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SEMINÁRIO TEOLÓGICO EVANGÉLICO CONGREGACIONAL

Patrística

Desenvolvimento da doutrina da Trindade na patrística dos Sec. II até


o Concilio de Nicéia

Aluno:
Gilvan Santana Santos Júnior

João Pessoa
2017
Gilvan Santana Santos Júnior

Desenvolvimento da doutrina da Trindade na patrística dos Sec. II até


o Concílio de Niceia

Trabalho realizado como


requerimento da disciplina
Patrística, voltado para a
pesquisa da doutrina da
trindade dos Sec. II ao IV.
Prof. Joelson Gomes

João Pessoa
2017
Por que escrever sobre o desenvolvimento da doutrina da trindade?.................1

I. Heresias na Igreja Antiga....................................................................2

1. Monarquianismo Modalista..................................................................4

2. Monarquianismo Adocionista...............................................................5

II. Os País Apostólicos (100-150 d.C.) ...................................................7

1. Clemente de Roma (30-100 d.C.) ........................................................8

2. Inácio de Antioquia (117 d.C.) ..............................................................8

III. Os Apologistas e os Polemistas, (150-325 d.C.) ................................9

1. Justino de Roma ...............................................................................10

2. Melito de Sardes (190 d.C.) ..............................................................12

3. Irineu de Lion (fim do Sec. II) ............................................................13

4. Tertuliano (160-220 d.C.) ..................................................................14

5. Orígenes (185-240 d.C.) ...................................................................16

6. O Concílio de Nicéia..........................................................................18

7. Heresia ariana e a resposta de Alexandre.........................................18

8. O Concílio e as suas consequências.................................................20

Conclusão...................................................................................................22
Por que escrever sobre o desenvolvimento da doutrina da trindade?

A doutrina da Trindade vem sendo atacada ao longo da história da igreja. Várias


acusações são formuladas, para alguns autores, ela não passa de um construto
de pensadores helenistas do início da igreja, para outros ela é associação do
paganismo romano com a doutrina cristã, outros irão acusá-la de uma completa
irracionalidade, principal acusação dos últimos dois séculos.

Seitas nos dias de hoje fazem proselitismo demasiado ensinando ou uma forma
de arianismo (Testemunhas de Jeová), triteísmo (Mórmons) ou unicismo. Sites
e vídeos na internet são divulgados o tempo todo com a finalidade de ensinar
que a doutrina é falsa.

No início da igreja os primeiros Cristão também se deparam com ataques a


divindade do filho e do espírito, mesmo não havendo um desenvolvimento
completo da doutrina eles tinham uma consciência dela. No seio da comunidade
cristã houve muitas dificuldades em entender o monoteísmo como uma doutrina
de uma trindade. Waine House escreve sobre o período:

É fundamental nessa doutrina a questão de como Deus pode ser ao mesmo


tempo um e três. Os primeiros cristãos não queriam perder o seu monoteísmo
judaico enquanto exaltavam o seu Salvador. Surgiram heresias quando as
pessoas procuraram explicar o Deus cristão sem se tornarem triteístas (como os
judeus rapidamente os acusaram de ser). Os cristãos argumentaram que o
monoteísmo judaico do Antigo Testamento não excluía a Trindade.1

É importante observar que foi a reação as heresias que os termos, as palavras,


a explicação da doutrina foi formulada. House diz que a doutrina não foi uma
invenção e sim uma resposta aos hereges2:

1
HOUSE, Wayne. Teologia Cristã em Quadros (São Paulo: Editora Vida, 2000), p. 51
2
O termo herege é limitado ainda aqui, vamos usar o sentido que Alister McGrath define: aqueles que
tinham uma versão inadequada do cristianismo.

1
Isso não significa que a igreja ou qualquer concílio tenha inventado a doutrina.
Antes, foi para responder às heresias que a igreja explicou o que a Escritura já
pressupunha.3

As mesmas acusações que eram feitas no período Patrístico, as mesmas


heresias, são vistas ainda hoje, de tal modo que não há nada de novo, entender
como os pais desenvolveram a doutrina serve como defesa da mesma nos dias
de hoje.

Entender a doutrina da Trindade é fundamental também para se ter uma


compreensão mais abrangente da história da redenção, do Deus trino e pessoal
que se revelou ao longo das escrituras. É necessário saber que a doutrina em
seu aspecto completo é um mistério, no entanto podemos entende-la a ponto de
dizer que não é uma contradição e que ela é verdadeira.

Heresias na igreja Antiga

Há amplo reconhecimento que a consciência da doutrina da trindade se


desenvolve a partir de heresias que não reconheciam a divindade do filho e do
Espírito santo ou entendia esses três como se fosse modos diferentes de apenas
um. Assim Escreve Tim Chester:

Frequentemente ela [doutrina da trindade] se desenvolveu como resposta


às ideias falsas sobre a natureza de Cristo e a pessoa do Espírito [...] Foi a
ameaça de falsos ensinamentos que forçou a igreja a reconhecer que os atos
históricos de Deus revelam algo do seu ser eterno.4

3
HOUSE, Wayne. Teologia Cristã em Quadros (São Paulo: Editora Vida, 2000), p. 51.
4
CHESTER, Tim. Conhecendo O Deus Trino (São Paulo: Fiel, 2016) p, 84

2
R.C Sproul escrevendo sobre as controvérsias do Início da Igreja:

De fato, a heresia forçou a igreja, durante a sua história, a ser exata, a


definir suas doutrinas e a diferenciar a verdade do erro. Os primeiros anos da
igreja produziram numerosas heresias com respeito ao ser Divino. E esses erros
impulsionaram a igreja refinar seu entendimento da Trindade.5

