figura do bem que
resgatou a favela das mãos do tráfico.
Segundo Vanessa Soares, que pes-
Os pressupostos que sustentam sua quisou duas UPPs relativamente
argumentação são claros: todo aque- antigas, uma da Zona Norte, outra da
le que se opõe às boas ações da UPP Zona Sul da cidade, em ambas a
possui ou possuiu alguma relação com
o tráfico; ou aqueles que não apóiam legitimidade do uso da violência pare-
a UPP apóiam os bandidos. Há quase ce não estar plenamente estabelecida
uma obrigação de apoiar a UPP para para nenhum dos polos desta disputa.
que se possa qualificar enquanto uma Tanto os policiais das UPPs quanto os
pessoa de “bem”. O trabalho da UPP traficantes parecem ser questionados
na favela consiste também em uma em alguns momentos, os primeiros
disputa entre bem e mal. quando são agredidos e os segundos
quando são denunciados pelos mo-
radores. Mas, em alguns momentos,
Não há como negar, por outro lado,
ambos encontram obediência nos mo-
o agravamento recente do cenário da
radores, o que implica a ambiguidade
segurança em boa parte das comu- de leis que marca a favela “pacificada”
nidades ditas “pacificadas”, que se (Soares 2015: 166).
expressa de modo mais claro pelo
aumento dos tiroteios, das mortes À medida que a disputa terri-
de policiais e dos homicídios come- torial se acirra, a tendência dos mora-
tidos pela polícia. Já nos referimos ao dores é manter-se distantes dos poli-
número de PMs baleados e mortos ciais, temendo ser identificados como
em serviço desde 2012. Cabe acres- X-9 (informantes) e sofrer retaliações:
centar que esse é também o momento “conforme o clima de conflito com o
em que aumentam nas UPPs os homi- tráfico esquentava, as relações entre
cídios decorrentes de intervenção UPP e moradores esfriavam na mesma
policial (“autos de resistência”), depois proporção” (idem: 171). Mas outro fator
BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA • 19
Novembro 2015 22
RESPEITO 3,0
guarnições com mais frequência en- PERTURBAÇÃO TRÁFICO DESACATO RIXAS, VIOLÊNCIA PORTE FURTOS
DO SOSSEGO DE VIAS DE DOMÉSTICA ILEGAL DE
volvidas em confrontos (Soares 2015: GRÁFICO 9_COMO OS POLICIAIS SE SENTEM, A MAIOR
DROGAS FATO ARMAS
196-7; 288). PARTE DO TEMPO, TRABALHANDO EM UPP
(% DE ENTREVISTADOS)
Baixa acumulação de capital social,
abandono ou enfraquecimento do “poli- 100%
ciamento de proximidade”, reforço
das atividades e mentalidades repres- 28,3
sivas, aumento da violência e da cor- 40,6
46,2
rupção policiais, maior ostensividade 75%
28,0
Novembro 2015
27,4
26 36,2
0%
“
caiu de forma expressiva entre os dois
OUTROS TIPOS
últimos levantamentos a parcela de poli- Entretanto, praticamente
QUALQUER COISA não
DE se alterou
SERVIÇO
MENOS UPP
ciais que avaliam positivamente o pro- nos dois últimos1,0% 3,5% dos
surveys a parcela ÁREA DE SAÚDE
grama UPP, tendo aumentado a faixa que prefeririam, caso tivessem escolha, OU ENSINO
JUNTO
1,9% COM
dos que expressam opinião negativa e estar em outroFORAtipo
DA PMde serviço que O GRAU DE
SERVIÇO INTERNO
variado pouco a dos que mantêm uma não UPP: 59,9%0,4% em 2012 e 58,9% em 3,0%
SATISFAÇÃO,
apreciação neutra (Gráfico 10). O nexo 2014. Continua sendo a maioria, mas,
CAIU DE FORMA
estatístico entre avaliação das UPPs e se se considera que no primeiro levan- BOPE
tipo de trabalho realizado é bastante tamento, em 2010, essa parcela era de EXPRESSIVA 7,2%
fraco e tampouco há convergência sig- 69,6%, parece ter ocorrido algum tipo ENTRE OS
UNIDADES CHOQ
nificativa entre avaliação do programa de acomodação na qual mesmo parte DOIS ÚLTIMOS
ESPECIALIZADAS 3,2%
BPM 21,6%
e número de confrontos nas comuni- dos policiais insatisfeitos
68,5% ou pouco LEVANTAMENTOS OUTR
ESPE
dades. Mais forte e óbvio parece ser o aderidos ao programa não veem tanta A PARCELA 11,2%
vínculo entre avaliação e satisfação: vantagem em sair dele. A análise de DE POLICIAIS
77% dos policiais satisfeitos qualificaram alguns cruzamentos e respostas abertas
QUE AVALIAM
positivamente o programa, ao passo que pode ajudar a entender melhor esse
só 18% dos insatisfeitos expressaram fenômeno à primeira vista paradoxal.
