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América Latina no início do século XXI

Perspectivas econômicas, sociais e políticas


Gilberto Dupas (coordenador)

ISBN 85-7504-082-0
Rio de Janeiro/São Paulo, 2005
Co-edição com Fundação Editora da Unesp e
Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais

Este livro registra as conclusões de pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Estudos Econômicos e
Internacionais (IEEI) sob o tema “Perspectivas Econômicas, Sociais e Políticas da América Latina a
partir das Novas Tendências de Integração Continental”. Essas conclusões são aqui apresentadas
na forma de papers dos seus principais colaboradores e de alguns convidados especiais.

Sumário

Introdução
Gilberto Dupas

Uma visão estrutural da dinâmica econômica da América Latina


Gilberto Dupas e Fábio Villares de Oliveira

Avaliação das mudanças estruturais no México (1982-2004)


Rolando Cordera Campos e Leonardo Lomeli Vanegas

O Brasil e os dilemas do governo Lula


Fábio Villares de Oliveira

Um enfoque multidimensional dos vinte anos de democracia na Argentina


Alicia Carlino e Ana Maria Stuart
Os países andinos: tensões entre realidades domésticas e exigências externas
Rafael Duarte Villa

América Latina: vulnerabilidade social e instabilidade democrática


Tullo Vigevani e Marcelo Fernandes de Oliveira

Percepções norte-americanas sobre os impasses na América Latina


Luis Fernando Ayerbe

A America Latina e o novo jogo global


Gilberto Dupas

Introdução

Gilberto Dupas

O objetivo deste trabalho é explorar o panorama dos impasses e perspectivas que pairam sobre a
América Latina ao final desta primeira metade de década que iniciou o século XXI. Esgotadas as
esperanças de um crescimento sustentado baseado na substituição de importações, que
vigoraram nos trinta anos que se seguiram ao segundo conflito mundial, as mudanças estruturais
no modo global de produção e o fim da Guerra Fria induziram os países da região a mergulharem
na onda de políticas neoliberais que imperou nos vinte anos finais do século passado. Os
resultados foram, em geral, decepcionantes. Para além do fim das inflações crônicas e de algumas
situações de crescimento espasmódico, a exclusão social e a concentração de renda aumentaram,
crises profundas abalaram vários dos maiores países da região e a anomia das instituições
públicas enfraquecidas levou a tendências neopopulistas que alguns imaginavam exauridas.

Para o exame desses impasses, o grupo de especialistas que conduziu a pesquisa no Instituto de
Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI) resolveu centrar suas análises sobre quatro situações
paradigmáticas que parecem poder indicar eventuais tendências determinantes para o futuro da
região latino-americana. A primeira são os resultados de dez anos da integração radical do México
com os EUA, efetuada a partir de sua adesão à Nafta. A segunda é a análise da experiência
recente brasileira – liderada no momento por um presidente de origem popular e sindical que
promete ser possível conciliar ortodoxia econômica com retomada do crescimento e redução da
exclusão social. A outra situação fundamental é o futuro da atual política argentina que, a partir dos
escombros de uma crise que reduziu à metade seu PIB em dólares e mergulhou o país numa
dramática situação social, tenta erguer-se apoiada na confrontação com os credores
internacionais. Em seguida, procura-se entender a atual dinâmica dos países andinos, fulcro das
tensões relativas à economia da droga e das prioridades norte-americanas em relação à sua
política de segurança para a região. O exame desse conjunto de situações referenciais é aberto
com uma análise estrutural sobre a dinâmica econômica da América Latina circunscrita pela nova
lógica global; em seguida ao desenvolvimento dos cases, examinam-se os espaços para a
democracia em meio ao quadro de vulnerabilidade social e instabilidade política que as crises
descritas alimentam; e encerra-se com as percepções do establishment norte-americano, país
hegemônico continental e mundial, sobre as ações e políticas adequadas a proteger seus
interesses no sub-continente. Finalmente, faz-se um exame final dos espaços de poder da América
Latina dentro do novo jogo global.