McGrath afirma que o fato da igreja reconhecer a divindade do filho a levou a


explicar quais eram as consequências dessa afirmativa em relação Deus:

Se Jesus era Deus, existiriam, agora, dois deuses? Ou, ainda seria
apropriada uma reconsideração radical da natureza de Deus? Historicamente, é
possível argumentar que a doutrina da Trindade encontra-se intimamente
associada ao desenvolvimento da doutrina sobre a divindade de Cristo. Quanto
mais a igreja insistia no fato de Cristo ser Deus, mais era pressionada a
esclarecer a forma como Cristo se relaciona com Deus.6

Surgiram várias heresias que negavam a divindade do filho geralmente por


causa da intensão de defender o monoteísmo. Essas heresias ou defendiam que
Jesus nasceu de Maria e José, ou que Jesus se tornou Cristo através da descida
do Espírito Santo sobre ele, estes ensinamentos eram formas do que é chamado
de adocionismo.

Vamos analisar duas formas de heresia que podem ser mescladas no termo
monarquianismo7, que seriam o modalista ou adocionista. Essas heresias
consistiam em uma tentativa malsucedida de se manter o monoteísmo. J.N.D.
Kelly escreve:

5
SPROUL, R.C. O que é a Trindade? (São Paulo: Fiel, 2012) p, 33.
6
Id. Ibid.
7
Esse termo vem da junção da palavra “mono” que significa “um” e “arch” que significa “principio”
dessa forma era uma tentativa de se manter a unidade absoluta de Deus.

3
As últimas décadas do segundo século testemunharam o surgimento de
duas formas de ensino que, embora fundamentalmente distintas, foram reunidas
pelos historiadores modernos sob o nome comum de monarquianismo [...] A
classificação de ambos como formas de monarquianismo tem raízes na
pressuposição de que, apesar das diferenças nos pontos de vista e nas
motivações, estavam unidos no interesse pela unidade divina ou monarchia.
Essa suposição remonta pelo menos a Novaciano (c. 250), que interpretou o
adocionismo e o modalismo como tentativas mal orientadas de resgatar o dogma
bíblico de que Deus é um.8

Monarquianismo Modalista

O monarquianismo surge da afirmativa que Jesus é Deus, e a partir do


entendimento que Jesus é Deus e o Pai também é Deus Como manter o
monoteísmo mesmo afirmando que ambos são Deus? Diante deste dilema a
resposta dada pelos modalistas é que o Filho é o Pai em um modo diferente, e
o Pai é o Filho em outra modalidade. Não se pode falar em termos de “Eles”,
porque ambos são formas do mesmo se apresentar. A palavra “Filho” não é
usada para distinguir do “Pai”, mas sim em relação a união ne mesma obra e ser
divino.

A defesa do modalismo traz como consequência outra heresia que é o


“patripassionismo”, já que o Pai é um modo do Filho, o Pai sofreu da mesma
forma que o Filho quando foi crucificado. Roque Frangiotti escrevendo sobre o
surgimento da heresia no meio da igreja fala de Noeto que defendia a heresia
patripassionista e cita um texto da carta de Hipólito sobre Noeto: “Cristo, diz ele,
é o Pai mesmo, e é o Pai mesmo que nasceu, que sofreu e que morreu”9. A carta
continua dizendo que pelo fato do mesmo ter sustentado a sua doutrina os
presbíteros da igreja convocaram ele e refutou seu ensino, depois o expulsaram
da Igreja. Frangiotti também fala de Práxeas que foi o primeiro a levar da Ásia

8
KELLY, J.N.D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã (São Paulo: Vida
Nova, 2009) p, 86.
9
FRANGIOTTI apud Hipólito. História das Heresias: Séculos I-VII (São Paulo: Paulus, 1995) p, 46.

4
para Roma o patripassianismo, ele foi duramente respondido por Tertuliano que
o chamou de “demônio”10.

O mais conhecido dos defensores do modalismo é Sabélio, de fato a heresia


também é conhecida por “sabelianismo”. O mesmo teria ganhado a atenção e o
respeito inicialmente do Bispo Calisto e convencia com seu ensino as pessoas
mais simples que viam na explicação de Sabélio uma forma fácil de entender
Jesus como divino ao mesmo tempo que O Pai e o Espírito Santo. Frangiotti
descreve sobre como os simples se confundiam com a doutrina da trindade e
por causa dá facilidade que existia em defender os modos de Deus em
detrimento da trindade que ainda estava em desenvolvimento, Tertuliano e
Orígenes foram escritores que orientaram os fieis leigos das suas épocas a não
caírem na heresia.11 Por causa da popularidade o Bispo de Roma Calisto
excomungou Sabélio da igreja.

Monarquianismo Adocionista

O adocionismo apareceu com diferentes nomes no início da igreja e notável a


forma como ele vai se desenvolvendo. É visto o adocionismo no Pr. De Hermas,
nessa epístola Jesus é visto com uma carne em que o Espírito habitou por
escolha do pai, por ele ter honrado o Espírito o Pai provém uma recompensa por
seu serviço, assim na ressurreição Jesus se torna filho por causa da obediência.
O adocionismo aparece também no ebionismo, este grupo entendia que Jesus
recebeu a filiação divina na ocasião do seu batismo e não acreditavam na
preexistência de do mesmo.