POSITIVAMENTE
essa opinião. Existe, comoFICARIA
é óbvio, O PROGRAMA
MAISuma
PERTO relação
DE CASA 24,4
Os vários sinais de crise ecoados entre estar ou não satisfeito(a) e desejo UPP”
GOSTA MAIS / IDENTIFICA-SE MAIS 24,2
pela pesquisa e espelhados em trabalhos ou não de mudar de trabalho: 82,8%
CONDIÇÕES DE TRABALHO MELHORES 12,6
etnográficos – deterioração das con- dos insatisfeitos querem sair de UPP e
TERIA MAIS ACEITAÇÃO /
dições de segurança, das relações com 70,8% dos satisfeitos querem ficar.
RECONHECIMENTO Mas
/ RESPEITO
9,0
os moradores e do nível de satisfação não só ambos os percentuais são infe- /
TERIA MAIS SEGURANÇA
8,8
TRANQUILIDADE
dos agentes –, somados à persistência riores a 100% como há ainda os indife-
FICARIA LONGE DA COMUNIDADE 4,7
de péssimas condições de trabalho em rentes – nem satisfeitos, nem insatis-
SERIA MAIS POLÍCIA/POLÍCIA DE VERDADE 3,3
diversas UPPs, levariam a esperar um feitos – que se dividem entre a vontade
TERIA MAIS AUTONOMIA/
grande aumento da proporção de poli- de ficar (40,5%) e a LIBERDADE
de sair (59,5%).
PARA AGIR
2,8
ciais desejosos de sair do programa e TambémTERIA
há relação, embora INSTITUCIONAL
MAIS RESPALDO mais fraca, 2,4
trabalhar em outros setores da PM. com o tipo de trabalhoNÃO queGOSTA
os policiais
DE UPP /
2,4
NÃO ACREDITA NO PROJETO
28,3
40,6
46,2
75%
realizam a maior parte do tempo: entre segurança, ou conveniências pessoais,
os alocados em ponto fixo, o percentual há uma parcela de entrevistados para
dos que prefeririam trabalhar em outro quem querer trocar a UPP por outro
35,5
setor da PM (71,5%)
50% é bem superior à serviço sugere preferência por formas
média (58,9%) e, entre os31,4 do serviço tradicionais de policiamento. Note-se,
26,4
administrativo, é significativamente inicialmente, que, caso pudessem optar
inferior (38%). A distância entre tra- por outro trabalho, mais de 90% esco-
balho e local 25%de moradia também lheriam batalhão convencional (BPM)
parece ter certo peso: não só ela foi ou unidade especial, 36,2 como Bope,
28,0 27,4
mencionada espontaneamente como BPChoque e outras (Gráfico 11).
