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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Educação

A percepção do Justo e do Injusto no Ambiente Escolar

Paula Moreira Castellucci

Introdução aos Estudos da Educação: Enfoque Sociológico

Quarta-feira/ manhã

Profa. Flávia Schilling

São Paulo

2018
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende analisar as concepções de justiça e injustiça no


ambiente escolar, buscando compreender em quais situações o justo e o injusto são mais
facilmente identificados, quem são os atores que promovem e sofrem ações
injustas/justas e, por fim, o que deve ter uma escola para ser considerada justa, quais são
os elementos essenciais da noção de justiça. Como embasamento e apoio da discussão
sobre os dados encontrados, serão utilizados textos de Dubet e Schilling, bem como as
discussões realizadas na disciplina "Introdução aos Estudos da Educação: Enfoque
Sociológico", matéria eletiva da Licenciatura em Psicologia da USP.

Este trabalho será baseado em uma pesquisa realizada com quatro participantes;
um homem e três mulheres, cujas idades variam entre 17 e 65 anos e o tipo de escola
frequentada se divide entre rede pública (1) e rede particular (3). Dos quatro
participantes, metade respondeu o questionário via email (participantes 1 e 4) e o resto
(participantes 2 e 3), presencialmente. A pesquisadora selecionou para a tarefa uma
professora universitária que pensa a educação, um engenheiro, uma aluna do ensino
médio da rede particular e uma estudante de uma Etec. A escolha destes sujeitos se deu
seguindo o critério de idade - metade com menos de 20 anos e metade com mais de 50
anos -, de gênero e de profissão, considerando-se que havia uma grande probabilidade
de a professora e o engenheiro terem noções diferentes de justiça, umas vez que suas
formações acadêmica e perfis têm traços bastante distintos.

O questionário aplicado continha as seguintes questões:

1. Relate uma situação justa/injusta vivida por você ou por alguém na


escola: diga quando, como, onde, com quem, entre quem....

2. Pensando na cena descrita na pergunta anterior, qual poderia ser um


desfecho injusto/justo para a situação?

3. O que seria uma escola justa?

2. MARCO TEÓRICO

A presente pesquisa terá como embasamento as reflexões de François Dubet e


Flávia Schilling, além das discussões levantadas em sala de aula. Dubet, em seu texto
"O que é uma escola justa?", nos mostra a complexidade da ideia de justiça e,
consequentemente, a dificuldade de definir o que é justo. Discute, então, se a
meritocracia seria tão justa como os ideias democráticos a fazem parecer, apontando
que, mesmo que o ingresso nas escolas fosse páreo, as desigualdades entre os grupos
sociais implicariam em desigualdades escolares. Nesse sentido, características como
gênero, classe social e "raça" influenciariam a forma como os/as estudantes são
tratados/as e, portanto, afetariam suas chances de ter um bom desempenho.

Segundo as ideias do sociólogo, tratar como iguais os desiguais aumenta as


distâncias entre eles, o que faz com que avaliações iguais para todos/todas,
aparentemente justas num primeiro mostrem, na verdade agravem e legitimem
assimetrias já existentes. Sendo assim, ele questiona a existência das desigualdades
justas postuladas pelos ideais democráticos, nos quais se pauta a ideia de que indivíduos
de maior mérito merecem ter melhores cargos/remunerações/status/etc., pelo fato de
serem mais esforçados. Em oposição ao ideal puramente meritocrático, Dubet propõe a
noção de justiça distributiva, que consiste em dar mais a quem tem menos, de forma que
a escola, nesse cenário, deveria compensar as desigualdades sociais, ultrapassando a
noção de igualdade pura e dando mais a quem tem menos, propondo formas de
avaliação diferentes para grupos desiguais, etc. Outra alternativa apresentada é a
garantia do mínimo, segundo a qual seria justo garantir a todos/as um limite mínimo,
abaixo do qual ninguém poderia estar. Juntando as três concepções de justiça
apresentadas, o autor propõe que a escola justa deveria se basear em uma meritocracia
com competição justa, discriminação positiva, associada à garantia de um mínimo
escolar, de um conhecimento útil e de diplomas valorizados, além de preservar a
dignidade e autoestima dos piores e possibilitar que cada um desenvolva seus talentos.

