Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Alexandre Díttrich*
UFPR
30 A lexandre Díttrich
comunidade verbal, sem acesso a um estímulo privado, pode gerar comportamento
verbal em resposta a ele” (1945/1984, p. 549).6 Todas elas apontam para a seguinte
conclusão: as comunidades verbais ensinam vocabulários mentais/subjetivos com base
na observação de relações comportamentais públicas - isto é, interações entre o
comportamento público do sujeito a ser ensinado e as variáveis públicas que o cercam.
Isso não significa que as relações comportamentais das quais participa o sujeito a ser
ensinado envolvem apenas variáveis públicas, mas que a comunidade que ensina o
vocabulário mental/subjetivo está necessariamente limitada à observação de variáveis
públicas. A comunidade que nos ensina a dizer, por exemplo, que estamos tristes, ou
alegres, ou irritados, etc., nos ensina a dizer isso (1) porque observa certas características
de nosso comportamento tipicamente classificadas como “tristeza", “alegria” ou “irritação”
e/ou (2) porque nos observa em certa situação que, naquela comunidade, é tipicamente
classificada como alegre, triste ou irritante. Pode ocorrer (mas não necessariamente)
que o sujeito a ser ensinado esteja, simultaneamente a tais eventos publicamente
observáveis, experimentando certos estados corporais especialmente conspícuos7, que
ele aprende a chamar de “tristeza”, “alegria” ou “irritação". Tanto a situação quanto o
estado corporal podem, portanto, adquirir a função de estímulos discriminativos que
aumentem a probabilidade de emissão de uma descrição como “estou triste”.
Teoricamente, isso faz com que seja possível, posteriormente, relatar um sentimento
diante da mera presença de um estado corporal semelhante: sentimentos são mais
“salientes” para quem os sente do que as variáveis públicas a eles relacionadas, como
afirma Skinner (1972/1978a, p. 51; 1978b, p. 85). A situação inversa, porém, também é
plausível: uma pessoa que se diz triste, alegre ou irritada pode estar sob controle tão-
somente (ou predominantemente) da situação pela qual passa ou passou, sem que
haja estados corporais especialmente conspícuos acompanhando a situação. Assim,
uma pessoa que diz “estou triste" pode estar sob controle de uma situação que aprendeu
a chamar de triste, mesmo que não esteja, necessariamente, sentindo um estado
corporal que aprendeu a chamar de tristeza. Neste caso, o termo mental/subjetivo pode
estar exclusivamente sob controle de variáveis públicas, embora aparentemente
descreva uma condição privada. Mesmo que estados corporais estejam presentes,
porém, as variáveis públicas podem ainda ser importantes no controle do vocabulário
mental/subjetivo. Se a ocorrência de eventos privados depende necessariamente da
ocorrência de eventos públicos, isso é facilmente compreensível. Além disso, o controle
por variáveis públicas é mais facilmente estabelecido do que o controle por variáveis
privadas - pois, lembremos, a comunidade que estabelece tal controle conta somente
com a evidência das variáveis públicas; a ocorrência concomitante de variáveis privadas
é apenas uma suposição. Estados corporais especialmente conspícuos podem estar
presentes ou ausentes - e se presentes, podem apresentar variações de qualidade e
intensidade indistinguíveis para a comunidade verbal. Portanto, variáveis públicas
provavelmente exercem um controle mais preciso do que as privadas sobre o vocabulário
mental/subjetivo. Uma pessoa que descreve sentimentos está, em última análise,
descrevendo elementos de contingências de reforço ou punição - e está, inclusive,
descrevendo a si própria (suas respostas públicas e/ou privadas) como parte delas.
Contudo, a participação de estados corporais nesse controle talvez seja menos freqüente
do que costumamos pensar. A pessoa que afirmar estar “se sentindo triste” pode estar
“sentindo” apenas uma “situação triste”, sem sentir um estado corporal de “tristeza”.8
6 Não as repetiremos, pois são bem conhecidas pelos analistas do comportamento.
' "Especialmente conspícuos”é importante, se considerarmos que, estritamente falando, todos estamos "experimentando estados corporais"
durante todo o tempo.
' Cabe lembrarque um estado corporal, por si só, é um fenómeno que pouco interessa ao analista do comportamento. Ele interessa na medida
em que partidpa de relações comportamentais, e estas “não são públicas ou privadas; estímulos e respostas é que podem ter esse status
(Tourinho, 2007, p. 5).
Referências
Skinner, B.F. (1969). Behaviorism at fifty. Em B.F. Skinner, Contingencies o f reinforcement A theoretical
analysis (pp. 221-268). New York: Appleton-Century-Crofts. (Trabalho original publicado em 1963).
"Abordamos este problema com mais profundidade em Dittrich (no prelo).
32 A lexandre Díttrich
Skinner, B.F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B.F. (1978a). Humanism and behaviorism. Em B.F. Skinner, Reflections on behaviorism and
society (pp. 48-55). Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall. (Trabalho original publicado em 1972)
Skinner, B.F. (1978b). Can we profit from our discovery of behavioral science? Em B.F. Skinner,
Reflections on behaviorism and society (pp. 83-96). Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall.
Skinner, B. F. (1984). The operational analysis of psychological terms. The Behavioral and Brain
Sciences, 7, 547-553. (Trabalho original publicado em 1945)
Skinner, B.F. (1989). The origins of cognitive thought. Em B.F. Skinner, Recent issues in the analysis
of behavior (pp. 13-25). Columbus, OH: Merrill.