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Presidente
Luiz Henrique Proença Soares
Diretoria
Alexandre de Ávila Gomide
Anna Maria T. Medeiros Peliano
Cinara Maria Fonseca de Lima
João Alberto De Negri
Marcelo Piancastelli de Siqueira
Paulo Mansur Levy
Chefe de Gabinete
Persio Marco Antonio Davison
Assessor-Chefe de Comunicação
Murilo Lôbo
URL: http://www.ipea.gov.br
Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
Paulo Tafner
Fabio Giambiagi ORGANIZADORES
É com grande prazer que o Ipea presenteia o público com o livro Previdência no
Brasil: debates, dilemas e escolhas, uma coletânea de artigos de pesquisadores da
casa e de outras instituições. O livro oferece diversas dimensões da vida econômica
e social que afetam ou são afetadas pelo sistema previdenciário brasileiro. A proposta é,
basicamente, refletir sobre os temas atuais que coabitam com a questão da previdência
social e, a partir daí, propor políticas futuras para mudanças e aprimoramentos.
Ao longo dos últimos anos, em muitos países desenvolvidos, houve necessidade
de reformas dos sistemas previdenciários. O alargamento do papel do Estado no
pós-guerra trouxe, entre tantas ações promovidas pelo welfare state, a expansão
dos benefícios previdenciários. No entanto, o desenho inicial desses sistemas não
mais acompanhou as diversas mudanças ocorridas nas sociedades, implicando seu
colapso com crescentes despesas e, em alguns casos, elevados déficits. Mas isso
não foi privilégio dos países ricos. Mesmo países em desenvolvimento, com popu-
lação jovem, também passaram a apresentar sintomas de estresse fiscal, exigindo
que reformas fossem realizadas.
Entre vários fatores que contribuíram para esse colapso, destacam-se as pro-
fundas mudanças demográficas e no mercado de trabalho, com destaque para a
crescente inserção da força de trabalho feminina, o novo padrão de emprego e,
para economias menos desenvolvidas como a brasileira, o padrão da informalidade.
Essas mudanças foram decisivas para a sustentabilidade dos sistemas previdenciários
e formaram as forças motrizes das reformas. A participação da população idosa no
total da população cresceu ininterruptamente, atingindo patamares próximos de
20%, com evidentes impactos financeiros. Mesmo com prosperidade econômica, as
receitas passaram a não cobrir mais os gastos com benefícios, exigindo parcelas
crescentes dos orçamentos públicos. A política de bem-estar foi colocada em xeque
e ajustes tornaram-se necessários.
A busca por soluções tornou-se premente e novos desenhos institucionais
foram experimentados. Alguns países optaram por ajustes nos parâmetros dos
sistemas, podendo ser mais ou menos severos, enquanto outros elegeram mudanças
estruturais. Há bons argumentos para as duas opções, cabendo a cada país moldar
Paulo Tafner
Fabio Giambiagi
Organizadores
INTRODUÇÃO 11
Paulo Tafner e Fabio Giambiagi
PARTE 1
O CONTEXTO DO DEBATE SOBRE A PREVIDÊNCIA SOCIAL
CAPÍTULO 1
SEGURIDADE E PREVIDÊNCIA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS 29
Paulo Tafner
CAPÍTULO 2
SISTEMAS PREVIDENCIÁRIOS NO
MUNDO: SEM “ALMOÇO GRÁTIS” 65
Sergio Guimarães Ferreira
CAPÍTULO 3
DINÂMICA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E
IMPLICAÇÕES PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL 95
Ana Amélia Camarano e Solange Kanso
PARTE 2
DISCUTINDO REGIMES E REFORMAS PREVIDENCIÁRIAS
CAPÍTULO 4
SISTEMAS DE PREVIDÊNCIA EM PAÍSES
INDUSTRIALIZADOS: A CRISE E SUAS SOLUÇÕES 141
Sergio Guimarães Ferreira
CAPÍTULO 5
REFORMA DA PREVIDÊNCIA NOS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO: O ETERNO RETORNO 185
Milko Matijascic
PARTE 3
ELEMENTOS QUE JUSTIFICAM A NECESSIDADE DE REFORMA DO SISTEMA
PREVIDENCIÁRIO NO BRASIL
CAPÍTULO 6
DESEQUILÍBRIOS: CAUSAS E SOLUÇÕES 219
José Cechin e Andrei Domingues Cechin
CAPÍTULO 7
LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL:
INCENTIVANDO A INFORMALIDADE 263
José Márcio Camargo e Maurício Cortez Reis
Paulo Tafner*
Fabio Giambiagi**
6. Para maiores detalhes, ver Barea (1995), Fernández Cordón (1996), Herce et al. (1996) e Piñera e Weisntein (1996).
11. Ver, a respeito, Stallings (1994), Lo Vuollo (1996) e World Bank (1994).
12. A idéia de um seguro contra a depreciação permanente do capital humano é anterior ao modelo alemão e remete às sociedades de
assistência mútua organizadas por guildas na própria Alemanha, antes de Bismarck. Também na França napoleônica bancos forneciam
seguro contra invalidez subsidiado pelo Estado. O que distinguia o caso alemão pós-Bismarck de mecanismos de proteção predecessores
era sua natureza compulsória e contributiva, estruturada sob a forma de sistema gerenciado e suportado pelo Estado.
Por suas características, a organização desses sistemas foi, desde seu início,
na Alemanha, em 1889, a partir de iniciativa do chanceler Otto von Bismarck,13
fundada sob a forma e a técnica de seguros, baseada em contribuições compulsórias
de trabalhadores (segurados) e de patrões. Os segurados que porventura fossem
atingidos pelos infortúnios do destino ou que perdessem sua capacidade laboral
por velhice (na Alemanha, a partir de 70 anos de idade) passavam a usufruir de
benefícios – normalmente reposição de uma fração de sua renda quando em ativi-
dade – em dinheiro, razão pela qual, nessas situações, passavam a ser chamados de
beneficiários.14
Ao fundar um sistema de seguro social sob controle, gerenciamento e operação
do Estado e estruturado com base em contribuições de trabalhadores e de seus
patrões, o Estado moderno trouxe para si o risco implícito associado a esse sistema.
Entenda-se risco implícito aquele associado ao desequilíbrio entre o montante
esperado de contribuições e o montante esperado de pagamentos (benefícios).
Esses riscos decorrem de alteração das variáveis que em geral não estão sob controle
dos sistemas de previdência e muitas vezes não estão sequer sob controle direto do
Estado. A mais evidente dessas variáveis é a mudança da estrutura demográfica,
mas existem outras, como as condições macroeconômicas e, em especial, aquelas
ligadas ao mercado de trabalho. O primeiro tipo de desequilíbrio – o demográfico –
tem sido, em geral, a mola propulsora das reformas dos países desenvolvidos, mas
não apenas deles.
Outra característica dos modelos de previdência que foram estabelecidos na
maioria dos países ao longo de todo o século XX é que foram estruturados num
sistema de repartição,15 o que implica que ele funciona como mecanismo de trans-
ferência e redistribuição de renda, com inexoráveis conflitos distributivos de duas
naturezas distintas: a) conflitos distributivos intrageracionais, ou seja, que existem
entre indivíduos de uma mesma geração, por exemplo, entre homens e mulheres,
pobres e ricos, entre indivíduos mais e menos escolarizados, entre pessoas saudáveis
e pessoas doentes, pessoas que trabalham e pessoas que não trabalham, pessoas
que poupam e pessoas que não poupam etc.; e b) conflitos distributivos
intergeracionais, aqueles entre jovens e velhos que disputam entre si os recursos e
os custos de transferências. Mais modernamente, aliás, tem sido reconhecido – e
13. Essa é a lógica que regeu a consolidação do seguro social implementada pelo chanceler Bismarck na Alemanha a partir de 1883 e
que deu origem a praticamente todos os planos de previdência do mundo até nossos dias.
14. Sistema alternativo financiado por impostos gerais destinados a garantir renda mínima vitalícia para idosos pobres foi instituído na
Dinamarca (1891), na Nova Zelândia (1898), na Austrália (1908) e na Inglaterra (1908).
15. Ver detalhes no capítulo 2. Em síntese, modelos de repartição envolvem redistribuições entre gerações, em favor das gerações mais
velhas, pela dissociação em termos de valor presente entre financiamento e benefício.
16. Ver, por exemplo, Rangel e Zeckhauser (2001), Bohn (2001) e Campbell et al. (2001).
17. Ver, a respeito, Myles (2002).
18. A terceira das três particularidades de nosso sistema tem certamente ensejado os mais acalorados debates. Ver, a respeito, entre
outros, Giambiagi et al. (2004), Giambiagi e Além (1997), Cechin (2005), Matijascic (2006), Zylberstajn, Souza e Afonso (2006), Tafner
(2006), Oliveira, Beltrão e Ferreira (1997), Oliveira, Beltrão e David (1999).
19. Ao incorporar elementos típicos de assistência social, a previdência brasileira engessa sua estrutura e limita as possibilidades de
ajustamento como resposta às alterações das variáveis que determinam a sustentabilidade do sistema que, como dito, são determinadas,
em sua grande maioria, fora dele.
Porque nos recusamos a aceitar que os ganhos civilizatórios obtidos pela sociedade
brasileira e expressos pela crescente esperança de vida de nosso povo não podem
ser privadamente incorporados pelos mais velhos, com custos exagerados sobre as
gerações mais novas, com evidentes impactos sobre a distribuição etária da pobreza.
Porque nos recusamos a remover privilégios inaceitáveis de certos grupos sociais,
a pretexto de zelar por direitos justificáveis. Porque construímos e preservamos
uma estrutura de incentivos que penaliza o contribuinte da previdência que, afinal,
poupa com esforço ao longo de toda uma vida de trabalho árduo, instável e de
baixa remuneração. Porque, por outro lado e finalmente, teimamos em conceder
benefícios elevados, muitas vezes generosos e freqüentemente sem cobertura de
receitas correspondentes.
O presente trabalho, que compila os esforços analíticos de pesquisadores do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e de outras instituições, analisa
cada uma das principais variáveis determinantes do desempenho do sistema
previdenciário brasileiro, trazendo ao leitor reflexões teóricas sobre a questão, a
análise e o histórico do sistema brasileiro de seguridade e previdência e, também,
informações comparativas da experiência internacional.
Inicialmente é necessário que o leitor tenha em mente que o equilíbrio de
sistemas previdenciários está diretamente associado:
z às condições macroeconômicas, como crescimento do produto e da pro-
dutividade e taxa de juros real de longo prazo;
z às condições e evolução do mercado de trabalho, como o nível e a compo-
sição do emprego;
à dinâmica demográfica, esta em grande medida determinada pelas condições
z
de saneamento, de higiene, de saúde e de hábitos da população; e
z aos critérios de contribuição e de elegibilidade – os denominados parâmetros
técnicos do sistema como alíquotas de contribuição,20 idade de aposentadoria, tempo
de contribuição etc.
Essas variáveis – que são em maior ou em menor grau reguladas e afetadas
por instituições, regras e regulamentos – estão em constante mudança, e em cada
país em estágios diferentes, fazendo com que os efeitos não sejam iguais em todo
lugar. Por isso, produzem efeitos dessemelhantes sobre os respectivos sistemas e
determinam diferentes graus de premência de reformas: em alguns casos há tempo
20. Obviamente, o efeito pode ser inverso ao esperado. Se as alíquotas são muito elevadas, como no caso brasileiro, por exemplo, podem
atuar como incentivo ao desemprego e à informalidade, reduzindo o volume de arrecadação do sistema.
21. Ver, por exemplo, o livro de Gruber e Wise (1999) e todos os capítulos de estudos de casos de países.
lhadores mais jovens e com pouca escolaridade, evidenciando, mais uma vez, que
as instituições determinam em grande medida a ação dos indivíduos e, no caso
dos sistemas previdenciários, podem ser determinantes de seu desempenho.
O capítulo 8 é voltado aos aspectos ligados ao mercado de trabalho, e em
linha com o capítulo anterior seu desempenho recente é analisado, com ênfase na
informalidade e nos impactos que instituições do mercado de trabalho podem
exercer sobre o sistema de previdência. Em complemento, é analisada a crescente
participação feminina na atividade econômica e também avaliado seu impacto
sobre o sistema previdenciário. Em linha com muitos trabalhos, procura mostrar
como instituições afetam o comportamento dos agentes, no caso com evidentes
impactos na previdência brasileira.
O capítulo 9 discute o financiamento da previdência brasileira. Apresenta a
evolução das receitas e despesas e destaca o crescente desajuste entre ambas, o que
vem exigindo aportes crescentes de recursos do Tesouro. Na discussão que faz
sobre as receitas, avalia a adequação das mesmas tendo em vista sua capacidade de
gerar os recursos necessários ao financiamento e seus efeitos econômicos. Ainda
nesse capítulo, traça-se um panorama analítico das principais propostas de mu-
dança no financiamento da previdência já apresentadas, destacando, em cada caso,
suas vantagens e desvantagens.
Os capítulos 10 e 11 tratam de um mesmo tema, com enfoques que se
complementam. O capítulo 10, utilizando modelos semiparamétricos, estima as
funções de densidades contrafactuais de diversos atributos e corrobora a tese de
que a previdência, de fato, reduz a pobreza no Brasil, ainda que esse efeito não seja
homogêneo por gênero, nem por idade. Esse resultado, se de um lado deixa claro
que a previdência atua no sentido de redução da pobreza, de outro levanta sérias
questões sobre o uso desse instrumento, dada sua reduzida potência.
O capítulo 11 faz uma ampla comparação das regras de concessão do bene-
fício de pensão por morte e mostra que nosso sistema é especialmente generoso.
De fato, comparado a duas dezenas de países de diversos continentes com variados
graus de desenvolvimento, constata-se que o Brasil é o que possui condições de
acesso menos restritivas ao benefício de pensão por morte: não exige idade mínima
de acesso do cônjuge, não tem carência contributiva, permite o acúmulo de bene-
fícios e renda de trabalho, não exige período mínimo de coabitação, nem casa-
mento. Concede 100% do valor segurado (aposentadoria ou renda do trabalho) e
não prevê extinção do benefício, exceto com a morte da(o) viúva(o). Para cada
país analisado, simula-se a aplicação de suas regras para a realidade brasileira. Os
resultados são inequívocos: para todos os casos, haveria redução do volume de
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Paulo Tafner**
1 INTRODUÇÃO
Na primeira seção do presente capítulo, faremos uma breve discussão da impor-
tância do aparato institucional que regula os sistemas de seguridade e previdência,
dando ênfase ao papel fundamental que as regras formais assumiram na confor-
mação dos programas de previdência. Destacamos que essas regras legalmente
constituídas, aqui tratadas como o aparato institucional, acabam por definir e
moldar o comportamento dos indivíduos na busca por maximização de renda.
Na segunda seção, apresentaremos de maneira ligeiramente mais formal os
conceitos fundamentais de seguridade social, em especial aqueles ligados à previ-
dência. Nesse tópico vamos destacar o papel de cada um dos elementos que compõem
a previdência social no Brasil e sua relação com o que será visto nos demais capítulos
do presente estudo.
A terceira seção apresentará de forma resumida as razões para a intervenção
do Estado na questão de seguridade e, mais especificamente, na previdência. Pro-
curamos destacar dois aspectos que julgamos relevantes: a) apesar de, em vários
países, o sistema de previdência ter nascido sob o comando do Estado e ter se
tornado a forma dominante durante o século XX – ainda que desde a década de
1990 essa tendência tenha se revertido –, essa não é a única forma teoricamente
possível, ainda que empiricamente seja predominante; e b) argumentos teóricos
para o papel proeminente do Estado em questões de previdência não são consensuais,
nem tampouco é trivial deduzir essa proeminência empiricamente observada.
* Agradeço a Marcos Eugênio da Silva, José Cláudio Ferreira da Silva, Carolina Botelho e Márcia Marques Carvalho pelos comentários e
sugestões. Quaisquer erros e omissões neste trabalho são de minha inteira responsabilidade.
1. De forma bastante resumida e à semelhança do estabelecido para o Código Tributário Nacional (CTN), podemos dizer que o sistema
de seguridade é regulado primeiramente, por ordem de importância, pela Constituição Federal, pelas Emendas Constitucionais (EC) que
alteraram a Constituição, por Leis Complementares, Ordinárias e Delegadas e, em segundo lugar, por Atos Normativos, Portarias e
Decisões Administrativas.
2. Certamente uma tradição mais permeável a manifestações não formais do direito e na qual usos e costumes definem um ramo
legítimo do direito.
GRÁFICO 1
Estados Unidos: porcentagem de ocorrência de aposentadoria entre empregados,
segundo idades – 1960 e 1980
20,0
18,3
18,0 16,8
16,0
13,2
14,0
12,0
9,6
10,0
8,1
8,0
5,7 5,9 4,9 6,2
6,0 4,6 3,4 4,7
3,6 2,8 3,3 3,0
4,0
1,1 1,2 1,6 1,7 1,3 2,5 2,1 1,2 2,5 2,6 2,8 2,2 2,7
2,0 0,8
0,1 0,1
0,0
55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
Idade
Fonte: Burtless e Moffitt (1984). 1960 1980
3. Ver a respeito, entre outros, Gruber e Wise (1999), Gillion et al. (2000), Feldstein (1974), OECD (2000), Mesa (2005) e World Bank
(1994; 1995; 2001).
4. Efeito semelhante pode ser encontrado para o Canadá (GRUBER; HANRATTY, 1995). Ver também o caso da Bélgica em Pestieau e Stijns
(1999).
(...) Men have been spending far less of their lives in employment. Men used to work for most of their
life; if existing trends continue, men will soon be spending substantially more of their lives in activities
other than work–specially in growing periods of retirement. Men are retiring earlier and living longer
once retired. Women are also retiring earlier and living longer once retired.
5. Diversos ajustes do sistema norte-americano foram implementados de maneira diluída no tempo. Isso facilita o processo legislativo de
aprovação de reformas.
TABELA 1
Diversos países da OCDE: expectativa de vida aos 65 anos e número de anos em atividade
econômica – população do sexo masculino – 1960 a 2010
População masculina
1960 1970 1980 1990 1997 1970 1980 1990 2000 2010
Canadá 13,8 14,1 14,8 15,4 16,0 44,0 42,8 40,4 38,5 37,6
Finlândia 11,6 11,7 12,1 13,8 15,0 47,2 40,1 38,6 34,2 34,2
Alemanha 12,0 11,9 13,1 14,6 15,1 48,2 40,7 38,1 36,1 35,9
Itália 12,8 13,1 14,2 15,1 15,4 39,8 38,8 37,2 33,6 32,8
Japão 12,1 12,5 14,7 16,2 17,1 49,9 47,6 47,2 46,8 46,7
Holanda 13,6 13,7 14,3 14,6 14,9 42,6 38,4 38,1 39,9 42,1
Suécia 13,9 14,1 14,1 15,3 16,3 47,2 44,2 44,1 37,6 37,4
Reino Unido 11,9 12,1 13,1 14,2 14,8 41,9 41,0 40,7 39,1 38,7
Estados Unidos 12,6 12,8 14,5 15,2 16,2 44,3 42,2 42,0 41,6 41,1
Fonte: OECD (2000).
11. Embora tenha ampliado o contingente de beneficiários, o conceito de seguridade tal como definido na Constituição de 1988 apenas
abrigou atividades que já eram atendidas pela previdência social na estrutura anterior. Outras atividades que poderiam ser consideradas
relevantes, como educação, habitação e saneamento, foram excluídas dessa definição e receberam outro tratamento, inclusive quanto a
seu custeio.
d) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), 80% para a seguridade social.
Em todos esses casos, os percentuais indicados referem-se aos valores devidos após aplicação da Desvinculação de Receitas da União
(DRU). Ver quadro anexo ao final do capítulo.
13. Mas também incluídas entre as contribuições para a seguridade encontram-se as contribuições previdenciárias dos servidores públicos e
dos trabalhadores inscritos no Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Nesse caso, os recursos são 100% destinados ao financiamento
de aposentadorias e pensões de, respectivamente, servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada.
(...) o Regime Geral da Previdência Social (RGPS), até então restrito aos trabalhadores urbanos, foi
estendido para todos os trabalhadores formais, sendo estabelecido o salário mínimo como piso para
todos os benefícios de duração continuada. Para os indivíduos com mais de 65 anos, foi mantida a
antiga renda vitalícia a todos os que possam comprovar contribuições temporárias para a Previdência.
Aos trabalhadores rurais informais foi garantido um regime especial de previdência, elevando-se de
meio para um salário mínimo o piso para as aposentadorias e pensões; além disso, houve uma recom-
posição no valor dos benefícios, para corrigir as distorções anteriores (...).
15. Ver, entre outros, Delgado e Cardoso Jr. (2000), Delgado (2005) e Lavinas (2006). Uma terceira vertente procura associar a redução
de desigualdade com ganhos de crescimento econômico. Silva e Pires (2006, p. 19) afirmam: “Em que medida essa expansão (dos
gastos) é maléfica ao crescimento econômico? Imaginamos que a resposta a essa pergunta não é tão simples como propalado entre
esses especialistas, porém alguns insights podem ser obtidos. Por exemplo: existem evidências empíricas que relacionam menor desigual-
dade de renda a maior taxa de crescimento econômico”. Obviamente que também, nesse caso, a pergunta é: existe alguma ferramenta
que permita o mesmo ganho em termos de distribuição de renda a um custo menor? E a resposta é sim, existe. Ver, por exemplo, o
capítulo 11 deste livro.
16. Ver, entre outros, Delgado e Cardoso Jr. (2000), Delgado (2005), Barros e Carvalho (2005), Barros, Henriques e Mendonça (2000),
Matijascic (2006) e o capítulo 10 do presente livro.
GRÁFICO 2
Pobreza familiar antes e depois do pagamento de aposentadorias e pensões
e simulação da focalização entre os mais pobres
(Em %)
60
50,4 50,1
50
42,9 42,1 41,4 43,0 42,7 43,5 43,6
41,0 41,1 41,5
40 35,8 33,0
34,1 32,7 32,6 32,0 33,0 32,5 32,5 31,7
30 25,0 24,4 23,9 22,4 22,7 21,8 21,1 19,7
20
10
0
1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003
17. A menos que se formule uma hipótese muito especial de que os idosos do sistema previdenciário brasileiro são idosos que não
procriaram.
GRÁFICO 3
Taxa de incidência de pobreza, segundo grupos etários de diversos países da OCDE
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
)
4)
7)
5)
3)
5)
5)
4)
5)
4)
4)
3)
4)
5)
94
94
95
99
99
99
99
99
99
99
99
99
99
99
99
99
19
19
19
(1
(1
(1
(1
(1
(1
(1
(1
(1
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Fin
ino
Al
Di
Re
Fonte: OECD (2000). Elaborado pelo autor. Menos de 18 anos 65 anos e +
idosos (pessoas com 65 anos e mais). Em apenas quatro deles (25% da amostra) a
incidência de pobreza entre crianças e jovens é maior do que entre idosos: Canadá,
Hungria, Itália e Reino Unido. Nesse grupo, aliás, com exceção do Reino Unido,
os países passaram por reformas visando reduzir o déficit preocupante de seus
sistemas de previdência. Os demais 11 países apresentam taxas de pobreza entre
idosos que são pelo menos o dobro das encontradas entre crianças e jovens.
O Brasil assemelha-se ao último grupo, porém de forma mais acentuada.
Como pode ser visto no gráfico 4, a incidência de pobreza entre crianças e jovens
(até 18 anos) é mais de três vezes maior do que a entre idosos (pessoas com 65
anos e mais). Isso implica que o compartilhamento de renda entre gerações está
muito aquém daquele imaginado pelos defensores dessa idéia. Em realidade, mais
parece haver uma competição entre gerações pelos recursos disponíveis do que
solidariedade entre elas.
GRÁFICO 4
Brasil: incidência de pobreza por idade – 2004
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
e+
2
12
22
32
42
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62
72
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54
64
74
8
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28
38
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58
68
78
6
16
26
36
46
56
66
76
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10
20
30
40
50
60
70
80
18. Ver, por exemplo, Barros e Carvalho (2005) e Barros, Henriques e Mendonça (2000).
(...) tecnicamente em um “seguro puro”, o valor presente esperado das contribuições iguala o valor
presente esperado dos benefícios para cada participante. No outro extremo da escala, encontra-se a
assistência social, onde a contribuição e o benefício são absolutamente desvinculados. O que caracte-
riza o Seguro Social é que, não deixando de ser um seguro, não o é de forma estrita ou pura, sendo
admissível algum grau de redistributividade (grifo nosso).
19. Mesmo nesse caso, pode haver alguma transferência, caso o beneficiário sobreviva mais do que a média esperada de sobrevida para
a idade em que começou a receber o benefício.
20. A única exceção é o caso extremo em que a invalidez ou a morte ocorra precisamente no último dia de toda uma vida de contribuição
ao plano.
GRÁFICO 5
Teto dos regimes de previdência, expresso em termos de decis de renda: diversos países
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
)
5)
9)
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94
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99
99
99
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99
99
19
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GRÁFICO 6
Participação percentual da força de trabalho em sistemas de previdência com regime
de capitalização: diversos países
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
França Austrália Suécia Holanda Reino Dinamarca Japão Estados Alemanha Canadá Itália Brasil
Unido Unidos
21. Chamamos a atenção para o fato de que não há correspondência exata de países entre os dois gráficos, pois não conseguimos obter
dados para todos. Do total de 17 países listados no primeiro gráfico, 12 estão presentes no segundo.
(ao Estado...) no papel de executor das políticas, cabe questionar a sua racionalidade. Em primeiro
lugar, ao participar da execução, o Estado perde, até certo ponto, a condição de árbitro imparcial. À
exceção de alguns serviços de excelência, que podem servir como centros de referência tecnológica e
onde as considerações de custo são, até certo ponto, secundárias, a atuação do Estado como executor
na Seguridade Social pode e deve ser severamente questionada em termos de eficiência econômica.
(...) em suma, é muito difícil imaginar que diante do envelhecimento demográfico a privatização reduzirá
significativamente a vulnerabilidade do pacote total de aposentadoria, qualquer que seja a constituição
de tal pacote. A privatização somente fará isso se a sociedade estiver disposta a aceitar mais pobreza
na velhice e/ou do bem-estar durante a aposentadoria (p. 22).
Trata-se de uma questão que tem suscitado acalorado debate, pois, como men-
cionado na introdução deste livro, diversos países, sobretudo os latino-americanos,
empreenderam reformas privatizantes de seus sistemas previdenciários durante a
década de 1990.22 Essa é, sem dúvida, uma questão fundamental. Não apenas
porque delimita duas vertentes de estruturação de sistemas de previdência, mas,
sobretudo, porque divide os analistas em grupos antagônicos. Não oferecemos
uma resposta a essa pergunta aqui, mas, dada sua importância, a seção subseqüente
é inteiramente dedicada a ela.
O segundo ponto, que de certa maneira está conectado ao anterior, diz res-
peito à estrutura de custeio do sistema de previdência. Há duas tradicionais opções
de custeio dos regimes de previdência: o regime de capitalização (tratado na litera-
tura internacional como funded), em que as contribuições feitas pelos segurados
são identificadas individualmente e aplicadas em fundos capitalizados ao longo
do tempo, constituindo-se em reservas para o futuro pagamento de benefícios; e o
regime de repartição (tratado na literatura como unfunded ou pay-as-you-go), no
qual os recursos correntes financiam as despesas correntes, de modo que não há
constituição de fundos prévios para a cobertura de benefícios.23 Esse regime de
22. Ver, entre outros, Mesa-Lago (1994; 1998), Muller (2000), Brooks (1998), Huber e Stephens (2000), Lo Vuolo (1996), Orzag e Stiglitz
(2001), Crabbe e Giral (2005), James (2002), Gill, Packard e Yermo (2005) e Queisser (2001).
23. Mais recentemente, Suécia e Itália implementaram uma modalidade que combina sistema de repartição com contas individuais que
são capitalizadas contabilmente através de indexadores de preços, demográficos ou macroeconômicos. São as chamadas notional defined
accounts. Nesses planos, as contribuições – realizadas pelos empregados e empregadores – são acumuladas e capitalizadas contabilmente,
gerando um “fundo” que garante equilíbrio atuarial num regime de repartição para todos os novos ingressantes.
24. Em El Salvador, foi mantido um pequeno sistema público que permaneceu apenas com alguns trabalhadores, segundo critério de
idade (ver MESA-LAGO; MULLER, 2003).
25. No entanto, Suíça, Canadá e Bélgica, por exemplo, têm sistemas de capitalização com benefício definido, e Suécia e Itália têm
sistemas de repartição com contribuição definida. Os Estados Unidos apresentam um sistema de capitalização nocional – que, sendo de
repartição, simula um sistema de capitalização – com benefício definido.
26. Ver, entre outros, Rangel e Zeckhauser (2001), Meltzer e Richard (1981), Browning (1975), Mulligan e Sala-i-Martin (1999a; 1999b;
2003) e Mulligan, Gil e Sala-i-Martin (2002).
TABELA 2
Simulação de contribuições e benefícios de um regime de repartição
(Em $)
Ano 1 2 3 4 5
Observe-se que o grupo A não terá contribuído, mas terá recebido uma trans-
ferência líquida de $248; a geração seguinte – grupo B – terá contribuído com
$165 e receberá $272, com uma transferência líquida de $107 das gerações mais
novas. O processo continua com transferências líquidas das gerações mais novas
para as mais velhas.
Como indicado por Browning (1975, p. 375),
(...) the “ideal” system from the viewpoint of any individual is a zero tax rate during his working years
and a very high tax rate after he is retired. More generally, an individual will increasingly favor an
increase in the tax rate as he becomes older since he must then pay higher taxes for a shorter number
of years before receiving the higher transfer that this rate accomplishes.
27. Em 1948 é apresentada a Convenção 102 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), definindo seguridade como um amplo
programa de proteção social.
28. Ver, a respeito, Rezende (2001), SPE (2003), Barros, Henriques e Mendonça (2000) e Ferreira e Litchfield (2000), entre outros.
29. A Lei Eloy Chaves foi criada no começo do século XX (1923) e o seguro-desemprego bem mais tarde, através do Decreto-Lei 2.283,
de 27 de fevereiro de 1986.
Different societies have different ideas about the tasks that the State should be responsible for, and
those ideas can change with time. The fact that a particular task is important for public welfare, in
other words that is a ‘public’ responsibility, does not mean that it has to be carried out or even
regulated by the State. Supplying food and clothing would be an example. On the other hand, a
constitutional State may carry out only public responsibilities; anything else would have to be seen as
interfering with the freedom of the individual.
De pronto, devemos chamar a atenção para o fato de que sejam quais forem
as respostas e explicações que teorias possam dar a essa questão, do ponto de vista
TABELA 3
Gastos com seguridade social e bem-estar: diversos países – média de 1978-1982
31. O Uruguai era um caso extremo, e a reforma de seu sistema em 1995 representou a derrota definitiva do lobby “grisalho” que
conseguira impedir mudanças em duas outras tentativas (fracassadas) de mudança do sistema.
As teorias que explicam por que governos devem intervir partem da hipótese
de que os agentes têm alguma deficiência (de informação, de capacidade de decisão
etc.), cabendo então aos governos intercederem de modo a corrigir essa deficiência.
Em síntese, entendem que os indivíduos quando jovens não têm noção exata da
precariedade da vida e da saúde e não têm capacidade de fazer cálculos
intertemporais porque são míopes com relação ao próprio tempo. Em decorrência
disso, quando jovens não poupam o suficiente para enfrentar o desemprego, a
velhice, a doença e a invalidez. Uma versão mais amena sugere que os indivíduos
simplesmente não têm informações relevantes sobre esse processo ou, se têm, diz
outra vertente, não são capazes de realizar cálculos complexos sobre poupanças de
longo prazo (ver FELDSTEIN, 1974; BARRO, 1974; OLIVEIRA, 1982; 1992).
Oliveira (1992, p. 7-8) assim explica a razão da interferência do Estado de-
terminando a compulsoriedade do sistema:
A decisão de quanto poupar, quando poupar e como investir esta poupança de modo a garantir um
fluxo de rendas suficiente durante o período de inatividade é, certamente, muito complexa. O indivíduo
deveria ter disponível um conjunto de informações extremamente amplo e preciso sobre seus futuros
riscos: períodos, natureza e custos de tratamento de doenças que venham a acometer a si e a seus
dependentes, probabilidades quanto ao desemprego, morte, invalidez, expectativa de vida (do segurado
e de seus dependentes) etc. Do lado do investimento, seriam necessárias informações razoavelmente
precisas quanto ao leque de possibilidades disponíveis, custos de oportunidade etc. Mesmo que, em
uma hipótese absurda, estas informações fossem disponíveis, a análise das mesmas seria tarefa árdua
para uma equipe de atuários e de analistas de investimento, especificamente em um país sujeito a
grandes “turbulências” no campo econômico como o Brasil. Para a população como um todo, a tarefa
seria simplesmente impossível.
são tomadas diariamente pelos indivíduos sem que eles tenham completa infor-
mação. Além disso, é sempre possível – a um certo preço e sob certo risco –
delegar certas decisões a agentes especializados. É dessa forma, aliás, que diaria-
mente milhões de poupadores delegam a bancos, corretoras e distribuidoras decisões
sobre a melhor aplicação a fazer. Claro que a poupança previdenciária, por suas
características de longo prazo, envolve riscos adicionais vis-à-vis a aplicação de
poupança de curto prazo. Mas, ainda assim, é bastante razoável supor que, na
ausência de sistemas públicos de previdência, segmentos privados desempe-
nhassem esse papel e poderiam ser fiscalizados e regulados pelo setor público.
Uma segunda abordagem indica que um argumento para justificar a forte
presença do Estado em programas de seguridade e previdência é a necessidade de
redistribuição de recursos na sociedade. Aqui é possível haver dois tipos de
redistribuição: a) de uma geração para outra; e b) dentro da mesma geração, dos
mais ricos para os mais pobres.
Uma terceira linha de explicação recorre à existência de falhas de mercado que
prejudicariam o consumidor, exigindo a presença do Estado. Seriam três principais
falhas de mercado: a) ausência de oportunidades de investimentos relativamente
seguros em termos de retornos reais; b) ausência de mecanismos para cobertura de
riscos associados à duração da vida e do período laboral; e c) ausência de um
mercado estruturado de conversão de pecúlio em renda permanente.
Uma última linha de argumentação dentro dessa família teórica que justifica a
presença do Estado em sistemas de previdência pode ser descrita como “depre-
ciação do capital humano”. As palavras do Dr. William Osler, em sua palestra
de despedida da Universidade Johns Hopkins, em 22 de fevereiro de 1905,
ilustram bem essa idéia:
My (...) fixed idea is the uselessness of men above sixty years of age, and the incalculable benefit it
would be in commercial, political and in professional life if, as a matter of course, men stopped work at
this age (…). That incalculable benefits might follow such a scheme is apparent to any one who, like
myself, is nearing that limit, and who has made a careful study of the calamities which may befall men
during the seventh and eighth decades. Still more when he contemplates the many evils which they
perpetuate unconsciously, and with impunity (OSLER, 1910 apud SALA-I-MARTIN, 1995).
A explicação nesse caso é que os mais velhos teriam uma produtividade menor
do que a média dos trabalhadores, fazendo com que a produtividade geral da
economia fosse menor com eles trabalhando do que se a força de trabalho fosse
totalmente composta por segmentos mais jovens (SALA-I-MARTIN, 1995; MULLIGAN,
2000). Esse fato seria agravado, ou seja, a diferença de produtividade seria ainda
maior, caso as coortes mais jovens fossem mais instruídas do que as mais velhas.32
Então haveria aí uma justificativa para a ação do Estado, no sentido de induzir os
mais velhos a se retirarem do mercado de trabalho, dando-lhes um incentivo
monetário. Caberia ao Estado, portanto, criar sistemas previdenciários garantindo
renda para os mais velhos, a fim de que saíssem logo do mercado de trabalho, com
efeitos positivos sobre a produtividade da economia.
A favor dessa interpretação é o fato de que a realidade empírica parece con-
firmar que os trabalhadores estão permanecendo menos tempo e se retirando cada
vez mais cedo do mercado de trabalho. A literatura internacional tem interpretado
de forma ligeiramente diferente esse evento, atribuindo-o a fatores ligados aos
regulamentos mais benevolentes dos sistemas de previdência, de um lado;33 mas,
de outro, à expansão do valor e da facilidade de acesso aos benefícios ligados ao
desemprego. É a combinação de ambos que estaria determinando essa retirada
antecipada do mercado de trabalho (ver GRUBER; WISE, 2004; LUMSDAINE; MITCHELL,
1999; OECD, 2000).34
Mais uma vez, entretanto, o argumento que justificaria a presença do Estado
– nessa interpretação sua presença visaria corrigir preços relativos, de modo a
induzir a retirada precoce ou antecipada da força de trabalho mais velha – é po-
tente para explicar sua ação regulatória, mas não nos permite concluir que o Estado
deva operar o sistema, ou mesmo realizar pesadas transferências de renda via sistemas
de previdência.
Como se constata de toda essa explanação, várias das versões são capazes de
explicar e justificar a presença do Estado nas questões de previdência, mas nenhuma
delas dá suporte teórico à presença do Estado, em primeiro lugar, na operação dos
sistemas de previdência e, em segundo lugar, na magnitude em que produz pesadas
transferências de renda em segmentos sociais e etários da sociedade. Passemos então
às versões positivas da presença do Estado em sistemas de previdência.
32. Isso, de fato, aconteceu em praticamente todos os países desenvolvidos até os anos 1990. Atualmente o crescimento de escolaridade
média das coortes mais jovens é bem lento (OECD, 2002). No Brasil, isso começou a ocorrer mais tarde, e o processo ainda está em
andamento. Ver, a respeito, Rezende e Tafner (2005, cap. 8).
33. A análise que se faz é que todo o aparato institucional implementado a partir da década de 1950 e que se estendeu até meados da
década de 1970 levou, de fato, à retirada precoce do mercado de trabalho. A questão é que, uma vez explicitados os gigantescos déficits,
os ajustamentos institucionais caminharam em sentido contrário, o que poderia negar a capacidade explicativa dessa versão.
34. Também no Brasil esse processo está em curso, como será visto no capítulo 4.
conseguem fornecer certo grau de explicação para a forte presença do Estado como
agente de transferências de renda. Essa literatura inicia-se na década de 1960 e se
estende, com críticas e aprimoramentos, até hoje.35
O argumento fundamental é que a luta pela distribuição de recursos na socie-
dade via transferências governamentais se dá através do sistema eleitoral. Seja através
do recurso ao eleitor mediano, seja através da noção de grupos de interesse, essas
teorias admitem implicitamente a hipótese de que a preferência majoritária
estabelecida pelo eleitor transforma-se em política pública.36 A transferência de
recursos pode se dar entre indivíduos de uma mesma geração – nesse caso entre
pobres e ricos, mulheres e homens, brancos e negros, ou qualquer combinação
desses elementos, havendo ainda a possibilidade de transferências negativas, ou
seja, dos mais pobres para os mais ricos – ou entre indivíduos de diferentes gerações,
nesse caso dos mais jovens para os mais velhos ou vice-versa.
Apesar de diversas inovações interpretativas, o fato é que as teorias que esta-
belecem conexões com a política fracassam na tentativa de explicar o surgimento
dos sistemas previdenciários. Apesar disso, uma coisa parece inequívoca: sistemas
de previdência surgem como conseqüência dos processos de proletarização e de
urbanização, quando os trabalhadores e suas famílias passam a ficar mais expostos
a riscos de miserabilidade sem qualquer rede de proteção familiar ou social. Uma
vez criadas essas condições básicas, as teorias baseadas em grupos de interesse,
combinadas com a expansão do sufrágio, parecem ser capazes de explicar a prefe-
rência por sistemas com conteúdo redistributivo, que, para nosso argumento, é
suficiente. De toda forma, não se deve descartar a hipótese não explicitamente
formulada por Esping-Andersen (2003) de que as gerações ou grupos etários que
passaram pela crise de 1929 e pela guerra tinham um argumento moralmente
sólido para pleitearem ampliação dos benefícios previdenciários. Sobretudo porque
os custos dessa ampliação, além de difusos – o que favorece sua aprovação –, são
economicamente não perceptíveis para as gerações mais jovens àquela época, já
que a economia mundial crescia a taxas esplendorosas (média de 5,9% a.a.).37
35. Downs (1960), Aaron (1966), Olson (1965), Browning (1973; 1975), Meltzer e Richard (1981), Tabellini (1990), Sala-i-Martin (1995),
Mulligan e Sala-i-Martin (1999a; 1999b; 2003), Mulligan, Gill e Sala-i-Martin (2002) e Pampel e Williamson (1989).
36. Ver a respeito, entre outros, Kitschelt (1990), Klingemann, Hofferbert e Budge (1994) e Downs (1957).
37. Em um grupo de 11 países, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Bélgica tiveram crescimento médio inferior a 5%. Holanda,
Itália e Japão apresentaram média anual superior a 5%, e Canadá, Espanha, França e Japão apresentaram taxa superior a 6% a.a., sendo
que Espanha e Japão registraram taxas superiores a 8%.
ideal seria que parte desse ganho fosse apropriada pela sociedade, o que significaria
aumentar a idade com que os trabalhadores se aposentam.
Um dos pontos centrais da questão, conforme apontaram Gruber e Wise
(2004), são os diversos incentivos (regras institucionais) dados aos agentes, tanto
nas regras gerais dos sistemas de aposentadoria (como idade de aposentadoria,
acumulação de benefícios, valor do benefício etc.), quanto no mercado de trabalho
– seja o custo associado ao fator trabalho, seja o grau de flexibilidade da contratação/
demissão, sejam ainda as regras de acesso e de tempo de duração do seguro-
desemprego, além, obviamente, de seu valor. O diagrama a seguir apresenta de
forma esquemática o modelo explicativo-causal, explicitando as principais inter-
relações do sistema previdenciário com os demais sistemas que determinam o
desempenho do primeiro.
Como se pode observar, o desempenho e o equilíbrio de um sistema de
previdência dependem de fatores que lhe são intrínsecos, tais como a existência ou
não de idade mínima para aposentadoria, o cálculo do valor do benefício (por
exemplo, último salário de contribuição, média de toda a vida laboral ou de um
certo período ou de um subconjunto de maiores contribuições), a taxa de reposição
(porcentagem máxima do valor do benefício vis-à-vis o valor ou salário de contri-
buição), as regras relativas ao benefício de pensão (por exemplo, no Brasil um
beneficiário pode receber integralmente sua aposentadoria e a pensão de seu côn-
juge38), regras sobre a aposentadoria por invalidez.39 Esse conjunto de fatores está
Sistema educacional
38. Apenas no setor público, após a reforma de 2003, o valor do benefício de pensão ficou limitado a um percentual inferior a 1,
dependendo de características do pensionista e de sua família. Ver mais a respeito no capítulo 11.
39. Há sólidas evidências de que os benefícios previdenciários por invalidez são particularmente elevados no Brasil. Essa hipertrofia é
especialmente intensa no setor público, como mostraram Tafner, Pessoa e Mendonça (2006).
For many decades, demographic and labour force participation trends have provided a favourable
economic environment in OECD countries. (...) If existing patterns continue, the favourable trends
could start to reverse in about 5 to 10 years time. The baby-boom generation will reach retirement age
and the percentage in the labour force could begin to fall. There would be relatively fewer people
producing the goods and services needed to support a population that includes many more retired
people.
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ANEXO
1 INTRODUÇÃO
Muito se tem discutido sobre previdência, e um quase consenso quanto à necessi-
dade de reformas advém desse debate, que se dá tanto na esfera política quanto na
acadêmica. Previdência é um problema em países ricos e em economias em desen-
volvimento. Este capítulo tenta organizar as idéias sobre o muito que já se concluiu
a respeito do assunto na academia, a fim de orientar o debate político no Brasil
sobre as alternativas de reforma.
O texto busca a) discutir a racionalidade econômica, do ponto de vista
normativo e da economia política, para existência de sistemas previdenciários,
conforme desenhados hoje nos principais países; b) analisar os custos implícitos
na manutenção de tais sistemas, representados principalmente pelas distorções
sobre as decisões de consumo/poupança e oferta de trabalho dos indivíduos; c)
ponderar os prós e contras de diferentes modelos “puros”, quando o objetivo é a
maximização do bem-estar da sociedade; e d) abordar a questão do custo de transição
de reformas previdenciárias.
Pretende-se aqui dar um embasamento analítico a ser utilizado no capítulo 4,
que discute a experiência com reformas previdenciárias de um grupo seleto de
países desenvolvidos. Especificamente, será utilizada ao longo deste capítulo a
classificação tradicional da literatura (FELDSTEIN; LIEBMAN, 2002; LINDBECK;
PERSSON, 2003).
Sistemas previdenciários podem ser classificados, primeiro, como de contri-
buição definida (CD) ou de benefício definido (BD). Um sistema de BD é tal que
* Agradeço a Fabio Giambiagi e Paulo Tafner pelos comentários a versões anteriores deste trabalho, que foram muito importantes na
definição da sua forma final. Naturalmente, falhas remanescentes são de minha total responsabilidade.
1. A origem da expressão remontaria à tradição dos antigos saloons americanos que oferecereciam almoço gratuito aos clientes, desde
que pagassem por pelo menos um drinque. Milton Friedman popularizou-a no meio econômico, relacionando-o com a presença de trade-
offs nas escolhas sociais ou privadas.
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
O primeiro sistema previdenciário foi introduzido na Alemanha em 1889. Embora
a motivação do chanceler Otto von Bismarck fosse conter o ímpeto do incipiente
movimento socialista e solidificar apoio ao regime político junto aos trabalhadores
urbanos, a idéia de um seguro contra a depreciação acelerada e permanente do capital
humano é anterior ao modelo alemão e remete às sociedades de assistência mútua
organizadas por guildas na própria Alemanha, antes de Bismarck; ou bancos que
forneciam seguro contra invalidez subsidiados pelo Estado, na França de Napoleão
III, entre outros exemplos. Assim, o que distinguia o sistema alemão de mecanismos
de proteção predecessores era sua natureza compulsória e contributiva. Benefícios
eram pagos a trabalhadores inválidos, ou que sobreviviam além da idade de 70
anos, e custeados através de contribuições compulsórias de firmas e empregados.
A difusão do modelo alemão, contudo, foi lenta, e até 1910 o único país que
o adotou foi a Áustria e, mesmo assim, incluindo apenas o seguro contra invalidez.
Paralelamente, um sistema alternativo que fornecia renda vitalícia para idosos
cuja renda estivesse abaixo de determinado limiar (means tested), sem base
contributiva e, portanto, financiados por impostos gerais, era adotado na Dinamarca
em 1891, na Nova Zelândia em 1898 e, em 1908, na Austrália e na Inglaterra.