Roque Frangiotti descreve o desenvolvimento do adocionismo colocando como


seu primeiro sistematizado Teodósio de Bizâncio, este entendia que Jesus era
puro homem nascido de mulher e que ele teria recebido força especial no
batismo, ele foi excomungado em 190 d.C. pelo Bispo Vitor e se explicava que a

10
Id. Ibid. p, 48.
11
Id. Ibd. P, 49-50.

5
única coisa que ele fez para merecer a excomunhão era “eu só neguei um
homem”1213.

O expoente mais conhecido dessa heresia foi Paulo de Samosata que foi
condenado em 268 por causa do seu pensamento. Era um homem de infância
pobre que com a habilidade e perspicácia alcançou riquezas, conhecido como
amante do luxo e do fausto era protegido pela rainha Zenóbia de Palmira. Se
tornou Bispo de Antioquia em 260 e 8 anos depois foi excomungado, mas
continuando com posse dos aposentos bispais. Frangiotti escreve sobre o ensino
dele:

De fato, Paulo não reconhecia as três pessoas em Deus. Assim, dava o


nome de Pai ao Deus criador de todas as coisas de Filho ao homem Jesus, de
Espírito Santo à graça que reside nos apóstolos. Para ele, Jesus é maior que os
profetas e do que o próprio Moisés, pois “a Sabedoria não habitou igualmente
em nenhum outro”, afirmava. Esta habitação não equivale, de modo algum, à
encarnação. Jesus não é o Logos, pois, o Logos-Sabedoria é maior do que ele.
Além do mais, o Logos não tem uma substância (ousía), não possui uma
“hipóstase” própria, não é uma “pessoa” em Deus, mas uma dínamis, uma
faculdade com a qual Deus opera no mundo.14

Respondendo a esses hereges através de cartas e tratados os pais da igreja vão


se conscientizando da trindade, buscando palavras para expressar aquilo que
eles acreditavam afim de refutar todos os hereges e ensinar os simples acerca
da verdadeira ortodoxia.

12
Id. Ibid. p, 17-26.
13
Veja também para mais informações sobre a tentativa desses, através de uma filosofia grega, ver
Jesus só como homem, em: KELLY, J.N.D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da
fé cristã (São Paulo: Vida Nova, 2009) p, 87.
14
Id. Ibid. p, 52.

6
Os pais apostólicos

Clemente de Roma (30-100 d.C.)15

Clemente de Roma compreendia que Deus é um:

Que achais disso, Caríssimos? Será que Moisés não previa que isso iria
acontecer Claro que sim ele assim procedeu para que não houvesse em Israel
desordem e para que fosse glorificado o nome do Deus único e verdadeiro. A
ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.16

Entendia também que existia três pessoas, mesmo esse termo não ter sido
cunhado, ele colocava os três juntos:

Recebei nossos conselhos, e não vos arrependereis. Pela vida de Deus, pela
vida do Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo, que são a fé e a esperança dos
eleitos aquele que tiver praticado com humildade os preceitos e mandamentos
dados por Deus, na simplicidade e perseverando na mansidão, esse será
colocado e contado no número dos que foram salvos por Jesus Cristo, a quem
pertence a glória pelos séculos dos séculos. Amém.17

Sobre o Espírito Santo Clemente afirma que o mesmo inspirou os profetas, tanto
do Antigo quanto do Novo Testamento:

15
Essa data é a adotada por Robert C. Walton, colocando-o como o primeiro pai apostólico, ele oferece
uma descrição geral sobre Clemente: Considerado pela Igreja Católica Roma o 4º papa. Talvez seja a ele
a menção que se faz em Fp 4.3. Foi martirizado sob o governo de Domiciano. Veja: WALTON, Robert.
História da Igreja em Quadros (São Paulo: Editora Vida, 2000) p.11.
16
1º de Clemente aos Coríntios, 43.6.
17
Id. Ibid, 58.3

7
Portanto, irmãos, sejamos humildes, depondo todos os sentimentos de jactância,
de vaidade, de insensatez e de cólera, e pratiquemos o que está escrito, de fato,
os Espírito Santo diz: “Que o sábio não se glorie de sua sabedoria, nem se farte
de sua força, nem o rico de sua riqueza; aquele que se gloria, glorie-se no
Senhor, por procurá0lo e praticar o direito e ajustiça.” Lembremo-nos, ensinava
sobretudo, das palavras do Senhor Jesus, quando ele no ensinava sobre a
benevolência e a paciência.18

O Senhor Jesus Cristo, cetro de majestade de Deus, não veio, embora


pudesse, no alarde da arrogância ou da soberba, mas humilde, conforme o
Espírito Santo havia dito sobre ele.19

Inácio de Antioquia

Inácio de Antioquia entendia que só existia um Deus:

De fato, os diviníssimos profetas viveram segundo Jesus Cristo. Por essa


razão foram perseguidos, pois eram inspirados pela graça dele, a fim de que os
incrédulos ficassem plenamente convencidos de que existe um só Deus, que se
manifestou por meio de Jesus Cristo se Filho, que é o seu Verbo saído do
silêncio, e que em todas as coisas se tornou agradável àquele que o tinha
enviado.20

Entendia que Cristo era diferente do Pai:

Assim como o Senhor nada fez, nem por si mesmo nem por meio de seus
apóstolos, sem o Pai, com o qual ele é um, também vós não façais nada sem o
bispo e os presbíteros.21

18
Id. Ibd. 13,1.
19
Id. Ibd. 16,2.
20
Carta de Inácio aos Magnésios, 8,2.
21
Id. Ibd. 7.1. Veja também: Smir. 8,1; Smir. 3,3.

