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Folha de S.Paulo - "Ninguém vai ver filme como aula" - 01/05/2009 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0105200909.

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São Paulo, sexta-feira, 01 de maio de 2009


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"Ninguém vai ver filme como aula"


Costa-Gavras rejeita a ideia de usar seus longas para
militar e diz que cinema é espetáculo, para público
"amar, odiar, chorar"

Cineasta greco-francês diz que filmes atuam na


"formação da sensibilidade" das pessoas e que o cinema
de autor está "em perigo"

DO ENVIADO ESPECIAL A RECIFE


DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Na sabatina da Folha anteontem, em Recife, o diretor


Costa-Gavras evitou o rótulo de cinema político para sua
filmografia, explicando que seus filmes de maior sucesso,
como "Z" e "Estado de Sítio" eram fortemente documentais,
sem abrir mão de elementos da ficção, como o suspense.
Leia a seguir alguns trechos.

CINEMA POLÍTICO E MILITÂNCIA


Todos os filmes são políticos. Até mesmo os com [a atriz
norte-americana] Esther Williams, que mostravam carros
bonitos, mulheres na piscina, casas com cozinhas modernas
etc. Quando eu ainda estava na Grécia, achava que essa era a
América. Mas não era. Como dizia [o escritor e semiólogo
francês] Roland Barthes, todos os filmes são políticos ou
podemos analisá-los politicamente.
[...] Eu nunca participei de partido político. Mas vim de um
país onde se aprendia que Stalin havia derrotado Hitler.
Nossa geração era atraída pelo stalinismo. Descobri um
sistema comunista que se chamava socialismo, que apoiei,
mas do qual depois eu me afastei. Pertencer a ele exigia
quase abandonar o livre arbítrio e não ter ideias contrárias.
Escolhi pensar por mim mesmo e sempre fiquei longe dos
partidos.
Além disso, tive uma mãe que dizia sempre: "Fique longe
dos partidos políticos". Tenho respeito pelo cinema
militante, procuro entender se há manipulação ou não, mas
não vou militar porque quero preservar toda a minha

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liberdade.
O presidente François Mitterrand [1916-1996] me pediu
indiretamente que fizesse um documentário sobre ele. Houve
várias coisas com que eu não concordei no governo dele e
que queria criticar. Então, não fiz o filme.

PAPEL DO CINEMA
Desde seu nascimento, o cinema teve papel importante na
sociedade, na formação da sensibilidade das pessoas [...]. Ele
desempenhou um papel negativo na década de 30, na Rússia
de Stalin e durante a Guerra Fria, em Hollywood, porque
manipulou os espectadores e divulgou uma ideologia que
não era a do cinema livre.
Um exemplo [positivo] recente foi citado num artigo do
"New York Times", que dizia que Barack Obama fora eleito
graças ao cinema. No passado, o cinema mostrou o negro
operário, que não podia ocupar cargos importantes. Mas, nos
últimos 25 anos, mostrou negros como arquitetos, advogados
etc. Acho que teve até uma série de TV que mostrou um
presidente negro. Isso permitiu que ele [Obama] fosse
considerado não alguém que veio da África, mas como
qualquer outro integrante da sociedade.
[...] O cinema nacional não pode existir sem a ajuda forte do
Estado. Não se trata apenas de dinheiro, mas de
regulamentação. Dizem que o cinema americano não precisa
de ajuda estatal, mas não é verdade. O Estado apoia o cinema
americano no país todo.

CINEMA-ESPETÁCULO
É preciso guardar certas liberdades para o cinema. Cinema é
espetáculo. Ninguém vai ver um filme como quem vai ter
uma aula na universidade ou ouvir um discurso num comício
político. As pessoas vão para amar, odiar, chorar etc.,
sentimentos importantes que definem a nossa vida.
Eu venho dessa tradição do cinema em que se falava dos
seres humanos de um modo espetacular. De uma escola de
grandes filmes que podiam ser ao mesmo tempo populares.
Como "O Encouraçado Potenkim" [1925, dirigido por Sergei
Eisenstein], que exige cultura politica, porque é um filme
que trata de homens frente a uma situação difícil. Bertolt
Brecht fez um teatro que fala de política, mas que também
trata de sentimentos.