Flávia Schilling em seu texto "Igualdade, desigualdade e diferenças" também


comenta como as dificuldades de definir o justo, apontando que este se apresenta para
nós como o oposto do que é injusto. Desta forma, a injustiça seria algo positivo,
perceptível, ao qual somos sensíveis e o justo, seu oposto. Segundo a autora, as
situações de injustiça poderiam ser classificadas como ligada à descriminação, à
desigualdade social, à distribuição, à violação da igualdade, à violência criminal e à
violência policial. Para Schilling, estas dimensões da injustiça estão relacionadas à
ausência de reciprocidade, quebra de acordos e discriminação. Sendo assim, ela define
uma escola justa como uma instituição que preze pela igualdade de direitos, deveres e
tratamento, que respeite as diferenças, puna a todos e todas proporcionalmente, forneça
um ensino de qualidade, reconheça o mérito e seja aberta ao diálogo.

3. ANÁLISE DOS DADOS

Participante 1

1. Relate uma situação justa/injusta vivida por você ou por alguém em uma escola:
diga quando, como, onde, com quem, entre quem....

Uma situação justa que eu vivi na escola: quando eu estava no 9° ano, um


menino decidiu fazer uma "brincadeira" com uma das minhas melhores amigas. Ele
pegou um Veja (produto de limpeza) e um papel toalha escrito "isso é trabalho para
mulher" e colocou em cima da mesa dela durante o recreio. O coletivo feminista da
escola foi falar com o menino, junto com a orientação, e ele acabou entendendo a
situação e se desculpando com a menina.

2. Como teria sido uma resolução injusta/justa para a situação apresentada?

Na primeira situação descrita, seria injusto, por exemplo, se o menino que


decidiu fazer essa "brincadeira" machista e de mau gosto não tivesse tido nenhum tipo
de punição, ou então não tentasse entender o porque da sua "brincadeira" não ter sido
tão engraçada quanto ele achou que fosse ser.

3. O que é uma escola justa?

Uma escola justa seria uma escola onde coisas que estão enraizadas em nossa
sociedade (como por exemplo o machismo, a homofobia, o racismo e etc.) fossem
completamente desconstruídas na mente de todos os alunos. Apesar de uma escola justa
a esse ponto parecer quase uma ideia utópica demais para se tornar realidade, faz jus a
um pensamento de que, uma escola justa é uma escola em que todxs se sentem
confortáveis, onde não há opressão, bullying e etc.

Sexo: Feminino
Idade: 17
Escolaridade: Ensino médio incompleto
Escola: particular

Participante 2

1. Relate uma situação justa/injusta vivida por você ou por alguém em uma escola:
diga quando, como, onde, com quem, entre quem....

Uma aluna ficou 2 semanas sem ir à escola devido a questões familiares.


Quando voltou à escola, a professora a recebeu e convidou todos os alunos a ajudarem a
aluna para que ela soubesse as coisas que fizeram e estudaram enquanto ela estava
ausente. Uma escola pública, aluna do 2°ano do EF I.

2. Como teria sido uma resolução injusta/justa para a situação apresentada?

A professora priorizar saber os motivos da falta, no momento em que daria aula.


A professora tratar a falta como um problema apenas da aluna, não se implicando na
necessidade de estratégias para que essa aluna soubesse e aprendesse o que já foi
ensinado.

3. O que é uma escola justa?

Uma escola que prioriza a transmissão de conhecimento e produção de saber,


compreendendo que priorizar isso requer responsabilidade coletiva com questões que
são públicas. Como ensinar alguém que se ausentou, é uma questão pública, isto é, diz
respeito àqueles que vivem a situação.

Sexo: Feminino
Idade: 56 anos
Escolaridade: Superior completo
Tipo de escola: particular
Profissão: professora universitária

Participante 3

1. Relate uma situação justa/injusta vivida por você ou por alguém em uma escola:
diga quando, como, onde, com quem, entre quem....

A escola começou a exigir carteirinha para entrar no segundo horário e para sair
pelo portão. A carteirinha custa R$25,00 e vários alunos não a tem por não conseguirem
pagar ou por precisarem gastar seu dinheiro com outras coisas. É injusto a escola cobrar
e tornar obrigatório algo que eles não dão, principalmente por ser uma escola pública,
onde nem todos os alunos têm condições iguais.

2. Como teria sido uma resolução injusta/justa para a situação apresentada?

Se a escola desse a carteirinha, aí seria justo ela ser cobrada. Se ela continuar
sendo paga, não deveria ser obrigatória. Mas acredito que mais justo ainda seria os
alunos terem liberdade para entrar e sair da escola quando quisessem.