8
Declarava que Jesus era Deus, além da carta aos Magnésios já citada acima:

De fato, o nosso Deus Jesus Cristo, segundo a economia de Deus, foi


levado no seio de Maria, da descendência de Davi e do Espírito Santo. Ele
nasceu e foi batizado, para purificar a água na sua paixão.22

Cuidado, portanto, com essas pessoas. Fazei-o sem vos encher de orgulho,
permanecendo inseparáveis de Jesus Cristo Deus, do bispo e dos preceitos dos
apóstolos.23

Michael Haykin escrevendo sobre Inácio de Antioquia cita a carta desse pai aos
Romanos 4.1 “permitam-me imitar a paixão de meu Deus” argumenta que essa
frase ressalta uma Cristologia elevada de Inácio, Haykin escreve24:

Ao referir-se a Cristo como “Deus”, Inácio esperava que os cristãos em


Roma fossem familiarizados com uma Cristologia elevada e se sentissem à
vontade com ela. [...] Inácio atribuiu a uma única e mesma pessoa, Jesus Cristo,
características divinas e humanas. Por exemplo, Jesus é descrito como Deus,
mas também se diz que ele sofreu.25

Apologistas e polemistas

Os apologistas não tinham ainda a disposição um material bem ordenado acerca


da trindade e o que eles escrevem ainda são bem ralo, as respostas que eles
tiveram que responder eram devido a deidade de Cristo, em relação ao Espírito

22
Carta de Inácio aos Efésios 18,2.
23
Carta de Inácio aos Tralianos 7,1.
24
Haykin em seu livro, descreve como o martírio de Inácio era uma defesa apaixonada desse pai pela
natureza humana de Cristo e sua visão da deidade do mesmo, veja: HAYKIN, Michael. Redescobrindo os
pais da igreja (São Paulo: Editora Fiel, 2012), pp. 33-54.
25
Id. Ibid, p. 47

9
Santo também não disseram muita coisa, destacando já a defesa de Justino
acerca da inspiração do Espírito nos profetas do A.T. J.N.D. Kelly em um artigo,
descreve o período:

[...] a linhas gerais de uma doutrina trinitária são claramente visíveis nos
Apologistas. O Espírito Santo era para ele o Espírito de Deus; e, assim como o
Verbo, ele compartilha da natureza divina, sendo, nas palavras de Atenágoras,
uma “efluência” da deidade.26

Ele descreve o aspecto geral que os apologistas desenvolveu no período:

Os Apologistas trabalharam a Trindade numa imagem de um homem gerando o


seu pensamento e seu espírito em atividade externa. Esta imagem os capacitou
a reconhecer, embora obscuramente, a pluralidade da divindade, e também a
mostrar como o Verbo e o Espírito, enquanto realmente manifestados no mundo
do espaço e tempo, podiam também residir no ser do Pai, permanecendo intacta
sua unidade essencial com Ele.27

A partir do entendimento geral da época é possível trabalhar como os apologistas


em particular escreveram sobre a trindade, abaixo será ressaltado aspectos
gerais de alguns deles.

Justino de Roma

Franklin Ferreira quando vai desenvolver a Trindade dentro da história da igreja


ele organiza os escritos de Justino mostrando que ele defendia o monoteísmo,

26
KELLY, J.N.D. A Trindade nos santos padres. p, 8. Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/trindade/Kelly_A_Trindade_nos_santos_padres.pdf
27
Id. Ibid. p, 9.

10
que ele acreditava na divindade do Filho e do Espírito Santo e que ele acreditava
na distinção das três pessoas da trindade.28

Justino em seu diálogo com Trifão (Diálogo com Trifão, XI.1.) declara seu
monoteísmo afirmando que: “Não haverá e nem houve outro Deus desde a
eternidade, além daquele que criou e ordenou o universo”. Ele mostra a sua
crença na trindade em sua primeira apologia (I Apologia, 13, 1.3-6; 61. 3.):

“[...]honramos também Jesus Cristo [...] aprendemos que ele é o Filho do próprio
Deus verdadeiro, e o colocamos em segundo lugar, assim como o Espírito
profético, que pomos no terceiro [...] tomam na água o banho em nome de Deus,
Pai soberano do universo, e de nosso Salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo.

Justino entendia que o Pai era distinto do Filho, em seu diálogo com Trifão
(Dialogo com Trifão, 62,1-2) ele fala sobre o texto que Deus disse “façamos o
homem” e diz que esse “façamos” não pode está se referindo a ele mesmo ou
os elementos já criados, para Justino Deus estava conversando com alguém que
era “numericamente distinto e igualmente racional”. Justino continua
argumentando que quando Deus diz “Eis que Adão se tornou como um de nós
para conhecer o bem e mal”, o “nós” indica o número dos que conversavam, ele
diz que no mínimo tinha que ser admitido que eram dois. E continua:

Mas esse gerado [Jesus], emitido realmente pelo Pai, estava com ele
antes de as criaturas e com ele o Pai conversa, como nos manifestou a palavra
por meio de Salomão, ao dizer-nos que, antes de todas as criaturas, foi gerado
por Deus como princípio e progênie esse mesmo que é chamado sabedoria por
Salomão.29

28
FERREIRA, Franklin e Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o
contexto atual (São Paulo: Vida Nova, 2007) p, 161-165.
29
Diálogo com Trifão 62, 4

11
Logo após Justino identifica Cristo no encontro que Josué teve com “O chefe do
exército do Senhor” (Cf. Js 6,2) como uma aparição de Cristo no A.T e termina
declarando “Este Verbo é o Cristo”.30 Esse entendimento demostra claramente
que Justino fazia distinção entre o Pai o Filho.