Nos Estados Unidos, durante os anos 1920, estados instituíram pensões
previdenciárias means tested para idosos, cuja difusão se acelerou depois da crise
de 1929. Contudo, nenhum dos 28 estados que tinham sistema previdenciário
em 1934 o fazia na forma bismarckiana, ou seja, não havia fundo de contribuição
compulsória que financiasse os benefícios, nem a elegibilidade era condicionada
ao nível ou ao número de contribuições.
Em 1935, o Social Security Act promulgado pelo presidente Franklin D.
Roosevelt criou diversos programas de assistência que vigoram, com pequenas
alterações, ainda hoje nos Estados Unidos, entre os quais dois programas que
envolviam renda vitalícia: o Old-Age Assistance (OAA), para idosos pobres, sem
base contributiva e de natureza puramente assistencial, e o Old-Age Insurance
(OAI), este sim um sistema contributivo no estilo alemão e que, com reformas em
1939 e 1958, transformou-se em Old-Age Survivors and Disability Insurance
(OASDI), que os americanos chamam de Social Security. O programa cobre não
somente aposentados por idade, mas também adiciona benefícios aos dependentes
do aposentado, paga pensão ao viúvo do casal (no caso de falecimento do titular)
e seguro contra risco de incapacitação física impeditiva de trabalho.
De modo geral, os anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial
foram de grande expansão do sistema previdenciário no mundo, com a introdução
Nesse caso, indivíduos se aposentariam mais cedo e poupariam menos, contando com
a ajuda do governo ou de amigos ao fim da vida (LINDBECK; WEIBULL, 1988).
Novamente, formas alternativas de compulsoriedade emergem como solução
para o problema de moral hazard, podendo tanto o governo instituir a contribuição
solidária para todos os indivíduos, ou seja, um sistema de repartição que obrigue
cada um a contribuir para o bem público, ou, ao contrário, para forçar o indivíduo
a prover para si próprio em um sistema de contribuição definida. O argumento de
moral hazard, contudo, não é capaz de convencer-nos em relação à enorme di-
mensão dos programas previdenciários no mundo e ao seu caráter predominante
de benefício definido.
2. Barbara Armstrong, professora de direito de Berkeley e membro do Social Security Committee, criado por Roosevelt em 1934 para
elaborar o sistema de previdência, não tinha dúvidas de que o Social Security Act foi concebido com objetivos de aposentar o contingente
de idosos, criando espaço para jovens no mercado de trabalho: “The interest of Mr. Roosevelt was with the younger man (...) That is why
that little ridiculous amount of $ 15 was put in. Let (the elderly) earn some pin money, but it had to be on retirement. And retirement
means that you’ve stopped working for pay” (Barbara Armstrong Memoir, Columbia University, citado em Sala-i-Martin, 1992, p. 6).
na maior parte dos sistemas é eficiente, pois fornece um hedge contra riscos de
rendimento de capital humano, quando a composição do portfólio não pode ser
alterada – em função de falha de mercado. Nessa linha, faz sentido um programa
previdenciário que dá um retorno implícito elevado para as primeiras contribuições.
3. A incorporação de uma taxa de desconto intertemporal e taxas de juros positivas não mudam a natureza da conclusão, mas apenas as
proporções da renda alocadas em consumo no primeiro e no segundo período. A hipótese de que o indivíduo viva mais períodos também
não muda o resultado, assim como a adição de incerteza quanto ao tempo de duração da vida.
4. Teoricamente, contudo, a presença de altruísmo intergeracional e de motivo herança faz com que transferências para uma geração em
detrimento de outra sejam inteiramente poupadas pela geração beneficiária, sem efeito sobre o consumo. Esse resultado é chamado de
equivalência ricardiana (BARRO, 1974).
5. A própria evidência da importância da poupança precaucionária ainda não foi consolidada na literatura econométrica, principalmente
porque padrões de consumo individuais podem ser replicados tanto por modelos sem incerteza mas com restrição de liquidez, quanto por
modelos com incerteza e com formação de buffer stock (GOURINCHAS; PARKER, 2001).
Os estudos que comparam indivíduos nos Estados Unidos (cross section) in-
dicam que, para cada dólar a mais na forma de riqueza previdenciária (geralmente,
o valor presente dos benefícios de aposentadoria, debitado de contribuições
previdenciárias), a riqueza privada diminui cerca de 25 centavos. De 14 estudos
representativos feitos entre 1979 e 1997, 10 encontraram correlação negativa entre
riqueza privada e riqueza previdenciária, 2 verificaram correlação negativa mas
não rejeitavam a hipótese alternativa de impacto nulo, e 2 encontraram correlação
positiva. Os resultados dependem da base de dados e da metodologia de mensuração
da riqueza previdenciária, mas, de forma geral, apontam para um crowding out
(CONGRESSIONAL BUDGET OFFICE, 1998).
Correlação, contudo, não indica necessariamente causalidade, porque carac-
terísticas não observáveis dos indivíduos (e, portanto, não incluídas na regressão)
podem estar relacionadas tanto à riqueza previdenciária quanto ao estoque de
ativos financeiros.6 Adicionalmente, estoque de ativos privados menores não quer
dizer necessariamente que tais ativos tenham deixado de ser acumulados por causa
de consumo relativamente alto. É possível ainda que doações em vida para os
filhos, ou investimento em capital humano deles, tenham sido feitas para com-
pensar uma transferência maior através do sistema previdenciário, e tais alocações
compensatórias aparecem sob a forma de um estoque menor de ativos privados.
Assim, não é claro se a correlação negativa entre previdência e ativos privados
individuais significa uma correlação positiva entre consumo individual e riqueza
previdenciária. Colocado de outra forma, as regressões cross section nada dizem a
respeito do impacto da previdência sobre o estoque de capital agregado – mesmo
que o problema da causalidade seja efetivamente sanado com bons instrumentos
ou análise longitudinal adequada.
Por último, estudos que utilizam dados agregados de consumo e riqueza
previdenciária ao longo do tempo tentam solucionar o problema da agregação,
mas criam outros tipos de dificuldades. Tais estudos são extremamente sensíveis à
especificação da regressão (particularmente à definição de riqueza previdenciária),
e resultados positivos ou negativos podem ser encontrados dependendo da definição
escolhida.
6. Por exemplo, o total de anos trabalhados ao longo da vida, o estado civil, a expectativa de vida e a renda permanente afetam, ao
mesmo tempo, o estoque de ativos financeiros e a riqueza previdenciária.
impacto sobre poupança. Nas últimas três décadas tem ocorrido uma dramática
queda na taxa de participação na força de trabalho de homens entre 60 e 64 anos
de idade. Em uma amostra de dez países industriais (Japão, Suécia, Estados Unidos,
Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Espanha, Holanda, França e Itália), em 1960, a
taxa de participação estava acima de 70% em todos eles, exceto Itália. Em 1995,
apenas o Japão ainda tinha taxas de participação acima de 70% (GRUBER; WISE,
1999). Particularmente, França, Bélgica e Holanda tinham menos de 30% de sua
população entre 60 e 64 anos ainda dentro da força de trabalho.
Duas características dos sistemas previdenciários têm importante efeito sobre
a decisão de participação na força de trabalho. A primeira é a idade na qual os
benefícios são inicialmente disponibilizados, também chamada de idade de apo-
sentadoria parcial (early retirement age, ERA). A segunda característica essencial
que determina a idade em que a pessoa escolhe sair da força de trabalho é a com-
paração entre a adição (ou subtração) que um ano de trabalho traz sobre a riqueza
previdenciária (valor presente de benefícios, líquidos de contribuição previdenciária)
e o salário ganho ao longo daquele ano. O retorno total por um ano a mais de
trabalho é a soma de ambas as parcelas. Se, para uma dada idade, a primeira
parcela é negativa, ou seja, a riqueza previdenciária cai com o adiamento por um
ano da decisão de saída, pode-se calcular a alíquota marginal do imposto sobre o
trabalho devido exclusivamente à regra previdenciária. Caso a primeira parcela
seja positiva, o sistema previdenciário representa um subsídio à oferta de trabalho.
Em que medida a promessa de benefícios previdenciários afeta a decisão de
oferta de trabalho? Primeiro, o adiamento da aposentadoria representa sempre
um ano a menos de benefícios; e, segundo, um ano a mais de contribuições
previdenciárias. Para compensar a redução do número de anos de desfrute, em
alguns países existe um ajuste atuarial feito na forma de maiores benefícios, de
modo que o valor presente dos benefícios não se altere. Quanto maior é o ajuste,
menor será a tributação à oferta de trabalho induzida exclusivamente pelas regras
previdenciárias.
Segundo, geralmente um ano a mais de trabalho leva a um recálculo do
benefício, dado que na maior parte dos países o salário de benefício é uma média
de salários ao longo da vida. Se salários ao fim do ciclo de vida são maiores do que
no início, a fórmula de cálculo do salário de benefício é um incentivo ao adiamento
da saída.
Terceiro, um adiamento no recebimento de benefícios aumenta a probabili-
dade de morte antes que qualquer benefício seja recebido, o que induz também a
saída precoce motivada por regras previdenciárias.
TABELA 1
a
Saída da força de trabalho, por idade: hazard rate
(Em %)
Ano/Idade 55 60 62 63 65
Estados Unidos
Alemanha
França
1990 nos Estados Unidos, de 61% para 8% no Reino Unido, de 54% para 4% na
França, e de 58% para 5% na Alemanha, mas explicações concorrentes ajudam a
elucidar esse padrão, tais como o efeito renda sobre a demanda por lazer (COSTA,
1998). A não exclusividade da previdência como causadora dessa queda é eviden-
ciada com um experimento natural ocorrido nos Estados Unidos. A mudança no
regime de superindexação (ver capítulo 4) dos benefícios em meados da década de
1970 causou uma queda substancial e inesperada nos benefícios de uma geração
específica. Contudo, o padrão de aposentadoria precoce dessa geração não é
marcadamente diferente daquele das gerações vizinhas.
Concluindo, tanto a teoria quanto a evidência empírica indicam forte influência
de sistemas previdenciários nas decisões de oferta de trabalho para pessoas com
mais de 50 anos nos países industrializados. Detalhes das regras de acesso tendem
a importar substancialmente na determinação da idade de aposentadoria. No entanto,
a queda da participação da força de trabalho ao longo do século XX parece resultar
sobretudo do crescimento da renda nos países industrializados. Esquemas de pre-
vidência mais indulgentes são, assim, conseqüência de sociedades mais prósperas,
que escolhem reduzir a oferta de trabalho e serem mais pródigas no pagamento de
benefícios.
7 CUSTO DE TRANSIÇÃO
Neste capítulo, comparam-se diferentes regimes previdenciários. A grande maio-
ria dos sistemas previdenciários é caracterizada por BD, financiada por repartição
e com baixo vínculo entre contribuição e benefício. Isso os faz ter elevado poten-
cial redistributivo (não necessariamente com o correto foco). O forte conteúdo
redistributivo, por sua vez, tem efeitos indesejáveis. Primeiro, distorce as decisões
individuais de consumo e lazer e cria perdas de peso morto na economia. Segun-
do, tais sistemas ficam sujeitos a riscos demográficos e políticos que variam de
país para país, conforme a demografia e o desenho das instituições políticas.
Embora a perda de peso morto induzida pelos esquemas BD de repartição
seja pouco visível, os desequilíbrios fiscais decorrentes do impacto de choques
demográficos adversos em países industrializados têm forçado um conjunto destes a
repensarem seus esquemas previdenciários. Em países de renda média, a fragilidade
institucional do sistema democrático levou à concessão de benefícios sem vínculo
atuarial, e à mesma conseqüência perversa sobre as contas públicas.
7. Em regimes CD em esquemas de repartição não existem choques idiossincráticos sobre a taxa de retorno, em função de sua caracte-
rística de repartição.
A transição para um sistema CD, por exemplo, não obriga que o ajuste seja
feito no momento da instituição de contas individuais, podendo ser programado
ao longo do tempo, através de graduais cortes de despesas diretas do governo,
aumentos graduais de impostos sobre a renda do trabalho e do capital, e de impostos
sobre consumo, ou por meio de mudanças na forma de reajuste dos benefícios dos
atuais aposentados, dentre outros diversos mecanismos de financiamento da transição
(FERREIRA, 2004). O quanto cada geração pagará pelo ajuste vai depender do estágio
do ciclo de vida em que se encontra (poupando, trabalhando ou recebendo bene-
fícios), do caminho tributário escolhido e do momento em que a reforma ocorre.
A definição da forma como será financiado o sistema velho remanescente
deve ser feita up front igualmente em uma transição para sistema CD capitalizado,
ou em qualquer reforma puramente paramétrica, ou em uma mudança para um
sistema nocional (ver capítulo 4). Ou seja, em qualquer reforma que envolva ajuste
de sistemas desequilibrados atuarialmente, há um custo que deve ser repartido
entre as diversas gerações envolvidas.
A grande questão que se coloca não é qual o custo de transição associado a
cada tipo de reforma, mas qual o tamanho do desequilíbrio atuarial que deve ser
solucionado, seja qual for a reforma escolhida. Podemos olhar um desequilíbrio
atuarial sob o prisma da distribuição de recursos entre as gerações envolvidas. As
promessas de benefícios feitas pelo sistema previdenciário para as gerações correntes
e futuras superam os custos que o sistema previdenciário lhes impõe. O resultado
é um desequilíbrio atuarial. Se, em um dado momento presente, se estabelece que
todas as promessas serão honradas para aqueles vivos naquele momento, mas que
os nascidos a partir do dia seguinte terão de pagar, através de corte de benefícios
ou de aumento de impostos, qual o tamanho da transferência entre as gerações
vivas e as gerações ainda não nascidas no tempo t?
A magnitude dessa transferência intergeracional pode ser medida, e isso foi
feito por um conjunto de economistas no final da década de 1990 para 22 países
(KOTLIKOFF, 2002). A tabela 2 mostra formas alternativas de política fiscal para se
eliminar o desequilíbrio intergeracional criado pela estrutura de programas públicos.
Esse tipo de abordagem nos permite pensar o problema previdenciário como apenas
um (certamente o mais importante na grande maioria dos países) dos mecanismos
institucionais que transferem recursos de gerações futuras para as gerações presentes.
Tome-se como exemplo o caso brasileiro. Pode-se ver que o ajuste de gastos
públicos diretos (excluindo-se transferências), necessário para eliminar o
desequilíbrio entre gerações correntes e futuras – levando-se em conta a tábua de
mortalidade prospectiva, além da probabilidade de efetivamente ocorrerem os
TABELA 2
Formas alternativas de se alcançar o equilíbrio entre gerações
(Em %)
País Corte nos gastos do governo Corte nas transferências do governo Aumento em todos os impostos
com saúde com pessoas de mais de 63 anos (o programa Medicare) têm importância
significativa na explicação do pesado custo de ajuste nos Estados Unidos.
A forma com que o custo do ajuste é distribuído entre as gerações e dentro
de cada geração é definida por cada sociedade. O mesmo equilíbrio pode ser
alcançado com maiores aumentos em um primeiro momento e com reduções
posteriores. A forma com que o ajuste ocorre diz respeito ao modo como as diversas
gerações resolverão seu conflito distributivo.
8 CONCLUSÃO
Este capítulo fez uma revisão da literatura acadêmica em previdência, e serve como
base analítica para a leitura do capítulo 4, que trata de estudos de casos em
economias industriais. Sistemas previdenciários ao redor do mundo são predominan-
temente financiados por repartição e definem benefícios como função do histórico
salarial ao longo da vida. Discutiram-se aqui as razões de ordem normativa e positiva
para assumirem esse formato. Analisaram-se as distorções causadas por tal formato,
sobre o mercado de trabalho e sobre as decisões de poupança. Compararam-se as
alternativas quanto à exposição a diferentes tipos de risco, assim como quanto à
capacidade de transferir riscos para o beneficiário. Por último, analisou-se a questão
da transição.
Sistemas previdenciários podem ser distinguidos quanto à forma de financia-
mento (capitalização ou pay-as-you-go), que, por sua vez, afeta a poupança agregada
da economia. Mostrou-se que teoricamente existe ambigüidade no impacto do
esquema de financiamento sobre a taxa de poupança da economia, e que estudos
econométricos são inconclusivos a esse respeito. A característica de capitalização
torna a rentabilidade e a solvência sujeitas a riscos de portfólio, ao passo que
esquemas pay-as-you-go estão sujeitos a riscos demográficos.
Sistemas previdenciários também podem ser de benefício definido ou de
contribuição definida, que, por sua vez, afetam a repartição de riscos entre governo
(ou administrador do fundo) e beneficiário individual. Por último, sistemas podem
conter justiça atuarial ou não, o que define a capacidade redistributiva do sistema
e seus efeitos no mercado de trabalho.
A escolha entre as diferentes alternativas de financiamento de benefícios vi-
talícios envolve os trade-offs usuais entre maior capacidade redistributiva e maior
proteção ao risco e maior eficiência. Qualquer opção de reforma terá ganhadores
e perdedores. Em última análise, também não existe almoço grátis quando o as-
sunto é reforma previdenciária.
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1 INTRODUÇÃO
Considera-se que o alongamento da vida ou das vidas é uma das conquistas sociais
mais importantes do século XX. Na verdade, atingir idades avançadas não é um
fato novo na História. O que existe de novo é o aumento da esperança de vida ao
nascer, o que resulta em que mais pessoas atinjam idades avançadas. Por exemplo,
em 1980, de 100 crianças brasileiras do sexo feminino, 22 completavam 80 anos.
Em 2000, esse número dobrou (CAMARANO, 2004). A grande responsável por isso
foi a queda da mortalidade em todas as idades. É uma conquista que merece ser
comemorada. Mas nem todas as visões sobre esse fenômeno são de comemoração.1
Isso se dá em parte pelo fato de que paralelamente à queda da mortalidade
assiste-se no Brasil, desde o final dos anos 1960, a uma diminuição acentuada nos
níveis de fecundidade. Duas conseqüências desses dois processos já se fazem notar:
uma redução nas taxas de crescimento da população como um todo e mudanças
expressivas na estrutura etária no sentido do envelhecimento. Isso significa uma
alteração na proporção dos diversos grupos etários no total da população. Por
exemplo, em 1940, a população idosa2 representava 4,1% da população total bra-
sileira e passou a representar 8,6% em 2000. Em números absolutos, esse contin-
gente aumentou de 1,7 milhão para 14,5 milhões no mesmo período. Por outro
2. Aqui definida como pessoas com 60 anos ou mais, tal como estipulada na Política Nacional do Idoso e no Estatuto do Idoso.
TABELA 1
Taxas de crescimento observada e intrínseca da população brasileira
(Em %)
3. Isto é, considerando-se o período em que existem dados, ver, por exemplo, Beltrão, Camarano e Kanso (2004) e Ipea (2006).
4. Uma população atinge o seu nível de reposição quando a fecundidade e a mortalidade alcançam valores que resultarão, no médio
prazo, em uma taxa de crescimento igual a 0. Ou seja, a população simplesmente se repõe. Dadas as taxas de mortalidade vigentes na
população brasileira, estimou-se que esse nível será alcançado quando a taxa de fecundidade total for igual a 2,14. Apesar de a
população ainda estar crescendo, esse ritmo é decrescente. Os reflexos dessas medidas levam o tempo ou a duração de uma geração para
que a população apresente uma taxa de crescimento igual a 0.
GRÁFICO 1
Brasil: taxa de fecundidade total da população
7
0
1930-1935 1940-1945 1950-1955 1960-1965 1970-1975 1981-1986 1990-1995 1995-2000 2000-2005
GRÁFICO 2
Brasil: distribuição etária e por sexo da população
(Em anos)
80 e +
75-79
70-74
65-69
60-64
55-59
50-54
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20-24
15-19
10-14
5-9
0-4
0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10
5. A taxa intrínseca é a taxa de crescimento que será observada caso a taxa de fecundidade total do qüinqüênio 1995-2000 se mantenha
constante por aproximadamente 30 anos. Ela sinaliza a direção das taxas de crescimento.
curso no país desde esse período foram responsáveis pelo ritmo de crescimento
relativamente elevado dessa população vis-à-vis ao dos demais grupos etários. Esses
processos alteraram a composição etária e contribuíram de forma significativa
para o processo de envelhecimento populacional.
Sob o ponto de vista demográfico, o envelhecimento populacional é o resultado
da manutenção, por um período razoavelmente longo, de taxas de crescimento da
população idosa superiores às da população mais jovem. Isto implica uma mu-
dança nos pesos dos diversos grupos etários no total da população. A proporção
da população de 60 anos e mais no total da população brasileira passou de 4,1%
em 1940 para 8,6% em 2000. No entanto, o processo do envelhecimento é muito
mais amplo do que uma modificação de pesos de uma determinada população,
dado que altera a vida dos indivíduos, as estruturas familiares e a demanda por
políticas públicas, e afeta a distribuição de recursos na sociedade. No caso deste
trabalho, a questão colocada é como a dinâmica demográfica recente pode afetar
a oferta de contribuintes e a demanda por benefícios da seguridade social.
O envelhecimento populacional é ocasionado sobretudo pela queda da
fecundidade, que leva a uma redução na proporção da população jovem e a um
conseqüente aumento na proporção da população idosa. Isso resulta num processo
conhecido como envelhecimento pela base. A redução da mortalidade infantil acarreta
um rejuvenescimento da população, dada uma sobrevivência maior das crianças.
Por outro lado, a diminuição da mortalidade nas idades mais avançadas contribui
para que esse segmento populacional, que passou a ser mais representativo no
total da população, sobreviva por períodos mais longos, resultando no envelheci-
mento pelo topo. Este altera a composição etária dentro do próprio grupo, ou seja,
a população idosa também envelheceu (CAMARANO; KANSO; MELLO, 2004a). Em
2000, a proporção da população “mais idosa”, de 80 anos e mais, representava
12,6% do total da população idosa. Observa-se que o envelhecimento pelo topo
foi mais expressivo entre as mulheres, dada a maior mortalidade masculina.
Como já se mencionou, o envelhecimento ocorre porque a população idosa
apresenta taxas de crescimento mais elevadas, se comparada a outros segmentos
populacionais. Registrou a sua maior taxa entre as décadas de 1970 e 1980, em
torno de 4,3% a.a., conforme se pode ver na tabela 1. Nos anos seguintes, o seu
ritmo foi ligeiramente menor, mas expressivamente maior do que o da população
brasileira. A tendência de queda continuou ao longo do período considerado.
As perspectivas que se colocam para o médio prazo são a de continuação do
processo de envelhecimento populacional. Os idosos dos próximos 30 anos já
nasceram – e nasceram num regime de fecundidade elevada – e se beneficiaram,
2.2 Mortalidade
Uma das maiores conquistas sociais das últimas décadas foi o aumento da espe-
rança de vida às várias idades, como resultado da queda acentuada na mortalidade
observada em todos os grupos etários; desde o período intra-uterino até as idades
mais avançadas. Além da redução nos seus níveis, a mortalidade apresentou mu-
danças em seu padrão de causas, em que as doenças crônico-degenerativas, mais
freqüentes na população idosa, passaram a ter uma importância maior diante das
causas que afetavam a população infantil, tais como as infecto-parasitárias.
Para medir os níveis de mortalidade, costuma-se utilizar a esperança de vida ao
nascer. É um indicador sintético e apresenta o número de anos que se espera que
um recém-nascido viva segundo as condições vigentes de mortalidade. A tabela 2
apresenta os valores da esperança de vida ao nascer, aos 15 e aos 60 anos por sexo
em 1980, 1991, 2000 e 2005. A esperança de vida ao nascer aumentou para
ambos os sexos, em maior intensidade entre as mulheres. Estas apresentavam, em
2005, um valor 6,3 anos mais elevado que o observado para a população masculina.
Os diferenciais entre os sexos cresceram ao longo do período analisado, devido,
principalmente, ao aumento da mortalidade da população adulta jovem masculina
por causas violentas. No período considerado, a esperança de vida ao nascer dos
homens brasileiros passou de 59,2 anos para 68,3, e a das mulheres aumentou de
65,5 para 74,6 anos.
TABELA 2
Esperança de vida ao nascer, aos 15 anos e aos 60 anos por sexo da população brasileira
E0 E15 E60
Ano
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
TABELA 3
Esperança de vida ao nascer, aos 15 anos e aos 60 anos por sexo: vários países
E0 E15 E60
32
42
52
62
72
24
34
44
54
64
74
18
28
38
48
58
68
16
26
36
46
56
66
76
80 78
20
30
40
50
60
70
GRÁFICO 4
Distribuição proporcional dos óbitos da população feminina de 16 anos e mais por
determinadas causas
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
e+
74
80 78
22
32
42
52
62
72
24
34
44
54
64
18
28
38
48
58
68
16
26
36
46
56
66
76
20
30
40
50
60
70
Fonte: Ministério da Saúde/SIM. Doenças do aparelho circulatório (1980) Causas externas (1980)
Elaboração: Ipea. Doenças do aparelho circulatório (2000) Causas externas (2000)
6. Em relação a essa questão, o MPAS possui acordos internacionais com dez países, a saber: Argentina, Chile, Espanha, Grécia, Itália,
Portugal, Cabo Verde, Luxemburgo, Paraguai e Uruguai. Esse tipo de acordo conserva os direitos dos contribuintes, como se a contribuição
previdenciária fosse feita no país de origem. Os acordos garantem os direitos de seguridade social previstos nas legislações dos diversos
países aos respectivos trabalhadores e seus dependentes legais que estejam residindo ou em trânsito nos países signatários. Os beneficiários
que utilizam os acordos internacionais têm aposentadoria paga pelos dois países, proporcionalmente ao tempo contribuído: um período
pelo país de origem e o outro pelo país em que a pessoa exerceu alguma atividade profissional. Caso o trabalhador se desloque para
outro país a trabalho, por tempo determinado, é concedido o Certificado de Deslocamento Temporário, que permite ao cidadão continuar
contribuindo para a previdência do país de origem (MPAS).
7. Isso se deve ao fato de o levantamento de informações oficiais não considerar um limite etário máximo para a participação nas
atividades econômicas.
GRÁFICO 5
Brasil: taxas específicas de mortalidade da população por sexo
(Escala log)
1,00
0,10
0,01
0,00
0,00
e+
74
22
32
42
52
62
72
24
34
44
54
64
18
28
38
48
58
68
80 78
16
26
36
46
56
66
76
20
30
40
50
60
70
Fontes: IBGE/Censo Demográfico de 1980 e 2000 e Ministério da Saúde/SIM. Homens (1980) Mulheres (1980)
Elaboração: Ipea. Homens (2000) Mulheres (2000)
TABELA 4
Taxas de crescimento anuais da população brasileira segundo grupos etários
8. Além da pirâmide etária, outro indicador que ilustra esse processo é a idade média da PIA, que aumentou em 1,9 ano nos últimos 20
anos. Em 1980 foi de 35,2 anos e passou para 37,1 anos em 2000 (ver IPEA, 2006).
9. Esses são benefícios de assistência social. Foram pagos aproximadamente 1,3 milhão (ver MPAS, 2005).
GRÁFICO 6
Taxas de entrada e saída da população masculina nas atividades econômicas ao longo
do ciclo de vida
(Em %)
30
25
20
15
10
5
–
e+
22
32
42
52
62
72
24
34
44
54
64
74
18
28
38
48
58
68
16
26
36
46
56
66
76
80 78
20
30
40
50
60
70
10. Essas taxas foram obtidas por meio da metodologia de tabelas de vida ativa apresentadas em Ipea (2006).
TABELA 5
Distribuição proporcional da população brasileira aposentada por idade segundo o sexo
1980 2000
Idade
Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total
TABELA 6
a
Distribuição proporcional dos benefícios e idade média à aposentadoria da população
brasileira por tipo segundo o sexo
1993 2003
Distribuição proporcional
11. Nesse caso, está se falando de saídas, realmente. Ou seja, sem volta ao mercado de trabalho.
25,3 anos, tempo esse também afetado pelo maior ingresso de mulheres no mer-
cado de trabalho, conforme será visto na tabela 7. Essa maior participação feminina
implica repensar o sistema de pensões por morte, dado que o sistema vigente
assume a mulher como a cuidadora dos membros dependentes da família.
GRÁFICO 7
Taxas de entrada e saída da população feminina nas atividades econômicas
ao longo do ciclo de vida
(Em %)
30
25
20
15
10
5
–
4 +
16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 7 76 780 e
8
Entradas (1980) Mortes (1980) Retiro (1980)
Fonte: Ipea (2006, p.102). Entradas (2000) Mortes (2000) Retiro (2000)
GRÁFICO 8
Proporção de aposentados de 20 a 60 anos que reportam sofrer de doenças
crônicas em relação à PEA
(Em %)
30
25
20
15
10
0
20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59
GRÁFICO 9
Brasil: proporção da população que trabalha e é aposentada por sexo e idade
(Em %)
35
30
25
20
15
10
–
42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 80 e +
Fontes: IBGE/Censos Demográficos de 1980 e 2000 PEA e é aposentado – Homens (1980) PEA e é aposentado – Mulheres (1980)
e Pnads de 1981 e 2001. Elaboração: Ipea. PEA e é aposentado – Homens (2000) PEA e é aposentado – Mulheres (2000)
tarde, essa simultaneidade começava aos 49 anos, ou seja, quatro anos mais cedo,
dada a redução da idade de entrada na aposentadoria. Além disso, como já se
mencionou, a legislação brasileira permite que o aposentado retorne ao mercado
de trabalho, a não ser nos casos de aposentadoria por invalidez. O gráfico mostra,
também, que em 1980, não havia mulheres brasileiras que combinavam partici-
pação no mercado de trabalho e aposentadoria. Já em 2000, essa combinação de
participação feminina seguiu o mesmo padrão da masculina de 1980. Iniciou-se
aos 54 anos e se manteve acima de 5% até os 74 anos.12
1980
2000
14. Assume-se que estes são óbitos que, sob regras, estímulos, incentivos e punições diferenciadas, poderiam ser evitados se não na sua
totalidade, pelo menos em grande parte.
GRÁFICO 10
Brasil: estimativas da esperança de vida simuladas para homens – 2000
70
65
60
55
50
45
40
35
30
25
20
Ao nascer Aos 16 anos Ativa aos 16 anos
Observada Eliminando as causas externas
óbitos por homicídios do total de óbitos, verifica-se que estes contribuíram para
uma perda de 1,4 ano na esperança de vida ao nascer e 0,7 ano no tempo passado
na atividade econômica. Já a exclusão dos óbitos por acidentes de trânsito do total
de óbitos levou a uma redução de 0,4 ano na esperança de vida ao nascer e no
tempo passado na atividade econômica.
Outra medida apresentada na tabela 7 é uma estimativa do tempo que um
trabalhador aos 50 anos pode esperar passar na condição de aposentado. Ela é
comparada à esperança de vida a essa idade. Pode-se observar que nos dois anos
considerados, um homem aos 50 anos esperava passar aproximadamente 80% do
tempo que ainda terá por viver na condição de aposentado. Em termos absolutos,
significou um acréscimo de 2,4 anos entre 1980 e 2000. Isto se deveu à redução
na idade de se aposentar, conforme se viu na tabela 6. Dada a ainda baixa partici-
pação feminina no mercado de trabalho, o tempo despendido pelas mulheres,
tanto absoluto quanto relativo, nessa condição era bem menor que o dos homens,
embora crescente.
Como já se mencionou, o fato de um indivíduo estar aposentado não significa
que ele não esteja trabalhando. Como se viu no gráfico 9, mais de 1/4 dos homens
de 62 a 72 anos trabalhavam e estavam aposentados em 2000. Por outro lado, 1/3
dos homens de 50 a 64 anos e 2/3 das mulheres não trabalhavam nem procuravam
trabalho nesse ano. Sem dúvida, tais valores refletem uma saída precoce do mercado
de trabalho, mas são mais baixos que os observados para os países da OCDE (ver
OECD, 2006). Isto nos leva a perguntar que fatores determinam essa saída precoce,
dado que a esperança de vida nas idades avançadas tem crescido muito e tem sido
acompanhada por melhorias nas condições de saúde.
15. Esta subseção está fortemente baseada em Camarano, Kanso e Mello (2004b).
16. Dados retirados do site US Census Bureau (www.census.gov) em 10/01/2007 referentes ao ano de 2006.
GRÁFICO 11
Brasil: proporção de óbitos considerados evitáveis por sexo – 2000
(Em %)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
População idosa População não-idosa
Fontes: IBGE/Censo Demográfico de 2000 e Ministério da Saúde/SIM. Elaboração: Ipea. Homens Mulheres
TABELA 9
Brasil: taxas de mortalidade da população idosa e esperança de vida ao nascer
observadas e simuladas segundo causas evitáveis – 2000
(Por mil idosos)
18. Nesse grupo de causas de morte encontram-se: tuberculose, enfermidades hipertensivas, cardiopatias e diabetes mellitus.
GRÁFICO 12
Brasil: população idosa projetada, eliminando as causas de morte consideradas
evitáveis por sexo
(Em milhões)
30
25
20
15
10
0
2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030
19. Projeções recentes para os países da OCDE apontam para 2050 valores de esperança de vida de 83,3 anos para homens e 89,1 para
mulheres. Ver Bongaarts (2006).
5 NUPCIALIDADE
A nupcialidade não é considerada uma variável estritamente demográfica, mas exerce
um papel importante na dinâmica demográfica, pois afeta e é afetada pela reprodução
populacional (fecundidade), além de exercer influência na formação e na dissolução
dos arranjos familiares. Por outro lado, igualmente importante é o seu impacto no
delineamento dos potenciais beneficiários da seguridade social; no caso, as pensões
por morte. Essa é a razão da inclusão da referida variável neste capítulo.
As mudanças sociais, econômicas e culturais afetam sobremaneira a nupcialidade.
Cita-se, entre muitas, a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho,
bem como o envelhecimento populacional. No caso brasileiro, pode-se dizer que essas
mudanças se iniciaram nos anos 1970, e seus impactos na formação das uniões
conjugais já se fazem sentir. Estar separado, divorciado ou em união consensual ou
ainda recasar-se civilmente, o que antes era permitido apenas em caso de viuvez, são
sinais de mudanças nos comportamentos preestabelecidos da sociedade tradicional.
De que maneira essas mudanças podem afetar a demanda por benefícios previdenciários
é uma das perguntas desta seção, que analisa o padrão da nupcialidade da população
brasileira e o seu calendário (idade à entrada nos eventos e duração).
Solteiro 37,89 31,54 34,67 35,77 28,71 32,16 33,71 26,13 29,81
Sep./desq./div. 1,50 3,47 2,50 2,68 6,04 4,40 6,03 10,65 8,41
Viúvo 1,78 8,09 4,98 1,62 8,16 4,97 1,98 8,26 5,21
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: IBGE/Censo Demográfico de 1980, 1991 e 2000.
a
Inclui união consensual.
GRÁFICO 13
Brasil: proporção de homens por estado conjugal e idade individual
(Em %)
90
60
30
0 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 e +
80
Casado/unido (1980) Solteiro (1980) Separado (1980) Viúvo (1980)
Fonte: IBGE/Censos Demográficos de 1980 e 2000.
Elaboração: Ipea. Casado/unido (2000) Solteiro (2000) Separado (2000) Viúvo (2000)
20. Chamada de índice de celibato. Assume-se que as pessoas que chegaram a essa idade sem se casar não se casarão mais.
GRÁFICO 14
Brasil: distribuição proporcional da população por estado conjugal segundo
sexo e idade
(Em %)
90
60
30
0
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80
Mulheres casadas Mulheres solteiras Mulheres separadas Mulheres viúvas
Fontes: IBGE/Censo Demográfico de 2000.
Elaboração: Ipea. Homens casados Homens solteiros Homens separados Homens viúvos
GRÁFICO 15
Brasil: proporção de mulheres por estado conjugal e idade individual
(Em %)
90
60
30
0
e+
22
32
42
52
62
72
24
34
44
54
64
74
28
38
48
58
68
80 78
26
36
46
56
66
76
20
30
40
50
60
70
mulheres separadas cresceu com a idade até os 42 anos e ficou constante até os 53
anos, em torno de 15%. Isso significa aproximadamente 22% das mulheres casadas
e aponta para uma continuação da queda na proporção de viúvas no futuro próximo.
Em que medida isso resultará numa diminuição na demanda por pensões por
morte, como já se mencionou, vai depender do acordo feito no momento da
separação judicial. Como se observa no gráfico 16, é crescente a proporção de
mulheres separadas na faixa etária de 40 a 59 anos que recebiam alguma renda do
trabalho. Entre as mulheres de 40 a 49 anos, essa proporção ultrapassou os 60%.
Pode-se, portanto, esperar que uma parcela expressiva dessas mulheres receba pensão
alimentícia apenas para os filhos, o que implicará uma redução da pressão por
benefícios por viuvez se elas ou os seus ex-cônjuges não se recasarem.
GRÁFICO 16
Brasil: proporção de mulheres separadas com algum rendimento do trabalho
80
70
60
50
40
30
20
10
0
30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60 e +
TABELA 11
Idade à entrada e duração no casamento e na viuvez da população brasileira
Entrada
Duração (anos)
provocará uma redução do tempo durante o qual essas mulheres receberão o be-
nefício. Como esperado, as mulheres ficam viúvas bem mais cedo que os homens
e passam muito mais tempo nessa condição e, portanto, recebendo o beneficio.
21. Os resultados dessa projeção diferem ligeiramente dos apontados pela projeção do Ipea, pela incorporação dos resultados da Pnad
de 2004 (ver IPEA, 2006).
22. Para mais detalhes sobre a metodologia, ver Beltrão, Camarano e Kanso (2004).
GRÁFICO 17
Brasil: população total e taxa de crescimento observada e projetada
(População total, em milhões) (Taxa de crescimento, em %)
250 1,6
1,4
200
1,2
150 1,0
0,8
100 0,6
0,4
50
0,2
0 0,0
2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030
GRÁFICO 18
Brasil: distribuição proporcional da população por idade e sexo
80 e +
75-79
70-74
65-69
60-64
55-59
50-54
45-49
40-44
35-39
30-34
25-29
20-24
15-19
10-14
5-9
0-4
6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0
Homens (2000) Mulheres (2000)
Fontes: IBGE/Censos Demográficos de 1970 a 2000
e Ministério da Saúde/SIM. Elaboração: Ipea. Homens (2030) Mulheres (2030)
GRÁFICO 19
Brasil: distribuição percentual da população em idade ativa, segundo
grupos etários selecionados
45
30
15
–
2000 2010 2020 2030
23. A tabela A.2 do apêndice apresenta a projeção dessa população em valores absolutos.
GRÁFICO 20
Brasil: distribuição proporcional da população idosa por idade
35
30
25
20
15
10
-
2000 2010 2020 2030
pode acontecer para os homens, mas, dada a baixa proporção de viúvos, a referida
proporção não atingiu 2%.
As perspectivas que se colocam para o médio prazo são de uma certeza da
continuação nos ganhos em anos vividos e no crescimento da população idosa,
demandante de benefícios previdenciários. Por outro lado, predomina uma incer-
teza quanto à possibilidade de renda para os idosos do futuro. É difícil acreditar
que as tradicionais maneiras de financiar a seguridade social serão suficientes para
lidar efetivamente com a população idosa do futuro num contexto de crescente
informalização da economia. Não parece que as reformas recentes serão capazes
de resolver o problema de financiamento do sistema e garantir a proteção social
para eles. Parte expressiva da geração dos idosos do futuro já vivencia os efeitos da
flexibilização do mercado de trabalho e do “engessamento” da previdência social,
o que comprometerá a sua aposentadoria mais adiante. De um exercício simples
feito neste trabalho, pode-se deduzir que dificilmente a assistência social poderá
gerar renda para esse segmento elevado da população, hoje desempregado e/ou no
setor informal, quando perder a sua capacidade laboral. Não há dúvidas de que
um dos pontos centrais de uma política de previdência social continua sendo o de
estimular o aumento da cobertura da atual força de trabalho, mas levando-se em
conta a situação de retração do emprego e de informalização generalizada.
Embora o crescimento econômico seja uma condição necessária para a in-
serção da PIA no sistema previdenciário, não parece ser suficiente. Mesmo que a
economia passe a experimentar taxas de crescimento significativas e sustentadas e
possa absorver contingentes populacionais relativamente maiores, pode-se esperar
que ainda haverá uma proporção expressiva de trabalhadores com inserção precária
no mercado de trabalho (trabalhadores sazonais, autônomos, domésticos sem carteira
assinada etc.). Portanto, uma das alternativas sugeridas é uma forma de contribuição
sazonal (única ao longo do ano), que seja compatível com o trabalho sazonal, por
exemplo. Outra é a redução do percentual da contribuição do trabalho autônomo.25
Além disso, não se pode deixar de pensar na ampliação da rede de cobertura de
benefícios não contributivos, financiados com impostos gerais, para aqueles que
de maneira alguma conseguiram ou conseguirão um histórico de contribuições.
Do lado das despesas, outras estratégias podem ser pensadas. Considerando-se
o aumento da esperança de vida nas idades avançadas, as melhorias nas condições
de saúde da população idosa e a recente preocupação com o “envelhecimento
25. Assume-se que 20% sobre 1 salário mínimo (SM) é um valor muito alto para os trabalhadores de baixa renda, o que funciona como
um desincentivo à contribuição. A Lei Complementar 123, sancionada em 12/02/2007, criou um regime especial de contribuição
previdenciária com renda de até 1 SM, definindo alíquota de contribuição de 11%.
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APÊNDICE
TABELA A.1
Taxas de crescimento da população idosa brasileira projetada eliminando as causas de
morte consideradas evitáveis por sexo
TABELA A.2
População brasileira por idade e sexo
Homens
Mulheres
Total
1 INTRODUÇÃO
Apesar de já ter quase 50 anos a enorme literatura que aborda os efeitos de dife-
rentes regimes previdenciários sobre o bem-estar, discussões a respeito de reformas
profundas têm sido motivadas menos por fatores normativos, e mais pelo insus-
tentável peso de mudanças demográficas em países industrializados.
Pelas razões discutidas no capítulo 2, a prosperidade do pós-guerra veio
acompanhada de substancial aumento do Estado do Bem-Estar, que se manifesta
particularmente com um aumento dos benefícios previdenciários e regras mais
benevolentes de idade de elegibilidade. A prosperidade econômica, contudo,
também levou à queda da natalidade e ao aumento da expectativa de sobrevida,
no primeiro caso reduzindo a base de financiamento dos sistemas previdenciários
de repartição (também chamados pay-as-you-go) e, no segundo, expandindo as
despesas em sistemas baseados em benefício definido. Como a grande maioria dos
países industrializados combinava as duas características, ao longo dos últimos 20
anos países desenvolvidos têm feito esforços para que o sistema previdenciário
caiba dentro das projeções demográficas, com a combinação de corte de despesas,
principalmente, e algum aumento das contribuições.
A resenha que se segue mostra a experiência recente de um conjunto repre-
sentativo de países industrializados. No primeiro bloco, apresento os casos de
países que têm optado por não fazer reformas estruturais, elegendo ajustes
paramétricos na fórmula de cálculo e nos critérios de elegibilidade aos benefícios.
Esses são os casos de Alemanha, França, Japão e Estados Unidos.
* Agradeço a Paulo Tafner e Fabio Giambiagi por comentários às versões anteriores deste trabalho. Eventuais falhas ou omissões
remanescentes são de minha inteira responsabilidade.
parte da execução foi feita pelos trabalhistas. Estes, por sua vez, implementaram as
reformas que melhoraram o foco do sistema estatal de pensões previdenciárias, e
encaram o desafio atual de tornar o sistema de contribuição definida (CD) capita-
lizado mais eficiente.
Este capítulo se divide em sete seções, incluindo esta introdução. Nas seções 2
e 3, o problema previdenciário é contextualizado. A seção 2 dá um panorama
geral da variedade institucional existente. A seção 3 apresenta estimativas do im-
pacto fiscal do aumento da taxa de dependência em diversos países. A seção 4
analisa o sistema de repartição com benefício definido (BD) e os casos emblemáticos
de Alemanha, França, Japão e Estados Unidos. Os dois primeiros países se carac-
terizam pela abrangência da previdência, pelo desequilíbrio atuarial e, conseqüen-
temente, por elevadas distorções no mercado de trabalho e de capitais. O Japão é
um caso interessante por estar já sofrendo conseqüências do envelhecimento da
população, e vem realizando profundas mudanças paramétricas em seu sistema de
repartição. Os Estados Unidos, por sua vez, têm algumas características atraentes
em seu sistema de BD, como o acúmulo de trust fund, que permite amortecer
choques demográficos, e a forma como complementa o sistema estatal com algum
grau de privatização.
A seção 5 apresenta o sistema de contas nocionais, uma tentativa ainda re-
cente de manter o sistema de repartição através do estabelecimento de CD. A seção
6 apresenta o caso da Austrália como exemplo de sistema de CD, capitalizado e
privado. A seção 7 discute como lidar com as restrições políticas às reformas, e
como transitar de um sistema desequilibrado e desfocado de repartição, para um
sistema estatal com melhor foco em um sistema privado complementar, eficiente.
As reformas realizadas na Inglaterra nos últimos 30 anos fazem daquele país um
exemplo importante a ser observado em vários aspectos e, por isso, o Reino Unido
é utilizado como benchmark nessa seção. A seção 8, por sua vez, conclui o texto
com uma análise das lições a serem extraídas especificamente para o Brasil.
TABELA 1
Estrutura do sistema previdenciário em países da OCDE
Alemanha AS BD (Pontos)
Austrália F CD
Bélgica F/M BD
Canadá F/B BD
Espanha M BD (Pontos)
Estados Unidos F BD
Holanda AS/B BD
Hungria M BD CD
Irlanda F/B
Itália AS CD (Nocional)
Japão B BD
Polônia M CD (Nocional) CD
Suíça F/M BD CD
Fonte: OCDE (2005).
Notas: No Reino Unido, o sistema BD privado foi excluído pela OCDE por não ser mandatório para aqueles que contribuem para o sistema
público, mas incluído pelo autor porque a contribuição é compulsória para quem opta por ficar fora do sistema público.
Diferentemente da OCDE, o sistema de pontos foi classificado como BD.
Primeiro pilar: cobertura universal, redistributivo. Assistência social (AS) refere-se a programas gerais de renda mínima que também, mas não
exclusivamente, atendem ao idoso; Programas focados (F) referem-se àqueles voltados ao idoso, mas que têm testes de rendimento (means
tested); Esquemas básicos (B) têm um benefício nominal fixo e/ou são universais, ou exigem um número mínimo de contribuições; Previdência
mínima (M) corresponde à parte redistributiva de esquemas BD.
Segundo pilar: compulsório, com caráter de seguro. Inclui esquemas quase mandatórios com cobertura ampla.