Dentro do esquema acima descrito, o Capítulo I, que segue essa Introdução, é intitulado Uma
visão estrutural da dinâmica econômica da América Latina. Nele, Gilberto Dupas e Fabio Villares
de Oliveira evidenciam que a onda neoliberal iniciada no período Reagan/Thatcher – causadora de
revoluções na economia e sociedade mundiais – tem agregado poucos resultados positivos para
os grandes países da periferia, dentre os quais os da América Latina. As teses que pretendem
demonstrar são várias, entre as quais a de que a globalização não lhes foi benéfica não tanto pela
forma implementada mas, sobretudo, por não ser adequada à sua estrutura produtiva e grau de
complexidade socioeconômica. Os países não-desenvolvidos que estão obtendo benefícios do
processo de globalização vêm adotando políticas industriais ativas e discriminatórias, justamente
contrárias às pregadas pelo neoliberalismo, mas semelhantes às praticadas pelos países
desenvolvidos quando do nascimento de suas indústrias. Mostram os autores que, após mais de
duas décadas de crescimento inexpressivo – sendo que na última metade sob a égide de políticas
neoliberais – a América Latina encontra-se, hoje, em uma situação de impasse: ou aprofundar e
radicalizar o padrão neoliberal em busca da miragem que ainda se acena por parte dos mais
ortodoxos, ou buscar caminhos outros que propiciem um desenvolvimento sustentado, a exemplo
dos que estão sendo percorridos por vários países asiáticos bem sucedidos.
No Capítulo II, Rolando Cordera Campos e Leonardo Lomelí Vanegas fazem uma Avaliação das
mudanças estruturais no México (1982-2004). Passam em revista a história do processo mexicano
desde a crise da dívida externa até os primeiros quatro anos de governo Fox. Analisam as grandes
expectativas que se alimentaram com a assinatura do Tratado de Livre Comercio da América do
Norte – que entrou em vigor em 1994 – imaginando aproveitar o território mexicano como
plataforma de exportação aos EUA e romper a barreira para o desenvolvimento sustentável. No
entanto, mostram que, entre 1994 e 2003, apesar de o comércio entre os dois países ter se
multiplicado por 3 e a produtividade da mão-de-obra mexicana ter crescido 60%, as remunerações
dos trabalhadores caíram 4% em termos reais e as condições sociais pioraram. Hoje tudo parece
indicar um esgotamento prematuro dessa estratégia de crescimento. O aparelho produtivo
mexicano se desarticulou, sua competitividade reduziu-se progressivamente em relação aos países
asiáticos e faltou ao México uma política industrial que permitisse exportar bens com maior valor
agregado. Tanto a formação bruta de capital quanto a inversão pública caíram no período, essa
última não sendo compensada pelo crescimento do investimento privado; as desigualdades e a
distribuição de renda pioraram. O avanço do processo de privatização do Estado – ao lado da
democratização do país que viabilizou uma participação progressiva de partidos e grupos políticos
e sociais, empresários e intelectuais – fez aumentar a pressão por resultados. As mudanças
abruptas das políticas norte-americanas a partir do 11 de setembro de 2001 trouxeram novas
dificuldades nas relações entre os dois governos. Além do mais, a atual debilidade política e fiscal
do Estado mexicano não dá conta de lidar com as pressões sociais crescentes que criam tensões
no caminho democrático.
No Capítulo III Fabio Villares de Oliveira analisa O Brasil e os dilemas do governo Lula sintetizando
a evolução da dinâmica de desenvolvimento brasileira na segunda metade do século XX desde o
período em que chegou a ser uma das mais dinâmicas do mundo até os dilemas do governo Lula.
Mostra que, após a crise dos anos 1980, o Brasil entrou na era da globalização em uma situação
vulnerável e com tendência à hiperinflação. A partir de 1994, o Plano Real – engenhoso
mecanismo concebido para desindexar a economia brasileira utilizando a âncora cambial e a
política econômica – conjugou-se progressivamente com a drástica redução da intervenção estatal
e com uma severa desregulamentação. Após um fugaz período de crescimento, as crises
financeiras internacionais foram paulatinamente dificultando o financiamento dos desequilíbrios do
país, conduzindo o Brasil a adotar políticas progressivamente mais rígidas nos âmbitos monetário e
fiscal, com as previsíveis conseqüências sobre o crescimento, renda e emprego. Um crescimento