J.N.D. Kelly faz um comentário geral da forma como Justino escrevia sobre a
Trindade:

Em diversas ocasiões Justino coordena as três Pessoas, algumas vezes


citando fórmulas derivadas do Batismo e da Eucaristia, outras vezes sendo eco
dos ensinamentos catequético oficiais. Assim, por exemplo, ele defende os
cristãos da acusação de ateísmo apontando a veneração que eles têm para com
o Pai, o Filho e o “Espírito profético”.31

Melito de Sardes

Michael Haykin fala sobre a adoração a Cristo nas igrejas dos séculos II e III, ele
cita Melito de Sardes (teria morrido em 190 d.C.) um homem de notável
espiritualidade, é exposto uma parte da homília da paixão desse bispo e nessa
Perícope é clara o entendimento da divindade de Cristo:

Vós não vistes a Deus.


Não percebeste, ó Israel, o Senhor.
Não reconheceste o primogênito de Deus.
Gerado antes da estrela da manhã
Que adornou a luz,
Que iluminou o dia,
Que dividiu as trevas
Que fixou o primeiro limite,
Que pendurou a terra,

30
Diálogo com Trifão 62, 5.
31
KELLY, J.N.D. A Trindade nos santos padres. p, 8. Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/trindade/Kelly_A_Trindade_nos_santos_padres.pdf

12
Que subjugou o abismo,
Que estendeu o firmamento,
Que encheu o mundo,
Que dispôs as estrelas nos céus,
Que acendeu os grandes luminares,
Que fez os anjos no céu,
Que ali estabeleceu tronos,
Que formou a humanidade na terra.32

Haykin descreve essa primeira parte do texto como um eco da soberania de


Cristo que demonstra sua divindade, depois mostra outra parte dessa homilia
que expressa a confissão de que Jesus Cristo é Deus:

Aquele que pendurou a terra foi pendurado


Aquele que fixou os céus no lugar foi fixado no lugar.
Aquele que deitou as bases do universo foi deitado numa árvore.
O Senhor foi profanado.
Deus foi assassinado.33

Ireneu de Lion

Ireneu é um divisor de águas para a teologia da trindade, ele sintetiza todo o


pensamento da sua época de uma forma que traz uma grande compreensão
para o desenvolvimento da doutrina trinitariana. Ele usava duas abordagens para
falar de Deus, isto é tanto pela sua iminência quanto pela sua manifestação na
economia. Dessa forma Ireneu dizia que quando Deus se auto-revela ele se
manifesta na condição de Filho e de Espírito, mas quanto a sua iminência ele
continua sendo uno e Pai de todas as coisas. Alister McGrath escreve:

32
HAYKIN apud MELITO. Redescobrindo os Pais da Igreja (São Paulo: Fiel, 2012) p, 21.
33
Id. Ibid. p, 22.

13
Para Ireneu, todo o processo da salvação do começo ao fim, testemunha a ação
do Pai, Filho e Espírito Santo. Ireneu fez uso de um termo que aparece com
destaque em discussões posteriores sobre a Trindade: “a economia (plano) da
salvação” [...] Ele [Ireneu] insistia que todo o processo de salvação, desde o
primeiro momento da criação até o último momento da história, era obra de um
único e mesmo Deus. Havia uma única economia (plano da salvação, na qual o
único Deus – que era tanto o criador como o redentor – estava operando para
redimir a criação.34

Para Ireneu O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito é Deus. Os Filho e o


Espírito são divinos a partir do Pai que seria a fonte da trindade, pois pelo fato
de gerar o Filho esse é Deus, e o Espírito Santo emana do Pai sendo assim
divino. A trindade parte de Deus Pai de tal forma que Ireneu entendia que assim
como o Pai era um ser racional, assim ele tem Seu Logos, e pelo fator de ser
Espiritual, ele também possuía o Seu Espírito. Ireneu entendia a distinção dos
três em afirmar que quando Deus disse “façamos o homem” era um diálogo entre
os três.35

Tertuliano

Tertuliano foi um brilhante pai da igreja que emprestou a teologia da Trindade a


nomenclatura mais adequada para descrevê-la, é ele mesmo quem cria os
termos que vão ser usados até hoje, no latim: trinitas (trindade), persona36
(pessoa), substantia37 (substância).

34
MCGRATH, Alister. Teologia Sistemática, histórica e filosófica (São Paulo: Shedd Publicações, 2005) p,
377.
35
Veja mais em: KELLY, J.N.D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã
(São Paulo: Vida Nova, 2009) p, 77-80.
36
Sobre a palavra persona no latim R.C Sproul diz: No idioma latino, esta palavra era usada,
primariamente, em relação a dois conceitos. Primeiramente, ela podia se referir às apresentações
dramáticas feitas nos palcos daquela época. Ás vezes, os atores tinham papéis múltiplos em uma peça.
Sempre que o ator mudava seu papel durante a peça, ele tinha de colocar uma máscara diferente e
assumir uma pessoa diferente. Veja mais: SPROU, R.C. O que é a Trindade (São Paulo: Fiel, 2012) p, 51.
37
J.N.D. Kelly defende que uso de Tertuliano aqui não é jurídico, ele diz: “alguns sustentam
que, pelo menos para Tertuliano, com sua formação jurídica, substantia significava um bem
14
Assim como Ireneu, Tertuliano abordava a trindade através de duas maneiras,
isso é em sua imanência e em sua economia38. Em sua imanência Deus existe
só em toda a eternidade, sendo Ele “Seu próprio universo, localização, tudo”39,
pois não havia nada exterior a Ele, mas ele não estava só em relação a si mesmo
“pois tinha junto de Si aquela Razão que possuía em seu próprio íntimo, isto é,
Sua própria Razão”40 Essa racionalidade é “outro” ou “um segundo” em relação
a sim mesmo. Tertuliano explora a diversidade da razão em expressá-la nestes
termos.

