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O Brasil, em contraste com Portugal, não necessitava da aliança inglesa, o que foi

demonstrado assim que se livrou do domínio de Pedro I e inaugurou sua verdadeira


independência. Essa reação decorreu de uma mudança de realidade, eis que, com a
independência, o país não precisava mais da proteção naval inglesa. Fazer a independência
através de Dom Pedro I minimizava a crise de legitimidade e facilitava a preservação da
unidade dos Brasis, todavia, implicava em aceitar as amarras que ele traria consigo em termos
de implicações dinásticas e de inclinação ao poder pessoal. Entretanto, pondera o autor que a
alternativa mais perigosa teria sido a ruptura radical com Portugal, que provavelmente resultaria
na exacerbação da luta e em sequelas propícias ao esfacelamento do território (com surgimento
de vários estados menores, como ocorreu com a américa espanhola).

A evolução política interna divide-se em duas etapas. Na inicial, dos nove anos
da Regência até a Maioridade antecipada de Pedro II (1831-1840), ocorre uma espécie de
“latino-americanização” da vida política brasileira. A instabilidade permanente, as lutas
violentas e o constante perigo de secessão que marcaram os primórdios da independência de
muitos vizinhos repetem-se agora no Brasil. A presença do imperador, ainda crinça, não bastou
para compensar o enfraquecimento da legitimidade do poder dinástico decorrente do
afastamento de Pedro I. Na segunda etapa, a partir da Maioridade, abriu-se de vez anos de
progressiva afirmação tanto da autoridade e do amadurecimento político do monarca, quanto da
organização e imposição do predomínio de setores ligados ao “regresso conservador” (1840-
1850). A centralização do poder e a repressão das rebeliões pelo Exército, com disciplina
restaurada, e da recém-criada Guarda Nacional conseguiram finalmente restabelecer condições
para consolidar as instituições.

O inegável enfraquecimento do poder executivo central não impediu que essa época
marcasse o princípio da vigorosa reação nacional contra as excessivas concessões
arrancadas pela Inglaterra nos tratados desiguais celebrados com D. João VI e mais tarde
confirmados e ampliados quando da independência. É esse um dos aparentes paradoxos das
décadas de 1830 e 1840, cuja explicação reside simplesmente na confusão que se pratica entre
executivo forte e interesse ou capacidade de fazer uso dessa força num sentido nacional. O
poder de D. Pedro I revelou-se internamente forte na dissolução da Assembleia, na deportação
dos Andradas, na supressão da Confederação do Equador em Pernambuco, com excessos
repressivos que deixaram ressentimento perdurável. No entanto, ao lidar com potências de poder
muito superior, em especial a Grã-Bretanha, o Imperador não tentou usar a margem de ação que
porventura possuísse para reduzir a desigualdade dos resultados. O problema não consistia tanto
na falta de poder, mas de interesse para agir de modo firme que pusesse em risco seus
objetivos pessoais e dinásticos.

O nacionalismo incipiente dirigia-se contra outros alvos: as concessões comerciais e os


privilégios de estatuto judiciário aos ingleses, a aceitação da exigência britânica de proibir o
tráfico de escravos, o compromisso de pagar metade da dívida pública portuguesa, o título de
imperador do Brasil reconhecido ao rei de Portugal, o silêncio ambivalente em relação
à sucessão da Coroa lusitana. Removido da cena o fiador dessas decisões, a reação nacional
contestaria o que se fizera sem seu consentimento e, quando ainda oportuno, desmantelaria o
sistema de obrigações que vinha de era anterior ou, no caso do tráfico negreiro, tentaria resolver
a questão de forma unilateral.
Ao longo dessas pouco menos de duas décadas, o Brasil iria libertar-se da tutela política
inglesa e cortaria de modo terminal os laços subsistentes com a política portuguesa. Nesse
sentido, talvez mais do que qualquer outro, é lícito sustentar que a verdadeira independência
deve-se contar a partir da abdicação.

As inovações trazidas pela abdicação e a regência em termos de inspiração nacional e


participação parlamentar na condução das relações internacionais ocorriam ao mesmo tempo
que prosseguia a busca de um novo equilíbrio das forças política. O processo culmina
finalmente no ano de 1850, o marco divisório que inaugura os quase cinquenta anos de
estabilidade institucional e política do Segundo Reinado.