repentino do déficit externo em função do desajuste cambial e do crescimento da demanda de
importados obrigou o país a vários choques cambiais entre 1999 e 2002. A renda per capita no
período 1996-2002 não chegou sequer a crescer 1% ao ano e a renda familiar e o consumo
caíram. A única cadeia produtiva de porte que se desenvolveu de forma consistente no período foi
o agribusiness, com algumas ilhas de crescimento nos setores de insumos básicos relacionados ao
mercado externo. A partir do governo Lula, o autor vê o futuro próximo não indicando a
possibilidade de uma situação crítica da economia brasileira nem tampouco sugerindo o retorno a
um novo ciclo virtuoso de crescimento, e sim apresentando uma trajetória de stop and go. Muito
embora o Brasil esteja finalmente obtendo saldos expressivos nas transações correntes com o
exterior, ele vê sua vulnerabilidade externa e as limitações de poupança e investimento como
fortes restrições a uma etapa de crescimento auto-sustentado. Por outro lado, as políticas
destinadas a complementar a renda dos estratos mais pobres da sociedade têm efeitos reduzidos
em termos de ampliação de demanda efetiva, não obstante seu importante caráter social. O
expressivo crescimento da demanda interna e da produção verificados desde o início de 2004 não
parece indicar uma mudança dessa tendência, mas apenas uma fase de expansão de ciclo curto
propiciada pela conjugação de uma série de circunstâncias positivas.
Alicia Carlino e Ana Maria Stuart, no Capítulo IV, elaboram Um enfoque multidimensional dos vinte
anos de democracia na Argentina. Descrevem os três períodos que o país atravessou ao longo do
século XX: o modelo agro-exportador, o de industrialização via substituição de importações e as
reformas estruturais. Mostram os profundos conflitos da sociedade argentina que, durante todo o
período, irromperam no plano político e impediram uma estratégia estruturante de longo prazo; e
como o desenvolvimento econômico, as políticas redistributivas e as mudanças na estrutura de
produção tinham promovido a ascensão de novas forças sociais – em particular a dos
trabalhadores industriais e as classes médias – que, depois do golpe militar de 1955, não puderam
ser somadas ao projeto nacional. Desde meados dos anos 1950 ocorrem sucessivas interrupções
da ordem institucional liderados de modo geral por aqueles grupos de poder que tradicionalmente
haviam conduzido a economia argentina e que não contavam mais com o favor do voto popular.
Na década de 1990 operou-se a consolidação do modelo econômico baseado no Consenso de
Washington e avançaram as Reformas Estruturais: estabilidade macroeconômica, abertura do
mercado à competição estrangeira; redução do papel do Estado com privatizações; e nova
abertura radical. Na atividade agropecuária, a prioridade ao comércio exterior ditou a seleção dos
cultivos; a soja expandiu em 3 vezes sua produção. O país caiu na armadilha da paridade cambial,
a moratória da dívida acabou se fazendo inevitável e a Argentina sofreu uma crise de enormes
proporções. Os autores examinam como o governo Kirchner teve que enfrentar essa pesada
herança, estabelecendo uma complexa relação com o FMI e trabalhando com a memória de uma
sociedade que conheceu a participação política e que havia conseguido universalizar direitos
básicos No entanto, sugerem que o estilo do presidente Kirchner de governar sem mediações, tão
eficaz para angariar credibilidade na população, deverá encontrar a forma do diálogo com setores
representativos, no plano político e social. E, sobretudo, trabalhar para construir canais
institucionais que não permitam a recorrência da anomia política resultante do divórcio recente
entre Estado e sociedade.
No Capítulo V, Rafael Duarte Villa examina Os países andinos: tensões entre realidades
domésticas e exigências externas. Ele coloca os países da região (Bolívia, Colômbia, Equador,
Peru e Venezuela) numa perspectiva histórica e aponta três aspectos semelhantes que lhes
conferem alguma identidade comum: formaram parte do sistema colonial espanhol; todos tiveram
na figura de Simón Bolívar um emblema na conquista de autonomia política em relação à Espanha;
e, na segunda metade do século XX, os cinco países formaram a Comunidade Andina de Nações
(CAN). Já na situação de pós-Guerra Fria e da globalização, quatro grandes pontos da agenda