Na economia é manifesto os três em sua diversidade, cada qual visto a partir de


um porque é o Pai quem ordena, o Filho quem obedece e o Espírito quem nos
faz compreender. A unidade para Tertuliano está no fato que o Pai é a fonte da
trindade, assim embora a palavra estivesse com o Pai ao longo de toda a
eternidade é no plano (economia) que esta palavra se torna o filho, o Espírito na
economia seria o representante do Filho que procede do Pai por meio do Filho.
Aqui neste ponto encontramos uma unidade contendo também uma diversidade,
Alister McGrath explica:

Deus é um só; todavia, não pode ser considerado como alguém isolado da ordem
da criação. É complexa essa atividade, em cuja análise essa ação divina revela
tanto uma unidade como uma diversidade. Tertuliano defende que a substância
é o que une os três aspectos da economia (plano) da salvação; a pessoalidade
é o que os diferencia.41

que algumas pessoas podiam possuir em conjunto. Na verdade, porém, o sentido metafísico
era o que mais se destacava em sua mente, e a palavra dizia respeito à essência divina, de
Deus, com ênfase em sua realidade concreta. Veja em: KELLY, J.N.D. Patrística: Origem e
desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã (São Paulo: Vida Nova, 2009) p, 85.
38
Tertuliano também usava “dispensação”.
39
KELLY, J.N.D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã (São Paulo: Vida
Nova, 2009) p, 82.
40
Id. Ibid. p, 83.
41
MCGRATH, Alister. Teologia Sistemática, histórica e filosófica (São Paulo: Shedd Publicações, 2005) p,
378.

15
O Pai, Filho e Espírito Santo são pessoas distintas na trindade, unidas em uma
substância, nunca separadas, Tertuliano argumentava que esse era a forma
correta de descrever, distintas, mas não separadas:

As três pessoas da Trindade são distintas, embora não se dividam (distincti non
divisi); distintas, contudo, não separadas ou independentes uma da outra
(discreti non separati). Assim, a complexidade da experiência humana da
redenção resulta de distintas atuações das três pessoas da Trindade, que agem
de formas diversas, embora coordenadas, na história da humanidade, sem que
ocorra perda alguma da unidade total da Trindade.42

Deve-se também ressaltar que como anteriormente vimos as heresias levou o


desenvolvimento da doutrina, Tim Chester mostra que por causa do modalismo,
Tertuliano argumentava que embora a trindade fosse uma essência havia três
pessoas distintas, no entanto com a ressalva da diferenciação do Pai para as
outras duas pessoas:

Em resposta ao (modalismo) Tertuliano descreve o Filho e o Espírito como


distintos do Pai, mas que compartilham sua essência. Isso significava um passo
à frente, Todavia, para Tertuliano, O Pai era Deus, de modo que o mesmo não
era verdadeiro para o Filho e para o Espírito. O Filho e o Espírito partilham da
substância divina porque vêm do único Deus, como seus agentes. Portanto,
enquanto “porções” do Pai, o Filho e o Espírito são, em certo sentido, inferiores.43

Origines

Orígenes traz para trindade a afirmação de que cada uma das três pessoas da
trindade são distintas desde toda a eternidade, diferente dos seus antecessores
que só viam essa distinção de forma clara na economia, Orígenes argumenta

42
Id. Ibid.
43
CHESTER, Tim. Conhecendo O Deus Trino (São Paulo: Fiel, 2016) p, 86.

16
que a trindade na economia reflete a trindade em sua imanência, o que ela é na
eternidade é refletido na história.

O entendimento da Trindade na forma como Orígenes expressava requeria que


fosse dada uma explicação acerca da geração do Filho, assim para ele quando
se fala do “Filho” não está se afirmando uma filiação a partir do nascimento ou
ressurreição, mas que estando fora do tempo o Pai gera o Filho em um ato
eterno, sendo assim Ele foi eternamente gerado.

É importante saber o uso que Orígenes fazia do termo “hypostasei”, pois antes
dele tinha sinônimo de “ousia” (substância), ele utiliza o termo como significando
“subsistência”, dessa forma ele escrevia que Deus são três “hypostaseis” e uma
“ousia”. Pode-se dizer que são três pessoas como uma essência, ou seja eles
se distinguem e essa distinção para Orígenes é desde toda a eternidade. J.N.D
Kelly escreve:

[...] o que se destaca é o caráter fortemente pluralista de seu trinitarismo. Em sua


análise, os Três são eterna e realmente distintos; são hipóstases separadas ou
mesmo, em sua linguagem um tanto quanto rude, “coisas”. Não há dúvida de
que ele procura satisfazer as exigências mais estritas do monoteísmo ao insistir
que a plenitude da Divindade não originada concentra-se no Pai, sendo apenas
Ele “o manancial da deidade”44

Sendo a trindade na economia a mesmo que se apresenta na eternidade,


Orígenes entendia que o Filho e o Espírito Santo têm uma origem diferente do
Pai, este é Deus no sentido estrito e é “ingerado”, o filho é gerado na eternidade
e por derivar do Pai, Ele é um “Deus secundário”. O Espírito Santo se torna na
interpretação de Orígenes “o mais honorável de todos os seres trazidos à
existência pela Palavra, o principal em ordem de importância, dentre todos os
seres que tiveram origem no Pai por meio de Cristo”45. Dessa forma ele

44
KELLY, J.N.D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã (São Paulo: Vida
Nova, 2009) p, 97.
45
KELLY apud Orígenes. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã (São
Paulo: Vida Nova, 2009) p, 95.