justificativa para querer trabalhar em Esse resultado é bastante parecido
0% Gráfico 12, adiante),
outro serviço (ver com o de 2012 (Musumeci et al. 2015:
mas foram altas as percentagens2010 dos Mas de lá para cá diminuiu
8).52 2012 2014 a pro-
que gostariam de sair entre os que ava- porção de justificativas que apontam
SATISFEITO(A) INSATISFEITO(A) INDIFERENTE
liaram a distância casa/trabalho como claramente uma rejeição às UPPs, um
“ruim” (73,1%) e entre os que disseram repúdio ao trabalho em favela ou uma
gastar mais de duas horas no desloca- valorização das atividades e da imagem
100%
mento da residência até a UPP (81,5%). tradicionais de polícia – tais como
Segurança é outro fator correlacionado “gosta mais/identifica-se mais” [com
com a vontade75%
ou não de sair: 78% o outro 41,3
tipo de serviço]; “teria mais
60,2
dos que se sentem muito inseguros gos- aceitação/reconhecimento/respeito”;
POSITIVA
tariam de ir para outro serviço e só 36% “ficaria longe da comunidade”; seria
NEGATIVA
dos que se 50%sentem muito seguros prefe- “mais polícia” ou “polícia de verdade”;
NEUTRA
ririam sair do programa. “teria mais35,9 autonomia e liberdade
Ao lado dos nexos entre 19,9 vontade para agir”; “não gosta de UPP” ou “não
25%
de sair e condições de trabalho, de acredita no projeto” e “aprenderia mais”
19,9 22,8
0%
GRÁFICO 11_TIPO DE SERVIÇO
2012 EM QUE OS POLICIAIS
2014 PREFERIRIAM ESTAR TRABALHANDO
(% DE RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP)
OUTROS TIPOS
QUALQUER COISA
DE SERVIÇO
MENOS UPP
1,0% 3,5%
ÁREA DE SAÚDE
OU ENSINO
1,9%
FORA DA PM
0,4% SERVIÇO INTERNO
3,0%
BOPE
7,2%
UNIDADES CHOQUE
ESPECIALIZADAS 3,2%
BPM 21,6%
68,5% OUTRAS
ESPECIALIZADAS
11,2%
“
ESPECIALIZADAS 3,2%
BPM 21,6%
68,5% OUTRAS
ESPECIALIZADAS
11,2%
É POSSÍVEL
GRÁFICO 12_MOTIVOS POR QUE OS POLICIAIS PREFERIRIAM
ESTAR NO OUTRO TIPO DE SERVIÇO (% DAS RESPOSTAS QUE A APARENTE
DE ENTREVISTADOS QUE GOSTARIAM DE SAIR DE UPP) REDUÇÃO DAS
RESISTÊNCIAS
FICARIA MAIS PERTO DE CASA 24,4 SINALIZE QUE
GOSTA MAIS / IDENTIFICA-SE MAIS 24,2 ESSAS UNIDADES
CONDIÇÕES DE TRABALHO MELHORES 12,6 ESTÃO-SE
TERIA MAIS ACEITAÇÃO /
RECONHECIMENTO / RESPEITO
9,0 TORNANDO
TERIA MAIS SEGURANÇA /
8,8 CADA VEZ MAIS
TRANQUILIDADE
RESPOSTAS
PERGUNTAS
FAVORÁVEIS DESFAVORÁVEIS NEUTRAS
3,0
NEUTROS/AMBÍGUOS
BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA • 19
Novembro 2015 31
NOTAS
1. Ao longo do texto, o termo “pacificação” será cos; o RAS (Regime Adicional de Serviços),
utilizado sempre entre aspas para assinalar regulamentado em abril de 2012, autoriza
que se trata de uma categoria do discurso ofi- todos os servidores de segurança pública
cial e midiático, sujeito a diversas leituras e crí- a desempenhar tarefas especiais de poli-
ticas. Como lembra Oliveira (2014), esse termo ciamento ostensivo durante os períodos
aponta para uma visão militar, tutelar e “civili- de folga (ver http://www.rj.gov.br/web/im-
zatória”, que se aplica sempre a um Outro per- prensa/exibeconteudo?article-id=850254.
cebido como social e moralmente inferior. Na- Último acesso: 16/09/2015).
turalizá-lo implica, portanto, ocultar todo um
7. A pergunta sobre passagem anterior por ou-
conjunto de significados culturais e políticos
tros setores excluía expressamente o estágio
que se transmite de experiências históricas à
realizado durante a formação e a prestação de
situação atual: segundo o autor, muitas analo-
serviços complementares via Regime Adicional
gias podem ser traçadas entre a “pacificação”
de Serviço (RAS). O percentual se refere, por-
de grupos indígenas no passado e a dos mo-
tanto, a policiais que haviam de fato pertencido
radores das favelas cariocas contemporâneas,
a outras unidades fora do programa UPP.
particularmente o pressuposto de uma ação
tutelar exercida sobre uma população vulne- 8. Os conteúdos avaliados não correspondem,
rável e desprovida de “civilização”. necessariamente, a disciplinas do Curso de
Formação de Soldados da PM. Trata-se de
2. Os resultados da pesquisa de 2010 en-
temas propostos no questionário do CESeC
contram-se em CESeC (2010) e Soares et
para que os entrevistados classificassem o
al. (2012); os do survey de 2012, em CESeC
ensino de cada tema como “adequado”, “ina-
(2012), Soares (2012) e Musumeci et al. (2013).
dequado” ou “inexistente”.