política são transversais a esses países: as crises políticas dos anos 90 e inícios de 2000; o tráfico
de drogas; uma interlocução forte com os EUA; e os impactos do conflito colombiano. O autor
aprofunda a turbulência política pela qual vem passando a região andina e encontra o que existe
de semelhante nessas crises: a deslegitimação – ou desinstitucionalização do Estado – que
resultou em crises políticas estimulando o revival do populismo; uma tendência para a aplicação de
fórmulas liberais ortodoxas; e, como tendência positiva, a emergência de novos atores sociais
reivindicando a legalidade e constitucionalização de seus direitos. No entanto, apontam o
surgimento de um descontentamento geral dos atores sociais: para vários segmentos empresariais
o Estado já não lhes é mais funcional a seus interesses em subsídios, créditos a baixo custo e
perdão das dívidas; e aos sindicatos e aos partidos da oposição parece-lhes que é preciso oferecer
mais ao povo que apenas austeridade como programa de governo. O lado positivo da reação dos
setores sociais organizados foi a entrada em vigência de mecanismos democráticos de
organização, ausentes nas fases do modelo autoritário e populista das últimas três décadas. No
contexto da redemocratização, porém, houve um grande crescimento das expectativas sociais de
setores historicamente excluídos, com vistas a promessas de incorporação ao sistema ou inclusão
social – via redistribuição mais eqüitativa da renda ou de representação política – que mais uma
vez viram-se frustradas, daí emergindo o neopopulismo e rejeição dos partidos tradicionais. Outras
importantes questões são a emergência da agenda indígena, a interdição das drogas e a
militarização do conflito com os EUA na sua política de segurança intervindo pesadamente na
região com o Plano Colômbia. O autor acha que a margem para mudança na atual conjuntura
andina é pequena, sobretudo, depois das eleições que asseguraram um segundo mandato a W.
Bush. Quanto ao problema do combate às drogas, de natureza sistêmica, ele depende de políticas
de saúde pública nos países de destino que tratem do problema do consumo. Na agenda
econômica, a estagnação das conversações sobre a ALCA tem incentivado a procura de
mecanismos alternativos de liberalização comercial. Por outro lado, é possível que Washington
procure com o aprofundamento do Tratado de Livre Comércio para neutralizar iniciativas brasileiras
de incorporar os países andinos como membros de uma aliança sul-americana. Para a agenda dos
EUA, a questão da segurança e o Plano Colômbia continuarão a ser a pedra basilar. Este
mecanismo desfruta de um sólido consenso entre democratas e republicanos por três motivos: a
Colômbia é o principal centro produtor de cocaína no mundo e o país que ainda tem as guerrilhas
mais ativas na América Latina; ela é vizinha da Venezuela, o principal fornecedor ocidental de
petróleo dos EUA, e próxima do Canal do Panamá.
Tullo Vigevani e Marcelo Fernandes de Oliveira, no Capítulo VI intitulado América Latina:
vulnerabilidade social e instabilidade democrática, têm como objetivo demonstrar como a inserção
periférica da América Latina na economia internacional tem gerado condições sociais e
econômicas precárias, levando a região a apresentar graus elevados de anomia endêmica e
vulnerabilidade social. Para fugir dessa situação, parcelas significativas da população tendem a
buscar sua sobrevivência em grupos “fora da lei” e o Estado de direito e as instituições
democráticas deixam de ser paulatinamente reconhecidos pelas sociedades latino-americanas
como fonte legítima de poder. Os autores vêem, dessa maneira, vácuos que tendem a serem
ocupados por líderes carismáticos que vão de posições mais enfáticas de contestação, como
Chaves na Venezuela, à mais velada de Kichner na Argentina, do relativo imobilismo de Lula no
Brasil ou, finalmente, do afastamento do alinhamento automático de Fox no México. Por fim,
examinam, a partir de uma discussão conceitual sobre democracia, se a região está a caminho da
consolidação da democracia ou de um novo fenômeno político, o neopopulismo. O crescimento de
protestos sociais violentos na América Latina é sintoma dessa tendência e a base do crescimento
dessa percepção coletiva encontra-se no seguinte tripé: a existência de eleições livres e
