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A crise da modernidade: tradição e autoridade

1. Tradição e Modernidade
O conceito tradição é tematizado por Hannah Arendt em muitos dos seus escritos. Podemos afirmar que ele
percorre a sua obra, contribuindo para a originalidade do seu pensamento político, bem patente na
importância que a filósofa atribui ao povo romano. A articulação dos conceitos tradição, religião e
autoridade, constitutivos da, “trindade romana”, a par da tematização da crise da modernidade, que é antes
de mais uma crise que se inscreve na esfera política, conferem consistência à constatação reiterada do
rompimento do fio da tradição.
A tradição do pensamento político nasce com Platão e tem o seu ocaso no coração da modernidade, quando
a experiência do político perdeu o seu significado, como reflexo da cisão radical entre pensamento e ação.
A noção de ruptura, inerente à modernidade, pressupõe a existência de um antes e um depois. O que
caracteriza esse antes da modernidade? Trata-se do mundo pré-moderno em que a tradição servia de
fundamento à comunidade política, garantindo a sua existência.
A crise da modernidade é reveladora um tipo de relação ao mundo tradicional, que deixou de existir. A
análise da crise da educação revela que os valores da “trindade romana – a religião, a autoridade e a
tradição” – foram progressivamente postos em dúvida, na idade moderna, tendo depois sido erradicados no
mundo atual. Doravante, o sentido originário dessa relação ao mundo foi pervertido, assim como a
existência política.
“O vigor desta trindade residia na força vinculadora de um começo investido de autoridade, ao qual os
homens estavam unidos por laços religiosos através da tradição. A trindade romana não só sobreviveu às
transformações da república num império, mas penetrou também nos locais onde a pax romana edificou
sobre as bases romanas a civilização ocidental” (p.138)
A crise referida por Hannah Arendt é um fenômeno que resulta de um longo e continuado processo
histórico, iniciado na idade moderna, com o desaparecimento do mundo romano e cristão, e que culminou
no mundo moderno. Se naquela ocorre uma fratura entre o passado e o futuro, neste o fenômeno radicaliza-
se ao ponto de se transformar numa ruptura sem precedentes, numa brecha por onde escoaram o senso
comum, o mundo comum e as categorias políticas, e de onde emergiram, entre outros, o isolamento, a
alienação do mundo, a superficialidade, a sociedade de massas, assim como a experiência totalitária do
nazismo e do estalinismo.
A articulação entre tradição, senso comum e mundo comum é outra constante no pensamento de Hannah
Arendt. Encontra-se no texto A crise na educação como uma das suas causas maiores, sobretudo se tivermos
em conta que essa crise é manifestação de uma crise mais profunda, a dos valores gerais da modernidade
que coexiste com o “eclipse do mundo comum”. Num texto intitulado A tradição do pensamento político,
Arendt expõe essa articulação de modo claro:
“Historicamente, o senso comum é romano tanto de origem como em termos de tradição. Não é que os
gregos e os judeus não tivessem senso comum, mas só os romanos o desenvolveram a ponto de o tornarem
o critério superior na gestão dos assuntos públicos e políticos. Com os romanos, recordar o passado
passou a ser uma questão de tradição, e foi no sentido da tradição que o desenvolvimento do senso comum
encontrou a sua expressão politicamente mais importante. Uma vez que o senso comum se liga à tradição e
é por ela alimentado, quando os modelos tradicionais deixam de fazer sentido e deixam de funcionar como
regras gerais que permitem subsumir todos ou a maior parte dos casos particulares, é inevitável que o
senso comum tenda a atrofiar-se. (...) Este método ‘prático’ de rememoração do senso comum não requeria
qualquer esforço, mas recebíamo-lo, num mundo comum, como herança partilhada. Por conseguinte, a sua
atrofia provocou imediatamente uma atrofia também da dimensão do passado e desencadeou o movimento
arrastado e irresistível de esvaziamento que estende um véu de sem-sentido sobre todas as esferas da vida
moderna.” (p. 40-41)
A ruptura definitiva com a tradição, que ocorreu apenas no séc. XX e que marca a transição da idade
moderna para o mundo moderno, é pois o culminar de um processo de radicalização da dúvida, iniciada por
Descartes. Inserindo-se ainda no seio da tradição, Descartes é o protagonista (em parte involuntário) mais
representativo de um movimento cada vez mais abrangente de suspeita em relação às verdades metafísicas
que no passado eram tomadas como evidentes, quer no plano filosófico quer no plano religioso da revelação
divina. Deste movimento emerge a ciência moderna que, paulatinamente, vai assumindo o lugar outrora
ocupado pelos sistemas metafísicos de representação do mundo, sem contudo assumir o seu papel de
assegurar a consistência ontológica da realidade.
“Desde o surgimento das ciências, cujo espírito se traduz na filosofia cartesiana da dúvida e da
desconfiança, o quadro conceptual da tradição da tradição deixou de estar seguro. (...) Uma vez
desaparecida a confiança em que a realidade se nos mostrava tal como é, o conceito de verdade como
revelação tornou-se duvidoso, e com ele a fé inquestionável num Deus objeto de revelação. O sentido do
conceito de ‘teoria’ alterou-se: já não significava um sistema de verdades racionalmente articuladas (...),
passou antes a significar a teoria científica moderna, ou seja, uma hipótese de trabalho passível de ser
alterada consoante os resultados que produz e cuja validade depende não daquilo que ‘revela’ mas do facto
de ‘funcionar’.” (p.53)
Os protagonistas que por último aceleraram o referido processo de transição e de ruptura, foram, segundo
Hannah Arendt: Kierkegaard, Marx e Nietzsche. Estes filósofos da suspeita “situam-se no final da tradição,
justamente antes de se dar a ruptura” (p.41). Cada um a seu modo vai lançar o seu objeto à tradição,
contribuindo para a reviravolta decisiva e radical que caracteriza a modernidade.
“Kierkegaard, Marx e Nietzsche são para nós como balizas indicadoras de um passado que perdeu a sua
autoridade. Foram eles os primeiros a atreverem-se a pensar sem a orientação de nenhuma autoridade. (...)
Kierkegaard, ao saltar da dúvida para a fé, trouxe a dúvida para o interior da religião. (...) Marx trouxe as
teorias da dialética para o campo da ação . (...) O platonismo invertido de Nietzsche (...) terminou naquilo
a que hoje chamamos o niilismo.” (p.42-44)