Algumas perguntas do questionário foram al-
teradas em 2014 e introduziram-se algumas 9. A maioria dos policiais entrevistados em 2014
novas, por isso nem sempre se podem compa- (57,2%) disse que seu curso de entrada na
rar os dados dos três levantamentos. PM, incluindo estágio, havia durado de 7 a
9 meses; 39,6% afirmaram que durara de 10
3. Em julho de 2014, quando teve início a pes-
a 14 meses e 3,2%, disseram tê-lo concluído
quisa, já havia, na verdade, 38 UPPs, mas
em menos de 6 meses. A malha curricular do
duas foram excluídas do levantamento por
Curso de Formação de Soldados da PMERJ
serem recentes demais: Manguerinha, em
vigente desde 2012 previa uma carga horária
Duque de Caxias, única fora do município do
total de 1.182 horas, incluindo estágio, o que
Rio, inaugurada em abril, e Vila Kennedy, na
equivalia a 7 meses ou mais de duração (cf.
Zona Oeste da cidade, criada em maio da-
Cortes e Mazzurana 2015: 14-15).
quele ano. O total de policiais também já era
maior, mas a nossa lista só incluiu os das 36 10. Por “polícia de proximidade”, segundo a defi-
UPPs e, entre estes, só os que estavam “pron- nição oficial, deve-se entender “um conceito
tos” (isto é, não afastados ou licenciados) na e uma estratégia fundamentada na parceria
data inicial do levantamento. entre a população e as instituições da área
de segurança pública. Os policiais da UPP
4. Esta é decerto a maior limitação da pesquisa,
não são policiais de confronto e ‘guerra’, e
pois obriga a tratar implicitamente as favelas
sim de mediação de conflitos e de relação
com UPP como se fossem um conjunto ho-
com as comunidades. A polícia de proximi-
mogêneo – o que, alerta Valladares (2005:
dade busca, ainda, instaurar novas formas de
151-2), pode ter fortes implicações negativas,
interação e parceria entre as instituições po-
ao unificar “situações com características
liciais e a sociedade, privilegiando o atendi-
muito diferentes nos planos geográfico, de-
mento preventivo. Os policiais são orientados
mográfico, urbanístico e social”, reduzindo
a estreitar laços com a comunidade em que
“favela” (no singular) pura e simplesmente ao
atuam, conhecendo os moradores e os pro-
“locus da pobreza” ou “território urbano dos
blemas que possam gerar crimes e conflitos.
pobres”. Ou, ainda, ao território da violência
São pressupostos básicos do policiamento
e da ilegalidade, a que se aplicariam políticas
comunitário: ação pró-ativa; ação preventiva;
de segurança homogêneas, com resultados
integração dos sistema de defesa pública e
supostamente uniformes (Leite 2014; Macha-
defesa social; transparência; cidadania e ação
do da Silva 2015).
educativa” (Página “FAQ” do site UPPRJ:
5. Uma análise do contingente feminino das h t t p : //w w w. u p p r j .c o m / i n d ex . p h p /fa q .
UPPs com base no survey de 2014 e uma re- Último acesso: 16/09/2015).
flexão mais ampla, a partir de pesquisa quali-
11. Feita pelos Grupamentos de Policiamento de
tativa, sobre concepções e papeis de gênero
Proximidade (GPPs) formados por 2 a 4 po-
entre policiais dessas unidades encontram-se,
liciais, que desempenham atividades de polí-
respectivamente, em Mourão (2015b) e Mou-
cia ostensiva e se deslocam a pé (Albernaz e
rão (2013).