transparentes; um contexto de profundas desigualdades econômicas, sociais e culturais; e
existência de mecanismos institucionais que permitem a concentração de poder nas mãos do
executivo, ou seja, a democracia delegativa. A realização de eleições em contexto de profundas
desigualdades econômicas e sociais pode levar a maioria dos eleitores a optarem por novas
alternativas, elegendo dirigentes menos comprometidos com as práticas democráticas. Eles
afirmam que a deterioração socioeconômica que leva à condição de vulnerabilidade social vem
contribuindo para romper os laços de solidariedade orgânica e mecânica presentes nas sociedades
latino-americanas, as quais parecem estar caminhando para um processo de anomia endêmica. O
resultado pode por em xeque o processo de consolidação da democracia ao estilo dahlsiano na
América Latina.
No Capítulo VII, Luis Fernando Ayerbe mostra as Percepções norte-americanas sobre os impasses
na América Latina. São tomados como referência estudos produzidos por alguns dos mais
importantes centros de pensamento estratégico dos EUA (Think Tanks) com capacidade de
interlocução junto ao sistema decisório da política externa dos Estados Unidos. Suas posições
expressam perspectivas próximas às recentes administrações democratas e republicanas.
American Enterprise Institute, Brookings Institution, Center for Strategic and International Studies,
Heritage Foundation, Hudson Institute, Inter-American Dialogue e RAND Corporation. Três
principais conseqüências estão presentes em todas as suas análises: a gravidade da situação
econômica latino-americana a partir da segunda metade dos anos 1990; seus desdobramentos
negativos em termos de governabilidade política; as implicações para os Estados Unidos da perda
de relevância da região na seqüência dos atentados de 11 de setembro. Para os autores, seu
pessimismo é indicativo do alto grau de previsibilidade que tomou conta das percepções sobre o
futuro da América Latina, em que os problemas são muitos, mais poucas as opções consideradas
viáveis. A partir da segunda metade dos anos 1990 sucessivas crises atingem diretamente as três
maiores economias da região – México, Brasil e Argentina – fortalecendo politicamente os críticos
do Consenso de Washington. Ampliaram-se os espaços eleitorais à esquerda, com Hugo Chávez
na Venezuela, Lúcio Gutierrez no Equador, Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Néstor Kirchner na
Argentina, paralelamente à emergência de movimentos sociais que colocaram em xeque a
governabilidade na Bolívia e ameaçam se multiplicar em escala regional. No entanto, para esses
Think Tanks, há convergência em rejeitar qualquer vinculação entre a origem desses problemas e
as reformas liberalizantes; as falhas teriam se dado na aplicação, seja por erros cometidos, seja
porque ficaram incompletas. Conseqüentemente, não se trataria de mudar o caminho
empreendido, mas de aprofundá-lo, sensibilizando o governo dos Estados Unidos para a
necessidade de dar mais atenção à região, que nos últimos anos ficou ainda mais deslocada do
centro da sua agenda internacional. O autor mostra que as diferenças entre conservadores e
moderados não são de caráter antagônico, mas de percepção de ameaças e definição de
prioridades na resolução de problemas. Esse aparente paradoxo contém uma racionalidade
implícita. Independentemente dos custos envolvidos, nessas instituições não se prevê outro
caminho fora do aprofundamento das reformas liberalizantes, principalmente para uma região que
já falhou em todas as tentativas anteriores de implementar modelos de capitalismo com graus
variados de proteção estatal. Mais do que um impasse, a percepção dominante dos Think Tanks
do establishment local identifica uma versão contemporânea dos ciclos de desarranjos e ajustes
que de tempos em tempos confirmam a previsível normalidade do subdesenvolvimento da região.
Numa outra época, o conjunto de problemas econômicos, sociais e políticos aqui abordados
seriam percebidos como sinais de uma crise estrutural que demandaria mudanças no modelo
adotado. Os tempos são outros, assim como as concepções dominantes, que vêem apenas efeitos
colaterais de um processo sem volta, passíveis de correção, mas sem compromissos com o
resultado final.
Finalmente, no Capítulo VIII, procuro focar A América Latina e o novo jogo global. Constato que os
anos mais recentes colocaram em pleno vigor uma nova lógica global que introduz imensos
