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4. RESUMO
A presente proposta de pesquisa objetiva comparar a representação da mulher escravizada nos
romances Úrsula, de Maria Firmina dos Reis e Vitimas-algozes, de Joaquim Manuel de Macedo
(1869). Objetiva-se analisar como a autora e o autor constroem a imagem da mulher negra e as
diferenças entre as caracterizações das personagens Suzana e Lucinda, respetivamente.
Considerando o contexto histórico e literário no qual as obras supracitadas se inserem, pretende-
se analisar como o ideal de mulher do século XIX é trabalhado nas obras analisadas,
investigando como esse ideal é utilizado na construção das personagens negras. Defendemos
como hipótese que essa diferença de abordagem relaciona-se diretamente com o lugar de fala de
Reis e Macedo: a primeira, uma mulher mulata, o segundo, um home branco.
Suzana como mulher, reproduz o discurso sobre as mulheres de sua época. No caso de
uma mulher madura, o exemplo materno de Maria, representada biblicamente como
mãe zelosa e esposa modelo, que, como mãe do filho de Deus e uma mulher que age
segundo a vontade Dele, representa um arquétipo divino de comportamento feminino
que deveria ser alcançado por toda mulher honrada. Desse modo, Suzana é espelhada no
ideal celeste (MENDES, 2013, p.27):
Com Suzana, Maria Firmina constrói uma personagem negra com
comportamento e atitudes consonantes à moral patriarcal do século XIX, a começar pela
ausência de furor sexual, pois o sexo para as mulheres seria apenas um meio para se
alcançar a maternidade, sendo, portanto, conjugal e com fins reprodutivos:
Nesse sentido, Suzana é uma ‘’mulher normal’’ conforme o discurso médico da época,
afastada, deste modo do arquétipo senhorial do (a)s africano (a)s como bárbaro (a)s e
incivilizado (a)s, a idosa é representada como alguém que merece respeito, sobretudo
por suas “alvíssimas cãs” (cabelos brancos), que denotam sua idade avançada, que é
reiterada constantemente ao longo do romance.
Já em Vitimas-algozes, um romance de tese, categoria no qual, por definição,
as ideias expressas no texto são mais importantes do que o próprio enredo, para
confirmar os perigos da escravidão à sociedade imperial brasileira e em especial às
famílias dos senhores Macedo fundamenta sua hipótese no suposto caráter traiçoeiro e
vingativo do escravo. Dentre outros, no último capitulo, Macedo apresenta “Lucinda, a
mucama”, assim apresentada pelo autor:
A escrava entregue aos desprezos da escravidão, crescendo no meio da
prática dos vícios mais escandalosos e repugnantes, desde a infância,
desde a primeira infância testemunhando torpezas de luxuria , e
ouvindo eloquência lodosa da palavra sem freio, fica pervertida muito
antes de ter consciência de sua perversão e não pode mais viver sem
violenta imposição fora da atmosfera empestada de semelhantes
costumes, e das suas idéias sensuais; [...] Aos treze anos de idade a
mucama de Cândida só respirava lascívia em desejos, ações e palavras
de fogo infernal: sua natureza era sob esse ponto de vista impetuosa,
ardente e infrene (MACEDO, 2010. P.’61
Na citação acima, o autor explicita que Lucinda não é alguém confiável para exercer o
papel de mucama, pois submetida à escravidão, ela foi privada de educação, e, portanto
é desprovida de qualquer senso moral. A negra protagoniza uma trama que leva à perda
da inocência da jovem Cândida, sendo a mucama a corruptora da pureza de Cândida,
que deixa de espelhar-se no exemplo mariano e passa a espelhar Eva, a responsável pelo
pecado original, portanto, expressando uma antinomia em relação ao ideal de mulher do
século XIX.
6. JUSTIFICATIVA
No século XIX, após a proclamação da independência do Brasil em 1822, teve inicio o
projeto de construir uma identidade para a jovem nação brasileira. No bojo dessa
concepção, a literatura romântica coaduna com um ideal de nação especifico, no caso
brasileiro, após a ruptura política com Portugal o projeto nacional brasileiro nasce sob a
égide de um legado, o de desdobramento, nos trópicos, da ex- metrópole, e signatário,
portanto, do legado civilizacional português (GUIMARÃES, 1988) e uma nação
essencialmente branca.
Desse modo, no bojo dessa conjuntura histórica, a literatura romântica, que adotara o
maniqueísmo como estrutura narrativa, apresenta uma literatura ideologicamente ligada
à escravidão, sobretudo em sua primeira geração baseada no binômio “nacionalismo-
indianismo” pelo qual estabelece-se uma dicotomia entre indígenas e negros, na qual o
primeiro seria bom por natureza e o segundo atavicamente ruim, e, portanto,
representava uma incômoda camada social:
[na literatura] O negro não podia ser tomado como assunto, e muito
menos como herói [...] porque representava a última camada social.
[...] Numa sociedade escravocrata, honrar o negro, valorizar o
negro, teria representado uma heresia. (SODRÉ, 1995, p.268)
Atividade Período
Leitura e fichamento dos romances analisados 20 a 30 de maio de 2017.
Levantamento bibliográfico (Leitura e fichamento da bibliografia) 20 de maio a 15 de julho de
2017.
Redação do artigo 20 de maio a 12 de outubro
de 2017.
Revisão do texto/ Entrega da 1ª versão do artigo ao orientador/ 13 a 20 de outubro de 2017.
Correção do texto segundo as indicações da orientadora
Entrega da versão final do texto aos professores da banca 18 de novembro de 2017.
examinadora