3. O que é uma escola justa?

Uma escola com diálogo com os alunos e onde eles tenham liberdade de ter
autonomia para tomar suas próprias decisões.

Sexo: Feminino

Idade: 17
Escolaridade: Ensino médio incompleto
Escola: pública (Etec)
Participante 4

1. Relate uma situação justa/injusta vivida por você ou por alguém em uma escola:
diga quando, como, onde, com quem, entre quem....

Em meados de 1965/1966, eu estudava em uma escola de freiras e fazia parte do


nosso uniforme uma blusa de lã, que os alunos deveriam usar quando estavam entrando
e saindo da escola, nas estações mais frias do ano, independente de estarem ou não com
frio. A retirada das blusas só poderia ser efetuada dentro do ambiente escolar, seja nos
corredores, salas de aula, biblioteca, laboratórios e etc e a violação desta regra implicava
em castigos. Na minha opinião, era uma situação injusta, pois use-se blusa quando se
tem frio, mesmo fazendo parte de um uniforme.

2. Como teria sido uma resolução injusta/justa para a situação apresentada?

Por se tratar de uma irmandade de origem Americana, durante a visita de uma


das Irmãs do Conselho da Irmandade, em uma situação de cobrança do uso da blusa,
diante da minha reclamação da falta de frio, fui atendido e protegido por esta irmã
superior, que disse que a blusa apesar de fazer parte do uniforme, deveria ser utilizada
somente pelos alunos que efetivamente estivessem sentido frio.

3. O que é uma escola justa?

Justa é a escola/organização que claramente coloca seus pontos limites muito


bem definidos, independente de serem aceitos ou não pelos que dela queiram ser
participantes. Que trata as diferenças com imparcialidade e sob o rigor do que foi
pactuado, que cumpre o seu compromisso com o estudante, no tocante a carga horária,
estrutura, currículo e outros pontos relativos ao seu compromisso com o estudo. Que
trata todos os seu membros, sejam docentes, funcionários e alunos, com o mesmo
respeito, direitos e deveres, respeitando, é claro, a hierarquia da organização. Ou seja,
“Escola Justa” é a que aplica direitos e deveres de forma clara, precisa e concisa.

Sexo: Masculino
Idade: 65 anos
Escolaridade: Superior completo
Tipo de escola: particular
Profissão: engenheiro

Na descrição da cena pela primeira participante, podemos observar alguns


aspectos do que seria a justiça na escola. Primeiramente, vê-se que a instituição se
organiza de forma a apoiar e acolher alunos e alunas em seus conflitos relacionais,
validando seus incômodos e sofrimentos, na medida em que o Coletivo Feminista e a
equipe da escola somam forças à aluna que foi ofendida e respaldam o confrontamento
dela em relação ao colega que a agrediu. Também, aparece como justa a possibilidade
de aprendizagem por parte do aluno em questão, que não foi simplesmente punido, mas
teve a oportunidade de rever seus posicionamentos e aprender algo novo. Em terceiro
lugar, pode-ser pensar a própria presença do Coletivo Feminista como um elemento de
justiça, na medida em que representa a possibilidade de os/as estudantes se organizarem,
com certa autonomia, em torno das pautas que lhes parecem importantes. Por fim,
aparece a restituição, no momento em que se coloca que o colega pediu desculpas para a
menina que fora ofendida, o que de alguma forma transforma a agressão que ela viveu.

Seria injusto, segundo ela, a impunidade e a ausência da restituição. Não só a


escola teria deixado de proteger uma aluna, deslegitimando agressão que vivera e
deixando de exigir respeito a sua pessoa, seria injusto, bem como o aluno que a agrediu
não mostrar nenhum empenho em reparar o dano causado, não tentando entender o
havia de errado com sua "brincadeira".

Sua definição traz, como principais aspectos da justiça na escola, as noções de


transformação social, respeito e igualdade. Nesse sentido, seria papel da instituição
garantir que todas e todos tivessem suas formas de ser respeitadas, que não houvesse
desigualdade de poderes, violências e perda de direitos, o que requer que a escola
desconstrua preconceitos enraizados em nossa cultura. Ainda, aparece a ideia de que
todos e todas se sintam confortáveis, sejam bem recebidos, o que, justamente, deriva do
fato de terem suas diferentes formas de viver respeitadas.

