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a interface
entre o saber
popular e o
científico
PROFESSORES
Ana Lúcia de Castro Sociologia
Marcello Lasneaux Biologia
Sinopse do Programa
Os documentários revelam como os conheci-
mentos dos habitantes da região amazônica
estão contribuindo para o desenvolvimento sus-
tentável e a manutenção de tradições culturais.
Pesquisadores e erveiros estão sistematizando os
conhecimentos populares sobre plantas medicinais
para divulgarem suas propriedades terapêuticas a
médicos de todo o país. Os professores de Socio-
logia e Biologia sugerem trabalhos que analisam
a capacidade antibiótica de algumas plantas e
ainda valorizam os conhecimentos populares.
Apresentação
O documentário aborda questões interessantes
para serem trabalhadas em parceria entre os
professores de Sociologia e de Biologia. Para a
Sociologia, poderá ser estimulada a percepção
e posterior discussão dos alunos sobre o con-
flito social e a relação entre o saber científico
e o saber tradicional-popular. No campo da
Biologia, poderão ser desenvolvidos conteúdos
que tratam da diversidade da flora, extração e
o uso de substâncias de interesse clínico para
o tratamento de doenças.
Um olhar para o documentário
a partir da SOCIOLOGIA
O documentário é uma excelente oportunidade para de perguntas, é necessário orientar os alunos para
o professor de Sociologia trabalhar os conceitos de que abordem o entrevistado com respeito e evitem
conflito social, relações sociais e poder simbólico. o direcionamento das respostas. A seguir, sugerimos
A atividade proposta contempla a competência da algumas questões para elaboração do roteiro.
área 3 na Matriz de referências para o ENEM 2011 (Ci-
ências Humanas): compreender a produção e o papel 1. Você conhece alguma planta medicinal?
histórico das instituições sociais, políticas e econômi-
cas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e 2. Ela serve para tratar o quê? (alegação de uso)
movimentos sociais; e as habilidades (H11, H13, H14
e H15). Sugerimos ao professor aplicar essa atividade 3. O que você pensa sobre a eficácia dos
no segundo ou terceiro ano do Ensino Médio. fitoterápicos?
Inicialmente propomos que o professor realize uma 4. O que você pensa sobre o poder de cura
enquete com os alunos para verificar os conheci- das plantas?
mentos prévios sobre o assunto.
“A estrutura da relação de produção linguística depen- para os lugares de onde se fala com autoridade,
de da relação de força simbólica entre os dois locuto- ou colocando-os em lugares sem palavra). Não
res, isto é, da importância de seu capital de autoridade falamos a qualquer um; qualquer um não “toma”
(que não é redutível ao capital propriamente linguístico): a palavra. O discurso supõe um emissor legítimo
a competência é também, portanto, capacidade de se dirigindo-se a um destinatário legítimo, reconheci-
fazer escutar. A língua não é somente um instrumento do e reconhecedor. Atribuindo-se o fato da comuni-
de comunicação ou mesmo de conhecimento, mas cação, o linguista silencia sobre as condições sociais
um instrumento de poder. Não procuramos somen- de possibilidade da instauração do discurso que são
te ser compreendidos, mas também obedecidos, lembradas, por exemplo, no caso do discurso profé-
acreditados, respeitados, reconhecidos. Daí a defini- tico − por oposição ao discurso institucionalizado,
ção completa da competência como direito à palavra, curso ou sermão que supõe a autoridade pedagó-
isto é, à linguagem legítima como linguagem autorizada, gica ou sacerdotal e só prega para os convertidos.