Mazzurana 2015: 69, 71). O GPP é considerado
6. O Proeis (Programa Estadual de Integração estratégico para os objetivos da “pacifica-
na Segurança), criado em 2011, permite aos ção” porque, ao menos em tese, “descentra-
policiais militares prestarem serviços, me- liza e personaliza a prestação de serviços de
diante convênio, a órgãos estaduais, muni- policiamento, permitindo maior aproximação
cipais e concessionárias de serviços públi- entre comunidade e policiais militares” (idem:
BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA • 19
Novembro 2015 35
75). Em algumas localidades, porém, o que é evolução dos indicadores de “produção policial”
chamado GPP é o policiamento em ponto fixo no Estado do Rio entre 1991 e 2014, ver CESeC/
(Soares 2015: 194). Estatísticas/Evolução e Distribuição/Indicadores
de segurança pública no Rio de Janeiro [http://
12. O termo “bonde” também pode ser usado www.ucamcesec.com.br/estatisticas/].
para designar “um grupo de policiais que tra-
balha[m] juntos, fazendo o mesmo plantão, 18. Cf. Cano, Borges e Ribeiro (2014). Sobre os
cobrindo o mesmo turno”, não necessariamen- policiais mediadores das UPPs, ver Mourão
te integrantes de GTPP (Menezes 2014: 673). (2014, 2015a). Sobre o “policial social” de
Trata-se, em geral, dos grupos mais agressivos, UPP, com suas ambiguidades e ambivalên-
liderados por agentes que os moradores (e os cias, ver Teixeira (2015).
próprios policiais) identificam como “truculen- 19. Além das diferenças exibidas nas Tabelas 1 e 2,
tos” (Soares 2015: 212, 287). a pesquisa de 2014 registrou que 68,8% dos po-
13. É possível que haja significativas variações liciais que trabalhavam a maior parte do tempo
na atuação desses policiais em diferentes fa- em GTPP faziam em média 10 ou mais aborda-
velas, mas, pelo menos em algumas, o nome gens por turno de serviço, enquanto, no resto
mais adequado para o destacamento talvez da tropa, esse percentual era de 25%. Todos
fosse “Polícia de Pouca Proximidade”, como os cruzamentos de dados da pesquisa usados
sugere o pesquisador Vinicius Esperança neste trabalho são estatisticamente significan-
(2014: 137), que acompanhou diretamente tes, mas têm coeficientes de correlação baixos
várias operações do GTPP em Nova Brasília. (variando de pouco mais de 0,1 a menos de 0,6),
logo devem ser tomados apenas como indica-
14.
Instituto de Segurança Pública do Es- ções, não como evidência estatística.
tado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) – Indi-
cadores por AISPs e por UPPs [http:// 20. É importante, contudo, diferenciar os entre-
www.isp.rj.gov.br/mapasite.asp?flag=003. vistados que afirmam realizar frequentemen-
Último acesso: 05/09/2015]. As séries para as te mediação de conflitos (sem que se saiba
UPPs iniciam-se em 2007, último ano antes da bem o que entendem por isso) do grupo de
implantação do programa, que serve de “marco policiais-mediadores especialmente treina-
zero” para a análise da evolução das ocorrên- dos para conduzir mediações nas UPPs, por
cias nos territórios que foram sendo progressi- meio de parceria entre a PM, o Tribunal de
vamente ocupados. Justiça e o Ministério Público estaduais. O
número total desses policiais-mediadores
15. A “produção policial” divulgada pelo ISP, seja não passava de 40 em 2014 e nenhum dos
para as UPPs ou para o resto do estado, não 16 identificados na amostra do survey disse
inclui, porém, a condução à delegacia de indi- trabalhar em GTPP (cf. Mourão 2015a).
víduos detidos em abordagens policiais sem
flagrante ou mandado judicial, simplesmente 21. Para Muniz e Mello (2015: 54), “as diversas
para realização do “sarque” (checagem de an- finalidades atribuídas à polícia de proximi-
tecedentes penais). Essa prática é ilegal, mas dade levam a uma concepção de mandato
bastante comum na UPP de Nova Brasília – policial tão estendido que combina táticas
onde o pesquisador Vinicius Esperança (2014: policiais convencionais de repressão e dissu-
144) contou mais de 200 TROs (Termos de Re- asão com outras modalidades alternativas de
gistro de Ocorrência) de “sarques” no interva-
intervenção como a mediação e resolução de
lo de um ano – e provavelmente também em
conflitos; o aconselhamento, orientação, au-
outras favelas “pacificadas”.