TECNOLOGIA
Cada vez que aparece uma nova tecnologia, o cinema
conhece uma mudança profunda também estética. Temos o
exemplo da mudança do cinema mudo para o falado, que foi
radical. E, no início da década de 50, com o surgimento de
películas mais sensíveis, veio a nouvelle vague.
Hoje vemos uma transformação total com a tecnologia
digital, tanto no plano econômico como no estético. Hoje
qualquer grupo de jovens pode fazer filmes com uma câmera
digital. É uma nova concepção.
E, com o DVD, um filme pode circular por todo lugar do

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mundo. Os filmes viajam mais facilmente, mas há riscos de


aspectos negativos. Filme no telefone seria uma coisa
estúpida. Qualquer companhia pode impor sua vontade ao
público privado. É preciso que o cinema nacional não seja
engolido, que a liberdade não seja esmagada.

CRÍTICA DA CRÍTICA
A crítica no cinema é indispensável, é uma maneira de
apresentar a obra para o espectador, para ele entender
aspectos invisíveis, qualidades estéticas etc. O que aconteceu
nos últimos anos é que os poucos bons críticos não existem
mais.
Contrataram jovens que não têm conhecimento, não há quem
faça uma boa análise do filme. Contam o enredo e dizem se é
bom ou não.
[...] Não gosto muito da [revista] "Studio" e da "Première",
que falam da vida dos atores, de modo um pouco
sensacionalista, não fazem análise das obras. Idealmente
deveria haver uma escola de crítica, em que se falasse da
história do cinema como se faz na literatura. Mas isso é
extremamente raro.

CINEMA AUTORAL
Esse cinema está em perigo, é claro. Pelo menos na França e
na Europa como um todo, em que depende do financiamento
dos canais de TV. E sabemos muito bem que elas podem
fazer filmes que sejam amplamente populares, que permitam
ao espectador se acalmar e não pensar em problemas e
comprar Coca-Cola.
Há várias definições de cinema de autor. Na de André Bazin
[1918-1958, crítico e teórico de cinema, cofundador da
revista "Cahiers du Cinéma"], cinema de autor se trata de
obra de criador que tem continuidade, que não muda de uma
problemática para outra, e que tem estilo pessoal.
Hoje não temos na França essa concepção de cinema de
autor. Atribuímos a uns em detrimento de outros. Defendo na
Cinemateca Francesa [da qual é diretor] que todos sejam
mostrados. Há muitos filmes que hoje não são considerados
como de autor, mas que eu considero como tal.

"TROPA DE ELITE"
Fiquei profundamente emocionado com o filme de Padilha,
que mostrava o papel da pobreza e dos grupos de traficantes
na sociedade brasileira. Escutei várias opiniões [no júri do
Festival de Berlim, que ele presidiu] e eram todas parecidas.
Não houve imposição minha [na premiação com o Urso de
Ouro], foi unanimidade do júri.
[...] [Quanto a ser ou não um filme fascista], posso dizer que
o poder dá todas as possibilidades de a polícia agir. É claro
que os policiais se tornam fascistas, porque são salvadores da
pátria para a sociedade, pois vão eliminando os traficantes.
[...] Se o filme deixa a convicção de que a polícia é a solução
dos problemas, então é grave [que a plateia brasileira tenha
aplaudido a violência dos policiais]. Mas volto para o que me

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emocionou no filme: a função da democracia é negada na


história. Ela não funciona mais. É como uma miniditadura
que é autorizada pelo poder público.

UM FILME NO BRASIL
Para alguém de fora como eu seria difícil captar e
compreender os problemas do Brasil num filme. "Estado de
Sítio" [1972] era um filme particular, porque falava de um
sequestro, numerosos na época, e de um movimento
revolucionário tipo Robin Hood [os tupamaros].
Isso me interessou, passei muito tempo no Uruguai e discuti
muito com muitas pessoas. Vir ao Brasil fazer um filme me
parece difícil, eu precisaria ter um tema específico, aprender
a língua, como aprendi espanhol, e passar uns seis meses ou
um ano. Eu não me sinto capaz de fazer um filme sobre a
realidade brasileira.

REVOLUÇÕES
[Se eu acredito em revoluções?] São ideias pessoais.
Estamos falando de revolução armada ou revolução social,
por meios democráticos, nos quais é preciso respeitar todas
as classes? Se falamos de revolução armada, chegamos à
conclusão de que o sucesso não foi alcançado, não mostrou
suas vantagens.
Poderia ter mostrado em Cuba, mas o mundo ocidental a
bloqueou de tal forma que não pode ter êxito. A revolução
social vai depender de seus líderes, da capacidade de impor
suas ideias e de como cada um vai reagir a elas.

Assista ao vídeo da sabatina em Recife

www.folha.com.br/091201

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