147
Canadá 30 0,63 60-65 8,7 57,1
Dinamarca 34 1 65 7,8 54,1
e
Espanha 33 3 60-65 13,2 88,3
Estados Unidos 20 0,91 62-65 7,3 51,0
b
França 31 1,75 60 11,7 68,8
c
Holanda 34 1,75 60-65 12,7 84,1
Hungria 22 1,22 8 62 14,6 90,5
Irlanda 31 65-66 6,5 36,6
Itália 22 60-65 12,8 88,8
Japão 19 0,71 60-65 9,8 59,1
d
Noruega 33 1,05 67 10,1 65,1
Polônia 24 0,67 7,3 H:65; M: 60 9,7 69,7
Reino Unido 33 0,89 65 7,1 47,6
b
Suécia 34 1,21 4,5 61-65 10,9 68,2
Suíça 26 H: 63-65;M:62-64 11,7 67,3
Fonte: OCDE (2005).
a
Referente a um ano de contribuição.
23/3/2007, 15:42
b
Cresce com o salário.
c
Varia com o esquema ocupacional.
d
SISTEMAS DE PREVIDÊNCIA EM PAÍSES INDUSTRIALIZADOS: A CRISE E SUAS SOLUÇÕES
TABELA 4
Variação nas despesas previdenciárias – países selecionados
(Em % do PIB)
1. No caso italiano, a despesa com benefícios chega a atingir o pico de 15,9% do PIB entre 2000 e 2050, mas depois recua e alcança
13,9% do PIB.
GRÁFICO 1
Imposto (+) ou subsídio (–) implícito nas regras previdenciárias, por idade para homens
(Em %)
70
60
50
40
30
20
10
0
–10
–20
–30
55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69
Fontes: Alemanha: Börsch-Supan e Schnabel (1999) – não considera reforma de 2001; Japão: Yashiro e Oshio (1999) – não considera França Alemanha
reforma de 2001; Estados Unidos: Diamond e Gruber (1999); e França: Walraet e Mahieu (2004) – considera somente o setor privado. Japão Estados Unidos
GRÁFICO 2
Saída da força de trabalho, como percentual da força de trabalho
com a idade anterior: homens
(Em %)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65
corresponde a quase 70% dos homens trabalhando aos 59 anos. Tanto na Alemanha
quanto na França, existe uma fração substancial dos homens reduzindo o número
de horas trabalhadas abaixo de 10 horas semanais mesmo antes da idade normal
de aposentadoria, em função das generosas provisões de seguro-desemprego, que
para faixas de idade elevadas não estão freqüentemente sujeitas a contrapartidas.
Exceto no caso dos Estados Unidos, existe um aumento da taxa de saída aos
60 anos, o que replica exatamente a forma do gráfico 1. Nos Estados Unidos, as
alíquotas implícitas no sistema de previdência não são capazes de explicar o pico
na idade de 62 anos, nem mesmo a freqüência de saída aos 65. Como vimos no
capítulo 2, para entender o acentuado pico aos 62, que é a idade de aposentadoria
precoce nos Estados Unidos, é necessário desagregar os dados e observar que indi-
víduos mais pobres – portanto mais propensos a ter acesso restrito a crédito – são
os que se aposentam nessa idade. O pico acentuado aos 65 anos é explicado pelo
acesso ao Medicare, seguro-saúde gratuito e público, só permitido a partir dessa
idade, desde que o indivíduo esteja aposentado – ou seja, esteja recebendo previ-
dência. A seguir, descrevem-se os sistemas de Alemanha, França, Japão e Estados
Unidos em mais detalhes.
TABELA 5
Potencial redistributivo do sistema previdenciário
Taxa de reposição líquida, por faixa de renda – rendimentos individuais em múltiplos da média
Alemanha 61 67 72 79 67 54
Austrália 77 61 53 43 37 31
Estados Unidos 61 55 51 45 39 36
França 84 71 65 59 55 53
Itália 89 88 89 88 89 89
Japão 80 66 59 52 44 36
Reino Unido 78 58 48 38 30 25
Suécia 90 76 68 70 74 75
Fonte: OECD, 2005.
TABELA 6
Cálculo do benefício definido (segundo pilar compulsório)
Estados Unidos Melhores 35 anos índice salarial até 60 anos índice de preços
índice de preços de 62 a 67
para a saída da força de trabalho aos 60 anos (gráficos 1 e 2). A reversão demográfica
implicará grandes perdas fiscais nos próximos 50 anos, com um aumento da taxa
de dependência levando isoladamente a aumento das despesas de 7,6% do PIB
(tabela 5). Na medida em que os benefícios são reajustados pela taxa de inflação,
e não pelo aumento do salário médio da economia, aumentos de produtividade
levariam à queda das despesas com benefício, como proporção do PIB, não fosse
o problema demográfico. Como os incentivos à aposentadoria precoce são muito
grandes, a situação previdenciária da França é grave.
Antes de 1972, a idade normal de aposentadoria era de 65 anos, e poucas
possibilidades para aposentadoria precoce estavam disponíveis. Em 1972, foi
introduzida uma série de provisões através de programas de garantia mínima de
renda para desempregados com mais de 60 anos. A partir de 1983, a idade normal
de aposentadoria passou para 60 anos, desde que se tenha contribuído um deter-
minado número de anos (como veremos adiante). No início da década de 1990, o
sistema geral passou por uma reforma (Reforma Balladur), com a finalidade de
aumentar sua capitalização. A conseqüência foi um aumento programado do nú-
mero de anos de contribuição, que atingiu principalmente a fórmula de cálculo
do benefício, deixando o critério de elegibilidade intocado.
Outro aspecto característico do sistema é a multiplicidade de regimes, que
combinam pilares públicos assistenciais e contributivos com pilares privados
ocupacionais compulsórios de BD, o que torna a taxa de reposição extremamente
elevada se considerarmos a pensão ocupacional. A multiplicidade de regimes torna
o sistema muito complexo. O típico aposentado francês tem seus benefícios oriundos
da combinação do regime geral básico e de um esquema complementar ligado à
categoria socioprofissional a que pertença – Association de Régimes de Retraite
Complémentaires (ARRCO) e Association Générale des Instituitions de Retraite
des Cadres (AGIRC).2 Tanto o primeiro quanto o segundo pilar são típicos regimes
de BD não capitalizados (ou seja, são pay-as-you-go). Além disso, existe uma apo-
sentadoria mínima (means tested) para pessoas com mais de 65 anos sem renda
suficiente (minimum vieillesse), mas cujos recipientes vêm se reduzindo ao longo
do tempo com o aumento da generosidade do sistema geral.3
O segundo pilar compulsório é predominantemente contributivo. Pensões são
computadas de acordo com um sistema de pontos. Pontos são acumulados durante a
2. Existiam cerca de 180 regimes complementares em 2005. Regimes especiais para trabalhadores agrícolas e por conta própria em geral
estão entre os muitos casos particulares. Outros trabalhadores com regimes especiais incluem trabalhadores de minas, empregados de
ferrovias, empregados de monopólios naturais (public utilities), entre outros. Existiam cerca de 120 primeiros pilares em 2005. Funcionários
públicos não têm regimes especiais, pois a aposentadoria destes não tem base contributiva e é financiada exclusivamente por impostos gerais.
3. Em 1959, o número de elegíveis era de 2,55 milhões, tendo caído em 2005 para 1 milhão.
4.3 Japão: importantes lições sobre reformas possíveis sob estresse fiscal
Se as atuais projeções demográficas do Japão forem mantidas, em 2050 a população
do país estará de volta à casa dos 100 milhões (sendo hoje de 127 milhões). Em
nenhum país industrializado a reversão demográfica tem sido tão rápida quanto
lá. A taxa de dependência – relação entre a população com mais de 65 anos e a
população entre 20 e 64 – em 1930 era de 10%, subiu gradualmente até alcançar
24% em 1995, e será de 48% em 2025. Como se não bastasse, o Japão também
teve um problema de baby boom no pós-guerra, quando a taxa de natalidade era
cerca de 40% mais alta do que nos anos que se sucederam.
Com efeito, a despesa com benefícios previdenciários em 1994 já chegava a
17,8% do PIB em 1997, sendo metade disso na forma de despesas com benefícios
e a outra metade na forma de seguro-saúde universal. A renda de benefícios repre-
senta cerca de metade da renda entre as famílias cujo chefe tem mais de 65 anos. O
programa previdenciário japonês consiste de uma pensão vitalícia e um seguro-
saúde, ambos universais, cobrindo inclusive trabalhadores por conta própria e
desempregados. Os benefícios cobrem 60% do salário ao longo da vida.
Embora a previdência sem base contributiva exista desde a década de 1870,
e a aposentadoria com base contributiva desde os anos 1920, até 1973 benefícios
previdenciários eram relativamente baixos. A ampliação do escopo gerou
desequilíbrios que, combinados com a crise dos anos 1990 e com o agravamento
do envelhecimento da população, levaram a reformas de 1994 e de 2000.
Empregados estão sujeitos a dois pilares. No primeiro pilar (Pensão Básica –
Kiso Nenkin), os benefícios são vinculados ao número de contribuições, mas não
ao valor delas, com idade mínima de 65 para acessá-los. O segundo pilar – Kosei
Nenkin Hoken (KNH)4 – vincula mais fortemente contribuição e benefício e consiste
no chamado “Seguro de Pensão do Empregado”. O beneficiário deve ter 60 anos,
4. Na realidade, existem oito esquemas alternativos para o segundo pilar, mas o KNH domina os demais, na medida em que 85% da força
de trabalho estão filiados a esse esquema público. Empregados de governo, professores de escolas particulares e empregados em
agricultura e atividades extrativas são cobertos por programas especiais fornecidos por “associações de ajuda mútua” (Kyosai-Kumiai),
mas que na prática têm esquema muito parecido com o KNH.
altos salários de trabalhadores com idade a partir de 65 anos. Foi criado um meca-
nismo pelo qual de cinco em cinco anos o sistema seja revisado, e os valores
paramétricos ajustados a novas condições demográficas.
De uma forma geral, o sistema de repartição japonês tem taxas de reposição
mais baixas do que seus congêneres alemão e francês. Também incentiva menos a
aposentadoria precoce, como mostrado no gráfico 1, e tem sido submetido a re-
formas mais ambiciosas do que os demais. As reformas implementadas sinalizam
para o curso dos acontecimentos futuros em países que tentarem manter o sistema
de repartição combinado com BD. Não há como fugir de pesados custos de ajus-
tamento, e a experiência japonesa nos ensina que tais custos, quando diluídos por
um número maior de gerações, enfrentam menores resistências. Em função de tais
ajustes, a partir de agora o Japão deverá estabilizar o déficit previdenciário no
patamar atual. Nota-se, pela tabela 4, que as despesas com benefícios devem subir
apenas 0,6% do PIB até 2050, apesar do forte impacto demográfico ainda por vir.
Isso ocorrerá principalmente em função dos substanciais cortes de benefícios
previdenciários por beneficiário. Tudo mais constante, a reforma japonesa levaria a
uma futura redução dos benefícios previdenciários em 3,9% do PIB.
5. Nos Estados Unidos, empregados também podem escolher uma conta de previdência em que parte do salário é diretamente deposi-
tada pelo empregador, e usufruir de alíquota de imposto de renda reduzida (são os chamados planos 401k, instituídos em 1978).
qual geração incidirá o peso do ajuste. Até agora, os diversos conflitos existentes,
entre pobres e ricos, velhos e jovens, têm adiado uma solução definitiva sobre
quem custeará a transição para um sistema equilibrado.
6. Este último é um problema mais sensível na Itália, onde o nível de informalidade da força de trabalho pode levar o sistema à
bancarrota por causa da fórmula de reajuste de benefícios.
que pode ser substancial. Para evitar que toda a renda previdenciária esteja acoplada
a “ativos” de baixa rentabilidade, o programa sueco institui um sistema de contri-
buição definida investment-based, como um segundo pilar. A taxa de contribuição
compulsória de 18,5% do salário é dividida em 16% para alimentação do sistema
de repartição nocional e 2,5% revertidos para contas individuais geridas pelo setor
privado, com plena liberdade de alocação de portfólio e forte concorrência entre
fundos. A Polônia, em contrapartida, define um primeiro pilar nocional, para o
qual direciona 12,2% do salário bruto, e um segundo pilar CD baseado em
portfólio, para o qual são transferidos compulsoriamente 7,3% do salário bruto.
Contudo, trata-se de uma exceção, já que a maioria dos países que adotaram CDN
não complementou o esquema com um CD baseado em portfólio, conforme
mostra a tabela 7.
Quarto, o sistema nocional é neutro do ponto de vista distributivo. A alteração
dessa propriedade quebraria, contudo, seu principal atrativo, que é o vínculo entre
contribuição e benefício. Assim, um mecanismo dessa natureza tem de ser acom-
panhado de uma rede de assistência social que pode ser tanto parte de um primeiro
pilar que pague benefícios mínimos (como no sistema inglês e australiano), ou
totalmente separado do programa previdenciário (como feito na própria Suécia,
que possui um vasto Estado do Bem-Estar).
Um quinto problema reside na reforma previdenciária em situação de stress
fiscal (VALDÉS-PRIETO, 2000). A Polônia, por exemplo, instituiu regimes nocionais
quando seu sistema previdenciário de BD apresentava déficit corrente. A definição
do sistema CDN garante o equilíbrio para os novos contribuintes, mas não resolve
TABELA 7
Alíquotas em países com contas nocionais
(Em %)
carga tributária na maior parte dos países que compraram a valor de face o Estado
provedor geraram a onda revisionista dos anos 1980/1990. Especificamente no
caso do debate sobre sistemas previdenciários, os modelos alternativos pertencem
justamente àqueles países que não adotaram o regime de repartição, ficando apenas
no primeiro pilar redistributivo básico.
Nesta seção, discutem-se os casos da Irlanda e da Austrália, ícones do que há
de mais liberal em matéria de previdência. O que há de comum nesses dois modelos?
A existência de um primeiro pilar redistributivo, e com suficiente amplitude. A
Irlanda tem apenas esse pilar básico, ao passo que a Austrália acrescentou, na
década de 1980, um segundo pilar compulsório de contas individuais capitalizadas,
vinculadas ao empregador. Por esse último aspecto, a Austrália servirá como
benchmark na análise da seção. É necessário, antes de prosseguir, deixar claro que
os países em questão nunca tiveram sistemas de repatição, e, portanto, não houve
custos de transição na sua adoção, como no caso dos países que adotaram CD
(nocional ou capitalizada) a partir de sistemas desequilibrados.
No caso da Irlanda, o primeiro pilar paga um benefício uniforme, que não
depende do salário de contribuição, mas apenas do número de contribuições. O
valor do benefício, que pode ser pleiteado a partir dos 65 anos de idade, era equi-
valente, em termos nominais, a 30% do salário médio da economia em 2005.
Existe também um programa de renda mínima para o idoso com mais de 66 anos,
para indivíduos com insuficiente estoque de ativos. Ambos os benefícios são rea-
justados pelo crescimento do salário médio da economia.
No caso da Austrália, a pensão básica universal é sujeita a testes de rendi-
mento. O valor do benefício é reajustado duas vezes ao ano com base na taxa de
inflação, de forma a manter-se em cerca de 25% do salário médio da população
economicamente ativa (PEA). Suplementação adicional é destinada à compra de
medicamentos, ao pagamento de salário de enfermeiro (day care), ao pagamento
de aluguel de moradia, e ao financiamento da assinatura de telefone, o que acaba
dobrando o benefício de aposentadoria.
A pensão é disponibilizada para homens acima de 65 anos e mulheres acima
de 60 anos,7 podendo ser diferida por no máximo cinco anos. O benefício é reduzido
se o valor dos ativos (excluída a moradia própria) atingir um determinado limiar.
Os benefícios são cortados em 0,3% para cada dólar australiano de ativos exce-
dentes ao valor de teste. Os limites em que o corte de benefícios começa a operar
são altos e existe substancial oportunidade de arbitragem quanto à composição da
7. A elegibilidade das mulheres tem sido aumentada gradualmente para 65 anos até 2014.
8. Naturalmente, fundos centralizados estão sujeitos aos mesmos riscos políticos importantes mencionados no caso de sistemas BD
capitalizados, já que a escolha de ativos pode estar sujeita a outros critérios além da maximização do valor presente dos benefícios.
renda anuitizada e, mais importante, evita-se que o cotista dilapide seu próprio
patrimônio a fim de tornar-se elegível para o programa de renda mínima (WALLISER,
2000).
Por último, o funcionamento eficiente do mercado de perpetuidades depen-
derá da disponibilidade de títulos de longo prazo indexados à inflação, nos quais
o saldo das contas individuais no momento da aposentadoria possa ser convertido
com baixo custo de transação. Em países desenvolvidos, a evidência de existência
desse mercado é bastante heterogênea, e depende principalmente de o governo ter
parte da dívida pública indexada à taxa de inflação. No Reino Unido, por exemplo,
tais títulos compõem parte substantiva da dívida do Tesouro, ao passo que nos
Estados Unidos títulos públicos nesse formato são praticamente inexistentes. Isso
faz com que o prêmio do seguro contra inflação cobrado no mercado de perpetui-
dades seja em torno de 15% nos Estados Unidos e 10% no Reino Unido. O custo
de proteção contra a inflação será um fator crítico no desenvolvimento de um
mercado de perpetuidades em qualquer país que queira instituir um sistema de
CD eficiente.
Contudo, o grande mérito da sociedade inglesa foi eleger governantes que optaram
por manter e, mais importante, aprofundar as reformas iniciadas por Thatcher.
O sistema se baseia em um esquema de dois pilares. O primeiro pilar inglês
resulta da composição da Pensão Básica Estatal – Basic State Pension (BSP) – com
a Renda Mínima Garantida – Minimum Income Guarantee (MIG). O segundo
pilar, contudo, é o que há de mais interessante, podendo ser fornecido de forma
concorrente por governo, empregadores, ou por instituições financeiras. Profundas
reformas foram feitas no sistema estatal, que reduziram sua atratividade para indi-
víduos de renda média e alta, mas mantiveram seu caráter de seguro contra
longevidade para pessoas mais pobres. Tanto o primeiro quanto o segundo pilar
estatal são financiados mediante uma contribuição única, a National Insurance
Contribution (NIC).
O primeiro pilar tem dois componentes, o BSP, que é uma parte lump sum
(com fraca dependência da contribuição), e o MIG, uma parte lump sum sujeita a
testes de rendimento. O BSP consiste em uma renda mensal equivalente a cerca
de 15% do salário médio da força de trabalho em 2003, reajustada pela inflação.
O acesso ao benefício máximo depende de contribuições feitas (ou créditos recebidos)
em 90% da vida laboral, o que implica contribuições feitas durante 44 anos para
homens e 39 anos para mulheres (à medida que mulheres passem a se aposentar
com 65 anos, como veremos adiante, a exigência para as mulheres se igualará aos
homens). Contudo, o sistema concede isenção de anos de contribuição, na forma
de créditos, para desempregados, ou doentes, ou inválidos. Também a não parti-
cipação na força de trabalho causada pela presença de crianças em casa recebe
créditos para a aquisição da pensão básica (Home Responsibility Act, 1978). Tony
Blair introduziu, em 1999, o MIG, uma suplementação adicional para pessoas de
baixa renda, cujo valor é de cerca de 20% do salário médio, reajustados pelo
crescimento da massa salarial. Sendo o BSP reajustado pela inflação, a taxa de
reposição em relação ao salário tem caído ao longo do tempo, devido ao cresci-
mento da produtividade do trabalho (nos anos 1980, correspondia a cerca de
20% do salário médio da força de trabalho), enquanto o MIG acompanha o cres-
cimento da produtividade.
O segundo pilar tem passado por importantes transformações depois de Tony
Blair e, por isso, uma breve resenha histórica permite entender melhor sua com-
posição. Foi criada em 1978 uma pensão estatal com base em repartição e BD,
chamada State Earnings-Related Pension Scheme (SERPS). Esta pagava a um in-
divíduo 25% do salário médio, calculado a partir dos melhores 20 anos da vida
laboral. Rendimentos ao longo da vida eram reajustados pela taxa de crescimento
da massa salarial até a idade de aposentadoria (60 anos para mulheres e 65 para
homens), e benefícios eram reajustados pela inflação a partir da aposentadoria. Viú-
vas (ou viúvos) poderiam herdar 100% dos benefícios do esposo (ou esposa).
Indivíduos podiam substituir os benefícios do SERPS (contract out) por esquemas
ocupacionais de pensão, desde que estes garantissem pelo menos o valor dos bene-
fícios do esquema estatal. A exigência implicava a impossibilidade de criação de
pensão ocupacional baseada em CD, mas apenas sistemas de BD. Em troca, a
contribuição previdenciária para o governo seria reduzida (a idéia é que financiasse
somente o pilar básico).
Em face dos problemas fiscais decorrentes da configuração original do SERPS,
o período dos governos conservadores (Margareth Thatcher e John Major) foi
marcado por mudanças fundamentais no sistema, caracterizadas por dois objetivos
básicos: reduzir os custos fiscais do sistema público e tornar mais eficientes os
mecanismos privados substitutos. Embora o primeiro objetivo tenha sido larga-
mente alcançado, o segundo foi objeto de importantes correções adicionais por
Tony Blair, sendo ainda causa de preocupações, como veremos.
Em relação às reformas previdenciárias de natureza fiscal feitas no período
dos governos conservadores, as mais importantes foram a) a instituição de reajuste
pela inflação tanto de benefícios quanto dos salários de contribuição ao longo da
vida (Social Security Act ,1980); b) a instituição de um cronograma de dez anos
de aumento da idade de elegibilidade da mulher de 60 para 65 anos, começando
em 2010 (Pension Act, 1995); c) redução dos benefícios do SERPS de 25% da
média dos melhores 20 anos de salários para 20% da média salarial ao longo de
toda a vida laboral, começando em 1999 e sendo gradualmente implementado
por um período de dez anos (Social Security Act, 1986); e d) redução, a partir de
2001, da pensão por viuvez, de 100% para 50% do benefício original (Social
Security Act, 1986). O efeito estimado do corte de despesas com SERPS uma vez
que todas essas provisões estivessem ativas é de cerca de 2/3 dos gastos no nível
prévio à reforma (BLAKE, 2002).
Como um corte fiscal de tanta intensidade conseguiu reunir apoio político
para ser implementado? Por duas principais razões: primeiro, porque foi progra-
mado com cerca de dez anos de antecedência, e, uma vez iniciada, a transição dura
dez anos. O gradualismo diluiu o efeito entre diversas gerações envolvidas, o que
permitiu reduzir resistências. A antecedência reduziu o valor presente da perda de
renda previdenciária para as gerações de eleitores, transferindo parte do ajuste
para não-eleitores (ou, de outro modo, retirou o peso da reforma sobre grupos de
idosos – com forte poder de lobby – para indivíduos de meia-idade, atenuando a
9. O Contracted-Out Salary-Related Scheme (COSRS) é um BD tradicional que deve garantir um benefício pelo menos tão elevado quanto
o SERPS, sendo um sistema remanescente da reforma de 1978. O Contracted-Out Money-Purchase Scheme (COMPS) é um CD que exige
contribuições individuais pelo menos tão grandes quanto o tax rebate governamental decorrente da substituição do SERPS. O Contracted-
Out Mixed Benefits Scheme (COMBS) é um BD que permite uma combinação entre benefícios mínimos e contribuições mínimas para
poder substituir o SERPS. O Contracted-Out Hybrid Scheme (COHS) fornece pensões usando uma combinação de elementos BD e CD. Em
todos esses esquemas, existe provisão para contribuições voluntárias além da regulamentar até determinados limites. Além disso, podem
existir fundos ocupacionais que se constituam como terceiro pilar, desde que desenhado em duas formas alternativas. O Contracted-In
Salary-Related Scheme (CISRS) é um plano BD que fornece uma pensão associada ao salário, em adição a um segundo pilar estatal. Ou
seja, é um clássico fundo de pensão ocupacional como temos no Brasil. O Contrated-In Money Purchase Scheme (CIMPS) é um plano CD
que suplementa a pensão do SERPS.
10. Esquemas de pensão privada administrada por instituições financeiras podem ser de três tipos: o chamado esquema de pensão
pessoal ou Personal Pension Schemes (PPS); o PPS agrupado – tendo sido estes dois primeiros criados sob a gestão conservadora; e a
recente criação de Tony Blair, o Stakeholder Pension Scheme (SPS). O PPS pode ser de dois tipos, a chamada “Appropriate PPS”, que
constitui um esquema no qual o indivíduo não contribui diretamente para a conta individual, e os aportes se resumem ao tax rebate do
governo e à contribuição patronal. Uma segunda conta, com as mesmas características da primeira, é formada dos aportes individuais até
o limite de isenção de rendimentos pela receita federal. O PPS agrupado se trata de uma PPS para empresas com poucos empregados,
que agrupa todas as contas individuais de forma a reduzir os custos administrativos do sistema.
8 CONCLUSÃO
Neste capítulo, foi apresentada a experiência de países industrializados com a pre-
vidência social. Regimes são predominantemente de BD não capitalizados, e a
maior parte dos países tem um primeiro pilar redistributivo. Mudanças
demográficas, como o envelhecimento da população, colocam limites na natureza
de repartição da grande maioria dos países. Além disso, esquemas de BD em con-
junto com programas de seguro-desemprego potencialmente distorcem as decisões
de oferta de trabalho de homens e mulheres. Saída precoce da força de trabalho,
combinada com o aumento da taxa de dependência, levará os sistemas
previdenciários à insolvência caso reformas substanciais não ocorram.
A sobrevivência de sistemas de repartição dependerá de algumas medidas
fundamentais. Sem exceção, todos os países analisados aqui tomaram medidas
nos últimos anos que reduzem o desequilíbrio atuarial da previdência. A opção
predominante é pelo corte do valor presente das despesas previdenciárias através
da combinação de: a) aumento da idade de elegibilidade para aposentadoria (como
em Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha); b) indexação dos benefícios
previdenciários pela inflação, e não pela massa salarial (como feito por França e
Inglaterra); c) eliminação da diferença na idade mínima entre homens e mulheres,
como em todos os países da OCDE, com a exceção de Polônia e Suíça; e d)
utilização da inteira vida útil do trabalhador como base de cálculo do benefício, e
não dos últimos anos da vida laboral, como em quase todos os países da OCDE.
Em vez de perseguir o equilíbrio atuarial do sistema como um todo, uma
alternativa que tem sido adotada por alguns países é o aumento do vínculo entre
contribuição e benefício ao nível individual, ou seja, vinculando cada real de con-
tribuição ao direito a um real de benefício, em valor presente. Alguns países têm
tentado vincular contribuição e benefício, mantendo o sistema de BD. Fazem-no
através de um esquema de pontos, como França e Alemanha, e de certa forma têm
fracassado em evitar déficits atuariais. Por outro lado, sistemas atuarialmente jus-
tos têm sido instituídos por Itália e Suécia, através das contas nocionais. Tal opção
implica o abandono do BD e a adoção de CD, pela qual todo ou parte substancial
do risco demográfico é transferido para o “poupador”. Ou seja, na hipótese de má
performance econômica ou demográfica, o corte de despesas com benefícios é
imediato e independe da escolha dos burocratas, do eleitor mediano, ou dos lobbies
dos diferentes grupos envolvidos. O sistema se equilibra automaticamente sem
interferência do processo político.
A não adoção do sistema de repartição tem sido a escolha de uma minoria de
países, como Irlanda e Austrália, que optaram por um pilar básico de renda mínima
grande o suficiente para proteger os mais pobres na velhice, deixando aos demais
a opção (no caso da Irlanda) ou a obrigação (no caso da Austrália) de poupar para
aposentadoria em um fundo de CD (predominantemente ocupacional). A regulação
inadequada, contudo, pode levar a uma baixa ou excessiva anuitização dos ativos
previdenciários. Na fase de saque dos fundos, a obrigatoriedade de anuitizar parcela
do saldo é fundamental para eliminar problemas potenciais de seleção adversa e risco
moral, como fizeram Inglaterra e Chile (não coberto neste capítulo). A excessiva
liberalidade da Austrália parece estar gerando os problemas para os quais a literatura
teórica nos alerta (vistos no capítulo 2). No outro extremo, a excessiva anuitização,
como em Cingapura, também gera perdas de eficiência importantes. Na fase de
acumulação, a regulação deve atentar para a manutenção de equilíbrio competitivo
na indústria de fundos. Demasiada liberdade de migração pode levar a despesas
excessivas com propaganda e baixas economias de escala, gerando altas taxas de
administração. Liberdade na alocação de portfólio pode ou não levar a ganhos de
eficiência. Problemas de informação assimétrica entre poupador e gestor do fundo
podem acarretar má gestão de riscos e perdas substanciais. A opção por uma
regulação nos moldes do terceiro pilar de Basiléia II (market discipline) para a
indústria de fundos de pensão é potencialmente mais eficiente do que uma regulação
que introduza restrições alocativas. Isso implicaria exigências de grande transpa-
rência por parte dos fundos de pensão em relação às exposições aos riscos. Grandes
lições podem ser extraídas a partir dos estudos de casos e estudos econométricos
feitos com a indústria bancária (por exemplo, BARTH; CAPRIO; LEVINE, 2006).
A experiência da Austrália, embora atraente, não serve de exemplo para o
Brasil, porque eles não tinham previamente um sistema de repartição desequilibrado
quando adotaram o sistema capitalizado. No caso brasileiro, a transição envolveria
sanar os desequilíbrios atuariais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
como primeira etapa, o que certamente exigirá corte de benefícios nos moldes
adotados por todos os países da OCDE. Aqueles que não fizeram corretamente
esse dever de casa, como a França, correm o risco de encarar corte de benefícios
drásticos pela mera insolvência do sistema, ou ter de aumentar a alíquota de con-
tribuição além de níveis já extremamente elevados (o que certamente levará à
estagnação econômica).
Nesse sentido, a lição para o Brasil é cortar as despesas previdenciárias se-
guindo a check list exposta no segundo parágrafo desta conclusão. Instituir uma
idade mínima e aumentá-la gradualmente. Indexar benefícios à inflação, e não ao
salário mínimo, para permitir que ganhos de produtividade da economia não
gerem mais despesas com benefícios, e sim contribuam para equilibrar o sistema.
Eliminar gradualmente a diferença na idade de elegibilidade entre homens e mulheres.
Uma vez que práticas prudenciais sejam adotadas pela indústria de fundos
de pensão, plena liberdade alocativa deve ser concedida. Diversidade de opções de
risco e retorno é sempre bem-vinda, desde que poupadores tenham noção clara do
trade-off existente entre o primeiro e o segundo. Tal liberdade deve inclusive permitir
que indivíduos que decidam sair do sistema estatal possam escolher entre sistemas
de CD, de BD ou uma combinação desses dois tipos. A liberdade alocativa da fase
de acumulação de fundos não deve ser inteiramente transportada para a fase de
saques, em que um componente obrigatório mínimo de anuitização deve ser parte
integrante do desenho regulatório, como as experiências chilena e inglesa mostraram.
Países industrializados estão sofrendo agora as conseqüências de substanciais
aumentos na taxa de dependência de seus sistemas de repartição. O Brasil sofreu
choque dessa natureza após a Constituição de 1988, e está por sofrer outro de
magnitude semelhante em função do envelhecimento de sua população. Uma
reforma profunda deverá reduzir as distorções nos mercados de trabalho e de
capitais decorrentes da previdência brasileira. Um futuro sistema deverá ser mais
bem focado e mais eficiente do que o atual, dirigindo recursos públicos para quem
realmente precisa. As reformas serão profundas, e seu impacto redistributivo criará
resistências. O gradualismo e a antecipação serão ferramentas essenciais para
contorná-las, como ensina a experiência inglesa. A coragem para enfrentá-las exigirá
maturidade política dos Poderes Legislativo e Executivo. O bônus virá na forma
de um Estado mais leve e uma economia mais dinâmica.
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Milko Matijascic**
1 INTRODUÇÃO
A organização de sistemas previdenciários nos países em desenvolvimento nunca
atingiu a abrangência em termos de cobertura que foi observada nas sociedades da
Europa ocidental e nórdica. Nesses países a cobertura virtual é de 100% para os
riscos de idade avançada, invalidez, morte prematura e desemprego, enquanto em
países como os da América Latina essa cobertura oscila entre 25% e 65% da
População Economicamente Ativa (PEA), dependendo das condições econômicas
locais e da legislação vigente. Os níveis mais baixos de rendimento, conjugados a
situações de ocupação precárias e relações instáveis de trabalho, sempre represen-
taram um desafio no sentido de promover transferências regulares de recursos
para fins de contribuição (MERRIEN; PARCHE; KERNEN, 2005).
Nesse cenário, a conseqüência inevitável é que as finanças dos sistemas
previdenciários tendem a ser frágeis, ainda que os níveis de cobertura populacional
sejam restritos. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(CEPAL, 2006), a irregularidade da trajetória profissional, associada às flutuações
econômicas intensas, não conseguiu criar condições de estabilidade. Em geral, a
organização da previdência esteve longe de poder conceder uma reposição de renda
suficiente ao trabalhador num contexto de deficiências estruturais das economias
* O autor gostaria de agradecer a Maurício Coutinho, François Merrien, Lena Lavinas, Fabio Giambiagi e Paulo Tafner pelos amplos e
detalhados debates que envolveram a elaboração do presente texto e os estudos referentes às reformas da previdência no Brasil e na
América Latina. As idéias aqui expostas refletem muito desse amadurecimento intelectual ao longo dos últimos anos. Sem a colaboração
de Stephen Kay e Monica Ospina, o estudo não teria sido viável. Este trabalho utiliza muitos argumentos e indicadores expostos
anteriormente em Matijascic (2002), Matijascic e Kay (2006; 2007) e Matijascic, Ospina e Kay (2007). Este texto é uma versão corrigida
de capítulo de livro sobre reforma da previdência, apresentado ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A presente formula-
ção analítica e de estrutura e argumentação e a forma como os dados foram citados e apresentados são de responsabilidade exclusiva
do autor.
1. A afirmação trata dos pólos antagônicos, conforme assinalou a Cepal (2006). Essa abordagem se justifica para permitir a análise
teórica e a compreensão dos modelos. Entre os pólos assinalados existem inúmeras alternativas que conjugam essas modalidades em
diferentes pilares. Vale registrar que as reformas paramétricas foram afetadas pelas novas concepções com a criação da capitalização
escritural, ou notional defined accounts (NDC), em que o valor do benefício vai depender do total de contribuições, corrigidas por índices
de preços, renda e/ou salários, acrescidas de um juro atuarial arbitrado por legislação. Mas, conforme apontou Cichon (1999), essa
modalidade é uma forma renovada de regime financeiro de benefícios definidos, pois a regra de fixação do valor das aposentadorias não
dependerá do comportamento da conta individual em relação às oscilações de mercado. Ela dependerá do esforço para contribuir e de
uma taxa de retorno arbitrada por lei, seguindo os preceitos do seguro social clássico.
QUADRO 1
Estrutura previdenciária segundo a abordagem de reforma
Características Paradigmáticas Paramétricas
Compulsório para todos os Não introduz. Pode introduzir NDC –
Pilar de capitalização e contas
trabalhadores em similar ao fator previdenciário do
individuais
determinada faixa de renda Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
Estatal (pode não existir) Estatal (se existir). Pode ser separada
Gestão de benefícios assistenciais
Separado da previdência ou conjunta
Fiscaliza e pode gerir fundos Fiscaliza e pode gerir fundos
Papel do Estado após as reformas
Regulamenta Regulamenta
Em separado, pilares 2 e 3
Riscos de invalidez e morte
(seguradoras) Em conjunto em todas as situações
prematura
Em conjunto no pilar 1
Gestão tende a se dar com
Riscos de acidentes de trabalho Em conjunto na maioria das situações
instituições específicas
Impostos, pilar 1 Impostos e contribuições de empregados
Fontes de financiamento Descontos dos rendimentos dos e patrões no pilar 1
segurados nos pilares 2 e 3 Segurados e patrões nos pilares 2 e 3
Repartição, pilar 1, e capitalização Repartição, pilar 1, e repartição ou
Regime financeiro
no 2 e no 3 capitalização nos demais pilares
Benefícios definidos, pilares Benefícios definidos, pilares 0 e 1, e
Planos de benefícios 0 e 1, e contribuições definidas contribuições definidas em 3 (não existe
em 2 e 3 pilar 2)
Estatal, com tendências à criação Estatal, geralmente exercida diretamente
Regulação
de agências específicas pelo Estado ou através de autarquias
Custo de transição Pago pelo Estado Não aplicável
Fonte: Matijascic (2002).
QUADRO 2
Mudanças nos parâmetros de aposentadoria para benefícios por idade em países
a
selecionados
500 semanas
México 65 65 15,5 16,5-21 25
(aprox. 9,5 anos)
2. A maioria dos estudos vem adotando a terminologia proposta por Mesa-Lago (2004), que propõe outra taxonomia para as reformas
paradigmáticas (estruturais, segundo o autor), considerando-as como substitutivas, paralelas ou mistas. Em outras palavras, a reforma
não é considerada em si, mas é defrontada em relação à situação que foi legada pelo antigo sistema, que, em geral, se baseava na
solidariedade entre gerações e na gestão pública. Essa opção de uma classificação por oposição não revela o grau em que o sistema
passou a ser dominado pelas ações via mercado nem, por conseguinte, como um cidadão pode ser protegido sem depender do mercado.
A abordagem de Mesa-Lago vai de encontro às tendências internacionais em termos mais modernos de análise do Estado de Bem-Estar
propostas por Esping-Andersen (1991), em que o papel reservado ao mercado é o foco da classificação.
3. Mas, vale destacar, algumas das reformas criam sistemas baseados em contas individuais para o setor público, e a maioria das reformas
buscou homogeneizar as regras com aquelas destinadas aos demais segmentos da população.
QUADRO 3
Características essenciais das reformas paradigmáticas e grupos cobertos
Países Ano de vigência Tipo de sistema Benefício assistencial Grupos populacionais focalizados
Polônia 1999 Integrado Somente piso Obrigatório até 30 anos. Exclui mais de
50 anos
QUADRO 4
Banco Mundial: problemas pendentes após conceder apoios à reforma da previdência
Não consegue aliviar a pobreza Bulgária (mulheres), China, México, Rússia, Uruguai
Déficits fiscais persistentes Argentina, Bolívia, Brasil, Coréia (longo prazo), Uruguai
4. O Chile não foi analisado pelo IEG (2006) por não ter necessitado de empréstimos para promover as reformas.
TABELA 1
Custos administrativos sobre recursos destinados às contas individuais
(Em %)
TABELA 2
Previsão de cobertura percentual prevista para a aposentadoria da PEA do Chile – 2002
40 a 50 10 40 a 50
Fonte: Cenda (2004).
TABELA 3
a
Custos administrativos sobre recursos destinados aos sistemas previdenciários
(Em %)
dados para alguns países, e os resultados revelam valores elevados em demasia para
um sistema elementar de distribuição de recursos.
Havia a expectativa de que uma redução nas alíquotas incidentes sobre a
folha salarial, associada à concorrência entre administradoras de fundos de pensão,
pudesse elevar o patamar de contribuintes quando comparado à PEA. Isso não
ocorreu, segundo o gráfico 1, baseado em dados do Banco Mundial.5 A apresentação
GRÁFICO 1
Proporção de contribuintes para a previdência sobre a PEA – 1980-1999
(Em %, valores aproximados)
70
60
50
40
30
20
10
0
Argentinaª Brasil Bolívia Chile Colômbia México Venezuela
5. Os dados aqui apresentados nos gráficos 2 e 3 não foram objeto de análise metodológica por parte de seus autores. Assim, parte
desses dados pode não coincidir com os indicadores correntes de cada país. De qualquer maneira, esses dados apontam para as
tendências ao longo de duas décadas, e a discrepância metodológica porventura existente em relação aos dados de um país, sempre
necessária para compatibilizar diferentes experiências, não inviabiliza a análise, pois permite apontar as tendências. É essa motivação
que tem induzido inúmeros autores, como a Cepal (2006, p. 130), a reproduzir tais resultados para dar suporte à sua análise sobre as
mudanças na América Latina. Vale registrar, por fim, que esses dados não foram contestados até o momento.
de dados se limita a 1999 porque a maioria dos países não divulga com regularidade
os indicadores referentes à cobertura de seus sistemas previdenciários ou, ainda, adota
indicadores não compatíveis com esse tipo de referencial (benchmark). Nesse caso,
novamente, vale registrar que a evolução aferida em países que promoveram reformas
do tipo paramétrico não apresentou resultados melhores, e as variações parecem
ter sido comparáveis, mantendo os baixos patamares observados historicamente.
Não houve, portanto, mudanças de patamar na proporção de contribuintes, a
despeito do que fora prometido no momento das reformas. É necessário destacar que
o Chile e a Colômbia apresentam patamares ascendentes. No entanto, a Colômbia
partiu de valores baixos e não atingiu marcas expressivas que permitissem afirmar
que a universalização da cobertura é um resultado previsível, conforme ocorre nas
sociedades mais avançadas. Por outro lado, o Chile nos anos 1990 apenas recuperou
os patamares de 1980, conforme assinalou Uthoff (2001), sendo, ainda, inferiores
aos dos anos 1970. Assim, a reforma paradigmática e as reformas paramétricas
falharam em seus propósitos de aumentar a cobertura de contribuintes, a despeito
de suas promessas iniciais, segundo assinalaram IEG (2006) e Icap (2006), para o
caso chileno.
Em relação ao número de beneficiários, houve aumento em alguns países e
queda em outros. Os aumentos se devem ao recente amadurecimento demográfico
e a decisões políticas com vistas a conceder benefícios não contributivos às popu-
lações de países como Brasil e Venezuela (gráfico 2).
A conjunção entre amadurecimento demográfico e reformas paradigmáticas
reduz o número potencial de beneficiários, conforme ocorreu na Argentina e no
Chile, porque as regras de acesso passam a ser restritivas e existe a necessidade de
GRÁFICO 2
Proporção de idosos com 65 anos ou mais que recebem aposentadorias
ou pensões por morte – 1980-1999
(Em %, valores aproximados)
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Argentina Brasil Bolívia Chile Colômbia México Venezuela
6. Ao analisar os estudos econométricos a fim de correlacionar as reformas paradigmáticas aos aumentos de poupança via disponibilida-
de de recursos para os mercados de capitais, Matijascic (2002) apontou que existiam resultados contraditórios e inconclusivos. As
análises de Holzmann e Hinz (2006) apontam os mesmos problemas.
TABELA 4
Poupança e reforma da previdência: anos anteriores e posteriores
Países 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Argentina 19,7 16,2 15,2 16,7 16,9 17,5 17,4 17,1 17,4 16,3 15,6 15,5 26,9 25,9 26,3
Brasil 21,4 20,5 21,4 22,3 22,5 20,5 19,0 19,1 18,9 18,6 20,0 20,2 21,8 23,4 25,8
Bulgária 22,0 26,9 14,1 7,7 8,8 14,2 13,5 14,5 17,1 12,1 12,9 13,1 13,2 12,3 13,2
Colômbia 24,2 23,4 18,7 19,0 19,6 19,4 16,5 15,0 13,8 13,4 15,8 13,8 13,9 16,7 18,1
Hungria 28,0 19,5 15,8 11,8 15,7 22,6 26,0 27,6 27,4 26,0 25,8 24,8 22,7 20,1 21,6
Cazaquistão 30,2 11,2 18,7 18,7 15,4 13,1 11,3 20,1 25,6 25,8 27,2 31,1 35,0
México 22,0 20,4 18,3 17,1 17,1 22,6 25,3 25,9 22,2 22,0 21,9 18,6 18,8 18,9 20,0
Polônia 32,8 18,0 16,7 16,5 19,9 20,9 19,4 19,5 20,2 19,3 18,4 17,1 15,2 16,2 18,0
Venezuela 29,5 23,8 21,2 18,5 22,7 23,4 31,7 34,9 28,9 30,3 35,8 30,9 33,5 32,4 37,6
Fonte: Indicadores do Banco Mundial.
Nota: As células destacadas se referem aos anos de reforma para cada país.
TABELA 5
Chile: decomposição da poupança nacional, incluindo o déficit
previdenciário – 1981-1999
Pública
Privada
Países 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Argentina 2,3 9,8 8,1 18,6 14,3 14,6 16,4 20,2 15,2 29,6 58,4 71,6 101,4 30,0 30,3
Brasil 3,6 10,5 11,6 22,7 34,6 21,0 28,0 31,6 20,4 42,5 37,6 36,6 26,9 46,4 54,7
Bulgária 0,5 0,1 0,0 7,8 5,5 4,9 3,7 4,7 8,8 11,5
Colômbia 3,5 9,8 11,5 16,6 17,1 19,3 17,6 18,3 13,6 13,4 11,4 16,1 11,9 18,0 26,1
Hungria 1,5 1,5 2,1 3,9 5,4 11,7 32,8 29,8 34,0 25,6 19,8 20,0 20,1 28,5
México 12,4 31,2 38,2 49,9 30,8 31,6 32,0 39,0 21,8 32,0 21,5 20,3 15,9 19,2 25,2
Polônia 0,2 0,3 3,2 3,1 3,3 5,4 7,7 11,9 17,6 18,3 13,7 14,5 17,2 28,2
Venezuela 17,8 21,6 13,0 13,8 7,3 4,9 14,7 17,0 8,3 7,6 6,9 5,1 4,3 4,6 5,6
Fonte: Indicadores do Banco Mundial.
Nota: As células destacadas se referem aos anos de reforma para cada país.
TABELA 7
Portfólio dos fundos de pensão: países e anos selecionados – período entre 1996 e 2006
(Em %)
1996 55 27 17 0 0
Argentina
2006 56 13 20 10 1
1996 20 11 62 - 8
Colômbia
2006 47 19 19 14 0
1996 42 33 25 1 0
Chile
2006 15 24 30 31 0
1999 95 2 0 - 2
México
2006 74 12 2 8 4
1999 68 27 2 - 3
Polônia
2006 62 32 3 2 2
Fonte: Fiap.
argentino, uma vez mais, ilustra a situação, pois os fundos de pensão foram obri-
gados a se desfazer de parte de seus portfólios e comprar títulos do governo no
auge da crise do início do século, como forma de salvaguardar as contas públicas.
O resultado foi uma redução drástica no valor potencial das prestações dos futuros
aposentados.
Mesmo com o recuo da participação dos títulos da dívida pública nos períodos
mais recentes, o que se observa é o crescimento dos títulos do setor financeiro no
porfólio dos fundos de pensão. Em países em desenvolvimento, o mais provável é
que esses títulos sejam lastreados em títulos da dívida pública. O problema das
possibilidades de aplicação rentável dos recursos é tão grave que os países da América
Latina apresentados no tabela 7 passaram a ter uma parte relevante dos recursos
investidos em aplicações no estrangeiro. Isso eleva o grau de segurança financeira,
mas contribui pouco para o crescimento das economias nacionais.