xílio e assistência comunitárias; a mobilização
16. Isso fica claro quando se examina a evolução e conscientização civil; a promoção de uma
dos registros de “produção policial” desagre- cultura civilista etc.”
gados por UPP. No caso das apreensões de
armas, é possível perceber um padrão que 22. O mesmo policiamento está sendo atualmen-
corresponde às etapas planejadas de “paci- te expandido para projetos-piloto em bairros
ficação” dos territórios: em muitos deles, há de classe média da cidade do Rio de Janeiro,
um pico de armas apreendidas logo antes da com o nome de CIPPs (Companhias Integra-
inauguração da UPP e em seguida um declí- das de Polícia de Proximidade), popularmen-
nio da curva, com eventual aumento no últi- te batizadas de “UPPs do asfalto”. A primeira
mo ano da série. As apreensões de drogas, ao unidade desse tipo foi inaugurada em feverei-
contrário, não seguem um padrão perceptível: ro de 2015, abrangendo partes dos bairros da
em algumas áreas, como Pavão-Pavãozinho, Tijuca e do Grajaú (cf. http://www.pmerj.rj.gov.
Providência, Turano, Macacos, Mangueira e
br/1a-companhia-integrada-de-policia-de-
Nova Brasília, elas crescem significativamente
-proximidade-cipp-completa-seis-meses/.
após a instalação da UPP; em outras, como Ci-
Último acesso: 16/09/2015). Ao contrário do
dade de Deus e Rocinha, elas diminuem, e em
várias outras mostram uma mesma tendência, que ocorreu nas UPPs, o projeto CIPP foi mo-
ou uma oscilação aleatória, antes e depois nitorado desde o início, por meio de um con-
da UPP. Tais diferenças precisariam ser mais vênio entre a PMERJ e o CESeC; os resulta-
bem estudadas, mas uma hipótese é de que dos da avaliação deverão ser divulgados até
reflitam distintas e mutáveis orientações dos o final de 2015.
comandos locais.
23. Um projeto que, lamentavelmente, parece es-
17. Por outro lado, em 2014, diversas áreas “pa- tar sendo desmobilizado, com a atribuição de
cificadas” tiveram uma brusca e inexplicável outras funções a esses policiais.
queda dos registros tanto de apreensão de dro-
gas quanto de prisões em flagrante, o que não 24. Veja-se a seção “Acontece” do site oficial UPPRJ
ocorreu no resto do estado, onde ambos os ti- (http://www.upprj.com/index.php/acontece.
pos de ocorrências continuaram em alta. Para a Último acesso: 21/09/2015).
BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA • 19
Novembro 2015 36
25. Do conjunto dos policiais entrevistados pelo 34. Planilha “Ranking das UPPs por quan-
CESeC em 2014, 13,3% afirmaram realizar tra- tidade de confrontos”, fornecida ao
balho administrativo a maior parte do tem- CESeC pela Coordenação de Polícia
po (ver Gráfico 4, acima). Entre as policiais Pacificadora da PMERJ. Embora não haja um
femininas, essa percentagem foi de 47% (cf. esclarecimento explícito, a categoria “confron-
Mourão 2015b). to” utilizada pela PM parece supor sempre tro-
ca de tiros de arma de fogo com criminosos.
26. As pesquisas quantitativas que ouviram mo-
35. Barreira do Vasco/Tuiuti, Batan, Borel, Cer-
radores das favelas ocupadas não abrangem
ro-Corá, Chapéu Mangueira/Babilônia, For-
todas as UPPs. A mais recente, realizada em
miga, Jacarezinho, Prazeres/Escondidinho e
2014, focaliza apenas dez unidades, em cada Vidigal.
uma das quais foram entrevistados cem mora-
dores. Observa que, de modo geral, há adesão 36. Adeus/Baiana, Andaraí, Arará Mandela, Cha-
ao programa, avaliação positiva do impacto tuba, Coroa/Fallet/Fogueteiro, Fazendinha,
da UPP – especialmente na redução dos tiro- Macacos, Manguinhos, Pavão-Pavãozinho/
teios – e desejo de que ela continue após as Cantagalo, Providência, Salgueiro e Tabajaras.