A primeira dessas fases, dos trinta anos iniciais do século XIX, correspondeu ao apogeu
da preponderância inglesa transferida de Portugal ao Brasil. Os grandes problemas diplomáticos
da época – o reconhecimento da independência, os tratados desiguais, os favores comerciais e
de jurisdição, o convênio para o fim do tráfico – inseriam-se todos no eixo das relações
assimétricas de poder internacional entre o país recém-independente e inexperiente e potências
muito mais poderosas, entre as quais sobressaía a Inglaterra.

A obra fundamental de demolição dessa preponderância política será cumprida quase de


modo integral dentro da fase turbulenta da regência e dos anos iniciais da maioridade. A recusa
terminante de estender os privilégios dos tratados desiguais pertence a essa época. Mesmo na
questão do tráfico, cujo epílogo cobre a primeira metade da década de 1850, os traços essenciais
da política seguida pelo Brasil permanecem os mesmos na passagem de uma era para a outra.

Mais tarde, o acréscimo de poder e a estabilidade não modificariam a linha


geral esboçada na diplomacia da fase de 1831-1850, apenas lhe conferindo meios superiores de
ação e eficácia. De certo modo, tendências já presentes antes passariam por um desdobramento
natural pelo efeito de circunstâncias novas provenientes do exterior, conjugado à inédita
capacidade do governo brasileiro de reagir a esses influxos externos de maneira mais enérgica e
eficaz, é o que ocorre na questão do tráfico dos escravos.

Nada ilustra melhor os perigos de uma relação assimétrica de poder do que a questão do
tráfico de escravos, as outras – os privilégios comerciais, a jurisdição extraterritorial, as
intromissões na política platina – permitiam algum espaço de acomodação até que soasse a hora
de superá-las por expiração de tratados ou mudança de circunstâncias. No caso do tráfico,
não, porque seu fim feria o nervo exposto do que parecia ser a condição de sobrevivência da
economia: a renovação do fornecimento da mão de obra.

O destino do tráfico estava selado pela expansão do capitalismo industrial, incompatível


com o escravismo. De maneira mais imediata, o começo do fim viera em março de 1807, pela
lei de proibição do tráfico na Inglaterra. A fim de que a proibição surtisse efeitos ela tinha que
se estender-se aos demais países, tornando-se universal, sem exceções. Lorde Grenville, que
fizera votar a lei, afirmava sem rebuços que, se os ingleses tinham renunciado à atividade, não
seria admissível que algum outro país continuasse a praticá-la sem permissão da Inglaterra.

A resistência ao final do tráfico partia, desde o começo do problema, do próprio D.


João, que considerava o comércio escravagista como indispensável à prosperidade de suas
colônias. Quase todos os que se sucederam no poder em Portugal e no Brasil, com a notável (e
efêmera) exceção de José Bonifácio, pensavam da mesma maneira, o que tornava inimaginável
a renúncia unilateral e (em aparência) voluntária. Eliminada a hipótese da medida espontânea,
restavam apenas dois caminhos possíveis. O primeiro seria o da oposição indefinida e vitoriosa,
evidentemente inexequível ante a determinação da Inglaterra e a disparidade de poder e o outro,
que acabou por ser seguido pelos portugueses e seus sucessores brasileiros: ganhar tempo,
ceder somente passo a passo, aceitar assinar tratados e assumir compromissos de forma
relutante, avançar o mais lentamente possível e apenas quando não se dispunha de outro
remédio, mas sem ilusões, sabendo que a partida estava perdida, e o tráfico, condenado.

O fato é que, por força de um tratado internacional válido, o tráfico passava a ser
proibido no Brasil a partir de março de 1830, mais de um ano antes da abdicação, mas nas duas
décadas que se seguiram o tráfico prosseguiu cada vez mais intenso, ao arrepio da lei e do
tratado. A frouxidão ou cumplicidade das autoridades, o apoio do que se poderia então chamar
de opinião pública, a impunidade dos perpetradores, tudo conspirava em favor do tráfico.

A situação não poderia deixar de provocar crescente deterioração nas relações com a
Grã-Bretanha. O conflito diplomático, seguramente o mais grave e perigoso enfrentado pelo
governo imperial nas primeiras décadas de sua existência, desenrolou-se ao longo de mais de
vinte anos, divididos por um marco que sinaliza seu extraordinário agravamento: a Lei
Aberdeen (ou Aberdeen Act), de 1845, pela qual a Inglaterra se arrogava, sem nenhum caráter
bilateral, o direito de abordar e capturar embarcações engajadas no tráfico, encarregando do seu
julgamento e destino os tribunais do Almirantado, em Santa Helena (metade dos casos), Cabo
da Boa Esperança e Serra Leoa. A repressão tornava--se inteiramente unilateral, e, na visão do
Brasil, ilegal do ponto de vista do Direito Internacional, exprimindo em última instância a
superioridade de poder da Inglaterra e sua determinação de liquidar com o tráfico mesmo sem o
concurso do governo brasileiro e, se necessário, contra sua vontade.