Assim, o contexto macroeconômico e o referente aos mercados de capitais
revelam a necessidade de adoção de diagnósticos que se adaptem melhor às reali-
dades locais. As reformas adotadas não conseguiram remover os problemas
preexistentes e geraram novos problemas, conforme apontou Barr (2001) ao co-
mentar os riscos envolvidos no regime de capitalização individual.
TABELA 8
Salário em percentuais sobre o PIB: países selecionados
capita limitado, quando comparada a países desenvolvidos, sempre foi uma reali-
dade em países da América Latina. Porém, o baixo dinamismo da atividade eco-
nômica existente desde o final dos anos 1970 e o lentíssimo crescimento da renda
per capita foram os fatores centrais que impediram o sucesso das reformas nos
últimos 25 anos na América Latina, como é possível observar na tabela 9.
TABELA 9
PIB per capita em US$ de 2000 e Paridade do Poder de Compra (PPC)
GRÁFICO 3
Perfil de ocupação dos trabalhadores para países selecionados – 2002
(Em %)
Suécia
Inglaterra
Alemanha
França
Itália
Portugal
México
Colômbia
Chile
Brasil
Bolívia
Argentina
0 20 40 60 80 100
GRÁFICO 4
Contribuintes como proporção dos filiados em países selecionados – 1997 a 2005
(Em %)
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
–
Chile Argentina México Colômbia
Fonte: Fiap.
GRÁFICO 5
Brasil: concessão de benefícios para idosos – 1980-2004
(Em %)
12,0
25,5 24,0 28,0 31,0
49,4
37,0 33,4 24,7
36,8
12,4
13,2 20,8 16,7 15,4
24,2 21,8 21,8 34,9
16,8
1980 a 1984 1985 a 1989 1990 a 1994 1995 a 1999 2000 a 2004
Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social (Aeps). Tempo de contribuição Idade urbana Idade rural Assistencial
TABELA 10
Densidade de contribuições da Administradora dos Fundos de Pensão (AFP) no
Chile – 2002
Contribuintes Filiados
Indicadores de densidade de contribuição
Média Mediana Média Mediana
TABELA 11
Desemprego segundo as metodologias nacionais em países selecionados
(Em % sobre a PEA)
TABELA 12
Estrutura do emprego não-agrícola
TABELA 13
Evolução percentual da produtividade do trabalho medida pelo PIB por hora trabalhada
em US$ de 1990
TABELA 14
Proporção da PEA sobre a PIA em percentuais para países selecionados
Antes de tudo, esse novo sentido pode não ter sido revelado em sua íntegra.
Mas os desdobramentos observados até o momento revelaram que existem traba-
lhadores que conseguem contribuir regularmente, podendo ser atendidos por es-
truturas típicas do seguro social, outros trabalhadores conseguem ter relações de
trabalho que permitem apenas uma contribuição periódica e irregular para o sistema
e, por fim, existe uma parcela importante que apenas contribui ocasionalmente
ou nada contribui. Diante da necessidade de dar garantia de benefício para idosos
ou para os que precisaram ser afastados temporária ou definitivamente do mercado
de trabalho, a alternativa parece ser a consolidação de um sistema com várias
camadas, em que:
à primeira cabe fornecer garantias de rendimento mínimo com base nas
premissas da cidadania;
esses valores devem ser complementados por uma segunda camada via
preceitos do seguro social e da filiação compulsória; e, finalmente,
é preciso consolidar uma terceira camada de adesão voluntária com a adoção
de mecanismos similares à previdência complementar atual e com tratamento
tributário diferenciado, que permita ao trabalhador contribuir com mais recursos
para poder auferir uma renda maior.
Esse tipo de proposição parece estar se tornando hegemônico entre estudiosos
e analistas e entre técnicos das instituições financeiras internacionais ou multilaterais.
As qualidades desse tipo de arranjo residem no fato de que elas podem funcionar
em ambientes muito diferentes como em economias afluentes ou em desenvolvi-
mento e permitem que se apresentem regras estáveis e de longo prazo. A questão
da pobreza está contemplada na medida em que existe garantia de renda em caso
de perda da capacidade de trabalho. O crescimento do bem-estar financeiro dos
trabalhadores também está contemplado com os incentivos e mesmo com a obri-
gação para contribuir acima dos níveis de piso, devendo ser conjugado com uma
política mais benevolente em relação ao crédito. Tal postura seria coerente, pois,
se alguém possui mais garantias de renda, é natural que o risco envolvido na
concessão de crédito seja menor. Esse tipo de associação entre o econômico e o
social é que pode garantir a simbiose necessária para a sustentação do crescimento
das atividades com a estabilidade social adequada ao ambiente institucional.
O processo de transformação que pode estar se consolidando também bene-
ficia as iniciativas que busquem ampliar o escopo e as modalidades de parceria
entre Estado, mercado e sociedade de um modo geral. Assim, ganham sentido
iniciativas que permitam a combinação da ação de toda essa gama de serviços
REFERÊNCIAS
BANCO MUNDIAL. Averting the old age crisis. New York: Oxford University Press, 1994.
BARR, N. Reforma das previdências: mitos, verdades e escolhas políticas. In: A Economia Política
da Reforma da Previdência. Brasília: MPAS, 2001 (Coleção Previdência Social, série traduções).
BEATTIE, R.; McGILLIVRAY, W. Uma estratégia arriscada: reflexões acerca do informe do Banco
Mundial intitulado envelhecimento sem crise 1. Conjuntura Social, v. 7, n. 3, Brasília: MPAS, 1997a.
—————. Uma estratégia arriscada: reflexões acerca do informe do Banco Mundial intitulado
envelhecimento sem crise 2 – réplica a Estelle James. Conjuntura Social, v. 7, n. 3, Brasília: MPAS,
1997b.
BEVERIDGE, W. Social insurance and allied services: repport by command of his majesty. Londres:
Parlamento Britânico, 1942.
CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Rio de Janeiro: Petrópolis,
Vozes.
CENDA. Chile: bases para una reforma del sistema de pensiones. Santiago, 2004, Mimeo (Relatório de
pesquisa).
7. Dixon e Hyde (2001) apresentaram as possibilidades de integração do mercado com a seguridade social para a oferta de serviços. Os
autores propõem as seguintes modalidades:
Mandatory private provision – quando o cidadão deve buscar certos serviços públicos ofertados por instituições via mercado.
Joint public-private provision – quando um determinado serviço é ofertado de forma conjunta por instituições públicas e de mercado.
Incentive driven public provision – quando instituições mercantis são incentivadas a fornecer um determinado serviço público para
os cidadãos.
Contracting-out of public services – quando é possível buscar junto ao mercado um serviço público (terceirização dos serviços).
Encouraged voluntary provision – quando existem estímulos à contratação voluntária de serviços públicos junto ao mercado.
PIERSON, P. Coping with permanent austerity: welfare state restructuring in affluent democracies.
The new politics of the welfare state. Oxford University Press, 2000.
STIGLITZ, J. E.; ORSZAG, P. R. Rethinking pension reform: ten myths about social security
systems. Washington, D.C.: World Bank, 1999 (Working Paper).
UTHOFF, A. La reforma del sistema de pensiones en Chile: desafíos pendientes. Revista de la
Cepal, Santiago de Chile, v. 56, 2001.
José Cechin**
Andrei Domingues Cechin***
De como a El-Rei sómente pertence aposentar alguem, por ter idade de setenta annos.
Ordenação do Reino de Portugal, publicada em 1603.1
1 INTRODUÇÃO
A previdência social é um complexo sistema formado pelo Regime Geral de Previ-
dência Social (RGPS) para os trabalhadores do setor privado, organizado nacio-
nalmente e administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e os
Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) dos servidores públicos estatutários
e militares, organizados pelos entes da Federação. Nesses regimes existem regras
específicas que concedem vantagens para determinadas categorias. O presente tra-
balho trata dessas regras específicas. Trata também da persistente tendência ao
desequilíbrio e das suas causas essenciais, e simula os efeitos financeiros da aplicação
universal da fórmula do fator previdenciário como uma das opções para equacionar
essa tendência ao desequilíbrio.
Conquanto a previdência no Brasil, assim como em muitos países, venha
cumprindo um importante papel de redistribuição de renda, admite-se neste tra-
balho uma clara separação entre previdência e assistência. A primeira deve ser
* Os autores agradecem a Julio Domingues Cechin pela valiosa colaboração de pesquisa e tabulações e a Heraldo Oliveira e Dânae Dal
Bianco pelas críticas e sugestões.
** Consultor em previdência, membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência e do Instituto Fernand Braudel de Economia
Mundial e ex-ministro da Previdência e Assistência Social.
2. Gastam percentual do PIB similar ao Brasil países como Espanha, Hungria, Holanda, Reino Unido, Noruega e Finlândia. Na França e na
Alemanha, que têm mais de 23% de idosos (60 ou mais anos de idade), comparados com os 8,9% no Brasil, esse percentual alcança
cerca de 14% do PIB.
GRÁFICO 1
Carga contributiva sobre folha de salários
50
40
30
20
10
0
Din. Bra. Bél. Ale. Fin. Pol. Sué. Tur. Nor. Hol. Áus. Uru. Itá. Fra. Can. Arg. EUA Tch. Suí. Esp. Pan. Por. Irl. Jap. Méx. Cor.
–2
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
3. A Emenda 41 passou a exigir de todos os servidores contribuições à alíquota mínima de 11%, incidente inclusive sobre as parcelas das
aposentadorias e pensões em excesso ao teto do Regime Geral. As medidas, adotadas em 2004, tiveram efeito completo em 2005.
GRÁFICO 3
Despesas dos regimes próprios de previdência
(Em % do PIB)
2,7
2,2
1,7
1,2
0,7
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
GRÁFICO 4
Despesas com o pessoal da União – 1995-2005
(Em R$ bilhões correntes) (Em % do PIB)
100 6
80 5
4
60
3
40
2
20
1
0 0
1995 1997 1999 2001 2003 2005 1995 1997 1999 2001 2003 2005
Fonte: Boletim
Boletim Estatístico
Estatístico de
de Pessoal
Pessoal, MPOG, n° 116. Dados de 2005 se referem ao período
dezembro de 2004 a novembro de 2005. A: Ativos; I: Inativos; IP: Instituidores de Pensão. Civis A Civis I+IP Militares I+IP Militares A
4. Esses desequilíbrios continuarão presentes, mesmo que se resolvam todas as questões popularmente apontadas como causas do
déficit financeiro: má gestão, fraudes, sonegação, cobrança morosa dos vultosos créditos previdenciários, informalidade, benefícios de
caráter assistencial (como as aposentadorias rurais), renúncias de contribuições previdenciárias (como as das entidades filantrópicas e
das empresas do Simples).
5. Carência é o tempo mínimo de contribuição para a elegibilidade à AI. Essa carência era de 5 anos até 1991, época em que foi fixada
em 15 anos para novos segurados e aumentada em 6 meses por ano para os que já eram segurados do INSS nessa data. Em 2006, a AI
dos já filiados ao INSS em 1991 requer 12,5 anos de contribuições.
6. Delgado et al. (2006) mostram que o fator aumentou a idade de aposentadoria e o tempo de contribuição, bem como afetou o valor
das novas concessões, como esperado.
7. A GFIP deve conter a relação completa de todos os indivíduos ocupados pelas pessoas jurídicas, o que inclui os empregados com
carteira assinada, os sócios dirigentes que fazem retiradas pró-labore e autônomos que lhe prestam serviços.
TABELA 1
Contribuintes e massa remuneratória por faixas de renda
a
Número de contribuintes % Massa remuneratória (R$ milhões) %
TABELA 2
Despesas com benefícios de risco
(Em R$ milhões)
8. Ulyssea e Foguel (2006), revendo a literatura empírica, relatam estudos que indicam, ainda que de forma não absolutamente conclusiva,
que o aumento do SM provoca desemprego e mudança de posição na ocupação, de formal para informal.
GRÁFICO 5 e TABELA 3
Vínculos e massa salarial por faixas de salário mínimo e teto
(Em %)
30 Em SM Vínculos % Massa %
25 Até 1 SM 1.651 6,4 231 0,9
a3
a3
a2
a2
1, 25
a5
1, 5
a5
et
,
é
a1
,
at
At
5
a1
2
25
5
3
Vínculos Massa
Fonte: GFIP/MPS – média do primeiro semestre/2005. SM = salário mínimo; teto do RGPS.
9. Em 2004, segundo a Pnad, havia 20,8 milhões de empregadores e trabalhadores por conta própria e 19,7 milhões de empregados
sem carteira, dos quais 4,8 milhões eram domésticos; domésticos com carteira eram 1,7 milhão.
10. Número de benefícios não equivale a número de beneficiários, pois há indivíduos com múltiplos benefícios, como aposentadoria,
pensão e auxílio-acidente, que são legalmente acumuláveis.
11. A recente decisão do presidente da República de conceder reajuste real aos benefícios, conforme reivindicado por entidades de
classe, poderá ter inaugurado uma nova fase de mais intensas pressões por aumentos reais dos benefícios. E de fato, pouco tempo
depois, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de conversão de medida provisória, reajustando todos os benefícios no mesmo
percentual de reajuste do SM.
12. Sugere-se que a vedação de reajustes acima do índice de preços tenha prazo de validade, para permitir, no futuro, se possível e
conveniente, repassar às aposentadorias ou à renda mínima assistencial os benefícios do progresso técnico.
para que as idades de aposentadoria rural sejam cinco anos inferiores às urbanas.
Não há indícios de que o trabalho rural seja mais penoso; tampouco a longevidade
no campo é menor do que no meio urbano. Ademais, as contribuições do setor
rural são modestas, financiando cerca de 13% da despesa (tabela 4).
Esse elevado desequilíbrio financeiro espelha um desequilíbrio atuarial em-
butido, que se demonstra assumindo-se o caso extremo de um segurado que comece
a contribuir aos 15 anos de idade, contribua ininterruptamente até a aposentadoria,
aos 55/60 anos de idade, em montante igual a 4,1% do SM,13 com toda a contri-
buição destinada a financiar apenas a aposentadoria (os números a seguir foram
calculados para o valor atual do SM, de R$ 350).
O desequilíbrio atuarial pode ser medido pela comparação dos valores pre-
sentes das contribuições e dos benefícios. Mesmo na hipótese favorável de SM
constante e aposentadoria de 1 SM, o valor presente do seu fluxo de fruição é
várias vezes superior ao das contribuições: 4,24 e 2,74 vezes, para a aposentadoria
aos 55/60 anos de mulheres/homens, respectivamente, como se mostra na primeira
e segunda colunas da tabela 5.
Caso as idades de aposentadoria fossem iguais às urbanas, os homens ainda
assim receberiam em média, como aposentadoria, quase o dobro das contribuições
e as mulheres o triplo; e se fossem igualadas para ambos os sexos em 65 anos,
ainda assim as mulheres financiariam pouco menos da metade de seus benefícios.
A elevação das idades para 60/65 reduziria o desequilíbrio na aposentadoria das
mulheres em 29% e na dos homens em 30%; se a idade das mulheres fosse também
estabelecida em 65 anos, o desequilíbrio seria reduzido à metade.
TABELA 4
Setor rural: receitas, despesas e déficit
(Em R$ bilhões de dezembro de 2005, deflator: INPC)
13. Essa alíquota hipotética equivale a 13% (percentual de autofinanciamento) da alíquota integral. Embora fosse desejável que as
contribuições seguissem a regra geral, os trabalhadores rurais não dispõem de renda monetária suficiente para isso.
TABELA 5
Valor presente de contribuições e benefícios de segurados rurais, por sexo e diferentes
idades de aposentadoria
(SM = R$ 350)
M 55 H 60 M 60 H 65 M 65
TABELA 6
Aposentadorias rurais por idade e despesa evitada por aumento da idade
(Em R$ milhões de 2006)
TABELA 7
Idades de aposentadoria em países selecionados
Argentina 65 60 - - Itália 65 60 - -
Austrália 65 60 - - México 65 65 - -
Chile 65 60 - - Holanda 65 65 - -
Colômbia 69 55 - - Noruega 67 67 - -
Dinamarca 67 67 - - Peru 65 65 - -
El Salvador 60 55 - - Polônia 65 60 - -
Finlândia 65 65 - - Portugal 65 65 - -
França 60 60 - - Espanha 65 65 -
Islândia 67 67 - -
Fonte: OECD (2003).
Reino Unido 67,9 74,5 66,2 62,7 73,8 79,8 62,7 59,7
Fonte: Pestieau, 2005.
52
50
48
46
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Fonte: Aeps/MPS.
14. A ATC proporcional, adquirida com 25/30 anos de contribuição, sem requisito de idade, foi extinta pela Emenda 20 para os ingressos
no mercado a partir de sua promulgação. Para os existentes passou-se a exigir idades mínimas de 48/53 anos e tempo adicional de 40%
do tempo que na data ainda faltava para a aquisição do direito, chamado de “pedágio”. A Emenda 41 extinguiu a proporcional para
todos os servidores públicos. A ATC aos 30/35 anos independe de idade no RGPS; no setor público, essa modalidade, pela Emenda 41,
passou a exigir idades mínimas de 55/60. No entanto, preservou-se, para os admitidos até a Emenda 20, a possibilidade da aposentadoria
a partir dos 48/53 anos de idade, com 30/35 de contribuição acrescidos do “pedágio” e no valor determinado pela aplicação, sobre a
média dos salários de contribuição, de redutor de 5 p.p. por ano antecipado em relação às idades mínimas.
15. O período contributivo se inicia com o Plano Real (julho de 1994) ou na data da primeira contribuição, se posterior, e se estende até
a data da aposentadoria.
16. Delgado et al. (2006), em trabalho recente, mensuraram os efeitos do fator nas ATCs. Segundo seu trabalho, a aplicação do fator
resultou em um aumento nas idades de aposentadoria e uma redução do valor médio de concessão, como era esperado.
B =Y × f (1)
B = valor da aposentadoria;
Y = média dos 80% maiores salários de contribuição do período que se
inicia em julho de 1994 ou na data da primeira contribuição, se posterior; e
F = fator previdenciário.
O fator obedece à seguinte fórmula:
Tc × α Id + Tc × α
f = 1+
Es (2)
100
Tc = tempo de contribuição;
Id = idade na data da aposentadoria;
Es = esperança de sobrevida de ambos os sexos para a idade na aposentadoria; e
α = 0,31 alíquota de contribuição dos segurados e dos empregadores.
O reagrupamento dos termos permite um melhor entendimento da fórmula.
Y ×Tc × α Id + Tc × α
B= 1 +
Es 100
17. Caetano (2006), em estudo recente, examina a questão dos subsídios cruzados nos regimes de previdência, adotando como critérios
a comparação de: a) valores presentes de contribuições e benefícios; e b) da taxa de juros que equilibra os valores presentes com uma
taxa de mercado, a da caderneta de poupança de 6% a.a.
18. Essas exigências teriam sentido apenas como condição de elegibilidade para o benefício de valor mínimo. Ter qualidade de segurado
é ainda uma exigência corrente do RGPS para a aquisição de direito a qualquer tipo de benefício desse regime; perde a qualidade de
segurado aquele que, tendo contribuído por até 10 anos, fica 12 meses sem contribuir ou, tendo sido segurado por mais de 10 anos, fica
24 meses sem contribuir. Um segurado que tivesse contribuído durante 29 anos e ficado sem contribuir por mais 2 anos, ao chegar aos
65 anos de idade, não poderia mais se aposentar, o que era uma flagrante injustiça. A aplicação do fator dispensaria todas essas
exigências burocráticas e injustas. Para corrigir parcialmente essa injustiça, o governo editou MP em dezembro de 2002, convertida na
Lei 10.666/03, segundo a qual o INSS passou a reconhecer administrativamente o direito à AI para aqueles que tiverem pelo menos 20
anos de contribuição. O justo seria reconhecer o direito à AI a todos os que tiverem qualquer período contributivo em qualquer época. O
valor do benefício seria determinado pela aplicação do fator, podendo resultar pequeno, mas é de direito, deve ser reconhecido, e pode
ser complementado pela assistência social.
TABELA 9
RGPS: concessões de ATC e efeitos financeiros da especialização da alíquota
(Em R$ milhões de 2005)
Despesa para α = 31% 496 1.471 2.640 3.924 5.156 6.460 7.812 12.135
Despesa para α = 24% 378 1.123 2.015 2.994 3.935 4.930 5.962 9.262
TABELA 10
Efeitos combinados da especialização e da não contagem de tempo fictício: mulheres
(Em R$ milhões de 2005)
1 Despesa para α = 31 e Tf = 5 496 1.471 2.640 3.924 5.156 6.460 7.812 12.135
2 Despesa para α = 31 e Tf = 0 471 1.398 2.508 3.728 4.898 6.137 7.422 11.529
4 Despesa para α = 24 e Tf = 5 378 1.123 2.015 2.994 3.935 4.930 5.962 9.262
5 Despesa para α = 24 e Tf = 0 360 1.069 1.918 2.851 3.746 4.693 5.676 8.817
número de concessões, estão mostrados na tabela 10, terceira linha (fator com
alíquota de 31%) e sexta linha (alíquota de 24%). A despesa evitada teria alcança-
do, no décimo ano, R$ 606 milhões ou R$ 445 milhões, respectivamente. Os
números não parecem expressivos, mas isso se deve à ainda diminuta participação
feminina no mercado de trabalho de três décadas atrás e aos menores salários das
mulheres. Todavia, os efeitos combinados da especialização da alíquota e da su-
pressão da contagem de tempo fictício estão mostrados na linha 7: em seis anos, o
efeito financeiro combinado teria alcançado R$ 1,8 bilhão e no décimo ano, o
expressivo montante de R$ 3,3 bilhões. Nesse caso também, a diferença continuaria
crescendo até que todas as aposentadorias concedidas nas regras atuais tivessem
sido substituídas pelas concedidas nas novas regras.
Raciocínio similar pode ser aplicado ao caso dos professores. Os efeitos sobre
os valores individuais das aposentadorias são, como visto, muito relevantes – a
não-contagem do tempo fictício resultaria em um valor 43% menor para as pro-
fessoras e 18% menor para os professores. Mas o impacto financeiro no Regime
Geral seria pouco expressivo porque o número de aposentadorias mantidas e con-
cedidas é pequeno. Em 2005, aposentaram-se 3.120 professores pelo Regime Geral,
e o número de benefícios emitidos em dezembro desse ano foi de 41.381.19 O valor
médio dos benefícios concedidos era similar ao do total pago, cerca de R$ 900.
19. O número de aposentados e o de novas concessões anuais para professores dos ensinos fundamental e médio do setor privado
(professores do ensino superior não têm mais essa vantagem desde a Emenda 20) são pequenos. Uma das possíveis razões é a exigência
de comprovação de tempo exclusivo de magistério (em sala de aula) para se habilitar à aposentadoria de professor. O número de
professores do setor público (estados e municípios) é consideravelmente maior.
TABELA 11
Vínculos, massa salarial e contribuições por faixas de alíquotas
6
(Em R$ 10 )
e
Vínculos Massa Contribuição Acima teto
Faixas (mil) remuneratória c
Segurado Empresad Massa Contribuição
20. A partir de 25/30 anos de contribuição, os segurados poderiam optar pela Aposentadoria Proporcional por Tempo de Contribuição,
mas essa opção perdeu atratividade em razão do “pedágio” e do fator, tendo deixado de existir na prática.
B = Y x (0,70 + 0,01 x Tc )
TABELA 12
Valor da aposentadoria por idade, segundo tempo de contribuição
(Em R$ do primeiro semestre de 2005)
a a
Tempo de contribuição 15 20 25 30 35
21. O valor da aposentadoria cresce com o tempo de contribuição por dois fatores: crescimento da proporção e crescimento do salário.
Com as hipóteses citadas resulta um valor médio da aposentadoria de R$ 486, similar ao valor médio das concessões de 2005.
TABELA 13
Aposentadorias por idade: valores presentes de contribuições e benefícios, para tempos
de contribuição e taxas de juros selecionados
(Em R$ de 2005)
Tempo de contribuição 15 20 25 30 35
Taxa de juros: 6%
Taxa de juros: 3%
pouco menos da metade, no caso de taxa de juros de 6%. Para taxa de juros de
3%, esses percentuais de autofinanciamento seriam de pouco menos de 40% e
pouco mais de 30%. Os valores presentes são muito sensíveis à taxa de juros. Para
taxas de juros inferiores a 4% a.a., o equilíbrio somente seria atingido para períodos
contributivos superiores a 30 anos.
O exercício revela o subsídio implícito nas aposentadorias urbanas por idade,
que é a contrapartida do seu desequilíbrio atuarial. Entre as opções para reduzir o
desequilíbrio estão o alongamento do período contributivo mínimo, a elevação
TABELA 14
Valor da aposentadoria por idade com fator
(Em R$)
Tempo de contribuição 15 20 25 30 35
22. As taxas que equilibram os valores presentes correspondem às taxas de remuneração das contribuições vertidas e de desconto do
fluxo da aposentadoria.
TABELA 15
Taxas de juros que igualam os valores presentes
TABELA 16
Efeito financeiro da aplicação do fator revisado nas aposentadorias por idade
(Em R$ milhões)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
b b b b
Concessões (mil) 89 76 104 181 216 163 165 170 175 180
a
Despesa sem fator 46 39 54 94 111 84 85 88 90 93
a
Despesa com fator 23 19 27 46 55 41 42 43 45 46
a
Diferença 23 20 27 47 57 43 43 45 46 47
Acumulada anual 152 433 740 1.225 1.907 2.546 3.104 3.675 4.263 4.868
Fonte: Aeps e Beps/MPS.
a
Valores mensais a preços de 2005. Hipóteses: a) 25% das aposentadorias com 15 anos de contribuição; 40% com 20 anos; 20% com 25
anos; e 15% com 30 anos; b) 55% do sexo masculino; c) salário inicial de R$ 500, crescendo a 1% a.a.; d) desconsiderado o piso de 1 SM;
e) fator calculado com alíquota de 0,24.
despesa com as concessões ocorridas no período 2000-2005 teria sido R$ 2,5 bilhões
menor. A diferença seguiria crescendo até a substituição total das aposentadorias
sem fator.
TABELA 17
Comparação dos valores presentes para os servidores civis
(Em R$)
a
VPB 376.049 335.432 301.471
1.961
Homem VPB/VPC 1,48 1,01 0,68
b
VPB 313.740 276.798 246.407
1.520
VPB/VPC 1,15 0,78 0,53
23. Alguns exemplos de idades-limite: 44 anos para soldado e marinheiro; 48 anos para cabo, taifeiro-de-segunda-classe, capitão-
tenente, capitão, oficiais subalternos; 49 para terceiro-sargento.
9 CONCLUSÕES
A previdência trabalha com horizontes de tempo de várias décadas. Opera em
bases correntes de repartição simples, arrecadando, durante a vida de trabalho,
contribuições de segurados e respectivos empregadores para pagar benefícios a
quem tem seu direito reconhecido. No longo período entre o início da vida de
trabalho e a data da aposentadoria, os segurados se defrontam com situações de
risco, que requerem cobertura previdenciária. Ninguém sabe a priori quais segu-
rados serão afetados por eventos de risco, mas as estatísticas mostram que o número
deles é grande. No entanto, conhece-se o tempo necessário para alcançar a apo-
sentadoria, por isso foi caracterizado como programável.
As contribuições devem custear tanto os eventos de risco quanto acumular
recursos, ainda que apenas escrituralmente, para financiar os eventos programáveis.
Como a duração da aposentadoria é incerta, a previdência precisa de bases atuariais.
24. No período de 12 meses iniciados em dezembro de 1994, as despesas com militares ativos somaram R$ 8,2 bilhões, os proventos
com reservistas e reformados, R$ 8,0 bilhões, e as pensões, R$ 6,2 bilhões, totalizando 24,3% das despesas com a folha total da União.
TABELA RESUMO
Despesas evitadas com aumento da idade rural e aplicação universal do fator
(Em R$ de 2005)
Rural + ATC + AI 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Concessões rurais (mil) 318 249 325 263 271 267 282 282 282 282
6
1. Idade de 60/65 (R$ 10 ) 725 2.016 3.320 4.657 5.872 6.372 6.331 6.310 6.255 6.200
2. Idade de 65/65 (R$ 106) 725 2.016 3.320 4.657 5.872 6.734 7.701 8.316 9.290 9.569
Concessões de ATC (mil) 112 108 155 134 144 150 155 160 165 170
3. Fator revisado (R$ 106) 136 402 722 1.073 1.410 1.766 2.136 2.518 2.912 3.318
Concessões AI (mil) 89 76 104 181 216 163 165 170 175 180
4. Fator revisado (R$ 106) 152 433 740 1.225 1.907 2.546 3.104 3.675 4.263 4.868
9
Total 2 + 3 + 4 (R$ 10 ) 1,0 2,9 4,8 7,0 9,2 11,0 12,9 14,5 16,5 17,8
AI: Aposentadorias por idade. Fator revisado: alíquota de 24%, sem contagem de tempo adicional.
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ULYSSEA, G; FOGUEL, M. Efeitos do salário mínimo sobre o mercado de trabalho brasileiro. Ipea,
2006 (Texto para discussão, n. 1.168).
Idade Es Ev 15 20 25 30 31 32 33 34 35 36 38 40 42 45
48 30,0 78,0 0,237 0,319 0,403 0,488 0,505 0,523 0,540 0,558 0,575 0,593 0,628 0,664 0,700 0,754
259
49 29,2 78,2 0,245 0,330 0,417 0,505 0,523 0,541 0,559 0,577 0,595 0,613 0,650 0,687 0,724 0,780
50 28,3 78,3 0,254 0,342 0,431 0,523 0,541 0,560 0,578 0,597 0,616 0,635 0,672 0,711 0,749 0,807
51 27,5 78,5 0,263 0,354 0,447 0,541 0,560 0,580 0,599 0,618 0,638 0,657 0,696 0,736 0,775 0,836
52 26,7 78,7 0,272 0,367 0,463 0,561 0,581 0,601 0,621 0,641 0,661 0,681 0,721 0,762 0,803 0,866
53 26,0 79,0 0,282 0,380 0,480 0,582 0,602 0,623 0,643 0,664 0,685 0,706 0,748 0,790 0,833 0,897
54 25,2 79,2 0,293 0,395 0,498 0,603 0,624 0,646 0,667 0,689 0,710 0,732 0,776 0,820 0,864 0,931
55 24,4 79,4 0,304 0,409 0,517 0,626 0,648 0,670 0,692 0,715 0,737 0,760 0,805 0,850 0,896 0,966
56 23,7 79,7 0,316 0,425 0,537 0,650 0,673 0,696 0,719 0,742 0,765 0,789 0,836 0,883 0,930 1,002
57 22,9 79,9 0,328 0,442 0,557 0,675 0,699 0,723 0,747 0,771 0,795 0,819 0,868 0,917 0,966 1,041
58 22,2 80,2 0,341 0,459 0,579 0,702 0,727 0,751 0,776 0,801 0,826 0,852 0,902 0,953 1,004 1,082
23/3/2007, 15:44
59 21,4 80,4 0,355 0,478 0,603 0,730 0,756 0,781 0,807 0,833 0,859 0,886 0,938 0,991 1,045 1,125
60 20,7 80,7 0,369 0,497 0,627 0,760 0,786 0,813 0,840 0,867 0,894 0,922 0,976 1,031 1,087 1,171
DESEQUILÍBRIO: CAUSAS E SOLUÇÕES
61 20,0 81,0 0,385 0,518 0,653 0,791 0,819 0,847 0,875 0,903 0,931 0,960 1,017 1,074 1,132 1,219
259
(continua)
Cap06.pmd
(continuação)
260
Idade Es Ev 15 20 25 30 31 32 33 34 35 36 38 40 42 45
62 19,3 81,3 0,401 0,540 0,681 0,824 0,853 0,882 0,912 0,941 0,970 1,000 1,059 1,119 1,179 1,270
63 18,6 81,6 0,418 0,563 0,710 0,860 0,890 0,920 0,951 0,981 1,012 1,043 1,104 1,167 1,229 1,324
260
64 18,0 82,0 0,436 0,587 0,741 0,897 0,928 0,960 0,992 1,024 1,056 1,088 1,152 1,217 1,283 1,381
65 17,3 82,3 0,456 0,613 0,773 0,936 0,969 1,002 1,036 1,069 1,102 1,136 1,203 1,271 1,339 1,442
66 16,7 82,7 0,476 0,641 0,808 0,979 1,013 1,047 1,082 1,117 1,152 1,187 1,257 1,328 1,399 1,507
JOSÉ CECHIN – ANDREI DOMINGUES CECHIN
67 16,0 83,0 0,498 0,670 0,845 1,023 1,059 1,095 1,131 1,168 1,204 1,241 1,314 1,388 1,463 1,575
68 15,4 83,4 0,521 0,701 0,884 1,071 1,108 1,146 1,184 1,222 1,260 1,298 1,375 1,453 1,530 1,648
69 14,8 83,8 0,546 0,734 0,926 1,121 1,160 1,200 1,239 1,279 1,319 1,359 1,440 1,521 1,602 1,725
70 14,2 84,2 0,572 0,769 0,970 1,174 1,215 1,257 1,298 1,340 1,382 1,424 1,508 1,593 1,678 1,807
Es: esperança de sobrevida – anos adicionais de vida, dado que alcançou certa idade. Ev: esperança de vida – anos de vida.
23/3/2007, 15:44
Cap06.pmd
TABELA A.2
Fator previdenciário para alíquota de contribuição de 24%
Idade Es Ev 15 20 25 30 31 32 33 34 35 36 38 40 42 45
48 30,0 78,0 0,182 0,245 0,308 0,373 0,386 0,399 0,412 0,425 0,438 0,452 0,478 0,505 0,532 0,572
49 29,2 78,2 0,188 0,253 0,319 0,386 0,399 0,413 0,426 0,440 0,454 0,467 0,495 0,522 0,550 0,592
261
50 28,3 78,3 0,195 0,262 0,330 0,399 0,413 0,427 0,441 0,455 0,469 0,484 0,512 0,541 0,569 0,613
51 27,5 78,5 0,202 0,272 0,342 0,414 0,428 0,443 0,457 0,472 0,486 0,501 0,530 0,560 0,590 0,635
52 26,7 78,7 0,209 0,281 0,354 0,429 0,444 0,459 0,474 0,489 0,504 0,519 0,549 0,580 0,611 0,657
53 26,0 79,0 0,217 0,292 0,368 0,444 0,460 0,475 0,491 0,507 0,522 0,538 0,570 0,601 0,633 0,682
54 25,2 79,2 0,225 0,303 0,381 0,461 0,477 0,493 0,509 0,526 0,542 0,558 0,591 0,624 0,657 0,707
55 24,4 79,4 0,234 0,314 0,396 0,478 0,495 0,512 0,529 0,545 0,562 0,579 0,613 0,647 0,682 0,734
56 23,7 79,7 0,243 0,326 0,411 0,497 0,514 0,531 0,549 0,566 0,584 0,601 0,637 0,672 0,708 0,762
57 22,9 79,9 0,252 0,339 0,427 0,516 0,534 0,552 0,570 0,588 0,607 0,625 0,661 0,698 0,735 0,791
58 22,2 80,2 0,262 0,352 0,444 0,537 0,555 0,574 0,593 0,612 0,631 0,649 0,688 0,726 0,764 0,822
59 21,4 80,4 0,273 0,367 0,462 0,558 0,577 0,597 0,617 0,636 0,656 0,675 0,715 0,755 0,795 0,855
23/3/2007, 15:44
60 20,7 80,7 0,284 0,382 0,481 0,581 0,601 0,621 0,642 0,662 0,682 0,703 0,744 0,786 0,827 0,890
61 20,0 81,0 0,296 0,397 0,500 0,605 0,626 0,647 0,668 0,689 0,711 0,732 0,775 0,818 0,861 0,927
DESEQUILÍBRIO: CAUSAS E SOLUÇÕES
(continua)
261
Cap06.pmd
(continuação)
262
Idade Es Ev 15 20 25 30 31 32 33 34 35 36 38 40 42 45
62 19,3 81,3 0,308 0,414 0,522 0,630 0,652 0,674 0,696 0,718 0,741 0,763 0,807 0,852 0,898 0,966
63 18,6 81,6 0,322 0,432 0,544 0,657 0,680 0,703 0,726 0,749 0,772 0,795 0,842 0,889 0,936 1,007
262
64 18,0 82,0 0,336 0,451 0,568 0,686 0,710 0,734 0,758 0,782 0,806 0,830 0,879 0,927 0,976 1,051
65 17,3 82,3 0,351 0,471 0,593 0,716 0,741 0,766 0,791 0,816 0,841 0,867 0,917 0,968 1,020 1,097
66 16,7 82,7 0,366 0,492 0,619 0,749 0,775 0,801 0,827 0,853 0,879 0,906 0,959 1,012 1,065 1,146
JOSÉ CECHIN – ANDREI DOMINGUES CECHIN
67 16,0 83,0 0,383 0,515 0,648 0,783 0,810 0,837 0,865 0,892 0,919 0,947 1,002 1,058 1,114 1,198
68 15,4 83,4 0,401 0,539 0,678 0,819 0,848 0,876 0,905 0,933 0,962 0,991 1,049 1,107 1,166 1,254
69 14,8 83,8 0,420 0,564 0,710 0,858 0,887 0,917 0,947 0,977 1,007 1,038 1,098 1,159 1,220 1,313
70 14,2 84,2 0,440 0,591 0,744 0,898 0,930 0,961 0,992 1,024 1,055 1,087 1,150 1,214 1,278 1,375
Es: esperança de sobrevida – anos adicionais de vida, dado que alcançou certa idade. Ev: esperança de vida - anos de vida.
23/3/2007, 15:44
CAPÍTULO 7
1 INTRODUÇÃO
Em dezembro de 1993 foi aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas),
garantindo um salário mínimo (SM) de benefício mensal para pessoas com mais
de 70 anos que comprovassem possuir uma renda familiar per capita inferior a
1/4 do valor do SM. Posteriormente, o limite de idade foi reduzido para 67 anos
e depois para 65 anos.
A concessão desse benefício não exige qualquer contribuição prévia para o
sistema de previdência social.1 A Loas tem por objetivo evitar que trabalhadores
pobres, que não contribuíram para a previdência social durante sua vida ativa –
seja porque, em decorrência de seus baixos salários, têm uma taxa de desconto do
tempo muito elevada privilegiando o consumo presente, seja devido à incapacidade
de obter emprego permanente ao longo de sua vida útil –, não fiquem totalmente
desprotegidos quando perdem a capacidade de trabalho ao atingir a velhice. Caberia
ao Estado prover alguma proteção mínima a esses trabalhadores.
Apesar de seus nobres objetivos, a possibilidade de que um trabalhador, sem
ter realizado qualquer contribuição para a previdência social, venha a ganhar pensão
de 1 SM mensal, correspondente ao piso salarial dos trabalhadores que estão na
vida ativa, pode ter um efeito colateral preocupante para o equilíbrio financeiro
* Agradecemos a Paulo Tafner e Fabio Giambiagi pelos comentários e sugestões. Quaisquer erros e omissões neste trabalho são de nossa
inteira responsabilidade.
2. Giambiagi et al. (2004) apresentam evidências desse impacto pelo lado dos gastos.
Nos grupos de controle são incluídos os trabalhadores por conta própria jovens
e com mais escolaridade, que têm melhores perspectivas de aumento de renda no
mercado de trabalho, e os conta-própria mais velhos. Para esses dois últimos grupos
a introdução da Loas não deve ter alterado muito os incentivos para a contribuição
previdenciária, no primeiro caso porque o diferencial entre o salário recebido
quando da entrada no mercado de trabalho e o recebido ao se aposentar compensaria
a contribuição ao longo da vida ativa e, no segundo, porque ou já não contribuíam
e portanto não seriam afetados, ou, se contribuíam, o investimento já realizado na
aposentadoria compensaria a continuidade da contribuição. Na análise empírica
são encontradas evidências consistentes com o argumento de que a Loas, de fato,
reduziu a probabilidade de contribuição para a previdência dos trabalhadores
potencialmente afetados pela lei.
O trabalho está organizado em cinco seções além desta introdução. A seção 2
descreve a Loas, procurando destacar como ela pode influenciar as decisões dos
trabalhadores quanto a contribuir ou não para a previdência. A seção 3 apresenta
uma descrição do perfil dos contribuintes no Brasil, de acordo com a posição na
ocupação, escolaridade, idade, setor de atividade, gênero e faixa de rendimento do
trabalho. Em seguida, descreve-se a metodologia usada nas estimações. A seção 5
mostra os resultados encontrados e a seção 6 conclui o trabalho, apresentando,
ainda, algumas sugestões de política que poderiam amenizar o efeito descrito no
capítulo.
TABELA 1
Número de beneficiados e valores gastos com a Loas (idosos)
3. Note-se que, além dos 7,65% pagos pelo trabalhador, o empregador deve contribuir ainda com 20% do valor do salário. Como pelo
menos uma parte dessa contribuição é efetivamente paga pelo trabalhador sob a forma de menores salários reais, a hipótese de 10% é
conservadora para os objetivos deste capítulo. Estudos para o Brasil mostram que a elasticidade encargos trabalhistas-salário real do
trabalhador é 0,46, o que significa que dos 20% pagos pela empresa, 9,2% são pagos pelos trabalhadores através de reduções do
salário real (FERNANDES; MENEZES-FILHO, 2002).
alternativa para esses indivíduos é contribuir por 15 anos e obter uma aposentadoria
por idade. Como a tabela 2 mostra, exceto para uma expectativa de vida muito
elevada, essas duas últimas alternativas devem ser inferiores à situação em que o traba-
lhador não contribui e passa a receber os recursos da Loas após completar 65 anos.
A tabela 2 apresenta, para diversas taxas de juros, as diferenças entre os valores
futuros da opção de não contribuir e receber os benefícios da Loas em relação às
duas outras alternativas apresentadas anteriormente. Supõe-se, neste exercício, que
a pessoa começa a trabalhar com 20 anos e vive até os 80. Contribuindo para a
previdência com 7,65% do valor do salário mensal, a pessoa se aposenta aos 55,
recebendo o mesmo valor do salário durante a vida produtiva. A aposentadoria
por idade é concedida aos 65 anos àqueles que contribuíram por 15 anos. Caso
prefira não contribuir, o trabalhador poupa 7,65% do seu salário todo mês, du-
rante 35 anos. Após os 65 anos, esse trabalhador passa a receber uma aposentado-
ria de 1 SM através da Loas.
Esse exercício é implementado para taxas de juros mensais de 0,5%, 0,75%,
1%, 1,5% e 2% , e para rendimentos de 1, 2 e 3 SMs. De acordo com a tabela 2,
a opção de não contribuir para a previdência é melhor para todas as taxas de juros
TABELA 2
Valor presente da diferença de renda obtida por não contribuir em relação a contribuir
para a previdência
3 ANÁLISE DESCRITIVA
Esta seção apresenta uma descrição, ao longo do tempo, do perfil do trabalhador
que contribui para a previdência social no Brasil. Essa análise é feita usando dados
da Pnad, para os seguintes anos: 1992, 1996, 1999 e 2004. Em cada um desses
anos são apresentadas as proporções de trabalhadores contribuindo para a previ-
dência por nível de escolaridade, grupo etário, posição na ocupação, setor de ati-
vidade e faixa de rendimento do trabalho.
Em 1992, 60% dos trabalhadores empregados contribuíam para a previdên-
cia, como mostra a tabela 3. Essa proporção diminuiu ao longo do tempo, e em
2004, 52% dos trabalhadores contribuíam para a previdência social.
A tabela 3 também mostra que a contribuição para a previdência está fortemente
relacionada com a posição na ocupação. Trabalhadores com carteira necessaria-
mente contribuem.4 Já entre os sem carteira, o nível de contribuição é extrema-
mente baixo em todos os anos. Em 1992, cerca de 73% dos empregadores
contribuíam para a previdência, mas essa proporção diminuiu para 58,5% em
2004. Entre os trabalhadores por conta própria, 27% contribuíam em 1992, e em
2004 o grau de contribuição caiu para apenas 15%.
Há uma relação positiva entre contribuição e nível de escolaridade. Em 1992,
41% dos trabalhadores com menos de quatro anos de estudo contribuíam para a
previdência, enquanto entre os trabalhadores com 11 anos de estudo ou mais essa
proporção era de 80%. A diferença foi ampliada ainda mais ao longo do tempo, já
que o grau de contribuição diminuiu muito mais para os pouco escolarizados.
Nota-se que também existem algumas diferenças por grupo etário. Entre os
trabalhadores mais jovens, o grau de contribuição é baixo, passando a aumentar
4. Valores menores do que 100% para esse grupo na tabela 3 se devem a erros nos dados.
TABELA 3
Trabalhadores que contribuem para a previdência – 1992-2004
(Em %)
com a idade. No grupo com 50 anos ou mais, porém, ocorre uma redução na
proporção de contribuintes, que pode ser explicada pelo fato de muitos trabalha-
dores nessa faixa etária já receberem aposentadoria.
A tabela 3 também destaca o fato de que, na indústria, uma fração elevada
dos trabalhadores contribui para a previdência social. Nos serviços e no comércio o
grau de contribuição é bem menor. Ao longo do tempo, porém, a maior redução na
proporção de trabalhadores contribuindo ocorreu exatamente entre os emprega-
dos da indústria.
Em 1992 existiam algumas diferenças na proporção de contribuintes por
gênero, com os homens contribuindo mais do que as mulheres. Essa diferença, no
entanto, parece ter desaparecido ao longo do tempo, como mostra a tabela 3.
Nota-se uma associação positiva entre a proporção de pessoas que contribuem
para a previdência e a faixa de rendimentos do trabalho em termos do SM. Em todos
os grupos de rendimentos a tendência foi de diminuição na proporção de contri-
buintes ao longo do tempo. Essa redução concentrou-se no período 1992-1996, e
foi particularmente mais forte para as pessoas que recebiam salários mais baixos.
4 ANÁLISE EMPÍRICA
A análise do efeito da Loas sobre a contribuição para a previdência é feita utilizan-
do-se o método de diferenças em diferenças (CARD, 1990; ANGRIST; KRUEGER,
1999). De acordo com o argumento proposto neste capítulo, a Loas deve ter
reduzido a propensão a contribuir para a previdência de determinados grupos de
trabalhadores. Esses seriam os mais jovens e menos educados e, portanto, com
poucas perspectivas no mercado de trabalho. Trabalhadores mais velhos, com muitos
anos de contribuição, e trabalhadores com salários mais elevados, por outro lado,
não devem ter sido afetados pela Loas. A análise empírica consiste justamente em
estimar o efeito da mudança na legislação sobre o primeiro grupo, que deve ter
sido influenciado por essa mudança, em comparação com o grupo de tratamento,
que não deve ter sido afetado pela alteração na legislação.