Olimpíadas. Mas mostra também que as opini- 37. Alemão, Caju, Camarista Méier, Cidade de
ões variam muito entre os diferentes segmen- Deus, Lins, Mangueira, Nova Brasília, Parque
tos etários e que quase 60% da população não Proletário, Rocinha, São Carlos, São João, Tu-
confiam nos policiais; registra, além disso, ex- rano e Vila Cruzeiro.
periências de desrespeito, seletividade e vio-
lência nas abordagens policiais, tendo como 38. Não há dados sobre confrontos no período
alvo especialmente os moradores jovens e ne- correspondente ao da pesquisa.
gros (VILAROUCA e RIBEIRO 2014). 39. Não se trata de ocorrências registradas, ape-
nas da avaliação dos policiais sobre frequên-
27. As opções fechadas eram medo, descon-
cia de casos nas áreas de UPP onde traba-
fiança, simpatia, raiva, respeito, admiração e
lham.
indiferença. Não só podia-se escolher mais
de uma dessas alternativas como, no campo 40. Já o cruzamento entre sensação de segurança
aberto, vários policiais responderam mais de e tipo de trabalho realizado na maior parte do
um sentimento. Por isso, os percentuais dos tempo não apresentou resultado notável: os
Gráficos 7 e 8 se referem ao total de respos- policiais de GTPP disseram sentir-se seguros
tas, não ao de entrevistados. ou muito seguros numa proporção (29,9%)
apenas um pouco maior que a dos ocupados
28. Ambas as perguntas eram abertas e espontâ- em outros tipos de serviços (24,7%).
neas, e vários entrevistados forneceram mais
de uma resposta. Os percentuais referem-se, 41. Outras experiências listadas no questionário
assim, ao total de respostas, não ao de entre- – ter feito uso de arma letal ou não-letal e ter
vistados. apreendido drogas, armas ou adolescentes
infratores – apresentaram coeficientes de
29. Em grupos focais com cabos e soldados de correlação menores que 0,1 no cruzamento
UPP, conduzidos pelo CESeC na primeira ro- com a divisão das UPPs por quantidade de
dada da pesquisa, em 2010, também houve re- confrontos.
latos de hostilidades por parte de moradores,
42. Ver, a esse respeito, entre outros, Valladares
sobretudo jovens, que atiravam pedras e sacos
(2005); Ramos e Musumeci (2005); Cano,
de urina ou fezes contra os policiais, e xingavam
Borges e Ribeiro (2014: 176-8); Cecchetto et
ou cuspiam no chão quando passavam por eles.
al. (2013: 11-13); Soares (2015: 135).
30. Na pesquisa do CESeC, a pergunta sobre ex- 43. ISP-RJ (http://www.isp.rj.gov.br/Conteudo.
periências de ter sido hostilizados só foi feita asp?ident=61). Ainda não há dados de 2015
aos policiais em 2014, por isso não há possi- para as áreas com UPP.
bilidade de comparação com os surveys dos
anos anteriores. 44. Soares (2015: 164) relata casos de morado-
ras expulsas da comunidade por traficantes
31. Vale insistir que os baixos coeficientes de porque mantinham relações amorosas com
correlação dos cruzamentos fazem com que agentes da UPP, de comerciantes proibidos
os resultados devam ser tomados como indi- de vender aos policiais e de pessoas que fo-
cações, não como evidências. ram punidas, ou tiveram a porta de casa mar-
cada, por conversarem muito com a polícia
32. Entrevista do coronel Antonio Carballo, as- – fatos que provavelmente se repetem em
sessor de Assuntos Estratégicos do Estado outras favelas “pacificadas”.
Maior da PM. G1, 11/07/2015 [http://g1.glo-
bo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/07/ 45. Ver, a esse respeito, Cano, Borges e Ribeiro
policia-admite-erros-nas-upps-e-espe- (2014: 149-52); Musumeci et al. (2013: 8-10; 14).
cialistas-avaliam-mortes-de-pms.html.