A Lei Aberdeen, e em seguida, a intensificação das operações inglesas na costa e em


portos brasileiros atuaram como catalisadores da crise decisiva que iria, por fim, obrigar o
governo brasileiro a agir firmemente para liquidar o tráfico. Na escalada de recriminações que
se seguiu, a Inglaterra ameaçou bloquear os portos do país e paralisar seu comércio exterior, o
que poderia conduzir a uma guerra extremamente desigual com a principal potência econômica,
naval e militar da época. Em toda a história do Brasil independente, foi esse o momento em
que mais perto se chegou de um conflito direto com a potência predominante do
sistema internacional, com consequências que provavelmente teriam sido desastrosas para o
Brasil.

O próprio agravamento assustador da crise do tráfico criava condições para seu


desfecho. Alguns elementos na evolução do problema concorriam para a solução. A explosão no
número de escravos desembarcados – 60 mil em 1848 e 54 mil em 1849 – saturara o mercado e
aliviara temporariamente a carência de mão de obra. A parcela mais clarividente da opinião
pública alarmara-se com o desequilíbrio, em aumento, entre população livre e escrava. Crescia o
ressentimento contra os traficantes, portugueses em sua maioria, com os quais se encontravam
endividados numerosos fazendeiros brasileiros.

Tomada a decisão definitiva pela extinção do tráfico, em poucas semanas seria aprovada
a lei (4 de setembro de 1850) que Eusébio se encarregou de executar com energia em todo o
território. Aliquidação do tráfico processou-se de forma fulminante, não obstante, os britânicos
relutaram longo tempo em abrir mão da Lei Aberdeen, cuja vigência continuou a perturbar as
relações entre os dois países por quase vinte anos mais, até a revogação em 1869.

Tendo expirado em 1842 os quinze anos de vigência dos tratados de 1827


e transcorridos dois anos da notificação brasileira da intenção de não prorrogá-los, os acordos
deixaram de existir em 1844. Do mesmo ano data a chamada Tarifa Alves Branco, a reforma
pela qual as taxas sobre importações sem similar nacional se elevaram a 30% e ao dobro no caso
dos produtos com similares no país. A medida almejava, acima de tudo, o objetivo fiscalista de
aumentar a receita, mas visou secundariamente oferecer alguma proteção à produção nacional.
Durou pouco, até 1857, e talvez por isso seus efeitos fossem muito limitados.

O que prevaleceu durante praticamente todo esse primeiro século foi aquilo que Caio
Prado Júnior definiu como o “sentido” da colônia: sistema produtivo voltado para fora, baseado
no latifúndio, com mão de obra de escravos africanos ou fornecida pela servidão de índios,
especializado na produção de minerais ou commodities agrícolas tropicais destinados aos
mercados externos. Nos seus elementos econômicos essenciais, tal sistema econômico-
comercial não sofreu alteração profunda com as independências latino-americanas.

Se o fim dos tratados e a recuperação da liberdade de fixar tarifas não chegaram a


impulsionar a industrialização, ao menos o acréscimo da receita contribuiupara reforçar os
meios de ação e concorreu para a era de prosperidade dos meados do século.

Em conclusão: por volta de 1850, o Brasil consolidara, no âmbito interno, o poder de D.


Pedro II, bem como as instituições públicas e parlamentares que lhe assegurariam estabilidade
política durante quase toda a segunda metade do século. No plano internacional, malgrado o
caráter assimétrico da relação com a Grã-Bretanha e outras potências, a diplomacia brasileira
alcançara libertar-se das limitações e constrangimentos de tratados desiguais, que não voltaria a
firmar. Entretanto, naquela mesma hora, já se delineava a nova era de conflitos nas
fronteiras com o Uruguai, a Argentina e o Paraguai, que dominariam a fase seguinte da política
exterior.

