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Caso prático II sobre cumulação de pedidos (SILVA, Vasco Pereira da, coaut. –
O processo administrativo em acção: caderno de trabalhos práticos de contencioso
administrativo, Universidade Católica Editora, Lisboa 2009)
Rafaela reside numa moradia contígua a um terreno onde viu serem iniciadas obras de
construção de um edifício de habitação.
No decurso dessas obras foram vários os prejuízos causados na sua moradia,
designadamente pela falta de cuidado do construtor que reiteradamente espalhava os
detritos da obra no seu terreno.
Em certo momento, em resultado das escavações para as fundações do prédio, o
terreno sofreu uma vibração de tal modo intensa que provocou uma fissura estrutural
na moradia de Rafaela.
Já próximo da conclusão da obra, Rafaela verificou que o prédio lhe tapava de forma
total a magnífica vista que tinha para o mar.
Rafaela pretende agora impugnar o acto camarário de licenciamento desta obra por
violação do PDM, bem como exigir da Câmara Municipal e do construtor do prédio
uma avultada indemnização pelos prejuízos sofridos durante todo o processo de
construção.
Poderá cumular estes pedidos?
Resolução:
Considerando que a hipótese não nos dá um prazo especial recorremos ao prazo geral. Pelo
que o Conselho Municipal deverá deliberar sobre o pedido de licenciamento do particular no
prazo de 90 dias. Este prazo, nos termos da alínea b) do nº 3 o art. 108 da LPA conta-se, em
princípio, da data da recepção do pedido do particular.
O Conselho Municipal tinha, assim, neste caso, 90 dias para se pronunciar sobre aquele
pedido de licenciamento.
Nos termos do artigo 111º a) do RJUE, decorrido aquele prazo de 30 dias sem que a
Administração nada faça, o particular pode recorrer ao processo de intimação judicial para a
prática do acto legalmente devido (artigo 112º do RJUE).
O juiz, nos termos do nº 6 do artigo 112º do RJUE deverá estabelecer na decisão um prazo
não superior a 30 dias para que a autoridade requerida (no caso a Câmara Municipal) pratique
o acto devido e fixa sanção pecuniária compulsória nos termos previstos no CPTA.
Por força do nº 9 do artigo 112º do RJUE, se no prazo estabelecido pelo juiz para intimar a
Câmara à prática do acto esta nada fizer, o particular pode fazer-se valer do deferimento tácito.
Assim, nessa situação, o particular poderá iniciar e prosseguir a execução dos trabalhos de
acordo com o requerimento apresentado nos termos do art. 9º/4 do RJUE. O início desses
trabalhos está dependente do prévio pagamento das taxas devidas, conforme resulta do art.
113º/2 do RJUE.
Nos termos do artigo 72º a) do CPA não se inclui na contagem do prazo o dia em que ocorrer o
evento a partir do qual o prazo começa a correr, sendo que, nos termos da alínea b) do mesmo
artigo o prazo se suspende nos sábados e domingos e feriados. Isto equivale a dizer que só se
contam os dias úteis.
Entre 16 de Junho de 2008 e 16 de Julho de 2008 terão passado 30 dias mas não 30 dias
úteis. Assim, ainda não decorreu o prazo legalmente estabelecido para a Administração proferir
a sua decisão.
Como sabemos, para que se possa propor uma acção de condenação à prática do acto devido
têm de estar reunidos alguns pressupostos, nomeadamente:
3) Oportunidade – artigo 69º CPTA (prazos dentro dos quais o particular pode propor a acção de
condenação à prática do acto devido).
Ora, neste caso, ainda não tinha decorrido o prazo em que a Câmara Municipal poderia actuar,
pelo que ainda não estávamos, em bom rigor, perante uma omissão da actuação
administrativa.
Assim, faltava logo o primeiro pressuposto exigível para que se possa propor a acção de
condenação à prática do acto devido, pelo que a Câmara tem razão ao alegar que ainda não
tinha decorrido o prazo estabelecido para proferir uma decisão.
Uma última nota prende-se com o facto de haver alguma discussão relativamente à natureza
da acção de intimação judicial para a prática de acto legalmente devido. Parece-me razoável
considerar tratar-se de um meio processual que constitui expressão a nível do direito do
urbanismo da "condenação à prática do acto legalmente devido", regulada nos artigos 66º e ss.
do CPTA como acção administrativa especial.