A partir da descrição da situação realizada pela segunda participante, entende-se


que a escola justa é aquela que considerar que diferentes estudantes têm diferentes
necessidades, de forma que toma providências no sentido de diminuir possíveis
desigualdades que surgiriam entre eles/as, no exemplo, reconhecendo que a aluna que se
ausentou das aulas precisará de cuidados singulares. Além disso, vê-se que uma escola
justa é aquela que considera o individual como uma parte do coletivo, na medida em
que professora e alunos/as são responsáveis por restituir o que a estudantes perdeu.

Para a participante, a injustiça na escola se dá quando esta se desimplica do


processo de aprendizagem de seus alunos e alunas, limitando sua atuação a eventos que
dizem estritamente do contexto escolar, sem levar em conta outras dimensões da vida
das/os estudantes, perdendo de vista que a aprendizagem sofre influência de vários
aspectos e que isto diz respeito à escola, por mais que alguns destes não pareçam
imediatamente ligados a ela. Nesse sentido, trata-se de uma instituição que dá o mesmo,
em quantidade e qualidade, a todos/as, independente de suas reais necessidades, seus
percursos, formas de vive etc.

Segundo a descrição da docente, a escola justa é, então, aquela que efetivamente


se propõe a educar, que não tem uma concepção limitada e uniformizada do que deve
ser feito para ensinar os/as estudantes, ou seja, que leva em conta os diversos
atravessamentos dos processos de ensino-aprendizagem de seu alunado, compreendendo
que eles lhe dizem respeito, mesmo que não sejam imediatamente originados na escola.
A situação injusta descrita pela terceira participante aponta que uma escola
injusta é aquela que não supre as necessidades envolvidas no exercício da função de
estudante, se desresponsabiliza em relação a produção das condições para que se tenha o
que ela exige. A situação também traz como injusta a homogeneização dos alunos e
alunas, que são tratados/as como iguais, desconsiderando-se as desigualdades sociais ali
presentes. A escola injusta, então, (re)produz desigualdades entre os alunos/as alunas,
uma vez que alguns terão acesso a mais coisa que outros; no exemplo trazido, a
instituição transforma desigualdades socioeconômicas em desigualdade de acesso a
direitos (liberdade de circulação)/bens (carteirinha).

Como solução justa para a questão apresentada, a participante propõe que a


escola dê aos alunos/às alunas condições mínimas para que possam estudar, colocando-
os em posição de igualdade de direitos. Aponta também, brevemente, que a autonomia,
a liberdade de ir e vir, escolher a partir dos próprios valores e necessidades, são justas.

Na visão da participante, uma escola justa deve ser aberta ao diálogo, o que
implica a possibilidade de o grupo discente participar ativamente da construção da
instituição, das suas regras, dos valores adotados, das práticas legitimadas. Isto requer
que a diferença de poder entre alunos/as, docentes e a equipe gestora seja pequena,
havendo espaço para que todas e todos tenham sua opinião considerada na tomada de
decisões. Nesse sentido, a aluna retoma a liberdade como fator essencial ao justo,
pontuando a possibilidade de autonomia, de influir nas decisões que os/as afetam.

Na cena descrita pelo quarto participante, tem-se uma escola injusta, pois
uniformiza a todos, a despeito de suas particularidades, e possui regras arbitrárias, que
não parecem ser compreendidas pelos estudantes e que não podem ser por eles
disputadas. Nesta instituição, parece haver pouco espaço para a diferença e para a
modificação das práticas instituídas.

O engenheiro apresenta como alternativa justa a situação em que surge a


possibilidade de questionar regras, o que permite aos alunos e às alunas participarem
ativamente da composição da escola. Também, aponta-se o respeito às diferenças, que
se manifesta na compreensão de que alunos/as diferentes têm necessidades diferentes.
Por último, as regras se tornam menos arbitrárias, pois não servem a uma
homogeneização cega do comportamento discente.