Manual do candidato

O avanço Liberal

Logo após a abdicação o Brasil estava dividido politicamente entre, de um lado, os


brasileiros, defensores do liberalismo constitucionalista, da autonomia brasileira e da soberania
da nação sobre a dinastia; e do outro, os portugueses, partidários de Pedro I e, portanto, sem
muito apreço pelo liberalismo, simpáticos à autocracia e, em última instância, suspeitos de
quererem a recolonização, risco irreal em 1831.

Com a prevalência dos liberais no poder após a abdicação, o natural seria que tivessem
ampliado o máximo possível o alcance do pêndulo político para o campo diametralmente oposto
daquele marcado autoritarismo centralizador do Primeiro Reinado, todavia, dois elementos de
feição inercial contribuíram para que isso não ocorresse de forma tão intensa: o haitianismo
(medo de uma rebelião popular generalizada, com apoio de mestiços, mulatos e escravos) e a
capacidade de resistência dos portugueses, que ainda estavam presentes em diversas esferas de
poder, como no Conselho de Estado e o Senado, ambos vitalícios, preenchidos, portanto, no
regime anterior, por nomeação direta do imperador.

Em resumo havia o seguinte panorama de forças políticas no início da regência: 1)


liberais brasileiros, insatisfeitos com o autoritarismo de Dom Pedro I, mas que não podiam ir
muito longe na radicalização, pois temiam que o caos se instaurasse e o Brasil se jacobinizasse
ou, pior, se haitianizasse, os liberais moderados ou "chimangos"; 2) portugueses, recém-alijados
do poder, mas muito bem instalados desde 1808 ou antes no comércio das grandes cidades e nas
instituições políticas mais conservadoras, os restauradores; 3) as dissidências
liberais, pouco organizadas, com projetos de autonomia mais radicais que o dos chimangos e
que, ao se rebelarem, não raro se valiam dos mestiços e mulatos pobres, sendo, portanto,
acusados de “radicais” e/ou “exaltados”. Dentro de cada grupo existiam muitas divergências e
eles não podem ser considerados como partidos políticos na concepção que atualmente se dá a
esse termo.

A criação da Guarda Nacional tem caráter liberalizante, ao definir como eletivo o


critério de comando do poder repressivo, agora descentralizado, mas, por outro
lado,visava reprimir movimentos populares. Estava vedada a participação de negros ou libertos,
bem como dos que não tivessem renda suficiente para participar das eleições. Em suma,
delegava a grupos privados da elite uma função pública: a segurança; e, se de um lado havia o
caráter liberal descentralizador, de outro havia por objetivo manter a ordem e reprimir
movimentos populares.

Outra tendência perceptível nos anos iniciais da regência foi a necessidade de


enfraquecer o Poder Executivo. A opção por uma regência trina já evidencia isso. Pela lei de
1831, o Poder Moderador não mais poderia conceder títulos de nobreza, declarar guerra,
dissolver a Assembleia, nomear ministros livremente, sem a aprovação da Câmara, ratificar
tratados internacionais também sem a aprovação da Câmara, em suma, ficava manietado.

Outra contradição se verifica na criação do Código de Processo Criminal e da Lei de


Responsabilidade Fiscal. O código reformava o sistema judiciário brasileiro, ao criar os
tribunais do júri, e estabelecia igualmente o caráter eletivo dos juízes de paz. Sua inspiração era
claramente democrática e federalista. Já a Lei de Responsabilidade organizava o fisco e
estabelecia as rendas em provinciais e centrais, mas essa divisão não era claramente
determinada e, portanto, cabia ao poder central fazer a partilha, o que permite interpretações de
parte da historiografia que as medidas “federativas” do Código de Processo e, mais tarde, do
Ato Adicional não teriam eficácia prática nas províncias, pois o controle do dinheiro
permaneceria nas mãos do governo do Rio de Janeiro. Em comum, ambas as medidas
evidenciavam a preocupa- ção em estruturar o Estado, ainda em formação, em novas bases mais
liberais. Mas nem tanto assim. Era sempre preciso se preocupar com o vulcão popular que
poderia nos levar ao Haiti.

O Ato Adicional de 1834 instituía, de fato o federalismo (com seus limites fiscais) e
extinguia o Conselho de Estado; transformava a Corte em município neutro, desvinculado da
província do Rio de Janeiro; e estabelecia uma regência que passaria a ser una doravante. Ainda
que aparentemente uma regência una fosse uma medida de centralização, a verdade é que o
avanço liberal teria prosseguimento a partir de 1835, sob a liderança daquele que havia sido seu
maior executor nos anos após a abdicação: Feijó. Em segundo lugar, reafirmando a lógica de
avanço liberal, naquela que foi a primeira eleição geral no Brasil, o Império viveria uma
efêmera porém significativa “experiência republicana”, com eleições para as assembleias.