46. Zaluar (2015: s/p) sugere que esse fortaleci-
Último acesso: 25/09/2015]
mento tem relação com as grandes manifes-
33. Segundo levantamento do G1, foram 4 mor- tações de 2013, quando muitos jovens poli-
tes de policiais de UPP em 2012, 3 em 2013, ciais de UPP foram deslocados para prestar
8 em 2014 e 7 só de 1º de janeiro a 8 de julho auxílio ao BPChoque ou aos batalhões con-
de 2015 (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/ vencionais, e assimilaram na prática “as téc-
noticia/2015/07/um-policial-morre-cada- nicas da repressão e o abuso no uso da força
-40-dias-em-upps-do-rio-desde-2014.html. que caracterizavam a PM em situação de en-
Último acesso: 21/09/2015). frentamento”, tendo oportunidade de colocar
BOLETIM SEGURANÇA E CIDADANIA • 19
Novembro 2015 37
em ato a “lógica da ação que impera na cul- 50. Os motivos de satisfação e insatisfação foram
tura organizacional”. A autora também asso- categorizados e agregados a partir de múl-
cia a esse período o reempoderamento dos tiplas respostas à pergunta aberta e espon-
traficantes nas UPPs: “com menos policiais tânea. O grupo “condições de trabalho”, por
presentes, os traficantes voltaram a exibir ar- exemplo, inclui elementos como escala, grati-
mas e se comportar provocativamente, sem se ficação, condições da sede, auxílio-transporte
esconder nos becos como faziam nos últimos etc. Como alguns policiais responderam mais
anos. Confrontos entre policiais e traficantes de um motivo, as percentagens se referem ao
voltaram a ocorrer e a caça aos ‘bandidos’ total de respostas, não ao de entrevistados.
hoje periga vir a ser novamente o modus ope-
randi de policiais militares mesmo nas UPPs”. 51. Na época do survey anterior, em 2012, a
gratificação dos policiais de UPP, paga pela
47. Soares (2015: 172) relata, inclusive, que, numa
prefeitura, costumava atrasar muito e a pon-
das favelas que pesquisou, reações de revolta
tualidade do pagamento foi o item com pior
de moradores, com xingamentos e arremesso
avaliação depois do salário: só 6,3% qualifi-
de sacos de urina, fezes e ratos, não tiveram
caram-no como “bom” e só 6% consideraram
como alvo apenas policiais da UPP, mas tam-
“bom” o salário que recebiam. Em 2014, pare-
bém funcionários do PAC, em resposta a re-
ce não haver mais atrasos; além disso, como
moções feitas de modo autoritário e a atrasos
já mencionado, o acréscimo de serviço extra
nas obras de reassentamento dos moradores
no RAIS e no Proeis elevou a média salarial
já removidos.
e aumentou significativamente a parcela de
48. Em análise feita de uma perspectiva distinta, policiais que consideram o salário “bom” (de
Eduardo Rodrigues (2014a e 2014b) destaca 6 para 21,5%), embora ao preço de uma carga
os rearranjos na “geopolítica da droga” de- de trabalho maior.
sencadeados pela instalação das UPPs, afe-
tando as relações de poder entre traficantes, 52. A proporção de policiais desejosos de traba-
policiais e milicianos na cidade do Rio de lhar em BPM, contudo, foi mais alta em 2014
Janeiro. Para o autor, os recentes ataques a que na rodada anterior (68,5 contra 59,4% ).
UPPs, o aumento dos crimes contra o patri- Cf. Musumeci et al. (2013: 8).
mônio e o re-fortalecimento das milícias nos
últimos anos (inclusive em favelas com UPP) 53. Ver a já mencionada série de dados do ISP
seriam algumas das consequências interrrela- para as áreas com UPPs, a cidade e o estado
cionadas do processo de “pacificação”, cujo do Rio de Janeiro. Cf. também MIsse (2014).
objetivo maior teria sido e continuaria sendo
o de extinguir ou desterritorializar, não o trá- 54. Cf., por exemplo, Albernaz, Caruso e Patrício
fico de drogas ou os grupos armados em ge- (2007); Cardoso (2010, 2014). A sigla GPAE é
ral, mas especificamente a facção criminosa de Grupamentos de Policiamento em Áreas
intitulada Comando Vermelho. Especiais.
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