O regime jurídico específico da intimação judicial para a prática de acto legalmente devido
encontra-se nos artigos do RJUE que enunciei. Contudo, outros aspectos do seu regime
jurídico deverão retirar-se dos artigos 66º a 71º do CPTA.
Não obstante, há quem considere, pelo contrário, que o regime e a configuração que o
legislador atribuiu à intimação judicial para a prática do acto legalmente devido, extremamente
simples e célere, inviabiliza a aplicação do regime estabelecido no CPTA para a acção de
condenação à prática de acto devido.
Resposta ao Caso Prático de Zeferino
Estamos perante um pedido de uma acção de condenação para prática de um acto devido (67º
CPTA).
O particular tem legitimidade para intentar a acção nos termos do artigo 68/1/a, por ser titular
de um interesse legalmente protegido.
O caso não nos dá informação relativamente aos prazos, partimos do principio de que está
verificado o pressuposto da oportunidade (69º CPTA).
Não se levantaram pois problemas ao nível dos pressupostos processuais. Assim sendo, estão
verificados os pressupostos, portanto o juíz pode apreciar o pedido.
A resposta da Câmara Municipal nada tem a ver com pressupostos, mas sim com a questão de
fundo. Neste sentido, apenas se houver restrições estéticas no Plano Director Municipal é
que se exclui o poder discricionário da administração relativamente a este caso, sempre
limitado pela lei.
Proposta de resolução
II
Tendo já decorrido seis meses sem que obtivesse qualquer resposta do Ministério,
Alberto propôs uma acção administrativa especial com o objectivo de obter a
condenação do Estado no pagamento do mencionado subsídio.
Em sua defesa alegou o Ministério que não tinha qualquer dever de responder a Alberto,
tanto mais que, segundo a lei, este não teria direito ao subsídio. Mais alegou que sempre
o meio processual escolhido seria desadequado uma vez que o pagamento de um
subsídio não pode ser qualificado como acto administrativo.
Alberto dispõe de legitimidade activa por alegar ser titular de um direito dirigido à emissão
desse acto (alínea a) do n.º 1 do artigo 68.º do CPTA). Tem legitimidade passiva o Ministério
(cfr. n.º 2 do artigo 10.º do CPTA).
Naturalmente que o Ministério só seria condenado à prática do acto se este fosse legalmente
devido, isto é, se compulsadas todas as normas legais aplicáveis isso conduzisse a que Alberto
teria direito ao subsídio e fosse inequívoco o montante a que teria direito. Porém, mesmo
havendo a necessidade de considerar que a emissão do acto pretendido envolveria a
formulação de valorações próprias do exercício da função administrativa e a apreciação do
caso concreto não permitiria identificar apenas uma solução como legalmente possível, o que
faria com que o tribunal não pudesse determinar o conteúdo do acto a praticar, este deveria,
ainda assim, explicitar as vinculações a observar pela Administração na emissão do acto
devido (cfr. n.º 2 do artigo 71.º do CPTA). Coisa diferente será o caso de a lei não fazer nascer
na esfera jurídica de Alberto qualquer direito subjectivo ao subsídio, caso em que o acto
administrativo não é legalmente devido e, portanto, a Administração não pode ser condenada a
praticá-lo e o pedido não pode proceder.
Em face do argumento, por parte do Ministério, de que não se trata de um acto administrativo,
teria de se contrapor o conceito de acto administrativo do artigo 120.º do CPA, embora o
objecto do processo seja a pretensão de um interessado e não o acto propriamente dito. Esta
aliás, a grande revolução do contencioso administrativo que deixa de ser um processo ao acto,
alargando os seus horizontes. Na verdade, a decisão a propósito do subsídio envolve, antes do
seu pagamento, um acto administrativo que comporte a decisão respeitante à sua atribuição.
Caso se tratasse apenas do dever de prestar um subsídio atribuído por acto administrativo
anteriormente praticado, aí sim a acção correria na forma comum (cfr. alínea e), do n.º 2 do
artigo 37.º do CPTA), sendo válido o argumento do Ministério.
Bruno propõe acção administrativa especial para condenação da CMY à prática de acto devido.
A condenação à prática de acto devido vem prevista nos artigos 66.º e seguintes do CPTA.
“Acto”: «…é aquele acto administrativo que na perspectiva do autor, deveria ter sido emitido e não foi,
quer tenha havido pura omissão ou uma recusa. E ainda quando tenha sido praticado um acto que não
satisfaça ou não satisfaça integralmente uma pretensão…» (In: “A justiça Administrativa – Lições”,
Andrade, José Carlos Vieira de, 11.ª edição, 2011, Almedina.)
