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RESENHA

CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. São


Paulo: Cosac & Naify, 2003. pp. 7-63 e 195-234.

Pierre Clastres, filósofo e etnólogo francês, apresenta em A Sociedade contra o Estado:


pesquisas de antropologia política, uma coletânea de onze textos que produziu entre 1962 e
1974, sendo os indígenas da América do Sul o cerne do estudo. Como o subtítulo da obra já
denuncia, trata-se de um trabalho de antropologia política e, por sinal o primeiro grande trabalho
com essa temática. Que veio a influenciar muitos pesquisadores posteriores.
Dada sua formação filosófica, Pierre Clastres escreve seus textos a partir de uma
metodologia dialética, fazendo questionamentos afirmativos e negativos, para depois refutá-los
através de vários argumentos, somente após essas refutações apresentar seu ponto e vista.
Clastres fora aluno de Claude Lévi-Strauss, no entanto, a maior parte de seu pensamento não
concorda com as ideias de seu mestre. Entre seus principais influenciadores estão: Aristóteles
e Étienne de La Boétie.
O primeiro capítulo da obra, Copérnico e os selvagens, escrito em 1969, é uma análise
do fazer antropológico. Debate a epistemologia da antropologia. Nele, Clastres traça uma crítica
a obra do Sociólogo francês, Jean-William Lapierre que havia publicado um ano antes, uma
análise sobre o poder político em diferentes sociedades primitivas, sobretudo africanas. Para
Pierre, a antropologia política tornou-se uma especialização tardia da antropologia, sendo foco
de estudo muito depois de outros temas como: parentesco (família), religião, economia e direito.
Para ele, o maior problema da questão, em outros trabalhos, estava em não considerar
a política separada do poder, mas em considerar a ambivalência do par comando-obediência
(Estado-sociedade) como a única forma possível de manifestação da política.
Outra crítica de Pierre vai no sentido de que os europeus ainda continuam a pensar de
forma evolucionista, muito embora, agora de forma velada, o que é pior, segundo ele. Para
ilustrar essa situação, ele expõe que, finalmente, o ocidental passou a aceitar os indivíduos dos
outros povos como iguais aos europeus, mas, as sociedades – o grande indivíduo – ainda como
inferiores. Ele cita que Lapierre, classificou as sociedades estudadas em cinco níveis, desde os
indígenas sul-americanos – totalmente sem Estado –, passando pelos africanos e indígenas norte
americanos, até chegar aos europeus – estágio máximo de desenvolvimento do Estado.
Clastres critica duramente o conceito sociedade-indivíduo de Durkheim. Segundo ele,
esse era o maior empecilho em se pensar outras formas de interação líder-liderados que não nos
moldes ocidentais. Assim, ele frisa a necessidade de uma descentralização do ocidente como
base da análise antropológica. Em suas palavras “é tempo de buscarmos outro sol e de nos
pormos em movimento” (p. 41). Diante dessas constatações, Clastres convida os antropólogos
a realizarem uma revolução copernicana no sentido de pensar e fazer a antropologia.
Desde Franz Boas, passando por Malinowski, Radcliffe-Brown e Paul Bohannan, a
pesquisa antropológica avançou bastante, mormente, no que diz respeito a alteridade, a essência
da ciência antropológica, mas a análise ainda continuava a ser etnocêntrica. Com Clastres a
antropologia ganhara mais uma porção de relativismo, agora, numa nova área, a política.
O segundo capítulo da coletânea, Troca e poder: filosofia da chefia indígena, fora
escrito em 1962, portanto, antes de Pierre ter ido a campo fazer suas observações
antropológicas. É um texto de cunho fortemente filosófico e pouco etnográfico. Por isso, mesmo
será alvo de muita crítica. Nesse tópico, baseando-se em trabalhos de outros pesquisadores ele
apresenta as principais características de um “chefe”, expressão, segundo ele, inadequada, pois
em muitas sociedades indígenas não há um correspondente na língua nativa que seja equivalente
a chefe ou líder.
Pierre enfatiza quatro características, sempre presentes nos líderes indígenas sul-
americanos, a saber: a oratória, o esforço em manter a paz, a generosidade em suprir as