desafios na prática da política mundial e tem características muito complexas. Tentar enfrentá-los
significa aceitar, como primeira condição, o fato de que estamos definitivamente inseridos na
realidade global; e que ela, muitas vezes, tem traços perversos. A globalização contemporânea é
uma força normativa que impõe diretrizes e políticas. Exige-se dos Estados nacionais que sejam
minimalistas, que sua autonomia se reduza à aplicação das normas neoliberais. De outro lado,
desregulam-se os mercados, privatizam-se os serviços públicos e assiste-se a uma progressiva
deterioração do quadro social, o que – paradoxalmente – requer um Estado forte e um aparato
regulador muito eficiente. Participar das cadeias produtivas não é mais uma opção, passa a ser
uma obrigação imposta pela lógica global. Ficar fora delas é ainda pior. No entanto, ao contrário do
trabalho, cuja mobilidade legal continua atada geograficamente aos países de origem, as grandes
corporações e o fluxo de capitais circulam livremente pelo espaço mundial, estimulando a
competição e jogando os países uns contra os outros com a contínua ameaça de exercer a opção-
saída: não invisto; ou, vou embora. Mostro que os países da periferia, na intensa disputa por
capital e investimento internacionais, são obrigados a baixar cada vez mais os custos dos seus
fatores de produção para atrair partes das cadeias produtivas das grandes corporações
transnacionais; a competição predatória decorrente paga um alto preço com a redução progressiva
de margens de ação, erosão da soberania nacional e das condições de governabilidade. Os
Estados agora são obrigados a partilhar com os atores econômicos as antigas soberanias.
Governos e opinião pública vão se transformando em espectadores e a legitimação democrática
vai se enfraquecendo. A sociedade civil, o terceiro ator desse novo meta-jogo global, fica restrita a
resistências isoladas e à ação das ONGs e dos movimentos sociais; no entanto, embora tenham
avançado bastante, esses movimentos ainda ficam sem saber a quem reivindicar e como influir na
alteração mais ampla do processo global e nacional, que conduz a progressivas assimetrias,
aumento da pobreza e concentração de renda e poder. São as grandes corporações que definem a
direção dos vetores tecnológicos, a distribuição mundial da produção e os produtos a serem
considerados objetos de desejo. No entanto, o trabalho fica sendo o maior prejudicado na
prevalência das novas dinâmicas globais. Os processos radicais de automação e das novas
tecnologias da informação reduzem empregos e aumentam a informalidade via intensa
terceirização de processos de produção. Diante desse impasse que impede a diminuição da
pobreza mundial e a retomada de crescimento dos grandes países da periferia – avanços
importantes até para o reforço da própria dinâmica de acumulação capitalista – que caminhos
podem ser propostos? Proponho que o primeiro deles é a manutenção de uma dura lucidez sobre
as lógicas e forças em jogo; e a retomada, dentro dos estreitos limites do que permite essa relação
de forças, de políticas públicas autárquicas que amenizem um pouco os efeitos negativos desse
novo jogo global. Isso implica, entre outras medidas, a permanente busca de adição de valor à
produção local mediante o desenvolvimento de padrões tecnológicos originais e contínua melhora
de eficiência operacional. No entanto, diante do tamanho das assimetrias e das forças negativas
geradas pelo jogo de mercado, essas medidas não bastam. Outro caminho, a ser necessariamente
trilhado em concomitância com o primeiro, é exploração de políticas transnacionais. Pois uma das
maneiras de os Estados reagirem a essas perdas crescentes de autonomia é entender o jogo das
empresas e imitá-las na agressividade e na escala para poder ter peso de barganha suficiente. É
nesse contexto que a cooperação entre as nações tem que ser desenvolvida, não mais num
esquema de referência internacional, mas sim transnacional, como no caso da União Européia. É
claro que sempre haverá possibilidades de múltiplos acordos bilaterais ou da formação de blocos
de interesse ocasionais de geometria e duração variáveis, articulados em nível de G-Rio, G-20 e
outros alinhamentos cujos países tenham táticas ou estratégias que se aproximem
temporariamente em função das particularidades de suas pautas.

