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Quando ainda havia muitas ‘res nullius’, o primeiro possuidor recebia a proteção
do direito, tendo a seu favor os interditos contra outrem.
PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DA POSSE
Interditos possessórios são ações judiciais destinadas à proteção da posse justa.
Podem ser de duas espécies:
● interditos de manutenção da posse (interdicta retinendae possessionis)
● interditos de recuperação da posse (interdicta recuperandae possessionis)
Interditos de manutenção:
● utrubi - aplica-se às coisas móveis (“em qualquer lugar onde esteja”
● uti possidetis - aplica-se às coisas imóveis (“do modo como possuis”)
● de precario - ação judicial que pode ser interposta por quem cedeu o objeto
por certo tempo e quer a sua devolução (ex: empréstimo, cessão)
● unde vi - ação judicial que pode ser interposta por quem perdeu a posse do
objeto mediante violência (se ele também não a obteve por violência)
● de clandestina possessione - ação que pode ser interposta por quem foi
destituído do objeto de forma clandestina
A posse era injusta e não tinha a proteção do direito se fosse obtida por meio de
vício (precario, vi, clam); posse justa = nec vi, nec clam, nec precario.
PROPRIEDADE - CONCEITOS GERAIS
● Família e propriedade formam as colunas mestras de sustentação do Direito
Romano. Todos os institutos jurídicos giram em torno desses dois.
● Propriedade é o símbolo externo do poder patriarcal -> individualismo.
● Conceito: cf Gaio, “plena in re potestas” (poder pleno sobre a coisa). Esse
poder se expressa de três formas: jus utendi, jus fruendi, jus abutendi.
● Poder geral e absoluto de alguém sobre um bem corpóreo (direito+fato).
● Desde a Lei das XII Tábuas, já havia pequenas restrições desse direito.
● Tem a natureza jurídica de direito real (jus in re): absoluto, exclusivo e
perpétuo.
● Todos os direitos nacionais derivados do romano são patrimonialistas.
ESPÉCIES DE PROPRIEDADE
● Quiritária (ex jure quiritium) - propriedade antiga, própria dos cidadãos
romanos tradicionais (quirites). Pleno formalismo.
● Pretoriana (ex jure honorario) - propriedade bonitária, adquirida sem os
formalismos legais e garantida por ordem dos pretores. Usucapião.
● Peregrina (ex jure gentium) - propriedade especial permitida para alguns
estrangeiros. Deixou de existir após o Edito de Caracala.
● Provincial - propriedades estatais fora da Itália, cedidas para ocupação e
cultivo por particulares, para abastecimento da população. Posteriormente,
passaram a ter o mesmo status de propriedades quiritárias.
PROPRIEDADE - AQUISIÇÃO
● A forma originária de aquisição era pela ocupação das “res nullius” ou “res
derelictae”, para coisas imóveis. Coisas móveis = tradição.
● Para a transmissão de coisas imóveis (res mancipi), devia ser seguido o
formalismo próprio, que podia ser:
○ MANCIPATIO - formalismo solene de transmissão, com a presença dos alienante, do
adquirente, de 10 testemunhas e do “libripens”. Fazia-se o formalismo “aes et libra”.
○ IN JURE CESSIO - formalismo simplificado, na presença do juiz, sem as tstemunhas e sem o
“libripens”. Aplica-se tanto às “res mancipi” quanto às “res nec mancipi”.
○ USUCAPIO - sem formalismo, aquisição da propriedade através da posse prolongada por mais
de um ano, sob as condições justas: posse de boa fé, coisa usucapível.
● A partir de Justiniano, as duas primeiras foram substituídas pela traditio.
PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE
● O meio jurídico de proteção da propriedade são as ações. (A posse se
protege pelos interditos).
● Três tipos de ações possessórias:
○ REIVINDICATIO - ação movida pelo proprietário não possuidor contra o possuidor não
proprietário. Usada na propriedade quiritária.
○ PUBLICIANA - ação movida pelo titular da propriedade pretoriana ou peregrina, com o intuito
de beneficiar-se com o usucapião.
○ CONFESSÓRIA ou NEGATÓRIA - ação promovida por quem necessita de uma servidão (1) ou
pelo serviente (2), acerca das servidões ou gravames que recaem sobre a propriedade, sobre
a sua necessidade ou desnecessidade.
● As três modalidades deram origem à atuais ações possessórias.
PERDA DA PROPRIEDADE
● Em regra, o direito de propriedade é exclusivo e perpétuo. Todavia, podia ser
perdido em determinadas condições:
○ alienação - venda ou doação (voluntária)
○ renúncia - desistência do direito em benefício de outrem (voluntária)
○ abandono - torna a coisa “res derelicta” e pode ser adquirida por outrem
○ perecimento da coisa - animais ou coisas consumíveis
○ expropriação - ação do poder público sobre a propriedade, indenizável. (Quando não há
indenização, chama-se confisco) - (compulsória)
○ capitis deminutio - perda dos status libertatis, civitatis ou familiae (compulsória)
○ morte do proprietário - transmissão hereditária
● A morte não era propriamente perda, porque passava para o sucessor e
continuava na família.
PROPRIEDADE SOBRE COISAS ALHEIAS
● Os romanos criaram esse conceito abstrato dentro do direito real de
propriedade, para proteger o interesse coletivo ou supraindividual.
● SERVIDÕES - direito real sobre coisa alheia em benefício da edificação. O
dono é obrigado a ceder ou a deixar fazer algo em sua propriedade.
○ exemplos mais comuns: servidão rural de passagem, para pessoas, animais ou aqueduto;
○ servidão urbana de apoio, direito de apoiar a viga no imóvel vizinho;
○ servidão urbana de vista, esgoto ou tapagem, para não prejudicar o vizinho.
● Por analogia, uso e usufruto eram consideradas servidões pessoais.
● Foram criadas ações judiciais específicas para a proteção das servidões.
● Propriedade dominante é a que necessita; propriedade serviente é a que
cede.
PROPRIEDADE SOBRE COISAS ALHEIAS
● Outra modalidade são os direitos reais pretorianos, que podem ser:
○ locação de terras públicas (jus in agro vectigali) - o ocupante de uma propriedade provincial
pagava um tributo pelo uso da terra, como se fosse um aluguel;
○ enfiteuse - o proprietário cede suas terras para serem cultivadas por outrem, mediante o
pagamento de um tributo anual (foro); a enfiteuse pode ser transferida a outrem, mediante o
pagamento do laudêmio. Figura jurídica originária da Grécia (enfiteuein = cultivar)
○ superfície - o proprietário cede suas terras para outrem fazer edificações e utilizá-las durante
longo tempo, mediante o pagamento de um tributo anual (solarium). O superficiário tem os
mesmos direitos do proprietário sobre as edificações e pode transferi-las.
○ hipoteca - desmembramento do direito de propriedade com outrem (credor hipotecário),
como garantia de uma dívida, até o pagamento total desta. O credor pode vender o bem, ao
final do prazo estipulado.