Dois conjuntos de resultados são estimados. Primeiramente, são utilizados
apenas os indivíduos com menos de oito anos de estudo. São classificados no
grupo de controle os trabalhadores com idade entre 21 e 29 anos, e no grupo de
tratamento, aqueles com idade entre 40 e 64 anos. Em seguida, em um segundo
conjunto de resultados, estão somente trabalhadores com idade entre 21 e 29
anos. Nesse caso, o grupo de tratamento é definido por trabalhadores com menos
de oito anos de estudo, que não completaram o ensino médio, enquanto o grupo
de controle é dado por trabalhadores com oito anos de estudo ou mais, que pelo
menos completaram o ensino médio. Como a Loas foi aprovada em 1993, pas-
sando a vigorar em 1996, são avaliadas as probabilidades de contribuir para a
previdência nos grupos de tratamento e controle entre 1992 e 1996 e entre 1992
e 1997.5
Mais detalhes da estratégia empírica são apresentados a seguir. Para começar,
podemos definir Y0i como a decisão de um trabalhador no grupo i quanto a con-
tribuir ou não para a previdência, sem a existência da Loas. Onde Y0i é igual a 1 se
o trabalhador contribui e igual a 0, caso contrário. Y1i representa a decisão de um
trabalhador no grupo i contribuir após a introdução da Loas. Portanto, a propor-
ção de trabalhadores contribuindo no grupo i, no ano t , é dada por:
E [Y0i / c , t ] = βt + γ c (2)
Yi = βt + γ c + δMi + ei (4)
onde:
ei é um termo específico do indivíduo, tal que E [ei / c, t] = 0.
Mi é uma dummy interativa igual ao produto de uma dummy indicando
observações em 1996 com uma dummy indicando que o indivíduo pertence ao
grupo de tratamento.
O estimador de diferenças em diferenças pode ser computado através da
equação (5):
Yi = X i′ β0 + βt + γ c + δMi + ei (6)
5 EVIDÊNCIAS
A tabela 4 mostra os resultados estimados usando como grupo de tratamento os
jovens com idade ente 21 e 29 anos e como grupo de controle os trabalhadores
adultos com idade entre 40 e 64 anos. Apenas pessoas com menos de oito anos de
escolaridade são incluídas nessas regressões.6 A implementação da Loas não deve
ter alterado de forma significativa os incentivos para contribuir aos trabalhadores
mais escolarizados, que por receberem salários mais elevados devem ser mais pro-
pensos a optar pela aposentadoria convencional e não pela Loas. São excluídos da
amostra os trabalhadores que já recebem aposentadoria, e as regressões são estimadas
pelo método logit.
As probabilidades de contribuição se mostram menores para os jovens em
relação aos indivíduos mais velhos nas equações (1) e (3), mas esse resultado se
TABELA 4
Probabilidade de contribuir para a previdência – logit – trabalhadores com menos de 8
anos de escolaridade
1992-1996 1992-1997
Controles:
Região, gênero, escolaridade, idade, setor e rendimentos Não Sim Não Sim
6. Resultados semelhantes são obtidos usando pessoas com menos de 11 anos de escolaridade.
inverte quando são incluídas características individuais nas colunas (2) e (4). Nota-se
ainda que as probabilidades de contribuição são menores em 1996 e 1997 em
comparação com 1992. A interação entre a dummy para os jovens e a dummy de
ano para 1997 é negativa e significativa nas duas especificações. Para 1996, apenas
na coluna (1) a dummy interativa é significativamente negativa.
Na tabela 5, são incluídos nas regressões apenas os trabalhadores com idade
entre 21 e 29 anos. No grupo de tratamento estão os indivíduos com menos de
oito anos de estudo, que devem ser os potencialmente mais afetados pela introdução
da Loas.7 No grupo de controle estão os trabalhadores jovens com oito anos de
estudo ou mais. Os resultados mostram que a probabilidade de contribuir para a
previdência é menor entre os menos escolarizados, mesmo controlando para o
setor de atividade e os rendimentos recebidos no emprego. Comparando 1996 e
1997 com 1992, os resultados indicam que a probabilidade de contribuir para a
previdência é menor nos períodos mais recentes, exceto na equação (4).
TABELA 5
Probabilidade de contribuir para a previdência – logit – trabalhadores com idade entre
21 e 29 anos
1992-1996 1992-1997
(1) (2) (3) (4)
Constante –0,914 –6,976 –0,914 –11,342
(24,43) (2,34) (24,53) (3,79)
Menos de 8 anos de estudo –1,106 –0,674 –1,106 –0,650
(19,16) (10,36) (19,23) (9,93)
D1996 –0,171 –0,426
(2,66) (5,76)
Escolaridade<8 anos x D1996 –0,161 –0,084
(1,50) (0,72)
D1997 –0,147 –0,071
(2,32) (1,00)
Escolaridade<8 anos x D1997 –0,394 –0,385
(3,59) (3,26)
Controles:
Região, gênero, escolaridade, idade, setor e rendimentos Não Sim Não Sim
Observações 12.744 12.744 12.962 12.962
2
Pseudo-R 0,05 0,21 0,06 0,21
Obs.: As estatísticas-t são mostradas entre parênteses.
7. Os resultados não são substancialmente alterados ao se redefinirem os grupos de tratamento e controle usando outros níveis educa-
cionais como 4 e 11 anos de estudo.
6 CONCLUSÕES
Este capítulo procura analisar se a introdução da Loas em 1993 criou um incentivo
para que determinados grupos de trabalhadores não contribuíssem para a previ-
dência social e, portanto, para um aumento da informalidade, já que a lei garantia
uma aposentadoria igual a 1 SM a todos os trabalhadores que completassem 70
anos, sem exigir contribuição prévia. Posteriormente, esse limite de idade foi reduzido
ainda mais, até 65 anos. Essa análise é feita estimando-se a mudança na probabi-
lidade de contribuir para a previdência antes e depois da Loas para trabalhadores
potencialmente mais afetados pela lei, comparados com grupos de trabalhadores que
não devem ter sido tão afetados.
As evidências empíricas suportam a suposição de que a Loas levou o grupo
de trabalhadores jovens, com nível educacional baixo, a deixarem de contribuir
para a previdência social, agravando ainda mais a situação das contas do governo.
Giambiagi et al. (2004) mostram que os gastos com previdência e assistência social
têm aumentado rapidamente no Brasil durante os últimos anos. As despesas com
a Loas são apontadas por esses autores como um dos fatores responsáveis por isso.
Os resultados aqui apresentados apontam para um efeito negativo adicional da Loas,
que vem do fato de desincentivar a contribuição e com isso reduzir a arrecadação
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social. Loas: Lei Orgânica da Assistência Social-
Legislação Suplementar. 2ª ed. 2001
CARD, D. The impact of the Mariel boatlift on the Miami labor market. Industrial and Labor
Relations Review, v. 43, Jan. 1990.
ANGRIST, J.; KRUEGER, A. Empirical strategies in labor economics. In: ASHENFELTER, O.;
CARD, D. (Eds.). Handbook of Labor Economics, v. 3A, 1999.
FERNANDES, R.; MENEZES-FILHO, N. A. Impactos dos encargos trabalhistas sobre o setor
formal da economia In: CHAHAD, J. P. Z.; FERNANDES, R. (Orgs.). O mercado de trabalho no
Brasil: políticas, resultados e desafios. São Paulo: MTE/Fipe/FEA-USP, 2002.
GIAMBIAGI, F.; MENDONÇA, J.; BELTRÃO, K.; ARDEO, V. Diagnóstico da previdência social
no Brasil: o que foi feito e o que falta reformar? Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 34, n. 3, dez.
2004.
APÊNDICE
TABELA A.1
Probabilidade de contribuir para a previdência – logit – trabalhadores com menos de 8
anos de escolaridade
1993-1996 1993-1997
(1) (2) (3) (4)
Constante –1,003 –8,559 –1,003 –9,039
(35,39) (9,91) (35,73) (10,32)
Trabalhadores jovens –1,185 0,134 –1,185 0,203
(15,91) (0,62) (16,07) (0,93)
D1996 –0,096 –0,338
(2,40) (7,48)
Trabalhadores jovens x D1996 –0,068 0,022
(0,62) (0,19)
D1997 –0,210 –0,210
(5,27) (4,66)
Trabalhadores jovens x D1997 –0,163 –0,087
(1,44) (0,72)
Controles:
Região, gênero, escolaridade, idade, setor e rendimentos Não Sim Não Sim
Observações 17.673 17.673 18.202 18.201
2
Pseudo-R 0,0336 0,2022 0,0364 0,2089
Obs.: As estatísticas-t são mostradas entre parênteses.
TABELA A.2
Probabilidade de contribuir para a previdência – logit – trabalhadores com menos de
8 anos de escolaridade
1992-1998 1993-1998
(1) (2) (3) (4)
Constante –0,940 –9,546 –1,003 –8,965
(47,40) (13,83) (35,61) (10,01)
Trabalhadores jovens –1,080 0,484 –1,185 0,256
(22,13) (2,84) (16,01) (1,15)
D1996 –0,455 –0,487
(12,82) (12,26)
Trabalhadores jovens x D1996 –0,210 –0,179
(2,05) (1,65)
D1997 –0,392 –0,389
(9,60) (8,50)
Trabalhadores jovens x D1997 –0,104 –0,080
(0,89) (0,650)
Controles:
Região, gênero, escolaridade, idade, setor e rendimentos. Não Sim Não Sim
Observações 27.033 27.031 18.271 18.271
2
Pseudo-R 0,037 0,206 0,038 0,203
Obs.: As estatísticas-t são mostradas entre parênteses.
TABELA A.3
Probabilidade de contribuir para a previdência – logit – trabalhadores com idade entre
21 e 29 anos
1993-1996 1993-1997
(1) (2) (3) (4)
Constante –0,805 –8,237 –0,805 –15,267
(15,62) (2,24) (15,72) (4,14)
Menos de 8 anos de estudo –1,384 –0,941 –1,384 –0,944
(16,27) (10,19) (16,37) (10,20)
D1996 –0,280 –0,451
(3,81) (5,45)
Escolaridade < 8 anos x D1996 0,116 0,160
(0,93) (1,20)
D1997 –0,256 –0,170
(3,53) (2,14)
Escolaridade < 8 anos x D1997 –0,117 –0,132
(0,92) (0,98)
Controles:
Região, gênero, escolaridade, idade, setor e rendimentos. Não Sim Não Sim
Observações 8.365 8.364 8.583 8.583
2
Pseudo-R 0,066 0,192 0,076 0,193
Obs.: As estatísticas-t são mostradas entre parênteses.
TABELA A.4
Probabilidade de contribuir para a previdência – logit – trabalhadores com idade entre
21 e 29 anos
1992-1998 1993-1998
Controles:
Região, gênero, escolaridade, idade, setor e rendimentos Não Sim Não Sim
TABELA A.5
Probabilidade de contribuir para a previdência – logit
Controles:
Região, gênero, escolaridade, idade, setor e rendimentos. Não Sim Não Sim
INFORMALIDADE*
Marcelo Neri**
1 INTRODUÇÃO
As causas da informalidade são mais complexas do que as altas e crescentes alíquotas
previdenciárias e encargos trabalhistas, envolvendo uma série de fatores como a
estrutura de incentivos imposta pelas leis e práticas emanadas do Estado e seus
impactos sobre a eficiência econômica, considerações sobre competição predatória
entre os setores formal e informal da economia, além da busca de maior eqüidade
distributiva tanto na taxação como na oferta de serviços públicos e de proteção
social. Visamos à realização de um diagnóstico empírico acerca da informalidade
trabalhista e previdenciária em suas diversas modalidades, explorando a diversidade
de atributos individuais, de localização geográfica e de dinâmica ao longo do
tempo. O objetivo é avaliar a extensão da informalidade, seus determinantes e
algumas de suas conseqüências, de forma a permitir a proposição de um conjunto
integrado de ações que melhorem as relações existentes entre o Estado e o mercado
de trabalho.
A mensuração da chamada economia informal, denominada por alguns eco-
nomia subterrânea, apresenta por definição uma série de dificuldades. Buscamos,
através da colagem de algumas contribuições prévias, a elaboração de um arcabouço
conceitual que permita fazer a ligação entre diagnósticos empíricos e implicações
para políticas públicas. Iniciamos com uma análise conceitual das causas e conse-
qüências da informalidade que fundamenta o levantamento empírico. Cruzamos,
a partir de diferentes bases de dados, uma série de atributos dos indivíduos e dos
estabelecimentos. Três focos de diagnóstico são perseguidos: em primeiro lugar, a
análise da evolução da informalidade previdenciária ao longo do ciclo da vida dos
trabalhadores. O segundo foco decorre da interação entre variáveis de localização
* Gostaria de agradecer a excelente assistência de pesquisa de Luisa Carvalhaes, Samanta Reis e Hugo Simas.
** Chefe do Centro de Políticas Sociais do Ibre/FGV e professor da EPGE/FGV.
2 VISÃO CONCEITUAL
O objetivo desta breve seção é articular as questões de políticas relacionadas à
informalidade. Não buscamos apresentar um arcabouço completo e conclusivo
sobre a informalidade, mas uma visão geral que permita conectar as evidências
empíricas ao desenho de iniciativas privadas e de ações por parte do Estado.
2.1 Causas
A análise dos determinantes da informalização das relações trabalhistas passa por
uma série de elementos, a começar por altas alíquotas fiscais. O impacto final dos
níveis de alíquotas sobre a arrecadação tributária é captado pela chamada curva de
Laffer. É freqüente os livros-textos de Finanças Públicas apresentarem uma curva
de Laffer em forma de sino. A idéia é que, quanto maior a alíquota, menor a base
de arrecadação de impostos. A informalidade está associada a encargos fiscais cres-
centes pelos vários níveis de governo. Pode-se pleitear a existência de uma relação
2.2 Conseqüências
A análise da informalidade pode ser dividida em conseqüências, diagnóstico de
suas causas e, por último e mais importante, prescrições de políticas. As principais
conseqüências da alta informalidade observada no caso brasileiro são: inconsis-
tências fiscais/ineficiência econômica, transferências arbitrárias de renda e a
desproteção social, conforme ilustra o diagrama 1.
A primeira conseqüência indesejada da informalidade seria a disseminação de
distorções e ineficiências derivadas de comportamentos rent-seeking e a introdução
de incertezas sobre a situação fiscal futura. Esses dois efeitos colaterais adversos da
informalidade nos remetem a características associadas ao processo inflacionário
vivido pelo país até meados dos anos 1990. Uma segunda conseqüência da
informalidade crescente é gerar transferências arbitrárias de renda, sem que sejam
mediadas por decisões conscientes baseadas em juízos do valor por parte da sociedade
ou dos seus representantes. Em particular, num regime previdenciário de repartição
simples, a informalização crescente das relações trabalhistas, acompanhada de en-
velhecimento populacional e de aumento da distribuição de benefícios
previdenciários, como induzido pela Constituição de 1988, tende a produzir efeitos
redistributivos entre gerações (OLIVEIRA, 1994; OLIVEIRA; BELTRÃO; FERREIRA, 1998;
NERI, 1999; CAMARANO, 1999, 2004, 2005).
Por último, a não-contribuição previdenciária acaba por gerar um grupo de
indivíduos desprotegidos de choques como aqueles ligados à saúde e à maternidade
DIAGRAMA 1
Impactos da informalidade
Informalidade
Interações público-
privadas (ex.: políticas,
seguro e poupança)
Choques idiossincráticos
(ex.: saúde e velhice)
bem como da situação esperada para a própria velhice. Nesses casos, os indivíduos
deveriam se proteger por conta própria de tais eventualidades. As modalidades
defensivas alternativas à formalidade seriam a poupança prévia e/ou a contratação
privada de diferentes modalidades de seguro (contra invalidez, contra problemas
de saúde incluindo cláusulas de auxílio pós-parto etc.), o que, em geral, não é o
caso, principalmente para a população mais pobre.
GRÁFICO 1
Razão relativa
(Renda do trabalho) (Chance de ocupação)
3 8,00
7,00
2
6,00
2 5,00
4,00
1 3,00
2,00
1
1,00
0 0,00
16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66
1. As séries foram construídas a partir de dummies para cada ano de idade de uma equação de salários minceriana e de uma regressão
logística, respectivamente, tomando a idade de 16 anos como referência.
2. Este fenômeno decorre do fato frisado na Teoria de Capital Humano, desenvolvida por Gary Becker, de que os mais jovens tendem a
investir mais em novos conhecimentos pelo horizonte mais longo para recuperar o investimento.
3.1 Previdência
A taxa de contribuição para a previdência social é quase dez vezes maior do que
para fundos de previdência privada: 20,31% e 2,68%, respectivamente. Os picos
etários das duas taxas de contribuição estão situados em fases distintas, conforme
ilustra o gráfico 2.
A contribuição para a previdência pública é mais uniformemente distribuída
nas faixas entre 25 e 50 anos, atingindo o máximo na faixa de 35 a 40 anos
(41,57%). Já o pico da taxa de contribuição para previdência privada está na faixa
de 45 a 49 anos (4,36%). A POF nos permite ir além e conhecer o volume mone-
tário gasto na contribuição para a previdência no caso da população metropolitana
ocupada no setor privado que contribui. Ou seja, é uma medida de intensidade de
contribuição. O gráfico 3 indica a ascensão do valor médio da contribuição até o
grupo de 40 a 45 anos, seguida de queda (NERI; CARVALHAES, 2006).
GRÁFICO 2
Porcentagem dos que contribuem para a previdência
(Social) (Privada)
45,00 5,00
40,00 4,50
35,00 4,00
30,00 3,50
3,00
25,00
2,50
20,00
2,00
15,00 1,50
10,00 1,00
5,00 0,50
0,00 0,00
15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-55 55-60 60 ou +
Fonte: CPS/Ibre/FGV a partir dos microdados da Pnad de 2002. Previdência social Previdência privada
GRÁFICO 3
Contribuição previdenciária média
(Em R$)
40,00
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-55 55-60 60-65 65-70 Mais de 70
GRÁFICO 4
Evolução da taxa de contribuição previdenciária entre os ocupados
90
80
70
60
50
40
30
0a9 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79
Fonte: CPS/Ibre/FGV a partir dos microdados dos Censos de 1980, 1991 e 2000. 1980 1990 2000
GRÁFICO 5
Taxa de contribuição previdenciária entre os ocupados
90
80
70
60
50
40
30
10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 ou +
Fonte: CPS/Ibre/FGV a partir dos microdados dos Censos de 1980, 1991 e 2000.
3. O equivalente do problema de atrito amostral no campo das coortes são diferenciais de mortalidade entre as características analisadas, como
homens e mulheres, brancos e negros, pobres e não-pobres. Observamos que as mulheres vivem mais do que os homens, que a proporção
de negros e pardos diminui com o passar da idade e que o nível de pobreza entre os idosos também é menor do que no restante da população.
4. Não podemos colocar a variável ano pura, pois ela guarda relação de dependência linear perfeita com as outras duas. Isto é, se
somarmos a idade à data de nascimento, sabemos qual é o ano. Optamos por captar a variável ano pela escolaridade média do Estado
do Rio de Janeiro, que cresce aproximadamente à taxa de um ano por década, sendo facilitada a interpretação dos coeficientes.
REGRESSÃO LOGÍSTICA
Essa técnica permite estimar as probabilidades de ocorrência de um evento, dado
um conjunto de características observáveis (AGRESTI, 1996). A regressão logística
binomial é utilizada para estudar variáveis dummies, que são aquelas compostas
apenas por duas opções de eventos, como “sim” ou “não”. A transformação logística
pode ser interpretada como sendo o logaritmo da razão de probabilidades, sucesso
versus fracasso. A função de ligação desse modelo linear generalizado é dada pela
seguinte equação:
p K
ηi = log i = ∑ βk xik
1 − pi k =0
K
exp ∑ βk xik
pi = k =0
K
1 + exp ∑ βk xik
k =0
4.1 Políticas
Antes de aprofundarmos o diagnóstico quantitativo da evolução e dos determinantes
da informalidade, é interessante explorar um marco conceitual que integre pro-
postas de medidas para melhorar a base de cobertura previdenciária. Esta seção
busca construir uma ligação entre resultados empíricos gerados e medidas de ex-
pansão de cobertura formal.
De maneira geral, existem dois tipos de medidas para redução da informalidade,
a saber: as estruturais e as operacionais. No grupo de medidas estruturais figuram
basicamente mudanças no sistema de incentivos para a contribuição do sistema
DIAGRAMA 2
Políticas pró-formalização
Tipos de políticas
Esferas de políticas
TABELA 1
Brasil: taxa de contribuição para previdência – população ocupada – 1993-2004
(Em %)
Sexo
Posição na família
(continuação)
Raça
Idade
Imigração
Tempo de emprego
(continuação)
Anos de educação
Região
Densidade demográfica
deu no período mais recente (2 p.p. entre 1999 e 2002 e 1,2 p.p entre 2002 e 2004),
com pequena queda observada na segunda metade da década de 1990 (–0,2 p.p.
entre 1996 e 1999). A criação e a difusão de modalidades de crédito consignado
para aposentados e empregados formais, ocorridas no Brasil nos últimos anos,
fizeram aumentar as vantagens por formalidade previdenciária e podem ter de-
sempenhado algum papel nesse processo. O aumento na contribuição
previdenciária foi impulsionado pelas áreas não-metropolitanas: a formalidade
cresce 3,6 p.p. tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas, com queda de 4,2 p.p.
nas metropolitanas.
Comparando os diferentes grupos da população, encontramos em 2004 taxas
de contribuição próximas entre homens e mulheres, 45,58% deles contra 45,06%
delas. Em 1993, essa diferença era de 5 p.p. em favor deles. Isso reflete o aumento
da formalidade entre os cônjuges, que no último ano atinge a taxa de 43,44%,
( ) (
g 3 = Y2, B − Y2, A − Y1, B − Y1, A )
onde cada Y representa a média da variável estudada para cada ano e grupo, com
o número subscrito representando o período da amostra (1 para antes da mudança
e 2 para depois da mudança) e a letra representando o grupo ao qual o dado pertence
(A para o grupo de controle e B para o grupo de tratamento). Assim, g3 é nossa
estimativa. Obtendo g3, determinamos o impacto do experimento natural sobre a
variável que gostaríamos de explicar.
Representando o método através de uma regressão e criando as variáveis
indicadoras (ou dummies): dB igual a 1 para os indivíduos do grupo de tratamento
e 0 para os indivíduos do grupo de controle; e d2, igual a 1 quando os dados se
referem ao segundo período pós-mudança, e 0 caso os dados se refiram ao período
pré-mudança; temos:
RAZÃO DE VANTAGENS
É dada pela seguinte relação:
p1
1 − p1
θ=
p2
1 − p2
TABELA 3
Brasil: contribuição previdenciária por posição na ocupação – 1993-2004
(Em %)
5 INFORMALIDADE EMPREGATÍCIA
GRÁFICO 6
Renda per capita versus informalidade
(Dados em log)
5,5
4,5
–1,6 –1,5 –1,4 –1,3 –1,2 –1,1 –1 –0,9 –0,8 –0,7 –0,6 –0,5 –0,4 –0,3 –0,2
MAPA 1
Taxa de informalidade trabalhista
0,197-0,351
0,351-0,475
0,475-0,621
0,621-0,842
Fonte: Pnads de 1998 e 1999.
Elaboração: CPS/Ibre/FGV. Sem informação
não podem se dar ao luxo de ficar buscando uma ocupação melhor. No longo
prazo, o trabalhador informal é mais descoberto de programas de previdência
social do que o formal. A própria estrutura de custos e benefícios associados à
legislação trabalhista e previdenciária toma a informalidade como modalidade de
evasão fiscal. Essa informalidade voluntária deve ser combatida com a incorporação
de incentivos “corretos” na legislação que incentivem a formalização.
Se quisermos entender minimamente o problema da informalidade, a sua
diversidade tem de ser endereçada. Nesse sentido, a agregação do heterogêneo
grupo de trabalhadores conta-própria, lado a lado com os empregados sem carteira
e os sem pagamento talvez esconda mais do que revele. Os conta-própria são
aqueles que não têm simultaneamente nem patrão nem empregados, conforme a
definição usual dada pelas pesquisas domiciliares do IBGE. De acordo com a
natureza das relações trabalhistas, os conta-própria ou os sem-patrão/sem-empregados
seriam os “primos pobres” dos empregadores, enquanto os empregados sem carteira
e os sem pagamento seriam os “primos pobres” dos empregados com carteira. Ou
seja, a principal relação de parentesco que une os trabalhadores autônomos, os
5. Agora, muitas vezes, queremos ter uma visão sintética da situação social-trabalhista. Nesse caso, talvez seja melhor utilizar medidas de
bem-estar social baseadas em renda domiciliar per capita do trabalho, isto é, a soma das rendas do trabalho de todos os membros da
família dividida pelo número de membros. Esse conceito resume uma série de fatores operantes sobre o trabalho de todos os familiares,
como os níveis de ocupação e de rendimento, auferidos de maneira formal ou informal.
d.C. Em contrapartida, a nova carga horária máxima, que atingia 3% a.C., passa
a 8% d.C.
Embora os empregados sem carteira ganhem menos e trabalhem em excesso
mais freqüentemente que os empregados com carteira, o efeito do salário mínimo
e da jornada máxima de trabalho sobre os empregados informais pode ser reco-
nhecido nos limites da legislação. Mas não é só: 83% dos trabalhadores formais e
79% dos informais recebem salário mensalmente, prazo máximo permitido pela
lei. A legislação determina, ainda, que o pagamento seja feito pelas empresas até o
quinto dia útil do mês seguinte ao trabalhado: 19,71% dos empregados formais e
11,18% dos informais recebem salário exatamente nessa data. Finalmente, a pro-
porção de reajustes nominais de exatos 100% concedidos somente em dezembro,
usada como proxy do pagamento do 13o salário na data-limite, é de 4,4% no caso
dos empregados informais. Tudo isso confirma a influência de práticas de paga-
mento legais sobre os empregados ilegais.
As semelhanças entre segmentos legais e ilegais são justificadas pela possibi-
lidade de ambos os tipos de trabalhadores garantirem seus direitos recorrendo à
Justiça do Trabalho. Nesse sentido, os empregados sem carteira constituem potenciais
empregados com carteira. A ameaça legal força as empresas a garantirem os direitos
trabalhistas individuais por antecipação.
Nessa perspectiva, o grande prejudicado das ligações informais existentes
entre firmas e trabalhadores é o governo, pois os encargos trabalhistas devidos são
ignorados: apenas 7,7% dos empregados informais do país contribuem para o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Entre aqueles com carteira, a contri-
buição atinge a totalidade dos trabalhadores. Em suma, os trabalhadores sem car-
teira assinada diferem dos registrados mais nos encargos sociais e menos nos direitos
trabalhistas. Firmas e trabalhadores estão barateando custos fiscais através da
informalidade. Desde 1989, o número de empregos formais caiu 21,6%, enquanto
as vagas ilegais aumentaram 27,6%. Pelo menos dois tipos de fatores explicam a
ilegalidade crescente das relações trabalhistas: a) o fato de o empregado, com boas
razões, não perceber a ligação entre contribuição presente e benefícios a serem
auferidos no futuro; b) direitos trabalhistas são independentes do caráter legal da
relação de trabalho assumida. O aparato legal, da forma como foi desenhado,
desincentiva a formalização do emprego.
Em contraste com o pensamento convencional, o alcance das leis trabalhistas
parece afetar os resultados do mercado de trabalho até mesmo no setor de emprego
considerado como informal. Seguindo prática comum no Brasil, distinguimos
emprego formal do informal observando se o contrato de trabalho foi aprovado
1987(a. C.) 32 25
TABELA 5
Custos trabalhistas salariais e não-salariais
(Mensalmente, com o número normal de horas trabalhadas = 44 horas semanais)
z Essas disputas são resolvidas pela Justiça do Trabalho, que ganhou ao longo
do tempo a reputação de ter um forte viés pró-trabalho. De acordo com a lei
brasileira, os tribunais de trabalho têm poder para estabelecer políticas. Os tribunais
de trabalho – julgando um caso particular – são autorizados a formular políticas
em áreas onde a lei é ambígua na opinião da corte.
z Nenhum contrato de emprego é estritamente legal a menos que seja apro-
vado pelo MTE, o que leva o governo a ter de legalizar e validar contratos especiais
para condições de trabalho específicas, sem os quais os empregadores estariam
vulneráveis a caros processos. Tais intervenções, apesar de bem-intencionadas,
podem levar a futuras ambigüidades, exacerbando assim o problema da incerteza
sobre os custos trabalhistas totais e impondo aos empregadores um dispendioso
consumo de tempo durante os casos que demoram na corte.
z Barganhas coletivas entre os trabalhadores e os empregadores podem ser
um instrumento para a formulação de contratos mais definitivos, mas as regras de
acordos coletivos no Brasil e as práticas que eles têm gerado ignoram sistematica-
mente as condições específicas de trabalho vigentes.
z As altas taxas de contribuições sobre a folha de pagamento e o desenho dos
programas que eles financiam favorecem a evasão e a informalidade.
6 CONCLUSÕES
A informalidade reflete os padrões de relacionamento entre os diversos níveis de
governo e da sociedade. O combate à informalidade decorre de motivações diver-
GRÁFICO 7
A informalidade dos formais: contribuição previdenciária/renda do trabalho
0,20
0,18
0,16
0,14
0,12
0,10
0,08
0,06
0,04
0,02
0,00
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
vamente 4,2 e 4,7 vezes maiores que a observada entre empregados com carteira.
Complementarmente, esses movimentos para dentro e fora da informalidade geram
evidências úteis na análise dos seus determinantes.
Interações informais – Não se deve olhar os diversos tipos de informalidade
(trabalhista, previdenciária, empresarial, fundiária e mesmo elétrica) de maneira
isolada, mas quantificar complementaridades e substituibilidades entre diferentes
tipos. Por exemplo, se tomarmos as cinco maiores regiões administrativas cariocas,
as grandes favelas cariocas como Complexo do Alemão, Jacarezinho, Rocinha e
Maré, que figuram entre as mais pobres da cidade, não estão entre as cinco mais
informais. Ou seja, as informalidades fundiária e previdenciária não andam de
mãos dadas nesse caso, conforme se poderia esperar.
Em geral, espera-se a ocorrência de sinergia entre diversos tipos de informalidade.
Uma conjectura a ser testada empiricamente é que a criação e a difusão de moda-
lidades de crédito consignado para aposentados e empregados formais ocorridas
no Brasil nos últimos anos não só reduziu a demanda por crédito informal como
aumentaram as vantagens da formalidade previdenciária. Num país com escassez
de crédito como o Brasil, a possibilidade de conseguir empréstimos em condições
mais vantajosas durante a vida ativa ou, prospectivamente, durante a aposentadoria
pode desempenhar incentivo não trivial à formalização das relações trabalhistas.6
Sinergias localizadas, o contexto macroeconômico e a própria tendência
histórica, em função da existência de custos de transição, desempenham papel
relevante na determinação das tendências da informalidade brasileira.
6. Outro candidato natural à explicação do aumento recente da formalidade previdenciária são as pequenas reformas trabalhistas
aplicadas ao fim da última década, instituindo suspensão temporária de contrato trabalhista, condomínio de empregadores rurais,
criação de banco de horas, entre outras.
MAPA 2
Informalidade no mundo
0-16,6
16,6-26,4
26,4-36,9
36,9-49,6
49,6-67,3
Sem informação
(impostos indiretos em cascata etc.), mas para que a carga tributária efetivamente
paga não passe de determinado ponto. A idéia é aumentar a motivação e a respon-
sabilidade fiscal das pessoas físicas e jurídicas.
rica, todos se indignam contra esses males sociais. Mas quando os perdedores das
mudanças são explicitados, pouco é realizado.
Outra causa da dificuldade na implementação de reformas no Brasil é a
ocorrência de um certo preciosismo dos economistas em torno de soluções ótimas
de longo prazo. Isto é, aderimos demasiadamente a uma visão estática fixada no
“primeiro melhor”. Os custos das reformas são, em geral, pagos à vista por um
grupo de atores. Por exemplo, o operário que perdeu seu emprego em função da
abertura econômica. Ao passo que os benefícios são auferidos mais tardia e difusamente.
Mais do que isso, os consumidores se acostumam com os ganhos proporcio-
nados pelas reformas ao longo do tempo. Por exemplo, o avanço no acesso a tele-
fone, fruto da privatização nas telecomunicações, tende a ser esquecido. Numa
situação ideal, uma dada reforma deve ser aplicada quando o valor presente dos
ganhos obtidos pelos vencedores supera o valor presente das perdas sofridas pelos
derrotados. Uma compensação antecipada de parte dessas perdas aumentaria a proba-
bilidade de formação de consensos favoráveis às reformas. Essa visão de negociar
uma solução do tipo “segundo melhor” enfrenta uma certa resistência entre nossos
economistas. O resultado é uma situação em que, na impossibilidade de dar um
grande passo à frente na agenda de reformas, tendemos a dar vários passos para trás.
Em suma, as reformas ajudam a completar mercados apontando os caminhos da
justiça social ou, em outros casos, a corrigir instituições extramercado geradoras de
ineficiências, inconsistências fiscais, incertezas e iniqüidades. No Brasil as reformas
têm sido historicamente discutidas a partir de uma perspectiva macroeconômica, focada
nos possíveis impactos sobre as contas públicas e, mais recentemente, numa ótica
microeconômica, mas raramente a partir dos resultados sociais diretos colhidos.
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FINANCEIRO. Maio de 2000, Curitiba, PR. Anais... 2000.
WOOLDRIDGE, J. M. Introductory econometrics: a modern approach. Cincinnati: South-Western
College Publishing, 2003.
APÊNDICE
TABELA A.1
Brasil: regressão logística – população ocupada que contribui para a previdência
(continuação)
Ricardo Varsano**
Mônica Mora***
1 INTRODUÇÃO
A reforma dos sistemas previdenciários é um item importante da agenda interna-
cional. Constituiu-se a previdência social para cobrir o que a sociedade considera
como riscos sociais básicos decorrentes da perda de capacidade laboral – cuja
definição não é estanque, mas, em geral, abarca aposentadoria, doença e morte
prematura (ver OLIVEIRA, 1997).
O financiamento da previdência se baseia no princípio de capitalização ou
no de repartição. No regime de capitalização, o contribuinte dispõe de uma conta
individual e, com base nela e na expectativa de sobrevida, calcula-se o benefício a
ser recebido, evitando-se que haja transferências inter ou intrageracionais. Pela
sua própria natureza, não há, em princípio, possibilidade de desequilíbrio atuarial
nesse tipo de regime. Há o risco, contudo, de os recursos serem mal aplicados,
resultando em remuneração não condizente com a rentabilidade esperada.
O regime de repartição se baseia em mecanismo no qual a contribuição dos
ativos financia os pagamentos aos inativos. Os regimes de repartição preponderam e
essa opção está associada ao contexto histórico da criação dos sistemas
previdenciários.
As transformações estruturais que ocorrem nas sociedades requerem a revisão
do sistema de previdência organizado sob o princípio de repartição, posto que a
* Os autores agradecem a Fabio Giambiagi e Paulo Tafner pelo apoio e pelos valiosos comentários, isentando-os de eventuais erros
remanescentes. Desnecessário dizer que as opiniões aqui expressas são de única e exclusiva responsabilidade dos autores.
1. Conforme atentado por Dain (1995), contava-se com o apoio do Congresso para tal e, com este artifício, se evitava o uso de recursos
do orçamento fiscal no financiamento da seguridade.
4. A prorrogação da DRU, assim como da Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos
de Natureza Financeira (CPMF), já estavam em discussão no Congresso no início de 2007.
QUADRO 1
Alíquotas e base de incidência de contribuições para a previdência social – 2004
Tipo de contribuinte Alíquota e base de incidência
Empresas em geral, exceto 1%, 2%, ou 3%, conforme o risco da atividade preponderante na empresa,
financeiras sobre o total de remunerações pagas ou creditadas aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos, para financiamento da aposentadoria
especial e dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de
incapacidade laboral decorrente dos riscos ambientais do trabalho;
(continuação)
Produtor rural pessoa jurídica 0,1% sobre o total da receita bruta proveniente da comercialização da
produção rural, para financiamento dos benefícios concedidos em razão do
grau de incidência de incapacidade laboral decorrente dos riscos ambientais
b
do trabalho.
TABELA 2
Fontes de financiamento do INSS: despesas por fonte de recursos – 1994-2004
(Em % do PIB)
Fonte de recursos 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Contribuição sobre a folha
de salários 3,8 3,9 4,2 4,2 4,2 5,0 5,1 5,3 5,3 5,2 5,3
Contribuição social para
financiamento da seguridade
social 0,3 0,3 0,3 0,9 1,2 0,5 0,8 1,1 1,3 1,3 1,9
Recursos do fundo social
de emergência 0,8 1,0 1,2 0,6 0,2 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Contribuição social sobre
o lucro das pessoas 0,2 0,1 0,0 0,1 0,5 0,2 0,2 0,0 0,2 0,3 0,1
Contribuição provisória sobre
movimentação financeira 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4 0,4 0,3 0,2 0,3 0,3
Outras 0,5 0,5 0,3 0,1 0,4 0,4 0,2 0,4 0,4 0,6 0,2
Total 5,6 5,8 6,0 5,9 6,6 6,7 6,7 7,1 7,3 7,7 7,8
Fonte: Ministério da Previdência.
Nota: Inclui Loas.
5. A tabela 2 também considera os recursos destinados ao financiamento da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), mas estes são
pouco relevantes (aproximadamente 0,5% do PIB em 2004).
6. Cabe aqui ressaltar que dadas as especificidades da previdência, o seu financiamento, por definição, deve preservar forte correlação
entre as contribuições específicas à rubrica e o dispêndio com benefícios no regime de repartição. Segundo o capítulo 6 deste livro, o
sistema de previdência social deve resguardar o equilíbrio atuarial, enquanto as despesas financiadas com recursos genéricos deveriam
ser consideradas de assistência social e classificadas como tal. Caminhando nessa direção, o governo federal irá desagregar as contas da
previdência a partir de 2007, separando as que se caracterizam como assistência social.
GRÁFICO 1
Evolução das necessidades de financiamento da previdência social – 2006-2025
(Em % do PIB)
2,80
2,70
2,60
2,50
2,40
2,30
2,20
2,10
2,00
1,90
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025
GRÁFICO 2
Evolução do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) – 1995-2004
(Em % do PIB) (Em % do PIB)
8 2,0
7 1,8
1,6
6
1,4
5 1,2
4 1,0
3 0,8
0,6
2
0,4
1 0,2
0 0,0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Fontes: Giambiagi et al. (2004) e STN. Receita previdenciária Despesa previdenciária Déficit
TABELA 3
Previdência rural e urbana: necessidade de financiamento – 2000 a 2004
(Em % do PIB)
12. Em Oliveira et al. (1994), argumenta-se que desse modo o trabalhador rural também pagaria tributos, na medida em que adquire
bens de consumo no mercado. Aliás, esse argumento pode ser estendido para os setores não formalizados, elegíveis somente para
receber os benefícios assistenciais, mas que também estariam contribuindo para o financiamento da previdência.
GRÁFICO 3
Evolução do salário mínimo real médio anual deflacionado pelo INPC – 1994-2006
(Número índice: maio de 1994 = 100)
190
180
170
160
150
140
130
120
110
100
90
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fonte: Ipeadata.
TABELA 4
Benefícios emitidos por faixa salarial – 2004
(Em pisos previdenciários)
Abaixo de 1 491.255 2
Igual a 1 14.487.317 63
Acima de 2 5.236.473 23
13. O Capítulo 6 deste livro desenvolve uma interessante linha de raciocínio, defendendo que a elevação real do SM, de fato, esteve
atrelada, em grande medida, a pressões realizadas pelos afiliados à previdência e que uma eventual desvinculação não reduziria os
pleitos por incrementos reais dos benefícios, aumentando-os inclusive.
14. Conforme já explicitado por Samuelson e reproduzido por Afonso (2003), a lógica da previdência poderia ser sintetizada na fórmula
(1 + r ) = (1 + w ) (1 + n )
onde r seria a taxa de retorno, w a taxa de crescimento salarial (ditado pelo crescimento da economia) e n a taxa de crescimento
populacional. A adaptação para o caso brasileiro se daria com a substituição de (1 + r ) pela taxa de crescimento da receita da contribuição
sobre a folha de salários.
15. Cabe aqui ressaltar que o subsídio para os beneficiários do sistema previdenciário, financiado com recursos genéricos oriundos do
OSS, poderia ser remanejado e utilizado em outras rubricas. Afinal, o RGPS não é universal, ainda que seja responsável por mais de 23
milhões de benefícios. Segundo Pinheiro (2004), em 2001, 40,7 milhões de pessoas não contribuíam para o sistema. Desses, 22 milhões
não o fizeram por não disporem de renda para tanto e os demais são trabalhadores por conta própria (8,2 milhões), assalariados
informais (7,7 milhões) e trabalhadores domésticos (1,8 milhão). Como existem outros mecanismos de proteção social, assegurados pela
Loas, muitos desses cidadãos terão direito a benefícios assistenciais a despeito de não terem efetivamente contribuído para o sistema,
onerando as contas públicas.
TABELA 5
Impacto do reajuste do salário mínimo – Projeto de Lei Orçamentária 2004
Descrição R$ 10 R$ 20 R$ 30 R$ 50 R$ 70 R$ 100
Previdência social – impacto líquido
(B – A) 1.020.353 2.053.467 3.099.307 5.229.242 7.410.717 10.782.159
A. Receitas INSS – fonte 154 87.444 182.725 285.843 515.588 776.679 1.227.092
Contribuição previdenciária seg.
autônomo 4.824 10.080 15.769 28.443 42.847 67.695
Contribuição previdenciária seg.
assalariado 22.201 46.391 72.570 130.899 197.185 311.537
Contribuição previdenciária emp.
seg. assalariado 50.739 106.025 165.858 299.165 450.661 712.009
Prev. R. P. deb. municípios 7.603 15.888 24.854 44.829 67.531 106.694
Contribuição previdenciária segurado
facultativo 548 1.144 1.790 3.228 4.863 7.683
Contribuição previdenciária seg. obr.
e. doméstico 1.530 3.198 5.003 9.023 13.593 21.475
B. Despesas – benefícios
previdenciários e RMV 1.107.797 2.236.193 3.385.150 5.744.829 8.187.396 12.009.251
Pagamento de aposentadorias –
urbana 249.720 504.084 763.083 1.295.004 1.845.609 2.707.135
Pagamento de aposentadorias – rural 418.236 844.250 1.278.026 2.168.896 3.091.060 4.533.959
Pagamento de pensões – urbana 209.733 423.366 640.891 1.087.636 1.550.073 2.273.643
Pagamento de pensões – rural 165.643 334.366 506.164 858.995 1.224.219 1.795.681
Pagamento de auxílios – urbana 3.062 6.181 9.356 15.878 22.629 33.192
Pagamento de auxílios – rural 568 1.146 1.735 2.945 4.197 6.156
Pagamento de salário-maternidade –
urbana 6.164 12.442 18.834 31.963 45.553 66.817
Pagamento de salário-maternidade –
rural 3.800 7.670 11.611 19.705 28.083 41.192
Pagamento de renda mensal vitalícia
por idade 16.633 33.574 50.825 86.253 122.926 180.308
Pagamento de renda mensal vitalícia
por invalidez 34.239 69.114 104.624 177.555 253.047 371.168
II. Benefícios Loas 147.176 294.353 441.529 735.882 1.030.235 1.471.764
Pagamento de benefício de prestação
continuada a pessoa idosa 58.978 117.955 176.933 294.888 412.843 589.776
Pagamento de benefício de prestação
continuada a pessoa portadora de
deficiência 88.199 176.398 264.597 440.994 617.392 881.989
III. Seguro-desemprego e abono
salarial – FAT 252.249 504.498 756.747 1.261.245 1.765.743 2.522.490
Bolsa qualificação 257 514 771 1.284 1.798 2.569
Pagamento do benefício abono
salarial 69.115 138.230 207.345 345.575 483.805 691.151
Pagamento do seguro-desemprego 180.901 361.801 542.702 904.502 1.266.303 1.809.005
Pagamento do seguro-desemprego
ao pescador artesanal 1.697 3.394 5.091 8.486 11.880 16.971
Pagamento do seguro-desemprego
ao trabalhador doméstico 237 474 711 1.185 1.659 2.369
Pagamento do seguro-desemprego
trabalhador resgatado de escravo 43 85 128 213 298 425
Total (I + II + III) 1.419.778 2.852.318 4.297.583 7.226.369 10.206.694 14.776.413
Fonte: Anexo do Projeto de Lei Orçamentária 2004.
GRÁFICO 4
Evolução do PIB deflacionado pelo deflator implícito – 1994-2005
(Número índice: 1994 = 100)
135
130
125
120
115
110
105
100
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Fonte: Ipeadata.
16. Lei 9.703/98, de 17/11/1998; Lei 9.711/98, de 20/11/1998; Lei 9.732/98, de 11/12/1998; Lei 9.796/99, de 05/05/1999; Lei 9.876/
99, de 26/11/1999; Lei 9.962/00, de 22/02/2000; Lei 9.983/00, de 14/07/2000.
17. Promulgado pela Lei 9.876, de 26/11/1999, o fator previdenciário é calculado considerando-se a idade, a expectativa de sobrevida
e o tempo de contribuição do segurado ao se aposentar, segundo a seguinte fórmula:
Tc × a (Id + Tc × a )
f= × 1+
Es 100
onde:
f = fator previdenciário;
Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria;
Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria;
Id = idade no momento da aposentadoria; e
a = alíquota de contribuição correspondente a 0,31.
18. Constituição Federal do Brasil, art. 195, I e II, com a redação dada pela EC 20, de 15 de dezembro de 1998, e Lei 8.212, de 24 de
julho de 1991.
19. ECs 21, de 18 de março de 1999, 37, de 12 de junho de 2002, e 42, de 19 de dezembro de 2003.
20. Prejuízos à alocação de recursos também afetam a competitividade via redução da produtividade.
21. Oliveira et al. (1994) sugerem que a principal fonte de financiamento da seguridade social seria a folha de pagamentos, com
tendência à estabilização ou até mesmo ao crescimento de sua participação. De todo modo, verificou-se uma tendência ao crescimento
da participação das fontes de financiamento da previdência em termos de percentual do PIB entre 1960 e 1985 em diferentes países. No
caso brasileiro, entre 1995 e 2004, a arrecadação da contribuição sobre a folha de salários cresceu significativamente em termos de
percentual do PIB, acompanhando o movimento observado na carga tributária.
TABELA 6
Alíquotas de contribuição do simples
23. Motivo pelo qual há um velho ditado entre os especialistas em setor público que, grosso modo, defende que imposto velho é que
seria imposto bom.