O período de “avanço liberal” significou um conjunto de medidas liberalizantes, com


seus limites impostos pelas circunstâncias específicas de um país escravista, de herança
monárquica, que fora cimentada pela transmigração da Corte e pela força das instituições
monárquicas sedimentadas com a interiorização da metrópole. As ideias de representação, voto,
democracia, justiça social, todas de matriz iluminista, não eram consenso, nem mesmo entre
aqueles que com elas concordavam – os liberais – havia consenso sobre qual era o melhor modo
de aplicá-las. Isso não significa que não houveram tentativas nesse sentido.

3.2 AS FORÇAS CENTRÍFUGAS

A Sabinada, por ser uma revolta urbana, já no período do regresso, escapa à


caracterização que José Murilo de Carvalho faz das rebeliões de segunda leva, rurais, e se
aproxima das rebeliões mais urbanas do primeiro momento regencial.

A Revolta dos Malês é uma revolta de escravos bem conhecida. Foi o momento em que
mais perto o Brasil chegou de ser o Haiti, apesar de a rebelião ter durado apenas uma
madrugada. Foi muito bem planejada, dela participando cerca de 600 escravos, a maioria
islâmica, que tentaram tomar a cidade de Salvador, com o objetivo provável de eliminar todos
os brancos e pardos, escravizando os africanos não islamizados. Embora controlados, o
julgamento de quase 500 escravos (mais de 70 morreram nas lutas que tomaram conta das ruas
de Salvador), com depoimentos que comprovavam o intuito radical dos escravos, contribuiu
para a disseminação de um pânico silecioso. A lei de junho de 1835 que passou a prever pena de
morte para escravos envolvidos em insurreições, mesmo sem unanimidade do júri, é sintomática
da paúra generalizada. Revoltas de escravos de menor importância foi a Revolta das Carrancas,
que ocorreu em Minas Gerais quando dezenas de escravos se revoltam em uma fazenda em São
Tomé das Letras, mataram os empregados e membros da família e passaram a atacar as fazendas
vizinhas.

A “ordem” era uma questão recorrente desde antes da independência, mas, agravada a
partir da segunda metade dos anos 1830, ela se tornaria o tema principal da organização do
Estado e questão fulcral para a mobilização dos setores da elite que iriam junto com Bernardo
Pereira de Vasconcelos ajudar a fundar o partido conservador. Este dito “partido da ordem”
faria oposição aos liberais, ao Ato Adicional de 1834, à lei de 1831 e defenderiam mão firme na
repressão às rebeliões.

Para José Murilo de Carvalho, a primeira onda de rebeliões até 1835 teve um caráter
urbano e eclodiu nas principais capitais do Império, apenas o Piauí e Santa Catarina “escaparam
à turbulência”. Já a segunda fase de revoltas teve, para o autor, caráter diverso da primeira se
deslocando para o interior, para as áreas rurais, "e aí remexeu nas camadas profundas da fábrica
social do país". O avanço liberal, com a culminância do Ato Adicional de 1834, fez dos
governos provinciais um prêmio relevante demais, antes fora do alcance das elites, já que
nomeados diretamente pelo imperador. Com a descentralização concomitante ao
enfraquecimento do governo central, conflitos intraelites surgiram e não raro transbordaram
para os grupos populares.

No Pará, o que inicialmente era um conflito de facções se tornou, em 1835, um amplo


movimento popular – de negros e índios –, capaz de tomar a capital, Belém, e controlar o
governo. O conflito se espalhou por toda a província, chegando a Manaus, no alto Amazonas. A
repressão foi intensa, sendo considerado como a.maior carnificina da história do país em todos
os tempos. Esse padrão de repressão se repetiu no Maranhão, onde um conflito inicialmente
intraelite aos poucos se transformou em ampla rebelião popular. Embora menos violenta que a
Cabanagem, assustou por ser liderara por um escravo, Cosme.

