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The analysis of very different paintings produced at the end of the 19th century leads
the author through the discussion about the origin of the concept of modern art. The
role of critics and the public present in the Salons is emphasized as essential for the
creation of the theory of modernism.
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Essa idéia de uma evolução cujo ápice seria a arte abstrata tornou-se
hegemônica no discurso dos historiadores da arte em meados do século XXiv.
Mas já em 1883, o tema da evolução artística aparece de maneira bastante
dogmática num texto de Jules Laforgue (1860-1887)v. Com idéias muito bem
concatenadas, o crítico enaltece o impressionismo como a mais avançada
tendência artística de seu tempo. Para Laforgue, o impressionismo tem uma
origem fisiológica, pois resulta da evolução do olho humano. “Dotado de uma
sensibilidade de olho fora do comum”, o impressionista teria conseguido
“refazer um olho natural, ver naturalmente e pintar ingenuamente conforme vê”.
De acordo com sua teoria, os novos artistas haviam superado as três ilusões
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Mesmo com fatos comprovados como os que Robert Herbert expôs em seu
estudo, a idéia da espontaneidade do impressionismo ainda sobrevive. Como
são sedutoras as teorias bem estruturadas! Para os que acreditaram no dogma
da instantaneidade da pintura impressionista, retomar o trabalho no ateliê seria
um sacrilégio, um retorno a estágio anterior da evolução artística. As palavras
de Jules Laforgue tiveram tanta força que durante muito tempo ignoramos as
evidências do longo e paciente trabalho de Monet, pintor que entrou para a
história da arte como aquele que nunca abandonou as experiências
impressionistas.
Uma interpretação de Manao Tupapau (Figura 2), sob essa ótica, exaltaria a
independência de Gauguin em relação à pintura européia que o precedera. De
fato, Gauguin foi buscar no Taiti uma liberdade primitiva, uma criação original.
“Será que conseguirei recuperar algum traço daquele passado, tão remoto e
misterioso, já que o presente nada tem de importante a me dizer?”xii –
perguntava-se, mal chegado a Papeete em junho de 1891. No entanto, embora
afirmasse que nada da Europa lhe interessava, seu trabalho dialoga com a
tradição artística na qual se formara.
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Para concluir, recordo uma frase que escrevi no início desse texto: “Paul Jamin
dá a seu público exatamente o que esse deseja”. Ora, não é evidente que
também Gauguin acabou sendo obrigado a satisfazer as fantasias de seu
público? Acredito que a maior ruptura ocorrida no mundo da arte nesse período
foi, justamente, a nova relação entre os artistas e o grande público. O que
irmanou os artistas das mais variadas tendências foi a indelével consciência da
presença do público que buscava diversão nos salões e exposições.
Resta dizer que não pretendo afirmar que a “arte moderna” teorizada pelos
críticos modernistas, não existiu. As teorias modernistas buscaram elucidar as
mudanças radicais dos processos e concepções da arte. De fato, havia uma
demanda por explicações e as teorias foram necessárias. Hoje, porém, não
podemos aceitar ingenuamente essas idéias, pois sabemos que as teorias são
construções posteriores que não dão conta da atuação dos artistas. Não nos
cabe, contudo, acusá-las de falsidade. Ao abordar aspectos importantes das
obras, os teóricos contribuíram para a formação do conceito de arte moderna.
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i - Brennus et sa part de butin integrou a exposição « 1900 : Art at the Crossroads » realizada na Royal
Academy of Arts em Londres, de 16 de janeiro a 3 de abril de 2000, e no Museu Guggenheim em
Nova York, de 18 de maio a 13 de setembro de 2000. Na versão francesa do catálogo (1900: La Belle
Epoque de l’Art. Paris : La Martinière, 2000) a tela é reproduzida à página 91 e é datada de 1893.
ii - O nome “pós-impressionismo” foi utilizado pela primeira vez em 1910, por ocasião da exposição
“Manet e os pós-impressionistas” organizada por Roger Fry em Londres. A esse respeito conferir em
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xix - GAMBONI, Dario. Gênese de uma pintura de Paul Gauguin: manifesto e auto-análise de um pintor.
In: CAVALCANTI (Org.). Arte & Ensaios n.15. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Artes
Visuais/Escola de Belas Artes, UFRJ, 2007, p.156-165.
xx - Carta de Daniel de Monfreid a Gauguin. Saint-Clément, 11 décembre 1902. Manuscrito. Paris,
Bibliothèque centrale des musées nationaux, cota MS 440. http://www.inha.fr/ (acesso em
28.10.2004).
No original em francês :
« Il est à craindre que votre venue ne vienne déranger un travail, une incubation, qui ont lieu dans
l’opinion publique à votre sujet : vous êtes actuellement cet artiste inouï, légendaire, qui, du fond de
l’Océanie, envoie ses oeuvres déconcertantes, inimitables ; oeuvres définitives d’un grand homme
pour ainsi dire disparu du monde. Vos ennemis (et vous en avez bon nombre, comme tous ceux qui
gênent les médiocres) ne disent rien, n’osent vous combattre, n’y pensent pas : vous êtes si loin !...
(...) Bref vous jouissez de l’immunité des grands morts, vous êtes passé dans l’histoire de l’art. – Et
entre temps, le public s’éduque ;(...). Vollard lui-même travaille à cela peu à peu. Il flaire déjà peut-être
votre célébrité incontestée et universelle. Hé bien, laissez ce travail se produire en entier : il n’en est
qu’à son début. Un an, deux ans peut-être, seront nécessaires encore pour qu’il porte quelques fruits.
Attendez patiemment ; les autres travaillent pour vous ! »
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Figura 1: Paul Joseph Jamin – “Brennus e sua parte no saque” Brennus et sa part de butin -
1893 - o s/t 163 x 118cm - Musée des Beaux Arts – La Rochelle
Figura 3: Eliseu D’Angelo Visconti – “No Verão” – 1894 - o s/t – 58,9 x 80,4 cm - Museu
Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro
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