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c) Ao invés de se manter distancia entre o pesquisador e o grupo que vai ser examinado,
tal como se exige nas ciências sociais tradicionais, propõe-se a interação. Isso significa,
para o pesquisador, trabalhar, talvez viver, no grupo escolhido, a fim de elaborar
perspectivas e experimentar ações que perdurem, inclusive depois de terminado o
projeto.
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(1)GAJARDO, Marcela. Pesquisa Participante na America Latina.
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A Pesquisa Ação:
As origens do conceito pesquisa-ação remontam à década dos trinta. Kurt Lewin,
professor alemão que em 1933 teve que abandonar a Universidade de Berlim para
instalar-se nos Estados Unidos da América do Norte, elaborou a pesquisa-ação. Como
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(2) GAJARDO, Marcela. op. tit. p. 47.
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Desde o seu inicio a pesquisa-ação se orientou para a solução dos problemas surgidos
pelo crescimento industrial, modernização e outros. No caso de Lewin, a preocupação
concentrou-se nos problemas da inserção de fabricas em zonas rurais, cuja mão-de-obra
era incapaz de atingir os altos padrões de produção das regiões industriais do Norte dos
EUA. Mas, o seu propósito não era conscientizar os operários com relação à situação de
vida, senão adaptá-los às condições de trabalho das fábricas.
O autor define pesquisa-ação como "...um tipo de pesquisa social com base empírica que
e concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes representativos da
situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participante". Do
ponto de vista cientifico, "a pesquisa-ação e uma proposta metodológica e técnica que
oferece subsídios para organizar a pesquisa social aplicada sem os excessos da postura
convencional ao nível da observação, processamento de dados, experimentação, etc. Com
ela, se introduz uma maior flexibilidade na concepção e na aplicação dos meios de
investigação concreta" (5)
Para Michel Thiollent e outros, características fundamentais da pesquisa-ação são: - a
participação das pessoas implicadas nos problemas pesquisados e uma ação destinada a
resolver o problema em questão. Essa ação seria a que distingue a dita pesquisa de
pesquisa participante. De extrema importância e a ênfase colocada na participação das
pessoas na pesquisa, não como"objetos" de estudo, mas como elementos ativos do
processo de investigação. Logicamente, essa postura tem conseqüências para a
organização e realização da pesquisa e determina diferenças fundamentais com a pesquisa
"tradicional ou "convencional". Não existe a relação sujeito-objeto de pesquisa: tanto
pesquisadores quanto "usuários" são sujeitos ativos de um processo; a formulação do
problema, objetivos, possíveis hipóteses, coleta de dados, etc., são discutidos e
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(4) THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 1985.
(5) THIOLLENT, Michel op. cit. p.24.
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analisados pelo grupo como um todo papel dos pesquisadores se refere basicamente a
preservar o caráter cientifico da pesquisa(analise sistemática e critica da realidade),
portanto, a metodologia tem um importante papel a desempenhar.
Concordando com Maria Tereza Sirvent, nas sociedades caracterizadas por uma alta
concentração de renda com uma maioria da população em condições de pobreza e miséria
absoluta, esses projetos participativos são facilitados por uma vontade política de
“abertura democrática:” mas, na prática não passam de experiências isoladas num clima
geral de autoritarismo, paternalismo institucional, arbitrariedades, desemprego e fome(6).
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(6) SIRVENT, Maria Teresa. Estrategias participativas em educación de adultos: sus
alcances y limitaciones. La Educación. Ano XXIX Nº 07 Enero - Mayo 1985 p.20-35.
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poder social, político e econômico, essas experiências isoladas serão permitidas pelo
esquema de poder vigente. Mas, no momento que cresçam e desenvolvam grupos
comprometidos com transformações sociais, os projetos passam a ser uma ameaça contra
esse poder. Indubitavelmente, e muito fácil acabar com experiências isoladas.
Hoje, ninguém pode duvidar da contribuição dessa pesquisa alternativa para a construção
de uma nova ciência e uma sociedade mais justa.
Problemas teóricos
Este “outro” modo um modo diferente daquele utilizado pela ciência social dominante.
Trata-se, em geral, de uma linguagem com claras conotações marxistas. Mas, muitas
vezes, o material produzido apresenta serias ambigüidades nos conceitos utilizados. Por
exemplo, “transformação da realidade” pode ser usado tanto para falar da mudança de
hábitos alimentares de um grupo, como para designar um fenômeno cognitivo referente a
sujeitos individuais; “transformação’ aparece também freqüentemente como sinônimo de
“mudança social”; relações sociais” e usado para falar de interação; “classe social” tem
uma infinidade de acepções; a relação “sujeito-objeto” - categoria da epistemologia -
refere-se habitualmente a uma interação entre pessoas. Por outro lado, ‘construção do
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(7) ESPELETA, J. e Rockwell, E. Pesquisa participante. São Paulo, Cortez Editora, 1986
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conhecimento” pode referir-se tanto i gênese da teoria como a síntese que o pesquisador
chegava fazer de alguns saberes populares; ‘pesquisa”, enfim, pode ser permutada por
método ou por técnicas.
Essas e outras confusões surgem porque, na prática, a pesquisa participante esta mais
voltada à solução de problemas imediatos, com recursos a nível local. Lamentavelmente,
o pesquisador esquece a teoria e cai num perigoso a-teorismo. Devemos lembrar que a
teoria social esta sempre vinculada a processos históricos e que não se pode enfrentar a
realidade sem uma perspectiva que permita visualizá-la e defini-la.