A Farroupilha motivada pelas alegações de extorsão tributária por conta dos impostos
sobre o charque que faziam do produto uruguaio mais barato que o gaúcho no Império. Tratou-
se de briga de brancos e não “transbordou” para os grupos populares, como teria ocorrido com
os demais levantes de segunda leva. Tratou-se de um movimento sem pretensões sociais e sem
nenhum caráter revolucionário. Em uma síntese das causas da farroupilha teriam que constar: as
requisições constantes de cavalos e gado para as forças militares perenemente presentes no Sul;
o exemplo autonomista da Cisplatina liberta; o crescente processo de limitação da autonomia
dos senhores da guerra sulistas, com a ascensão de uma nova elite no Sudeste que consolidava
seu poder na corte; os impostos crescentes sobre o sal; e sobretudo o liberalismo para com o
charque estrangeiro (para baratear a comida dos escravos da Corte). Cada uma destas coisas
contribuiu para que os sulistas perceberem no Império um leviatã opressor.

A relevância do componente internacional para a eclosão da farroupilha foi que se, para
o Império, a independência do Uruguai ao final da Guerra da Cisplatina havia sido ruim, para o
Rio Grande do Sul foi trágica. A província, indiretamente responsabilizada pela derrota, perde
prestígio junto ao governo do Rio de Janeiro. O orgulho ferido de um povo que já se sentia
oprimido, onde cada peão era também um soldado, tornou-se intolerável. Era a culminância do
processo que transformara a capitania do Rio Grande em província do Rio Grande do Sul e que
implicara em graves perdas .

3.3 O REGRESSO CONSERVADOR

Os marcos do fim do período conhecido como o regresso conservador são a derrota


militar da Farroupilha (batalha de Porongos, 14 de novembro de 1844), da Tarifa Alves Branco
(12 de agosto de 1844) e ainda da queda dos conservadores, com a demissão de Honório
Hermeto Carneiro Leão (31 de janeiro de 1844), o retorno ao Congresso dos Luzias, finalmente
anistiados pela rebelião de 1842 (em 14 de março), e finalmente a dissolução da Câmara
conservadora (24 de maio).

A construção e o fortalecimento do Estado imperial brasileiro é datada a partir da


experiência de centralização político-burocrática ocorrida a partir do final da década de 1830 e
que se chamou de regresso e que simbolizava a reação conservadora que pôs fim à experiência
federativa descentralizadora.

A luta pela construção do Estado teria três fases: a primeira, batizada de “ação” (1822-
36), seria “[…] luta dos elementos monárquico e democrático”, estendeu-se por todo o Primeiro
Reinado e foi sucedida do “[…] triunfo democrático incontestado”, com a implementação das
diversas reformas, que se tornaram parte da agenda liberal após o sete de abril de 1831, se
contrapunha aos elementos monárquicos, adeptos da centralização do poder na Corte do Rio de
Janeiro. Na segunda fase, “reação” (1836-52), a pressão conservadora conseguiu, de modo
dinâmico, reverter as medidas liberais alcançadas, abrindo o caminho para o “domínio do
princípio monárquico”. Estariam aí lançadas as bases da centralização política, marco
apropriado para estabelecer, a partir de então, o início do processo de construção do Estado
nacional. A síntese entre as duas fases antagônicas daria origem ao terceiro momento, o da
“transação”, caracterizado pelo advento do Gabinete da Conciliação de 1853, que conciliou
entre liberais e conservadores no início da década de 1850. A institucionalização do poder do
imperador com o Poder Moderador restaurado, o governo dos dois partidos em um único
gabinete em um regime de coexistência e de cooperação mútua, tudo isso punha fim às duas
décadas de desordem causadas pelo exagero ora da opressão monárquica, ora da anarquia
democrática.

Para José Murilo de Carvalho o momento de acumulação primitiva de poder pode ser
datado com alguma precisão: ele tem origem no regresso conservador de 1837, quando as
incertezas e turbulências da Regência começaram a dar lugar a um esboço de sistema de
dominação mais sólido, centrado na aliança entre, de um lado, o rei e a alta magistratura, e, de
outro, o grande comércio e a grande propriedade, sobretudo a cafeicultura fluminense.

Para Wilson Martins, o Regresso teria sido "um movimento dialético que supera tanto o
excessivo liberalismo quanto a excessiva antítese conservadora, para criar um regime político
mais conservador do que desejariam os liberais e mais liberal do que os conservadores
gostariam de admitir". Já Ilmar Santos, de outra sorte pondera que esse momento representaria o
verdadeiro “triunfo” dos conservadores, do elemento monárquico pró-centralização, mascarado
de acordo e de consenso, sendo que "os saquaremas já haviam sequestrado a identidade e a
agenda liberal, transformando os liberais em uma paródia do que haviam sido nas décadas
anteriores".