como linguagem de autoridade. A competência implica
(...) o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisí-
o poder de impor a recepção. Vemos aqui, novamente,
vel, o qual só pode ser exercido com a cumplicidade
o quanto a definição linguística de competência é abstra-
daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos
ta: o linguista tem por assente o que, nas situações da
ou mesmo o exercem.” (p.8)
existência real, constitui o essencial, isto é, as condições
de instauração da comunicação. Ele se outorga o mais “O poder simbólico como poder de constituir o dado
importante − a saber, que as pessoas falam e se falam pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar
(estão em speaking terms), que os que falam consideram ou de transformar a visão do mundo e, deste modo,
os que escutam dignos de escutar e os que escutam, a ação sobre o mundo, portanto mundo, poder quase
consideramos que falam dignos de falar. mágico que permite o equivalente daquilo que é obtido
pela força (física ou econômica), graças ao efeito espe-
A ciência adequada do discurso deve estabelecer
cífico de mobilização, só se exerce se for reconhecido,
as leis que determinam quem pode falar (de fato
quer dizer, ignorado como arbitrário.” (p. 14)
e de direito), a quem e como. Entre as censuras
mais radicais, mais seguras e melhor escondidas, Fonte: Disponível em: <antropologias.descentro.org/files/
estão aquelas que excluem certos indivíduos da downloads/2011/05/Pierre-Bourdieu-A-economia-das-trocas-
comunicação (por exemplo, não os convidando simb%25C3%25B3licas.pdf>.
Em um terceiro momento, o professor problematiza- de Aristóteles e no século XVI com Descartes. Para
rá a relação entre saber científico e saber tradicional, isso, é importante apontar que a lógica científica
trazendo um pouco de história da Ciência. Para isso, (sistemática, factual e aproximadamente exata)
pode-se demonstrar como ocorreu a atual hierar- abandona todo o conhecimento pautado nos prin-
quização entre o conhecimento popular e científico, cípios do pensamento mágico como causalidade
que repousa suas origens históricas no processo de para explicar os fenômenos naturais e fundamenta-
racionalização. Esse processo implicou na repressão se em oposição ao saber popular (qualificado como
à cultura popular - característica da passagem das subjetivo, assistemático, valorativo e inexato).
sociedades tradicionais para as modernas, no longo
processo que vai do século XVI ao XIX. Com o avanço do pensamento científico europeu,
aumentou gradativamente o menosprezo pelo
Sugerimos mencionar o processo de consolidação saber de origem mágica ou popular. Entretanto,
do pensamento científico, especialmente a partir inúmeras descobertas importantes para o desen-
O Brasil é um país de grande diversidade; abriga estudos do potencial clínico das plantas brasileiras
cerca de 10% do total de espécies do planeta, apontam que, embora muito já se tenha desco-
entre fauna e flora. No que se refere às espécies berto, ainda há muito que se estudar. Segundo o
vegetais, a variedade de biomas em função do documento “Política Nacional de Plantas Medi-
clima, solo e oferta de água, suporta um número cinais e Fitoterápicos”, apenas 8% das espécies
incrível de espécies, principalmente de plantas foram investigadas. Muitas delas com a “recomen-
floríferas – as angiospermas. Os dados sobre os dação” do conhecimento popular.
Livros e Revistas
ARGENTA, S. C. et. col. 2011. Plantas medicinais: cultura popular x Ciência. Vivências 7 (12): 51-60, 2011.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. Tradução de Sergio Miceli. São Paulo:
EDUSP,1996. Capítulo - A linguagem autorizada. Disponível em: <antropologias.descentro.org>.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Capítulo - A Linguagem autorizada. Disponível em: <antropo-
logias.descentro.org/files/downloads/2011/05/Pierre-Bourdieu-A-economia-das-trocas-simb%25C3%25B3licas.pdf>.
CECHINEL Filho, Valdir, YUNES, Rosendo A. Estratégias para a obtenção de compostos farmacologicamente ativos a
partir de plantas medicinais, Química Nova 21 (1). Disponível em: <www.scielo.br/pdf/qn/v21n1/3475.pdf> Acesso em
10 de outubro de 2012.
ORTIZ, Renato (org.). 1983. Bourdieu – Sociologia. São Paulo: Ática. Coleção Grandes Cientistas Sociais 39:156-183.
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