2. O hiato entre o passado e o futuro


No prefácio do Entre o Passado e o Futuro, intitulado “O hiato entre o passado e o futuro” (1967),
encontramos uma citação do poeta René Char – “a nossa herança não foi precedida por nenhum testamento”
(p. 17) – e outra de Tocqueville – “Desde que o passado deixou de projetar a sua luz sobre o futuro, a mente
humana vagueia nas trevas” (p. 20). Em ambas podemos detectar, por um lado, a noção de abismo, inscrita
no coração da modernidade, e por outro lado, a urgência de uma interrogação sobre o sentido dessa ausência
de testamento.
“Seja como for, é ao facto de o tesouro perdido não ter nome que o poeta alude quando afirma que a nossa
herança não foi precedida de nenhum testamento. O testamento, que indica ao herdeiro aquilo que
legitimamente lhe pertence, transmite ao futuro os bens do passado. Sem testamento ou, para aclarar a
metáfora, sem a tradição – que escolhe e nomeia, que transmite e preserva, que indica onde se encontram
os tesouros e qual o seu valor – é como se não existisse continuidade no tempo e como se, por conseguinte,
não houvesse nem passado nem futuro, em termos humanos, mas apenas a perpétua mudança do mundo e o
ciclo biológico dos seres vivos.” (p.19)
Quando o fio da tradição se rompeu, de modo absoluto e radical, no século XX, os seres humanos
confrontaram-se com situações inéditas como a desolação extrema, a atomização social e o “eclipse do
mundo comum”. Qual é o significado dessa perda da tradição? Como pensar numa situação inédita, na
brecha entre passado e futuro, provocada pelo desaparecimento da tradição? Como pensar num mundo em
que se consumou “o divórcio existente entre pensamento e realidade, que se tornou opaca à luz do
pensamento e que este, já não ligado ao acontecimento (...), está sujeito (...) a converter-se em algo
totalmente esvaziado de significado”?) (p. 20)

O que foi a autoridade?


Na sua obra Entre o Passado e o Futuro, educação e autoridade são conceitos fundamentais. Este último está
prenhe de equivocidade. Pode identificar-se com o conceito de poder ou então ser usado para definir uma
relação hierárquica legítima, em nenhum dos casos se trata de uma relação de dominação. No seu sentido
mais autêntico, a autoridade opõe-se ao autoritarismo político.
Existe poder sem autoridade, mas o inverso não é possível. O poder, sendo a condição necessária da
autoridade, não é, todavia a condição suficiente. Para que o poder se transforme em autoridade, é preciso
que aquele sofra uma modificação.
É no artigo O que é a autoridade? (1955), redigido antes de A crise na educação (1958), que Hannah Arendt
constrói o conceito de autoridade. O seu modus operandi é sobretudo negativo, isto é, ao distinguir a
autoridade de outras formas de relações humanas que com ela podem ser confundidas, vai definindo por
aquilo que ela não é, pondo a nu o fato da autoridade já não existir. Apesar do artigo de Hannah Arendt se
intitular O que é a autoridade?, a questão mais adequada seria “O que foi a autoridade?”, em virtude do
conceito, outrora fundamental para a teoria política, ter desaparecido do mundo moderno.

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