17
hierarquizou a trindade subordinando o Filho e o Espírito ao Pai na eternidade.
Tim Chester escreve:

Orígenes passou a “arranjar” a Trindade em ordem hierárquica. Somente o Pai


é Deus em si mesmo (autotheos), defendia ele. O Filho e o Espírito têm uma
origem – diferente do Pai, que é a origem deles. O Filho é “Deus” ou “segundo
Deus”, mas somente o Pai é “o Deus”.46

Depois da geração de Orígenes uma definição sobre uma “doutrina da Trindade”


mais uma vez pressiona a igreja, a divindade de Cristo é levada a um debate
geral em toda a igreja do Oriente em um Concílio devido a uma heresia que se
torna muito popular no Sec. IV, o arianismo. Homens se levantam para defender
a ortodoxia e um credo é escrito declarando o reconhecimento da divindade do
Filho por toda a igreja. Adiante o trabalho será encerrado mostrando o contexto,
e as conclusões que sucederam o concílio .

O Concílio de Nicéia

Heresia ariana e a resposta de Alexandre

Ário

No Sec. IV a igreja conheceu um novo personagem que causou um vasto tumulto


teológico no meio da igreja, conhecido como Ário, tinha uma compreensão da
trindade a partir do pensamento de Orígenes que negava a divindade de Jesus.
Ele era um presbítero que tinha características marcantes, de presença
dominante, circunspecto e carisma com as pessoas, tais qualidade facilitou a
propagação do seu pensamento, pois tinha várias amizades que o beneficiaram

46
CHESTER, Tim. Conhecendo O Deus Trino (São Paulo: Fiel, 2016) p, 87.

18
e fizeram com que o arianismo se propagasse. A heresia que Ário formulou
consistia em que o filho não é da mesma natureza que o pai, e dessa forma Deus
só se tornou “Pai” a partir da criação do “Filho” não transferindo aspectos do seu
ser a ele. Ele chegou a essa conclusão pelo fato de crer de tal forma na
transcendência de Deus que o tornava incomunicável, assim não podendo se
comunicar com sua criação, dessa forma já que o filho que é uma criatura tal
comunicação é possível.47

Orígenes havia dito que o Filho era coeterno com o Pai e subordinado a ele.
Ário disse que não se podia ter ambos, subordinação e coeternidade, já que a
coeternidade implica igualdade. Ário levava a subordinação de Orígenes a um
novo estágio, colocando o filho ao lado da criação e não do Criador. Para Ário
ser gerado significava ser criado. Só era apontar para o trinitarianismo
econômico do Sec. II

Alexandre

A reação inicial contra a heresia teve como representante Alexandre de


Alexandria. Ele era homem calmo, amável, líder bem quisto, esse que era Bispo
dessa cidade e do próprio Ário, lutou ferrenhamente contra tal herege. Alexandre
não admitia o pensamento de que o filho não fosse Deus, pois desde o seu início
o cristianismo o considerava como tal e sabia o perigo que causaria se o povo
deixasse de adorar a Cristo como Deus.

Diante de uma ameaça iminente contra a ortodoxia o Bispo de Alexandria lançou


mão de todos os recursos cabíveis para desarticular a proliferação da heresia. A
primeira ação dele foi convocar um sínodo em 319, que contou com a presença
de cem líderes, e nesse sínodo o arianismo foi condenado e Ário perdeu o direito
do presbitério de São Baucalis, mas, o problema não seria tão fácil de resolver,
Ário tinha amigos conhecido como Eusébio de Cesareia e Eusébio de
Nicomédia. Ele recorre a estes e os mesmos convocam reuniões para que Ário
seja readmitido, mas, Alexandre não voltou atrás e convocou outro sínodo que

47
Resumo extraído de: RAMALHO, Jefferson. Jesus é Deus? (São Paulo: Relexão, 2008) pp, 21-32.

19
reforçou a condenação do Arianismo e ainda enviou um encíclica reafirmando a
decisão a várias igrejas contra a heresia.48

O Concílio e as suas consequências

O concílio nasce da necessidade da Igreja ter uma declaração oficial acerca da


divindade do Filho, existia também o interesse do Imperador Constantino em
resolver o problema que estava dividindo a igreja. Desta forma Constantino
marca o concílio em Niceia em 20 de maio de 325. O concílio contou com a
presença de mais de duas mil pessoas e 300 bispos (quantidade incerta).

A definição que causou maior polêmica e que deveria ser discutida no concílio
era se o “Filho” era de “mesma natureza que o Pai” (homoousios) defendida
pelos ortodoxos ou era de “natureza semelhante do Pai” (homoiousios) posição
dos arianos.

