Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os ministros do Superior Tribunal Militar, em sessão de
julgamento, sob a presidência do Ministro Gen Ex LÚCIO MÁRIO DE BARROS GÓES, na conformidade do
Extrato da Ata do Julgamento, por unanimidade de votos, em conhecer e rejeitar os Embargos
Infringentes do Julgado, para manter na íntegra o Acórdão embargado.
Brasília, 03 de abril de 2018.
RELATÓRIO
Trata-se de Embargos Infringentes opostos por PAULO RICARDO ANASTÁCIO DE ARAGÃO ex-Sd-Ex, contra o
Acórdão desta Corte, de 03/10/2017.
O Acórdão impugnado da relatoria do eminente Ministro Ten Brig Ar WILLIAM DE OLIVEIRA BARROS, restou
assim ementado (fls. 208/227) :
Documento assinado eletronicamente por Odilson Sampaio Benzi , Matricula 9256. Em 17/04/2018
14:07:07.
Para confirmar a validade deste documento, acesse: https://eproc2g.stm.jus.br/eproc_2g_prod/ e digite o
Codigo Verificador 21cc09fc83
Direito Penal. Por essa razão, descabe considerar a infração como disciplinar,
principalmente quando o agente não ostenta mais o "status" de militar.
Recurso desprovido. Decisão majoritária.
No voto vencido de fls. 440/442, a Ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha dava provimento ao
Apelo da Defesa para reformar a Sentença a quo e absolver o ex-Sd PAULO RICARDO ANASTÁCIO DE
ARAGÃO da prática do delito previsto no art. 240 caput, do CPM, com fundamento no art. 439, alínea "b", do
CPPM.
O Acórdão de (fls. 431/445) foi publicado em 09/11/2017 (fl. 447), intimando-se o Ministério Público Militar
na mesma data (fl. 447).
Requereu a prevalência do voto vencido da Ministra MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
(Revisora da apelação), que dava provimento ao recurso da Defesa, reformando a Sentença condenatória,
absolvendo o Réu, com fundamento no art. 439, alínea "b", do CPPM. Aduzindo que o fato narrado não
configura o crime capitulado no art. 240, caput, do CPM, considerando que:
Após o retorno de vista do Ministro PÉRICLES AURÉLIO LIMA DE QUEIROZ, que proferiu seu voto
acompanhando o voto do Ministro Relator, o Tribunal, por maioria, negou provimento ao Recurso e manteve,
in totum, a Sentença recorrida. A Ministra MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA (Revisora) dava
provimento ao Apelo defensivo, reformando a sentença, absolvendo o réu com fulcro no art. 439, alínea "b",
do CPPM.
Contra o acórdão foi oposto os presentes embargos infringentes, que foi admitido em despacho. (evento 05).
A douta Procuradoria-Geral da Justiça Militar, em Parecer subscrito pela ilustre Subprocuradora-Geral Dra.
HERMINIA CELIA RAYMUNDO, opina pela rejeição dos Embargos Infringentes do Julgado, para que seja
mantido in totum o V. Acórdão proferido por essa Egrégia Corte (evento nº 10).
É o Relatório.
Documento assinado eletronicamente por Odilson Sampaio Benzi , Matricula 9256. Em 17/04/2018
14:07:07.
Para confirmar a validade deste documento, acesse: https://eproc2g.stm.jus.br/eproc_2g_prod/ e digite o
Codigo Verificador 21cc09fc83
VOTO
Cuida o presente Recurso de Embargos infringentes opostos pela Defesa de PAULO RICARDO ANASTÁCIO DE
ARAGÃO, ex_Sd-Ex, objetivando que seja prestigiado o voto vencido da Ministra Dra. MARIA ELIZABETH
GUIMARÃES TEIXEIRA DA ROCHA, que divergindo da maioria, reformava a sentença condenatória, para
absolver o réu, com fulcro no art. 439, alínea "b" do CPPM, pelo cometimento do crime furto, capitulado no
art. 240, c/c os arts. 72, inciso I, e 73, todos do CPM, ao qual foi cominada a pena de 01 ano de reclusão,
com o benefício do "sursis", pelo prazo de 02 (dois) anos, o direito de apelar em liberdade e o regime
prisional inicialmente aberto.
A divergência no Acórdão embargado cinge-se à absolvição do réu. O voto vencido da eminente Revisora
absolvia o réu do crime de furto simples, fundamentando que o fato praticado não constituía crime, em
contraponto ao voto da maioria dos demais Ministros que negava o apelo.
Não assiste razão ao Embargante, pois não houve atipicidade da conduta do réu, senão vejamos:
O Embargante, ex-Sd Ex PAULO RICARDO, furtou de seu companheiro de farda, o Sd ENILTON, um aparelho
celular da marca APPLE, modelo Iphone 4S, na madrugada de 14 para 15 de agosto de 2014, nas
dependências do alojamento do quartel, enquanto o Ofendido dormia, sob a alegação ter subtraído o
referido aparelho para deletar um vídeo feito por terceiros que constrangia o próprio Embargante.