São anos percebidos como confusos, durante os quais se concentrou a maior quantidade
de rebeliões. Era um quadro de instabilidade que jamais teria novamente lugar em nossa
história. Nunca a unidade territorial do país correu tão grande risco. O regime monárquico foi
questionado até no Parlamento da Corte.

Foi, no entanto, nos anos finais do período regencial que se percebeu o início de duas
tendências centrípetas muito claras e concomitantes: a retomada do controle do Rio de Janeiro e
da Corte sobre as províncias, que seriam progressivamente enfraquecidas, política e
financeiramente; e na Corte, o fortalecimento paulatino, porém sistemático, do Poder Executivo,
com a retomada do Poder Moderador, em detrimento do governo parlamentar. Algumas
medidas desse período exemplificam perfeitamente essa tendência: (A) A lei interpretativa ao
Ato Adicional, que esvazia as assembleias provinciais das prerrogativas que haviam sido
conquistadas por elas apenas três anos antes. (B) A reforma do Código de Processo Penal, que
igualmente retoma, no Ministério da Justiça, o controle decisório sobre os mecanismos
judiciários provinciais, contribuindo significativamente para o estabelecimento, por parte do
poder central, do monopólio dos meios de coerção; e (C) O golpe da maioridade, que permitiria
a restauração plena do Poder Moderador, o retorno do Conselho de Estado que havia sido
abolido pelo Ato Adicional de 1834.
Segundo José Murilo de Carvalho a regência falhara em dois pontos: na manutenção da
ordem e na capacidade de arbitragem. A figura do imperador traria a legitimidade necessária no
arbitramento de conflitos intraelites, o que contribuiria decisivamente para a restauração da
ordem.

De acordo com Amado Cervo e Clodoaldo Bueno a Tarifa Alves Branco marcou o
início da fase de “autonomia da política externa brasileira”. Verifica-se, também nesse período
uma maior preocupação por parte do governo com a educação do povo e com a construção de
uma identidade nacional brasileira.

A partir de 1837 fica patente o esforço em prol de uma centralização que inclusive seria
essencial para a retomada de uma política externa mais assertiva a partir do final da década
seguinte, centralização essa que tem 3 engrenagens: administrativa (ampla reforma das
instituições do governo, ainda que desigual, errática e cheia de contramarchas, foi implementada
no Estado durante o regresso), força (essencial para o estabelecimento do “monopólio legítimo
dos meios de coerção”, sem o qual não há Estado) e simbólica (“Para fazer o Brasil, era
necessário fazer também os brasileiros.” Evidentemente um “determinado tipo de brasileiro”.
Afinal, o projeto de construção da identidade nacional era um projeto das elites para as elites e
contribuiu, em conjunto com as demais engrenagens, para evitar novas rebeliões ancoradas em
sentimentos regionais, bem como para consolidar D. Pedro II como o árbitro natural dos
conflitos intraelites)

3.4 A POLÍTICA EXTERNA DO PERÍODO REGENCIAL

O "imobilismo" da política externa brasileira decorria de limitações sistêmicas, oriundas


das finanças combalidas pelos tratados desiguais com a Inglaterra, que limitavam a arrecadação
e praticamente impediam superávits comerciais, devido a não reciprocidade para os produtos
nacionais na Europa e na Inglaterra em particular, bem como das "heranças malditas" do
primeiro reinado. Desse modo, na relação com as grandes potências europeias, predominou a
manutenção de uma submissão indesejável, criticada diretamente pelo Parlamento, que via
como nefasto o sistema de tratados desiguais.