24. Marques e Euzéby (2003) e Varsano (2003) discutem a CVA como alternativa para o financiamento da previdência.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O financiamento da previdência desde a década de 1980 está na agenda de discussões
na grande maioria dos países. Os regimes previdenciários, fundamentados no
princípio de repartição, defrontaram-se com crescentes déficits em decorrência
de mudanças estruturais no mercado de trabalho e na estrutura etária. A intensifica-
ção das transferências intra e intergeracionais implicou a necessidade de aportes
cada vez maiores de recursos fiscais. Adicionalmente, a globalização financeira e
produtiva induziu ao questionamento da contribuição sobre a folha de salários
como principal mecanismo de financiamento da previdência social, uma vez que,
ao impor uma cunha fiscal entre o custo do trabalhador para a empresa e o salário
recebido pelo empregado, afeta negativamente a competitividade.
Quando se analisa o caso brasileiro, conclui-se que efetivamente as transfor-
mações estruturais na economia impactaram a capacidade efetiva de financiamento
do sistema previdenciário. Entretanto, algumas particularidades agravaram pro-
blemas intrínsecos aos tempos atuais.
Inicialmente, destaca-se a contabilização conjunta dos benefícios previdenciários.
O descolamento entre a contribuição e o benefício rurais descaracteriza um sistema de
natureza previdenciária, aproximando-o de um mecanismo de assistência social.
O fato de os benefícios serem excessivamente pródigos não contribui para o
equilíbrio atuarial do sistema. O desenho dos benefícios dissocia a relação entre
contribuição e beneficiário. A concessão de subsídios garante a sustentabilidade do
sistema, mas reforça as transferências inter e intrageracionais inclusive através do aporte
de recursos fiscais. A concepção do sistema brasileiro afasta-se, assim, da percepção
da previdência social como seguro contra risco de perda de capacidade laboral.
25. Ver a MP 232, também chamada de MP do mal, que foi revogada no Congresso em conseqüência da resposta negativa da sociedade
civil a um novo aumento da carga tributária.
REFERÊNCIAS
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(Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. Mimeo.
ARBACHE, J. S. Informalidade, encargos trabalhistas e previdência social. In: MPS. Ministério
da Previdência Social (Org.). Base de financiamento da previdência social: alternativas e perspectivas.
Brasília, mar. 2003 (Coleção Previdência Social, v. 19).
DAIN, S. Federalismo e reforma tributária. In: AFFONSO, R. B. A.; SILVA, P. L. B. A federação
em perspectiva: ensaios selecionados. São Paulo: Fundap/Iesp, 1995.
DELGADO, G.; CARDOSO, J. A. Financiamento da previdência rural: situação atual e mudanças.
In: MPS. Ministério da Previdência Social (Org.). Base de financiamento da previdência social:
alternativas e perspectivas. Brasília, mar. 2003 (Coleção Previdência Social, v. 19).
GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C.; PASTORIZA, F. A aposentadoria por tempo de serviço: estimativa
do subsídio recebido pelo seus beneficiários. Revista Brasileira de Economia, v. 52, Rio de Janeiro,
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GIAMBIAGI, F.; CASTRO, L. B. Previdência social: dilemas e propostas de reforma. Revista do
BNDES, v. 10, n. 19, Rio de Janeiro, BNDES, jun. 2003.
GIAMBIAGI, F.; MENDONÇA, J. L.; BELTRÃO, K. I; ARDEO, W.;. Diagnóstico da previdên-
cia social no Brasil: O que foi feito e o que falta reformar? Pesquisa e Planejamento Econômico, v.
34, n. 3, Rio de Janeiro: Ipea, dez. 2004.
MARQUES, R. M.; EUZÉBY, A. Discutindo alternativas de financiamento para o RGPS. In:
MPS. Ministério da Previdência Social (Org.). Base de financiamento da previdência social: alternativas e
perspectivas. Brasília, mar. 2003 (Coleção Previdência Social, v. 19).
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Orçamento social do governo federal 2001-2004. Brasília: Ministério
da Fazenda, maio 2005. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/portugues/releases/2005/
r020505.asp>. Acessado em: 14 mar. 2007.
MPS. Ministério da Previdência Social. Anuário Estatístico da Previdência Social. 2002.
OLIVEIRA, F. E. B.; BELTRÃO, K. I.; LUSTOSA, B. J.; PASINATO, M. T. M. Fontes de finan-
ciamento da seguridade social brasileira. Rio de Janeiro: Ipea, jul. 1994 (Texto para discussão, n. 342)
OLIVEIRA, F. E. B. Basic issues in reforming social security systems. Rio de Janeiro: Ipea, dez. 1997
(Texto para discussão, n. 535).
PINHEIRO, V. Reforma da previdência: uma perspectiva comparada. In: GIAMBIAGI, F.; URANI,
A.; REIS, J. G. (Orgs.). Reformas no Brasil: balanço e agenda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
STIGLITZ, J. Economics of public sector. 3rd ed. Norton, 2000.
VARSANO, R. Financiamento do Regime Geral de Previdência Social no contexto do processo de
reforma tributária em curso. Rio de Janeiro: Ipea, jun. 2003 (Texto para discussão, n. 959).
ANEXO
TABELA A.1
Evolução das principais variáveis para projeção de longo prazo – 2006-2025
(Em %)
TABELA A.2
Evolução da receita, despesa e necessidade de financiamento do RGPS – 2006-2025
(Em R$ milhões e em % do PIB)
1 INTRODUÇÃO
Uma das razões para a existência de sistemas públicos de previdência social é a
possibilidade de utilizá-los como política de redistribuição de renda. Em realidade,
muitos dos sistemas de previdência têm esse objetivo implícita ou explicitamente
colocado. No presente capítulo, testa-se essa propriedade para o sistema
previdenciário brasileiro. Utilizando o método de construção de densidades
contrafactuais (DINARDO; FORTIN E LEMIEUX, 1996), estimamos qual seria a distri-
buição de rneda do Brasil em 2003-1996 se a proporção de beneficiários fosse
aquela observada em 1976-1986. Calculamos os índices de Gini e Theil da distri-
buição real e contrafactual e os resultados mostraram que se reduzirmos a proporção
de pessos que recebem algum benefício previdenciário, a distribuição de renda
tende a melhorar para os homens, significando que a previdência é regressiva.
Para as mulheres, não podemos afirmar que o sistema seja progressivo. Esse resul-
tado não é contraditório como o já conhecido efeito de reduçaõ da pobreza de
nosso sistema previdenciário, mas reforça a tese de que o sistema produz e reproduz
a desigualdade social.
A previdência social brasileira tem sido um dos focos das discussões político-
econômicas. É consenso que o problema do crescente déficit previdenciário é um
* Agradecemos os comentários de Carlos Eugênio da Costa e Marcelo Neri, da EPGE/FGV, e de Márcia Marques Carvalho.
** Doutorando de economia da EPGE/FGV.
*** Coordenador de Estudos de Previdência da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Ipea.
**** Mestre em economia pela EPGE/FGV e doutorando de economia da Universidade de Chicago.
dos entraves ao crescimento sustentado do país. Nesse sentido, muito se tem falado
em reforma do sistema, em modificações que podem ir desde a eliminação da
diferença de idade entre homens e mulheres para a concessão do benefício, até
uma mudança total, substituindo-se o sistema de repartição pelo sistema de
capitalização.
A previdência social brasileira, por ser um seguro social, constitui um meca-
nismo de redistribuição de renda. É sob esse aspecto que pretendemos analisá-la
neste capítulo. Segundo Diamond (1977), é preciso compreender as razões que
justificam a existência de sistemas públicos de previdência ao se fazer a análise
desses sistemas. Uma das razões de sua existência seria a possibilidade de execução
de políticas públicas de caráter distributivo. Portanto, a previdência seria um me-
canismo de redistribuição de renda. Se a previdência for um contrato vantajoso
para determinados grupos de pessoas, em particular para os mais pobres, então
temos uma transferência progressiva de renda, caso ocorra o contrário, teremos
uma transferência regressiva. Barros e Carvalho (2005), Giambiagi et al. (2004) e
Tafner (ver capítulo 1 deste livro) têm chamado a atenção para o fato de que a
previdência brasileira enquadra-se no segundo grupo.
Em virtude da mudança da estrutura etária no Brasil, observa-se ao longo
dos anos um significante aumento da proporção de pessoas beneficiadas pela pre-
vidência social. Controlando-se por alguns fatores, se a previdência tem um caráter
redistributivo, no sentido progressivo, era de se esperar que a desigualdade de
renda estivesse diminuindo. Não é o que se observa exatamente no Brasil, onde há
quase duas décadas o índice de Gini, por exemplo, mantém-se próximo de 0,60,
decaindo pouco.1
Para testar a característica distributiva do sistema podemos fazer um simples
exercício contrafactual: o que aconteceria com a distribuição de renda do Brasil
hoje se mantivéssemos a mesma proporção de pessoas beneficiadas pela previdência
de 10 ou 20 anos atrás?
Para responder a essa questão podemos usar duas diferentes abordagens:
a) uma regressão simples, estimando-se uma equação de salários; e
b) estimando-se densidades contrafactuais.
A vantagem do segundo método é que teríamos o efeito sobre toda a distri-
buição de renda e não apenas uma estimativa pontual em relação à média. De
1. Deve-se destacar que apenas em anos mais recentes a desigualdade declinou, porém não como conseqüência da previdência social.
Ver, a respeito, Barros et al. (2007).
2 REVISÃO DE LITERATURA
Muitos artigos têm discutido o sistema previdenciário brasileiro em relação à sua
solvência. Alguns deles (FERNANDES; NARITA, 2005; FERNANDES; GREMAUD, 2004)
estimaram e obtiveram alíquotas de contribuição elevadas que permitiriam equalizar
o orçamento do sistema previdenciário atual. No entanto, poucos estudos no Brasil2
têm abordado a previdência social como seguro social e segundo a ótica dos seus
aspectos distributivos. A seguir, apresentamos uma revisão seletiva da literatura
internacional e nacional relacionada aos aspectos distributivos da previdência social.
6. A progressividade da previdência é reduzida, pois a renda mensurada ao longo do ciclo de vida classifica aposentados com renda do
trabalho nula de acordo com seus recursos ao longo da vida. Portanto, agentes que trabalham meio período ou gastam muitos anos do
seu tempo fora da força de trabalho não são classificados mais como de renda baixa.
7. A renda potencial ao longo do ciclo de vida é a projeção de uma taxa salarial para cada pessoa em cada período, multiplicada por uma
dotação total de horas, obtendo-se assim uma medida de bem-estar que inclua lazer e produção doméstica, em vez de apenas oferta de
trabalho do mercado.
8. Esse máximo tributável já foi discutido no parágrafo anterior e reduz a progressividade do sistema.
9. O cônjuge de baixo salário agora não é tão pobre. Isso reduz mais ainda a progressividade do sistema.
10. Como indivíduos de renda mais elevada vivem por mais tempo, obtêm benefícios por mais tempo e, em termos da medida de
rendimento de valor presente, tendem a ter maiores benefícios. Assim, após esses ajustes, o sistema é muito pouco progressivo.
11. Impõe mais peso nos tributos da folha de pagamento regressiva de anos mais antigos e menos peso nos padrões de benefícios
progressivos de anos mais recentes.
Pnad e das regras de contribuição de grupos ocupacionais distintos. Mas isto foi
possível devido a hipóteses restritivas impostas, principalmente, em relação aos
conta-próprias, autônomos e funcionários públicos. Dadas essas limitações, os
autores mostram que o sistema previdenciário brasileiro é progressivo tanto em
termos intrageracionais (as TIRs mais elevadas são dos grupos com menor nível
educacional e da região Nordeste, que são os de menor nível de renda per capita)
e intergeracionais (as TIRs crescem até o início da década de 1980 e então decaem
levemente até o fim da década e estabilizam-se daí em diante).
No entanto, em outro estudo, Ferreira et al. (2006), através do método de
decomposição do índice de Gini, mostra que os rendimentos das aposentadorias
e pensões aumentam o nível de desigualdade da renda domiciliar per capita no Brasil.
Além disso, o rendimento proveniente da previdência compõe a segunda maior
parcela de contribuição no cálculo do coeficiente de Gini – depois do rendimento
do trabalho principal –, parcela que aumentou de 9,3% em 1981 para 18,8% em
2001, e permanece crescente. Segundo o autor, as causas de ser o sistema
previdenciário brasileiro regressivo estão relacionadas a: aposentadoria mais precoce;
expectativa de vida maior; e maiores salários no fim do ciclo de vida trabalhista (o
que tem sido por muitos anos a base do cálculo dos benefícios) dos beneficiários
com maior nível de renda. Esses fatores concomitantemente tornam a distribuição
de renda pior. Além disso, segundo o autor, as causas do crescente déficit do
sistema brasileiro estão relacionadas a: composição do mercado de trabalho;
flexibilização dos contratos trabalhistas (redução da remuneração através do salário
fixo e aumento através da participação nos lucros – parcela sobre a qual não incidem
as alíquotas de contribuição); estrutura demográfica (ou seja, transição demográfica
com aumento da proporção de idosos beneficiários); legislação – a Constituição
aprovada em 1988 ampliou significativamente os benefícios; e ao aumento da
informalidade12 (que acaba reduzindo a arrecadação).
Assim, a evidência empírica para o Brasil continua inconclusiva. Neste estudo,
lançamos mão de um método alternativo para verificar o caráter redistributivo da
previdência social brasileira.
12. O aumento da informalidade, em termos teóricos, se deve aos aumentos das alíquotas previdenciárias. E isso se verifica no Brasil,
onde as regras de contribuição têm elevado o tributo ao longo das décadas. Para maiores detalhes sobre a legislação, ver Afonso e
Fernandes (2005).
mais recente, tomamos os anos de 1996 e 2003. Logo, comparamos pares de anos
tais como: 1976 com 1996, 1976 com 2003, 1986 com 1996 e 1986 com 2003.
A comparação de vários pares de anos permite uma avaliação mais precisa e robusta
das características distributivas do sistema previdenciário.
13. Basicamente, as regras de contribuição e benefícios dos aposentados do setor público são regidas pelos Regimes Próprios de
Previdência Social (RPPS), enquanto as regras do regime privado são determinadas pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
14. Essas mesmas limitações foram encontradas por Afonso e Fernandes (2005).
15. Consideramos ao longo do artigo como beneficiários da previdência todos aqueles que receberam alguma renda positiva oriunda de
aposentadoria, pensão ou abono de permanência. Isso foi feito, pois, para as Pnads mais antigas, não existe uma pergunta explícita se
o indivíduo é aposentado/pensionista ou recebe abono de permanência. Apenas pergunta-se o que a pessoa fez na semana de referên-
cia. Assim, um aposentado ocupado que tenha respondido que trabalhou pode estar não sendo capturado pelas pesquisas mais antigas,
viesando assim, para baixo, a proporção de beneficiados.
16. Em todas as estimativas utilizamos os pesos amostrais da Pnad.
GRÁFICO 1
Porcentagem de homens e mulheres com idade igual ou superior a
18 anos que são beneficiários
40
33,35
35
31,83
30
25,45
25
20,22
17,39
20
13,72 18,38
15
10,13
10
5
0
1976 1986 1996 2003
Homens Mulheres
17. Em 1976 apenas uma subamostra da Pnad respondeu à pergunta sobre a cor. Nas estatísticas descritivas que se seguem, sobre cor,
nos referimos apenas a essa amostra. Mas nas outras estatísticas e estimações envolvendo esse ano, consideramos a amostra toda, e
assim não controlamos para a variável raça. Além disso, os rendimentos foram deflacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor do Rio
de Janeiro (IPC-RJ) a preços de novembro de 2004. Ao alterarmos o tipo de deflator os resultados apresentaram a mesma evidência.
tem decaído ao longo dos anos, mas nota-se que o rendimento dos beneficiados(as)
tem se tornado maior em relação aos não-beneficiados, devido, entre outros motivos,
aos novos benefícios criados pela Constituição de 1988.
Comparando homens beneficiários com não-beneficiários, notamos que os
primeiros: a) viviam menos na zona rural, até antes de 1996; b) apresentam uma
proporção maior de brancos; c) têm um menor nível educacional e um gap cres-
cente em relação aos não-beneficiários;18 d) tendem a ter mais uniões estáveis; e e)
como era esperado, apresentam uma concentração maior de idosos em seu grupo.
Os resultados para as mulheres são similares, com exceção do fato de as beneficiárias
terem menos uniões estáveis em seu grupo do que as não-beneficiárias.
A fim de averiguar inicialmente os aspectos distributivos do sistema
previdenciário brasileiro, calculamos os índices de desigualdade de Gini e Theil,
para a amostra filtrada. Adicionalmente, calculamos também esses índices atribuindo
zero de renda de benefícios para todos, o que pode ser interpretado como um
contrafactual amostral bruto, sem controlar para diversos fatores. Os resultados
estão na tabela III do apêndice. Notamos que, tanto para homens como para
mulheres, o índice de desigualdade aumenta quando não consideramos a renda de
benefícios como componente da renda de todas as fontes. Medindo a diferença
entre o factual e contrafactual, notamos que o último é maior que o primeiro na
magnitude de 4,38% para o Gini e 7,58% para o Theil em 1976. Essa diferença se
eleva bastante ao longo dos anos, corroborando o caráter fortemente distributivo
do sistema. A mesma análise se aplica às mulheres, sendo bem mais forte para elas,
que têm uma melhora em termos de igualdade de renda maior que a dos homens.
Para os Estados Unidos, evidências similares já tinham sido obtidas por Feldstein
(1976) e por estimativas iniciais de Coronado, Fullerton e Glass (2000) sem ajustar
para diversos fatores. Comparando os indicadores de desigualdade contrafactuais
entre homens e mulheres, notamos que os delas são relativamente maiores sempre.
Isso também mostra um aspecto de redistribuição progressiva intrageracional, visto
que as mulheres tendem a ter menor nível de renda comparativamente aos homens
e que sem a renda de benefícios elas apresentam maior nível de desigualdade.
Mas como mencionado, necessitamos controlar para vários atributos dos
agentes, a fim de isolar o real efeito de melhora do sistema previdenciário. Assim,
lançamos mão agora de uma análise contrafactual mais bem elaborada, através da
estimação de densidades por kernel, cuja metodologia é explanada na próxima seção.
18. Ou seja, a diferença entre a porcentagem dos não-beneficiários e beneficiários, que têm nove ou mais anos de estudo, passou de
6,10 pontos percentuais (p.p.) em 1976 para 19,39 p.p. em 2003. Quando consideramos os que têm cinco ou mais anos de estudo, esse
diferencial aumenta de 10,23 p.p. para 31,27 p.p. Para as mulheres, esse gap é maior ainda, chegando a 37,31 p.p. em 1996, para as que
têm cinco ou mais anos de estudo.
4 METODOLOGIA
Apresentamos brevemente a metodologia deste artigo, oriunda de Dinardo, Fortin
e Lemieux (1996), daqui em diante DFL. Para a estimação das densidades factuais
e contrafactuais, utilizamos estimadores de densidade de kernel ponderados. Assim,
seja uma amostra aleatória de salários {Wi }i =1 , da qual se estima a densidade f,
n
µf = θi K w − Wi
n
h ∑
i =1 h
h
19. A escolha da janela tem sido amplamente discutida na literatura não-paramétrica, com diversas regras automáticas sendo
implementadas, mas com pouco consenso entre elas (SILVERMAN, 1986). Vale ressaltar que janelas com valores muito baixos dão pouca
informação sobre a densidade estimada, podendo apresentar estimativas espúrias. Janelas com valores muito elevados podem acabar
suavizando excessivamente a densidade, não havendo portanto possibilidade de se distinguirem as informações obtidas por meio delas.
Assim, a escolha da janela é um ponto crucial na estimação das densidades e por isso adotamos um critério subjetivo, através da análise
visual que apresentasse um grau de suavização moderado.
nosso estudo está na proporção de beneficiários, que tem aumentado ao longo das
últimas décadas. Assim, seja F (w, b, x, t) a distribuição conjunta de salários,
atributos individuais e datas. Essa distribuição de salários e atributos para uma
data fixada seria a distribuição condicional F (w, b, x|t). A densidade de salários de
uma data fixada, ft (w), pode ser escrita como a integral da densidade de salários
condicionada aos atributos individuais e em uma data tw|b, x , f (w|b, x, tw|b, x), sobre
a distribuição de atributos individuais F (z|tz) na data tz:
f t (w ) = ∫
x∈Ω x ∫b∈Ωb
( )
dF w , b, x | tw , b , x = t
=∫ ∫ f ( w | b, x , t = t ) dF (b | x , t
w |b , x b| x )
= t dF ( x | t x = t )
x∈Ω x b∈Ωb
(
= f w ; tw|b , x = t, t = t, t = t )
b| x x
onde Ωx, Ωb são os domínios dos atributos individuais. A notação tw, b, x = t indica
que os valores dos salários, proporção de beneficiários e todos os outros atributos
são referentes ao período t. Assim, f (w|z, tw|b, x = 96, tb|x = 96, tx = 96) representa a
densidade real da renda de 1996. No caso de f (w|z, tw|b, x = 96, tb|x = 76, tx = 96),
representa a densidade contrafactual dos rendimentos pagos de 1996, caso somente a
estrutura previdenciária (variável b) tivesse permanecido igual à de 1976, enquanto
todos os valores de todos os outros atributos fossem do ano de 1996. Sob a hipótese
de que a densidade da renda da data a ser comparada (1996),20 f (w|b, x, tw|b, x = 96)
não dependa da distribuição de benefícios, dF (b|x, tb|x = 76), podemos escrever a
densidade contrafactual f (w|b, x, tw|b, x = 96, tb|x = 76, tx = 96), na qual somente a
proporção de beneficiários se mantém constante ao nível de 1976, mas nenhum
dos outros atributos, como:21
( ) (
f w ; tw|b , x = 96, tb|x = 76, t x = 96 = ∫ ∫ f w | b, x , tw|b , x = 96 )
( )
dF b | x , tb|x = 76 dF ( x | t x = 96 )
(
f w | b, x , tw|b , x = 96 Ψ b|x (b, x )
∫∫ )
=
(
b| x x)
dF x / t = 96 dF ( x | t = 96 )
20. Utilizamos na explicação da metodologia sempre 1996, com os atributos mantidos ao nível de 1976, por simplicidade. Mas compa-
rações são feitas também na seção de resultados com os anos de 2003 e atributos ao nível de 1986.
( )
Ψb|x (b, x ) ≡ dF b | x , tb|x = 76 / dF b | x , tb|x = 96 ( )
=b
(
Pr b =1| x , tb|x = 76 ) + (1 − b ) Pr (b = 0| x, t b| x = 76 ) (1)
Pr (b =1| x , t b| x = 96 ) Pr (b = 0| x , t b| x = 96 )
onde a última parte da equação (1) é obtida notando-se que b é uma dummy tal
que dF (b|x, tb|x) = bPr (b = 1|x, tb|x) + (1 – b) Pr(b = 0|x, tb|x). Note-se que esta
densidade contrafactual é idêntica à factual (1996) exceto pela função Ψb|x(b, x).
Assim, a estimação do contrafactual se resume simplesmente a estimar essa função
reponderação. Portanto, o estimador por kernel da densidade contrafactual se
resume a:
θi µ w − Wi
(
µf w ; t
w|b , x = 96, t b| x = 76, t x = 96 = ∑
i∈S96 h
)
Ψ b| x ( b , x ) K
h
(2)
( )
Pr b = 1| x , tb|x = t = 1 − Φ ( −α′t G ( x ) )
22. Mais precisamente, estimamos esse modelo probit para as amostras dos anos de 1976 e 1996 separadas. Depois, imputamos a
( )
µ b = 1| x ,t = t , e expandimos para toda a amostra. Logo, quando utilizarmos os dados de 1996 tere-
probabilidade ajustada Pr u |x
(
µ b = 1| x ,t = 96 e Pr
mos Pr 96 b|x ) ( )
µ b = 1| x ,t = 76 , ou seja, a probabilidade de ser beneficiário condicionada nos atributos
96 b|x
de 1996 e benefícios de 1996 e condicionada nos atributos de 1996 e benefícios de 1976.
onde Φ(.) é a função distribuição normal e G(.) uma função dos outros atributos.
Agora, a distribuição contrafactual caso b e x tivesse permanecido no nível de 1976 é:
( ) (
f w ; tw|b , x = 96, tb|x = 76, t x = 76 = ∫ ∫ f w | b, x , t w|b , x = 96 )
( )
dF b | x , tb|x = 76 dF ( x | t x = 76 ) =
( )
f w |b, x , tw|b , x = 96 Ψ b|x (b, x )
∫∫
=
(
b| x )
dF x | t = 96 Ψ ( x ) dF ( x | t = 96 )
x x
onde Ψb|x(b, x) foi definido em (1) e Ψx(x) = dF (x|tx = 76)/dF (x|tx = 96). Aplicando-
se a regra de Bayes, essa função pode ser escrita como:
Pr ( t x = 76| x ) Pr ( t x = 96 )
Ψx ( x ) = =
Pr ( t x = 96| x ) Pr ( t x = 76 )
Pr ( t x = 76 | x ) Pr ( t x = 96 )
=
(1 − Pr (t x = 76| x ) ) Pr ( t x = 76 )
(3)
Assim, a primeira fração pode ser estimada por um probit, como antes, mas
agora com a dummy da variável dependente sendo para os anos em questão. A
segunda fração pode ser obtida simplesmente pela razão da soma das observações
ponderadas (soma dos pesos) de 1996 dividido pela soma de 1976. Assim, obtemos
o estimador Ψµ x ( x ) e conseqüentemente obtemos a estimativa da densidade por
kernel através de:
θi µ
(
µf w; t
w |b , x = 96, tb| x = 76, t x = 76 = ∑ )
i∈S96 h
Ψ b| z ( b , x )
µ x ( x ) K w − Wi
Ψ
h
5 RESULTADOS
Nesta seção apresentamos inicialmente as estimativas das densidades factuais e
contrafactuais de kernel. Depois apresentamos uma gama de medidas de dispersão e
desigualdade entre as diferentes densidades.
Em todas as estimativas não-paramétricas, o suporte das densidades estimadas
é o logaritmo da renda de todas as fontes, o qual definimos para o intervalo [0.01,
14] com passo de 0,01, abrangendo assim toda a massa salarial.
Os painéis I e II do apêndice estão organizados da seguinte forma: primeira-
mente por anos de comparação, como, por exemplo, 1996-1976; depois, cada par
de anos apresenta um grupo (1, 2 e 3) de três gráficos (A, B e C), dos quais, nos
gráficos A são apresentadas as densidades reais para homens de 1976 (fr76h) e
1996 (fr96h), e nos gráficos B e C as densidades contrafactuais, onde as caracte-
rísticas – benefícios apenas nos gráficos B e depois também outros atributos nos
gráficos C – do ano mais recente são mantidas fixas ao nível do ano mais antigo.
Assim, a notação fr96b76h refere-se à densidade de rendimentos de 1996 (fr96)
mantidos fixos os benefícios de 1976 (b76) para homens (h). A notação fr96bx76h
é semelhante à anterior, mas mantendo-se fixos os benefícios e os outros atributos.
O mesmo padrão é adotado para os outros gráficos.
Assim, nota-se pelo painel I que o rendimento real dos homens para o ano
de 1976 é maior do que em 1996. O ponto de concentração no ano de 1996
refere-se ao salário mínimo, que é mais binding do que em 1976. Quando mantemos
a proporção de beneficiários de 1996 ao nível menor de 1976, notamos nos gráficos B
que a distribuição salarial se eleva na cauda inferior e no meio da distribuição e se
reduz na cauda superior. Assim, a priori, em um “teste de olho” a densidade melhorou
em termos de desigualdade. Esse deslocamento, a priori, indica que o sistema
previdenciário apresenta características distributivas, mas regressivas. Quando man-
temos fixos os benefícios e outros atributos, observamos o mesmo comportamento
anterior. Da mesma forma, a comparação dos anos 2003-1976 segue o mesmo
padrão. No entanto, na comparação de 1996 e 2003 com 1986 notamos compor-
tamento diferente quando mantemos fixa apenas a taxa de beneficiários: a distri-
buição salarial se reduz na parte inferior e intermediária e se eleva na parte superior,
principalmente na comparação envolvendo o ano de 2003. Alterando-se também
os outros fatores, segue-se o mesmo padrão da comparação com o ano de 1976.
(
f 96 ( w ) − f 76 ( w ) = f 96 ( w ) − f w; tw = 96, tb|x = 76, t x = 96
) (I)
(
f w; tw = 96, tb|x = 76, t x = 96 − )
+
(
f w; tw = 96, t = 76, t x = 96
b| x ) (II)
( )
+ f w; tw = 96, tb|x = 76, t x = 96 − f 76 ( w ) (III)
O termo (I) refere-se ao efeito dos beneficiários, (II) ao efeito dos outros
atributos e (III) ao efeito de fatores residuais.
Apresentamos a seguir a diferença entre as densidades estimadas a fim de analisar
mais claramente a contribuição de cada fator. Assim, exclui-se o efeito de cada
fator, nos painéis III e IV do apêndice, do seguinte modo: a) são plotadas as
diferenças entre as distribuições reais (denotada pela linha “real”); b) depois são
plotadas as diferenças da decomposição seqüencial, mas removendo-se o efeito dos
benefícios (I), ou seja, os efeitos dos outros atributos (II) mais o residual (III)
(denotada pela linha “benefício”); e por fim c) é plotado somente o efeito residual
(III) removendo-se os dois primeiros efeitos (denotada pela linha “benefícios e
outros fatores”).
Os painéis III para os homens e IV para as mulheres apenas corroboram a
evidência mostrada na seção anterior. Assim, por exemplo, no gráfico III.1A para
os homens, observa-se um ganho de rendimentos do efeito de “benefícios” em
relação à diferença das distribuições reais na parte inferior e mediana da distribuição,
Fv ( v ) = Pr ( v ≤ v ) = Pr ( exp ( w ) ≤ v ) = Pr ( w ≤ ln ( v ) ) = Fw ( ln ( v ) )
f w ( ln ( v ) ) fw (ϖ)
f v (v ) = =
v exp ( ϖ )
∞ f (w )
J 7696 ( w ) = ∫ f 96 ( w ) − f 76 ( w ) ln 96 dw
0 f 76 ( w )
absolutos nos primeiros pares de anos. Mas, via de regra, se limita ao intervalo
entre 20% e 40%. Os outros atributos seguem o mesmo padrão observado no
caso dos homens, na mesma direção da variação total, na maioria dos casos. Esses
fatores chegam a explicar mais de 70% no primeiro par de anos, mas nos outros
pares não passa de 20%, em termos absolutos. O efeito residual, com exceção de
1996-1976, chega a quase 150%.
Assim, as estimativas das densidades contrafactuais obtidas até aqui corro-
boram a idéia de que o sistema previdenciário brasileiro apresenta um caráter
distributivo da distribuição de renda dos agentes ao longo das últimas décadas,
sendo mais regressivo para os homens e mais progressivo para as mulheres.
Pr ( tb = 76 | b ) Pr (tb = 96 )
Ψb (b ) =
Pr ( tb = 96 | b ) Pr ( tb = 76 )
Para calcularmos Ψx|b(b, x), nota-se que, pela regra de Bayes, podemos escrever:
Então, teremos:
µ
µ b| x ( b , x ) Ψ x ( x )
µ x|b (b, x ) = Ψ
Ψ
µ b ( b, x )
Ψ
23. Note-se que, como o produto cruzado em (4) é igual, a mesma comparação poderia ter sido feita visualizando-se a tabela 4 do
apêndice, que altera primeiro a proporção de beneficiários e depois os outros atributos.
5.1.4 Comentários
Os possíveis motivos que tornam a previdência brasileira regressiva já foram apon-
tados por Ferreira et al. (2006) e outros estudos internacionais: aposentadoria
precoce, expectativa de vida maior e maiores salários no fim do ciclo de trabalho
dos beneficiários de maior nível de renda (salários que por muito tempo foram a
base de cálculo de aposentadorias e pensões). Além desses, outro possível motivo,
já apontado por Gokhale e Kotlikoff (2002a; 2002b) e Gokhale et al. (2001) e
indicado também na introdução deste livro é o teto máximo para as contribuições.
Segundo Afonso e Fernandes (2005), esse teto era de 20 vezes o salário mínimo
regional até 1984, e, após a unificação, 20 vezes o salário mínimo federal. A partir
de 1989 o teto reduziu-se para dez vezes o salário mínimo federal. Assim, indivíduos
com maior nível de renda acabam pagando proporcionalmente menos, e depois
de 1989, um conjunto maior de indivíduos de renda mais elevada passou a pagar
menos ainda. Esse aspecto contribui significativamente se não para tornar o sistema
regressivo, ao menos para atenuar consideravelmente sua progressividade. Portanto,
a redistribuição de renda causada pela previdência brasileira não apenas está rela-
cionada à renda, como também ocorre em razão dos fatores mencionados.
Ressaltamos que este capítulo testa e rejeita a hipótese de progressividade
para os homens e não a aceita para as mulheres. Pesquisa futura ainda é necessária
para se verificar quais das causas citadas são predominantes para se explicar a
regressividade (não-progressividade) da previdência para os homens (mulheres).
6 CONCLUSÃO
O presente estudo concluiu que o sistema previdenciário brasileiro atualmente
apresenta uma característica redistributiva no sentido regressivo, de modo tal que
os que contribuem menos tendem a receber proporcionalmente menos benefícios.
Esse aspecto é vislumbrado, principalmente, pelos indicadores de desigualdade
(Gini e Theil): pela variação total desses índices para os homens com mais de 18
REFERÊNCIAS
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SILVERMAN, B. Density estimation for statistics and data analysis. London: Chapman & Hall,
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APÊNDICE
TABELA I
a
Características dos benefícios da previdência social – 1976 a 2003
Homens Mulheres
Estatísticas
1976 1986 1996 2003 1976 1986 1996 2003
18-29 anos 0,49 0,52 1,16 1,54 1,6 2,2 4,6 6,7
373
2
Cor
Branca 64,13 63,79 63,57 59,54 58,29 57,49 56,32 52,61 58,89 58,35 57,58 53,89
3
Educação
< 1 ano 37,18 35,97 32,76 29,16 24,80 18,33 14,35 10,44 26,05 20,75 17,55 13,88
1-4 anos 42,91 40,19 38,75 37,21 45,06 39,31 31,30 24,67 44,84 39,43 32,59 26,97
5-8 13,41 13,70 13,83 15,06 17,54 21,90 27,42 26,95 17,12 20,77 25,06 24,76
9-11 3,51 5,32 7,76 10,78 7,40 12,97 18,14 27,22 7,01 11,92 16,34 24,20
12 e + 2,99 4,82 6,91 7,78 5,20 7,49 8,79 10,72 4,98 7,13 8,46 10,18
4
Casados
Sim 79,60 78,09 78,32 75,19 69,25 66,33 67,03 64,77 70,30 67,95 68,99 66,68
5
Faixas etárias
18-29 1,72 1,31 1,96 2,41 39,53 39,81 35,03 34,59 35,70 34,53 29,28 28,67
30-42 7,59 4,95 3,90 4,04 31,40 33,76 37,42 35,90 28,99 29,80 31,59 30,04
43-55 18,20 18,81 17,88 16,84 20,09 19,09 21,01 23,11 19,90 19,05 20,47 21,96
56 e + 72,50 74,92 76,26 76,72 8,98 7,35 6,54 6,40 15,41 16,62 18,66 19,33
Médias
6
23/3/2007, 15:49
Horas de trabalho 9,67 12,43 15,82 14,30 49,29 48,34 47,32 46,00 45,27 43,42 41,84 40,17
7
Rendimento da previdência 1.087 1.140 726 756 - - - - - - - -
8
Renda das fontes 1.601 1.875 1.197 1.106 1.871 2.155 1.112 861 1.844 2.117 1.127 906
9
SEMIPARAMÉTRICA
TESTANDO A PROPRIEDADE REDISTRIBUTIVA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM
N 9.448 9.619 13.783 17.664 83.544 62.613 68.271 83.685 92.992 72.232 82.054 101.349
(continua)
373
Cap10.pmd
(continuação)
374
Mulheres
Estatísticas Beneficiárias Não-beneficiárias Total
1976 1986 1996 2003 1976 1986 1996 2003 1976 1986 1996 2003
Porcentagens
1
Local
Rural 17,58 18,06 17,64 14,71 18,79 13,99 10,82 10,28 18,54 15,03 13,09 11,69
2
Cor
374
Branca 62,27 62,20 61,94 58,99 57,88 59,67 58,78 54,60 58,74 60,31 59,83 56,00
3
Educação
< 1 ano 43,75 44,13 37,08 30,49 21,24 13,78 8,84 7,52 25,79 21,51 18,26 14,83
1-4 anos 34,73 34,53 33,73 32,90 35,83 31,69 24,65 20,63 35,61 32,41 27,68 24,53
5-8 14,10 11,98 13,54 15,02 19,92 21,79 25,52 22,78 18,74 19,29 21,52 20,31
9-11 5,72 6,46 9,40 13,22 14,55 20,75 25,79 31,78 12,77 17,12 20,32 25,87
12 e + 1,70 2,90 6,25 8,38 8,45 11,99 15,20 17,29 7,09 9,68 12,22 14,45
4
Casadas
Sim 15,13 20,38 31,30 31,64 36,61 47,46 52,75 56,45 32,26 40,57 45,60 48,55
5
Faixas etárias
RODRIGO LEANDRO DE MOURA – PAULO TAFNER – JAIME DE JESUS FILHO
18-29 3,12 2,96 3,66 5,31 49,74 44,11 37,82 34,59 40,31 33,63 26,42 25,27
30-42 10,53 8,68 9,99 9,74 28,25 34,69 39,27 37,98 24,66 28,07 29,50 28,99
43-55 20,14 19,87 18,30 17,79 15,16 16,04 18,84 22,75 16,17 17,01 18,66 21,17
56 e + 66,21 68,49 68,04 67,16 6,85 5,16 4,08 4,69 18,86 21,28 25,41 24,57
Médias
6
Horas de trabalho 5,39 6,15 8,85 8,72 39,40 38,27 38,41 35,29 32,52 30,10 28,55 26,83
7
23/3/2007, 15:49
Rendimento da previdência 649 606 476 530 - - - - - - - -
8
Renda das fontes 855 839 650 675 926 1.177 726 558 912 1.091 701 595
9
N 8.257 10.541 19.654 26.305 33.355 32.211 40.908 58.989 41.612 42.752 60.562 85.294
Nota: 1 = local de residência; 2 = raça; 3 = faixas de anos de estudo; 4 = casadas; 5 = % dos beneficiários por faixa etária; 6 = horas de trabalho em todas as ocupações; 7 = rendimento da previdência; 8 = rendimento de
todas as fontes; e 9 = número de observações.
TESTANDO A PROPRIEDADE REDISTRIBUTIVA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM
SEMIPARAMÉTRICA 375
TABELA III
Índices de desigualdade factuais e contrafactuais amostrais e diferença contrafactual-
factual
Homens Mulheres
Homens Mulheres
Ano
Gini Theil Gini Theil
PAINEL I.1
Densidades factuais e contrafactuais dos homens –1996-1976
A. Densidades reais
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr96h Fr76h
B. Benefícios
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,03 1,03 2,03 3,03 4,03 5,03 6,03 7,03 8,03 9,03 10,03 11,03 12,03 13,03
Fr96b76h Fr96h
Fr96b76h Fr96bx76h
PAINEL I.2
Densidades factuais e contrafactuais dos homens –2003-1976
A. Densidades reais
0,90
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr2003h Fr76h
B. Benefícios
0,90
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr2003b76h Fr2003h
Fr2003bx76h Fr2003b76h
PAINEL I.3
Densidades factuais e contrafactuais dos homens –1996-1986
A. Densidades reais
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr96h Fr86h
B. Benefícios
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr96b86h Fr96h
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr96bx86h Fr96bx86h
PAINEL I.4
Densidades factuais e contrafactuais dos homens –2003-1986
A. Densidades reais
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr2003h Fr86h
B. Benefícios
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr2003b86h Fr2003h
Fr2003b86h Fr2003bx86h
PAINEL II.1
Densidades factuais e contrafactuais das mulheres – 1996-1976
A. Densidades reais
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr76m Fr96m
B. Benefícios
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,03 1,03 2,03 3,03 4,03 5,03 6,03 7,03 8,03 9,03 10,03 11,03 12,03 13,03
Fr96m Fr96b76m
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,03 1,03 2,03 3,03 4,03 5,03 6,03 7,03 8,03 9,03 10,03 11,03 12,03 13,03
Fr96b76m Fr96bx76m
PAINEL II.2
Densidades factuais e contrafactuais das mulheres – 2003-1976
A. Densidades reais
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr76m Fr2003m
B. Benefícios
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr2003b76m Fr2003m
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr2003b76m Fr2003bx76m
PAINEL II.3
Densidades factuais e contrafactuais das mulheres –1996-1986
A. Densidades reais
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr86m Fr96m
B. Benefícios
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr96m Fr96b86m
Fr96b86m Fr96bx86m
PAINEL II.4
Densidades factuais e contrafactuais das mulheres – 2003-1986
A. Densidades reais
1,30
1,10
0,90
0,70
0,50
0,30
0,10
–0,10
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr86m Fr2003m
B. Benefícios
1,30
1,10
0,90
0,70
0,50
0,30
0,10
–0,10 0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Fr2003b86m Fr2003m
Fr2003b86m Fr2003bx86m
PAINEL III.1
Diferenças entre densidades dos homens – 1996-1976
A. Real x benefícios
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
–0,10
–0,20
–0,30
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Real Benefício
PAINEL III.2
Diferenças entre densidades dos homens – 2003-1976
A. Real x benefícios
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
–0,10
–0,20
–0,30
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Real Benefício
PAINEL III.3
Diferenças entre densidades dos homens – 1996-1986
A. Real x benefícios
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
–0,10
–0,20
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Real Benefício
PAINEL III.4
Diferenças entre densidades dos homens – 2003-1986
A. Real x benefícios
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
–0,10
–0,20
–0,30
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Real Benefício
PAINEL IV.1
Diferenças entre densidades das mulheres – 1996-1976
A. Real x benefícios
1,10
1,90
0,70
0,50
0,30
0,10
–0,10
–0,30
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Real Benefício
A. Real x benefícios
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
–0,10
–0,20
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Real Benefício
PAINEL IV.3
Diferenças entre densidades das mulheres – 1996-1986
A. Real x benefícios
1,10
1,90
0,70
0,50
0,30
0,10
–0,10
–0,30
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Real Benefício
A. Real x benefícios
0,90
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
–0,10
–0,20
–0,30
0,01 1,01 2,01 3,01 4,01 5,01 6,01 7,01 8,01 9,01 10,01 11,01 12,01 13,01
Real Benefício
Homens
90-10 3.400,31 4.126,76 2.274,53 1.681,46 1.463,57 1.142,21 1.095,97 793,98 2.197,88 1.891,03 1.779,00 1.421,36
50-10 548,45 699,16 370,59 273,09 251,68 230,02 219,48 193,88 378,07 329,34 283,50 252,00
388
90-50 2.851,86 3.427,60 1.903,94 1.408,37 1.211,89 912,19 876,49 600,10 1.819,81 1.561,69 1.495,50 1.169,36
75-25 1.261,85 1.577,23 868,61 630,98 605,19 491,41 408,88 316,47 857,01 741,87 685,48 541,98
95-5 6.063,55 7.089,74 3.748,88 2.947,73 2.477,07 1.875,79 1.860,11 1.309,61 3.661,93 3.246,39 3.085,17 2.469,99
Gini 0,8242 0,7650 0,7732 0,7453 0,7626 0,7704 0,7448 0,7733 0,7785 0,7774 0,7515 0,7557
Theil 1,4426 1,1509 1,2010 1,0861 1,1618 1,1884 1,0880 1,1974 1,2242 1,2160 1,1156 1,1265
Mulheres
90-10 1.714,69 2.170,16 1.346,18 1.156,14 1.105,08 846,63 938,77 656,84 1.458,32 1.078,91 1.157,86 864,25
RODRIGO LEANDRO DE MOURA – PAULO TAFNER – JAIME DE JESUS FILHO
50-10 334,58 340,81 179,76 221,43 135,88 133,20 218,03 200,40 146,08 144,28 204,43 198,03
90-50 1.380,11 1.829,35 1.166,42 934,71 969,20 713,43 720,74 456,44 1.312,24 934,63 953,43 666,22
75-25 629,09 857,11 494,86 357,17 411,65 347,69 290,74 233,14 523,40 395,52 352,47 276,82
95-5 2.817,32 3.510,68 2.317,81 1.956,10 1.873,72 1.455,72 1.572,10 1.071,10 2.536,11 1.862,06 1.992,54 1.483,30
23/3/2007, 15:49
Gini 0,7675 0,6884 0,7567 0,7304 0,7696 0,7726 0,7439 0,7455 0,7728 0,7700 0,7384 0,7451
Theil 1,1703 0,9105 1,1807 1,0530 1,2572 1,2490 1,1004 1,1102 1,2667 1,2408 1,0859 1,1083
a
As medidas 90-10, 50-10, 90-50, 75-25 e 95-5 referem-se à diferença entre percentis. Por exemplo 90-10 é: exp(w90)-exp(w10). Os índices de desigualdade Gini e Theil-T referem-se à distribuição em nível da renda fv.. As
colunas de 1976 até 2003 referem-se às medidas das densidades reais. As outras referem-se às densidades contrafactuais. Por exemplo: 96b76 refere-se à densidade de 1976, mas com a proporção de beneficiários mantida fixa
no nível de 1976. Para 96b&x76 além dos benefícios, os outros atributos são mantidos fixos no nível de 1976. O mesmo padrão se aplica às colunas restantes.