necessidades do grupo e doar bens e a poligínia. Sobre a generosidade, pode-se notar que
Clastres empresta o conceito de servidão voluntária de Étienne de La Boétie. A esse respeito
escreveu ele: “traço característico da chefia indígenas, a generosidade, parece ser mais que
um dever: uma servidão. (...) Avareza e poder não são compatíveis, para ser chefe é preciso
ser generoso.” (pp. 48-49).
Na verdade, explica ele, o “poder” da chefia indígena é resultado de uma troca, o grupo
dá ao chefe mulheres, enquanto que na contrapartida esse tem de retribuir a comunidade com
generosidade de bens, apaziguamento em iminência de guerras e com palavras de sabedoria e
consolo manifestados através de uma boa oratória. Nessas comunidades, o líder é o que mais
trabalha. Há insistentemente, por parte de toda a comunidade, uma recusa ao poder. Destarte, o
chefe é um líder sem poder, sem autoridade coercitiva, é detentor de uma autoridade apenas
moral. Se por um lado, a chefia não tem poder, por outro, ela tem prestígio.
O capítulo 10, Da tortura nas sociedades primitivas, mostra que os rituais de iniciação
são os únicos momentos em que se tolera a tortura nessas comunidades ameríndias, não com
caráter coercitivo, punitivo, mas afirmativo e de passagem. Para ele, o corpo (a pele), onde se
faz as pinturas, inscrições e ficam registradas as marcas das torturas realizadas durante os ritos
de iniciação, carregam as leis primitivas. Desse modo, as cicatrizes têm a função social de
memória, pois, “a lei, inscrita sobre os corpos, afirma a recusa da sociedade primitiva em
correr o risco da divisão, o risco de um poder separado dela mesma, de um poder que lhes
escaparia. A lei escrita sobre o corpo é uma lembrança inesquecível.” (pp. 203-204).
Essa relação, rito-corpo-escrita-lei-memória carrega um forte apelo político, pois os
corpos, marcados igualmente com o simbolismo da comunidade, mostram que todos são iguais
e, portanto, é inconcebível que alguém ouse se colocar numa posição de superioridade e
mandonismo sobre os demais membros do grupo.
Para finalizar a obra, o capítulo 11, traz o texto que dá título a coletânea, A Sociedade
conta o Estado. É importante salientar três vocábulos desse título, “sociedade”, “contra’ e
“Estado”. Para Clastres, a maior dificuldade em se compreender que as sociedades nativas têm
estruturação política, está na forma tal qual compreendemos o que seja a sociedade. Para ele, o
conceito de Durkheim é um grande poluidor de nossas compreensões. Pois, para nós, é
impossível pensar uma sociedade, sem dominados e dominantes, aí reside a diferença entre os
povos primitivos e as sociedades ditas civilizadas. Já que, para Clastres, é justamente essa
divisão dicotômica entre dominadores e dominados que institui e legitima o poder e, por
conseguinte o Estado.
Outros pressupostos que aceitamos como verdadeiros sobre esses povos, trata-se das
máximas: “sem Estado”, “sem escrita”, “sem história”, “sem mercado”, logo, com economia
apenas de subsistência, com inferioridade tecnológica. Destarte, pensamos estar diante de povos
inferiores, desorganizados social, econômica e politicamente. Portanto, não esqueçamos que “a
ausência do Estado nas chamadas sociedades primitivas não deriva, como se costuma
imaginar, de seu baixo nível de desenvolvimento ou de sua suposta incompletude, mas de uma
atitude ativa de recusa do Estado, enquanto poder coercitivo separado da sociedade”. (p. 9).
Para Clastres, não se trata de uma sociedade sem estado, mas uma Sociedade contra o
Estado. Contra, justamente, porque eles insistem em não aceitar diferenças no seio da
comunidade, eles lutam contra o poder de diferenciação, que coloca uns “poucos com poder
sobre muitos”, (p. 23). “... a recusa do poder político isolado é a recusa do Estado” (p. 232).
“O que os selvagens nos mostram é o esforço permanente para impedir os chefes de serem
chefes”, eles querem mostrar “... a história da sua luta contra o Estado.” (p. 234), “a sociedade
primitiva nunca tolerará que seu chefe se transforme em déspota” (p. 224). Por isso mesmo,
afirma Clastres “alguma coisa existe na ausência.” (p. 38).

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