Em sua definição de uma escola justa, ele ressalta a clareza dos valores e regras
e a imparcialidade, que garante os mesmos direitos e deveres, critérios de avaliação e
respeito a todos e todas, independente de sua posição hierárquica, além do cumprimento
da escola de suas obrigações enquanto instituição educadora. O que fica mais evidente
nesta definição é a noção de respeito ao pacto estabelecido dentro da comunidade
escolar; as regras devem ser claras, destinam-se a todos/as e por eles/as devem ser
cumpridas, escola e estudantes devem respeitar o que foi acordado mutuamente, por
mais que as decisões não sejam tomadas por todos. Em resumo, o justo seria ter clareza
do que se deve fazer e cumprir estas expectativas, tanto por parte da escola, como por
parte do alunado.
4. DISCUSSÃO

Comparando as quatro respostas, as três participantes parecem ter uma conjunto


de valores semelhante, que difere um pouco do que traz o quarto participante. As
respostas das mulheres parecem apontar para uma escola que preza pelo diálogo, que
possibilita a organização discente, que busca a desconstrução de valores sociais, que
desenvolve a autonomia dos alunos e alunas, que se implica nas questões que surgem
em seu interior e que visa a equidade no tratamento e nos direitos. Apesar de a cena
relatada pelo participante pedir um tratamento diferente para pessoas diferentes e regras
menos arbitrárias, em sua descrição de uma escola justa estes elementos mais
associados à liberdade e flexibilidade perdem importância. Como pontos principais da
justa, ele indica a clareza dos limites, "independente de serem aceitos ou não [pelos
participantes da escola]", o que não parece abrir espaço para diálogo e questionamento,
o respeito à hierarquia da organização e também, o trato uniforme de seus membros, que
têm os mesmos direitos e deveres, o que talvez sugira a igualdade objetiva como mais
justa do que a equidade. Nos parece que suas concepções sobre educação são mais
rígidas e apegadas aos valores tradicionais do que as das demais participantes, muito
provavelmente, em decorrência de sua idade mais avançada, de ter sido educado em um
colégio tradicional religioso e de sua participação no exército.

A seguir, realizaremos uma síntese do que foi trazido pelos quatro participantes
da pesquisa:

Envolvidos Âmbito da Qualidade Tipo de Dimensões da


na situação situação da conflito injustiça
situação
Participante Colega de Aluno -
Justa Desrespeito Discriminação
1 escola aluna
Participante Pessoa Professora
Justa Homogeneização Distribuição
2 conhecida - aluna
Gestão da
Participante Colega de
escola - Injusta Homogeneização Distribuição
3 escola
alunos
Gestão da
Participante Primeira
escola - Injusta Homogeneização Retribuição
4 pessoa
aluno

Segundo os dados da tabela a cima, três dos quatro participantes relataram


situações injustas/justas que se referiam a terceiros e, do conjunto de depoimentos,
metade refere-se a cenas de justiça. Além disto, duas das respostas envolvem estudantes
e a gestão da escola, uma trata do conflito entre alunos/as e a última se refere a uma
situação professora-aluna. O relato da primeira participante teve seu tipo de conflito
classificado como desrespeito/preconceito, uma vez que uma aluna foi alvo de uma
suposta brincadeira machista, que pareceu indicar que seu lugar não era na escola, no
campo intelectual. Nesse sentido, utilizando as categorias propostas por Schilling, tem-
se uma injustiça ligada à discriminação, pois o aluno indica que a estudante deveria ser
tratada de forma diferente por ser uma mulher. Já o que foi trazido pela segunda,
terceira e pelo quarto participantes foi entendido como problemas de homogeneização,
no sentido em que tratava-se todos e todas como iguais, com a mesma possibilidade
financeira, mesmas condições de aprendizado e mesma necessidade, respectivamente.
No caso dos participantes 2 e 3, poder-se-ia classificar as injustiças como ligadas à
distribuição, uma vez que se a professora não houvesse destinado cuidados especiais à
aluna que perdera aulas, teria criado desigualdade no acesso à educação e, no segundo
caso, a escola exigir uma carteirinha que é pega produz distribuições desiguais do
direito de ir e vir. Por fim, o problema apresentado pelo quarto participantes se refere a
injustiça de retribuição, pois ele considera que recebeu um castigo não merecido.

A partir das situações descritas, levantou-se como dimensões fundamentais de


justiça o respeito ao diferente, nos relatos 1 e 4, e a produção de equidade, segundo o
que disseram os participantes 2 e 3. Na primeira cena relatada, o justo seria se todos e
todas estivessem no mesmo patamar da hierarquia, não sendo as mulheres colocadas em
uma posição de inferioridade, enquanto na quarta situação, seria justo que cada
estudante pudesse usar a blusa conforme sua necessidade. Já na segunda situação
descrita, o justo é tratar a aluna que esteve ausente de forma diferente dos/das demais,
dando-lhe mais atenção até que recupere minimamente o que perdera, enquanto na
terceira cena, seria justo dar a todos/as a mesma condição de usufruir da liberdade de
sair da escola, ou fornecendo a carteirinha gratuitamente, ou criando outra estratégia que
não fosse paga.