Cap10.pmd
TABELA V
Mudanças decomposicionais de diversas medidas de dispersão de renda
1996-1976 2003-1976 1996-1986 2003-1986
Medidas Variação Benefícios Outros Residual Variação Benefícios Outros Residual Variação Benefícios Outros Residual Variação Benefícios Outros Residual
total fatores total fatores total fatores total fatores
Homens
389
90-10 –1.125,78 810,96 321,36 –2.258,10 –1.718,85 585,49 301,99 –2606,33 –1.852,23 76,65 306,85 –2.235,73 –2.445,30 –97,54 357,64 –2.705,40
–26,54% –28,55% 200,58% –34,06% –17,57% 151,63% –4,14% –16,57% 120,70% 3,99% –14,63% 110,64%
50-10 –177,86 118,91 21,66 –318,43 –2.75,36 53,61 25,60 –354,57 –328,57 –7,48 48,73 –369,82 –426,07 –10,41 31,50 –447,16
–66,86% –12,18% 179,03% –19,47% –9,30% 128,77% 2,28% –14,83% 112,55% 2,44% –7,39% 104,95%
90-50 –947,92 692,05 299,70 –1.939,67 –1.443,49 531,88 276,39 –2251,76 –1.523,66 84,13 258,12 –1.865,91 –2019,23 –87,13 326,14 –2.258,24
–73,01% –31,62% 204,62% –36,85% –19,15% 155,99% –5,52% –16,94% 122,46% 4,32% –16,15% 111,84%
75-25 –393,24 263,42 113,78 –770,44 –630,87 222,10 92,41 –945,38 –708,62 11,60 115,14 –835,36 –946,25 –54,50 143,50 –1.035,25
–66,99% –28,93% 195,92% –35,21% –14,65% 149,85% –1,64% –16,25% 117,89% 5,76% –15,17% 109,41%
95-5 –2.314,67 1.271,81 601,28 –4187,76 –3.115,82 1.087,62 550,50 –4753,94 –3.340,86 86,95 415,54 –3.843,35 –4.142,01 –137,44 615,18 –4.619,75
–54,95% –25,98% 180,92% –34,91% –17,67% 152,57% –2,60% –12,44% 115,04% 3,32% –14,85% 111,53%
Kulback- 0,3840 –0,2031 –0,0528 0,6399 0,5340 –0,2140 –0,0645 0,8126 0,4955 0,0172 –0,0724 0,5507 0,7652 0,0616 –0,1173 0,8210
Leibler –52,89% –13,75% 166,63% –40,08% –12,08% 152,16% 3,47% –14,61% 111,15% 8,05% –15,33% 107,28%
Gini –0,0510 0,0106 –0,0079 –0,0538 –0,0789 0,0005 –0,0285 –0,0509 0,0082 –0,0053 0,0011 0,0124 –0,0197 –0,0062 –0,0042 –0,0092
–20,79% 15,40% 105,39% –0,63% 36,14% 64,50% –64,71% 13,10% 151,61% 31,61% 21,41% 46,98%
23/3/2007, 15:49
Theil –0,2417 0,0392 –0,0266 –0,2543 –0,3565 –0,0019 –0,1094 –0,2452 0,0500 –0,0233 0,0083 0,0150 –0,0648 –0,0294 –0,0109 –0,0245
–16,22% 11,00% 105,22% 0,52% 30,69% 68,79% –46,47% 16,55% 29,92% 45,39% 16,82% 37,79%
SEMIPARAMÉTRICA
TESTANDO A PROPRIEDADE REDISTRIBUTIVA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM
(continua)
389
Cap10.pmd
(continuação)
390
1996-1976 2003-1976 1996-1986 2003-1986
Medidas Variação Benefícios Outros Residual Variação Benefícios Outros Residual Variação Benefícios Outros Residual Variação Benefícios Outros Residual
total fatores total fatores total fatores total fatores
Mulheres
90-10 –368,51 241,10 258,45 –868,06 –558,55 217,38 281,92 –1057,85 –823,98 –112,14 379,41 –1091,25 –1014,02 –1,72 293,61 –1305,91
390
–65,43% –70,13% 235,56% –38,92% –50,47% 189,39% 13,61% –46,05% 132,44% 0,17% –28,96% 128,79%
50-10 –154,82 43,88 2,68 –201,38 –113,15 3,41 17,62 –134,18 –161,05 33,68 1,80 –196,53 –119,38 17,00 6,40 –142,78
–28,34% –1,73% 130,07% –3,01% –15,58% 118,58% –20,91% –1,12% 122,03% –14,24% –5,36% 119,60%
90-50 –213,69 197,22 255,77 –666,68 –445,40 213,97 264,30 –923,67 –662,93 –145,82 377,61 –894,72 –894,64 –18,72 287,21 –1163,13
–92,29% –119,69% 311,98% –48,04% –59,34% 207,38% 22,00% –56,96% 134,96% 2,09% –32,10% 130,01%
75-25 –134,23 83,21 63,96 –281,40 –271,92 66,43 57,60 –395,95 –362,25 –28,54 127,88 –461,59 –499,94 4,70 75,65 –580,29
–61,99% –47,65% 209,64% –24,43% –21,18% 145,61% 7,88% –35,30% 127,42% –0,94% –15,13% 116,07%
95-5 –499,51 444,09 418,00 –1361,60 –861,22 384,00 501,00 –1746,22 –1192,87 –218,30 674,05 –1648,62 –1554,58 –36,43 509,24 –2027,38
–88,90% –83,68% 272,58% –44,59% –58,17% 202,76% 18,30% –56,51% 138,21% 2,34% –32,76% 130,41%
RODRIGO LEANDRO DE MOURA – PAULO TAFNER – JAIME DE JESUS FILHO
Kulback- 0,3070 –0,0727 0,0102 0,3694 0,3412 –0,0976 0,0061 0,4326 0,3202 –0,0439 –0,0144 0,3786 0,4906 –0,0059 –0,0717 0,5682
Leibler –23,67% 3,33% 120,34% –28,60% 1,79% 126,81% –13,71% –4,51% 118,22% –1,21% –14,61% 115,82%
Gini –0,0108 –0,0129 –0,0030 0,0051 –0,0371 –0,0135 –0,0016 –0,0220 0,0683 –0,0161 0,0028 0,0816 0,0420 –0,0079 –0,0067 0,0567
119,53% 27,81% –47,34% 36,37% 4,26% 59,38% –23,59% 4,16% 119,43% –18,88% –16,02% 134,90%
Theil 0,0104 –0,0765 0,0081 0,0788 –0,1173 –0,0474 –0,0098 –0,0601 0,2702 –0,0860 0,0259 0,3303 0,1425 –0,0329 –0,0224 0,1978
–735,19% 78,23% 756,96% 40,44% 8,35% 51,21% –31,83% 9,58% 122,25% –23,11% –15,71% 138,83%
23/3/2007, 15:49
Cap10.pmd
TABELA VI
a
Diferença de percentis e índices de desigualdade para diversas densidades com ordem de decomposição reversa
Medidas 1976 1986 1996 2003 96x76 96x&b76 03x76 03x&b76 96x86 96x&b86 03x86 03x&b86
Homens
90-10 3.400,31 4.126,76 2.274,53 1.681,46 1.463,57 1.142,21 1.095,97 793,98 2.197,88 1.891,03 1.779,00 1.421,36
50-10 548,45 699,16 370,59 273,09 251,68 230,02 219,48 193,88 378,07 329,34 283,50 252,00
391
90-50 2.851,86 3.427,60 1.903,94 1.408,37 1.211,89 912,19 876,49 600,10 1.819,81 1.561,69 1.495,50 1.169,36
75-25 1.261,85 1.577,23 868,61 630,98 605,19 491,41 408,88 316,47 857,01 741,87 685,48 541,98
95-5 6.063,55 7.089,74 3.748,88 2.947,73 2.477,07 1.875,79 1.860,11 1.309,61 3.661,93 3.246,39 3.085,17 2.469,99
Gini 0,8242 0,7650 0,7732 0,7453 0,7795 0,7704 0,7789 0,7733 0,7824 0,7774 0,7608 0,7557
Theil 1,4426 1,1509 1,2010 1,0861 1,2360 1,1884 1,2282 1,1974 1,2428 1,2160 1,1518 1,1265
Mulheres
90-10 1.714,69 2.170,16 1.346,18 1.156,14 838,14 846,63 674,29 656,84 1.056,76 1.078,91 862,47 864,25
50-10 334,58 340,81 179,76 221,43 98,98 133,20 182,97 200,40 119,81 144,28 189,55 198,03
90-50 1.380,11 1.829,35 1.166,42 934,71 739,16 713,43 491,32 456,44 936,95 934,63 672,92 666,22
75-25 629,09 857,11 494,86 357,17 333,45 347,69 235,90 233,14 383,72 395,52 280,10 276,82
95-5 2.817,32 3.510,68 2.317,81 1.956,10 1.423,95 1.455,72 1.104,96 1.071,10 1.835,56 1.862,06 1.493,71 1.483,30
23/3/2007, 15:49
Gini 0,7675 0,6884 0,7567 0,7304 0,7958 0,7726 0,7528 0,7455 0,7843 0,7700 0,7494 0,7451
Theil 1,1703 0,9105 1,1807 1,0530 1,3943 1,2490 1,1459 1,1102 1,3288 1,2408 1,1294 1,1083
a
SEMIPARAMÉTRICA
TESTANDO A PROPRIEDADE REDISTRIBUTIVA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM
As medidas 90-10, 50-10, 90-50, 75-25 e 95-5 referem-se à diferença entre percentis. Por exemplo 90-10 é: exp(w90) – exp(w10). Os índices de desigualdade Gini e Theil-T referem-se à distribuição em nível da renda fv . As
colunas de 1976 até 2003 referem-se às medidas das densidades reais. As outras referem-se às densidades contrafactuais. Por exemplo: 96b76 refere-se à densidade de 1976, mas com a proporção de beneficiários mantida fixa
391
no nível de 1976. Para 96b&x76 além dos benefícios, os outros atributos são mantidos fixos no nível de 1976. O mesmo padrão se aplica às colunas restantes.
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TABELA VII
392
Revertendo as mudanças decomposicionais de diversas medidas de dispersão de renda
1996-1976 2003-1976 1996-1986 2003-1986
Medidas Variação Outros Benefícios Residual Variação Outros Benefícios Residual Variação Outros Benefícios Residual Variação Outros Benefícios Residual
total fatores total fatores total fatores total fatores
Homens
392
90-10 –1.125,78 1.099,15 33,17 –2.258,10 –1.718,85 848,36 39,12 –2.606,33 –1.852,23 383,50 0,00 –2.235,73 –2.445,30 249,84 10,26 –2.705,40
–97,63% –2,95% 200,58% –49,36% –2,28% 151,63% –20,70% 0,00% 120,70% –10,22% –0,42% 110,64%
50-10 –177,86 150,86 –10,29 –318,43 –275,36 85,03 –5,82 –354,57 –328,57 46,40 –5,15 –3.69,82 –426,07 27,13 –6,04 –447,16
–84,82% 5,79% 179,03% –30,88% 2,11% 128,77% –14,12% 1,57% 112,55% –6,37% 1,42% 104,95%
90-50 –947,92 948,29 43,46 –1.939,67 –1.443,49 763,33 44,94 –2.251,76 –1.523,66 337,10 5,15 –1.865,91 –2.019,23 222,71 16,30 –2.258,24
–100,04% –4,58% 204,62% –52,88% –3,11% 155,99% –22,12% –0,34% 122,46% –11,03% –0,81% 111,84%
75-25 –393,24 367,96 9,24 –770,44 –630,87 305,64 8,87 –945,38 –708,62 121,38 5,36 –835,36 –946,25 80,84 8,16 –1.035,25
–93,57% –2,35% 195,92% –48,45% –1,41% 149,85% –17,13% –0,76% 117,89% –8,54% –0,86% 109,41%
95-5 –2.314,67 1.838,35 34,74 –4.187,76 –3.115,82 1.556,07 82,05 –4.753,94 –3.340,86 505,49 –3,00 –3.843,35 –4142,01 456,60 21,14 –4619,75
RODRIGO LEANDRO DE MOURA – PAULO TAFNER – JAIME DE JESUS FILHO
–79,42% –1,50% 180,92% –49,94% –2,63% 152,57% –15,13% 0,09% 115,04% –11,02% –0,51% 111,53%
Kulback- 0,3840 –0,2687 0,0128 0,6399 0,5340 –0,2637 –0,0148 0,8126 0,4955 –0,0616 0,0064 0,5507 0,7652 –0,0533 –0,0024 0,8210
Leibler –69,97% 3,34% 166,63% –49,38% –2,78% 152,16% –12,43% 1,29% 111,15% –6,97% –0,31% 107,28%
Gini –0,0510 –0,0063 0,0091 –0,0538 –0,0789 –0,0336 0,0056 –0,0509 0,0082 –0,0093 0,0050 0,0124 –0,0197 –0,0155 0,0051 –0,0092
12,40% –17,79% 105,39% 42,57% –7,06% 64,50% –113,13% 61,52% 151,61% 78,84% –25,82% 46,98%
23/3/2007, 15:49
Theil –0,2417 –0,0351 0,0477 –0,2543 –0,3565 –0,1420 0,0307 –0,2452 0,0500 –0,0419 0,0269 0,0150 –0,0648 –0,0656 0,0253 –0,0245
14,51% –19,73% 105,22% 39,83% –8,62% 68,79% –83,64% 53,72% 29,92% 101,27% –39,06% 37,79%
(continua)
Cap10.pmd
(continuação)
Mulheres
90-10 –368,51 508,04 –8,49 –868,06 –558,55 481,86 17,44 –1057,85 –823,98 289,42 –22,15 –1091,25 –1014,02 293,67 –1,78 –1305,91
393
–137,86% 2,30% 235,56% –86,27% –3,12% 189,39% –35,12% 2,69% 132,44% –28,96% 0,18% 128,79%
50-10 –154,82 80,78 –34,22 –201,38 –113,15 38,47 –17,44 –134,18 –161,05 59,95 –24,47 –196,53 –119,38 31,88 –8,48 –142,78
–52,18% 22,10% 130,07% –33,99% 15,41% 118,58% –37,22% 15,19% 122,03% –26,71% 7,10% 119,60%
90-50 –213,69 427,26 25,73 –666,68 –445,40 443,39 34,88 –923,67 –662,93 229,47 2,32 –894,72 –894,64 261,79 6,70 –1163,13
–199,94% –12,04% 311,98% –99,55% –7,83% 207,38% –34,61% –0,35% 134,96% –29,26% –0,75% 130,01%
75-25 –134,23 161,41 –14,24 –281,40 –271,92 121,27 2,76 –395,95 –362,25 111,14 –11,80 –461,59 –499,94 77,07 3,28 –580,29
–120,25% 10,61% 209,64% –44,60% –1,02% 145,61% –30,68% 3,26% 127,42% –15,42% –0,66% 116,07%
95-5 –499,51 893,86 –31,77 –1361,60 –861,22 851,14 33,86 –1746,22 –1192,87 482,25 –26,50 –1648,62 –1554,58 462,40 10,41 –2027,38
–178,95% 6,36% 272,58% –98,83% –3,93% 202,76% –40,43% 2,22% 138,21% –29,74% –0,67% 130,41%
Kulback- 0,3070 –0,1234 0,0609 0,3694 0,3412 –0,0772 –0,0143 0,4326 0,3202 –0,0824 0,0240 0,3786 0,4906 –0,0705 –0,0071 0,5682
Leibler –40,19% 19,85% 120,34% –22,62% –4,19% 126,81% –25,73% 7,51% 118,22% –14,37% –1,46% 115,82%
Gini –0,0108 –0,0391 0,0232 0,0051 –0,0371 –0,0224 0,0073 –0,0220 0,0683 –0,0276 0,0143 0,0816 0,0420 –0,0190 0,0043 0,0567
361,40% –214,06% –47,34% 60,25% –19,63% 59,38% –40,38% 20,95% 119,43% –45,21% 10,32% 134,90%
23/3/2007, 15:49
Theil 0,0104 –0,2137 0,1453 0,0788 –0,1173 –0,0929 0,0357 –0,0601 0,2702 –0,1481 0,0880 0,3303 0,1425 –0,0765 0,0211 0,1978
–2.053,76% 1396,80% 756,96% 79,24% –30,45% 51,21% –54,82% 32,58% 122,25% –53,67% 14,84% 138,83%
SEMIPARAMÉTRICA
TESTANDO A PROPRIEDADE REDISTRIBUTIVA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM
393
Cap10.pmd
TABELA VIII
394
Índices de desigualdade para diversas densidades por faixas etárias
Faixas etárias Medidas 1976 1986 1996 2003 96b76 96b&x76 03b76 03b&x76 96b86 96b&x86 03b86 03b&x86
Homens
18-29 Gini 0,8236 0,7695 0,7631 0,7528 0,7863 0,8019 0,8009 0,8376 0,7882 0,7908 0,7707 0,7857
Theil 1,4423 1,1788 1,1470 1,1084 1,2439 1,3181 1,3126 1,5132 1,2522 1,2658 1,1809 1,2468
394
30-42 Gini 0,8249 0,7830 0,7527 0,7355 0,7166 0,7427 0,7271 0,7551 0,7538 0,7615 0,7337 0,7467
Theil 1,4484 1,2319 1,1037 1,0385 0,9844 1,0726 1,0175 1,1178 1,1070 1,1369 1,0328 1,0787
43-55 Gini 0,8204 0,7711 0,7633 0,7283 0,7673 0,7781 0,7314 0,7719 0,7660 0,7719 0,7148 0,7337
Theil 1,4149 1,1800 1,1513 1,0166 1,1814 1,2276 1,0345 1,1874 1,1627 1,1884 0,9710 1,0394
56 e + Gini 0,8613 0,8573 0,8637 0,8063 0,8844 0,8804 0,8257 0,8165 0,8679 0,8649 0,8150 0,8045
Theil 1,6802 1,6538 1,7931 1,4696 2,0106 1,9537 1,6306 1,5653 1,8267 1,7979 1,5183 1,4563
Mulheres
18-29 Gini 0,7611 0,6956 0,7217 0,7117 0,6958 0,7024 0,7555 0,7464 0,7173 0,7251 0,7344 0,7379
RODRIGO LEANDRO DE MOURA – PAULO TAFNER – JAIME DE JESUS FILHO
Theil 1,1745 0,9170 1,0142 0,9944 0,9367 0,9613 1,1871 1,1269 1,0030 1,0281 1,0854 1,0888
30-42 Gini 0,7455 0,6223 0,7245 0,7363 0,7354 0,7701 0,7757 0,7706 0,7329 0,7406 0,7582 0,7626
Theil 1,1029 0,7253 1,0164 1,0780 1,0917 1,2525 1,2439 1,2128 1,0428 1,0729 1,1601 1,1757
43-55 Gini 0,7703 0,6522 0,7235 0,7342 0,7351 0,7591 0,7385 0,7481 0,7240 0,7335 0,7357 0,7527
23/3/2007, 15:49
Theil 1,1950 0,7962 1,0360 1,0719 1,0841 1,1859 1,0882 1,1264 1,0363 1,0746 1,0779 1,1414
56 e + Gini 0,8334 0,8136 0,8749 0,8200 0,8824 0,8893 0,8275 0,8539 0,8767 0,8817 0,8213 0,8355
Theil 1,5613 1,5236 2,0399 1,6841 2,1054 2,1221 1,7427 1,8645 2,0565 2,0812 1,6937 1,7710
Cap10.pmd
TABELA IX
Mudanças decomposicionais do Gini e Theil por faixas etárias
Homens
395
18-29 anos Gini –0,0605 –0,0232 –0,0156 –0,0217 –0,0707 –0,0481 –0,0367 0,0140 –0,0065 –0,0251 –0,0026 0,0212 –0,0167 –0,0179 –0,0150 0,0162
38,30% 25,80% 35,90% 67,99% 51,83% 387,59% 40,19% –327,77% 107,12% 89,74% –96,87%
Theil –0,2953 –0,0969 –0,0742 –0,1241 –0,3338 –0,2042 –0,2006 0,0710 –0,0317 –0,1052 –0,0136 0,1188 –0,0703 –0,0724 –0,0659 0,0680
32,82% 25,14% 42,05% 61,17% 60,09% –21,27% 331,35% 42,95% –374,30% 103,00% 93,75% –96,75%
30-42 anos Gini –0,0722 0,0361 –0,0261 –0,0822 –0,0894 0,0084 –0,0280 –0,0698 –0,0303 –0,0011 –0,0077 –0,0215 –0,0475 0,0018 –0,0130 –0,0363
–50,02% 36,17% 113,86% –9,43% 31,33% 78,10% 3,64% 25,46% 70,90% –3,86% 27,46% 76,40%
Theil –0,3447 0,1193 –0,0882 –0,3758 –0,4099 0,0210 –0,1004 –0,3306 –0,1282 –0,0034 –0,0299 0,0332 –0,1934 0,0057 –0,0459 –0,1532
–34,60% 25,58% 109,02% –5,13% 24,48% 80,64% 2,63% 23,29% –25,92% –2,94% 23,74% 79,20%
43-55 anos Gini –0,0571 –0,0040 –0,0109 –0,0423 –0,0921 –0,0030 –0,0406 –0,0485 –0,0078 –0,0027 –0,0059 0,0008 –0,0427 0,0136 –0,0190 –0,0374
6,92% 19,01% 74,07% 3,28% 44,05% 52,67% 34,93% 75,68% –10,60% –31,78% 44,35% 87,43%
Theil –0,2635 –0,0301 –0,0461 –0,1873 –0,3983 –0,0179 –0,1529 –0,2275 –0,0287 –0,0114 –0,0257 0,0371 –0,1634 0,0455 –0,0683 –0,1407
11,43% 17,51% 71,07% 4,49% 38,40% 57,11% 39,68% 89,71% –129,39% –27,86% 41,80% 86,06%
56+ anos Gini 0,0023 –0,0207 0,0040 0,0191 –0,0551 –0,0194 0,0092 –0,0449 0,0064 –0,0042 0,0029 0,0076 –0,0510 –0,0087 0,0105 –0,0527
23/3/2007, 15:49
–897,41% 171,84% 825,57% 35,28% –16,72% 81,44% –66,22% 46,25% 119,97% 17,14% –20,52% 103,37%
Theil 0,1129 –0,2175 0,0568 0,2736 –0,2106 –0,1611 0,0654 –0,1149 0,1393 –0,0336 0,0288 0,0048 –0,1842 –0,0488 0,0620 –0,1975
–192,64% 50,34% 242,30% 76,48% –31,04% 54,56% –24,11% 20,68% 3,43% 26,47% –33,68% 107,21%
SEMIPARAMÉTRICA
TESTANDO A PROPRIEDADE REDISTRIBUTIVA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM
(continua)
395
Cap10.pmd
(continuação)
396
Mulheres
18-29 Gini –0,0394 0,0259 –0,0066 –0,0587 –0,0494 –0,0438 0,0091 –0,0147 0,0261 0,0043 –0,0078 0,0296 0,0161 –0,0227 –0,0035 0,0423
396
–65,63% 16,76% 148,86% 88,71% –18,37% 29,66% 16,60% –29,75% 113,15% –140,72% –21,77% 262,49%
Theil –0,1603 0,0775 –0,0246 –0,2132 –0,1802 –0,1928 0,0602 –0,0476 0,0973 0,0112 –0,0251 0,1111 0,0774 –0,0911 –0,0033 0,1718
–48,36% 15,34% 133,02% 106,98% –33,40% 26,42% 11,52% –25,81% 114,28% –117,70% –4,31% 222,01%
30-42 Gini –0,0209 –0,0109 –0,0347 0,0246 –0,0092 –0,0394 0,0051 0,0251 0,1022 –0,0084 –0,0077 0,1183 0,1140 –0,0218 –0,0045 0,1403
51,85% 165,51% –117,36% 429,90% –55,92% –273,98% –8,19% –7,52% 115,71% –19,15% –3,92% 123,07%
Theil –0,0866 –0,0754 –0,1608 0,1495 –0,0249 –0,1658 0,0311 0,1098 0,2911 –0,0265 –0,0301 0,3476 0,3527 –0,0821 –0,0156 0,4504
87,06% 185,65% –172,71% 665,89% –124,84% –441,05% –9,10% –10,34% 119,44% –23,26% –4,43% 127,70%
43-55 Gini –0,0469 –0,0116 –0,0241 –0,0112 –0,0361 –0,0043 –0,0096 –0,0222 0,0713 –0,0005 –0,0096 0,0813 0,0820 –0,0015 –0,0170 0,1005
RODRIGO LEANDRO DE MOURA – PAULO TAFNER – JAIME DE JESUS FILHO
24,73% 51,34% 23,92% 11,87% 26,57% 61,56% –0,66% –13,43% 114,09% –1,80% –20,70% 122,49%
Theil –0,1590 –0,0481 –0,1019 –0,0090 –0,1231 –0,0163 –0,0382 –0,0686 0,2398 –0,0003 –0,0383 0,2784 0,2757 –0,0060 –0,0634 0,3451
30,25% 64,06% 5,69% 13,24% 31,01% 55,75% –0,12% –15,99% 116,11% –2,18% –23,00% 125,18%
56 e + Gini 0,0415 –0,0075 –0,0068 0,0559 –0,0134 –0,0075 –0,0264 0,0205 0,0613 –0,0018 –0,0050 0,0682 0,0064 –0,0013 –0,0142 0,0219
–18,17% –16,50% 134,66% 56,13% 197,32% –153,45% –2,96% –8,23% 111,19% –19,87% –220,24% 340,11%
23/3/2007, 15:49
Theil 0,4786 –0,0655 –0,0167 0,5608 0,1228 –0,0586 –0,1218 0,3032 0,5162 –0,0166 –0,0247 0,5576 0,1604 –0,0096 –0,0773 0,2474
–13,69% –3,49% 117,18% –47,74% –99,19% 246,93% –3,22% –4,79% 108,01% –5,99% –48,18% 154,18%
Cap10.pmd
TABELA X
Índices de desigualdade para diversas densidades por faixas etárias com ordem de decomposição reversa
Faixas etárias Medidas 1976 1986 1996 2003 96x76 96x&b76 03x76 03x&b76 96x86 96x&b86 03x86 03x&b86
Homens
18-29 Gini 0,8236 0,7695 0,7631 0,7528 0,8022 0,8019 0,8380 0,8376 0,7914 0,7908 0,7869 0,7857
Theil 1,4423 1,1788 1,1470 1,1084 1,3199 1,3181 1,5157 1,5132 1,2692 1,2658 1,2528 1,2468
397
30-42 Gini 0,8249 0,7830 0,7527 0,7355 0,7416 0,7427 0,7548 0,7551 0,7615 0,7615 0,7468 0,7467
Theil 1,4484 1,2319 1,1037 1,0385 1,0683 1,0726 1,1167 1,1178 1,1368 1,1369 1,0792 1,0787
43-55 Gini 0,8204 0,7711 0,7633 0,7283 0,7875 0,7781 0,7745 0,7719 0,7729 0,7719 0,7336 0,7337
Theil 1,4149 1,1800 1,1513 1,0166 1,2786 1,2276 1,2002 1,1874 1,1933 1,1884 1,0389 1,0394
56 e + Gini 0,8613 0,8573 0,8637 0,8063 0,9057 0,8804 0,8727 0,8165 0,8776 0,8649 0,8299 0,8045
Theil 1,6802 1,6538 1,7931 1,4696 2,1833 1,9537 1,9397 1,5653 1,9048 1,7979 1,6160 1,4563
Mulheres
18-29 Gini 0,7611 0,6956 0,7217 0,7117 0,7130 0,7024 0,7425 0,7464 0,7262 0,7251 0,7364 0,7379
Theil 1,1745 0,9170 1,0142 0,9944 0,9930 0,9613 1,0955 1,1269 1,0325 1,0281 1,0788 1,0888
30-42 Gini 0,7455 0,6223 0,7245 0,7363 0,7689 0,7701 0,7691 0,7706 0,7417 0,7406 0,7612 0,7626
Theil 1,1029 0,7253 1,0164 1,0780 1,2411 1,2525 1,2057 1,2128 1,0777 1,0729 1,1695 1,1757
43-55 Gini 0,7703 0,6522 0,7235 0,7342 0,7721 0,7591 0,7484 0,7481 0,7371 0,7335 0,7529 0,7527
23/3/2007, 15:49
Theil 1,1950 0,7962 1,0360 1,0719 1,2577 1,1859 1,1276 1,1264 1,0918 1,0746 1,1431 1,1414
56 e + Gini 0,8334 0,8136 0,8749 0,8200 0,9174 0,8893 0,8975 0,8539 0,9005 0,8817 0,8548 0,8355
SEMIPARAMÉTRICA
TESTANDO A PROPRIEDADE REDISTRIBUTIVA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM
Theil 1,5613 1,5236 2,0399 1,6841 2,4214 2,1221 2,2260 1,8645 2,2650 2,0812 1,9163 1,7710
397
Cap10.pmd
TABELA XI
398
Revertendo as mudanças decomposicionais do Gini e Theil por faixas etárias
Homens
398
18-29 Gini –0,0605 –0,0391 0,0003 –0,0217 –0,0707 –0,0852 0,0004 0,0140 –0,0065 –0,0284 0,0006 0,0212 –0,0167 –0,0341 0,0012 0,0162
64,63% –0,54% 35,90% 120,39% –0,57% –19,82% 437,74% –9,97% –327,77% 203,99% –7,12% –96,87%
Theil –0,2953 –0,1729 0,0018 –0,1241 –0,3338 –0,4073 0,0024 0,0710 –0,0317 –0,1222 0,0034 0,1188 –0,0703 –0,1443 0,0060 0,0680
58,55% –0,59% 42,05% 121,99% –0,72% –21,27% 385,01% –10,70% –374,30% 205,22% –8,47% –96,75%
30-42 Gini –0,0722 0,0111 –0,0011 –0,0822 –0,0894 –0,0193 –0,0003 –0,0698 –0,0303 –0,0088 0,0000 –0,0215 –0,0475 –0,0113 0,0001 –0,0363
–15,42% 1,56% 113,86% 21,60% 0,30% 78,10% 29,00% 0,11% 70,90% 23,83% –0,24% 76,40%
Theil –0,3447 0,0354 –0,0043 –0,3758 –0,4099 –0,0782 –0,0011 –0,3306 –0,1282 –0,0331 –0,0001 0,0332 –0,1934 –0,0407 0,0005 –0,1532
–10,26% 1,24% 109,02% 19,08% 0,28% 80,64% 25,82% 0,11% –25,92% 21,05% –0,25% 79,20%
RODRIGO LEANDRO DE MOURA – PAULO TAFNER – JAIME DE JESUS FILHO
43-55 Gini –0,0571 –0,0241 0,0093 –0,0423 –0,0921 –0,0462 0,0026 –0,0485 –0,0078 –0,0096 0,0010 0,0008 –0,0427 –0,0053 –0,0001 –0,0374
42,29% –16,36% 74,07% 50,12% –2,79% 52,67% 123,49% –12,89% –10,60% 12,30% 0,28% 87,43%
Theil –0,2635 –0,1273 0,0511 –0,1873 –0,3983 –0,1836 0,0128 –0,2275 –0,0287 –0,0420 0,0048 0,0371 –0,1634 –0,0223 –0,0005 –0,1407
48,31% –19,38% 71,07% 46,10% –3,21% 57,11% 146,29% –16,90% –129,39% 13,66% 0,28% 86,06%
56 e + Gini 0,0023 –0,0421 0,0253 0,0191 –0,0551 –0,0665 0,0563 –0,0449 0,0064 –0,0140 0,0127 0,0076 –0,0510 –0,0236 0,0253 –0,0527
23/3/2007, 15:49
–1821,15% 1095,58% 825,57% 120,69% –102,13% 81,44% –219,13% 199,16% 119,97% 46,27% –49,64% 103,37%
Theil 0,1129 –0,3903 0,2296 0,2736 –0,2106 –0,4701 0,3744 –0,1149 0,1393 –0,1118 0,1070 0,0048 –0,1842 –0,1465 0,1597 –0,1975
–345,67% 203,36% 242,30% 223,21% –177,77% 54,56% –80,25% 76,83% 3,43% 79,49% –86,70% 107,21%
(continua)
Cap10.pmd
(continuação)
Mulheres
18-29 Gini –0,0394 0,0259 –0,0066 –0,0587 –0,0494 –0,0438 0,0091 –0,0147 0,0261 0,0043 –0,0078 0,0296 0,0161 –0,0227 –0,0035 0,0423
399
–65,63% 16,76% 148,86% 88,71% –18,37% 29,66% 16,60% –29,75% 113,15% –140,72% –21,77% 262,49%
Theil –0,1603 0,0775 –0,0246 –0,2132 –0,1802 –0,1928 0,0602 –0,0476 0,0973 0,0112 –0,0251 0,1111 0,0774 –0,0911 –0,0033 0,1718
–48,36% 15,34% 133,02% 106,98% –33,40% 26,42% 11,52% –25,81% 114,28% –117,70% –4,31% 222,01%
30-42 Gini –0,0209 –0,0443 –0,0012 0,0246 –0,0092 –0,0328 –0,0015 0,0251 0,1022 –0,0172 0,0011 0,1183 0,1140 –0,0249 –0,0014 0,1403
211,63% 5,74% –117,36% 357,86% 16,12% –273,98% –16,80% 1,10% 115,71% –21,81% –1,26% 123,07%
Theil –0,0866 –0,2247 –0,0114 0,1495 –0,0249 –0,1277 –0,0070 0,1098 0,2911 –0,0614 0,0048 0,3476 0,3527 –0,0914 –0,0063 0,4504
259,55% 13,16% –172,71% 512,81% 28,24% –441,05% –21,08% 1,64% 119,44% –25,91% –1,78% 127,70%
43-55 Gini –0,0469 –0,0486 0,0130 –0,0112 –0,0361 –0,0142 0,0003 –0,0222 0,0713 –0,0136 0,0036 0,0813 0,0820 –0,0187 0,0002 0,1005
103,74% –27,66% 23,92% 39,21% –0,77% 61,56% –19,07% 4,99% 114,09% –22,76% 0,27% 122,49%
Theil –0,1590 –0,2217 0,0718 –0,0090 –0,1231 –0,0557 0,0012 –0,0686 0,2398 –0,0558 0,0172 0,2784 0,2757 –0,0712 0,0018 0,3451
139,44% –45,13% 5,69% 45,22% –0,97% 55,75% –23,27% 7,16% 116,11% –25,83% 0,65% 125,18%
56 e + Gini 0,0415 –0,0426 0,0282 0,0559 –0,0134 –0,0775 0,0436 0,0205 0,0613 –0,0257 0,0188 0,0682 0,0064 –0,0348 0,0193 0,0219
–102,54% 67,88% 134,66% 580,01% –326,56% –153,45% –41,87% 30,67% 111,19% –540,07% 299,96% 340,11%
23/3/2007, 15:49
Theil 0,4786 –0,3816 0,2994 0,5608 0,1228 –0,5420 0,3615 0,3032 0,5162 –0,2251 0,1838 0,5576 0,1604 –0,2322 0,1453 0,2474
–79,73% 62,55% 117,18% –441,35% 294,42% 246,93% –43,61% 35,60% 108,01% –144,73% 90,55% 154,18%
SEMIPARAMÉTRICA
TESTANDO A PROPRIEDADE REDISTRIBUTIVA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM
399
400 RODRIGO LEANDRO DE MOURA – PAULO TAFNER – JAIME DE JESUS FILHO
TABELA XII
Resumo das evidências sobre a progressividade/regressividade da previdência
Decomposição Evidência
Faixas etárias
Normal Reversa
Homens
Mulheres
Paulo Tafner**
1 INTRODUÇÃO
Diversos fatores atuam sobre o sistema de previdência e em conjunto determinam
o seu desempenho. Alguns deles exercem influência indireta, por exemplo, o de-
sempenho do mercado de trabalho, ou as alterações demográficas, estas últimas
sintetizando uma série de componentes: saneamento, saúde pública, grau de
escolarização da população, e até mudanças comportamentais, como o casamento
de indivíduos de diferentes “gerações”.
Ainda nesse grupo de fatores estão incluídas as instituições que agem sobre o
mercado de trabalho1 – determinando maior ou menor grau de desemprego e de
informalidade –, como o salário mínimo (SM) e a carga tributária, e outras ainda,
como as excessivas regulações sobre o capital e a burocracia que inibem a consti-
tuição de empresas e reduzem o potencial de geração de emprego e de contribuintes
para o sistema de previdência.
Há, no entanto, outros fatores intrinsecamente ligados ao sistema de previdência
e que exercem papel fundamental como determinantes de seu desempenho. São eles
as microinstituições que regulam a elegibilidade, a concessão e o valor dos benefícios –
inclusive as regras de preservação do valor real ou de reajustamento – e as formas
e modalidades de contribuição ao sistema de previdência. São leis, regras e regula-
mentos que ganharam forma e operacionalidade a partir da Constituição de 1988.
* O autor agradece a Fabio Giambiagi, Ana Amélia Camarano, Marcos Eugênio da Silva, Márcia Marques de Carvalho, Octávio Amorim
e Wanderley Guilherme dos Santos, por suas críticas e sugestões. Quaisquer erros e omissões neste trabalho são de minha inteira
responsabilidade.
** Coordenador de Estudos de Previdência da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Ipea.
1. E, através deste, sobre o sistema previdenciário.
2. Ver, entre outros, Rezende (1996), Varsano et al. (1998), Giambiagi e Além (1999), Siqueira, Nogueira e Souza (1999), Vianna et al.
(2000), Varsano (2003) e Fernandes e Narita (2003).
3. Trabalho semelhante de comparação com outros países das regras de concessão de benefícios foi recentemente realizado por Caetano
(2006).
TABELA 1
Brasil: quantidade, valor e valor médio dos benefícios emitidos – julho de 2006
Quantidade Valor (R$ mil) Valor Médio
Grupos de benefícios
R$ SMs
4. Uma alternativa seria fazer essa mesma comparação exclusivamente com aqueles trabalhadores protegidos (trabalhadores com cartei-
ra assinada, funcionários públicos civis e militares e empregadores). Essa comparação, no entanto, é fortemente influenciada pelo
comportamento do desempenho do mercado de trabalho e não leva em consideração trabalhadores que estão momentaneamente fora
do mercado formal, mas contribuíram e são beneficiários potenciais.
5. A expressão redução do valor do benefício é utilizada porque quando ocorre a morte de um segurado, o valor de referência do
benefício a ser pago aos dependentes é sempre calculado tomando-se por base o valor a que ele teria direito se estivesse vivo e pudesse
usufruir do benefício de aposentadoria.
6. Observe-se que não é possível determinar há quanto tempo essas pensionistas estão recebendo o benefício. Mas se considerarmos a
idade média do grupo composto pelos 50% mais jovens da distribuição, supondo-se que esse grupo é composto predominantemente
por aquelas que recebem o benefício há menos tempo, a média cai para 50,7 anos.
As condições para o acesso aos benefícios dos países selecionados foram con-
sultadas da publicação da Social Security Administration (SSA), dos Estados Unidos.
2.1.1 Europa
Dos países europeus, dez foram selecionados. São aqueles cujos sistemas são os
mais longevos, tendo a maioria deles já experimentado processos de reformas e
ajustes. Portugal e Rússia foram incorporados por questões distintas. O primeiro,
pelas profundas e históricas relações com o Brasil e, por isso mesmo, pela herança
aqui deixada em termos de organização social e política, traços culturais e
comportamentais. O segundo porque, sendo o mais importante país do antigo
bloco socialista, enfrenta – tal como os demais países daquele bloco – sérios desafios
de estruturação institucional num sistema de mercado. Para que o leitor tenha
informações preliminares a respeito, a tabela 2 apresenta a população e a esperança
de vida da população de cada um deles, bem como os respectivos produtos per
capita expressos em dólares.
TABELA 2
Europa: população, esperança de vida, por sexo, idade média de aposentadoria e
produtos per capita, para o conjunto de países selecionados
Total da população Expectativa de vida ao nascer (anos) Idade média de PIB per capita
Países (milhões) aposentadoria (US$)
Homens Mulheres
inferior a 75% do SM,10 filhos não capacitados para o trabalho (sem idade fixada).
Irmãos e irmãs, assim como os pais, também podem ser beneficiários.
O valor da pensão é igual a 52% da base de rendimentos do falecido ou
z
52% do valor da aposentadoria. Se existir criança como dependente, o valor será
de 70% dos rendimentos ou aposentadoria. A pensão cessa com novo matrimônio
da viúva, exceto sob certas circunstâncias de renda, idade ou incapacidade para o
trabalho, nas quais uma pensão parcial continua a ser paga.
França:
z Para a concessão de pensão por morte, é exigida do beneficiário uma idade
mínima de 52 anos de idade e renda inferior a 15 mil euros por ano. O benefício
também é pago para a esposa divorciada que não adquiriu novo matrimônio,
porém, companheiras que não se casaram não terão direito ao benefício. O valor
da pensão é 54% do valor da aposentadoria a que o segurado teria direito.
Finlândia:
z País com PIB per capita semelhante ao da França, só recebem pensão por
morte as viúvas jovens (menos de 65 anos), com filhos de até 18 anos,11 que
tenham se casado com o marido antes dos 65 anos dele e que tenham pelo menos
cinco anos de casamento. É necessário que a viúva tenha nascido no país ou que
tenha vivido na Finlândia por pelo menos cinco anos antes da data do falecimento.
z A pensão é paga somente nos seis meses seguintes ao falecimento do marido
e o valor varia de acordo com o tempo de residência na Finlândia, se o falecido
tiver mais de 65 anos. Se o falecido tiver menos de 65 anos, a pensão é paga
somente caso ele tenha vivido no país em pelo menos 80% do tempo entre o 16º
aniversário e a data de seu óbito.12
Itália:
z Para a concessão do benefício de pensão por morte não é exigida idade
mínima, não é exigido período mínimo de coabitação ou casamento nem renda
mínima. É exigida apenas uma carência de 15 anos de contribuição antes do
falecimento.13 O valor da pensão por morte varia segundo o número de dependentes:
10. Chamo a atenção do leitor para o fato de que apesar de haver o SM legal na Espanha, reconhece-se a existência de relações de
trabalho com remuneração inferior ao mínimo.
11. No Brasil, 53% das pensionistas possuem menos de 65 anos, e destas, apenas 2% possuem crianças e/ou jovens com até 17 anos.
12. A Finlândia é certamente um caso muito particular, tendo em vista que parte de sua população exerce atividades profissionais fora do
país, a ele retornando depois de encerrada a carreira laboral.
13. No caso de o tempo de contribuição ser inferior a 15 anos, havendo o óbito, e desde que haja dependentes menores, o Estado
garante uma renda mínima até a maioridade. Não é, porém, um benefício previdenciário, mas sim assistencial.
14. No Brasil, do total das pensionistas, 30% não possuíam filhos morando no mesmo domicílio, 40% possuíam um filho, e as 30%
restantes possuíam dois filhos ou mais.
Suécia:
z Tem direito à pensão por morte a viúva de até 65 anos, que estivesse casada
ou coabitasse com o falecido (sob certas condições). É necessário que o falecido
fosse segurado por pelo menos cinco anos. A pensão cessa com novo matrimônio
da viúva ou com a coabitação – nesse caso, porém, a condição de coabitação só
pode ser verificada mediante fiscalizações; ou quando a viúva atingir a idade de 65
anos.15
Somente se paga pensão por um período de 10 meses. Caso a viúva tenha
z
a custódia de uma criança de 13 até 18 anos, a pensão se estenderá por mais 12
meses. Se a viúva tiver a custódia de crianças menores de 12 anos, a pensão continua
até a mais jovem criança atingir 12 anos. O valor da pensão é igual a 55% do valor
da aposentadoria do falecido; com um órfão menor de 12 anos é 90% e com dois
ou mais nas mesmas condições, atinge 100%.
Suíça:
Para ter acesso ao benefício de pensão por morte, é necessário que o falecido
z
tenha contribuído pelo menos uma vez em cada ano desde os 21 anos. É também
necessário pelo menos um ano de contribuição. Os beneficiários são: a) a viúva
com uma ou mais crianças dependentes; b) a viúva com 45 anos ou mais com pelo
menos cinco anos de matrimônio; c) a mulher divorciada com uma ou mais crianças
dependentes com pelo menos dez anos de casamento; e d) órfãos de até 18 anos
(ou 25 anos se estudante ou estagiário/aprendiz).
z O valor da pensão é igual a 80% do valor da aposentadoria, com a quantia
mínima de US$ 657 e máxima de US$ 1.313. O valor de benefício é reajustado a
cada dois anos, segundo índices de preços.
2.1.2 Américas
Entre os mais de 20 países das Américas com sistema de previdência estruturado,
foram selecionados seis: Estados Unidos, México, Canadá, Argentina, Chile e
Costa Rica. Essa composição foi feita de modo a retratar a diversidade de sistemas
existente no continente. Na América Central, arrolamos a Costa Rica porque é o
país com o sistema previdenciário mais bem estruturado e com disponibilidade
de informações. Na América do Sul, listamos os dois mais importantes países. A
Argentina, por sua economia e população, e o Chile, por ser o país que realizou há
1/4 de século a mais radical reforma de seu sistema previdenciário e serviu de
15. Pode parecer curioso cessar o benefício quando o sobrevivente está se tornando idoso. É que nessa idade o benefício passa a ser de
aposentadoria ou de renda mínima.
TABELA 3
Américas: população, esperança de vida, por sexo, idade média de aposentadoria e
produto per capita, para o conjunto de países selecionados – 2005
Total da população Esperança de vida ao nascer (anos) Idade média de PIB per capita
Países (milhões) aposentadoria (US$)
Homens Mulheres
16. No Brasil, o valor máximo em 2004 era de R$ 2.508,72. Em 2005, R$ 2.668,15 e, em 2006, R$ 2.801,56.
Chile:
z No Chile, o cônjuge sobrevivente sem crianças receberá uma pensão mensal
equivalente a 60% do valor da aposentadoria do instituidor; 80% para cônjuge
com até dois órfãos de 18 anos (24 anos se estudante, e sem limite de idade se
incapaz para o trabalho) e adicional de 15% para cada filho adicional na mesma
condição. Não há limite máximo de valor de pensão.
Costa Rica:
z Na Costa Rica, o valor da pensão varia com a idade da viúva: 50% do valor
se tiver menos de 50 anos; 60% se mais de 50 anos e menos de 60 anos, e 70% se
60 anos ou mais (ou não capaz para o trabalho). Pais, irmãos e irmãs dependentes
do instituidor podem receber 20% do valor da aposentadoria (cada), dependentes
com mais de 55 anos recebem 60% do valor da aposentadoria (cada).
México:
z No México, as viúvas legais ou não-legais estão habilitadas ao benefício de
pensão, sendo que as segundas, recebem somente se comprovado o vínculo e desde
que estejam com união comprovada há pelo menos cinco anos. As viúvas sem
filhos receberão a pensão por seis meses apenas e em montante equivalente a 90%
do benefício do segurado. Se tiver filhos, a mulher receberá 50% do benefício e
adicionais de 20% por filho menor de 16 anos (ou de 25 se estudante) até o limite
de 90%. No caso de contrair novas núpcias, recebe um pagamento único equiva-
lente a três anos de benefício (isso se aplica somente a sua parte).
Estados Unidos:
São beneficiárias de pensão por morte as viúvas (ou divorciadas se o casa-
mento durou pelo menos 10 anos), órfãos com menos de 18 anos ou com idade
entre 18 e 19 anos se estudantes em tempo integral, mãe e pai dependentes do
instituidor com 62 anos ou mais e com pelo menos 50% de dependência. O valor
da pensão é de 75% do valor segurado (que depende de certas circunstâncias,
como idade do instituidor) para as viúvas, as esposas divorciadas com crianças
com menos de 16 anos ou não aptas ao trabalho. A pensão não é paga às viúvas ou
esposas divorciadas com menos de 50 anos. A pensão cessa se a viúva ou esposa
divorciada contrai novo matrimônio antes dos 60 anos.