No Concílio de Niceia a principal questão a respeito da divindade do Logos era


a afirmação de que ele era da “mesma natureza que o Pai”. Eusébio de Cesaréia
leu um texto escrito por ele que não tinha essas palavras assim formando uma
ambiguidade a respeito do que o mesmo estava defendendo e foi acordado que
deveria se acrescentar o termo “homoousios”. Eusébio de Nocomédia cometeu
um erro em negar de forma desdenhosa a divindade do Filho, logo após a
decisão de entender que o Logos era da mesma natureza que o Pai, houve muita
comoção o texto dele foi pisoteado e com as defesas dos anti-arianos o dogma
de que o Logos é divino foi reconhecido. 49

O texto que foi formulado como decisão geral que é reconhecido em toda a
história da Igreja é o Credo de Nicéia. No credo primeiro é dito sobre a grandeza
e o poder sobre tudo do Deus Pai, sobre o Filho ser “gerado” e não “feito”
descrevendo a co-essencialidade do “Pai e do Filho”, dessa forma o filho não
teve início de dias e um não existe antes do outro, é declarado que Jesus é Deus
de Deus, mostra a relação divina do Filho com o Pai, depois sobre o Filho ter

48
Id. Ibid. pp, 33-42.
49
Id. Ibid. Pp, 49-71.

20
sido feito homem para a salvação dos homens, e por último a condenação de
quem não aceitasse a eternidade, consubstancialidade do filho50:

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e


invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai,
unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não feito, de uma só substância com o
Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céus e as que estão
na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, se encarnou e
se fez homem, e sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente
deve vir para julgar os vivos e os mortos; e no Espírito Santo.

E quantos dizem: “Ele era quando não era”, e “Antes de nascer, Ele não
era”, o que “foi feito do não existente”, bem como a quantos alegam ser o
Filho de Deus “de outra substância ou essência”, ou “feito”, ou “mutável”,
ou “alterável” a todos estes a Igreja Católica e Apostólica anatematiza.

Jefferson Ramalho escreve a respeito do que significou a resolução da


controvérsia:

Foi no Concílio de Nicéia que a controvérsia seria resolvida e o dogma da


divindade do Filho estabelecido; o que não significa o banimento daquela
controversa doutrina. O cristianismo já tinha como prática o culto à pessoa de
Jesus Cristo reconhecendo-o como Deus. A reunião serviria tanto para refutar o
pensamento de Ário como para fortalecer uma convicção já existente no seio da
cristandade desde a fundação do cristianismo. O Filho não se tornou Deus em
Nicéia, apenas passou a ser dogmaticamente reconhecido como tal, pois na
prática de culto cristão isso já era uma certeza.51

50
Id. Ibid. Pp, 111-116.
51
Id. Ibid. p, 55.

21
Alister McGrath é bem-sucedido ao afirmar que a doutrina da Trindade estava
relacionada a evolução da Cristologia:

A melhor análise do desenvolvimento de doutrina da Trindade é a que o


considera como algo organicamente relacionado à evolução da Cristologia.
Tornou-se cada vez mais evidente a existência de um consenso, no sentido de
que Jesus era “da mesma substância” (homoousios) que Deus, e não
simplesmente de uma “substância similar” (homoiousios).52

Após a decisão conciliar o arianismo ressurge com força, mas é derrubado com
a insistência do Bispo de Alexandria Atanásio, logo após esse período a questão
final estará voltada a respeito a divindade do Espírito Santo em se ter um
reconhecimento dogmática da igreja. Este próximo passo é dado ao longo de
escritos contra o “pneumatoquianismo” dos Pais capadócio, Basílio de Cesareia,
Gregório de Nazianzo, Gregório de Nissa. Encontrando seu reconhecimento
dogmático no Concílio de Constantinopla em 381 d.C.

Conclusão

No presente trabalho foi demonstrado que o desenvolvimento da doutrina da


Trindade seguiu uma sequência que respondeu as heresias que surgiram no
seio da igreja, tais como os monarquianismo: modalista e adocionista. Foi
demonstrado que estas heresias tiveram ampla resposta e foram derrubadas
pelos Pais da Igreja do seu período.

Nos Pais Apostólicos, foi descrito Inácio de Antioquia e Clemente de Roma


mostrando sua crença em uma tríade divina, sua percepção da divindade do Pai,
do Filho e do Espírito Santo, suas distinções, no entanto com a dificuldade do
vocabulário.

52
MCGRATH, Alister. Teologia Sistemática, histórica e filosófica (São Paulo: Shedd Publicações, 2005) p,
376

22
Nos Apologistas e Polemistas foi utilizado dos argumentos que os mesmos
levantaram em seus períodos contra as heresias e os avanços da doutrina.
Ireneu contribuiu com seu conceito econômico, Tertuliano com o vocabulário
adequado e Orígenes com as distinções hipostáticas.

Por último foi explanada uma abordagem geral do Concílio de Niceia levantando
a questão da sua necessidade e suas definições sobre a divindade do Logos.
Foi descrito também o significado das respostas que o Concílio deu aos hereges
e foi assinalado que a doutrina não foi uma invenção, mas sim um resultado do
reconhecimento da Igreja.

Foi rapidamente comentado também a dogmatização através do Concílio de


Constantinopla da sustentação da divindade do Pai, do Filho e o Espírito Santo,
encontrando neste Concílio a sua formulação mais completa sobre a doutrina
Trinitariana.

Depois de passar por todas as heresias e mostrar as resposta aos hereges e a


racionalidade que os Pais encontraram na doutrina é indispensável que a
Trindade continue sendo defendida na igreja, refutando todas as heresias que
são antigas mais continuam atacando a ortodoxia e argumentando acerca da
lógica e consistência que existe em seu ensino.

23

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