No dia 19/08/2014, portanto quatro dias após o desaparecimento do referido aparelho, o irmão do acusado,
Pedro Henrique Anastácio de Aragão, compareceu a EsFCEx, para conversar com o réu, quando o Sd SILVIO,
ouviu o celular tocar com som característico do aparelho desaparecido do Sd ENILTON. Após negativa inicial
em mostrar o aparelho celular, o Sd SILVIO fez uma ligação para o número do celular desaparecido,
identificando-o como sendo o do Sd ENILTON, quando ouviu o toque do celular, que estava na posse do
irmão do Embargante.
Em Juízo, o irmão do Acusado alegou ter ido ao quartel devolver o celular, após tentar desbloquear o
aparelho em uma loja. Asseverou que o Réu, ex-Sd PAULO RICARDO, havia dito que queria desbloquear o
aparelho para apagar um vídeo com sua imagem no banheiro da OM.
A Sentença condenatória, em razão do mau exemplo do Embargante como militar, fundamentou de forma
suficiente a fixação do decisium condenatório, cominando ao Réu a pena de 01 (um) ano de reclusão, in
verbis:
Quanto à tese defensiva referente ao "Princípio da Insignificância", é sabido que tal princípio não se aplica
na Justiça Militar, pois o bem tutelado não é o valor de res furtiva, mas sim os valores que norteiam a vida
militar, insculpidos na moral, na ética, na lealdade aos companheiros sob o manto da Hierarquia e da
Documento assinado eletronicamente por Odilson Sampaio Benzi , Matricula 9256. Em 17/04/2018
14:07:07.
Para confirmar a validade deste documento, acesse: https://eproc2g.stm.jus.br/eproc_2g_prod/ e digite o
Codigo Verificador 21cc09fc83
disciplina militar, preceitos intangíveis que norteiam as Forças Armadas, devidamente explícitos pelo CPJ/Ex,
conforme consta na sentença condenatória, abaixo:
Ora, a cada um dos integrantes das Forças Armadas se impõe uma conduta moral e ética irrepreensível,
objetivando que o militar seja exemplo de lealdade, companheirismo e ética e moral a ser seguido por seus
integrantes, para que sejam preservados, além da disciplina e da hierarquia, o bom nome e o respeito que
goza no seio da sociedade civil.
Assim, a conduta praticada pelo embargante serviu de péssimo exemplo para os demais companheiros de
caserna, ferindo frontalmente os princípios da hierarquia e da disciplina militar.
Portanto, verifico que foi perfeitamente justificada a condenação do réu à pena de reclusão no seu mínimo
legal, em 01 (um) ano de reclusão.
O argumento do voto vencido, de que o réu deveria ser absolvido pelo fato cometido não se constituir crime
de furto simples, com fulcro no art. 439, alínea "b", do CPPM, não merece ser acolhida.
Pois como consta da sentença do Conselho de Justiça, caberia ao réu, sentindo-se prejudicado pelo fato
supostamente alegado, de que teria sido feito um vídeo constrangedor de sua pessoa no banheiro ter
comunicado tal fato aos seus Superiores, que tomariam as providências cabíveis à situação. E não
subtraindo na calada da noite o aparelho celular do Sd ENILTON, seu companheiro de farda.
Documento assinado eletronicamente por Odilson Sampaio Benzi , Matricula 9256. Em 17/04/2018
14:07:07.
Para confirmar a validade deste documento, acesse: https://eproc2g.stm.jus.br/eproc_2g_prod/ e digite o
Codigo Verificador 21cc09fc83
Quanto ao pedido defensivo de desclassificação da conduta para o furto atenuado, não merece ser acolhida,
pois, estabelece o § 2º do artigo 240 do CPM que para incidir essa desclassificação se faz necessária a
restituição voluntária da res pelo agente do delito.
Entretanto não foi o caso dos autos, eis que a res furtiva foi devolvida em virtude da descoberta fortuita pelo
Sd SILVIO, que após ter ligado para o aparelho desaparecido, constatou que o toque era idêntico ao do
aparelho do Sd ENILTON, comprovando que se tratava do celular subtraído.
Dessa maneira, ficou configurado que a recuperação do bem furtado, não foi espontânea, em decorrência
não houve o arrependimento eficaz do réu.
Assim, entendo que a condenação do embargante à pena de 01 (um) ano, com base no art. 240, caput, c/c
dos arts. 72, inciso I, e 73, todos do CPM, estabelecida na Sentença condenatória, revela-se proporcional à
conduta praticada.
Dessa forma, considerando que a autoria e a materialidade delitiva estão plenamente configuradas, a
condenação é medida que se impõe.
Por fim, quanto ao prequestionamento dos princípios constitucionais envolvidos na causa, não cabe a
manifestação desta Corte acerca de dispositivo constitucional, sob risco de invasão de competência
exclusiva da Suprema Corte.
Pelo o exposto, voto pelo conhecimento e rejeição dos Embargos Infringentes do Julgado para manter na
íntegra o Acórdão embargado.
Documento assinado eletronicamente por Odilson Sampaio Benzi , Matricula 9256. Em 17/04/2018
14:07:07.
Para confirmar a validade deste documento, acesse: https://eproc2g.stm.jus.br/eproc_2g_prod/ e digite o
Codigo Verificador 21cc09fc83