2.1.3 Ásia
O critério de seleção de países asiáticos é certamente o mais arbitrário, seja porque
há pouca informação sobre seus sistemas de previdência, seja porque há muitos
2.1.4 Síntese
Agora que estão listadas as condições de acesso e de cessação do benefício, assim
como seus valores, parece evidente que, dos países analisados, o Brasil é o que
possui condições de acesso menos restritivas ao benefício de pensão por morte:
não possui idade mínima de acesso do cônjuge, não possui carência contributiva,
permite o acúmulo de benefícios com renda de trabalho, não exige período mínimo
de coabitação nem casamento, e oferece 100% do valor segurado (aposentadoria
ou renda do trabalho) e não prevê extinção do benefício, exceto com a morte da
viúva (ou do viúvo). Uma evidência interessante é que, quanto mais rico é o país,
mais restrito é o acesso ao benefício, seja por meio de limite de idade ou por
condição de existência de criança dependente, ainda que isso esteja mudando com
as reformas que estão sendo progressivamente implementadas. No Brasil, 52% da
despesa com pensão por morte se dão com pensionistas que moram com filhos
com mais de 18 anos e 33% com pensionistas que não moram com os filhos
(tabela 5). Logo, 85% do gasto desse benefício são com pensionistas que não
possuem dependentes ou dependentes menores de idade, o que seria uma insensa-
tez se utilizássemos praticamente qualquer critério listado entre os vários existentes
no mundo.
TABELA 5
Brasil: quantidade de pensionistas e valor da despesa segundo idade da pensionista e
presença de criança morando no domicílio – 2004
TABELA 6
Quantidade de benefícios e despesa com o benefício de pensão por morte no Brasil
segundo os critérios de concessão dos países da Europa – 2004
Finlândia Viúva com menos de 65 anos e com filhos de até 18 anos 796.990 15 374.379 13
Portugal Viúva sem limite de idade, 60% do valor 5.271.838 100 2.040.949 73
35% do que gastamos hoje com pensão por morte. A terceira maior economia
seria feita se aplicássemos os critérios utilizados na Rússia, que limitaria o acesso
às pensionistas com 55 anos ou mais de idade, desde que não trabalhem ou não
tenham qualquer outra renda (redução de 58% no número de pensionistas) e
gastaria apenas 46% do valor atualmente gasto.
Para não prolongar mais, passemos aos resultados das simulações na tabela 6,
em que estão os resultados das simulações realizadas.
Se utilizássemos as condições do Canadá (viúvas entre 60 e 64 anos e 37,5%
do valor), gastaríamos somente 7% do que se gasta hoje com a pensão por morte,
apenas R$ 201,683 milhões por mês. Já a simulação com as condições dos Estados
Unidos, que é de viúvas com crianças, teríamos somente 11% da despesa atual
com pensão por morte concentrada em apenas 15% das atuais beneficiárias. Entre
os países selecionados da tabela 7, o terceiro critério seria o do Japão, que concede
pensão por morte a viúvas com crianças e paga 100% do valor. Nesse caso, teríamos
uma despesa de 15% dos débitos atuais.
Comparando a simulação dos países europeus (tabela 6) com as dos outros
países (tabela 7), observa-se que as condições de acesso à pensão por morte dos
países americanos em geral e do Japão produziriam a menor despesa com o benefício
de pensão por morte. Comparado com países europeus, americanos ou asiáticos,
nosso sistema é muito destoante até entre seus vizinhos.
TABELA 7
Quantidade de benefícios e despesa com o benefício de pensão por morte no Brasil
segundo os critérios de concessão dos países de América e Ásia – 2004
Chile Viúva sem crianças, 60%. Viúva com crianças, 80% 5.271.838 100 2.255.735 81
Índia Viúva sem critério de idade, 60% do valor 5.271.838 100 2.040.949 73
a
Hong Kong Valor pago de uma única vez segundo idade da
viúva e existência de filhos. 5.271.838 100 2.292.104 82
Fonte: IBGE/Pnad de 2004. Tabulação do autor.
a
O caso de Hong Kong é único, assim como o pagamento do benefício, que é feito uma única vez. Os cálculos aqui feitos são uma
aproximação, dada a regra que depende da idade no momento da morte. O PIB per capita brasileiro é de aproximadamente US$ 7.200. A uma taxa de
câmbio de R$ 2 por dólar isso equivale a R$ 14.400. Ora, se o pagamento é feito uma única vez com os parâmetros de 3,90 vezes o PIB per capita até 9,11
vezes, isso significa que o benefício seria algo entre R$ 52.236 e R$ 131.218. Supondo-se um benefício pago em 390 prestações (30 anos de benefícios), o
benefício mensal seria algo entre R$ 134 e R$ 336, equivalente a uma renda mínima mensal. Isso seria equivalente a rebaixar todas as pensões com
valores acima de R$ 400 a esse piso.
2.3.1 Europa
Bélgica:
z A aposentadoria exige idade mínima de 60 anos com 35 anos de contri-
buição para homens e mulheres. A expectativa de vida é de 76 anos para homens
e 83 anos para as mulheres.
França:
z A aposentadoria só pode ser concedida à idade mínima de 60 anos de
idade, sem diferenciar por sexo, e 37,5 trimestres de contribuição. É exigida a
saída do emprego no qual foi requerida a aposentadoria.
Alemanha:
zJá as condições de elegibilidade às aposentadorias também são relacionadas
à idade mínima de 60 anos. O tempo de contribuição mínimo é que varia de
acordo com o sexo do segurado: para homens são exigidos 15 anos de contribuição
e para as mulheres o tempo de contribuição pode reduzir-se para 10 anos, depen-
dendo das condições.
Itália:
z Possui 20% de sua população com 65 anos ou mais. Possui regras de
transição após a reforma dos anos 1990. A regra de transição não exige idade
mínima, mas na regra permanente é exigida a idade mínima de 57 anos.
Suécia:
z País com 17% da população com 65 anos ou mais de idade, exige como
idade mínima para aposentadoria 61 anos, sem diferenciar por sexo.
Reino Unido:
z Não existe aposentadoria programada. A aposentadoria que existe é do
tipo basic state retirement pension flat-rate e requer contribuições pagas ou creditadas
referentes a 90% dos anos de trabalho (geralmente 44 anos para homens e mulheres).
A idade para acesso a esse benefício é 65 anos para homens e 60 para mulheres,
aumentando gradualmente para 65 anos de 2010 até 2020.
2.3.2 Américas
Estados Unidos:
z País com expectativa de vida de 75 anos para homens e 80 anos para
mulheres, possui idade mínima de 62 anos para concessão de aposentadoria, sem
diferenciação por sexo. São exigidos dez anos de contribuição e é permitido ao
aposentado permanecer no mercado de trabalho.
Canadá:
z Possui idade mínima de 60 anos de idade, sem diferenciar por sexo. Não
exige tempo mínimo de contribuição. É o país da América com maior expectativa
de vida de sua população: 78 anos para homens e 83 para mulheres.
Chile:
z É exigida uma idade mínima de 65 anos para homens e 60 para mulher,
com dez anos de contribuição. É possível reduzir as exigências, dependendo do
montante acumulado. A continuação do aposentado no mercado de trabalho de-
pende de sua ocupação.
México:
z Não tem diferenciação por sexo para a idade mínima de se aposentar:
todos se aposentam aos 64 anos. À semelhança dos japoneses, os trabalhadores
postergam a aposentadoria. O tempo de contribuição e serviço exigido é de pelo
menos 30 anos, para homens e mulheres.
Argentina:
z Assim como o Brasil, possui diferenciação por sexo para a idade mínima
de se aposentar: 60 anos para homens e 55 anos para mulheres. Porém, as idades
aumentarão para 65 e 60 nos próximos anos. O tempo de contribuição e serviço
exigido é de pelo menos 30 anos, para homens e mulheres. Já possuía 10,2% de
sua população com 65 anos ou mais (SSA, 2005).
2.3.3 Ásia
Japão:
z A pensão programada é paga entre as idades de 60 e 64 anos. Não há
diferenças de idade mínima entre os sexos. Não é exigido que o aposentado deixe
o emprego. No Japão cerca de 17% da população possui 65 anos ou mais e a
expectativa de vida é de 78 anos para homens e 85 anos para mulheres.
China:
z A idade mínima para aposentadoria programada é de 50 anos para homens
e 45 anos para as mulheres, com 10 anos de cobertura.
2.3.4 Síntese
Dos países analisados, o Brasil é o que possui regras menos restritivas para a con-
cessão de aposentadorias programadas: não existe limite mínimo de idade e são
necessários 35 anos de contribuição para homens e 30 para as mulheres. Nos
países analisados, todos definiram limite mínimo de idade e a maioria não dife-
renciou por sexo.
As mulheres representam 46% dos beneficiários de aposentadorias do Instituto
de Previdência ou do governo federal com uma despesa de 36% desse benefício.
Essa diferença relativa é observada principalmente entre as idades de 50 a 59 anos,
para homens e mulheres (tabela 8).
A seguir, como fizemos no caso anterior, apresentaremos as condições de
acesso às aposentadorias programadas em outros países simulando-as no Brasil,
segundo o critério de idade mínima.
TABELA 8
Brasil: quantidade de benefícios e despesa com o benefício de aposentadoria – 2004
Quantidade Despesa/mês
Sexo e faixa etária
Total % Valor (R$ mil) %
Total 15.327.835 100 9.845.295 100
Masculino 8.231.864 54 6.340.581 64
Feminino 7.095.971 46 3.504.714 36
Homens 8.231.864 100 6.340.581 100
Até 49 anos 611.886 7 419.462 7
50-59 1.577.303 19 1.683.614 27
60-64 1.412.252 17 1.076.288 17
65 ou + 4.629.953 56 3.160.183 50
Sem declaração de idade 470 0 1.034 0
Mulheres 7.095.971 100 3.504.714 100
Até 44 anos 137.536 2 59.330 2
45-49 199.275 3 143.882 4
50-59 1.438.927 20 1.036.037 30
60-64 1.285.546 18 650.099 19
65 ou + 4.033.368 57 1.615.023 46
Sem declaração de idade 1.319 0 343 0
Fonte: IBGE/Pnad de 2004. Tabulação do autor.
TABELA 9
Quantidade de benefícios e despesa com o benefício de aposentadoria no Brasil segundo
os critérios de concessão dos outros países – 2004
Benefícios Despesas
Países Idade mínima Quantidade % do Valor % do
total total
objetivo é verificar quão redistributivo seria nosso sistema, caso fossem adotados
critérios gerais utilizados na grande maioria dos países. É o que será visto a seguir.
18. Para uma excelente exposição sobre índices de desigualdade, ver Ramos (1990) e Barros e Ramos (1991).
GRÁFICO 2
Grau de desigualdade de renda em vários países: índice de Gini
África do Sul
Malavi
Brasil
Guatemala
Chile
Panamá
Quênia
Venezuela
Colômbia
México
Costa Rica
Hong Kong
Peru
Bolívia
Austrália
Uganda
Nova Zelândia
Marrocos
Costa do Marfim
Estados Unidos
China
Portugal
Japão
Dinamarca
Polônia
Suécia
Itália
Índia
Iugoslávia
Sri Lanka
Holanda
Canadá
Bélgica
Espanha
Ucrânia
Eslováquia
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
GRÁFICO 3
Razão entre a renda dos 10% mais ricos e a dos 40% mais pobres
Brasil
Panamá
Peru
Botsuana
Quênia
Costa do Marfim
México
Colômbia
Nepal
Turquia
Costa Rica
Fiji
Filipinas
Argentina
Portugal
Índia
Austrália
Hong Kong
Nova Zelândia
Itália
França
Canadá
Estados Unidos
Dinamarca
Reino Unido
Espanha
Irlanda
Noruega
Finlândia
Suíça
Alemanha
Japão
Hungria
Bélgica
Holanda
0 5 10 15 20 25 30
TABELA 10
Linhas de pobreza regionais – 2004
Regiões Linhas de pobreza (R$ de 2004)
Norte
Belém– região metropolitana (RM) 157,56
Norte – área urbana 162,92
Norte – área rural 142,55
Nordeste
Fortaleza – RM 140,41
Recife – RM 184,35
Salvador – RM 173,63
Nordeste – área urbana 158,63
Nordeste – área rural 141,48
Sudeste
Rio de Janeiro – RM 176,85
Rio de Janeiro – área urbana 150,05
Rio de Janeiro – área rural 135,05
São Paulo – RM 177,92
São Paulo – área urbana 157,56
São Paulo – área rural 128,62
Belo Horizonte – RM 138,26
Sudeste – área urbana 124,33
Sudeste – área rural 106,11
Sul
Paraná – RM 197,21
Curitiba – RM 162,92
Sul – área urbana 155,41
Sul – área rural 141,48
Centro-Oeste
Distrito Federal –- RM 153,27
Centro-Oeste – área urbana 131,83
Centro-Oeste – área rural 115,76
Fonte: Ipea/Dimac.
São considerados como pobres todos os indivíduos que possuem renda familiar
per capita inferior à linha de pobreza (L). As informações disponíveis na Pnad de 2004
revelam que naquele ano 37% da população brasileira vivia em famílias com renda
inferior à linha de pobreza, totalizando 66 milhões de brasileiros. Apesar de reduções
espasmódicas ao longo do tempo, lamentavelmente a proporção de pobres tem se
mantido constante, oscilando entre 30% e 40%, exceto nos anos de 1986 (Plano
Cruzado) e em 1994 (implementação do Plano Real), como mostra o gráfico 4.
Aspecto especialmente relevante para nosso trabalho é a distribuição de pobreza
entre os grupos etários. Como discutimos ao longo deste trabalho, sistemas de
repartição, como é o caso do sistema brasileiro, transferem renda líquida para os
grupos mais velhos da sociedade, com efeitos negativos sobre a transferência de
renda para os mais jovens. De fato, a incidência de pobreza é muito maior entre os
jovens do que entre adultos, e especialmente entre idosos. Observe-se no gráfico 5
GRÁFICO 4
Brasil: evolução do percentual de pobres
60
50
40
30
20
10
0
82
93
84
96
83
95
85
97
78
89
02
86
87
98
99
77
79
81
88
90
92
01
03
04
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
GRÁFICO 5
Brasil: percentual de pobres por idade – 2004
(Em %)
70,0
0,5727
60,0
0,5335
50,0
0,4177
40,0
0,3282 0,2996
30,0
0,25156 0,2302
20,0
0,1310
10,0
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
Idade
Fonte: Pnad de 2004. Tabulação do autor.
que, em 2004, entre as crianças de até 13 anos, mais de 50% são pobres; entre os 18
e os 40 anos a incidência de pobreza é de 30%, mas, a partir dos 60, é inferior a 20%.
A idéia de um pacto de solidariedade geracional não se sustenta diante desse
quadro, até porque, ao contrário do que se alega com certa freqüência, a renda
recebida pelos idosos não é transferida para os mais jovens, filhos e netos desses idosos.
Se assim o fosse, não haveria essa desproporção de pobreza segundo a idade.
Quando tratamos de pobreza, é inexorável que surja o conceito de hiato
médio de renda.19 Trata-se de uma medida da proporção da renda que precisaria
ser redistribuída entre os pobres para que todos ficassem com a mesma renda,
equivalente à que os tirasse da pobreza. É calculado a partir da seguinte fórmula:
α
1 L − Wi
P (α) = ∑
n Wi <L L
19. A classe de indicadores de intensidade de pobreza é conhecida como indicadores de Foster-Greer-Throbecke. Sua expressão geral é
dada por:
α
1 L − Wi
P (α) = ∑
n W <L L
i
onde:
L é uma linha de pobreza e n é o tamanho da população de um dado grupo socioeconômico;
Wi é a renda da i-ésima pessoa;
α = 0,1,2 e indica, respectivamente, o tipo de medida de pobreza, P0, P1 ou P2.
P0 é a proporção de pessoas pobres;
P1 é o hiato médio de renda; e
P2 é o hiato quadrático médio de renda, uma medida mais sensível a valores extremos do que o hiato médio de renda.
GRÁFICO 6
Brasil: evolução do hiato quadrático médio de renda dos pobres
(Em %)
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
77 78 79 81 82 83 84 85 86 87 988 989 990 992 993 995 996 997 998 999 001 002 003 004
19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2
GRÁFICO 7
Brasil: hiato médio de renda por idade, dentre os pobres – 2004
(Em %)
60
0,4773
50
0,4168
40
0,3657 0,2573
30
20
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
Idade da população
Fonte: Pnad de 2004. Tabulação do autor.
médio P1, por idade. É bastante evidente que o hiato de renda entre crianças e
jovens é quase o dobro do hiato entre idosos. Esse resultado, combinado com as
informações do gráfico 5, indica claramente que a pobreza entre crianças e jovens
não apenas é mais freqüente, como também é mais aguda, mais intensa.
TABELA 11
Renda média per capita de diversos segmentos segundo decis de renda
(Em R$)
muito maior no último decil de renda do que nos outros decis: cerca de 15% dos
domicílios mais ricos possuem aposentados com esse valor de benefício conforme
apresentado no gráfico 8.
Também no caso das pensionistas há muita semelhança. No grupo das que
vivem em domicílios nos quais estão os 10% mais ricos, destacam-se as pensões
de mais de 5 até 10 SMs (26%), e as pensões de mais de 10 SMs (gráfico 9). São
cerca de 87 mil viúvas do último decil de rendimento domiciliar per capita e com
benefício de pensão de mais de 10 SMs e, entre elas, 42% vivem em domicílios
sem os filhos, 37% vivem em domicílios com um filho com mais de 18 anos, e
11% vivem com mais de um filho maior de idade no mesmo domicílio. Resumindo:
entre as viúvas do último decil de rendimento com mais de 10 SMs de pensão,
apenas 10% possuem como dependentes filhos com menos de 18 anos. Vimos na
seção anterior deste artigo que a presença de crianças dependentes é uma das
condições de acesso ao benefício de pensão por morte em muitos países.
Vamos verificar se é possível, gastando o mesmo montante de dinheiro,
melhorar as condições de vida da população como um todo, simplesmente através
da implementação de regras previdenciárias que reduzam o caráter concentrador
de nosso sistema. Para tanto, vamos supor que todas as pessoas que recebem apo-
sentadoria continuarão a receber seu benefício, porém, com uma redução do seu
GRÁFICO 8
Rendimento de aposentadoria segundo os decis de rendimento
domiciliar per capita
(Decis)
14 8 9 29 26 15
10º
37 15 14 24 10 1
9º
51 20 11 15 3
8º
63 19 11 7 1
7º
87 8 2 2
6º
83 11 4 2
5º
89 8 2
4º
88 10 2
3º
95 4
2º
97 2 1
1º
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
GRÁFICO 9
Rendimento de pensão segundo os decis de rendimento domiciliar per capita
(Decis)
19 14 10 26 20 12
10º 8
48 22 13 13 4
9º
58 26 8 8 1
8º 29
64 25 7 4
7º 29
85 11 2 2
6º
77 18 4 1
5º
84 13 2
4º
85 13 1
3º
94 6
2º
94 6
1º
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
TABELA 12
Brasil: carência de renda segundo os valores – 2004
GRÁFICO 10
Brasil: carência de renda segundo a idade – 2004
(Em R$ )
50 10 15 12 8 4 11
Mais de 100 até 200
44 10 15 13 9 5 12
35 11 17 14 10 8 2 4
Até 50
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Em % 0-15 16-20 21-30 31-40
Nordeste seria muito maior: cairia de 62,7% para 51,7% o número de pobres, e
na região Norte o número também cairia de 51,9% para 45,9%. A redução de
pobreza entre os mais jovens é grande: a pobreza se reduz em 10% para as pessoas
de até seis anos de idade (gráfico 11).
Visto o impacto sobre pobreza, o que dizer quanto à desigualdade de renda?
A razão de renda média entre os 20+ e 20– reduziu de 21,9 para 18,9 e a de 10+/
40– de 19,5 para 17,9. A renda apropriada pelos 20% mais pobres aumentou
15% com a simulação. O grupo formado pelo 4º quintil de renda per capita,
como previsto de acordo com os critérios adotados, foi o que mais perdeu com a
transferência dos benefícios simulada neste trabalho, mas, ainda assim, sua perda
é diminuta ante os ganhos de redução de pobreza e desigualdade: apenas 2% da
renda apropriada.
GRÁFICO 11
Brasil: percentual de pobres por idade antes e após redistribuição
e redução da pobreza – 2004
1,0
0,9
0,8 Redução da pobreza
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0,0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 75 78
Idade
Fonte: Pnad de 2004. Distribuição original Nova distribuição
14,5
1º 2º 3º 4º 5º
Quintil de renda domiciliar per capita
20. Uma terceira vertente procura associar a redução de desigualdade decorrente da previdência social com ganhos de crescimento
econômico. Silva e Pires (2006, p. 19) afirmam que: “Em que medida essa expansão (dos gastos) é maléfica ao crescimento econômico?
Imaginamos que a resposta a essa pergunta não é tão simples como propalado entre esses especialistas, porém, alguns insights podem
ser obtidos. Por exemplo: existem evidências empíricas que relacionam menor desigualdade de renda a maior taxa de crescimento
econômico.” Obviamente que também nesse caso a pergunta é: existe alguma ferramenta que permita o mesmo ganho em termos de
distribuição de renda a um custo menor? E a resposta é sim, existe.
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
ido
lia
a
dia
ia
ico
a
ia
ca
rca
ia
ia
á
nç
áli
nh
nd
eg
d
r
str
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Itá
lgi
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ma
Fra
str
ru
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Irla
Gr
Su
Áu
Bé
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22. Para que o leitor tenha uma idéia da potência dessa média, a redução do grau de pobreza a ela associada é 60% da obtida durante
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Paulo Tafner*
Fabio Giambiagi**
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos capítulos deste livro, nossa intenção foi apontar uma série de pro-
blemas existentes no sistema de previdência social brasileiro. Assim como outras
importantes instituições sociais, a previdência não deve ser desprezada ou negli-
genciada, se buscamos uma sociedade justa e desenvolvida. Nesse sentido, refletir
sobre questões da previdência não se resume apenas a tentar resolver, através do
debate público, as equações que envolvem receitas e despesas previdenciárias, mas,
principalmente, incluir nesse debate a idéia de que ela é um pilar significativo de
nossa estrutura social, uma vez que mantém uma relação de interdependência
com outras instituições de nossa sociedade.
Procuramos demonstrar diversos fatores que atuam sobre o sistema de previ-
dência e, em conjunto, determinam seu desempenho. Alguns desses fatores, é
preciso lembrar, atuam de forma direta; e outros, de maneira indireta. Entretanto,
podemos afirmar que, assim como a previdência é afetada por tais fatores, ela
também afeta de maneira importante outros setores sociais e, nesse sentido, podemos
sugerir que ela é, de fato, co-autora nos processos de mudança social.
O debate de tais idéias foi a motivação principal para a orientação deste
trabalho e esperamos que esse papel tenha sido cumprido ao longo destas páginas
de forma clara e cuidadosa. Neste capítulo, o objetivo se volta para a discussão e
proposição de idéias acerca das alternativas que poderiam solucionar ou, pelo
menos, amenizar de forma mais perene os problemas apontados.
2 AS PROPOSTAS
Embora muitas vezes se fale, em discurso, sobre “reforma da previdência social”,
precisamos saber que há, a rigor, dois conjuntos de medidas que conceitualmente
devem ser distinguidas. A primeira diz respeito às regras de reajuste do piso
previdenciário e a segunda à mudança das regras de acesso a benefícios – e entre
eles, especificamente, a aposentadoria.
Em relação à regra de correção, sugere-se que o governo envie, em 2007,
uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) ao Congresso, definindo que
todas as aposentadorias e pensões (sem exceção) serão reajustadas uma vez por ano
em função de um índice de preços a ser definido em lei, que deveria ser o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).1 A Constituição de 1988 estabeleceu no artigo 201 que “é
assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter perma-
nente, o valor real, conforme critérios definidos em lei”. Na prática, porém, certa
ambigüidade da redação permite aumentos reais, como aconteceu em 2006, quando
os benefícios acima do salário mínimo tiveram aumento real de 2%. Portanto, de
nada serviria a pura e simples desvinculação do salário mínimo em relação ao piso
previdenciário, pois nesse caso a pressão por aumentos se deslocaria do piso para
o conjunto de todas as aposentadorias. Considerando a pressão demográfica ine-
vitável, que per se tenderá a pressionar o montante das despesas previdenciárias, e
a necessidade de impedir que isso eleve ainda mais a relação entre essas despesas e
o Produto Interno Bruto (PIB), a solução estrutural para estancar as pressões
observadas até agora é definir na Constituição a vedação a aumentos reais dos
benefícios, desde que preservado, naturalmente, o seu poder aquisitivo. Este, por-
tanto, não poderia diminuir, mas também não poderia aumentar.
1. Ou algum outro índice similar, de modo a melhor refletir a evolução do custo de vida desse segmento social.
2. A proposta aqui formulada é anterior à criação do Fórum Nacional de Previdência Social. As regras de reajustamento e de fixação do
valor do salário mínimo e do teto da previdência social podem ser utilizadas a qualquer tempo. Por isso, preferimos manter seus valores
originais. A proposta admite que, da mesma forma que o reajuste do salário mínimo foi antecipado de maio para abril em 2006, ele possa
ser novamente antecipado para janeiro em 2008.
Parágrafo Único - Nos casos de benefícios já concedidos até a data de promulgação da presente
Emenda, a referida garantia será igual a 100% de um benefício previdenciário básico.
Esta Emenda entra em vigor na data de sua publicação.
idade, dos atuais 5 anos para 4 anos em 2010, quando seria fixada em 61 anos
para as mulheres, com elevação progressiva da idade requerida, para 62 anos em
2015 e 63 anos em 2020 (contra 65 anos dos homens); iii) diminuição da diferença
de tempo de contribuição (de 35 anos para os homens), elevando o feminino dos
atuais 30 anos para 31 em 2010 e aumentando o parâmetro em 1 ano a cada 3
anos, até atingir 35 anos em 2022, quando se igualaria à exigência feita aos ho-
mens; iv) extinção gradual do bônus de 5 anos para efeitos da contagem de tempo
de contribuição na fórmula do fator previdenciário, em 1 ano a cada 3 anos a
partir de 2010 (inclusive) até a diferença com os homens ser “zerada” em 2022;
e) aumento do período contributivo exigido de quem se aposenta por idade,
do nível de 15 anos previsto para 2011, mantendo a regra atual de elevação em 6
meses por ano, até 25 anos em 2031, sendo de 35 anos para os novos entrantes;
f) fim do regime especial dos professores, mediante uma regra de phasing out
que reduza a diferença atual de 5 anos para 4 em 2010, com diminuições posteriores
de 1 ano a cada 3 anos até 2022, valendo a mesma lógica que em (iv) do item (d)
para a redução do bônus na contagem do tempo contributivo na fórmula do fator
previdenciário; e
g) fim do regime especial dos benefícios rurais, com redução da diferença de
idade requerida vis-à-vis os trabalhadores urbanos, dos atuais 5 anos para 4 em
2010, e posterior diminuição em 1 ano a cada 3 anos até 2022.
h) Aplicação dos mesmos limites de idade e demais condições de carência e
do mesmo calendário de implementação dos contribuintes do Regime Geral de
Previdência Social (RGPS) a todos os servidores públicos ativos e entrantes a partir
da data de entrada em vigor da proposta, de todas as esferas e níveis do governo,
civis e militares.
i) Fixação de pensão para viúvo(a) equivalente a 80% do valor do benefício
integral, vedada a acumulação de benefícios previdenciários. Na ocorrência de
filhos de até 21 anos e até 24 anos se estudante universitário, um adicional de
10% por filho até o limite de 100% do benefício. Essa regra seria aplicada somente
às novas pensões concedidas, preservados os direitos de atuais pensionistas.
valer mais que o assistencial, para fazer jus ao esforço feito e estabelecer uma
hierarquia de incentivos adequada; e por outro, restabelecer o dispositivo original
da Loas. Por ele, a concessão do benefício assistencial era dada, justamente, aos 70
anos. Esse parâmetro constava no artigo 20 da Loas (Lei 8.742 de 7 de dezembro
de 1993) e foi posteriormente modificado mediante nova redação da lei original,
com diminuição para 67 anos no artigo 38 da Lei 9.720 de 30 de novembro de
1998; e nova redução, agora para 65 anos, mediante o artigo 34 do Estatuto do
Idoso (Lei 10.741 de 1º de outubro de 2003). O que se propõe, portanto, é voltar
aos 70 anos da Lei 8.742/93. Ou seja, o propósito é apenas retornar em 2022 –
quase 30 anos depois – à situação vigente em 1993.
Em relação às demais propostas específicas, a justificativa para cada uma das
medidas é muito clara. A definição de uma idade mínima, bem como o seu aumento
progressivo e a adoção de uma norma rígida de tempo contributivo para os novos
entrantes, relaciona-se com a precocidade das aposentadorias por tempo de con-
tribuição, claramente visível em diversos dados apresentados ao longo do livro.
Da mesma forma, a redução da diferença de requisito de elegibilidade entre
homens e mulheres se insere no mesmo contexto, agravado pela perspectiva de
que o número de mulheres idosas venha a aumentar a taxas superiores às previstas
para os homens.
A extensão do período contributivo para quem se aposenta por idade se
destina a aproximar a legislação brasileira dos parâmetros internacionais, uma vez
que, na maioria dos países, é preciso ter contribuído por 20 ou 30 anos para fazer
jus à aposentadoria.
A eliminação da diferença em favor dos professores, além do fato de não
haver razões para a existência desse favorecimento, busca solucionar um sério
problema presente nas alçadas estadual e municipal. Ele é representado pela
possibilidade de as professoras poderem se aposentar em idades particularmente
precoces, com apenas 25 anos de contribuição, algo que, do ponto de vista atuarial,
é extremamente oneroso para os cofres públicos locais.
A medida proposta em relação aos benefícios rurais, para que a aposentadoria
por idade destes se processe à mesma idade que a das demais pessoas, de 65 anos
para os homens e 60 para as mulheres, é significativa. Cabe lembrar que aproxi-
madamente 35% dos benefícios não-assistenciais do INSS em manutenção são
rurais. Se a regra de benefício for alterada e o ritmo de concessões diminuir pelas
aproximações sucessivas que seriam feitas com as regras de quem vive no meio
urbano, o estoque de aposentados e pensionistas rurais aumentaria a taxas muito
menores que nos últimos 10 a 20 anos, facilitando a redução do peso das despesas
do INSS em relação ao PIB. Por outro lado, do ponto de vista conceitual, seria
válido eliminar a diferenciação porque os trabalhadores do meio rural: a) já são
beneficiados pelo fato de as suas contribuições serem feitas em bases muito mais
condescendentes que as dos trabalhadores urbanos; e b) em muitos casos têm
acesso a meios de sobrevivência ligados à sua própria condição de existência em
um meio que lhes permite a produção para autoconsumo.
No que diz respeito às pensões, além de ser o segundo principal benefício
previdenciário em termos de montantes gastos, é de se destacar o fato de que
inexiste no sistema previdenciário brasileiro qualquer condição restritiva de qua-
lificação para o recebimento do benefício de pensão por morte:
a) não se exige idade mínima do cônjuge;
b) não se exige casamento nem dependência econômica;
c) não requer carência contributiva; e ainda
d) permite o acúmulo integral do benefício com aposentadoria e com renda
de trabalho.
e) Além disso, a pensão é vitalícia.
Essa ausência de condicionalidades no caso brasileiro chama atenção pela
excessiva proteção dada à mulher – normalmente a beneficiária desse tipo de renda.
Como visto no capítulo 11, entre 20 países analisados, 8 vinculam o valor do
benefício à existência de crianças e jovens; 9 fazem restrições à idade da mulher e
16 fazem restrição ao valor do benefício. O único que não conta com nenhuma
das três restrições é o Brasil. Em poucas palavras: entre nós, não se limita idade,
não há redução do valor do benefício e não se vincula seu valor à existência de prole
e, curiosamente, não se impede acúmulo de benefício nem que o pensionista trabalhe.
Para que as propostas de reforma sejam válidas, elas devem se pautar por três
princípios:
a) devem ter um prazo de carência, pois a aprovação da mudança deve pre-
ceder em alguns anos a sua implementação efetiva, de modo a dar tempo às pessoas
de se adequarem às novas regras, minimizando as resistências daqueles que estiverem
na iminência de se aposentar de acordo com as regras atuais;
b) devem se pautar pelo gradualismo, porque, em se tratando de questões
que envolvem gerações, é natural que as mudanças sejam lentas, e também para
facilitar as chances de aprovação das medidas, visando a uma transição suave; e
c) devem ser mais rígidas para os novos entrantes, uma vez que estes serão
afetados pelas condições vigentes daqui a 30 ou 40 anos – demograficamente
muito diferentes das atuais – e também porque, na realidade, não devem ser um
empecilho, em termos políticos, para a aprovação da reforma.
Resta por último, agora, completar o tratamento destes temas com uma dis-
cussão acerca da viabilidade política das propostas.
É conhecido na literatura que trata de mudanças de status quo que minorias
com preferências fortes podem obstruir maiorias com fraca e dispersa preferência.
Também é reconhecido pela literatura que ajustes institucionais que proponham
imposição de custos específicos e presentes e produzam benefícios difusos e futuros
são na maioria das vezes abandonados, reunindo contra si todos quantos tenham
qualquer mínima perda, sem ganhar apoio de todos quantos sejam seus potenciais
beneficiários. Ademais desse fato, mudanças legais que envolvam trade-offs entre
elementos de gerações diferentes tendem a produzir resultados assimétricos, de
modo a distribuir os custos mais pesadamente sobre as gerações futuras e, simetri-
camente, concentrar benefícios nas gerações atuais.
Mudanças nos regimes de previdência reúnem essas duas “virtudes”. Significa
isso que estamos fadados ao imobilismo e condenados a reformar a previdência apenas
quando houver impossibilidade material de continuar honrando os compromissos
com aposentados e pensionistas? Certamente, não. O próprio Brasil, por mais
paradoxal que possa parecer, tem dado demonstrações do contrário. Em menos de
uma década, fizemos duas reformas previdenciárias,4 além de corrigir inúmeros
outros “problemas”, como, por exemplo, o histórico descontrole de gastos, com a
aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Também à época dizia-se que a chance
de aprovação da legislação era mínima. Era, mas foi aprovada e, com sua aprovação,
o Brasil ganhou mais qualidade de gestão pública e maior governabilidade.
Esse é o caso da reforma da previdência, que novamente volta à pauta de
reformas necessárias.
É importante que fique claro que sistemas como o nosso, estruturado sob
regime de repartição, funcionam como uma poderosa máquina de transferência e
redistribuição de renda. Como não poderia deixar de ser quando o Estado transfere
renda de uns para outros, há a ocorrência de inexoráveis conflitos distributivos.
Esses conflitos têm pelo menos duas naturezas distintas: a) conflitos
distributivos intrageracionais, ou seja, conflitos entre indivíduos de uma mesma
geração como, por exemplo, entre homens e mulheres, pobres e ricos, indivíduos
mais e menos escolarizados, pessoas saudáveis e pessoas doentes, pessoas que tra-
balham e pessoas que não trabalham, pessoas que poupam e pessoas que não
poupam etc.; e b) conflitos distributivos intergeracionais, aqueles entre jovens e
velhos que disputam entre si os recursos e os custos de transferências. Mais
modernamente, aliás, tem sido corretamente reconhecido que o conflito
intergeracional envolve também indivíduos que ainda não nasceram.
Exatamente porque envolve interesses tão recortados, propostas de reformas
previdenciárias tendem a produzir na sociedade inexoráveis alianças contra mu-
danças, porque cada grupo tende a crer – e sempre haverá algum argumento legítimo
a apresentar – que é o “outro” (grupo ou indivíduo) quem deveria “pagar a conta”.
O resultado é uma imensa maioria contrária à mudança, ainda que cada grupo
isoladamente considere correto que o outro venha a arcar com os custos do ajuste.
A difícil missão do governante é exatamente amalgamar de forma relativa-
mente simples racionalidade e argumentos técnicos de um lado, com paixões,
interesses e sentimentos de outro, de modo a convencer os principais atores sociais
da necessidade de mudanças e de ajustamento do sistema previdenciário.
Já é por demais conhecido o papel central do presidente na agenda política e
de produção legal em países presidencialistas. O Brasil não foge a essa regra. Aliás,
ao contrário. Além de contar com enormes poderes executivos, o presidente dispõe
também de amplo poder legisferante e de determinação da agenda do Congresso
Nacional.
As evidências empíricas mostram que os presidentes brasileiros, indepen-
dentemente de seu viés ideológico e de seu partido de origem, quando conseguem
costruir uma base de apoio parlamentar – o que tem ocorrido em todos os governos
pós-democratização, com a exceção conhecida de Fernando Collor – têm conse-
guido implementar, com restrições óbvias, decorrentes de algum grau de negociação
política, praticamente toda sua agenda de governo, seus projetos e programas
prioritários.
E isso tem sido feito, em geral, com o apoio do Congresso, que tem mostrado
ser um poder bastante permeável quanto às prioridades dos presidentes e sensível às
questões que envolvem estabilidade e que visam melhorar o perfil de distribuição
de ganhos na sociedade.
Há diversos estudos que mostram que a taxa de aprovação das Medidas Pro-
visórias (MPs) é de superlativos 95%;5 mesmo índice alcançado por projetos de
5. Ver, por exemplo, Amorim Neto e Tafner (2002) e Figueiredo e Limongi (1995; 1999; 2000).
lei. Algo semelhante se aplica às ECs, ainda que estas envolvam mais tempo, mais
atenção e mais negociação. Nada, porém, que signifique sérios riscos ou compro-
meta a agenda do presidente.
Há outros estudos6 que mostram também que os parlamentares em geral são
obedientes ao voto dos líderes de seus partidos, sobretudo dentro dos principais
partidos do país e nos temas relevantes para o Executivo. PT, PFL e PSDB têm
elevado grau de obediência partidária e, dos grandes, apenas o PMDB, com suas
históricas divisões internas, apresenta resultado menos expressivo. Em média, con-
sideradas todas as votações do Congresso, aproximadamente oito em cada dez
deputados dos principais partidos votam em obediência à liderança. Na média
dos demais partidos, o número é ligeiramente inferior, havendo, no entanto, casos
de disciplina ainda maior.
Mas se é fato que os presidentes têm conseguido implementar suas agendas
e contado com um Congresso não hostil, é igualmente verdade que esse resultado
somente é obtido quando o presidente e a base aliada, estando fortemente con-
vencidos da necessidade e da prioridade da mudança institucional, mobilizam
capital político na disputa do pleito. Presidente não convencido da importância e
da urgência de uma mudança legal é certeza de derrota ou de postergação no
Congresso. Isso é tão mais verdadeiro quanto menos “popular” for o objeto da
mudança proposta. E esse é o caso de reformas previdenciárias, pois afetam direta
e negativamente – no curto prazo – a vida da maioria dos cidadãos aptos a votar.
Alterações legais que reduzam “direitos” são, por definição, evitadas por par-
lamentares sempre desejosos de não perderem votos e apoio para as eleições futuras.
Aliado a esse desconforto, há evidentemente um número não desprezível de parla-
mentares fortemente ligados a grupos sociais que seriam afetados por uma reforma
previdenciária. Em especial, destacam-se os seguintes segmentos sociais:
a) Acima de todos, os próprios aposentados, que seriam contrários a qualquer
limitação de aumento de seus benefícios. Há que se considerar a taxa de desconto
intertemporal desse segmento social. Por definição é extremamente elevada e, por
conseqüência, também seu radicalismo. Assim, suas ações são guiadas por prefe-
rências fortes.
b) Os trabalhadores que seriam distanciados da obtenção do benefício, além
de, obviamente, terem de contribuir mais, o que lhes reduziria o valor presente do
benefício previdenciário. É bem verdade que a oposição à mudança é
exponencialmente decrescente quanto mais jovem é esse trabalhador. E isso se
6. Ver, entre outros, Nicolau (2000); Figueiredo e Limongi (1995); Amorim Neto e Santos (2001).
deve a duas principais razões: em primeiro lugar porque, quando jovem, a aposen-
tadoria é algo que está por demais distante e seus planos de vida não levam em
consideração ou levam muito pouco em consideração a aposentadoria; em segundo,
porque, por serem jovens, têm tempo para planos alternativos. Isso tem enorme
valor e determina a forte oposição dos segmentos de trabalhadores mais velhos.
Não à toa, trabalhadores mais velhos têm menos restrição a aumentos de alíquotas
do que a aumentos de tempo de contribuição.
c) Em seguida e com forte lobby no Congresso estão os funcionários públicos
civis e militares. Se isoladamente conseguem produzir enormes dificuldades, em
uma ação coletiva na qual possam ter mais espaço de manobra e menos visibilidade
direta, o estrago, em termos de apoio parlamentar a reformas, pode ser grande.
d) Além disso, é sempre bom lembrar, representantes ligados a grupos “poli-
ticamente sensíveis”, como professores e mulheres, por exemplo, podem também
impor forte custo de negociação em um processo de reforma.
Então como, diante de tantas e tamanhas dificuldades, montar uma estratégia
que permita uma tramitação relativamente rápida e com chance de aprovação?
Em primeiro lugar é necessário que a proposta seja tecnicamente defensável.
Esse é certamente o caso da proposta aqui formulada. Ataca dois pontos fundamen-
tais: a regra de reajustamento dos benefícios e os prazos de carência para obtenção
de aposentadoria. Além disso, é necessário que certos princípios sejam respeitados
na proposta, de modo a impedir que preferências fortes sejam construídas por
muitos grupos. Isso significa, por exemplo, diluir os custos ao longo do tempo e
entre diversos segmentos etários, de modo a que cada um perceba que todos estão
pagando um pedaço da conta, contribuindo com parte do custo.
No tocante ao aspecto técnico, dois princípios adotados na proposta aqui
formulada permitem que os agentes tenham tempo para se ajustarem, possibili-
tando que seus planos de vida não sejam dramaticamente afetados por mudanças
institucionais: a) há claramente definido um período de carência – até 2010 – em
que a maior parte das mudanças propostas não entre em vigor. Isso é fundamental,
pois evita uma indesejável “corrida” de aposentadorias, com evidentes efeitos ne-
gativos; e b) há um princípio de gradualismo, ou seja, as mudanças serão espalhadas
no tempo com incrementos progressivos, de modo a permitir que os indivíduos se
ajustem e possam se programar para a aposentadoria.
Em segundo lugar e absolutamente indispensável é que o presidente, dado
seu papel crucial no alinhamento das preferências parlamentares, esteja convencido
da necessidade e da urgência da medida e se envolva diretamente na conquista da
vitória, mobilizando seu capital político para a mudança. Sem essa condição qualquer
proposta de reforma constitucional é letra morta.
Em terceiro lugar, a estratégia de envolvimento parlamentar deve se dar em
alto nível, de modo a discutir com lideranças partidárias a proposta e oferecendo
a elas os elementos que consubstanciam a relevância do tema e a urgência da
implementação. Para tanto, é necessário que os partidos e principais lideranças
estejam convencidos de que a matéria é, de fato, do interesse do presidente.
Em quarto lugar, é fundamental que haja convencimento na base governa-
mental de que os entraves do sistema previdenciário são um verdadeiro obstáculo
ao crescimento do país, com graves conseqüências para o desempenho futuro da
economia brasileira. Parece não haver dúvidas de que a base governamental estava
convencida de que a EC 41, de 2003, que ajustou os sistemas próprios dos servi-
dores públicos, era fundamental para aliviar a pressão fiscal a que o governo do
presidente Lula estaria submetido se continuasse o padrão de aposentadoria que
vinha ocorrendo no setor público. Por isso mesmo, o governo e a base parlamentar
entraram determinados no embate no Congresso.
É, portanto, imprescindível que o governo e a base de sustentação estejam
certos de que a reforma propiciará alívio sobre as perspectivas de crescimento.
Apesar de aparentemente trivial, essa relação de causalidade não apenas não é clara
como tampouco é majoritária dentro do governo. É preciso, dessa forma, que o
presidente abrace a causa e faça dela uma bandeira para o desenvolvimento. Nessa
medida, o papel de pesquisadores e analistas do tema é fundamental, pois ajudam
a esclarecer essa e outras questões ligadas a reformas previdenciárias.
Um último ponto diz respeito à oportunidade de realização da reforma.
Como conseqüência do fato de que as chances de aprovação são diretamente rela-
cionadas à preferência presidencial, por conta de seu papel absolutamente central
em regimes presidencialistas como o nosso, é imperativo que a proposta seja enviada
ao Congresso no primeiro ano do novo mandato presidencial, já que nesse mo-
mento virá impregnada da vontade majoritária do eleitorado brasileiro, o que
conferirá ao presidente o poder máximo da representação popular, poder que se
reduz naturalmente no exercício cotidiano do mandato presidencial.
Por fim, devemos considerar que, das urnas de 2006, emergiu uma Câmara
com elevada taxa de renovação de deputados federais e nova composição partidária.7
São duas as principais constatações dessa nova Câmara:
7. No momento de revisão editorial, mudanças da composição partidária já tinham ocorrido, sem no entanto afetar a distribuição básica
de poder entre partidos.
a) São mais de duas centenas de novos deputados federais, com taxa bruta de
renovação de 47%. Isso significa que praticamente metade da Câmara dos Depu-
tados será composta por estreantes.
b) Se seguir a tradição de nosso presidencialismo de coalizão e conseguir
implementar a coligação partidária envolvendo basicamente os mesmos partidos
que deram sustentação ao primeiro mandato (PT, PP, PTB, PL, PCdoB e amplos
segmentos do PMDB), o presidente contará com maioria sólida, porém não sufi-
ciente para impor, somente com sua força, mudanças constitucionais na Câmara.
O primeiro item mencionado faz com que seja maior a responsabilidade das
lideranças partidárias no Congresso. A essa liderança caberá o relevante papel de
organizar suas bancadas e dela extrair confluências e preferências.
O segundo aspecto implica enorme responsabilidade para as lideranças da
base aliada do governo e especialmente para o líder do governo, além obviamente
da área de articulação política do governo. Será necessário que essas lideranças
estejam atentas, alertas e, sobretudo, dispostas a negociar com segmentos mais
neutros do Congresso.
De toda forma, o aspecto mais importante é que caberá ao presidente e à
base aliada, agora circunstanciados pelo recém-criado Fórum Nacional de Previ-
dência Social, a definição da prioridade no que se refere à questão previdenciária.
Como esta está conectada à agenda do desenvolvimento, podendo liberar recursos
para investimentos públicos, é possível, além de desejável, que a idéia de reforma
da previdência seja abraçada pelo Executivo.
Nesse sentido, o melhor papel de todos os que estudam o tema previdência
é contribuir para o debate e oferecer sugestões e opções factíveis para a correção
das distorções hoje existentes em nosso sistema e que tanto limitam o potencial de
crescimento econômico de nosso país.
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