5. CONCLUSÃO

No presente trabalho desenvolveu-se uma análise sobre as concepções de justiça


e injustiça no ambiente escolar, com base em relatos de situações onde justo e injusto
foram identificados pelos participantes da pesquisa. Levou-se em conta, para a análise,
quem eram os atores que viveram ações injustas/justas, os elementos essenciais da
noção de justiça e a definição do que é uma escola justa. A discussão sobre os dados
encontrados foi feita à luz das ideias de Dubet e Schilling, somadas ao que foi pensando
na disciplina "Introdução aos Estudos da Educação: Enfoque Sociológico".

Os quatro participantes, um homem e três mulheres, cujas idades variam entre


17 e 65 anos, responderam a três perguntas: I. Relate uma situação justa/injusta vivida
por você ou por alguém na escola: diga quando, como, onde, com quem, entre quem...;
II. Pensando na cena descrita na pergunta anterior, qual poderia ser um
desfecho injusto/justo para a situação?; III. O que seria uma escola justa?. A partir das
respostas da professora, das duas alunas do Ensino Médio e do engenheiro, analisou-se
as cenas descritas sob os seguintes critérios: envolvidos na situação; âmbito da situação;
qualidade da situação; tipo de conflito e dimensões da injustiça.
Quanto aos atores envolvidos na situação, três dos relatos se referiam a terceiros,
sendo minoria (1) a experiência pessoal, conforme previsto por Schilling. Metade dos
conflitos se deu entre a gestão escolar e o alunado, sendo as outras cenas referentes à
relação aluno-aluna e professora-aluna. No que se refere à qualidade da situação,
metade delas tratou de injustiças e, das quatro respostas, o injusto está ligado a
distribuição em metade delas e à discriminação e retribuição nas demais.

A escola é considerada injusta pelos participantes quando não supre as


necessidades por ela geradas e/ou desconsidera as desigualdades sociais entre alunos/as,
reproduzindo as assimetrias sociais. Também, é injusta quando trata a todas e todos da
mesma forma, deixando de considerar suas diferentes possibilidades e necessidades. A
escola justa, então, unindo o que há de consonante nas quatro respostas, é aquela que
promove igualdade de direitos e deveres, tem valores e regras claros, respeita seu
integrantes, inclusive, suas diferenças, tratando-os com equidade e criando um ambiente
no qual se sintam bem e possam efetivamente aprender. Também, a escola justa deve
ser aberta ao diálogo, permitindo que os/as estudantes participem de sua construção,
além de ser uma instituição comprometida e implicada em relação à educação do
alunado.

Os resultados a que se chega vão de encontro ao que Schilling e Dubet propõem.


Primeiro, a definição de justo/injusto não é fácil, requer vários adjetivos e
circunscrições, que formam um complexa definição de escola justa. A justiça também
não é objetiva, cada um ressalta alguma de suas nuance e, muitas vezes, há
divergências, como no caso do engenheiro, que se posiciona entre o pedido de
flexibilidade e de direito a diferir e o respeito à hierarquia e a clareza e precisão das
regras. Também, como ambos autores apontam em suas discussões e as participantes 2 e
3 ressaltam, é importante para a justiça o tratamento equitativo dos sujeitos, que
reconhece as desigualdades existentes e age sobre elas, buscando compensá-las. Além
disso, a ideia de hospitalidade discutida por Flávia aparece de forma explícita através da
primeira participante, quando esta diz que "Escola justa é uma escola em que todxs se
sentem confortáveis (...)", pensamento que, de certa forma, aparece em todas as
respostas.

6. BIBLIOGRAFIA

Dubet, François. (2004). O que é uma escola justa?. Cadernos de Pesquisa, 34(123),
539-555. https://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742004000300002

Schilling, Flávia. (2013). Igualdade, desigualdade e diferenças: o que é uma escola


justa?. Educação e Pesquisa, 39(1), 31-48. https://dx.doi.org/10.1590/S1517-
97022013000100003

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