Os autores

ALICIA MÓNICA CARLINO


Professora titular regular da Facultad de Ciencias Econômicas da Universidad Nacional del
Nordeste e professora titular regular da Facultad de Administración, Economía y Negocios da
Universidad Nacional de Formosa. Docente e pesquisadora do Departamento de Economia e do
IEMAL (Instituto de Estudios para América Latina), ambos da Facultad de Ciencias Económicas da
Universidad Nacional del Nordeste. Tem numerosos artigos publicados em revistas especializadas
e capítulos de livros, o último dos quais é Desigualdad y concentración en América Latina, In:
GARCÍA e DURAN ROMERO (Coords). Sistema Económico Mundial (Thomson).
ANA MARIA STUART
Licenciada em Ciência Política e Diplomática pela Universidade Nacional de Rosário, Argentina,
mestre em Ciência Política pela USP (Universidade de São Paulo), com concentração na área de
Relações Internacionais, e doutora em Sociologia pela USP (Universidade de São Paulo), com
concentração em Relações Internacionais. Pesquisadora do CEDEC (Centro de Estudos
Contemporâneos), membro titular do GACINT (Grupo de Análise da Conjuntura Internacional) da
USP (Universidade de São Paulo), membro do IEEI (Instituto de Estudos Econômicos e
Internacionais), coordenadora da Assessoria Internacional do Partido dos Trabalhadores. Tem
publicações diversas, entre as últimas, o artigo Negociando um novo Mercosul na revista
Panorama da Conjuntura Internacional (GACINT- USP, n. 23, ano 6, out./nov. 2004).

FÁBIO VILLARES DE OLIVEIRA


Diretor do IEEI (Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais), mestre em economia pela
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e colaborador do livro Renda, Consumo e
Crescimento (Publifolha).

GILBERTO DUPAS
Coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP (Universidade de São Paulo) e
presidente do IEEI (Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais). Autor de vários livros, entre
os quais, Economia global e exclusão social (Paz e Terra), Ética e poder na sociedade da
informação (Editora da Unesp), Hegemonia, Estado e Governabilidade (Senac), Tensões
contemporâneas entre o público e o privado (Paz e Terra) e Atores e poderes na nova ordem
global (Editora da Unesp). Elabora regularmente artigos e ensaios para jornais e revistas
especializadas no Brasil e no exterior. Escreveu o romance Retalho de Jonas e é co-editor da
revista Política Externa.