Conseqüência dessa falta de teorização surge, por exemplo, uma séria confusão entre
observação participante e pesquisa participante. Existem muitos especialistas em pesquisa
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participante que sugerem que dita pesquisa deveria expressar a conjunção da observação
participante com a participação em pesquisa. Nestes momentos devemos fazer referência
a dois grandes pensadores: Malinowski e Marx. Iironislaw Malinowski, antropólogo
inglês (1884-1942) foi o elaborador da observação participante que o levou a uma teoria,
o funcionalismo. Karl Marx, foi quem introduziu a dimensão política para o uso da ou a
participação da pesquisa. Não podemos negar que a observação participante e a única
técnica que possibilita a interação entre o pesquisador e os sujeitos, permitindo uma
abordagem pessoal. Mas, quando Malinowski procurava compreender as sociedades
primitivas estava satisfazendo uma necessidade do Império Britânico para ajustar a sua
administração, no sentido de consolidar a dominação política e
econômica. Como afirma Espeleta. “o saber de Malinowski um saber que se imbrica
numa necessidade histórica de dominação. Um saber não só útil, senão necessário ao
poder’’ (8). Pelo contrário, como já se sabe, Marx opta pela perspectiva histórica dos
explorados.
A revolução social é a sua meta. Mudar a sociedade implica construir um novo
conhecimento sobre ela e, nesse processo, vai-se construindo o método,
Em resumo, Malinowski, procura ordenamentos e Marx o movimento da sociedade. O
primeiro, utiliza uma técnica, a observação participante, para investigar os ordenamentos
das sociedades primitivas. O segundo, insiste no compromisso histórico da pesquisa
social com a transformação da sociedade capitalista.
Assim, podemos constatar as diferenças fundamentais entre a pesquisa
participante e a observação participante. Confundir ambas ou tentar conjugá-las e um erro
produzido pela falta de teorização. O pesquisador corre o risco de abrir caminho ao senso
comum como elemento vital da analise científica.
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(8) ESPELETA, J. e Rockwell. E. op.cit. 85.
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Devemos lembrar que os cientistas sociais da América Latina, como produto de alguns
sucessos e muitos fracassos e repressões aos movimentos populares da década de 60,
começaram a questionar politicamente o trabalho do cientista social; questionam os
aspectos epistemológicos, teóricos e metodológicos da pesquisa e da ciência
convencional; e procuram alternativas de compreensão da realidade social.
Assim, a pesquisa alternativa, incluindo a pesquisa participante, a pesquisa ação, etc., não
se define apenas por uma metodologia participativa. É uma outra concepção de ciência,
com supostos teóricos e epistemológicos críticos que evidentemente levam a uma
pesquisa que procura contribuir à transformação social.
Ao longo deste trabalho, diversos críticas à ciência convencional tem sido feitas:- a
definição, aos aspectos epistemológicos, aos aspectos teóricos, à metodologia, técnicas e
outros.
Logo a seguir, tentar-se-á descrever alguns aspectos fundamentais da ciência que deve
orientar a pesquisa alternativa.
espaço, mas do fato histórico, social, objetivo de que “nós pensamos. Este nós, colocado
na origem da reflexão gnosiológica representa o abandono das especulaç ões metafísicas.
Com efeito, ao reconhecer na origem da teoria do conhecimento um “nós’’, não um “eu’’,
parte-se de uma situação objetiva, de um fato concreto e social que fixa e qualifica a
posição de cada individuo num processo histórico. O “nós” implica a inclusão do
individuo num processo objetivo, exterior a ele e a qualquer outro homem, cuja validade
não precisa de confirmação, porque o próprio homem e a confirmação dele. A existência
histórica do individuo, é conhecida e fornece o ponto de partida para o raciocínio que
procura entender o conhecimento, não por uma evidência interior, mas por uma
experiência exterior, social e histórica. O individuo pode ignorar o processo histórico,
mas o processo histórico não ignora a ele, esse processo que contribui à formação cultural
do homem, pela qual se pode questionar, interpretar e transformar a realidade social a que
pertence. Assim, o conhecimento deve ser construído partindo não da subjetividade
humana, mas da objetividade, da existência concreta do mundo em transformação
permanente. O individuo cria a própria consciência no âmbito de uma consciência social
que o envolve, antecede e condiciona.
Após das reflexões feitas anteriormente, vale a pena formular alguns princípios que se
identificam com as bases científicas da pesquisa alternativa:-
1º - Para viver e se reproduzir, o homem deve transformar a realidade, e em primeiro
lugar, a realidade material.
2º - Para transformar algo material devemos conhecê-lo, e para conhecê-lo, devemos
tratar com ele, transformá-lo. Isto significa que só aqueles envolvidos na transformação
material têm a possibilidade de conhecer a realidade. Quem produz a transformação
material (produção)? As classes sociais.
3º - Além da realidade material, existem concretos reais não-materiais (as relações
sociais). As relações sociais de produção primam sobre as outras relações sociais.
4º - O processo de produção de conhecimento é um processo de transformação, mental e
ativa, determinado pela classe social.
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(9) VIEIRA PINTO, A. Ciência e Existência.São Paulo. Paz e Terra, 1985.
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2º - Considerar o fenômeno social como algo determinado pelas classes sociais e pelas
estruturas.
Segundo já vimos os fenômenos sociais surgem pela luta de classes e podem subdividir-
se em categorias, as mais importantes são: as econômicas, ideológicas e políticas. Estes
são es principais tipos de dominação de uma classe sobre as outras. Cada uma destas
categorias é o objeto de estudo de ciências sociais específicas.