Na França, o regime de Luís Felipe, chegado ao poder em 1830, adotou uma postura
expansionista na Amazônia e fortificou o lago Amapá, aproveitou-se do quadro instável que se
vivia com a Cabanagem, usando como desculpa a proteção de seus nacionais contra a guerra
paraense. De modo oportunista tentava fazer valer a posição de força contra a letra do Tratado
de Utrecht e da Convenção de Viena, que havia devolvido a Guiana Francesa depois de oito
anos de ocupação portuguesa no período joanino. O governo da regência habilmente vai recorrer
a Londres, buscando cavar alguma autonomia na rivalidade imperialista entre as potências.
Funcionou, e a solicitação inglesa, junto à demonstração de força da corveta Race na região,
forçou o recuo do governo francês, que desocupou o território, declarado a partir de então zona
neutra. Também os ingleses abusavam de nosso momento de fragilidade, o explorador alemão
naturalizado inglês Robert Hermann Schomburgk fez duas expedições à Guiana Inglesa (1835;
1837-8). Depois, passou a defender uma Schomburgk Line que incorporaria à Guiana Inglesa
territórios até a Serra do Acari, muito mais ao sul que as fronteiras até então desguarnecidas do
Pirara e reduzidas do Forte de São Joaquim em virtude da Cabanagem. O oportunismo do
alemão era açucarado com cobertura humanitária. Esse explorador conseguiria o apoio da
opinião pública inglesa na defesa dos índios escravizados pelos paraenses, bem como o envio de
missionários anglicanos ao Pirara.

Os liberais mais radicais já haviam pleiteado pela nacionalização absoluta da Igreja do


Brasil quando dos debates constituintes em 1823. Feijó, bastardo e celibatário, considerava-o o
fim do celibato clerical necessário para legalizar a paternidade de filhos bastardos dos padres.
Seria simplesmente legalizar o que já era prática corrente. Naturalmente haverá grande objeção
da Santa Sé com a nomeação de Moura como bispo do Rio de Janeiro, como insistiu Feijó103.
O Regente alegou intervenção estrangeira indevida contra a honra nacional e resgatou os
debates sobre autonomia do clero brasileiro que vinham de 1823. Feijó quase rompe
definitivamente com Roma. A controvérsia só seria sanada, já no Segundo Reinado, com a
desistência, algo estimulada pelo Regresso, do padre Moura, que favoreceu a normalização das
relações com a Santa Sé.

No plano do eixo simétrico, percebe-se o enfraquecimento da posição brasileira no


Prata. Era difícil exercer influência tendo sido limitado o alcance militar das forças armadas em
um quadro de enfraquecimento institucional. Os crescentes custos políticos, sociais e
financeiros para aplacar as rebeliões agravavam o quadro. Com a separação da mais militarizada
das províncias, estância da cavalaria brasileira e foco de formidável de resistência, complica se
ainda mais o quadro. É impossível entender a política externa do Império no Prata sem entender
as relações internacionais complexas no Prata na época da Farroupilha. Se, após a Guerra da
Cisplatina, as tropas brasileiras perdem o acesso ao Prata, com a Farroupilha sete anos depois o
problema muda de latitude e se aproxima da Corte que passa a ter que manter tropas em Santa
Catarina e no litoral do Rio Grande do Sul.

Na época da regência Juan Manuel Rosas conseguira se consolidar em Buenos Aires


com o apoio de caudilhos importantes nas províncias. Delegaram a ele a exclusividade na
condução da política externa da Confederação. No Uruguai, Rosas contava com o apoio de
Manuel Oribe, segundo presidente uruguaio que havia desentendido com seu antecessor e antigo
protetor, Fructuoso Rivera. Inspirado nos ideais federativos de Rosas e chefe do Partido Federal
argentino, Oribe, apoiado por Lavalleja, tinha criado o Partido Nacional uruguaio, e a retórica
federalista de todos eles os manteve próximos aos farroupilhas até 1838. O que os diferenciava
era apenas a cor. Vermelho para os federales argentinos, vermelho para os farroupilhas (que
mantinham também o verde/amarelo da bandeira imperial, mas, como era impossível encontrar
e produzir tantas cores na época, o vermelho se generalizou) e branco para o Partido Nacional
de Oribe, que até hoje são chamados de blancos. Os colorados uruguaios de Rivera eram aliados
naturais dos unitários argentinos que uusavam o azul.

 Quais eram as principais lideranças políticas nos países vizinhos? (pag. 158)
 IMPORTANTE: nesse trecho, a explicação fica um pouco confusa (esse período é,
realmente, confuso). Por isso, sugerimos que o candidato leia o capítulo 1 do livro
História das Relações Internacionais do Brasil, de Francisco Doratioto e Carlos
Eduardo Vidigal.
 O que significou a aproximação do Império aos Farroupilhas? Além disso, o que
representou para d. Pedro II a mudança de posição de Rosas em relação à aliança
com o Brasil? (pag. 160)
 Qual foi o legado geral da regência? (pags. 161 a 162)
 O que significou a racionalização do processo decisório em política externa? (pag. 167 a
171)

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