LEONARDO LOMELÍ VANEGAS


Licenciado em Economia, mestre em História e candidato a doutor em História pela UNAM
(Universidade Nacional Autônoma do México). É autor do livro Breve historia de Puebla e co-autor
dos livros El Partido de la Revolución, institución y conflicto (1928-1999) e La política económica de
México en el Congreso de la Unión 1970-1982, os três publicados pelo Fondo de Cultura
Económica. Atualmente é professor em tempo integral da Facultad de Economía e secretário
técnico do Seminario Universitario de la Cuestión Social da UNAM (Universidade Nacional
Autônoma do México).

LUIS FERNANDO AYERBE


Professor do Departamento de Economia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e do
Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Unesp, Unicamp e Puc/SP
(Universidade Estadual Paulista, Universidade Estadual de Campinas e Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo). Foi pesquisador visitante no David Rockefeller Center for Latin American
Studies, da Universidade de Harvard, e do Centro de Estudios Internacionales e Interculturales, da
Universidade Autônoma de Barcelona. Em 2001, recebeu o Prêmio Casa de las Américas, na
categoria Ensaio Histórico-Social. Entre as suas publicações recentes, se destacam O Ocidente e
o “resto”: a América Latina e o Caribe na Cultura do Império (CLACSO-ASDI), Estados Unidos e
América Latina: a construção da Hegemonia e A Revolução Cubana (Editora da Unesp). É membro
do IEEI (Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais).

MARCELO FERNANDES DE OLIVEIRA


Graduado e mestre em Ciências Sociais e doutorando em Ciência Política pela USP (Universidade
de São Paulo). Defenderá tese sobre Negociações Internacionais e Democracia no Brasil
Contemporâneo. Atua como consultor em negociações internacionais, é professor de Relações
Internacionais e pesquisador do CEDEC (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea) e do IEEI
(Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais). É autor de três livros: Leviatã – Ensaios de
Teoria Política (Editora Práxis); Mercosul: atores políticos e grupos de interesses brasileiros
(Editora da Unesp) e Diversidade étnica, conflitos regionais e direitos humanos (Editora da Unesp /
no prelo) em co-autoria com Tullo Vigevani. É autor de diversos capítulos de livros e artigos em
revista científica publicados no Brasil e no exterior.

RAFAEL DUARTE VILLA


Professor de Relações Internacionais do Departamento de Ciência Política da USP (Universidade
de São Paulo). Centra suas pesquisas em temáticas tais como Segurança Internacional,
Sociedade Civil Mundial e Política Externa da América Latina. É membro do GACINT (Grupo de
Análise da Conjuntura Internacional) da USP (Universidade de São Paulo). Autor de dois livros: Da
crise do realismo à segurança global multidimensional (Editora Annablume) e A Antártida no
sistema internacional: análise das relações entre atores estatais e não-estatais com base na
perspectiva da questão ambiental (Editora Hucitec).
ROLANDO CORDERA CAMPOS
Licenciado em Economia pela UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México), com estudos
de pós-graduação na London School of Economics, Londres, Inglaterra. Professor e membro da
Junta de gobierno de la UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México), membro do Sistema
Nacional de Investigadores, colaborador em diversos meios de comunicação impressos e autor do
livro Las decisiones del poder (Cal y Arena); co-autor com Carlos Tello de La disputa por la Nación
(Siglo XXI Editores). Recebeu em 1998 o Prêmio Universidad Nacional en investigación en el área
de Ciencias Económico-Administrativas.

TULLO VIGEVANI
Professor de Ciência Política da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus de Marília,
pesquisador do CEDEC (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea) e membro do Conselho
Consultivo do IEEI (Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais). Publicou inúmeros livros,
entre eles, O contencioso Brasil x Estados Unidos da informática: uma análise sobre formulação da
política exterior (Alfa-Omega/EDUSP); Mercosul: impactos para trabalhadores e sindicatos
(LTr/FAPESP/Cedec), em co-autoria com Marcelo Passini Mariano; ALCA: O gigante e os anões.
(Editora Senac). Tem artigos publicados no Brasil e no exterior.

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