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Rio de
Janeiro: Record, 2010. 272 p.
[UE]Na realidade, há muito pouca coisa a dizer sobre o assunto. Com a Internet,
voltamos à era alfabética. Se um dia acreditamos ter entrado na civilização das
imagens, eis que o computador nos reintroduz na galáxia de Gutenberg, e doravante
todo mundo vê-se obrigado a ler. Para ler, é preciso um suporte. Esse suporte não pode
ser apenas o computador. P.9
[UE] O livro venceu seus desafios e não vemos como, para o mesmo uso,
poderíamos fazer algo melhor que o próprio livro. Talvez ele evolua em seus
componentes, talvez as páginas não sejam mais de papel. Mas ele permanecerá o que
é. P. 9-10
JCC: Nesse sentido, ele não se enganou. O cinema e o rádio, a própria televisão,
não tiraram nada do livro, nada que lhe tenha causado "danos". P.11
JCC: Você tem razão em apontar isso: nunca tivemos tanta necessidade de ler
e escrever quanto em nossos dias. Não podemos utilizar um computador se não
soubermos escrever e ler. E, inclusive, de uma maneira mais complexa do que
antigamente, pois integramos novos signos, novas chaves. Nosso alfabeto expandiu-
se. É cada vez mais difícil aprender a ler. Empreenderíamos um retorno à oralidade se
nossos computadores fossem capazes de transcrever diretamente o que dizemos. Mas
isso é outra questão: podemos nos exprimir com clareza sem saber ler nem escrever?
P. 11
[UE] E cada nova tecnologia implica a aquisição de um novo sistema de reflexos,
o qual nos exige novos esforços, e isso num prazo cada vez mais curto. (p.22)
[UE]Então o conselho que dou aos professores é pedir a seus alunos, no caso
de um dever de casa, que façam a seguinte pesquisa: a propósito do assunto sugerido,
descubra dez fontes de informação diferentes e compare-as. Trata-se de exercitar seu
senso crítico face à Internet, de aprender a não aceitar tudo como favas contadas. (p.
33-34)
JCC: Uma obra-prima não nasce obra-prima, torna-se uma. Convém acrescentar
que as grandes obras influenciam-se reciprocamente através de nós. (...)Se leio Kafka
antes de ler Cervantes, através de mim e à minha revelia, Kafka modificará minha leitura
do Quixote. Da mesma forma que nossos percursos de vida, nossas experiências
pessoais, a época em que vivemos, as informações que recebemos, até nossas
mazelas domésticas ou os problemas de nossos filhos, tudo influencia nossa leitura das
obras antigas. P.73
[UE]É o caso da Gioconda. Leonardo fez coisas que considero mais belas, por
exemplo, a Virgem dos rochedos ou a Dama de arminho. Mas a Gioconda recebeu mais
interpretações, as quais, como camadas sedimentares, depositaram-se com o tempo
sobre a tela, transformando-a. p.73
[JCC] A finalidade não é ver a todo custo ou ler a todo custo, mas saber o que
fazer com essa atividade e como extrair dela um alimento substancial e duradouro.
P.118
[UE] A frase para onde há um ponto, ao passo que o texto vai além do horizonte
do primeiro ponto que pontua a primeira frase que constitui esse texto. "Voltei para
casa." A frase é fechada. "Voltei para casa. Encontrei minha mãe." Você já está na
textualidade. P.127
[JCC] A palavra não passa de uma porção irrequieta da frase, uma viela rumo ao
sentido, uma vertigem da ideia que passa. P.128
[JPT] A questão está antes em saber que mudança a leitura na tela introduzirá
no que até hoje abordamos virando as páginas dos livros. P.5
[UE] Cada nova técnica exige uma longa iniciação numa nova linguagem, ainda
mais longa na medida em que nosso espírito é formatado pela utilização das linguagens
que precederam o nascimento dessa recém-chegada. P.21
JCC: Uma vez, na época em que eu dirigia a Fémis, pedi aos estudantes de som,
como exercício, que reconstituíssem alguns ruídos, alguns ambientes sonoros do
passado. A partir de uma sátira de Boileau ("Les Embarras de Paris"), eu propunha aos
estudantes que estabelecessem sua trilha sonora. Esclarecendo que os calçamentos
eram de madeira, as rodas das carroças de ferro, as casas mais baixas etc. p.17
[JCC] Assim como na literatura, conhecemos no cinema uma "linguagem nobre",
até mesmo grandiloquente e enfática, uma linguagem corriqueira, banal e inclusive uma
gíria. Sabemos também, como Proust dizia dos grandes escritores, que todo grande
cineasta inventa, pelo menos em parte, sua própria linguagem. P.23
[UE] Então o conselho que dou aos professores é pedir a seus alunos, no caso
de um dever de casa, que façam a seguinte pesquisa: a propósito do assunto sugerido,
descubra dez fontes de informação diferentes e compare-as. Trata-se de exercitar seu
senso crítico face à Internet, de aprender a não aceitar tudo como favas contadas. P.33-
34
[JCC] Você nunca sentirá frio no seio de sua biblioteca. Ei-lo protegido, em todo
caso, contra os perigos gelados da ignorância. P.128