Bruno sustenta-se no disposto no artigo 67.º/1/a) do CPTA; o artigo 67.º do CPTA parece exigir sempre
um procedimento prévio, da iniciativa do interessado, Bruno, em regra um requerimento dirigido ao
órgão competente, com a pretensão de obter a prática de um acto administrativo.
Legitimidade activa, in casu, pode apresentar este pedido quem tenha a titularidade de direitos ou
interesses protegidos dirigidos à emissão desse acto, ou seja, Bruno tem legitimidade activa para
apresentar o pedido em causa.
Quanto aos prazos, o prazo de propositura da acção depende de ter havido inércia do órgão CMY, artigo
69.º do CPTA. O prazo é de um ano, em caso de omissão, contado desde o termo do prazo legalmente
estabelecido para a emissão do acto, ou seja, após ter sido ultrapassados 90 dias para que o órgão
emite-se a sua decisão, vide, norma supletiva do CPA que refere o prazo de 90 dias, artigo 58.º do CPA.
Deste modo concluímos que a CMY tem razão quanto aos argumentos que utiliza perante a pretensão
de Bruno.
II.
Alberto pretende que o Ministério da Agricultura lhe conceda um subsídio para fazer face aos danos da
praga de insectos que lhe destruiu toda a sua produção vinícola.
Aberto deve pelo disposto no artigo 67.º do CPTA fazer um procedimento prévio, ou seja, um
requerimento dirigido ao órgão competente, com a pretensão de obter a prática de um acto
administrativo, nomeadamente o previsto no artigo 67.º, n.º1, alínea b) do CPTA, ou seja, recusa da
prática do acto devido, indeferimento total e directo da pretensão substantiva.
Quanto à legitimidade passiva, é demandada a entidade competente responsável pela omissão, neste
caso indeferimento, e são obrigatoriamente demandados os contra-interessados aqui em litisconsorcio
necessário, pelo artigo 68.º, n.º 2 do CPTA.
Porém, nos termos previsto no artigo 10.º, n.º2 do CPTA é a pessoa colectiva ou seja o Ministério da
Agricultura.
O Prazo de propositura da acção dependerá de ter havido um indeferimento, vide artigo 69.º do CPTA. O
Prazo da acção de Alberto é de 3 meses, contando agora da notificação do indeferimento, aplicando-se
aqui as regras gerais estabelecidas para o prazo de impugnação no artigo 58.º do CPTA incluindo as
relativas às impugnações administrativas, tal como decorre do n.3 do artigo 69.º do CPTA.
Podemos concluir que o Ministério da Agricultura procedeu a um indeferimento tácito pelo disposto no
artigo 109.º, n.º1 e n.º 2 do CPA uma vez que decorreram 6 meses após o pedido ao Ministério da
Agricultura para se pronunciar sobre o subsídio e nada o fez. O particular contava com 90 dias para que
a Administração se pronuncia-se e pelo n.º 1 do artigo 109.º do CPTA ultrapassados 90 dias (n.º2 do
artigo 109 CPA) o Alberto tem legitimidade para presumir indeferida a sua pretensão.
O argumento do Ministério da Agricultura a respeito do meio utilizado por Alberto é erróneo, na medida
em que, Alberto tem legitimidade pelo artigo 66.º, n.º1, alínea a) do CPTA, bem como em, sede de
impugnação de actos administrativos, na medida em que o Ministério da Agricultura recusou a
atribuição do subsídio a Alberto, pelo disposto no artigo 55.º/1/a) do CPTA, este também tem
legitimidade activa em virtude de ser titular de um interesse directo e pessoal na demanda.
Além disso, consideramos que o Ministério da Agricultura colocou mal a questão, visto que Alberto
apresentou um requerimento para lhe ser atribuído um subsídio e não um pedido de pagamento de um
subsídio e quando se trata de decidir pela atribuição de um subsídio a um particular a Administração
pratica um acto administrativo constitutivo de direitos.
Logo, a Administração, ou seja, o Ministério da Agricultura teria que responder a Alberto e o meio mais
adequado era a acção para condenação à prática do acto administrativo legalmente devido.
Bibliografia:
Silva, Vasco Pereira, “O Contencioso no divã da Psicanálise”, Almedina, 2.ª edição 2009.
Andrade, José Carlos Vieira de, “A Justiça Administrativa”, Almedina, 11.ª edição, 2011.